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Notícias, Informações e a Riqueza das Redes

Thursday, September 21, 2006


Yochai Benkler (The Wealth of Networks: How Social Production Transforms Markets and
Freedom) and Henry Jenkins (Convergence Culture: Where Old and New Media Intersect)
examine networked culture.
abstract | speakers | summary | audiocast | podcast | video

A segunda das três mesas redondas que abordam o tema “Os jornais sobreviverão?” foi
muito maior e mais teórica que a primeira. Contou com a participação de Yoachi
Benkler, da Universidade de Yale, e Henry Jenkins, do MIT.

Benkler leciona direito de comunicação e informação, e é autor do livro A Riqueza das Redes:
Como a Produção Social Transforma Mercados e Liberdade. Jenkins é co-diretor de estudos
comparativos de mídia, e professor de ciências humanas da Cadeira Peter de Florez. É também
autor do livro Cultura da Convergência: Onde a Mídia Antiga e Nova se Cruzam.
Após as apresentações feitas por David Thornburn and William Uricchio (ambos do MIT), os
dois oradores abordaram as questões de mídia, mudança da sociedade, e os perigos do statu quo.
As anotações abaixo são apenas a minha tentativa de capturar o espírito da discussão, e não são
citações diretas dos participantes. Os podcast e vidcast do evento estarão oportunamente
disponíveis no endereço http://web.mit.edu/comm-
forum/forums/news_and_networks.html.
Benkler iniciou a conversa lembrando do crescimento do negócio do jornal em meados do
século 19, e como a criação de um setor de mídia capital intensivo abriu uma brecha entre os
produtores profissionais (comerciais) e os consumidores passivos. Ele então pulou para os dias
atuais, destacando que a disponibilidade do processamento de dados – e sua distribuição –
mudaram o statu quo.
Ele ilustrou este último ponto mostrando a capacidade de processamento de vários super-
computadores, para então compará-los ao poder de processamento conjunto oferecido pelo
projeto SETI@home. Para ele, este fato ilustra a radical descentralização da capitalização e o
poder dos recursos conjuntos, em inglês pooled peer resources. Estes mesmos fatores também
estão permitindo que as pessoas participem ativamente do processo de criar comunicação
através da computação.
Isto levou à produção comum, no sentido de produção conjunta, que não possui limites nas
contribuições, nos resultados, ou nos indivíduos – tudo isto sem a interferência da mídia
comercial. Os indivíduos agora possuem a capacidade e a autoridade de agir.
Outro resultado deste processo é a produção entre pares – que é uma cooperação em larga
escala, praticamente sem gerenciamento. Alguns dos exemples que ele apresentou incluiram os
softwares livres (em especial Sourceforge.com), os Mars Clickworkers e a Wikipedia.
A mídia tradicional reconhece a ameaça e a realidade apresentada pela produção conjunta, e
busca avidamente conteúdo novo baseado em produção social. A mídia tradicional sabe que a
produção social é um fato, não apenas uma moda; sabe também que pode ser mais eficiente na
produção de informações que os modelos existentes; sabe, finalmente, que a produção social é
uma ameaça. Esta é a realidade econômica da riqueza das redes.
Blenker voltou então suas atenções às questões políticas que cercam o tema.
A forma que produzimos informações e decidimos o que produzir são escolhas críticas. Como
exemplo, ele citou as eleições de 2000 nos EUA, e suas conseqüências.
Para assegurar que as questões surgidas em 2000 não voltassem a ocorrer, em 2002 houve um
movimento – especialmente na Califórnia – para adesão ao voto eletrônico. Estes eram sistemas
proprietários e todos foram assegurados pelo fabricante (Diebold), “confiem em nós”. Bem,
nem todos confiaram, e alguém conseguiu acesso ao código fonte dessas máquinas. Esta pessoa
postou o código e links para as ferramentas que podiam acessar e analisar este código. Pessoas
ao redor do mundo contribuiram e acharam questões mal resolvidas. A história chegou à revista
Wired; de acordo com Benkler, a Wired não entendeu a mensagem (que havia problemas no
código fonte) e voltou as suas atenções ao fato do software da Diebold ter vazado. A Diebold
endureceu e tentou impedir que a matéria fosse publicada. Mas já era tarde demais. Estudantes
da Universidade de Swathmore começaram a analisar o software e postar o que encontravam. A
Diebold endureceu novamente, e as informações foram removidas. Mas agora já era tarde
demais, mesmo. As informações já haviam se espalhado pela internet. Mais tarde, os problemas
das urnas eletrônicas da Diebold chegaram até os tribunais da Califórnia, e muitas delas
perderam sua certificação com base nos problemas levantados pelo esforço conjunto realizado
ao redor do mundo.
A opção de questionar um software fechado e proprietário, a decisão de utilizar uma produção
conjunta para análise do software, e, finalmente, a cassação dos certificados das urnas
eletrônicas ilustram a capacidade política do poder da rede.
Também destacam a importância de criar uma cultura mais crítica, que deseja conectar-se,
apontar e ver por si mesma.
Esta recapitulação não capta toda a extensão dos comentários feitos por Benkler, mas, espero,
permite que tenhamos uma idéia de como ele vê as coisas e da importância crítica da produção
social. Seu livro está disponível no seguinte endereço:
http://www.benkler.org/wealth_of_networks/index.php/Main_Page.
Henry Jenkins então falou sobre a convergência da cultura de fãs e da mídia em massa, e de
como estes dois estão levando a uma mídia social.
O primeiro exemplo que mostrou foi uma foto de alguém vestido de stormtrooper de Guerra nas
Estrelas, comprando brinquedos de Guerra nas Estrelas. A foto foi feita com uma câmera de
celular pelos amigos do camarada fantasiado e postada no Flickr. A mídia achou a foto e a
reproduziu em dezenas de jornais em todo o país. Este tipo de coisa assusta os produtores da
mídia tradicional, porque eles não têm controle do conteúdo ou do contexto. Jenkins acha que a
Lucas Arts provavelmente não se incomodou com o incidente, mas a questão não é esta.
O nosso próximo exemplo vem de burtisevil.com, e mostra uma imagem do Beto, de Vila
Sésamo, junto a Osama bin Laden. Jenkins mostrou então uma foto de um poster com imagens
de bin Laden que estava sendo usado em um protesto no Afeganistão. Uma das imagens incluia
o Beto. A PBS, rede pública de televisão americana que detém os direitos de Vila Sésamo, não
ficou lisonjeada, e gostaria de processar alguém.
Ambos são exemplos da interação entre a mídia chamada top-down (de cima para baixo) e a
bottom-up (de baixo para cima). O conteúdo vem de cima, é reinterpretado e redistribuído de
baixo. Incidentes como os exemplos acima agitam ambos os mundos. Um é tomado de uma
súbita sensação de falta de poder, e o outro pela sensação de aparente poder. Também está
criando verdadeiros desafios para advogados de propriedade intelectual e define a noção de
cultura de convergência.
Não é baseada em tecnologia, mas sim em um processo cultural desencadeado pela tecnologia.
A convergência cultural já chegou. Histórias e conteúdo agora são distribuídas através do
máximo de plataformas e mídia, de forma legal ou ilegal, de cima para baixo e de baixo para
cima. É um processo trans-mídia, participatório e experimental.
Exige e se utiliza da inteligência coletiva (aquilo que Jenkins chama de ad-hocracia), à medida
que mais e mais pessoas compartilham e combinam informações. Esta inteligência coletiva
permite também que as informações sejam processadas com mais rapidez. Um número cada vez
maior de pessoas participa e contribui com esta crescente ad-hocracia:
57% dos adolescentes são produtores de mídia
33% compartilham com outros aquilo que produzem
22% possuem suas próprias homepages
19% possuem blogs
19% fazem uma remixagem do conteúdo
(de Pew)
A mídia em massa oferece conteúdo – a inteligência coletiva cria novo conteúdo.
E como isto tudo afeta as notícias?
As pessoas estão aprendendo a fazer uma mídia cívica. A cultura dos fãs aprendeu a criar e
manipular o conteúdo, por divertimento. Estas habilidades estão sendo aplicadas em outras
áreas, criando novas fontes de informação, comentário e ativismo.
A título de exemplo, Jenkins mostrou imagens dos atentados terroristas no metrô londrino, feitas
por pessoas a bordo do metrô, e imagens do Presidente Bush em Nova Orleans, alteradas com a
ajudo do Photoshop. Também mostrou exemplos de agregação e análise de conteúdo, utilizando
fotos e legendas do furacão Katrina.
Esta combinação de informação e entretenimento está se tornando uma força, moldando
conversas sérias, que agora aparecem em toda extensão da cultura de convergência.
Seus comentários levaram a vários vídeos que ilustram seu ponto de vista e também as questões
maiores da evolução da cultura de convergência baseada em redes e em produção conjunta.
Após os vídeos, houve uma sessão de perguntas e respostas.
O que precisa acontecer para que as pessoas efetivamente contribuam com a mídia cívica? É
necessário apenas transferir as regras atuais de mídia, ou precisamos de algo mais? O que
precisamos ensinar a essas pessoas?
Benkler: Saber quem é o “nós” e quem nós estamos ensinando – que faz parte do desafio neste
nosso caso – é mais fácil quando existe uma classe de produção fixa, que pode definir quais são
as habilidades e o treinamento necessários para participar; estamos vendo o início da leitura
crítica – em um universo com múltiplos pontos de entrada, os tradicionais detentores da
autoridade muitas vezes estão errados – estamos começando a ver mais sobre o
desenvolvimento das habilidades de coleta de observações e de inteligência, que respostas a
sinais enviados por uma autoridade. Precisamos prestar atenção nos múltiplos pontos de entrada
e aplicar o pensamento crítico, de forma a chegar a um parecer temporário.
Jenkins: Não estamos aprendendo com uma pessoa; estamos aprendendo uns com os outros,
através do processo de inteligência coletiva. Ainda existe uma diferença em níveis de
participação, que é diferente da desiguldade digital. A maior parte das pessoas tem acesso, mas
nem todas têm acesso às habilidades e experiência necessários para utilizar este tecnologia na
participação da mídia cívica. A DOPA (a lei proposta nos EUA em 2006, que visa evitar que
jovens tenham contato com molestadores on-line ao usarem computadores instalados em
escolas) limitaria o acesso ainda mais.
Embora a população possa aprender as habilidades necessárias para a mídia cívica, a
existente mídia pode aprendê-las também? Podem ser assimiladas pela elite do poder? As
habilidades podem vir de baixo para cima, mas podem também ser empurradas de cima para
baixo.
Benkler: É importante não sermos utópicos; isto tudo não é ruim. Sistemas como estes são
susceptíveis a ataques? Sim. Quais são as defesas? Na mídia em massa, existe um pequeno
número de alvos que podem ser apontados, distorcidos ou controlados; isto é mais difícil fazer
na mídia cívica.
Jenkins: Um ponto importante a ser observado é que as grandes organizações sentem e
reconhecem a necessidade de criar falsos movimentos oriundos da população. Elas sentem a
necessidade de usar dos métodos daqueles que não possuem poder para comunicar sua
mensagem.
O que dizer sobre o argumento que a mídia cívica cria colegas, mas não os une?
Benkler: O que podemos observar através dos padrões de uso é que não estamos fragmentados
demais, ou unificados demais; não estamos ainda no ponto certo, mas chegaremos lá. Alguns
podem dizer que o que está acontecendo na mídia cívica não é uma democratização, mas sim
uma concentração – milhões de pessoas se ligam a alguns poucos sites ao mesmo tempo que
milhões de sites têm alguns poucos visitantes. A realidade é que alguns sites começam a se
reunir em torno de assuntos e questões que são importantes a algumas comunidades específicas;
no próximo passo, observa-se que centenas de sites passam a se ligar para sintetizar aquilo que é
importante para aquele grupo.
Jenkins: No passado, os críticos sociais preocupavam-se com a hegemonia criada pela mídia
em massa; agora os críticos estão preocupados com a fragmentação da mídia cívica. . .
Precisamos ter cuidado em dar muito ouvido aos críticos. . . O processo de participação é muito
complexo – vai de cultura pop a cultura produzida, mas pode ignorar toda a mídia cívica
encontrada no meio.
Como os modelos produzidos conjuntamente funcionam em questões científicas? Como é que
as comunicações cívicas podem ajudar nesta linha de frente?
Jenkins: Esta é uma área complicada; sempre existe espaço para especialistas em qualquer
modelo; especialistas desempenham papéis vitais na interpretação e orientação de
comunicações.
Benkler: É importante não olhar para a utopia, mas para a linha que serve de base para a mídia
em massa. Se você fizer um apanhado da comunidade científica e suas publicações, por
exemplo, não há dúvidas com relação à existência e à causa do aquecimento global. Mas se
você olhar para a mídia em massa, a sensação é que os especialistas estão divididos no assunto,
metade para cada lado. Algo como a Wikipedia pode disponibilizar uma ampla gama de pontos
de visto sobre este assunto.
O que pode pôr em risco a criação da mídia cívica? Esta tem sido uma discussão muito
positiva, mas o que poderia impedir este tipo de participação?
Benkler: Cada vez mais, parece que não existem grandes impedimentos a este processo.
Existem algums, tais como as “máquinas confiáveis”, que limitam o uso de sistemas para
impedir que sejam utilizados para quaisquer finalidades não específicas, ou que tenham acesso a
conteúdo não autorizado. Isto está sendo proposto por Hollywood, com base no fracasso de
DRM (Digital Rights Management, técnicas que restringem o uso e a transferência de conteúdo
digital), entre outros motivos. Isto pode levar a uma desigualdade no acesso e no uso de
conteúdo. Outro impedimento poderia ser controle imposto por empresas; contudo, as redes
mesh podem impedir que isto aconteça. Patentes de software também podem representar um
problema; mas o grande número de empresas que vislumbram ganhos financeiros impede que os
softwares livres sejam restritos. A falta de acesso à tecnologia e à comunidades de colaboração
também pode ser um fator de distorção.
O que pode ser feito? Criar, compartilhar e adotar licenciamento do tipo oferecido pela Creative
Commons (www.creativecommons.org.br) . Devemos estimular direitos abertos e abrir
aqueles restritos. Propriedade intelectual deve ser uma questão política. Estamos começando a
ver isto acontecer.
Mais e mais pessoas e grupos estão avançando para impedir que aqueles em situação
privilegiada ataquem a mídia cívica.
Jenkins: A cultura participatória chegou para ficar. A escala e o ambito ainda estão em dúvida,
e como esta cultura se relaciona com a mídia principal ainda está por ser visto. A maior ameaça
é representada por Hollywood e seus inimigos – democratas liberais – ambos os quais estão
trabalhando para limitar a participação: Hollywood quer fazê-lo controlando acesso e direitos de
conteúdo, e os liberais querem controlar o acesso a comunidades de colaboração através de leis
como a DOPA.
Um fator que pode impedir este processo é se as leis não mudarem, as pessoas serão
impotentes – algum dia a lei será um processo que vai de baixo para cima?
Benkler: Esta é uma questão profunda em termos de teoria do direito; o sistema jurídico é
progressivo ou regressivo? A questão vai até a fonte da lei – qual é sua origem e como pode
mudar? Não acredito que exista um processo de criação de leis de baixo para cima.
Quais são as implicações desta cultura de participação para o mundo tradicional de cobertura
de notícias e consumo de notícias? Qual é o futuro do jornal?
Jenkins: Na qualidade de alguém treinado em jornalismo, ele está preocupado com os jornais; a
mídia participativa contra os jornais é uma questão interessante. O que é interessante observar e
considerar é que a blogosfera pode ser vista como uma resposta a aquilo que não é coberto pela
mídia tradicional. Esta deveria olhar melhor para as questões levantadas pela mídia
participativa, para então ampliá-las através de seus canais.
Os jornalistas cidadãos não substituirão os jornalistas profissionais; as categorias de notícias que
existem não refletem a diversidade de nossa cultura; a nova mídia é, e continuará sendo, uma
medida corretiva.
Benkler: As mídias tradicionais desempenham um papel importante, mas são veículos para as
elites (incluindo nós), e vêm de cima para baixo; nós valorizamos conhecimento e elites. As
mídias desempenham um papel de plataforma para que as elites compartilhem idéias. Esta
função não desaparecerá.
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This entry was posted on September 27, 2006 at 1:10 pm and is filed under Technology. You
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A versao publicada no mit

news, information and the wealth of networks

Thursday, September 21
5-7 pm
3-270
Resumo
Jornalistas da imprensa, críticos da mídia e visionários digitais discutem as atuais
transformações e o aparente declínio dos jornais americanos. Tópicos a serem abordados: o
envelhecimento do leitor de jornal, o surgimento da mídia cidadã e da blogosfera, o destino do
noticiário local e do jornal local, e as notícias e informações em um futuro em rede.
Este debate é parte de uma série de fóruns que discutem a pergunta: Os jornais sobreviverão?
Also in the series: The Emergence of Citizens' Media (Sept. 19), Why Newspapers Matter
(Oct. 5).
Series co-sponsor: Ethics and Excellence in Journalism Foundation
Oradores

Yochai Benkler leciona direito de comunicação e informação na Faculdade de Direito de Yale.


É autor do livro As Riquezas das Redes: Como a Produção Social Transforma Mercados e
Liberdade.
Henry Jenkins é co-diretor de Estudos Comparativos de Mídia, e professor de ciências
humanas da Cadeira Peter de Florez. Seu mais recente livro é Cultura de Convergência: Onde a
Mídia Antiga e Nova se Cruzam.
William Uricchio é co-diretor de Estudos Comparativos de Mídia no MIT, e professor de
história comparativa da mídia na Universidade de Utrech, no Holanda. Seus mais recente livro é
Culturas de Mídia, sobre as respostas da mídia na Alemanha e nos EUA após os atentados de 11
de setembro.

Resumo
[Um resumo dos comentários de Benkler e Jenkins será postado em breve. Abaixo está a
transcrição da sessão de perguntas e respostas que seguiu suas paletras. Não é uma transcrição
integral, mas um resumo editado da discussão. Um resumo feito por um blogger pode ser
encontrado em http://pevco.net/archives/29 .]
Sessão de perguntas e respostas
William Uricchio: (Ele exibe V for 9/11, um filme de curta metragem que usa a premissa de V
de Vingança para fazer uma declaração controversial que afirma que a gestão Bush foi cúmplice
com o ataque contra o World Trade Center) Temos um novo conjunto de realidades e práticas.
O que precisamos fazer para permitir que os cidadãos se envolvam nesta cultura participativa?
Yochai Benkler: Acredito que as pessoas que estudam este fenômeno não podem sequer dizer
que são capazes de treinar outras pessoas sobre este assunto. Estamos começando a desenvolver
melhores habilidades de leitura crítica, assim como de investigação e de coleta de inteligência.
A pesquisa está conquistando nosso respeito. Ceticismo e investigação é o início de um
pensamento independente e participação.
Henry Jenkins: Neste momento, estamos aprendendo uns com os outros. A curva de
aprendizado é alta, graças à inteligência coletiva, mas estou preocupado sobre a desiguldade na
participação, que é diferente da desigualdade digital. Algumas crianças não têm acesso às
ferramentas ou às habilidades que irão permitir que sejam produtoras de mídia. Da mesma
forma, se você não sabe ler ou escrever, também não poderá fazer nada daquilo que andamos
conversando. Estaremos publicando um trabalho em outubro, que definirá as principais
habilidades que acreditamos os jovens precisam ter. Embora essas habilidades não precisem ser
necessariamente aprendidas, é preciso que todas as tenham.
Uricchio: Bem, ao ver os falsos movimentos populares, para mim fica claro que, assim como os
cidadãos, as estruturas de poder também aprendem rapidamente.
Benkler: Logicamente, sistemas descentralizados, não-hierárquicos, são suscetíveis a ataques.
Assim como em qualquer sistema, são desenvolvidos meios de defesa.
Uricchio: Algumas pessoas afirmam que essas estruturas apenas capacitam coortes, mas não
necessariamente os unem em uma esfera maior e coesiva.
Jenkins: Antes de prosseguirmos neste assunto, em uma mudança de poder, é sintomático que
grupos maiores sintam a necessidade de forjar uma campanha popular para que sejam ouvidos.
Este ato em si é prova que as estruturas de poder estão mudando.
Benkler: O problema de credibilidade é um problema da produção de informações. Buscar as
falsas campanhas populares faz parte de determinar o que é crível. Existe o temor de
fragmentação e polarização, mas, aparentemente, as coisas ainda não estão excessivamente
fragmentadas ou concentradas. Temos muitas pesquisas sobre as formas pelas quais as pessoas
se conectam a blogs e sites. Isto gerou uma resposta que não é democratização, apenas
concentração. Os sites se agrupam em torno de interesses. São dezenas ou até centenas de sites,
cada um com cerca de dez links.
A interpretação destas pesquisas mostra que não existe democratização, embora tampouco
exista fragmentação. Houve tamanha concentração que não existe democratização? Acredito
que estamos em situação muito melhor sem fragmentação.
Jenkins: Existe aquela velha previsão sobre o futuro feita por Ithiel de Sola Pool: “Seremos
informados que estamos sendo soterrados por informações não digeridas em um vasto quadro
negro não editado, e o que a sociedade democrática precisa são princípios organizacionais,
consensos e interesses compartilhados. Assim como a presente crítica da sociedade em massa,
estas críticas serão apenas parcialmente verdadeiras, mas parcialmente verdadeiras elas poderão
ser. Uma sociedade na qual cada pequeno grupo possa facilmente satisfazer seus caprichos terá
muito mais dificuldade de mobilizar a unidade”.
Este pensamento descreve o comportamento de críticos sociais indecisos em sua posição, que
primeiramente estão preocupados com concentração, depois preocupados com fragmentação, e
de volta com concentração. Precisamos ser cautelosos em ouvir essas críticas.
Uricchio: Cada um de vocês leu o livro do outro. Se tivessem de começar novamente, fariam
alguma mudança?
Jenkins: Estou interessado nas áreas comercial e amadora da cultura participativa. Acredito,
também, que deveria ter falado mais sobre o comportamento fora da cultura popular, embora o
outro comportamento cada vez mais se torne importante para meu trabalho.
Benkler: Sou muito materialista no tocante a minhas explicações. Poder localizar meu trabalho
dentro da cultura teria sido útil, mas teria sido difícil ancorar as explicações sobre as condições
materiais em mutação. Teria sido muitíssimo útil ter isso para poder entender a interseção entre
as seções cultural e material e política e econômica.
Pergunta: Estou interessado em saber como seus modelos funcionam no processo de apresentar
ciências para o público em massa. É muito mais difícil apresentar ciência sem ter grande
experiência nessa matéria.
Jenkins: A ciência é uma área muito complicada, mas acredito que certamente há espaço para
especialistas em cada seção da qual falamos. É preciso reconhecer que falar de temas científicos
muito complexos, de cima para baixo, assim como fazem os peritos explicando determinados
assuntos a júris em tribunais, não funciona muito bem. Se disponibilizarmos mais informações,
pelo menos permitiremos que as pessoas as leiam mais criticamente, mas este é um problema
difícil de resolver.
Benkler: É importante não comparar nada com utopia ou mídia comercial em massa. Se
compararmos a porcentagem de artigos publicados em revistas científicas que discordam do
aquecimento global, com a porcentagem de matérias deste assunto com o mesmo ponto de vista
na mídia normal, descobriremos que a mídia de massa, na maior parte das vezes, dá um
tratamento igual a ambos os lados da questão. Neste caso, estamos vendo um esforço de ser
imparcial com ambos os lados de uma questão, que na verdade não merece ter um tratamento
imparcial.
Conforme vimos anteriormente, a Wikipedia é uma enciclopédia gratuita que possui a mesma
qualidade da Enciclopédia Brittanica. Desta forma, é possível traduzir-se o jargão científico sem
a tendência da mídia de simplificar ou tornar questões mais ou menos controversiais. Acredito
que este é um avanço positivo.
Pergunta: Ambos os seus livros concluem com uma chamada à ação. Quais são os obstáculos?
Para nós que defendemos a causa, onde poderemos voltar nossas atenções?
Benkler: Acredito que um obstáculo crítico são os chamados trusted systems, exigências
regulatórias que exigem que os fabricantes transformem computadores em objetos que devem
ser utilizados conforme sua intenção original, não da forma que seus proprietários desejam. Isto
está sendo proposto e promovido por Hollywood, em razão do fracasso da criptografia via
software e da gestão de direitos digitais.
O que pode ser feito? A solução pode estar em redes abertas sem fio e redes mesh. Estou um
pouco mais otimista que costumava ser, porque existe um grande número de empresas que
acreditam que vão ganhar dinheiro resistindo a estes obstáculos. Possivelmente eles não se
concretizem.
Jenkins: Não acredito que existam quaisquer obstáculos com capacidade para encerrar uma era
participativa, a qual chegou para ficar, aparentemente. Os termos da participação estão sendo
decididos agora, o que é muito importante. Acredito que os democratas liberais são a maior
ameaça à cultura participativa, porque eles querem tomar medidas extremas para limitar a
relação dos jovens com a tecnologia, para atender os desejos das super-mães. O consumo foi
criminalizado e os adultos agora querem impedir que os jovens tomem parte de uma cultura
participativa que é a peça central da interação entre os jovens atualmente.
Pergunta: Acredito que as pessoas às vezes temem exercer sua capacidade política porque já
viram outros sendo presos por compartilhar arquivos. Algum dia a lei será um processo de baixo
para cima?
Benkler: Esta é uma questão profunda em termos da teoria do direito. A lei e o sistema que gera
as leis são progressivos ou reativos? Existem estudos que pesquisaram se o caso de Brown v.
Board of Education (a decisão tomada pela Suprema Corte americana em 1954 que declarou
ilegal a discriminação racial em escolas públicas daquele país) foi de fato decisiva no processo
de de-segregação racial, ou se o movimento de direitos civis levou a resultados mais
significativos durante a Segunda Reconstrução (o movimento de direitos civis dos negros
americanos entre 1955 e 1968, liderado principalmente por Martin Luther King Jr.).
Na última década, a lei tem sido reativa e conservativa. A reação entre as práticas sociais e
comerciais tem sido a força motriz para levar a lei a este novo estágio. Acredito que esta não é
uma questão resolvida dentro da teoria do direito, no tocante aos papéis relativos
desempenhados pela ação social e ao relacionamento institucional formal com relação à
mudança progressiva dentro da forma que a sociedade age e é governada.
David Thorburn: O fato de estatísticas aparentemente indicarem que em uma ou duas gerações
não haverá mais leitores de jornal é algo que o preocupa? Haverá espaço para instituições
equivalentes aos jornais dentro desta cultura participativa?
Jenkins: Na qualidade de alguém treinado para ser jornalista há muitos anos, estou
profundamente preocupado com o destino dos jornais e acredito que eles continuarão a
desempenhar um papel vital em nossa cultura. A atual situação é saudável, com o poder
centralizador da mídia principal e o poder diversificador da blogosfera. Se eu fosse jornalista, eu
estudaria a blogosfera para tentar descobrir quais a grupos e quais questões não estou dando a
devida atenção. A blogosfera ainda é dependente demais das mídias principais para oferecer o
conteúdo do qual falam.
Thorburn: Vocês não acham que seria útil se os termos utilizados neste debate não viessem
entre aspas? Logicamente, “participativo” é bom, e “top-down” é ruim, mas não sei se isto é
uma descrição justa das contribuições feitas à nossa sociedade por jornais regionais ou
nacionais, com fazem o New York Times ou o Washington Post.
Jenkins: Certamente não estou aqui sugerindo que o jornalista cidadão substituirá os jornalistas
profissionais, porque precisamos levar em consideração o treinamento, os recursos e a ética. Os
jornais não são puramente top-down, mas a blogosfera está tendo sucesso porque identifica
aspectos que não estão sendo levantados pelos jornais. Logicamente, não é possível para um
único jornal cobrir tudo, de forma que acredito que a blogosfera acrescenta à variedade de
informações que recebemos.
Benkler: O New York Times, o Washington Post, e o Wall Street Journal são todos jornais top-
down, e veículos da elite, porque damos muito valor ao conhecimento e às ponderações
cuidadosas. As elites da riqueza, da inteligência e do poder usam estes veículos para estabelecer
uma conversa comum entre elas.
A televisão mudou os jornais; a internet mudou os jornais; e eles continuam mudando. Os
cidadãos fora da mídia top-down podem tornar-se profissionais comprometidos com os valores
jornalísticos. O blog “Talking Points Memo” de Josh Marshall é um exemplo disto. Marshal
prova que pode sobreviver sem ganhar milhões e fazendo jornalismo profissional.
Pergunta: Parece que o futuro será algo híbrido entre a mídia de massa e a mídia cidadã. Qual
será sua natureza?
Jenkins: Esta discussão pode ser encontrada aí fora, para aqueles que não podem estar aqui
fisicamente por motivos geográficos. Os webcasts e o OpenCourseWare (OCW) fizeram isto.
Podemos desempenhar o papel de intermediadores, para aproveitar a diversidade da internet e
ampliar sua mensagem. Temos agora a obrigação de ser educadores de um público maior nesta
cultura participativa.
Benkler: Acredito que o OCW foi especialmente importante porque tentou ampliar o papel do
MIT como um educador público gratuito, em um momento no qual outras universidades
buscavam aumentar suas receitas.
Jenkins: Acredito na missão do OCW, mas a liderança do MIT tem suas falhas, porque esta
instituição não está disposta a tornar o OWC totalmenter fair use. Deveríamos estar defendendo
a proposta de fair use, que permite que materiais sejam circulados amplamente. Gostaria de dar
o devido crédito quando uso material de outras pessoas em meus softwares didáticos. Ainda não
pensamos devidamente sobre o significado de ser o centro de uma cultura participativa. É por
este motivo que ainda não coloquei meus cursos no OCW.

Audiocast

An audio recording of News, Information and the Wealth of Networks is now available.

In order to listen to the archived audiocast, you can install RealOne Player. A free download is
available at http://www.real.com/realone/index.html .

Podcast

A podcast of News, Information and the Wealth of Networks is now available from Comparative
Media Studies.

Webcast

A webcast of News, Information and the Wealth of Networks is now available from MIT World .

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