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ELEMENTOS DE APOIO
MECÂNICA GERAL
coligidos por MARIA HELENA CARDOSO
ANTÓNIO MANUEL CASACA
MÁRIO MOREIRA
ÍNDICE
2004
IV – MEDIÇÕES DIRECTAS
As medições efectuadas directamente são apresentadas, indicando a grandeza
medida, o instrumento utilizado e os resultados.
A medição directa de uma grandeza pode consistir numa só medida, ou pode
resultar de múltiplas repetições da medida, efectuadas nas mesmas condições. Em ambos os
casos o resultado da medição inclui o valor nominal (valor numérico), o erro e as unidades
do valor nominal e do erro.
Os resultados de medições directas são apresentados, de preferência, em tabelas. As
tabelas estão legendadas com os símbolos (ou nomes) das grandezas e as unidades dos
valores tabelados. O significado dos símbolos deve constar, definido com exactidão.
V - CÁLCULOS
Usam-se os resultados das medições directas para calcular os resultados finais do
objectivo do trabalho.
Os cálculos devem ser apresentados com grande clareza. É indispensável indicar
com exactidão o significado dos símbolos utilizados.
Cada resultado final inclui o valor nominal, o erro e as unidades.
O cálculo dos resultados finais é feito a partir dos valores nominais e dos erros das
medições directas. O erro do resultado final calcula-se através da propagação dos erros dos
resultados directos.
Sempre que possível, os resultados finias são apresentados em tabelas, devidamente
legendadas.
Quando um cálculo é ilustrado por um gráfico, este deve ser acompanhado pela
tabela dos valores colocados no gráfico. Quando existem vários resultados finais para uma
mesma grandeza, pode convir dispô-los numa tabela e num gráfico para facilitar a tirada de
conclusões.
Além dos elementos indicados acima, um relatório deve ter título, identificação dos
autores e da instituição (Instituto, Departamento, Secção), enquadramento (disciplina,
Curso), data, índice (em relatórios extensos), bibliografia (aquela que tenha sido útil à
realização do trabalho e relatório) e/ou referências bibliográficas (chamadas numeradas
colocadas no texto do relatório, com a correspondente referência bibliográfica no fim da
página ou no final do relatório).
Nos capítulos seguintes são abordados alguns assuntos básicos, que são
indispensáveis para a elaboração de qualquer relatório de Engenharia.
2 – ESTIMATIVA DE ERROS
valor está dentro dos limites referidos, mas significa sim que as nossas medições indicam
que há uma certa probabilidade de isso acontecer.
Estimar os erros é muito importante porque, se não o fizermos, não podemos tirar
conclusões significativas dos valores experimentais. Imagine-se, por exemplo, que
queremos descobrir se a temperatura altera a resistência de um enrolamento condutor. Os
valores medidos foram
200,025 Ω a 10 ºC
200,034 Ω a 20 ºC.
A diferença entre estes valores será significativa? Sem conhecermos os erros não podemos
responder. Se, por exemplo, o erro em cada valor da resistência fosse 0,001 Ω a diferença
era significativa, ao passo que se o erro fosse 0,010 Ω a diferença já não era significativa.
Uma vez obtido um resultado numa experiência, esse resultado é registado e torna-
se público. Diversas pessoas podem usá-lo de maneiras diversas. Uns podem usá-lo em
cálculos com uma finalidade prática; outros podem querer compará-lo com uma previsão
teórica. Por exemplo, um engenheiro electrotécnico pode querer conhecer a resistividade do
cobre para desenhar um transformador, enquanto que um físico pode querer conhecer o
mesmo valor para testar uma teoria da condutivididade electrónica em metais. Seja qual for
o uso que se dê a um resultado experimental, é necessário saber se ele tem ou não precisão
suficiente para o objectivo pretendido. Para haver resposta a essa pergunta, há que conhecer
a estimativa do erro do resultado, e é o experimentalista quem tem a responsabilidade de o
fornecer.
Embora um experimentalista nunca possa prever todos os usos possíveis dos seus
resultados, ele deve ter consciência de algumas possibilidades. Por exemplo, se a
experiência é feita para testar uma teoria, o experimentalista deve ter uma noção da
precisão que o resultado deve ter para poder ser útil nesse teste. Quer dizer, o objectivo de
uma experiência muitas vezes determina o erro que pode ser tolerado, o qual por sua vez
pode ter implicações importantes nos procedimentos experimentais a seguir.
Poder-se-ia pensar que qualquer experiência deve ser efectuada da forma mais
precisa possível, mas tal ideia é irrealista. A vida é finita e os recursos e capacidades do
experimentalista também o são. Por isso, é importante planificar e efectuar a experiência de
forma que a precisão do resultado final seja a apropriada para atingir o objectivo da
experiência. Suponhamos que, no exemplo anterior, estávamos interessados na resistência
do enrolamento para o usar como resistência padrão num intervalo de temperaturas entre 10
ºC e 20 ºC, e que a precisão necessária era de 1 parte por 10 000. Neste caso, seria
perfeitamente adequada a medida da resistência com um erro de 0,010 Ω, e seria uma perda
de tempo esforçarmo-nos por reduzir o erro para 0,001 Ω. Medir a resistência com um erro
de 0,05 Ω seria ainda muito pior porque tal medida seria inútil para cumprir o objectivo
pretendido.
Tal como o resultado final de uma experiência deve ser obtido com um certo grau
de precisão, o mesmo deve acontecer com os valores das várias grandezas medidas ao
longo da experiência. Poucas experiências serão tão simples ao ponto de o resultado final
ser medido directamente. Normalmente, precisamos de medir o valor de várias grandezas
primárias e depois conjugar esses resultados para obter o valor da grandeza final. Os erros
dos valores primários determinam o erro do resultado final. Em geral, os erros primários
- erro cometido usando uma régua graduada, quando o observador mede comprimentos sem
fazer coincidir o zero da régua com uma das extremidades do comprimento a medir;
zero zero
régua régua
ERRADO CERTO
condutor passageiro
CERTO ERRADO
Alguns dos erros sistemáticos exemplificados atrás são fáceis de detectar e eliminar.
Contudo, numa experiência podem existir outros erros sistemáticos que não são evidentes,
dos quais nem nos apercebemos. Na realidade, é difícil uma medição não estar afectada por
erros sistemáticos.
Quando se alteram as condições da medição, alteram-se também os erros
sistemáticos presentes. Por isso, não se devem misturar resultados obtidos em experiências
diferentes para, por exemplo, calcular a sua média aritmética, já que os resultados de
experiências diferentes têm erros sistemáticos diferentes.
Um aumento do número de medições com o mesmo aparelho não altera os erros
sistemáticos (portanto não os atenua, nem elimina). Por isto, e porque nem sempre são
detectáveis, os erros sistemáticos são potencialmente muito mais perigosos do que os erros
estatísticos a seguir descritos.
2.3.1 - Introdução
Erros estatísticos, aleatórios ou acidentais são os erros que afectam as medições de
forma aleatória, umas vezes para mais, outras para menos, pelo que o resultado da medição
pode ser, com igual probabilidade, maior ou menor do que o valor real.
Valor verdadeiro
Valores medidos
Valores medidos
Σx i
x= . (2.2)
n
A média aritmética x é o melhor valor que podemos atribuir à grandeza, mas não
coincide necessariamente com o seu verdadeiro valor.
Põe-se a questão de saber qual é a proximididade provável de x ao valor
verdadeiro. Tudo o que podemos vir a saber é que existe uma certa probabilidade de o valor
verdadeiro se encontrar num certo intervalo centrado em x . O nosso problema consiste em
calcular esse intervalo para uma probabilidade específica.
x x
(a) (b)
Espera-se que a média x calculada com o conjunto (a) esteja mais próxima do valor
verdadeiro, do que a média x calculada com o conjunto (b). Por outras palavras, quanto
menores forem os desvios dos resultados relativamente à média x , menor deverá ser o erro
do valor x . O desvio de um valor xi é a diferença x i − x .
Considere-se agora que era feito um número muitíssimo elevado de medições (por
exemplo 10 000 000 medições) de uma certa quantidade x, nas mesmas condições. A este
conjunto muito grande de valores medidos dá-se o nome de distribuição. Os valores
medidos distribuem-se simetricamente em torno do valor verdadeiro, sendo uns maiores e
f (x) = Número de
ocorrências
de um
resultado x
x x
A forma desta função está relacionada com a precisão das medições. Uma
distribuição de medições de grande precisão tem um pico muito acentuado à volta de x -
figura (a) - enquanto que uma distribuição de pequena precisão terá uma forma mais
espalhada em torno de x - figura (b):
x x x x
(a) (b)
Σ( x i − x ) 2
σ≈ (2.3)
(n − 1)
isto é, σ é a raiz quadrada da soma dos quadrados dos desvios divididos pelo número de
medições menos um.
Mas o erro que mais nos interessa é o erro que afecta a média x obtida com n
medições. A este erro chama-se σm, erro padrão da média de n medições:
Σ( x i − x ) 2
σm ≈ (2.4)
n(n − 1)
s 2
=
∑ (x i − x) 2
(2.5)
n
n
σ=s (2.6)
n −1
σ
σm = (2.7)
n
Resolução – O primeiro passo é calcular a média dos valores medidos que dá 4,625 Ω.
Depois acham-se os quadrados dos desvios e a respectiva média s2. Finalmente calcula-se o
desvio padrão da distribuição, σ, e o erro padrão da média σm.
f(x)
x x
x − ∆x x + ∆x
Assim, a probabilidade procurada depende da forma da função de distribuição f(x):
x + ∆x
∫ f (x)dx
x − ∆x
Para grandezas que podem assumir valores contínuos, admite-se que a forma da
distribuição é gaussiana ou normal, onde f(x) é uma curva de Gauss. Neste caso, a função
de distribuição tende rapidamente para zero fora do intervalo de x − σ a x + σ e
verificam-se os valores do seguinte quadro:
Para um número n de medições muito pequeno (n<10), a média x pode estar muito
desviada do valor verdadeiro. Por isso, nestes casos é usual sobrestimar o erro estatísico,
∆x , tomando-se:
ou
Resolução – a) O primeiro passo é calcular a média dos valores medidos que dá 4,625 Ω.
Depois acham-se os módulos dos desvios em relação à média e finalmente calcula-se a
respectiva média:
As variáveis a, b, c, ... foram medidas e conhecem-se os erros respectivos ∆a, ∆b, ∆c, .... O
resultado y terá um erro ∆y dado por:
∂y ∂y ∂y
∆y = ∆a + ∆b + ∆c+ ... (2.11)
∂a ∂b ∂c
Exercício 3 - Mediu-se o espaço (e) percorrido por um corpo pontual e mediu-se o tempo (t) que esse
espaço levou a ser percorrido. Sabe-se que o corpo estava animado de movimento uniforme. As medições
tiveram os seguintes resultados:
e ± ∆e = (30,00 ± 0,05) m
t ± ∆t = (15 ± 1) s.
Determine o módulo da velocidade (v) do corpo e o respectivo erro.
Resolução: Antes de tudo é necessário conhecer a expressão (2.10), isto é, a expressão que relaciona a
grandeza final (v) com as grandezas medidas (e e t). Como o movimento é uniforme, essa expressão é:
e
v= .
t
Com esta expressão começa-se por calcular o valor nominal da velocidade, que dá:
30,00
v= = 2,0 m/s.
15
Seguidamente deduz-se a expressão do erro final, ∆v, fazendo a propagação dos erros ∆e e ∆t com
(2.11):
∂v ∂v
∆v = ∆e + ∆t .
∂e ∂t
e ∂v 1
Derivando v= em ordem à variável e obtem-se: = .
t ∂e t
e ∂v e
Derivando v = em ordem à variável t obtem-se: ∆= 2 .
t ∂t t
1 e
∆ v = ∆ e + 2 ∆t .
t t
0,05 30,00 × 1
∆v = + 2
= 0,2 m.s-1.
15 15
O resultado final para a velocidade é:
Nota: O erro só apresenta 1 algarismo depois dos zeros à esquerda, arredondado por excesso; o valor
nominal apresenta um número de casas decimais igual ao do erro.
Exercício 4 - a) Mediu-se uma grandeza m com um erro ∆m. Verifique que o erro de m2 é 2 m ∆m.
b) Sabe-se que a grandeza m vale (3,1 ± 0,2) kg. Mostre que m2 vale (10 ± 2) kg2.
2( m 1 + m 2 )
Exercício 5 - Pretende-se conhecer a aceleração g através da expressão g = a.
m2
Para tal, mediram-se as grandezas m1, m2 e a e obtiveram-se os resultados seguintes:
c) Diga se este resultado é consistente com o valor 9,8 m s-2, conhecido para g.
3 - ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS
Os zeros à esquerda não são algarismos significativos porque podem ser eliminados
através de uma mudança das unidades. Por exemplo, um comprimento de 0,050 m pode ser
expresso como 50 mm, que é um valor igual (e de igual incerteza) mas sem zeros à
esquerda. Todos os outros algarismos, incluindo os zeros à direita, são significativos, visto
os zeros à direita darem informação sobre a ordem de grandeza da incerteza (veja-se o
exemplo dado no início deste capítulo).
Os erros dos resultados finais são sempre arredondados por excesso. Por exemplo,
um erro calculado de 0,4132 é apresentado com um único algarismo após o zero à esquerda
(como foi visto atrás) pelo que, num arredondamento “normal”, este erro seria 0,4. Mas,
como se trata de um erro que é (ligeiramente) superior a 0,4, é arredondado “por excesso”
para 0,5.
4 - GRÁFICOS
Para se conhecerem os valores exactos representados num gráfico, este deve ser
acompanhado da tabela dos valores representados.
Cada eixo do gráfico tem de estar identificado com o nome ou símbolo da grandeza
representada e com a unidade da graduação do eixo.
A amplitude e graduação das escalas devem permitir que os pontos representados
ocupem a maior parte do espaço do gráfico. Para uma leitura fácil, o gráfico não deve ser
demasiado pequeno, pelo contrário deve ser bem visível.
Convem identificar o gráfico através de um título ou de uma legenda. Num gráfico
podem-se representar diferentes conjuntos de pontos, usando um símbolo diferente para
cada conjunto devidamente legendado (por exº: • pontos experimentais, * pontos de
previsão teórica).
Não se deve apresentar uma linha quebrada unindo os pontos dispostos no gráfico,
pois tal linha não tem significado. Para quem não domine bem a elaboração de gráficos em
computador, é preferível fazê-los à mão, para não arriscar a disparates.
Um gráfico (x,y) é linear quando os dois eixos têm escalas lineares; ele permite
visualizar uma recta sempre que y = a x + b.
Um gráfico (x,y) é logarítmico quando os dois eixos têm escalas logarítmicas; ele
permite visualizar uma recta sempre que y = b xa.
Um gráfico (x,y) é semilogarítmico quando o eixo das ordenadas tem uma escala
logarítmica e o eixo das abcissas tem uma escala linear; ele permite visualizar uma recta
sempre que y = ax.
A representação de cada par de resultados experimentais (x,y) inclui a disposição no
gráfico de um ponto definido pelos valores nominais (x,y) e de barras de erro
representando os erros ∆x e ∆y. Uma barra é horizontal igual ao intervalo de incerteza das
abcissas (2 ∆x) e a outra barra é vertical igual ao intervalo de incerteza das ordenadas (2
∆y). Este par de barras está centrado no ponto (x,y).
55
50
45
40
35
v (m/s)
30
25
20
15
10
5
0
0 0 ,5 1 1 ,5 2 2 ,5 3 3 ,5 4 4 ,5 5
t (s )
n∑ ( x i y i ) − ∑ ( x i )∑ ( y i ) ∑ ( y ) − a∑ ( x )
i i
a= , b= (4.1)
n∑ ( x i ) − ( ∑ x i )
2 2
n
∆a =
n
⋅
∑ (y i − ax i − b) 2 , ∆b = ∆ a
∑ (x ) i
2
(4.2)
(n − 2) n ∑ (x i ) 2 − (∑ x i )2 n
Resolução – A relação linear entre 4π2l e T2 é do tipo 4π2l = a T2 + b, correspondente a uma recta de
declive a que cruza o eixo das ordenadas no ponto de ordenada b. Uma vez que os 5 pares de valores (T2 ,
4π2l) têm igual peso, os parâmetros a e b são calculados com as expressões (4.1) e os respectivos erros ∆a e
∆b são calculados com as expressões (4.2), onde x=T2 e y=4π2l. Obtem-se:
b = 0,4 m , ∆b = 0,7 m.
55
50
45
40
35
30
4π2l (m)
25
20
15
10
5
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5
T2 (s2)
Fig. 3 – Recta de equação 4π2l = 10,0 T2 + 0,4 que melhor se ajusta aos pontos experimentais
representados, dados na Tabela 4.2.
Como complemento ao Exercício 6, imagine-se que a teoria previa 4π2l = a T2, isto
é, a teoria previa b=0 e portanto previa que a recta passasse pela origem. Confrontando o
valor teórico b=0 com o valor experimental b=(0,4 ± 0,7) m, concluimos que não são
contraditórios, porque o zero está dentro do intervalo de incerteza (0,4 ± 0,7).
Mas se os valores teórico e experimental de b fossem discrepantes, haveria que
procurar uma explicação.
Uma hipótese seria a de termos cometido um erro sistemático, s, na medição de
todos os comprimentos l, o que provocaria um desvio da recta sem alterar o seu declive.
Por exemplo, se os valores atribuídos a l tivessem sido todos aumentados de uma mesma
quantidade s, a equação teórica era distorcida para 4π2 (l + s) = a T2. Assim, obtinha-se:
4π2 l = a T2 - 4π2s
ou seja, obtinha-se uma recta com o mesmo declive a, mas que intersectava o eixo das
ordenadas em:
b = - 4π2s.
BIBLIOGRAFIA
Nesta brochura foram incluídos alguns trechos coligidos de:
- Practical Physics – Gordon L. Squires (4ª edição, Cambridge University Press, 2001)
Outra bibliografia:
- Texto de Apoio às Aulas Práticas de Física Experimental I e II – Filipe Tiago de Oliveira
et al. (Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova, 1997)
- An Introduction to Error Analysis – John R. Taylor (2ª edição University Science Books, 1997)
- Grandezas e Medidas – Jorge Valadares e José Maria Tavares (Universidade Aberta, 2002)
- Física Experimental / Uma introdução - Abreu, Matias e Peralta (Editorial Presença, 1994).