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Ramsés II foi um tuberculoso à frente de seu tempo?

A controvérsia sobre o
anacronismo nos textos de Bruno Latour e Antônio Cícero

Diogo Quirim
Doutorando em História (PPGH/UFRGS)
Orientado pelo prof. Anderson Zalewski Vargas
E-mail: diogoquirim@gmail.com

Apenas os humanos têm história? Marc Bloch, um dos historiadores que fundaram a
Escola dos Annales, definiu, em Apologia da história, tal saber como a “ciência dos
homens no tempo”. Mas e os não-humanos? E os objetos? Eles escapam à
historicidade? Estas questões estão no cerne de uma controvérsia a ser delineada aos
moldes das cartografias de Bruno Latour nesta comunicação, que visará a posterior
produção de um artigo. Em 1998, Bruno Latour escreve para a revista La recherche um
texto intitulado “Até onde devem ir as descobertas científicas?”, no qual trata do curioso
caso do translado da múmia de Ramsés II para Paris, em 1976, para uma investigação
que estabelecesse as causas e tomasse as devidas providências a respeito de sua
degradação. A leitura realizada por Latour de um artigo cobrindo o episódio na revista
Paris-Match o levou à seguinte indagação: seria possível que, descoberto o bacilo de
Koch nos restos mortais de Ramsés, se pudesse afirmar que ele morrera de tuberculose?
Ou seria esta afirmação anacrônica, uma vez que o bacilo como causa patogênica só foi
descoberto em 1882 por Robert Koch? Para Latour, se alguém afirmasse que Ramsés II
morreu graças aos disparos de uma metralhadora, ou devido ao estresse disparado por
um crack na bolsa de valores, imediatamente alguém carimbaria tal enunciado como
anacrônico. Por que, então, o mesmo não vale para a tuberculose e para o bacilo de
Koch? Está em jogo, com isso, a que entidades cabe ou não utilizar o anacronismo
como um operador para atestar o que pertence a cada época. Pesquisando a respeito do
assunto, cheguei a um artigo publicado na Folha de São Paulo por Antônio Cícero,
intitulado “A tuberculose do faraó”, em que ele faz intensas críticas ao texto supracitado
de Latour. Chamando-o de “construtivista”, questiona a ideia de que os cientistas
formulam os fatos científicos, sendo eles, nesta perspectiva, históricos; para Cícero, os
fatos, como o bacilo de Koch e a tuberculose, são simplesmente descobertos. Eles
sempre estiveram no mundo, agindo, mesmo que os humanos não os percebessem.
Portanto, segundo Cícero, ao contrário de Latour, não se pode dizer que é anacrônico
afirmar que Ramsés II morreu de tuberculose, uma vez que a tuberculose existia a priori
e somente foi descoberta. Curiosamente, tanto Cícero quanto Latour mobilizam o
mesmo conceito, do anacronismo, em lados opostos da controvérsia, discordando
apenas se delimitam a sua validade aos humanos ou também para os não-humanos. Ao
fazê-lo, constroem também concepções contrapostas de história (quais são os seres
dotados de história?) e de ciência (a ciência elabora ou descobre os fatos?). Esta
investigação, portanto, busca traçar como o conceito de anacronismo e os historiadores
são acionados na formulação dessas políticas do tempo.

Palavras-chave: Bruno Latour, Antônio Cícero, Anacronismo, Ramsés II, Tuberculose.

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