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Nosso mundo digitalizado: o bom, o mau, o feio

Quinta-feira, 10/04/2008 17:00-19:00 horas

Visionary and skeptical perspectives on the promise and perils of


the Internet era.
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Bartos Theater

Resumo

Boa parte da discussão sobre nosso iminente futuro digital é insular e sem nuances. Os céticos falam
principalmente entre si, enquanto que os utópicos e otimistas também interagem apenas entre suas
próprias culturas. O debate de hoje questiona essa divisão pouco útil, promovendo uma conversa entre
dois dos mais ponderados e influentes escritos do país sobre as promessas e riscos da idade da internet.

Oradores

Yochai Benker é titular da Cadeira Berkman de Estudos de Direito Empreendedor em Harvard, e co-
diretor docente do Berkman Center for Internet and Society. É autor do livro The Wealth of Networks:
How Social Production Transforms Markets and Freedom (2006) [A Riqueza das Redes: Como a
Produção Social Transforma os Mercados e a Liberdade].

Cass Sunstein é titular da Cadeira Karl N. Nlewellyn de Jurisprudência, da Escola de Direito e


Departamento de Ciência Política, da Universidade de Chicago. É autor de inúmeros artigos e livros,
incluindo, recentemente, Republic.com 2.0 (2007) e Infotopia: How Many Minds Produce Knowledge
(2006) [Infotópia: Como Muitas Mentes Produzem Conhecimento]. Depois de formar-se na Harvard Law
School, foi assistente do Juiz Benjamim Kaplan do Suprema Corte do Estado de Massachusetts e do Juiz
Thurgood Marshall da Suprema Corte dos EUA. Sunstein passará a integrar o corpo docente da Harvard
Law School nesse próximo semestre.

Moderador: Henry Jenkins é co-diretor de Estudos Comparativos de Mídia, e titular da Cadeira Peter de
Florez de Ciências Humanas do MIT. Seu mais recente livro é Convergence Culture: Where Old and
New Media Collide [Cultura de Convergência: Onde a Mídia Antiga e Nova Colidem]. É principal
pesquisador do Center for Future Civic Media do MIT.

Co-patrocinador: MIT Center for Future Civic Media

Resumo

[este é um resumo editado, não uma transcrição textual]

O moderador Henry Jenkins iniciou os trabalhos lendo alguns trechos dos livros dos oradores:

O bom funcionamento de qualquer sociedade depende de relacionamentos de confiança e reciprocidade,


nos quais as pessoas vêem seus concidadãos como possíveis aliados, dispostos a ajudar e merecedores de
ajuda quando ajuda é necessária.

– Sunstein, Republic.com 2.0

Uma sociedade com bom funcionamento e livre expressão precisa ter duas exigências distintas: a primeira
é que as pessoas devem ser expostas a materiais que não teriam escolhido de antemão, e a segunda é que
muitos, ou a maioria, dos cidadãos devem ter uma série de experiências comuns.

– Sunstein, Republic.com 2.0


A nova liberdade contém grande promessa prática: como uma dimensão da liberdade individual; como
uma plataforma para maior participação democrática; como meio para promover uma cultura mais crítica
e auto-reflexiva; e, em uma economia global cada vez mais dependente de informações, como um
mecanismo para obter melhorias em desenvolvimento humano em todos os lugares.

– Benkler, The Wealth of Network

São esses critérios apropriados para avaliar a livre expressão? Perguntou Jenkins? Em caso afirmativo,
quão eficaz é a internet para realizar estes valores?

Cass Sunstein comentou que havia gostado da citação de Benkler, mas teve dúvidas quanto a o que o
autor quis dizer com “liberdade individual”. A noção de uma cultura auto-reflexiva é provocativa, e se
significa uma cultura capaz de auto-avaliação e entendimento, a internet fica com a nota C-.

Yochai Benkler disse que, em sua opinião, C- era uma nota muito severa.
Ele concorda que relacionamentos de confiança e reciprocidade são
importantes. Mas ele ressaltaria a forma em que a internet –
diferentemente das mídias de massa – gera confiança e reciprocidade
através do processo de colaboração. A mídia de massa se comunica
afirmando sua autoridade. Na internet, confiança e reciprocidade são
vivenciados de pequenas formas, na verdade experiências, enquanto que
nas mídias de massa são virtudes que devem ser observadas, porém não
experimentadas diretamente.

Segundo Benkler, as mídias de massa criaram uma cidadania passiva. As


mídias de massa expõem seus leitores ou espectadores ou ouvintes a um fluxo de informações, assumindo
(e assim estabelecendo) um conjunto de experiências comuns. Mas as mídias de massa não oferecem uma
capacidade de agir. Em sua opinião, uma importância muito maior é colocada no arbítrio individual; os
usuários filtram o vasto fluxo de informações disponíveis com base em seus interesses e seu senso de
relevância; isso representa um estabelecimento de agenda que independe de influência governamental ou
corporativa.

Em uma democracia heterogênea, afirmou Sunstein, uma exposição não esperada a novas perspectives e
experiências compartilhadas é essencial. Nenhum desses elementos críticos precisa ser visto como algo
passivo. As democracias ativas são fundamentadas nessas experiências compartilhadas; através delas
conseguimos nos enxergar como parte de um empreendimento compartilhado. Esse sentido de
pertencimento engajado apesar das reconhecidas diferenças não é normalmente disponível nos mundos
fechados criados pela maioria dos usuários da internet.

Benkler acredita que a natureza do poder mudou. O maior grau de liberdade trazido pelas tecnologias
digitais exige novas capacidades. O que representa uma elite atualmente? Dois milhões de pessoas? Três
milhões? As democracias funcionam melhor quando um número maior de pessoas é capaz de participar
no estabelecimento da agenda. O efeito rede da tecnologia permite que uma parcela maior da população
pressione o poder a partir de diferentes direções.

Jenkins pediu a ambos os oradores que comentassem outra citação de Sunstein: “Um sistema de
comunicações que concede aos indivíduos poder ilimitado de filtração ameaça criar excessiva
fragmentação” (Republic.com 2.0).

Benkler respondeu salientando que é importante entender que essa questão não é meramente teórica.
Pesquisas em andamento no Berkman Center e em outras instituições examinam a estrutura da esfera
pública e sua fragmentação. Ele afirmou que a ferramenta mais apropriada para mapear a forma do
discurso online e da internet é análise de links.

Suas próprias pesquisas sugerem que ao invés de um “jornal eu”, a internet está criando um “jornal nós”
no qual pontos salientes dentro de uma rede são ligados a outras redes, resultando em comunidades de
interesses compartilhados. Isso não implica fragmentação, mas um equilíbrio entre livres escolhas e
interesses compartilhados ou comuns.
Em sites e serviços como o Google News, sites de redes sociais, sistemas colaborativos de filtração e
recomendação e clusters de comunidades de interesses, Benkler vê um processo que move idéias e
assuntos além das comunidades específicas. Ele pergunta: Isso é mais fragmentado que as mídias em
massa? É sim. Comunidades são construídas em torno de obsessões sobre coisas menores? Sim, são. Mas
esses representam problemas principalmente para aqueles do lado de fora. De qualquer forma, na internet
surgiram formas significativas de compartilhamento e comunidade. Benkler não está preocupado com a
questão da fragmentação.

Sunstein é menos radical. Em um estudo feito no estado do Colorado, do


qual participou, os pesquisadores analisaram o que acontece quando
pessoas com pensamentos similares são reunidas para deliberar em um
conjunto específico de questões. Essa pesquisa mostrou que as pessoas
acabam tomando uma posição mais extrema após deliberar com outros
que compartilham seus pontos de vista. As pessoas estão usando a
internet para replicar essa experiência, e Sunstein acha que isso é
problemático: a capacidade de auto-seleção restringe ou estreita nossa
gama de idéias.

Sunstein citou outras pesquisas junto a blogs que descobriram que conservadores se associam apenas a
outros conservadores, liberais a liberais, e que muitos desses links levavam a sites que ridicularizavam o
pensamento oposto. Aos seus olhos, esse não é um exemplo de uma esfera pública online com bom
funcionamento.

Benkler respondeu que quando se fala em política – ou qualquer outra coisa, diga-se de passagem – o
fazemos entre amigos, e se tivermos quaisquer divergências, evitamos o assunto. Muitas vezes, temos
posições consistentes com as das pessoas semelhantes; é assim que funcionamos. Uma plataforma como a
internet, que permite uma gama de livres escolhas, reforçará essa tendência humana. Exceto se houver
uma cobertura autoritária na comunicação, essa situação é inevitável, não devendo ser deplorada.

Sunstein citou o argumento de Jane Jacobs em The Death and Life of Great American Cities [Morte e
Vida de Grandes Cidades Americanas], sobre a importância da serendipidade da experiência da cidade.
Um pedestre observador na cidade pode ser surpreendido a cada dia por visões ou encontros que alteram
ou ampliam a experiência. A arquitetura em si pode moldar nossas naturezas. Ser exposto ao estranho ou
ao inesperado na arquitetura ou na variedade de moradores da cidade é uma experiência vital e
moralmente instrutiva.

Jenkins pediu então a ambos os oradores que considerassem a importância da Wikipedia.

Sunstein afirmou que gosta do fato de haver muitas pessoas envolvidas no projeto e que os artigos não
são criados por “elites” mas sim por qualquer pessoa envolvida com o assunto. Ele admira o ideal do
compromisso dessa enciclopédia criada pelas pessoas, mas respeita a capacidade de auto-correção do
projeto. Mas algumas normas ou padrões básicos ainda são essenciais para que a Wikipedia seja
realmente eficaz e útil.

Benkler observou que não há real discordância entre eles nesse aspecto. Ele está muito impressionado
como a Wikipedia demonstra a capacidade de auto-organização das pessoas. O problema da exatidão das
informações é real, mas talvez não seja assim tão importante para um projeto amador ou não
especializado como a Wikipedia como seria para as enciclopédias tradicionais. A revista científica Nature
examinou o conteúdo da Wikipedia e concluiu que suas inexatidões não eram maiores que aquelas
encontradas na Enciclopédia Britânica.

Jenkins perguntou a cada orador sobre os modelos de cidadania online


que imaginavam.

Benkler falou que seu modelo era simples. Ele quer que as pessoas
vejam no mundo online oportunidades para argumentação, invés de
oportunidade de meras reclamações. Ele quer que as pessoas se sintam
relevantes, incluídas. A internet promete uma mudança significativa na cidadania; é meramente não ficar
na frente da televisão xingando.

Aprender esse modelo exigirá prática, disse ele. Brincar online pode permitir adquirir as habilidades
necessárias. Quando as pessoas brincam de buscar e encontrar e usar as informações, a experiência pode
representar uma base para um modelo de cidadania. Ele encerrou se referindo à analogia da cidade de
Sunstein, destacando que existe dor e risco na internet, assim como existe em uma cidade. Assim como
não abrimos mão do valor da experiência urbana apesar do isolamento ou temor que provoca, não
devemos ceder ao pessimismo sobre a internet.

Sunstein instigou todos a distinguir entre consumidores e cidadãos. Consumidores podem compartilhar
dados, e em muitos casos a diferença entre consumidores e cidadãos pode não ter grande importância.
Mas em outros casos é importante, e a cidadania envolve formas de engajamento mais complexas que as
de consumo. Muito do que se fala sobre a internet hoje é a respeito do fornecimento de dados de
consumidor, invés das informações mais difíceis e exigentes necessárias para os cidadãos.

Debate

PERGUNTA: Em que medida nosso discurso é afetado pelas ferramentas? As novas ferramentas
mudarão as coisas?

SUNSTEIN: Acredito que as pessoas estão configuradas de duas formas: primeiro, elas agrupam-se com
pessoas da mesma orientação; segundo, as pessoas são curiosas. Penso que uma das virtudes da internet é
sua capacidade de trabalhar contra o agrupamento e a favor da curiosidade. As normas de comunicação
que se desenvolvem ajudarão a determinar qual irá vencer.

BENKLER: Em qual medida estamos realmente pré-programados? Qual é o impacto das ferramentas
que adotamos versus as ferramentas que poderíamos adotar versus nossa capacidade de mudar em
resultado das ferramentas? Acredito que somos moldáveis e capazes de mudar. Não é apenas uma questão
de programação interna, mas também de influências culturais e possibilidades.

PERGUNTA: Com relação à idéia dos resultados inesperados, isso leva a um volume maior de
comunicação, porém mais superficial?

SUNSTEIN: É verdade que pode haver mais pessoas falando com menos profundidade; mas é bom que
existam eventos compartilhados mas vividos de forma diferente. A internet pode ser usada para ajudar a
criar experiências compartilhadas.

PERGUNTA: Ambos falaram sobre a Wikipedia, mas já existiram outros projetos de Wikimídia que não
deram muito certo, tais como a Wikinews. Vocês acham que parte do problema residiu na exigência de
neutralidade?

SUNSTEIN: Lostpedia – um site criado por fãs de série de televisão Lost – é um outro exemplo de
colaboração e mostra como a colaboração pode funcionar. A colaboração acontece quando as pessoas têm
grande interesse em uma experiência compartilhada. Wikinews? Qual necessidade era atendida? A
internet já fornece notícias. A Wikipedia e a Lostpedia funcionam porque atendem necessidades até então
não atendidas.

PERGUNTA: Com relação à questão do partidarismo e a forma em que agrupamentos online podem
limitar-se a indivíduos com pensamento similar: Nosso sistema bipartidário não seria um dos motivos do
problema? Um arranjo tão polarizado e limitado é o que melhor leva à democracia?

SUNSTEIN: Essa é uma grande questão de organização política. O nosso sistema de dois partidos
significa que temos polarização? É possível imaginar um mundo com mais de dois partidos que é
polarizado. É possível também imaginar um sistema de dois partidos no qual esses dois partidos não
sejam polarizados. Existem vantagens em sistemas multipartidários, mas isso não impede
necessariamente a polarização.
BENKLER: O sistema bipartidário eliminou a direita e a esquerda e
empurrou todo mundo para o centro. Aproximou todo mundo. Nos
EUA, não temos os extremismos encontrados em outros lugares. Na
verdade, o sistema bipartidário pode até reduzir a polarização.

PERGUNTA: Sou a favor da polarização e do agrupamento. Poucas


pessoas estão desiludidas com o pouco poder que têm. O poder não é
gerado quando as pessoas se agrupam e as comunidades se reúnem?

SUNSTEIN: Se pessoas com pensamento semelhante ouvem outras pessoas com diferentes pontos de
vista, tendem a tornar-se menos engajadas e mais passivas. Muitas vezes, o engajamento é estimulado por
opiniões similares.

BENKLER: Ambos somos contra a idéia de pluralismo; vemos a democracia como algo que vai além da
mera concorrência entre interesses.

PERGUNTA: Atividades frívolas online podem preparar um engajamento cívico mais valioso ou existe
algum valor inerente na diversão?

SUNSTEIN: Ambos. Sites como o Lostpedia são ótimos para aqueles que gostam e se divertem com isso.
As pessoas interessadas em cidadania não devem ignorar a diversão, especialmente quando for uma
atividade ativa, e não passiva. Você também está certo quando fala que pode ter um lado preparatório.
Um pensamento razoável é que as pessoas que têm uma mente ativa poderão estar mais bem preparadas
para ser cidadãos quando chegar a hora.

PERGUNTA: O diretor de tecnologia da Wikipedia uma vez afirmou que é um site que qualquer idiota
pode editar, e que a aposta é que existam mais idiotas bons que idiotas maus. Interpretei o seu livro
Infotopia como uma indicação do impulso coletivo de usar um processo deliberativo e do consenso em
chegar a informações de alta qualidade. Como você concilia isto com o seu relativo otimismo quanto à
Wikipedia?

SUNSTEIN: Sabemos que grupos deliberativos estão sujeitos a quatro


tipos de falha: muitas vezes, eles amplificam invés de corrigir tendências
ou predisposições; muitas vezes, as pessoas estão sujeitas à polarização,
conforme já discutido no exemplo do Colorado; muitas vezes, os
primeiros a se pronunciar acionam uma cascata na qual as pessoas não
compartilham suas próprias informações; e, talvez o mais triste de tudo,
as informações compartilhadas entre um subgrupo de três ou quatro
pessoas podem excluir contribuições individuais de outros, em
detrimento do grupo. Quando um wiki funciona bem, com regras
sólidas, não acontecem estes erros.

PERGUNTA: Pensando sobre os diferentes pontos de vista da democracia e sobre a idéia da cidade e da
internet, me parece que de algumas maneiras sites independentes funcionam como suas próprias cidades,
com regras específicas para participação e cidadania. Vale a pena ver esses sites como cidades
independentes e tentar determinar como usuários-cidadãos interagem com a democracia?

SUNSTEIN: Sim, especialmente se quisermos testar uma hipótese específica. Por exemplo, podemos ter
uma hipótese sobre comportamento no YouTube e então ter um lugar onde testar essa hipótese.

BENKLER: Penso que seja uma boa metáfora para alguns mas não para outros. O YoutTube é
complicado, porque boa parte da interação com o conteúdo acontece fora do site, através de widgets e
integração. E também não é um site colaborativo.

PERGUNTA: De que forma os mundos virtuais e a capacidade de realmente ver a representação da outra
pessoa afetam a cidadania online?
BENKLER: Quando ouço esta pergunta sinto-me um velho veterano, porque me lembra dos primeiros
anos do ciberespaço quando as pessoas trocavam textos e diziam que era como se estivessem lá. O
Second Life está analisando como nossas percepções visuais nos afetam emocionalmente através de um
ambiente profundamente detalhado e imersivo. Quero ver o que irá acontecer na prática quando esses
mundos tornarem-se mais comuns.

PERGUNTA: A capacidade de ter mais interações face-a-face online, por exemplo usando webcams,
invés de interações em um mundo virtual como o Second Life, está mudando a dinâmica de tudo isto?

SUNSTEIN: Acredito que para as finalidades de muitas coisas que andamos discutindo, não faz muita
diferença. A experiência do Colorado foi totalmente face-a-face, e houve polarização, e a mesma
dinâmica acontece online.

BENKLER: Com base no trabalho que iniciei sobre colaboração, acredito que comunicação face-a-face
aparentemente afeta as pessoas em situações experimentais. Elas tendem a ser mais cooperativas e
generosas entre si.

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