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■ INTRODUÇÃO
A duodenopancreatectomia (DP) é uma cirurgia de alta complexidade. Apesar da importante diminuição dos índices de mortalidade nas
últimas duas décadas, as taxas de complicações não caíram, permanecendo em 30 a 40%, independente do volume cirúrgico das
instituições de saúde.
A fístula pancreática (FP) é a principal complicação da operação, seguindo-se do retardo do esvaziamento gástrico (REG) e da hemorragia
pós-operatória. Pode haver aparecimento simultâneo das complicações, em geral na presença de FP. Inicialmente, o tratamento das
complicações pode ser clínico, mas, na vigência de sangramento maciço ou quando houver foco infeccioso intra-abdominal associado, o
tratamento cirúrgico não deve ser adiado.
Assim, o presente artigo aborda as principais complicações da DP, discutindo os aspectos etiopatogênicos, diagnósticos e terapêuticos.
■ OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
■ ESQUEMA CONCEITUAL
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Realizada com maior frequência no tratamento cirúrgico dos tumores malignos e benignos da cabeça do pâncreas e dos demais
tumores periampolares (papila, colédoco distal e duodeno), a DP também é utilizada no tratamento de doenças benignas, como a
pancreatite crônica, e, eventualmente, nos traumas que comprometem a região da cabeça do pâncreas e da segunda porção do
duodeno.
Nas duas últimas décadas ocorreu significativa redução das taxas de mortalidade, de 15 a 20% para menos do que 5%, mas o mesmo não
foi observado em relação à morbidade.1-3 Independentemente do volume cirúrgico dos hospitais, as taxas de complicações pós-operatórias
de 40 a 50% ainda são relatadas, implicando internações prolongadas e aumento de custos.4-6
As principais complicações da DP são a FP, o REG e a hemorragia pós-operatória. Dessas complicações decorrem quadros de infecção,
sepse, desnutrição, coleções e abscessos intracavitários, síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) e outras manifestações,
responsáveis muitas vezes por reoperações, internação em unidades de terapia intensiva (UTIs), antibioticoterapia prolongada e várias
formas de suporte para as falências orgânicas.
Diversos aspectos implicados no aparecimento das complicações da DP têm sido investigados, destacando-se os fatores de risco
envolvidos, a influência do tipo de reconstrução e da anastomose pancreática, a função preventiva do uso de drenos transanastomóticos, o
impacto da operação em pacientes idosos e, mais recentemente, se as cirurgias minimamente invasivas, videolaparoscópica ou robótica,
melhoraram os resultados.7,8
Assim, a seguir serão relatados as principais complicações da DP e os principais aspectos etiopatogênicos e terapêuticos envolvidos.
ATIVIDADES
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta
2. No que diz respeito aos índices de mortalidade associados à DP, assinale a alternativa correta.
A) Os índices de mortalidade permaneceram em 30 a 40%, independente do volume cirúrgico das instituições de saúde.
B) Nas duas últimas décadas ocorreu significativa redução das taxas de mortalidade, de 15 a 20% para menos do que 5%, mas o
mesmo não foi observado em relação à morbidade.
C) Os índices de mortalidade giram em torno de 40 a 50%.
D) Nas duas últimas décadas ocorreu significativa redução das taxas de morbidade, de 15 a 20% para menos do que 5%, mas o
mesmo não foi observado em relação à mortalidade.
Confira aqui a resposta
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■ FÍSTULAS PANCREÁTICAS
A FP pós-operatória é definida, após consenso internacional para grupo de estudos sobre o tema (International Study Group of Pancreatic
Fistula [ISGPF]),9 pelo extravasamento de secreção pancreática em qualquer volume a partir do terceiro dia de pós-operatório em eventual
dreno abdominal cujo valor da amilase da secreção colhida seja maior ou equivalente a três vezes a amilase sanguínea.
LEMBRAR
Mesmo em serviços de grande volume de pancreatectomias, os índices pós-operatórios continuam elevados, variando entre 0 a
30%, e, em razão das complicações associadas, como coleção infectada e sepse, a fístula da anastomose pancreática continua
sendo o “calcanhar de Aquiles” da DP.10
Na pancreatojejunostomia terminolateral e terminoterminal por telescopagem, procura-se inserir o pâncreas em maior extensão
no interior do jejuno, diminuindo-se a possibilidade do extravasamento de secreção pancreática na região da anastomose realizada
em dois planos de sutura.
Já na pancreatogastrostomia, realizada na parede posterior do estômago de maneira terminolateral, as vantagens residem no fato
de o potencial hidrogeniônico (pH) ácido da secreção gástrica não ativar as enzimas pancreáticas e de a sondagem nasogástrica
pós-operatória permitir descompressão da região da anastomose (Figuras 1A e B).
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Nas pancreatectomias cefálicas indicadas no tratamento dos tumores de pâncreas e nos casos de pancreatite crônica
pseudotumoral, o cirurgião encontrará com mais frequência uma glândula de consistência fibrosa, firme e com ducto de Wirsung
dilatado, acima de 0,6cm. Nesses pacientes, a imensa maioria dos serviços opta pela realização de anastomose pancreatojejunal
terminolateral ducto-mucosa tipo Cattel-Warren modificada.10,12 Em tais condições e nas mãos de cirurgiões experientes, a fístula
anastomótica será menos frequente.
A partir das características tomográficas de espessura da glândula e do grau de substituição gordurosa, do diâmetro do ducto
principal, do aspecto intraoperatório e dos vários graus de fibrose pancreática consegue-se estabelecer fatores de risco menor ou
maior para o aparecimento da fístula da anastomose pancreática que possam ajudar o cirurgião a padronizar a sua conduta.
Ainda em relação aos aspectos técnicos da anastomose pancreática, no intuito de diminuir a incidência de deiscência pós-operatória, alguns
detalhes, como a utilização de fios inabsorvíveis e monofilamentares na sutura do parênquima pancreático e a manipulação delicada da
glândula e sutura em coto e borda de secção bem vascularizadas, são tidos como pré-requisitos de maior sucesso.13
A utilização de drenos transanastomóticos exteriorizados ou não parece não ser fator relevante na incidência de fístula da anastomose;
porém, quando presente, parece diminuir a sua gravidade. Neste contexto, a confecção da anastomose pancreatojejunal em alça única no
trânsito biliodigestivo ou em alça exclusa, em Y de Roux, nas diferentes técnicas de reconstrução digestiva após a DP, tem sido muito
estudada.
Apesar de não demonstrar diminuição nos índices de fístula, os serviços que preconizam a alça exclusa advogam melhor controle e
índice de gravidade pós-operatórios.13,14
De acordo com as repercussões locais intracavitárias ou sistêmicas associadas ao aparecimento da fístula da anastomose pancreática, ela
será classificada conforme o critério de gravidade nos tipos A, B e C constante no Quadro 1.
Quadro 1
Definição de fístula pancreática: débito por dreno transoperatório ou pós-operatório percutâneo de qualquer volume de secreção
após o terceiro dia de pós-operatório, cuja amilase seja maior ou igual a três vezes a amilase sanguínea.
O extravasamento da secreção pancreática e a ativação enzimática pelo contato com a secreção digestiva na região de secção glandular
levam ao processo inflamatório corrosivo de proteínas do tecido conjuntivo e saponificação de gorduras, provocando trombose da
microcirculação, necrose e, por fim, deiscência da anastomose.
Conforme a extensão da deiscência, da quantidade de secreção extravasada, do bloqueio dos tecidos vizinhos e da capacidade de
escoamento pelo dreno intracavitário que monitora a anastomose, haverá ou não formação de fístula externa sem repercussão clínica ou
local (fístula de grau A), coleção peripancreática (fístula de grau B) e coleção com septicemia, hemorragia ou peritonite difusa (fístula de grau
C).
Nas fístulas de grau A, uma vez confirmada a fístula pelos critérios já descritos de amilase da secreção e sanguínea, o tratamento será a
manutenção da drenagem externa até a formação de bloqueio no trajeto do dreno e a diminuição do volume de drenagem e fechamento da
fístula, que ocorrerão normalmente após a terceira e até a sexta semana após a cirurgia, podendo, em alguns casos, permanecer com
drenagem de secreção após a retirada do dreno por até 2 meses de pós-operatório. Normalmente, não é necessária antibioticoterapia
prolongada.
Várias formas de drenagem são utilizadas no tratamento das fístulas de grau A, conforme preferência do serviço, cada qual com
vantagens e desvantagens próprias do material e da forma do dreno utilizado, como drenos siliconados, multifenestrados, tubulares,
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laminares ou tubulolaminares. Costuma-se utilizar drenagem de rotina com dreno tubulolaminar, aberta, sem utilização de pressão
negativa. Se o dreno for siliconado, deixa-se, nos casos de fístula, a drenagem por mais tempo, mais do que três semanas antes da
sua retirada.
Nos casos das fístulas de grau B, sem repercussão clínica sistêmica ou sinais de peritonite, indica-se drenagem percutânea guiada por
radiologia intervencionista na maioria dos casos. É necessária antibioticoterapia com penetração pancreática, como ciprofloxacino e
metronidazol por 7 a 10 dias.
A reoperação está indicada nos pacientes com peritonite, sinais de sepse ou hemorragia, as chamadas fístulas de grau C. Na cirurgia, além
da higiene da cavidade com soro fisiológico aquecido, é necessária abordagem direta da anastomose, na qual se desbrida a área necrótica
da borda da secção do coto pancreático remanescente e realiza-se sutura com pontos transfixantes com foi inabsorvível em “U”.
Realiza-se cateterização do ducto pancreático principal com drenagem externa tipo Witzel e aproximação da alça jejunal ao pâncreas com
pontos cardinais seromusculares e ampla drenagem local perianastomótica para ambos os flancos (Figura 2). Essa conduta diminuiu, de
forma significativa, a mortalidade nos casos de pacientes com fístulas de grau C.
Figura 2 – Reoperação com sutura hemostática em “U” da borda de secção do pâncreas e drenagem externa tipo Witzel do ducto pancreático principal
na pancreatojejunostomia terminolateral.
Fonte: Adaptada de André de Moricz.
Quando não controlado e direcionado o extravasamento da secreção pancreática na deiscência da anastomose, os pacientes
evoluem para o comprometimento e a deiscência das outras anastomoses, biliodigestiva e gastrojejunal, uma verdadeira “catástrofe
abdominal” de difícil solução.
Além da reoperação, no caso das fístulas de grau C, é necessária cobertura antibiótica de amplo espectro, com o uso de carbapenêmicos e,
muitas vezes, antifúngicos. Os pacientes em grau C precisam de internação em terapia intensiva para suporte respiratório, hemodinâmico e
renal, se necessários, conforme a sua repercussão e resposta inflamatória sistêmica.
Quando há extensa pancreatite do coto sem necrose glandular evidente, a conduta é apenas limpeza da cavidade e drenagem ampla. Nos
raros casos de pancreatite necrótica do remanescente pancreático, nos quais foi necessária a pancreatectomia total, a mortalidade foi de
100% nessa casuística.
Mais recentemente, discute-se a retirada precoce do dreno abdominal após a primeira dosagem da amilase (no terceiro dia de pós-
operatório) por este poder estar associado a complicações infecciosas, inclusive a presença do dreno por mais tempo seria fator
predisponente para a deiscência da anastomose.9 Nos serviços nos quais se dispõe de radiologia intervencionista capacitada e de prontidão
para os casos de formação de coleção abdominal, tal conduta tem mostrado bons resultados com diminuição da morbidade.
Na literatura baseada em evidências, a utilização de somatostatina e derivados, no intuito de promover a diminuição da secreção esplâncnica
e, em consequência, o tratamento e a prevenção da fístula da anastomose pancreática, não demonstrou melhora nos resultados pós-
operatórios, razão pela qual não se utiliza de rotina nesses pacientes.15
A experiência de serviços que empregam a cirurgia minimamente invasiva demonstrou que a DP pode ser realizada com segurança,
apresentando resultados semelhantes à cirurgia convencional no que diz respeito ao tempo operatório, à necessidade de hemotransfusão e
à incidência de complicações pós-operatórias, inclusive de fístulas da anastomose pancreática.
Está em discussão, com a experiência inicial da cirurgia robótica, se haverá algum benefício desta modalidade de cirurgia, muitas vezes
realizada de maneira híbrida, em relação às cirurgias videolaparoscópica e convencional. Algumas vantagens, como a magnificação de
imagem, a tecnologia 3D e a ergonomia em procedimentos cirúrgicos complexos como a DP, têm sido ressaltadas. Se vão trazer benefícios
ao paciente quanto aos resultados pós-operatórios a médio e longo prazos, estudos comparativos e randomizados poderão trazer essas
respostas.16
É fato de que nos serviços de referência de maior experiência e volume em DP documentam se menores índices de complicação e
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É fato de que nos serviços de referência, de maior experiência e volume em DP, documentam-se menores índices de complicação e
mortalidade relacionadas ao aparecimento da deiscência da anastomose pancreática e para onde esses pacientes, por fim, devem ser
encaminhados.
ATIVIDADES
A) Apenas a II.
B) Apenas a I e a II.
C) Apenas a I e a III.
D) Apenas a II e a III.
Confira aqui a resposta
A) F – V – F – V
B) V – V – F – F
C) F – V – V – V
D) V – V – V – V
Confira aqui a resposta
LEMBRAR
O REG é uma das complicações mais frequentes da DP com preservação do piloro e a sua prevalência varia de 20 a 40%. Essa
variação pode ser explicada pela adoção de critérios diferentes para a sua caracterização.
Em 2007 e posteriormente em 2010 um consenso do International Study Group of Pancreatic Surgery (ISGPS)17,18 estabeleceu critérios
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Em 2007 e, posteriormente, em 2010, um consenso do International Study Group of Pancreatic Surgery (ISGPS) , 8 estabeleceu critérios
mais objetivos para a sua definição, com base na necessidade de SNG, suporte nutricional enteral ou parenteral, realização de exames de
imagem ou endoscópicos para o diagnóstico, tempo de internação e terapêutica intervencionista (medicamentosa ou cirúrgica).
Dessa forma, três graus de REG (A, B e C) foram descritos e realizou-se uma classificação do REG (Quadro 2), sendo que o mais grave
implica maior tempo de sondagem gástrica, suporte nutricional, realização de exames de imagem e/ou endoscopia, reintervenção cirúrgica e
hospitalização prolongada.
Quadro 2
Embora o REG seja uma manifestação transitória, em alguns pacientes pode permanecer de 4 a 6 semanas e necessitar de tratamento
específico. O Quadro 3 mostra as principais hipóteses que procuram explicar o seu aparecimento.
Quadro 3
Disfunção vagal
Deficiência de motilina
Inflamação peripancreática
Coleção retrogástrica
A isquemia antropilórica e a disfunção vagal podem estar presentes quando ocorre uma maior desvascularização da região durante a
ressecção. Na DPPP, é importante preservar os vasos do piloro, em particular das artérias gástrica D e gastrepiploica D.
A deficiência de motilina resulta da remoção do duodeno e pode ser necessária a utilização de eritromicina via oral (750mg a 1.500mg/dia),
que, por apresentar uma estrutura molecular semelhante, pode contribuir para o restabelecimento das contrações do estômago.19
A manipulação do pâncreas pode causar uma inflamação da glândula remanescente. O processo inflamatório e o extravasamento e acúmulo
de líquido peripancreático e retrogástrico determinam a paresia do órgão, com o consequente REG. A presença de coleções infectadas e
abscessos intracavitários está associada ao REG mais grave (grau C), ao tratamento intervencionista mais frequente (cirúrgico ou
radiológico) e ao maior tempo de internação.20-22
O diagnóstico do REG está apoiado na persistência de débito elevado pela SNG ou pela necessidade da sua reinserção após a sua
retirada e o insucesso da realimentação oral.
A persistência de vômitos pós-alimentares, distensão gástrica e desconforto abdominal chamam a atenção. Nessas eventualidades, a
realização de exames de imagem, radiológico ou tomográfico mostra a distensão acentuada do estômago e a ausência de contraste
(iodado) nas alças de intestino delgado e cólon. A endoscopia digestiva deve ser feita para comprovar a ausência de estenose na
anastomose duodenojejunal ou gastrojejunal, afastando uma causa mecânica que impeça o esvaziamento gástrico.
Nos casos mais graves de REG (graus B e C), o suporte nutricional enteral ou parenteral deve ser mantido até a resolução do quadro. Nos
pacientes que já saem da operação com uma sonda nasenteral (SNE) posicionada após a anastomose duodenojejunal ou gastrojejunal, isso
não é problema. Caso seja necessária a passagem da SNE no pós-operatório, o procedimento deve ser guiado por endoscopia, para
garantir sua correta localização.
Nos casos em que o REG esteja relacionado às coleções retrogástricas ou peripancreátiacas, a sua drenagem por métodos menos
i i õ i d lt fi (US) t fi t d i d (TC) d t t d N d
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invasivos, como as punções guiadas por ultrassonografia (US) ou tomografia computadorizada (TC), pode ser tentada. Nos casos de
insucesso, a drenagem cirúrgica deve ser indicada.23,24
ATIVIDADES
A) está apoiado na persistência de débito elevado pela SNG ou pela necessidade da sua reinserção após a sua retirada e o
insucesso da realimentação oral.
B) está apoiado na realização de exames de imagem, radiológico ou tomográfico.
C) é realizado principalmente pela endoscopia digestiva.
D) está associado à persistência de vômitos pós-alimentares, distensão gástrica e desconforto abdominal, que são sinais
comuns.
Confira aqui a resposta
8. O REG está relacionado à deficiência de motilina. Entre as medicações utilizadas no tratamento está a eritromicina. Entre os
mecanismos a seguir, assinale aquele que justifica o seu uso.
■ HEMORRAGIA PÓS-OPERATÓRIA
A hemorragia após a DP, embora menos frequente do que as complicações anteriormente descritas, comporta alta taxa de mortalidade (9-
11%), sendo considerada a complicação mais letal.17 Com incidência de 5 a 7%, é denominada precoce quando ocorre nos primeiros dias
de pós-operatório (PO1 ao PO5) e tardia após esse período.25
Em geral, o sangramento precoce se exterioriza pelo dreno abdominal, sendo acompanhado de sinais de hipovolemia. As causas mais
citadas na literatura envolvem:
Após a rápida compensação clínica, o paciente deve ser reoperado para a revisão da hemostasia ou para a sutura do coto
pancreático ou da linha de sutura da alça utilizada na anastomose.
A hemorragia tardia também se manifesta pela exteriorização de sangue pelos drenos ou por sonda, embora possa ocorrer sangramento
digestivo [hemorragia digestiva alta (HDA) ou hemorragia digestiva baixa (HDB)] quando o sangramento de uma deiscência de anastomose
se exterioriza pelo trato gastrintestinal (TGI) ou quando decorre do aparecimento de ulcerações nas anastomoses gastrojejunal,
duodenojejunal ou pancreatogástrica.25,27
A hemorragia tardia pode ser precedida pelo sangramento sentinela quando o paciente tem uma exteriorização súbita de sangue
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A hemorragia tardia pode ser precedida pelo sangramento sentinela, quando o paciente tem uma exteriorização súbita de sangue
pelo dreno ou pela sonda e que cessa de forma espontânea, ocorrendo novo sangramento maciço depois de horas ou dias, com
evolução muitas vezes fatal.26
O sangramento tardio é mais frequente do que o precoce e representa até 70% dos casos, sendo associado, na maioria das vezes, à
presença de FP, fístula biliar ou coleções intra-abdominais infectadas.21 A ação de enzimas digestivas sobre a parede de vasos ou de
pseudoaneurismas determina a corrosão da parede de grandes vasos com o subsequente sangramento.
A hemorragia tardia pode ser tratada por manobras endoscópicas, radiologia intervencionista ou cirurgia. O tipo de tratamento a ser
indicado vai depender das condições hemodinâmicas, das características do sangramento, da presença de fístulas digestivas ou do
foco infeccioso intra-abdominal associado.
O tratamento endoscópico é indicado quando a exteriorização do sangramento é exclusivamente pelo TGI e há suspeita do aparecimento de
úlcera de boca anastomótica da duodenojejunostomia ou da pancreatogastroanastomose. As manobras hemostáticas endoscópicas podem
parar o sangramento e permitir a adoção de um tratamento clínico. Recentemente, tem se discutido o papel da intervenção endovascular no
diagnóstico e no tratamento da hemorragia tardia.28,29
A arteriografia com embolização do vaso só será benéfica se o sangramento decorrer de um ramo ou de uma artéria de maior calibre,
como a pancreatoduodenal ou gastroduodenal. Deve-se lembrar, porém, que esse tratamento não está isento de complicações, como a
extensão da embolização para a artéria hepática e a instalação posterior de necrose e abscesso no fígado, além de isquemia e deiscência da
anastomose biliodigestiva.28 Mais dramático é o sangramento maciço originado da corrosão da parede de um grande vaso, quando, em
geral, aparece o sangramento sentinela.26,28
Ao indicar a laparotomia, o cirurgião pode se deparar com uma lesão significativa na parede de um vaso, como a veia porta ou mesentérica
superior, ou, ainda, da artéria hepática ou mesentérica superior, associada a um intenso processo inflamatório que impede a reconstrução
vascular. Nesses casos, só é possível a ligadura do vaso para evitar a exsanguinação e se aguardar a evolução pós-operatória de uma
necrose intestinal extensa com óbito subsequente.
Pela frequente associação da hemorragia tardia com a FP, o processo inflamatório e infeccioso local, além de dificultar a localização do
sangramento, inviabiliza a reconstrução de uma anastomose pancreática. Nesses casos, a pancreatectomia total está indicada, embora
comporte altos índices de mortalidade.30
ATIVIDADES
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a II e a III.
C) Apenas a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta
11. No que se refere ao tratamento da hemorragia após a DP, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) As manobras hemostáticas endoscópicas podem parar o sangramento e permitir a adoção de um tratamento clínico.
( ) Pela frequente associação da hemorragia tardia com a FP, o processo inflamatório e infeccioso local, além de dificultar a
localização do sangramento, inviabiliza a reconstrução de uma anastomose pancreática. Nesses casos, realiza-se a
pancreatectomia total.
( ) A hemorragia tardia só pode ser tratada cirurgicamente.
( )A i di l t i i iã d d l ã i ifi ti d d i t
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( ) Ao se indicar a laparotomia, o cirurgião pode se deparar com uma lesão significativa na parede de um vaso, como a veia porta ou
mesentérica superior.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
A) V – V – V – V
B) V – F – V – F
C) V – V – V – F
D) V – F – F – V
Confira aqui a resposta
■ CASO CLÍNICO
Paciente do sexo masculino, 68 anos de idade, admitido no serviço de saúde com quadro de icterícia obstrutiva há 3 meses,
acompanhado de emagrecimento (perdeu 10kg no período).
Ao exame físico, apresentava icterícia de +++/4+ e vesícula palpável. Realizou TC do abdome, que mostrou tumor comprometendo o
colédoco distal, sem sinais de disseminação da doença. Foi indicada DPPP.
A cirurgia transcorreu sem intercorrências e não houve necessidade de transfusão sanguínea. A reconstrução do trânsito foi feita em
duas alças exclusas e a anastomose pancreatojejunal foi ducto-mucosa. A SNE foi posicionada no intraoperatório, deixando-se a
ponta cerca de 15cm abaixo da anastomose duodenojejunal, e SNG no estômago.
O paciente evoluiu bem, recebendo alta da UTI em 48 horas. O suporte nutricional enteral foi introduzido no PO2. No PO3, foi dosada
amilase sanguínea e no líquido do dreno (seroso), que se mostraram com valores baixos, não sendo caracterizada a FP. A SNG foi
retirada e introduzida dieta líquida oral.
No PO7, foi novamente dosada a amilase no sangue e no dreno, que se mantiveram com valores baixos. Nesta ocasião, o paciente
já recebia dieta pastosa oral e mantinha o suporte enteral, programando-se a alta hospitalar para o dia seguinte. No final do dia,
apresentou quadro de mal-estar, hipotensão e taquicardia, com exteriorização súbita de cerca de 500mL de sangue pelo dreno
(Figura 3).
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ATIVIDADES
12. Como classificar esse tipo de hemorragia e qual a provável causa do sangramento?
13. O paciente recebeu concentrado de hemácias e soro fisiológico. No entanto, após 2 horas, persistia com taquicardia e
hipotensão, além de manter débito sanguinolento pelo dreno. Neste caso, qual a melhor conduta?
14. Realizada a laparotomia, evidenciou-se deiscência parcial da anastomose pancreatojejunal com sangramento ativo de vaso no
coto pancreático e na borda da alça jejunal. Como tratar o paciente do caso clínico?
A) Totalizar a pancreatectomia.
B) Refazer a anastomose após a hemostasia usando o dreno transanastomótico.
C) Aproximar a alça da anastomose com alguns pontos após a hemostasia e drenar a cavidade.
D) Realizar pancreatogastroanastomose após a hemostasia.
Confira aqui a resposta
■ CONCLUSÃO
Nas últimas décadas, inúmeros avanços modificaram os resultados de mortalidade e morbidade da DP. Em relação aos aspectos técnicos,
mais recentemente, o desenvolvimento da cirurgia minimamente invasiva permitiu melhor padronização desse procedimento cirúrgico de alta
complexidade (com extirpação parcial e simultânea de vários órgãos com ou sem ressecção vascular, associada a múltiplas anastomoses).
Esses avanços também contribuíram para:
■ REFERÊNCIAS
1. Yeo CJ, Cameron JL, Sohn TA, Lillemoe KD, Pitt HA, Talamini MA, et al. Six hundred fifty consecutive pancreaticoduodenectomies in the
1990s: pathology, complications, and outcomes. Ann Surg. 1997 Sep;226(3):248-57.
2. Grobmyer SR, Pieracci FM, Allen PJ, Brennan MF, Jaques DP. Defining morbidity after pancreaticoduodenectomy: use of a prospective
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3. Derogar M, Blomberg J, Sadr-Azodi O. Hospital teaching status and volume related to mortality after pancreatic cancer surgery in a national
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4. Oliveira ML, Winter JM, Schafer M, Cunningham SC, Cameron JL, Yeo CJ, et al. Assessment of complications after pancreatic surgery: a
novel grading system applied to 633 patients undergoing pancreaticoduodenectomy. Ann Surg. 2006 Dec;244(6):931-7.
5. Büchler MW, Wagner M, Schmied BM, Uhl W, Friess H, Z’Graggen K. Changes in morbidity after pancreatic resection: toward the end of
completion pancreatectomy. Arch Surg. 2003 Dec;138(12):1310-4.
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