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A única coisa em comum entre a Venezuela e o Vietnã é a letra V. Mas, parece que no Vietnã o
V significa vitória e na Venezuela atual o V significa vergonha. Não existe destino preestabelecido
para as nações. Quem estava em cima pode cair e quem estava embaixo pode subir. Tudo
depende do projeto nacional que é adotado e da capacidade de união do povo para conquistar
uma boa qualidade de vida.
O Vietnã conviveu com um logo ciclo de guerras e pobreza. Em meados do século XIX, o Vietnã
foi invadido e dominado pela França, dando início a quase um século de ocupação na chamada
“União da Indochina” – Vietnã, Laos e Camboja. Em 1940, os alemães ocuparam a França, que
perdeu controle sobre suas colônias da Indochina. Em 1941 os japoneses invadiram o Vietnã.
Terminada a guerra, em agosto de 1945, o líder comunista Ho Chi Minh protestando contra os
colonizadores levou avante a luta pela independência criando a República Democrática do
Vietnã.
Porém, a França não desistiu de manter o poder colonial, provocando a Guerra da Indochina
que durou quase uma década, terminando em 1954 com a divisão do Vietnã em dois países: o
Vietnã do Norte, presidido por Ho Chi Minh e apoiado pela China e o Vietnã do Sul,
anticomunista, apoiado pelos Estados Unidos. Em 1965, os primeiros soldados americanos
desembarcaram no país ampliando a Guerra do Vietnã, que causou milhões de vítimas e durou
até 1975. Com as derrotas da França e dos Estados Unidos, foi criada a República Socialista do
Vietnã, em julho de 1976.
Todavia, nos dez anos seguintes, o país viveu o período da “economia subsidiada” (Bao Cap),
marcado pela coletivização da agricultura, pelos campos de reeducação forçada, pelo aumento
da pobreza e pela carestia generalizada. Houve a fuga de centenas de milhares de refugiados
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vietnamitas, conhecidos “boat people”. Em 1986, o país estava falido e com uma inflação de
mais de três dígitos (700% ao ano).
O Vietnã estava ficando para trás não só em relação às economias mais avançadas (Japão, Coreia
do Sul, Taiwan, Singapura), mas também em relação à Tailândia, Malásia e, especialmente a
China que iniciou suas reformas em dezembro de 1978, conforme propostas por Deng Xiaoping.
Para mudar este quadro, o partido comunista, em 1986, iniciou o período chamado de
“renovação” (Doi Moi), permitindo a substituição da coletivização das terras e o controle estatal
generalizado pela paulatina abertura econômica do país, com reformas liberalizantes,
privatizações e atração de investimentos externos – uma economia de mercado com orientação
socialista, seguindo o exemplo da China.
O gráfico abaixo, também com dados do FMI, mostra que que a renda per capita (em poder de
paridade de compra – ppp) da população vietnamita passou de US$ 1 mil em 1980 para US$ 6,6
mil em 2018. O crescimento médio da renda per capita foi de 5,1% ao ano, no período. Para
2023, o FMI estima que o Vietnã terá uma renda per capita de US$ 8,7 mil. Todos os indicadores
demográficos e sociais melhoraram e o Vietnã deixou de ser um país em guerra e gerador de
refugiados. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) passou de 0,475 em 1990 para 0,694
em 2017. A taxa de homicídios foi de 3,8 por 100 mil em 2016, segundo a OMS.
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Estas estatísticas do Vietnã contrastam fortemente com as estatísticas da Venezuela, pois o país
latino-americano segue uma rota inversa ao do país asiático. Em 1980, a Venezuela tinha uma
renda per capita de 18,3 mil, a maior renda entre os países da América Latina, sendo 18 vezes
superior à renda per capita do Vietnã. Em 2018, a renda per capita da Venezuela tinha caído
pela metade (US$ 9,3 mil), sendo pouco maior do que a do Vietnã. Mas a estimativa do FMI
aponta que antes de 2023 a população vietnamita terá uma renda per capita superior à renda
per capita venezuelana.
O jornal El País relata que a crise levou à criação de serviços de apoio para lidar com casos de
depressão, suicídios e um desânimo generalizado: “Em pouco mais de uma década, o alto índice
de bem-estar subjetivo que o instituto Gallup atribuía aos venezuelanos desapareceu. A
Venezuela costumava estar entre os países mais felizes. Em 2006, quando foi feita a primeira
medição, 59% da população considerava que sua situação era pujante — a percentagem mais
alta na América Latina —, e apenas 4% indicavam que estavam em condição de sofrimento. Uma
década depois, a situação se inverteu: os pujantes caíram para 13%, índice menor apenas que o
do Haiti” (24/11/2018).
O contraste entre os dois Vs é realmente chocante. O país asiático, liderado pelo partido
comunista, tem conseguido sucesso econômico e social, não tem mais problemas de inflação e
de refugiados e tem um taxa de violência muito baixa. Já o país do socialismo bolivariano tem
sido um fracasso total em termos econômicos e sociais, tem assistido ao aumento da pobreza e
da fome, tem provocado a fuga de milhões de refugiados e deve bater o recorde de hiperinflação
em 2019 com um valor superior a 10.000.000% (dez milhões), depois de ter uma hiperinflação
de 2,5 milhões em 2018. A taxa de homicídios, uma das mais altas do mundo, foi de 49,2 por
100 mil em 2016, segundo a OMS.
Nicolás Maduro começa um segundo mandato de seis anos no dia 10 de janeiro de 2019, tendo
sido reeleito em um pleito boicotado pela oposição e denunciado como fraudulento pelos EUA,
pela União Europeia e por diversos países da América Latina. Os chanceleres do Grupo de Lima,
reunidos no dia 04 de janeiro, assinaram um documento em que não reconhecem a
“legitimidade do novo mandato do ditador venezuelano”, Nicolás Maduro, por considerar que
as últimas eleições presidenciais, em maio, não contaram com as garantias necessárias de um
pleito “livre, justo e transparente”. O México foi o único dos 14 países presentes que não
assinaram o documento, assinado por Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica,
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Guatemala, Guiana, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia. Também a Assembleia
Nacional da Venezuela, que faz oposição ao executivo, declarou no dia 05/01, que o novo
mandato de Nicolás Maduro é ilegítimo.
A Venezuela está caminhando para o colapso total e fica mais difícil desconsiderar os erros e as
desculpas de Maduro e do sistema Chavista criado para manter o controle centralizado e com
forte presença militar. Se o regime bolivariano não abrir mão do poder autocrático e ouvir a
vontade da maioria dos habitantes, haverá a continuidade da destruição ampla, geral e irrestrita
das mais elementares condições de vida da população venezuelana.
Referências:
Fabiola Zerpa. Venezuela Is Leaking Oil Everywhere, Bloomberg, 24/11/2018
https://www.bloomberg.com/news/features/2018-11-24/venezuela-is-leaking-oil-
everywhere-and-making-a-dangerous-mess
Florantonia Singer. Depressão e suicídios, os outros números vermelhos da Venezuela, El País,
24/11/2018
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/11/22/internacional/1542906296_805078.html