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Cortinas de estacas-prancha

Technical Report · March 2001


DOI: 10.13140/RG.2.1.1764.9127

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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

MESTRADO AVANÇADO EM CONSTRUÇÃO E


REABILITAÇÃO

CADEIRA DE CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

Pedro Vaz Paulo e Jorge de Brito

Março de 2001
ÍNDICE

1. Introdução 1
2. Características gerais das cortinas de estacas-prancha 4
2.1. Campo de aplicação 4
2.2. Vantagens e desvantagens das cortinas de estacas-prancha 4
3. Processo construtivo 7
3.1. Considerações iniciais 7
3.2. Equipamento de cravação 8
3.2.1. Bate-estacas manual 9
3.2.2. Bate-estacas de queda livre 9
3.2.3. Martelo a diesel 10
3.2.4. Martelo de impacto 11
3.2.5. Martelo hidráulico de duplo efeito 11
3.2.6. Martelo ar / vapor de duplo efeito 12
3.2.7. Martelo vibratório 13
3.2.8. Sistemas de pressão 14
3.3. Sequência de colocação das estacas-prancha 15
3.3.1. Colocação estaca a estaca 17
3.3.2. Colocação por painéis 17
3.3.3. Colocação alternada 17
4. Sistemas de guiamento 19
4.1. Mastro-guia (guia superior) 20
4.2. Vigas-guia (guia inferior) 20
5. Equipamento auxiliar 23
5.1. Passadiço de apoio 23
5.2. Mãos 23
5.3. Peças de união 24
5.4. Capacetes de cravação 25
6. Métodos auxiliares de cravação 26
6.1. “Jetting” ou injecção “lançage” 26
6.2. Furação e explosão 27
7. Sistemas auxiliares de sustentação 28
8. Extracção das estacas metálicas 30
9. Cortinas de estacas-prancha de vinil 32
10. Incidentes na execução 34
10.1. Desvios da verticalidade 34
10.2. Obstáculos na cravação 34
10.3. Nega prematura 35
10.4. Arraste de estacas já cravadas 35
10.5. Deformação das estacas-prancha 36
10.6. Desligamento das estacas-prancha 36
11. Bibliografia 37
Instituto Superior Técnico Cadeira de Construção de Edifícios
Cortinas de estacas-prancha por Pedro Vaz Paulo e Jorge de Brito

CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

1. INTRODUÇÃO

As estacas-prancha são painéis recuperáveis geralmente metálicos (também podem ser em


madeira ou betão armado e, mais recentemente, em vinil), pouco rígidos no seu plano,
ancorados /escorados (em um ou mais níveis) ou não, justapostos verticalmente de forma a
formar uma cortina (Fig. 1) cravada para além da cota de escavação (o que lhe confere
encastramento). Para conferir maior rigidez à flexão às cortinas, os painéis geralmente não
são planos (só o são quando as solicitações são fundamentalmente de tracção no seu plano e
não de flexão), mas têm sim uma forma composta (Fig. 2). Geralmente utilizados em solos
com níveis freáticos altos, a garantia da estanqueidade, que geralmente não é total, é dada
pelo engate das estacas umas nas outras, complementado com a selagem das juntas macho -
fêmea. Quando utilizadas em local aquático (leito de rio ou mar), adoptam o nome de
ensecadeiras.

CORTE A-A

A A

Fig. 1 - Alçado e cortes horizontal e vertical de uma cortina de estacas-prancha

Para engatar as estacas-prancha, apontá-las e cravá-las na execução da cortina, é necessário


preparar dispositivos de guiamento a um ou mais níveis. Estes desempenham o duplo papel de
materializar a implantação da cortina e guiá-la durante a cravação. Os processos correntes de
cravação destes elementos são a percussão (grandes blocos e rochas duras), a vibração (solos
granulares e certos solos coerentes) e a injecção lançage (solos incoerentes finos), sendo a
vibro-flutuação e a penetração estática com macaco de uso excepcional [1]. A selecção da
técnica de cravação deverá ter em conta os seguintes factores: natureza dos terrenos a
atravessar, características das estacas-prancha utilizadas, natureza e importância da obra a

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construir, condições adjacentes à obra, condições de acesso ao estaleiro, prazos de execução e


disponibilidade do equipamento.

Fig. 2 - Vários tipos de secções de estacas-prancha

Entre os problemas que podem ocorrer na execução das estacas-prancha, referem-se os


seguintes: defeitos de verticalidade, existência de obstáculos, nega prematura, deformação das
estacas-prancha, desligamento, rasgos ou enrolamentos das estacas-prancha e, finalmente,
rotura das estacas-prancha.

O método de contenção provisória com mais implantação em Portugal é os muros tipo Berlim
[2] (Fig. 3), os quais, ainda que com um campo de aplicação mais limitado, competem
directamente com as cortinas de estacas-prancha.

Este documento pretende servir de apoio aos alunos do Mestrado Avançado em Construção e
Reabilitação do Instituto Superior Técnico na Cadeira de Construção de Edifícios. Foca parte
do capítulo dessa mesma cadeira dedicado às contenções periféricas. O documento aborda
fundamentalmente a descrição das soluções existentes e dos processos construtivos
associados às cortinas de estacas-prancha.

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Cortinas de estacas-prancha por Pedro Vaz Paulo e Jorge de Brito

CORTE A-A

A A

Fig. 3 - À esquerda e centro, contenções com perfis metálicos e barrotes / vigotas


(Muros tipo Berlim) e, à direita, obstáculo à cravação de uma estaca-prancha

A elaboração deste documento baseou-se fortemente na investigação específica sobre o tema


efectuada pelo seu primeiro Autor como aluno do Instituto Superior Técnico, no Mestrado em
Construção, e também em monografias escritas realizadas por alunos do Instituto Superior
Técnico, na Licenciatura em Engenharia Civil. Assim, muita da informação nele contida
poderá também ser encontrada nos seguintes textos, que não serão citados ao longo do
documento:

 Pedro Paulo, “Contenções Provisórias: Paredes de Berlim e Cortinas Estacas Prancha


Metálicas”, Monografia apresentada no 9º Mestrado em Construção, Instituto Superior
Técnico, 2000, Lisboa;
 Rui Arco, Sílvia Mendes, Ana Mendonça e Bruno Semedo, “Soluções de Entivação /
Contenção Provisória”, Monografia apresentada na Licenciatura em Engenharia Civil,
Instituto Superior Técnico, 2000, Lisboa.

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2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

2.1. CAMPO DE APLICAÇÃO

As estacas-prancha são um tipo de contenção extremamente versátil, já que a sua utilização é


viável em praticamente qualquer tipo de terreno, independentemente da posição do nível
freático. A principal limitação à utilização desta técnica é a existência de obstáculos (sob a
forma de blocos de pedra - Fig. 3, à direita - ou fundações de estruturas) debaixo do nível de
terreno e no enfiamento da cortina. Adicionalmente, a passagem directa de um solo de
características mecânicas muito fracas (que não garanta o encastramento das estacas-prancha)
para um solo particularmente duro (uma rocha mais ou menos sã, onde a cravação pode
danificar as estacas-prancha) pode inviabilizar a utilização desta solução por lhe faltar a
entrega no firme.

Assim, as cortinas de estacas-prancha são utilizadas tanto na contenção de terras (Fig. 2, à


direita), como no revestimento de taludes, em obras hidráulicas (por exemplo, na fundação de
uma estrutura no leito de um rio ou num braço de mar - Fig. 2, à esquerda) ou no alinhamento
da orla marítima. Também não estão restritas a situações provisórias, podendo funcionar
como cofragem perdida (e não quantificada na determinação da resistência) de soluções de
contenção definitiva em betão armado.

Esta solução só não tem aplicação universal em contenções provisórias porque há outras (por
exemplo, as paredes tipo Berlim) mais económicas para determinadas condições do terreno a
conter (solo com alguma coerência e sem ocorrência de quantidades significativas de água -
de preferência acima do nível freático). Não obstante, os riscos de insucesso e a falta de
eficiência aumentam, mesmo com estacas-prancha, se houver muita água no terreno, pelo que,
quando possível, se opta pelos meses menos chuvosos do ano para execução destas cortinas.

2.2. VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA

As vantagens e desvantagens das cortinas de estacas-prancha que vão ser apresentadas são-no
relativamente à solução que mais correntemente se posiciona como alternativa a esta, ou seja,
as paredes tipo Berlim (Fig. 3). Estes dois métodos têm algumas características comuns: são

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rápidos, são relativamente económicos (com ancoragens, não o são tanto), não exigem mão de
obra ou equipamento muito especializados, ocupam muito pouco espaço e têm baixa
durabilidade (nas soluções definitivas em estacas-prancha, a durabilidade destas pode ser
melhorada com recurso a pinturas epoxídicas ou de borracha).

Como vantagens relativas das estacas-prancha, tem-se:

 facilidade em trabalhar abaixo do nível freático e mesmo dentro de água, devido à relativa
estanqueidade das juntas que, mesmo que deixando passar alguma água, limitam o seu
volume a quantidades facilmente bombeadas;
 oferecendo ao terreno superfícies contínuas e sendo cravadas antes da execução da
escavação de um dos lados, não deixam passar o terreno, independentemente da coerência
deste;
 é possível recuperar as estacas enquanto que os perfis das paredes tipo Berlim geralmente
não.

Como desvantagens relativas, podem referir-se:

 são mais caras que as paredes tipo Berlim, pelo que estas últimas são as preferidas em
solos coerentes com nível freático profundo;
 exigem equipamento de cravação mais pesado (os perfis metálicos das paredes tipo
Berlim, em virtude do tipo de solos coerentes em que estas são usadas, são normalmente
introduzidos em furos realizados por trados; por outro lado, são mais leves que as estacas-
prancha);
 a cravação das estacas-prancha, geralmente por percussão, pode originar muito ruído
(Quadros 1 e 2) e vibrações, função do equipamento utilizado;
 as estacas-prancha têm problemas de corrosão a longo prazo (como as estacas-prancha, ao
contrário dos perfis metálicos na maioria dos casos, são recuperadas, esta questão torna-se
relevante);
 as estacas-prancha são mais susceptíveis de ser danificadas no processo de cravação;
 a garantia da verticalidade da cortina é mais difícil e as consequências da não
verticalidade mais difíceis de corrigir;

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 não podem ser empregues em terrenos com camadas ou blocos dispersos de rocha.

Quadro 1 [3] - Nível de ruído em função do tipo de equipamento de cravação (ver §3.2)
Equipamento de cravação Nível de ruído [dB(A)]
Martelo de impacto 90 - 115
Martelo de duplo efeito ar / vapor 85 - 110
Martelo vibratório 70 - 90
Sistemas de pressão 60 - 75
Nota: as medidas foram feitas a uma distância de 7 metros do emissor.

Quadro 2 [3] - Valores típicos de ruídos em diferentes situações


Situação Nível de ruído [dB(A)]
Fábrica 90
Avenida com bastante tráfego 85
Rádio no volume máximo 70
Conversa normal 55 - 63
Área residencial 35

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3. PROCESSO CONSTRUTIVO

3.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Uma vez que, na esmagadora maioria dos casos correntes, as estacas-prancha são metálicas, a
descrição do processo construtivo será feita para esse tipo de material. No fim do capítulo,
será descrida sucintamente a utilização de estacas-prancha de vinil.

A correcta aplicação de estacas-prancha está dependente de um bom levantamento do perfil


geológico e topográfico do terreno. A caracterização topográfica deverá incluir referências
acerca de restrições a impor devido ao ruído e às vibrações inerentes à sua execução,
nomeadamente: proximidade de habitações, estradas, serviços enterrados (rede de água, rede
de gás, rede de esgoto, etc.). A caracterização geológica refere-se aos diferentes tipos de
estratos e definição de níveis freáticos.

Para conhecer a força necessária de impacto e qual o tipo de perfil da estaca a utilizar, é
necessário determinar os seguintes factores: estratificação do solo (definição de alturas e
cotas); densidade do solo; porosidade; coesão dos diferentes estratos; nível freático;
permeabilidade; resultados dos ensaios SPT e CPT.

Tal como qualquer outra actividade, a cravação de estacas-prancha terá que ser realizada de
acordo com o mínimo custo, o qual é directamente proporcional à quantidade de aço
envolvido no tipo de secção da estaca. As estacas de maior profundidade e com uma largura
menor (para limite da energia de cravação) representam um maior custo total do que, para a
mesma situação de solicitação, estacas com uma altura menor e, consequentemente, maior
largura.

A cravação da estaca-prancha é função das propriedades da sua secção (área, espessura,


módulo de inércia), comprimento, aço utilizado, carga aplicada e sua duração e método de
aplicação. Quanto maior for a área de superfície da estaca, maior será a força de cravação.
Para evitar que a ponta da estaca se deforme em excesso, é preciso garantir que a sua secção é
compatível com as condições do solo. A força necessária para cravar a estaca-prancha é
função das propriedades do solo (Quadro 1). O aumento da ductilidade do aço (patamar de

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cedência) permite a aplicação de maiores forças sem se verificar deformação na cabeça da


estaca. O Quadro 3 é baseado numa relação entre o SPT (Standard Penetration Test) para
solos menos coesivos e para uma estaca de 500 mm de largura, utilizando martelo de impacto.

Quadro 3 [3] - SPT versus módulo de inércia da estaca-prancha


3
SPT Módulo de inércia [cm /m]
Aço pouco Aço muito
[N]
dúctil dúctil
0-10 500
11-20 500
21-25 1000
26-30 1000
31-35 1300
36-40 1300
41-45 2300
46-50 2300
51-60 3000
61-70 3000
71-80 4000
81-140 4000

3.2. EQUIPAMENTO DE CRAVAÇÃO

O método de aplicação das estacas depende do tipo de solo. A sua caracterização é feita com
base nos parâmetros indicados no sub-capítulo anterior. Assim, a percussão: é um processo
bastante normal, sendo somente limitado para perfurar estratos de solo de rochas duras.
Poderá também, apresentar algumas dificuldades quando encontra substratos muito densos
(argilas e areias muito finas) que apresentam uma maior resistência à penetração da estaca.
Outro factor que também influencia a resistência de penetração é a existência de água, que, ao
existir, facilita a colocação da estaca-prancha. A vibração é a técnica adequada para solos
granulares de grão redondo e solos finos. Permite diminuir o atrito estaca / solo favorecendo a
cravação.

A escolha do sistema correcto de cravação é fundamental para se atingir com sucesso a


instalação da cortina. Qualquer processo construtivo que utilize a cravação como meio para
obter o objectivo, arrisca-se sempre a introduzir para o terreno adjacente vibrações que podem
ser mais ou menos graves. Nas situações em que existam edifícios ou qualquer outro tipo de
estrutura no raio de influência das vibrações induzidas, é necessário analisar detalhadamente

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todo o processo por forma a não incomodar os ocupantes dessas estruturas e não provocar
danos irreversíveis nas mesmas.

Os dois primeiros métodos de cravação analisados a seguir estão hoje ultrapassados.

3.2.1. Bate-estacas manual

O modelo que era normalmente utilizado era constituído por um cilindro de aço, que servia de
pilão, enfiado numa guia metálica que se fixava à cabeça da estaca (Fig. 4, à esquerda e ao
centro). As cordas, que passavam por roldanas presas à extremidade superior da guia, ao
serem puxadas, faziam com que o pilão subisse. Largando as cordas, o pilão, em queda
controlada, embatia contra a cabeça da estaca. O peso do pilão variava entre 50 a 200 kg e o
número de pancadas por minuto entre 7 a 10. A altura da queda era geralmente de 1 m [4].

Fig. 4 - À esquerda e ao centro, bate-estacas manual; à direita, bate-estacas de queda livre [4]

3.2.2. Bate-estacas de queda livre

Foi muito utilizado na cravação de estacas de madeira e de moldes para estacas moldadas. Era
vulgarmente constituído por um pilão que corria ao longo de umas guias fixas a uma estrutura
ligeira, geralmente de madeira (Fig. 4, à direita). O accionamento do guincho que fazia subir
o pilão era manual ou mecânico. O peso do pilão variava entre os 200 kg e os 2000 kg. A
altura de queda podia ir até aos 6 m, não sendo de todo convenientes alturas superiores, pois
isso poderia ocasionar a ruptura da estaca. Este tipo de bate-estacas tinha capacidade para
realizar 5 a 10 pancadas por minuto [4].

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3.2.3. Martelo a diesel

Um martelo a diesel consiste basicamente num cilindro, num pistão e num bloco de impacto
colocado na extremidade inferior do cilindro. O processo de impacto inicia-se com o
desprendimento do pistão a uma determinada altura (para a qual ele é puxado). A queda livre
do pistão faz comprimir o ar na câmara de compressão e activa a injecção do combustível
para o topo do bloco de impacto. Quando o pistão bate no bloco, origina uma explosão em
que a energia criada permite a cravação da estaca reiniciando-se novamente o processo (Fig.
5, à esquerda).

Fig. 5- À esquerda, funcionamento do martelo a diesel: 1 - subida do pistão; 2 - compressão


do ar e injecção do diesel; 3 - impacto e explosão; 4 - libertação dos gases; 5 - posição inicial;
à direita, martelo a vapor de impacto [3]

Este tipo de martelos está especialmente vocacionado para a cravação de estacas em solos
coesivos ou muito densos. Em condições normais de utilização, é frequente seleccionar uma
taxa peso do pistão / peso da estaca mais capacete de cravação entre 1/2 a 1.5/1. É necessário
utilizar capacetes de cravação para que as cabeças das estacas não fiquem danificadas. Deve-
se considerar como taxa de penetração limite, de acordo como o tipo de martelo, 25 mm por
10 pancadas. Em casos particulares e de curta duração, para não pôr em risco a integridade do
martelo e do equipamento, pode-se atingir uma taxa de 1 mm por pancada [3].

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3.2.4. Martelo de impacto

Este tipo de martelo é muito versátil, apresentando bons resultados para qualquer tipo de
secção de estaca ou de solo, mesmo em condições de existência de nível freático. As taxas de
peso do pistão / peso da estaca são semelhantes às dos martelos a diesel. Para pesos de
conjunto superiores a 11 ton, consegue-se alturas de queda superiores a 1.2 m. Para valores
máximos de peso, poder-se-á atingir 40 pancadas por minuto, caso se utilize um método de
sequência automática [3]. É sempre preferível utilizar um martelo mais pesado e com uma
menor altura de queda, para minimizar os estragos na cabeça da estaca e para diminuir os
níveis de ruído.

Existem três tipos de martelos de impacto:

 martelo de queda livre: descrito em 3.2.2.;


 martelo a vapor (Fig. 5, à direita): para estes martelos, o peso é largado e subido
novamente através de pressão de vapor; uma válvula interrompe a pressão e provoca a
queda do cilindro;
 martelo hidráulico (Fig. 6, à esquerda): este martelo consiste numa cabeça de impacto
guiada por dois suportes externos, a qual é puxada por acção hidráulica até a uma altura
pré-determinada, e por acção da gravidade é levada a embater na estaca ou num capacete
de cravação; o peso do martelo e a altura de queda são função do tipo de solo e do tipo de
secção da estaca-prancha.

3.2.5. Martelo hidráulico de duplo efeito

Este tipo de martelo (Fig. 6, à direita) consiste num pistão que se encontra dentro de um
cilindro e que sobe através de pressão hidráulica. Pode chegar a produzir uma aceleração de 2
g. A máxima penetração de 1 m corresponde a uma queda de 2 m. Estes martelos podem
alcançar uma energia de 35 a 3000 kNm com uma taxa de penetração de 50 a 60 pancadas por
minuto. O controlo electrónico do sistema permite assegurar um óptimo processo de cravação
e a sua forma garante segurança. A energia de impacto aplicada em cada estaca é medida

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durante cada pancada, possibilitando a sua correcção de uma forma contínua com um erro
máximo estimado de 5% [3].

Fig. 6- À esquerda, martelo hidráulico de impacto e, à direita, martelo hidráulico de duplo


efeito [3]

Este tipo de martelo pode ser utilizado em qualquer ângulo e em solos com nível freático
elevado. Em condições normais de funcionamento, é usual utilizar-se pistões com um peso
igual (1:1) ou metade (1:2) do peso da estaca mais o capacete de cravação. Para evitar excesso
de ruído e danificação da extremidade da estaca-prancha, deve-se utilizar um martelo pesado
com um menor comprimento de queda do pistão. Até 1998, apenas os martelos de duplo
efeito com energias por pancada de 35 a 90 kNm são utilizados para cravação de estacas-
prancha, sendo os martelos com energias superiores considerados demasiadamente pesados.

3.2.6. Martelo ar / vapor de duplo efeito

Neste tipo de martelos, o pistão é guiado pela compressão de ar, quer na queda, quer na sua
subida (Fig. 7, à esquerda). O peso do pistão está geralmente entre 100 e 1300 kg e o
comprimento de queda, que normalmente aumenta com o peso do martelo, varia entre 110 e
500 mm. A energia total de impacto de um martelo deste tipo é de cerca de 30 kNm por
pancada, muito menor do que o maior martelo de impacto. Contudo, a taxa de impacto de um

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martelo de duplo efeito é superior, cerca de 100 pancadas por minuto (para a maior máquina)
e 400 pancadas por minuto (para a menor). Estes valores levam normalmente ao movimento
contínuo da estaca, o que aumenta a sua capacidade de penetração no solo. Para este tipo de
martelos, não é aconselhável colocar nenhum capacete de cravação (provocaria perda de efi-
ciência). Para relação entre o peso do pistão / peso da estaca, utiliza-se normalmente 1/ 5 [3].

tampa

pistão móvel

carter
pistão de distribuição

bigorna

estaca-prancha

Fig. 7 - À esquerda, martelo ar / vapor de duplo efeito, ao centro, esquema de vibrador e, à


direita, martelo vibratório [3]

3.2.7. Martelo vibratório

Os martelos vibratórios (Fig. 7, à direita e Fig. 8, à esquerda) aplicam vibrações nas estacas, o
que lhes permite penetrar sem percussão em determinados solos. O princípio que está
associado a esta técnica é a redução de atrito entre a estaca e o solo. A vibração induzida leva
a que as partículas se movimentem instantaneamente, reduzindo de forma notável a
resistência entre o solo e a estaca. Isto permite colocar a estaca no solo com pouca carga
aplicada. A vibração é aplicada apenas segundo a vertical, não provocando esforços nas
outras estacas. A performance da cravação depende essencialmente das características do
solo. O melhor tipo de solos para utilizar este tipo de martelo é os não coesivos: areia,
gravilha, especialmente quando estão saturados. Para solos coesivos, este método pode ser
aplicado, mas é necessário que tenha bastante água.

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Fig. 8 - À esquerda, martelo vibratório e, à direita, cravação sob pé direito reduzido [3]

Este sistema de cravação é praticamente o único adequado a situações de cravação sob pé


direito reduzido (Fig. 8, à direita). Se o pé direito disponível for muito inferior ao
comprimento das estacas, estes terão de ser cortadas, cravadas troço a troço e soldadas topo a
topo. Esta soldadura não deve ocorrer ao mesmo nível em todas as estacas. Se o pé direito
disponível for próximo do comprimento das estacas, poderá ser executada uma vala onde as
estacas são introduzidas [1].

3.2.8. Sistemas de pressão

O objectivo inicial, que esteve na origem do aparecimento dos sistemas de pressão (Fig. 9),
foi o de tentar eliminar ou reduzir o ruído de cravação tanto quanto possível, através de um
sistema de pressão. Estas máquinas, que têm alto desempenho para solos coesivos, são
operadas hidraulicamente e a força de cravação que aplicam nas estacas é originada pelo
atrito que as estacas anteriormente cravadas permitem mobilizar. Os pistões estão ligados
directamente às estacas-prancha (normalmente num conjunto de oito) que, através de pressão,
empurram as duas estacas que se encontram no meio, enquanto que os outros pistões se
encontram estáticos. Numa fase seguinte, os dois pistões que empurraram as primeiras estacas
ficam fixos e os restantes empurram as outras estacas. O ciclo repete-se até se atingir a

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profundidade desejada (Fig. 10).

Fig. 9 - Sistemas de pressão [3]

Fig. 10 - Operação de colocação de estacas com recurso a sistemas de pressão [3]

3.3. SEQUÊNCIA DE COLOCAÇÃO DAS ESTACAS-PRANCHA

A correcta colocação da primeira estaca-prancha é bastante importante para assegurar à


globalidade da cortina: verticalidade e alinhamento idênticos aos pré-definidos. É necessário
que as estacas se encaixem correctamente uma nas outras para transmitirem entre si o

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alinhamento e verticalidade definidos pela primeira estaca. A sequência de colocação das


estacas constituintes das cortinas pode ser: estaca a estaca, por painéis ou alternada.

Direcção da cravação

Fig. 11 - À esquerda em cima: colocação estaca a estaca; nos restantes, da esquerda para a
direita e de baixo para cima, faseamento da colocação por painéis: colocação e alinhamento
da primeira estaca; colocação das restantes estacas e início da cravação da primeira; início da
cravação a partir das últimas estacas (esta solução tem mais sentido quando se cravam os
segundo e restantes painéis); primeiro painel parcialmente cravado; colocação do segundo
painel de estacas; colocação, por níveis de profundidade, do primeiro painel e colocação
parcial da última estaca do segundo painel; colocação das estacas do segundo painel a partir
do fim, da totalidade das estacas do primeiro painel e do terceiro painel e repetir os passos
atrás indicados [3]

3.3.1. Colocação estaca a estaca

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Este método consiste em cravar cada estaca até à profundidade final de uma só vez (Fig. 11, à
esquerda em cima). Apesar de ser um processo simples de cravação, só deverá ser utilizado
para solos soltos e para comprimentos de cravação pequenos, para evitar desvios a que as
estacas são propensas. Para areias densas e solos coesivos ou no caso de poderem existir no
substracto alguns obstáculos, o método de colocação por painéis apresenta-se como a melhor
solução.

3.3.2. Colocação por painéis

De forma a minimizar os erros de verticalidade e de alinhamento que poderão existir na


colocação de estacas, deve recorrer-se à sua cravação por painéis (Fig. 11), o que permite
também diminuir as dificuldades de cravação. Como a colocação é realizada por painéis, não
se torna necessário inserir a estaca até à profundidade máxima para que o processo continue.
Caso alguma estaca encontre no substracto algum obstáculo que não permita a sua cravação, a
cravação das estacas seguintes pode continuar e resolver-se-á esse problema numa fase
posterior sem pôr em causa a produtividade / rendimento do processo.

3.3.3. Colocação alternada

Para solos em que a cravação seja difícil de se executar, dever-se-á recorrer a uma colocação
alternada de forma a reduzir as condições adversas (Figs. 12 ou 13).

Fig. 12 - Sequência de colocação alternada [3]

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Fig. 13 - Em areias muito densas, gravilha ou rocha, a extremidade inferior das estacas 1, 3 e
5 são reforçadas e a sequência de introdução altera-se ligeiramente [3]

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4. SISTEMAS DE GUIAMENTO

É fundamental que as estacas sejam mantidas na posição correcta, vertical e horizontalmente,


durante a fase de cravação (Figs. 14 e 15). Para tal, é essencial utilizar sistemas de guiamento
para as conduzir correctamente. Existem dois tipos de guiamento possíveis: mastro-guia e
vigas-guia.

Fig. 14 - Cravação de estacas-prancha sem guiamento [1]

Fig. 15 - Exemplo de mau guiamento de estacas-prancha

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4.1. MASTRO-GUIA (GUIA SUPERIOR)

No método do mastro fixo, quer o martelo, quer a estaca, são guiados pelo mastro. É
importante que o mastro se encontre na vertical, para aproveitar o máximo da energia ganha
pelo martelo, apesar de o ângulo de impacto ser em função do tipo de projecto (Fig. 16, à
esquerda). O sistema do mastro suspenso funciona com um martelo que é suportado por um
mastro que se encontra suspenso. A ligação entre o mastro e a cabeça da estaca é concretizada
através de um capacete de cravação, no qual o martelo irá bater, que deverá ser o mais justo
possível ao perfil para não provocar movimentos laterais.

4.2. VIGAS-GUIA (GUIA INFERIOR)

Qualquer que seja o método de cravação, é indispensável a colocação de um sistema de


guiamento a um nível inferior (junto ao solo) para garantir um correcto alinhamento da
cortina de estacas a cravar. Geralmente, este sistema é constituído por duas vigas (Fig. 17)
colocadas o mais junto ao solo possível. Deve-se evitar que este conjunto possa ter
movimentos laterais, por exemplo através da cravação de estacas ao lado dos perfis (Fig. 16, à
direita).

Fig. 16 - À esquerda, mastro fixo e, à direita, solidarização das vigas-guia [3]

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Fig. 17 - Pormenores das vigas-guia [3]

O comprimento das vigas deve ser tal que permita a colocação de 6 pares de estacas e que
envolva pelo menos 1.5 m de estacas já cravadas. O espaçamento entre as estacas e a viga é
mantida à custa de espaçadores. Quando se cravam estacas com secção em U ou em Z, deve-
se colocar uma cunha de madeira ou metálica entre a extremidade da estaca e a viga-guia
(Fig. 18), para evitar a sua torção. Na situação em que se colocam estacas em zonas cobertas
com água, as vigas-guia ficam solidárias a perfis cravados temporariamente.

Fig. 18 - Pormenor da cunha de madeira colocada entre o perfil e a viga-guia [3]

O guiamento pode ser feito a um (Fig. 19, à esquerda) ou a dois níveis (Fig. 19, à direita).
Neste último caso, as estacas devem ser cravadas até ao primeiro nível, sendo este
posteriormente desactivado, completando-se depois a cravação até ao nível desejado.

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Fig. 19 - Guiamento das estacas-prancha a um (à esquerda) ou a dois níveis (à direita)

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5. EQUIPAMENTO AUXILIAR

5.1. PASSADIÇOS DE APOIO

Estes passadiços são elementos metálicos pré-fabricados (Fig. 20, à esquerda), rapidamente
montados e desmontados e fáceis de transportar. São utilizados como guias para alinhar as
estacas e permitem também a circulação de operários para acompanhar o processo de
cravação. Nas plataformas são colocados guarda-corpos para prevenir eventuais quedas em
altura.

Fig. 20 - À esquerda, passadiço de apoio e, à direita, “mãos” com conector [3]

5.2. MÃOS

As mãos com conector (Fig. 20, à direita) permitem o transporte na vertical da estaca (com o
auxílio de uma grua) evitando a sua queda, por meio de um conector que passa por um furo
que é feito na extremidade da estaca. Para desconectar a “mão” da estaca, basta puxar o
conector desde que, não haja nenhuma força aplicada ao acessório. As mãos sem conector
apenas devem ser utilizadas para transportar as estacas na horizontal, visto não terem nenhum
componente que as permita agarrar quando estas passam da posição horizontal para a vertical
(Fig. 21, à esquerda).

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Fig. 21 - À esquerda, “mãos” sem conector e, ao centro e à direita, união entre estacas [3]

5.3. PEÇAS DE UNIÃO

Como consequência do processo de colocação da cortina de estacas-prancha, torna-se


necessário ligar as diferentes estacas com um nível de alta produtividade e de segurança para
quem executa. A peça de união (Fig. 21, ao centro e à direita) permite colmatar esta
necessidade, ao estabelecer a ligação entre perfis, sem que seja necessário colocação de um
operário no topo da estaca para desenvolver esta actividade (situação que se pode agravar em
situações de grande altura e com ventos fortes).

A utilização das peças de união está descrita na Fig. 22, à esquerda:

 Passo 1: colocação da “mão” com conector na extremidade da estaca; garantir que o


conector passa pelo furo da estaca; atar um cabo à “mão” com conector para depois poder
desconectar o acessório da estaca;
 Passo 2: elevação da estaca junto à zona de ligação; colocação da peça de união na
extremidade inferior da estaca;
 Passo 3: colocar o cabo a passar pela peça de união de modo a evitar que o mesmo se
rompa; a estaca é elevada até à posição de engate na outra estaca anteriormente cravada;
 Passo 4: após as duas estacas estarem ligadas, deve-se puxar o cabo que faz desprender a
“mão” com conector.

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Figura 22 - À esquerda, passos da união entre estacas e, à direita, capacete de cravação [3]

5.4. CAPACETES DE CRAVAÇÃO

Os capacetes de cravação são utilizados para transferir a carga, imposta pelo martelo de
impacto, para a estaca. Este elemento é colocado na extremidade superior da estaca-prancha,
apresentando inferiormente determinados volumes, por forma a se ajustar ao perfil da estaca a
cravar, e superiormente uma superfície lisa, de modo a receber o impacto proporcionado pelo
martelo de impacto (Fig. 22, à direita). O capacete de cravação evita, desta forma, a
deterioração local da estaca e do próprio martelo. Os capacetes têm normalmente
componentes de plástico ou de madeira combinados em moldes metálicos, proporcionando
uma rápida dissipação de energia e uma vida útil razoável.

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6. MÉTODOS AUXILIARES DE CRAVAÇÃO

Para determinados tipos de solo, a cravação das estacas-prancha metálica apenas com os
martelos referido no capítulo 2 pode não se revelar suficiente, sendo necessário acrescentar
outros métodos, que em seguida se descrevem.

6.1. “JETTING” OU INJECÇÃO “LANÇAGE”

Este método consiste na utilização de água sob pressão que sai sob a forma de jactos na
extremidade inferior da estaca, através de tubos que são acoplados ao perfil (Fig. 23). A água
que sai sob pressão permite facilitar a cravação, diminuindo o atrito solo / estaca e
provocando um maior desgaste no solo. A pressão a utilizar e o número de tubos a colocar são
função do tipo de solo. A técnica de “jetting” facilita a colocação de estacas-prancha
metálicas em solos muito densos.

Fig. 23 - “Jetting” [3]

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6.2. FURAÇÃO E EXPLOSÃO

Em situações em que existam estratos mais rígidos, pode recorrer-se a explosivos por forma a
desagregá-los, facilitando desta forma a cravação das estacas. No entanto, se este estrato
estiver alguns metros abaixo do nível do solo, é necessário retirar o terreno com a ajuda de
um trado (situação sem água e solo consistente) e, então, colocar os explosivos e tapar
novamente o furo (Fig. 24).

Fig. 24 - Realização do furo para colocação de explosivos [3]

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7. SISTEMAS AUXILIARES DE SUSTENTAÇÃO

O projecto de contenção define a que altura, o número e as características das ancoragens que
devem ser colocadas, face às acções em causa. Mediante esses valores, e após a cravação das
cortinas estaca-prancha metálicas, procede-se à escavação do terreno, que deve ser feita com
os cuidados habituais neste tipo de intervenção, até ao nível adequado para realizar o primeiro
nível de ancoragens. Em seguida, com a ajuda de um maçarico, realizam-se os cortes nas
estacas para posterior colocação dos cabos de ancoragem. O furo de ancoragem é feito com
uma máquina de trado contínuo ou de varas e bit. Soldam-se perfis tipo UNP a unir toda a
cortina, do modo a se criar uma viga de distribuição.

Colocam-se inicialmente os cabos de ancoragem e o tubo manchete dentro do furo e injecta-se


depois calda de cimento, de modo contínuo e sem interrupções. Como se trata de ancoragens
provisórias, a selagem efectuada apenas abrange a extremidade dos cabos (bolbo de selagem).
Como última operação, aplica-se o pré-esforço através de um macaco hidráulico entre 3 a 7
dias após a injecção da calda. Depois da activação das ancoragens, procede-se à escavação até
se atingir a cota pretendida (Fig. 25 à esquerda).

Fig. 25 - À esquerda, níveis de ancoragem nas cortinas estaca-prancha [3] e, à direita, sistema
de escoramento duma cortina contra outra paralela

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À semelhança do que se passa com as paredes tipo Berlim [2], também nas cortinas de
estacas-prancha não é obrigatório o recurso a ancoragens (estas contribuem
significativamente para encarecer qualquer solução de contenção). À partida, se o desnível de
terras (ou água) for relativamente pequeno, pode-se prescindir de qualquer sustentação para
além da que é devida à própria rigidez do sistema no seu próprio plano (para tal, poderá ter de
se proceder à remoção de parte do solo no tardoz da cortina durante a fase provisória). Em
alternativa, poder-se-á recorrer a escoramento (perfis metálicos I, H ou tubulares), cuja
reacção poderá ser conferida por uma cortina paralela a uma distância não muito grande (Fig.
25 à direita) ou pelo próprio solo (Fig. 26 à esquerda). No caso das obras marítimas ou
fluviais, esta sustentação poderá mesmo ser conseguido por um sistema de tirantes (que, ao
contrário das escoras, funciona em tracção - Fig. 26 à direita).

Fig. 26 - À esquerda, escoramento de cortina de estacas-prancha contra o terreno e, à direita,


sistema de tirantes em obra marítima

Na fase de escavação, é preciso ter em conta que as cortinas de estacas-prancha não são
completamente estanques, podendo haver a necessidade de remoção da água do interior da
escavação. Nos casos em que esta seja em grande abundância, recorre-se a técnicas de
rebaixamento do nível freático na periferia da escavação.

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8. EXTRACÇÃO DAS ESTACAS-PRANCHA

Nas situações em que a cortina de estacas-prancha é apenas provisória, elas podem ser (caso
se consiga) extraídas através de extractores por impacto (montando o martelo pilão ao
contrário, ou seja, entre a grua e a estaca, deixando de percutir esta última e passando a dar-
lhe sacões para cima), vibração ou com o auxílio de macacos hidráulicos (ou por um dos
métodos auxiliares referidos no capítulo 6). À medida que se vai executando a superestrutura,
vai-se desactivando os níveis de ancoragem e só no final é que se retira as estacas-prancha.
Quando se pretende recuperar as estacas, é necessário ter em conta os seguintes aspectos:

 secção da estaca-prancha metálica;


 comprimento da estaca;
 comprimento de cravação;
 características do solo;
 tempo que as estacas-prancha ficam cravadas;
 método de cravação.

Estes factores, quando mal seleccionados, podem aumentar a dificuldade de recuperação das
estacas, através da necessidade de se utilizar equipamentos de extracção de grande porte ou
mesmo na situação limite de impossibilidade de recuperação das estacas.

Entre as medidas a ter antes e durante a extracção, citam-se [3]:

 a colocação de uma membrana entre o engate das estacas reduz a força de atrito;
 para a avaliação da força de puxe necessária, é bastante importante conhecer os valores de
cravação de cada estaca, o que permite identificar quais são as que apresentam menor
resistência, permitindo assim definir um ponto de começo na extracção das estacas;
 caso não se tenha registos das forças de cravação das estacas-prancha, a primeira estaca a
ser extraída deve ser seleccionada com cuidado;
 pode ser necessário reforçar a extremidade superior da primeira estaca para a extrair com
sucesso;
 uma extracção detalhada e executada correctamente será muito mais fácil;

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 por vezes, pode-se recorrer à técnica de “jetting” para facilitar a extracção da estaca-
prancha.

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9. CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA DE VINIL

Mais recentemente, passaram a existir também estacas prancha de vinil, com maior
durabilidade do que as metálicas em ambientes marítimos severos (Fig. 28) mas com um
comportamento ainda não totalmente clarificado face aos raios ultravioletas. Os aspectos a ter
em conta na sua aplicação são em tudo semelhantes aos apresentados no capítulos anteriores.
Ilustra-se de seguida a colocação de estacas-prancha de vinil num ajuste da margem de um rio
(Fig. 27).

Fig. 27 - Faseamento construtivo de uma cortina de estacas-prancha de vinil; da esquerda para


a direita e de cima para baixo: montagem das vigas-guia (poderá ser só uma em vez de duas,
mas o alinhamento poderá apresentar alguns desvios); cravação das estacas-prancha de vinil;

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ligação estabelecida entre estacas e entre estacas e viga; cravação das estacas seguintes;
colocação de uma viga de reforço; pormenor da viga de reforço

Fig. 27 (continuação) - Faseamento construtivo de uma cortina de estacas-prancha de vinil; da


esquerda para a direita e de cima para baixo: montagem de tirantes que, servem de ancoragem
ao painel; pormenor dos tirantes; colocação de terreno por camadas; cortina terminada

Fig. 28 - Caso prático de aplicação das estacas de vinil

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10. INCIDENTES NA EXECUÇÃO

Para além dos erros de execução normalmente associados à cravação (em termos do operador
ou do equipamento utilizado), podem ocorrer na execução de cortinas de estacas-prancha
situações que exigem uma correcção imediata, para evitar anomalias permanentes nas
mesmas.

10.1. DESVIOS DA VERTICALIDADE

Se se detectar um desvio em relação à verticalidade da primeira estaca (valores até cerca de


1% são aceitáveis), este deve ser extraída e cravada novamente, tirando melhor partido dos
dispositivos de guiamento. Se um desvio desse tipo for detectado após a cravação de diversas
estacas, pode-se recorrer a diversas técnicas [3]:

 através da tracção por um cabo (Fig. 29, à esquerda);


 através da aplicação de uma carga oblíqua na cabeça da estaca (Fig. 29, ao centro);
 através da colocação de uma estaca-prancha trapezoidal (Fig. 29, à direita).

Fig. 29 - Formas de corrigir desvios da verticalidade [1]

10.2. OBSTÁCULOS NA CRAVAÇÃO

Quando a velocidade e/ou o som produzido na cravação variam, pode-se estar na presença de

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um obstáculo (bloco - Fig. 3, à direita - ou camada de rocha, fundações de edifícios antigos,


ou outros). Forçar a cravação pode danificar permanentemente a estaca. É preferível limitar a
penetração da estaca (se se tratar de uma camada de grandes dimensões em planta) ou tentar
destruir ou deslocar o obstáculo (por exemplo, com cargas explosivas). De preferência, deve-
se executar uma pré-escavação nos primeiros metros sempre que houver suspeitas da
existência de obstáculos.

10.3. NEGA PREMATURA

Pode não ser possível cravar todas as estacas-prancha até à mesma profundidade, o que
implica uma revisão do programa e o redimensionamento da obra [1].

10.4. ARRASTE DE ESTACAS JÁ CRAVADAS

A cravação de uma estaca pode arrastar as adjacentes, o que pode só poder ser resolvido por
soldadura de troços adicionais destas últimas. Para evitar tal situação, pode-se:

 ligar várias estacas por soldadura de pontos;


 inserindo um varão ao longo da junta da estaca já posicionada para remover a terra;
 recorrendo a dispositivos de aperto da(s) estaca(s) cravada(s) mais próxima(s) (Fig. 30).

Fig. 30 - Dispositivos de solidarização por aperto das estacas-prancha [3]

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10.5. DEFORMAÇÃO DAS ESTACAS-PRANCHA

Podem ocorrer três tipos principais de deformação das estacas-prancha [1]: torções helicoidais
(por compressão do terreno na concavidade das estacas, por potência excessiva do martelo,
por excesso de comprimento da estaca para a sua espessura, por má centragem ou guiamento
do equipamento de cravação, por guiamento insuficiente das estacas ou pela existência de
blocos ou camadas de pequena espessura mas duras); deformações na cabeça (por potência
excessiva do martelo, por qualidade insuficiente do aço, por espessura insuficiente das
estacas, por terreno dificilmente penetrável ou por cravação mal centrada); deformações nas
ponteiras (pelas mesmas razões). Estas deformações poderão aparecer associadas ao
rasgamento das estacas ou ao seu enrolamento junto às ponteiras.

A ocorrência destas situações pode ser minimizada / prevenida através de: melhor centragem
e guiamento da cravação, reforço das estacas na ponteira e/ou na cabeça, redução da altura de
queda ou do peso do pilão do martelo ou aumento da espessura das estacas e/ou da qualidade
do aço das mesmas.

10.6. DESLIGAMENTO DAS ESTACAS-PRANCHA

Se as estacas, ao serem cravadas, se desligam entre si ou das já cravadas, tal pode dever-se a
[1]: guiamento insuficiente, encontro de obstáculo ou terreno duro, aperto excessivo do
terreno, má centragem do martelo ou comprimento excessivo das estacas.

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11 BIBLIOGRAFIA

Nota: as referências bibliográficas indicadas de seguida não incluem as referidas no capítulo


de introdução a este documento, assim como um número não especificado mas bastante
alargado de sites da Internet e catálogos comerciais.

[1] Coelho, Silvério, “Tecnologia de Fundações”, Edições E.P.G.E., Lisboa, 1986.


[2] Brito, Jorge de; França, Paulo, “Paredes Tipo Munique e Berlim”, IST, Lisboa, 1999.
[3] “Installation of Steel Sheet Piles”, Technical European Sheet Piling Association,
Luxemburgo, 1998.
[4] Costa, Fernando, “Estacas para Fundações”, Instituto para a Alta Cultura, Centro de
Estudos de Engenharia Civil, IST, Lisboa, 1946.

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