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INTRODUÇÃO

Acredito que a maioria das pessoas compartilha do instigante desafio provocado

por uma folha vazia à espera da transcrição de um pensar, a criação a partir do

lugar de quem habita e é habitado por um mundo. Expor o resultado de uma

equação muitas vezes difícil de operar: os significados da articulação entre o real e o

imaginário. Se existisse um medidor de angústia, estaríamos extrapolando a média

considerada normal. Há um desconforto na boca do estômago; o desejo é de se

sentir mais livre, leve e solto.

De repente, me vem uma possibilidade de semelhança entre os momentos que

antecedem o ato de dar à luz e o ato de escrever. Nunca tive filhos, mas acredito

que sentimentos como ansiedade, medo, expectativa, esperança, desejo, surpresa

perpassem os atos da escrita e do parto. Nesses momentos, ocupamo-nos

intensamente e de forma antecipada com o produto final, o desejo materno é de que

“sua excelência o bebê” (Freud, [1914]1996 p.98) seja o rebento mais perfeito em

uma distância aproximada do diâmetro da terra. Ele não terá defeitos, nem

restrições a se submeter, todos se renderão a tão sublime exemplar da espécie

humana.

O autor por sua vez, esboça em seus escritos temas que o mobilizam já há

algum tempo, esses se aproximam de aquisições mais recentes e, de repente, se

depara com a intenção de querer falar pela escrita muita coisa ao mesmo tempo,

como se desejasse, em um artigo, escrever o que durante séculos se construiu sobre

a humanidade. O brilhantismo de sua produção será um consenso entre o universo


de leigos e especialistas por sua forma persuasiva, que convence e deleita o leitor

mantendo-o ligado ao texto até o final. Onipotência da autoria? Talvez. Penso que a

necessidade de reconhecimento é um laço que une a todos nós.

Reconheço a angústia da escrita nas entrelinhas, o que de mim brotará já não

fará mais parte de mim. Retomando a analogia que faço entre produzir um texto e o

nascimento de um filho; nosso texto, quando pronto, assim como o rebento já

crescido, parte para o mundo em busca de outros olhares, sujeito a outras relações.

Um outro dono de uma percepção diferente e conseqüentemente de uma

singularidade, poderá mobilizar-se – concordando ou discordando – com o fruto de

meu pensar e o transformará colocando uma pitada de seu pensar, de seu estilo,

estando sua produção, agora, sujeita à nova transformação por um terceiro. Isso é o

que de mais rico penso do ato de escrever, a troca, a possibilidade da relação de

intersubjetividades ao em torno de uma idéia. Entretanto, apesar dessa

“emancipação” (Osório, 2001, p.25), não podemos negar nosso desejo de continuar

sendo também reconhecidos por meio de nosso escrito, pois há muito de nosso lá.

Na intenção de apaziguar nossos sentimentos frente ao ato da criação de um

texto, somos naturalmente levados à busca de um alívio. Então, por meio da teoria,

da fantasia ou pelo relato de outrem, que já tenha experimentado uma mesma

situação, buscamos um refresco, mas dificilmente conseguimos mitigar o quantum

de sentimento que gera a produção de algo ainda não constituído. Talvez possamos

pensar em nosso acometimento diante desse iminente conhecido - nossa obra

finalizada.
O SENTIR NO ESCREVER

No depoimento de um amigo, Bragança (2002), reconheço a intensidade de

sentimentos aos quais me refiro. Relata que quando escreve, mostra as marcas que

tem em seu corpo, suas buscas têm sido em formar seu corpo, seu corpo conceitual,

inclusive, e percebe o quanto é viável persistir na intenção de manter sua dignidade

nesta busca onde ficam mais claras as suas razões. Compondo essa idéia, Osório

(2001) refere que o estilo de um autor é determinado pelas crises que o perpassam,

escrevendo busca reformular a si mesmo por meio da afirmação do próprio estilo.

“São as crises que ele atravessa que fazem o estilo de um autor, o estilo de sua

escrita transformado em estilo de vida.” (p.45)

Somando a essa idéia Cruz (2000), propõe que a escrita não é somente um

descarregar de emoções impactantes, mas a possibilidade de elaboração das

mesmas, por meio da concepção de uma rede de símbolos em torno de tais

vivências, entendendo, assim a escrita como uma necessidade.

Referindo a escrita de Clarice Linspector, recorro a Albuquerque (1998) “Pela

escrita, Clarice constrói-se a si própria, engendra Eus, cria a narrativa de sua

própria existência (...). (p.35)”.

O INSTANTE ANTECIPATÓRIO

Nos reportemos, então, a esse instante antecipatório, tempo que antecede

aquilo que pode existir, a concretização, por meio da escrita, da idéia pensada,

tempo em que a idéia busca ser transformada pela palavra, esta traduz, amplia ou
reduz uma idéia. Tempo em que estamos imersos na incerteza do que está por vir,

confabulando com o que é da ordem de uma desordem. Tudo pulsa em nosso

pensar, idéias, imagens, lembranças, associações que buscam um sentido, uma

existência articulada capaz de convocar o leitor ao diálogo.

OS INTERLOCUTORES

Esse leitor. Ser silencioso, fantasma que castra, que nos espreita a distância,

como se estivesse por trás de uma cortina que se movimenta ao vento; o

percebemos, mas não conseguimos definir suas feições a fim de que possa se tornar

mais familiar e menos temeroso. Embora o convidemos para junto de nós, seu

tempo real não é o nosso, o dele ainda está por vir. Para Osório (2001), essa

presença, que acontece à distância, é desafiante, perturbadora, angustiante, e

promotora de muita insegurança, aí se encontra a morada “... das inibições, dos

titubeios, dos jogos de esconde-esconde, dos pseudo-ocultamentos do escrever”.

(p.38)

Podemos imaginar o perfil do leitor que se interessaria pelo que escrevemos,

eles podem ter algo em comum, entretanto sua identidade é difusa, não

conseguimos saber quem é, circula de uma identidade a outra não nos fornecendo

dados suficientes para que possamos manipular nossa escrita ao gosto do freguês.

Chego a me perguntar se no caleidoscópio de identidades que imaginamos existe a

possibilidade das mesmas nos remeterem a pessoas reais, como pais, amigos,
esposos, filhos, mestres, alunos, que de uma forma ou de outra fazem ou fizeram

parte de nossa vida.

Seguindo nesse raciocínio existem outros interlocutores no ato aparentemente

solitário da escrita, são os teóricos que fornecem aporte ao nosso conteúdo.

Estabelecemos com eles, os escolhidos, uma relação de proximidade provocada por

uma idealização ou até mesmo de desidealização. À medida que os lemos somos

levados a respeitá-los, invejá-los, odiá-los, resistimos a copiá-los, pois dizem o que

gostaríamos de dizer de forma tão exata que esvaziam o nosso pensar.

Diante de enigmáticos leitores e ilustres interlocutores, não esmorecemos;

seguimos embalados por uma intensa expectativa de não decepcionar, produzir

como a linguagem é vista pela psicanálise: “não como presa a um projeto de

comunicação, mas à necessidade de ser-se reconhecido como ato de significar (...)”.

(Osório, 2001, p.35).

Como se o conteúdo da produção textual trouxesse de maneira despretensiosa

o já tantas vezes comunicado, dito agora de forma tão única, singular, criativa e

original que possibilitasse a resignificação de um material que já dava sinais de

esgotamento. O desejo é de transmitir adicionando, com o intuito de significar algo

que possibilite um ir adiante, um ir de outro autor fazendo nascer uma nova idéia. O

que penso sobre isso leva o outro a pensar aquilo. Essa íntima relação entre autor e

leitor é comentada por Osório (2001): “na leitura estão implicados o sujeito que

escreve deixando no escrito suas marcas e os sujeitos que ao ler atualizam, dão

vida outra ao que foi escrito”(p.82).


O INSTANTE ANTECIPATÓRIO

Voltemos então ao instante antecipatório. O que me vem à mente? Há falta...

falta de idéia, falta de assunto, falta de vocabulário, falta de conhecimento, falta de

leitura, a sensação é de oco, despejado, vazio, de não conter idéia nenhuma. Sobre

todo insípido indício de uma construção paira a dúvida. Neste sentido, Osório (2001)

comenta um aspecto da releitura que Lacan realiza na obra Freudiana. A dúvida, ou

seja, nesse momento para mim, incerteza, descrença, desconfiança, obstáculo, faz

supor um pensamento ausente, imperfeito, inconsciente. “Intervalos de incerteza

pontuam as certezas do sujeito dividido, do sujeito barrado do desejo”.(Baas apud

Osório, 2001, p.36).

E, na medida em que nos propomos ultrapassar a barreira desse espaço -

sentido como habitado por uma ausência - dando assim, continuidade à transcrição

de um pensamento, fatalmente contatamos com a impotência inerente a nosso

estado de seres faltantes. "É a partir de um ponto de falta, de um vazio, que um

saber se articula" (Corrêa, 1995, p. 22).


(FALAR SOBRE SER FALTANTE)

(FALTA = IMPOTÊNCIA ILUSÃO, MEMÓRIA NÃO ESQUECE TUDO, LACUNAS

DE MEMÓRIA (ESPAÇO DA INCERTEZA), A ESCRITA COMO DESEJO DE

COMPLETUDE ESCREVER É COMO TER UM FILHO, APESAR DA DÚVIDA QUE

ME OBSTACULIZA SIGO E ME PERCEBO COMO FALTANTE, QUANDO NA

ESCRITA ME PERCEBO SER FALTANTE É NA FALTA QUE BUSCO A ILUSÓRIA

COMPLETUDE, ESSE DESEJO ME MOBILIZA VIVER UM DESEJO QUE MANTÉM

O MEU PSIQUISMO EM MOVIMENTO –

ENTRADA PARA A CONTINUAÇÃO DO TEXTO NARCISISMO COM O LEITOR

(O FANTASMA QUE ME CASTRA) O RECONHECIMENTO – A COMPLETUDE –

UM FILHO QUE ME TRAGA O RECONHECIMENTO. O PAI? FREUD. MINHA

RELAÇÃO NESSE MOMENTO COM MEU TEXTO, DIFERENTE DO INÍCIO, É DE

ADMIRAÇÃO, SURPRESA.

DESLIZAR SIMBÓLICAMENTE DO FALO AO FILHO

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