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das décadas do século XX contribuíram para que esta afirmação pudesse ser feita.
Contudo não basta que consideremos o acesso às escolas por parte dos grupos
populares, mas se torna necessário que realizemos uma reflexão acerca do modelo de
educação vigente que se constituiu, cujos ideais advém da estrutura social capitalista.
sujeitos históricos. A conscientização assume papel central em sua teoria e nos leva a
elevando a concepção de que o ato de educar se faz caminhando pela dupla via do
libertadora.
sentido da humanização de ambos. Do pensar autêntico [...]. Sua ação deve estar
infundida da profunda crença nos homens.” (FREIRE, 2005, p. 71). As lutas para se
para com a Educação de Jovens e Adultos, seja através das políticas paliativas ou a falta
tradicionais.
séc. XIX surgiu a concepção de que a educação é direito de todos, e dever do Estado, no
perspectiva, os sujeitos no meio educacional, eram vistos como pessoas isoladas e como
Com o decorrer dos tempos, esta visão de ensino começou a declinar, pois,
este tipo de escola, além de não conseguir atingir a população como um todo no que
tange ao direito legítimo à educação, ainda havia o fator de que nem todos que
humano, das quais agentes externos não são capazes de mudar a sua essência, e nem
marginalizado, pois para o sistema vigente, seria ele o culpado pelo seu fracasso, seria
ele o não esclarecido. Com o intuito de universalizar a educação básica, foram criadas,
(2009), Essas escolas, além das primeiras letras, demonstram claro direcionamento
intuito de dar unidade à nação com idéias de ética e moral. Mas, o Estado que já havia
exigindo espaço para a difusão das suas idéias conservadoras, uma vez que tinham o
fosse uma doença a ser extirpada” (RODRIGUES apud ALBUQUERQUE, 2004, p. 54).
uma vez que este tratava a EJA como assistência, e não como direito. Sabendo que a
oficial, avançando assim na marcação das ausências e nas restrições das políticas
articular ações em diversas áreas administrativas, tais como cartilhas e textos para que
sistema vigente, seria ele o culpado pelo seu fracasso, seria ele o não esclarecido, a
situação social, econômica e cultural dominante. Desta forma, faz-se uma crítica aos
população seja a única responsável por sua condição. Freire (1980, p. 75) ratifica este
“vazia” do aluno com inúmeras frases e palavras alienantes. Por oposição, na segunda
indivíduos incapazes de conduzirem suas vidas. Frente a esta visão, em meados dos
movimentos eram executados por estudantes, muitos deles ligados a UNE (União
pensador que trouxe à tona a defesa de que a educação era inerente ao homem, e
assim sendo, o processo educacional não poderia funcionar num modelo vertical de
“A” para “B”. Um pensador que principalmente, por ter nascido numa sociedade
educador, um crítico veemente desta atitude que impede que as pessoas a ela
década, e que se faz necessário ainda nos moldes atuais de educação; fundamentais,
também não lhe seria possível fazê-lo fora do diálogo. É através deste que se opera a
superação de que resulta um termo novo: não mais educador do educando, não mais
2005, p. 78)
diálogo é uma exigência da natureza humana. Afirmava que o analfabetismo, não era
uma doença a ser extirpada, mas uma das expressões concretas de uma realidade
social injusta. A nova visão deste educador colocou o problema do domínio da escrita
num contexto mais amplo, no qual a escrita aparece como um bem social
intencional expressada pela consciência humana, que pode ser ingênua ou crítica.
Para Pinto (2005), o conceito ingênuo de educação, “está definido pela totalidade dos
conhecimentos que se transmitem do professor para o aluno” (p. 41). Desta forma, a
consciência ingênua trata a coisa em si. Tais conteúdos são desarticulados da
educação, o saber é uma “caridade” dos que se julgam detentores do saber, que
consideram os educandos como uma “tábula rasa”. Assim, o que vale na educação
bancária é manter o educando como um ser ignorante, um sujeito que não participa
homens na história que não se extingue, e por isso é própria da consciência crítica a
disjunto, e a cada dia fica visível sua insustentabilidade, cujas estruturas de seus
processo vigente.
histórica do educando, sobretudo na EJA onde, por vezes diversas, vê-se nesta
realidade cultural. Vale destacar que o perfil dos educandos da EJA era caracterizado
presença de muitos jovens, devido à entrada no mercado de trabalho muito cedo para
ajudar sua família, também devido à exclusão do ensino regular... entre outros
motivos. Desta forma, é necessário que o educador, crie modos que permitam aos
educandos vivenciarem sua fase, já que isto não foi permitido muitas das vezes pelo
sistema que o cerca. Não obstante, Paulo Freire criticava veementemente o processo de
ensino do educando jovem e adulto que era alfabetizado conforme uma criança, onde
urgência de rompemos com estes princípios segregatórios que agridem o ser humano.
fundamental que percebamos que a educação deve fazer sentido para o educando,
somente ensinar o educando a ler um texto, mas termos a articulá-lo com a leitura de
mundo, uma vez “ensinar exige compreender que a educação é uma forma de
É muito comum ver o educando ser tratado como um objeto, como uma
limites nas quais os homens são reduzidos ao estado de coisas” (FREIRE, 1980, p. 30).
Então, sabendo que a realidade social da EJA, é o mundo do trabalho, não se pode
como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma oposição epistemológica [...]
A conscientização não pode existir fora da práxis, ou melhor, sem o ato ação —
sujeitos têm direito, pode ser concebida fragmentadamente. Assim, pois, o processo de
dialogicidade como fio condutor para uma consciência crítica, onde o ato de educar
situá-lo no mundo, e não separá-lo dele. O educador Freire (2005) auxilia-nos que a
libertação acontecerá não apenas com a tomada da consciência, mais que esteja
associada à práxis; O diálogo crítico e libertador, por isto mesmo que supõe a ação,
tem de ser feito com os oprimidos, qualquer que seja o grau em que esteja a luta por
sua libertação.
opressor [...] Pretender a libertação deles sem a sua reflexão no ato desta libertação é
implica em questionar primeiro nossa posição no mundo, uma vez que nenhum
relações que envolvem o Outro como legítimo Outro que o cerca, para que o ato de
educar não se resuma num “ato de caridade” e disseminação ingênua de educação, que
professor para o aluno” (PINTO, 2005, p. 41). Em suma, um falso ato de educar.
dialogicidade como uma possibilidade real, não podemos nos contentar em dizer que
somente o educando deve ser um sujeito crítico. Como podemos exigir dos outros,
aquilo que nós não nos comprometemos a fazer como sujeitos socialmente
noção crítica de seu papel, isto é, refletir sobre o significado de sua missão profissional,
mas que somente agindo conscientemente ele pode fazê-lo, a conscientização como via
oprimido.
pareciam não se preocupar com a asseguração dos subsídios públicos nem em refletir
qual a qualidade educacional que vinha sendo oferecida para aqueles cidadãos. Cada
histórico que se faz urgente, a fim de emergir uma escola decente para os sujeitos-
atores da EJA.
condição do ser como sujeito histórico. Que valorize o ser humano em sua vocação
ontológica de ser mais, de ser sujeito da história e entenda a vida como um palco em
dessa peça que se renova a cada dia. Doravante, a educação libertadora, não mais se
fará “para” o oprimido, mas “com” o oprimido, porque se realiza no seu conhecimento
e, por isso, ela não é uma educação feita para os outros, mas, sobretudo, construída
com os outros num processo de comunhão, onde a consciência crítica, vai ao encontro
Sentimos que a esperança de uma sociedade solidária e humana, não pode ser
colocada como um algo longe de nós, quase inalcançável, mas como uma realidade
possível que temos que construir na práxis do ser mais, e que, desta forma, o ato de
educar, não irá se resumir ao ato de transmitir idéias, se constituirá num permanente
Referências