Curso de Pós-Graduação: Direito Processual e Prática Processual
Teoria Geral do Processo
Prova ilícita
Aluno: Lucas Makowski Bariani
R.A.: 7168170164-4 Constante da Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, LVI, seguem os dizeres:
Artigo 5º, LVI, da C.F./88: são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meios ilícitos.
Mas o que seriam as provas ilícitas e quais os meios ilícitos para
a obtenção de provas?
Outra questão a ser levantada: quais princípios refletem nas
provas ilícitas?
A fim de responder estas questões iniciais oriundas da leitura
do referido artigo é que o trabalho se desenvolverá.
Porém, antes de determinar o que são provas ilícitas, convém
determinar o que são provas.
Neste diapasão, o conceito inicial de provas pode ser extraído
do artigo 369 do Código de Processo Civil, por seus dizeres:
Artigo 369 do CPC: As partes têm o direito de
empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz.
Desta forma, provas podem ser compreendidas como todos os
meios legais, bem como moralmente legítimos, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz.
Nota-se que as provas não são tratadas de forma exaustiva no
ordenamento jurídico, visto que o próprio não limita ao conceito de provas apenas as provas previstas, mas também aquelas que não foram especificadas no Código em questão.
Assim sendo, todo e qualquer meio probante, mesmo aqueles
não figurantes no rol de provas do ordenamento jurídico, se enquadram como provas se atingir o fim de confirmar a verdade dos fatos e ser capaz de influenciar positiva ou negativamente no convencimento do juiz.
Uma decisão sábia do legislador ao levar em consideração a
difícil tarefa de elencar tudo o que poderia ser considerado como prova e, em o fazendo, incorrer em prejuízo para processos nos quais a prova do acontecimento seria impossível apenas pelos meios não previstos em lei.
Cita-se que as provas previstas, figurantes no pequeno rol
taxativo do referido Código são: depoimento pessoal; confissão; prova documental; prova testemunhal; prova pericial e inspeção judicial.
Outra observação sensata a se fazer sobre este conceito de
provas pauta-se nos dizeres: “todos os meios legais, bem como moralmente legítimos”.
Desta forma, iniciamos uma abordagem sobre o que seriam,
então, provas ilícitas e começa-se a direcionar o presente trabalho à sua finalidade.
A fim de adensar mais a discussão, cumpre elucidar os dizeres
do artigo 157, do Código de Processo Penal e seus parágrafos, alterados pela Lei nº 11.690 de 2008.
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser
desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) § 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) § 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) § 4o (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
É clara a interpretação que as provas ilícitas ou aquelas que
derivem das ilícitas são inadmissíveis no processo, devendo, mesmo quando preclusa a decisão da prova declarada inadmissível, ser inutilizada por decisão judicial e desentranhadas do processo, faculta- se às partes acompanhar tal incidente. Outra informação extraída deste texto pauta-se que entende-se por provas ilícitas aquelas obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
As provas derivadas das provas ilícitas são aquelas que
evidenciam o nexo de causalidade entre umas e outras.
Sua inadmissibilidade ocorre quando houver o nexo de
causalidade entre elas ou quando a obtenção da prova derivada não puder ser tida de uma fonte independente que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seja capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
O legislador deixa, desta forma, a interpretação do que é prova
ilícita aos doutrinadores, visto que nos textos legais não trazem uma definição expressa, mas fragmentos espalhados no ordenamento jurídico que permitem, por meio de suas junções, esboçar algum significado ou ao menos dar corpo à pretensão de entende-la.
Inicialmente, definiria provas ilícitas como meios ilegais e
moralmente ilegítimos obtidos através da violação de normas constitucionais ou legais, ainda que sejam definitivas para provar os fatos em que se funda o argumento defendido em qualquer esfera do ordenamento jurídico, podendo haver uma exceção na esfera pena quando for para beneficiar o réu.
Luiz Flávio Gomes define provas ilícitas como as provas obtidas
de forma ilegal, contrariando e desrespeitando os preceitos processuais e os princípios constitucionais, ou seja, a obtenção das provas se configura com a violação de natureza material ou processual infringindo o ordenamento jurídico.
Neste diapasão, Guilherme de Souza Nucci entende que prova
ilícita é gênero, tendo como espécies as provas ilegais, que são aquelas produzidas ao arrepio de normas penais, e provas ilegítimas, que são aquelas produzidas contrariamente às normas processuais penais. Independentemente das espécies de produção de provas ilícitas, estas devem ser desentranhadas do processo e não há discussão sobre eventual nulidade da prova, se absoluta ou relativa, devendo ser considerada incabível no processo.
Outro ponto de vista defendido por Guilherme de Souza Nucci é
o descarte do critério de proporcionalidade na avaliação das provas ilícitas, não importando o bem jurídico em jogo, pois, para condenar o réu, somente se pode valer o Estado de provas obtidas licitamente. A única exceção concentra-se na hipótese de absolvição, pois evitar o erro judiciário é valor mais relevante do que garantir a licitude da prova, o que decorre do próprio texto constitucional, que afirma indenizar o erro judiciário porventura ocorrido.
O texto legal deixa transparecer a aceitação de uma teoria
muito abordada que trata da Teoria do fruto da árvore venenosa ou fruit of the poisonous tree.
Esta teoria versa exatamente sobre a derivação de provas
oriundas de provas ilícitas.
Para Luiz Flávio Gomes, especificamente, a teoria dos frutos
envenenados repreende a obtenção de provas ilícitas por derivação. Esta prova contamina as provas subsequentes, por efeito de repercussão causal, o efeito é a nulidade do processo penal, eis que jamais se admite condenar o agente da infração penal sem observar as garantias constitucionais.
Cabe lembrar, neste momento, o que determinado pelo artigo
157, §1º, parte final, do CPP, que versa que quando as provas derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas ilícitas, aquelas terão sua validade inquestionável, visto que, apesar de haver uma das origens de sua obtenção enraizada na prova ilícita, se por outro modo, desta vez legal, que não possui nexo com o primeiro, esta prova será tida como prova lícita e não sofrerá os efeitos da teoria aqui discutida.
Portanto, conclui-se que o próprio ordenamento jurídico
brasileiro também versa sobre uma singela, mas deveras, eficiente forma de buscar retirar dos efeitos da ilegalidade da prova derivada obtida por outro meio além daquele empregado por meio ilegal ou imoral, conhecida como a teoria da descoberta da prova inevitável.
Neste sentido, “A doutrina também elenca outras teorias que
visam flexibilizar a teoria dos frutos da árvore envenenada, entre elas, a teoria da descoberta inevitável. Conforme Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar se a prova, que circunstancialmente decorre de prova ilícita, seria conseguida de qualquer maneira, por atos de investigação válidos, ela será aproveitada, eliminando-se a contaminação. A inevitabilidade da descoberta leva ao reconhecimento de que não houve um proveito real, com violação legal.”. (TÁVORA, Nestor e Rosmar Rodrigues Alencar. Curso de Direito Processual Penal. 4. ed. Salvador: Jus Podium, 2010).
Continuando a discussão do assunto, se faz interessante a
abordagem dos princípios que integram a temática.
Neste diapasão, Luis Flávio Gomes entende que se aplicam os
seguintes princípios ao tema:
- princípio da verdade processual (também conhecido como
verdade real ou material ou substancial): consiste na verdade (probatória) que se consegue dentro do devido processo legal, o que importa para o processo penal é a descoberta da verdade dos fatos, ou seja, o que interessa é a demonstração processual do que efetivamente ocorreu (para que a Justiça possa fazer incidir o direito aplicável e suas conseqüências jurídicas). Ocorre que nem tudo é válido para a obtenção dessa verdade.
- Princípio da liberdade de provas: do princípio da verdade
processual (ou real, como se dizia antigamente) deriva o princípio da liberdade de provas, que não é (de forma alguma) absoluto. As partes contam com liberdade para a obtenção, apresentação e produção da prova (dentro do processo), mas essa liberdade tem limites. Nem tudo que possa ser útil para a descoberta da verdade está amparado pelo direito vigente. O direito à prova não pode (nem deve) ser exercido a qualquer preço. O que vale então no processo penal, por conseguinte, é a verdade processual, que significa a verdade que pode ser (jurídica e validamente) comprovada e a que fica (efetivamente) demonstrada nos autos.
- Princípio da inadmissibilidade das provas ilícitas: a prova ilícita
é uma das provas não permitidas no nosso ordenamento jurídico. A CF, no seu art. 5º, inc. LVI, diz: são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. Provas ilícitas, por força da nova redação dada ao art. 157 do CPP, são as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. Em outras palavras: prova ilícita é a que viola regra de direito material, seja constitucional ou legal, no momento da sua obtenção (confissão mediante tortura, v.g.). Impõe- se observar que a noção de prova ilícita está diretamente vinculada com o momento da obtenção da prova (não com o momento da sua produção, dentro do processo). O momento da obtenção da prova, como se vê, tem seu locus fora do processo (ou seja, é sempre extraprocessual). São todas as provas obtidas mediante tortura, coação, ofensa da integridade física ou moral da pessoa, abusiva intromissão na vida privada, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações.
De forma a complementar o entendimento do Douto Luis Flávio
Gomes e, por assim dizer, na contramão do que este primeiro doutrinador defende, cabe acrescentar o ponto importante acastelado pelo Ministro do STF, Alexandre de Moraes, “essa atenuação prevê, com base no Princípio da Proporcionalidade, hipóteses em que as provas ilícitas, em caráter excepcional e em casos extremamente graves, poderão ser utilizadas, pois nenhuma liberdade pública é absoluta, havendo possibilidade, em casos delicados, em que se percebe que o direito tutelado é mais importante que o direito à intimidade, segredo, liberdade de comunicação, por exemplo, devendo permitir-se sua utilização”. (MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2006).
Nestor Távora, na bibliografia já citada acima, considera que
esse entendimento deve ser empregado para preservar os interesses do acusado. Assim, afirma que “nesta linha, se de um lado está o jus puniendi estatal e a legalidade na produção probatória, e o do outro o status libertatis do réu, que objetiva demonstrar a inocência, este último bem deve prevalecer, sendo a prova utilizada, mesmo que ilícita, em seu benefício”. É o caso de convalidação de provas ilícitas em prol do principio da presunção da inocência.
Não obstante a vasta discussão em volta da temática, o
objetivo principal deste trabalho não visa esgotar o assunto, mas sim trazer à baila apenas provocações iniciais. Desta feita, finda-se o presente.