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Administração da Produção e Sistemas de Informação

SUPPlY CHAIN MANACEMENT

Thomaz Wood Jr.


Professor do Departamento de Produção da
EAESP/FGV e Consultor de Empresas.
E-mail: twood@eaesp.fgvsp.br

Paulo Knõrich Zuffo


Engenheiro pela Escola Politécnica da USP e
Mestrando em Administração da Produção na
EAESP/FGV.

RESUMO: Nos últimos anos, a economia mundial e a economia brasileira têm sofrido mudanças importantes.
Fusões, aquisições e alianças estratégicas têm se multiplicado. Parte considerável destas mudanças relaciona-se
com profundas alterações nos sistemas de valores de todos os segmentos industriais. A busca da competitividade
relaciona-se cada vez mais com a busca do ótimo sistêmico além das fronteiras da empresa. Neste contexto, a
administração logística ganha nova dimensão, envolvendo a integração de todas as atividades ao longo da cadeia
de valores e do sistema de valores, das matérias-primas ao cliente final. O objetivo deste trabalho é (re)situar a
administração logística no contexto de mudanças, enfatizando a metodologia da gestão da cadeia de demanda
(supply chain managemenf).

ABSTRACT: In the last years the world and the Brazifian economy have been changíng deeply. Fusions, acquisitions
and strategic alliances are multíplying everywhere. Most of these changes are related with deep modifications in the
value systems, aftecting ali industries. The search for competitiveness is more and more concerned with the search
for the optimal systemic beyond organizational frontiers. Within this context, logistics management gaíns a new
dimension, encompassing lhe integratian of ali activities related to the value system, from raw materiaIs to the final
customer. The main objective ot this paper is to review the logistical management after ali these changes, focusing
on supply chain management methodology.

logística, gestão da cadeia de demanda, cadeia de valores, sistema de valores.

logistics, supply chain management, value chain, system chain.

RAE - Revista de Administração de Empresas São Paulo, v. 38, n. 3, p. 55-63 J uUSet. 1998 55
"AALPD" (nome fictício) é uma impor- mos de ferramentas de racionalização e sin-
tante empresa brasileira do setor de autope- cronização da produção.
ças. Empresa familiar fundada na década de Quase dois anos após o início do projeto,
40, cresceu vigorosamente durante os anos os impactos já são sentidos: drástica redu-
60 e 70, acompanhando o boom da indústria ção de estoques, desativação de armazéns
automobilística. (agora desnecessários), mudanças na orga-
Sustentada por uma sólida competência nização do trabalho no chão de fábrica, uni-
tecnológica e aproveitando oportunidades ficação de atividades de apoio (manutenção,
emergentes, a "AALPD" passou a interna- ferramentarias etc.) e melhor nível de aten- .
cionalizar suas atividades a partir dos anos dimento ao cliente. Tudo isto resultando em
80. Os passos estratégicos seguiram o pa- mais eficiência, mais eficácia e menores cus-
drão usual: tos. O próximo passo é expandir os concei-
1. início das atividades de exportação, tos para as atividades internacionais do Gru-
2. abertura de escritórios de representação po "AALPD" e envolver mais diretamente
no exterior, fornecedores e clientes.
3. montagem de uma estrutura de assistên- Casos como o da "AALPD" talvez ve-
cia técnica e de distribuição junto aos nham, num futuro próximo, a se constituir em
principais clientes no exterior e padrão para empresas brasileiras. Após alguns
4. compra ou construção de fábricas nos anos cuidando da casa de máquinas, reparan-
principais mercados-alvo. do as velas e encerando o convés, muitos exe-
A empresa exporta hoje para países da cutivos finalmente se deram conta de que o
América do Norte, Ásia, Oceania e Europa, barco estava apontado para a direção errada.
a partir de bases industriais no Cone Sul, Faltava-lhes visão de conjunto. Faltava-lhes
Europa Ocidental e Europa Oriental. também um conjunto de conhecimentos que
Para acompanhar a estratégia de permitisse otimizar o todo. O conceito de lo-
internacionalização e fazer frente a mudan- gística integrada e a metodologia de supply
ças no contexto concorrencial interno, a chain management talvez possam prover res-
"AALPD" implementou, a partir dos anos 90, postas a estas questões.
um amplo programa de mudança
organizacional. Este programa incluiu OBJETIVOS
profissionalização da empresa, criação de
unidades estratégicas de negócios e integração Nos últimos anos, as economias brasilei-
mundial das atividades técnicas e comerciais. ra e mundial têm sofrido mudanças impor-
Como parte do programa de mudança foi tantes. Nofrontinterno das empresas, conti-
• Este trabalho faz parte de pesquisa implantado, em 1995, o conceito de logísti- nuam os esforços por processos mais efici-
financiada pelo NPP-Núcleo de entes e pela adoção de sistemas de gestão
Publicações e Pesquisas da EAESP/FGV. ca integrada. O objetivo foi implementar a
Uma versão preliminar deste trabalho foi gestão de toda a cadeia de valores a partir de mais modernos. No front externo, multipli-
apresentada no 21" ENANPAD. Ver WOOD
JR., T., ZUFFO, P. K. Sllpply chain uma visão sistêmica da empresa. I Na práti- cam-se fusões, aquisições, terceirizações e
management. uma abordagem estratégica ca, a criação de coordenadorias de logística alianças estratégicas. A busca da competiti-
para a logística. Anais do 21' ENANPAO.
Rio das Pedras, Brasil, 1997. Utilizamos para cada uma das unidades de negócios sig- vidade relaciona-se cada vez mais com a
aqui o termo original em inglês. Em nificou aglutinar, em cada uma destas áreas, busca do ótimo sistêmico, dentro e fora das
português, as seguintes traduções têm
sido utilizadas: "Gestão da Cadeia de todas as funções logísticas, desde a entrada fronteiras da empresa. Parte considerável
Suprimentos", "Gerenciamento da Rede
de matérias-primas e suprimentos (a função destas mudanças relaciona-se com profundas
de suorímentos" e "Gestão da Cadeia de
Demanda". compras permaneceu corporativa), passando alterações nas cadeias de valores de todos os
pelo planejamento e controle de produção, segmentos industriais.
L Cadeia de valores é o conju nto de
aUvidades de uma empresa que agregam até o controle de distribuição de produtos Neste contexto, a administração logísti-
vaiar, desde a entrada de matérias-primas
acabados. ca ganha uma nova dimensão, envolvendo
até a distribuição de produtos acabados.
O conceito pode também ser pensado de Uma vez que a nova estrutura e o modelo a integração de todas as atividades ao lon-
forma mais ampla, incluindo os
de gestão estavam implantados, o passo se- go da cadeia de valores: da geração de ma-
fornecedores da empresa, os
fornecedores dos fornecedores, os vários guinte foi rever os processos de trabalho. Foi térias-primas ao serviço ao cliente final.
elos da cadeia de distribuição, parceiros, Deixa de ter um enfoque operacional para
subcontratados etc. Fala-se ainda hoje em assim que a "AALPD" chegou ao supply
cadeia virtual de valores, um fluxo de chain management, uma metodologia ba- adquirir um caráter estratégico.
informações que corre paralelamente à
cadeia tíslca de valores e que deve ser seada na visão sistêmica da empresa e no Este trabalho pretende contribuir para o
utilizado para a otimização desta última. conceito de cadeia de valores, que une a es- debate em torno do tema. Os objetivos são
Ver PORTER, M. Vantagem compefltiva.
Rio de Janeiro: Campus, 1990. tas idéias o que há de mais avançado em ter- os seguintes:

© 1998, RAE- Revista de Administração de Empresas / EAESP / FGV, São Paulo, Brasil.
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SUPPLY CHAIN MANACEMENT

mostrar como a implementação do con- aparecimento desses novos formatos organiza-


ceito de logística integrada deve ser in- cionais abertos é o da hipercompetição. A
serido em um contexto maior de mudan- hipercompetição ocorre em um mundo de dinâ-
ças caracterizado pelo fenômeno da mica complexa, no qual os atores interagem em
desfronteirização; âmbito mundial, vantagens competitivas são
construir um quadro de análise, envol- efêmeras e o ciclo de vida de produtos é curto,
vendo os vários elementos e componen- instável e, em muitos casos, imprevisível.' A
tes do sistema logístico sob a perspecti- sobrevivência, neste contexto de permanente
va estratégica. desequilíbrio, toma-se função da capacidade de
Este artigo está estruturado da seguinte interagir associativamente com fornecedores,
forma: a próxima seção trata do pano de clientes e concorrentes. Surgem, assim, as re-
fundo. Procuramos construir um quadro re- des organizacionais, formadas com o objetivo
ferencial, ressaltando algumas característi- de reduzir incertezas e riscos, organizando ati-
cas do ambiente de negócios atual e anali- vidades econômicas por meio de coordenação
sando, em detalhes, o fenômeno da e cooperação entre empresas.'
desfronteirização - quebra de barreiras
intra-empresas e entre empresas.
A seção seguinte introduz o conceito de A HIPERCOMPETIÇÃO
logística integrada. Buscamos, nessa parte OCORRE EM UM
do trabalho, mostrar a evolução histórica da
idéia de logística, ressaltando como o con-
MUNDO DE DINÂMICA
ceito deixa de ter conteúdo meramente téc- COMPLEXA, NO QUAL
nico para ganhar status estratégico.
OS ATORES INTERAGEM ,
Introduzimos, na seção seguinte, a
metodologia do supply chain management. VANTAGENS COMPETITIVAS
Procuramos, então, mos trar como tal SÃO EFÊMERAS E
metodologia busca integrar os vários elos da
cadeia produtiva. O CICLO DE VIDA DE
Na seção final, discutimos algumas im- PRODUTOS É CURTO,
plicações dos conceitos vistos para a prática
INSTÁVEL E, EM
empresarial, para o ensino de administração
e para a pesquisa no campo. Finalizando o MUITOS CASOS,
trabalho, apresentamos um modelo lógico IMPREViSíVEL.
para tratamento do conceito de logística, in-
tegrando seus elementos genéricos e especí-
ficos, estratégicos e operacionais.
2. THORNTON, P. H., TUMA, N. B. The
Na década de 80, essas redes, ou associa- prob/em of boundan'es in contemporsry
UM NOVO AMBIENTE DE ções, foram chamadas de alianças estratégi- research on organizatlons. Vancouver:
Academy ot Management Best Papers
NEGÓCIOS cas." Hoje o conceito se modificou. Dess et Proceedings. 1995.
alli.' por exemplo, definem três tipos de es-
A maioria das teorias em Estudos Organi- 3. STRATI. A. Aesthetics ano organizations
truturas para essas redes, considerados forma- wilhout walls. Studles in cuaore,
zacionais pressupõe organizações como enti- tos típicos de organizações sem fronteiras: Organizations ena SocieUes. vt, n.l, p.83·
105.1995.
dades distintas, com ativos mensuráveis, pré- estrutura modular: quando a organiza-
dios, estruturas definidas, mão-de-obra fixa ção mantém as atividades essenciais da 4. D'AVENI, R. A. Coping with
hypercompetition: utilizing lhe new 78's
etc.' Não é bem o que está acontecendo no cadeia de valores e terceiriza as ativida- framework. Academy ot Management
mundo real, em que terceirizações, des de suporte, continuando, entretanto, Executivo. v.9. n.3. p.4S·60. 1995.

teletrabalho, mão-de-obra temporária, aproxi- a exercer controle sobre elas; 5. GRANDORI. A., SODA, G. lnter-firm
mação com fornecedores, parcerias com cli- estrutura virtual: relacionada às redes networks: antecedents. mechanisms and
forms. Organizat/on Stuaies, v.16. n.2.
entes e alianças com concorrentes multiplicam- de fornecedores, clientes e/ou concorren- 183·214,1995.
se. As organizações estão deixando de ser sis- tes, ligadas temporariamente para
6. Ver LAZO. R. Alianças estratégicas:
temas relativamente fechados para tornarem- maximizar competências, reduzir custos quando e como aliar-se a concorrência.
se sistemas cada vez mais abertos. Suas fron- e facilitar o acesso a mercados; (Dissertação de Mestrado.) EAESP/FGV.
1992.
teiras estão se tomando mais permeáveis e, em estrutura livre de barreiras: refere-se
muitos casos, difíceis de identificar.' a definições menos rígidas de funções, 7. OESS. G. G. el aI/i The new corporate
archítecture. Academy of Managemenl
Um fenômeno que é usualmente ligado ao papéis e tarefas dentro da organização. Executive. v.9. n.3. p.7·20, 1995.

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Desfronteirização organizacional da conectividade dos mercados (Mercosul,
Alca, Nafta etc.) e dos fluxos de produto,
o tema da quebra de barreiras entre de- capital e tecnologia entre países, obrigou as
partamentos e áreas tem se mostrado recor- empresas a se repensarem. a conceito de
rente nas publicações sobre gestão empresa- carro mundial, por exemplo, praticado há
rial. Essa condição é dada como imprescin- alguns anos pelas grandes montadoras, exi-
dível para criar maior foco no mercado e nos ge dos fornecedores de autopeças domínio
clientes. Apesar de importante, esse nível do da tecnologia e presença nos centros de de-
rompimento de fronteiras não é o único no senvolvimento. Estes centros podem estar no
movimento de transformação que as organi- Japão, na Alemanha ou nos Estados Unidos.
zações estão sofrendo. Ashkenas et alli,8 por Quem não estiver presente perde oportuni-
exemplo, argumentam que as fronteiras or- dades e corre o risco de ficar restrito a mer-
ganizacionais estão sendo quebradas em qua- cados secundários.
tro níveis:
eliminação das barreiras verticais (redução
de níveis hierárquicos), que implica o acha-
NO NOVO CENÁRIO
tamento das pirâmides organizacionais; COMPETITIVO, MUITAS VEZES
• eliminação das barreiras horizontais, que A EMPRESA SE CONFUNDE
leva ao enfraquecimento dos silos
departamentais e da especialização fun- COM O AMBIENTE,
cional; MISTURANDO-SE COM
eliminação das barreiras externas, atra-
vés de parcerias e alianças com fornece-
FORNECEDORES E CLIENTES.
dores, clientes e concorrentes; FICA DIFíCil SABER ONDE
• eliminação das barreiras geográficas, com
TERMINA A COOPERAÇÃO E
a construção de alianças estratégicas para
a exploração de novos mercados. COMEÇA A CONCORRÊNCIA.
Tanto empresas de serviços como empre-
sas industriais têm experimentado novos ar-
ranjos organizacionais. A nova fábrica de
motores da Volkswagen em Rezende (Brasil) Todas essas frentes de transformação têm
é um caso típico. Na linha de produção dessa enorme impacto sobre as organizações. A
unidade, os fornecedores executam todo o tra- atividade de gestão ganha novos contornos.
balho que seria tradicionalmente de respon- A separação entre empresa e ambiente passa
sabilidade exclusiva da Volkswagen. O siste- a ser delimitada por uma tênue linha divisó-
ma foi batizado de "consórcio modular", um ria, incerta e mutável. Muitas vezes, a em-
exemplo extremo de eliminação de fronteiras presa se confunde com o ambiente, mistu-
externas. rando-se com fornecedores e clientes. Fica
Alianças como esta que a Volkswagen es- difícil saber onde termina a cooperação e
tabeleceu com alguns dos seus fornecedores começa a concorrência.
têm tido um crescimento exponencial desde Diante deste quadro de mudanças, algu-
o início da década de 80. É claro que a convi- mas questões devem ser colocadas:"
vência entre culturas empresariais distintas Como repensar categorias como estrutu-
nem sempre é fácil, e muitas alianças falham. ra, estratégia, tecnologia, comunicação e
Com as alianças, as fronteiras entre empresas até mesmo o conceito de organização?
são fortemente reduzidas e o próprio jogo Que estrutura organizacional adotar?
competitivo ganha um novo enfoque. A pro- Como coordenar o trabalho?
cura e a escolha acertada de parceiros passa a Que tipo de perfil deverão ter os colabo-
ser vital para viabilizar a sobrevivência e o radores?
8. ASHKENAS et aI/i. The boundary/ess crescimento das empresas. Configura-se, en- E a cultura organizacional? Essas novas
organizalion. breaking lhe cbstns ot
organizaI/anal structure. San Francisco: tão, um complicado xadrez organizacional, organizações rituais terão valores com-
Jossey-Bass, 1995. que poucos parecem aptos a jogar. partilhados e cultura própria?
9. CLANCY. T. The virtual corporation, a movimento de quebra de fronteiras não Enfim, como deve ser pensada a gestão
telecommuting and lhe concept of team. se dá apenas no âmbito local. A logística em um quadro tão fortemente
Academy of Managemenl Executive, v.8.
n.2. p.7·10, 1995. internacionalização, resultante do aumento fragmentado?

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SUPPlY CHAIN MANAGEMENT

Talvez seja até mais adequado repensar No seu emprego nas empresas, a logísti-
as questões, já que as categorias nelas men- ca tem ganho diferentes definições,
cionadas foram criadas para um modelo de correspondendo a uma crescente ampIítude
organização em declínio. de escopo, experimentada ao longo do tem-
Especificamente quanto ao conceito de po. O Quadro I mostra a evolução histórica
logística, se a tendência de desfronteirização do conceito de logística.
é realmente importante, então é necessário É importante notar que, ao mesmo tem-
repensar completamente o conceito. Em or- po em que a função logística é enriquecida
ganizações sem fronteiras - ou com frontei- em atividades, ela também deixa de ter uma
ras muito tênues -, a logística passa a ser uma característica meramente técnica e operacio-
função muito mais relacional e estratégica do nal, ganhando conteúdo estratégico.
que em organizações mais tradicionais. Isso pode ser percebido na segunda fase
do Quadro 1, quando a função logística pas-
LOGíSTICA INTEGRADA sa a englobar processos de negócios funda-
mentais para a competitividade empresarial.
Diferentes autores atribuem diferentes A estrutura integrada de logística passa, nesta
origens à palavra logística. Alguns afirmam fase, a orquestrar toda a cadeia de abasteci-
que ela vem do verbo francês Ioga (acomo- mento, da entrada de matérias-primas até a
dar, alojar). Outros dizem que ela é deriva- entrega do produto final.
da da palavra grega lagos (razão) e que sig- Mas o conteúdo estratégico só fica pa-
nifica "a arte de calcular" ou "a manipula- tente na terceira e quarta fases, nas quais a
ção dos detalhes de uma operação". participação da função logística nas mais im-
Uma das definições mais divulgadas, portantes decisões empresariais é ressaltada.
apesar de relativamente restrita, é a do É o caso das alianças estratégicas, das par-
Council of Logistics Managernent, dos Es- cerias e dos consórcios logísticos.
tados Unidos, segundo a qual logística é "[ ...] A definição do Council of Logistics
o processo de planejar. implementar e con- Management é uma boa declaração de inten-
trolar eficientemente, ao custo correto, oflu- ções, pois menciona a integração de todas
xo e armazenagem de matérias-primas, es- as funções, ressalta o foco no cliente e, indi-
toques durante a produção e produtos aca- retamente, transmite uma visão sistêmica.
bados, e as informações relativas a estas Além disso, a tendência histórica aponta para
atividades, desde o ponto de origem até O o enriquecimento da função logística. Infe-
ponto de consumo, com o propósito de aten- lizmente, na prática de muitas empresas, a
der aos requisitos do cliente". teoria parece ser outra.

Quadro 1 - Evolução do conceito de logística

Fase zero Primeira fase Segunda fase Terceira fase Quarta fase

Perspectiva administração administração logística supp/y chain supp/y chain


dominante de materiais de materiais integrada management management
+ +
distribuição efficient
10. EtfJcientconsumer response(resposta
consumer eficiente ao consumidor): trata-se de um

.
conjunto de metodologias empregadas
responsew
principalmente por empresas de
Focos • gestão de • otimização • visão • visão consultoria, cuja aplicação visa a quebrar
amplo uso
as barreiras entre parceiros comerciais.
estoques do sistema de sistêmica da sistêmica da

·
de alianças Estas barreiras costumam resultar em

.
gestão de transporte empresa ineficiências. com Impacto em custos e
empresa, estratégicas, tempo de resposta ao consumidor.
compras integração incluindo co-makership, Projetos deste tipo envoívern a criação de
um consórcio de empresas industriais e
• movimentação por sistema de fornecedores e subcontratação comerciais que busquem, através da
de materiais informações análise do sistema de valores. realizar
canais de e canais
otimizações. Iniciativas deste tipo no Brasil
distribuição alternativos de têm, até o momento, esbarrado em
resistências culturais e na característica
distribuição conflituosa do relacionamento entre os
elos dos sistemas de valores.

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Consultas informais realizadas por um logística deve participar de decisões so-
dos autores com alunos de pós-graduação bre serviços, produtos, mercados, alian-
exercendo cargos executivos (inclusive em ças, investimentos, alocação de recursos
logística) mostrou que, entre as empresas etc;
brasileiras pesquisadas (cerca de 150), a qua- • atividades táticas: estas atividades re-
se totalidade encontra-se ainda entre as fa- lacionam-se ao desdobramento das me-
ses zero e primeira descritas no Quadro 1. tas estratégicas e ao planejamento do sis-
De fato, não é incomum encontrar empresas tema logístico. Envolvem decisões so-
que ainda não despertaram nem mesmo para bre fornecedores, sistemas de controle
a importância de controlar e reduzir estoques. de produção, rede de distribuição, sub-
Poucas são as que já implementaram o con- contratação de serviços etc;
ceito de logística integrada (segunda fase) e atividades operacionais: estas ativida-
raras as que iniciaram implantações do tipo des relacionam-se à gestão do dia-a-dia
supply chain management (terceira fase) ou da rede logística. Envolvem a manuten-
efficient consumer response (quarta fase). O ção e melhoria do sistema, solução de
retrato revelado por estas consultas mostra problemas etc.
o quanto ainda precisamos evoluir no cam-
po da logística e da competitividade. SUPPLY CHAIN MANAGEMENT
A Figura 1 mostra as dez funções essenciais
da logística. Estas funções devem ser integra- Na montagem de um sistema complexo
das à estratégia empresarial e orientadas para como o da fábrica da Volkswagen em
o atendimento às necessidades do cliente. Rezende (Brasil), um fator fundamental é o
As atividades da função logística integra- projeto da cadeia logística. Embora o expe-
da podem ainda ser decompostas em três rimento de Rezende seja (ainda) um caso ex-
grandes grupos: tremo, muitas empresas estão experimentan-
• atividades estratégicas: estas atividades do níveis de complexidade comparáveis. Não
relacionam-se às decisões e à gestão es- é por acaso o crescente interesse pelo supply
tratégica da própria empresa. A função chain management.

Figura 1 - Funções essenciais da logística"

Quais as necessidades de Qual o melhor sistema de


serviços para cada distribuição?
segmento? Serviço ao cliente

NíVEL ESTRATÉGICO Existem oportunidades

r:=:=::1 ~... ..
Como atingir a de otlmização no sistema
integração do ca~? d~etransporte?

~~
NíVEL ESTRUTURAL A gestão de estoques é
Quais as melhores
tecnologiasl adequada à demanda

I
metodologias? de serviços?
Gestiode.
transportes

NíVEL FUNCIONAL
Como definir e

Políticas e
proceQlmentos

11. Adaptado de Andersen Consulting,


Arthur Andersen & Co. In: CHRISTOPHER, Como definir e
Como melhorar o
M. Loqística e qerenciamento da cadeia de implementar mudanças?
sopnmentos. São Paulo: Pioneira, 1997. desempenho do sistema?
p.224.

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SUPPlY CHAIN MANAGEMENT

Outra razão para a popularidade do tema entrega do produto (ou serviço) pelo comér-
é a crescente consciência da ineficiência das cio varejista (ou pela empresa prestadora de
cadeias de valores. Se o movimento da qua- serviços) ao consumidor final, visando à
lidade chamou a atenção para as perdas re- otimização da cadeia de valores como um
lacionadas a retrabalhos e refugos na produ- todo (ver Figura 2).
ção, o novo foco na gestão logística mostra Essa idéia é derivada da premissa segun-
como a ineficiência é ainda maior quando do a qual a cooperação entre os membros da
olhamos a cadeia como um todo. Não basta cadeia de valores reduzirá os riscos indivi-
o fabricante ter buscado a excelência opera- duais e poderá, potencialmente, melhorar a
cional se os distribuidores, os atacadistas e eficiência do processo logístico, eliminando
os varejistas continuam operando em condi- perdas e esforços desnecessários. 13
ções precárias. Diante do consumidor final, Uma conseqüência imediata da aplicação
o produto - e/ou serviço - será penalizado da metodologia para o jogo competitivo é que
pela ineficiência sistêmica da cadeia. a competição não se dará apenas entre empre-
Em linhas gerais, o supply chain sas, mas também entre sistemas de valores.
management pode ser definido como uma
metodologia desenvolvida para alinhar todas IMPLICAÇÕES
as atividades de produção de forma sincro-
nizada, visando a reduzir custos, minimizar Os conceitos e idéias discutidos neste tra-
ciclos e maximizar o valor percebido pelo balho permitem algumas especulações sobre
cliente final por meio do rompimento das impactos para a prática empresarial, para o
barreiras entre departamentos e áreas. ensino de administração e para a pesquisa
Trata-se de uma metodologia empregada no campo da logística.
principalmente por empresas de consultoria
para implantação do conceito de logística in- Implicações para a prática
tegrada, envolvendo a adoção de práticas de empresarial
global sourcing; parcerias com fornecedores,
sincronização da produção, redução de esto- Embora movimentos recentes de mudan-
ques em toda a cadeia, revisão do sistema de ça tenham contribuído para acentuar o foco
distribuição, melhoria do sistema de infor- no cliente e cultivar a visão da organização
mação, melhoria da previsão de vendas etc. como coleção de processos, a maioria das
Projetos deste tipo costumam focalizar empresas ainda tem estruturas pouco inte-
preferencialmente a busca de melhor gradas quanto ao aspecto logístico.
performance dentro da empresa, embora a A configuração estrutural predominante
tendência natural seja a de avançar as fron- em empresas brasileiras caracteriza-se pela
teiras, aproximando fornecedores e clientes. segregação dos subsistemas básicos da ati-
Poirier & Reiter" consideram o supply vidade logística. As áreas de suprimentos,
chain management um sistema que envolve planejamento e controle de produção e dis-
todos os elementos de uma cadeia de produ- tribuição costumam estar ligadas a diferen-
ção, do fornecedor de matéria-prima até a tes gerências ou departamentos. Isso não se-

Figura 2 - Modelo supply chain

FLUXO DE PRODUTOS ElOU SERViÇOS

FORNECEDORES DISTRIBUIDORES CONSUMIDORES

FONTES FABRICANTE VAREJISTAS 12. POIRIER. C. C., REITER. S. E. Sl1PP/y


chain optimization. San Francisco: Berre!·
Koehler, 1996.

FLUXO DE INFORMAÇÕES 13. BOWERSOX, O. J., CLOSS. O. J.


logisticaf management. s.l., McGraw HiII.
1996.

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ria grave se houvessem sistemas e processos Implicações para a pesquisa no
integrando estas atividades, o que infeliz- campo
mente também não ocorre com freqüência,
Acreditamos que as reflexões expostas o aparecimento de trabalhos sobre logís-
neste trabalho levem às seguintes implica- tica integrada e supply chain management
ções para a prática empresarial: são ainda raros, tanto no Brasil como no ex-
adoção do conceito de logística integrada, teri or. A maioria dos trabalhos na área
pela integração via estrutura organizacional aprofunda temas específicos como
ou via processos de trabalho; otimização de transportes, gestão globalizada
adoção de uma perspectiva mais estraté- de compras etc. Um exame das apresenta-
gica da função logística, resultando em ções realizadas por especialistas e executi-
maior envolvimento com as grandes deci- vos de empresas em seminário recente sobre
sões da empresa (alianças estratégicas, o tema, promovido em São Paulo (Brasil), é
parcerias com clientes e fornecedores etc.). revelador. De dezesseis palestras, apenas
duas trataram realmente do tema supply
chain management. Todas as demais abor-
A CONFIGURAÇÃO davam questões específicas de uma ou outra
sub-área da função logística.
ESTRUTURAL
Seria desejável a abertura de linhas de
PREDOMINANTE EM pesquisa que adotassem uma visão mais ad-
EMPRESAS BRASILEIRAS ministrativa da questão logística. Se concor-
darmos com as evidências empíricas e ad-
CARACTERIZA-SE PELA mitirmos a crescente relevância do fenôme-
SEGREGAÇÃO DOS no da desfronteirização, a condução da ges-
tão logística deve mudar profundamente.
SUBSISTEMAS BÁSICOS DA O foco deixa de ser exclusivamente in-
ATIVIDADE LOGíSTICA. terno (voltado para dentro da empresa) e téc-
nico (voltado para a otimização operacional)
e passa a ser externo (voltado para fornece-
dores, clientes e concorrentes) e estratégico
Implicações para o ensino da (voltado para a busca de soluções sistêmicas
Administração criativas). O locus de realização de pesqui-
sas deve, portanto, mudar.
Programas de graduação, pós-graduação
e especialização em Administração de Em- COMENTÁRIOS FINAIS
presas no Brasil mantêm cursos ligados ao
tema da logística. A organização e o conteú- A trajetória realizada neste trabalho mos-
do destes cursos, entretanto, são geralmente tra como o conceito de logística ganha nova
marcados pela fragmentação e falta de visão dimensão e relevância diante de mudanças
sistêmica. Dá-se excessiva ênfase para ques- estruturais no contexto competitivo.
tões técnicas e operacionais, pri vilegiando- Como contribuição final, é apresentada,
se temas como gestão de estoques, movimen- na Figura 3, uma estrutura lógica para trata-
tação de materiais e armazenagem. Questões mento do tema. Nesta figura, procuramos in-
importantes como a integração das várias ati- cluir desde os elementos contextuais - fenô-
vidades logísticas e a integração entre os pro- menos como a desfronteirização e as alian-
cessos logísticos e os processos de mercado ças estratégicas - até os aspectos mais ope-
são tratadas apenas superficialmente. racionais da logística - controle de estoques,
A adoção da visão expressa por este tra- programação de produção etc.
balho implica uma maior valorização dos as- Analisando a Figura 3 a partir do topo,
pectos estratégicos e dos processos decisórios, temos os seguintes elementos:
em detrimento dos aspectos técnicos e opera- primeiro, o novo contexto empresarial,
cionais. Estes devem ser subordinados aos que tem impacto direto sobre a cadeia de
primeiros. A conseqüência direta seria uma valores, fragmentando-a e exigindo do
profunda reforma dos cursos para adequá-los administrador uma visão mais ampla e
à nova realidade empresarial. sistêmica do objeto a ser administrado.

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SUPPlY CHAIN MANACEMENT

Figura 3 - Estrutura lógica

o NOVO CONCEITO EMPRESARIAL

,1
ORGANIZAÇÕES
VIRTUAIS ! J DESFRONTEIRIZAÇÃO
ORGANIZACIONAL
ALIANÇAS
ESTRATÉGICAS
J

SUBSISTEMA
DE
METAS INFORMAÇÃO
ESTRATÉGICAS
NOVA CADEIA DE VALORES
GESTÃO NOVO SISTEMA DE VALORES

·
ESTRATÉGICA
estoques

· armazenagem

· movimentação

· administração
compras
de

· flexibilidade

·
·
sincronismo
planejamento e
controle da
produção

· previsão de
demanda

· cadeia de
distribuição

· canais de
distribuição

· tipos de transporte

DESEMPENHO ORGANIZACIONAL
ATENDIMENTO DAS METAS ESTRATÉGICAS

A partir desta nova realidade é que deve qualquer otimização logística deve estar ali-
ser pensada a gestão logística; nhada com a estratégia empresarial. Assim
em seguida, a própria gestão logística, como esforços pontuais não levam neces-
com todos os seus subsistemas - supri- sariamente a ganhos no sistema, energias
mentos, produção e distribuição. Todos empregadas na direção errada não contri-
estes elementos dever estar cuidadosa- buem para o sucesso organizacional.
mente integrados por um sistema de in- O tema supp/y chain management pare-
formações único; ce ganhar especial relevância no contexto da
finalmente, os componentes estratégicos, integração das empresas operando no mer-
representados pelo direcionamento estra- cado do continente americano. Esperamos
tégico, pelas competências essenciais e que este trabalho represente um estímulo a
pelos fatores críticos de sucesso. A função pesquisadores interessados neste campo de
deste elemento é ressaltar o fato de que estudo. O

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