Vous êtes sur la page 1sur 2

A casa em que nasci, Marianinha,

está voltada a Su-sueste

e tem à frente um cipreste

de atalaia à seara e vinha.

Casa já antiga, descaiada,

se o Sol lhe bate na fachada,

inunda-se a varanda de alegria;

tia Rita fia na roca

e dos buraquinhos da alvenaria

salta pardal com pardaloca.

À velha chaminé é um regalo

ver o fumo subir, fazer halo.

No montado, ouvem-se anhos balir

e derretem-se lantejoulas a luzir,

trouxe-as a Primavera no regaço

e espalhou-as pelo tojo, urze, sargaço,

sem desprezar trigal, jardim,

rampas, refúgio de erva ruim.

Manhã cedo, rompe a cantata,

nas árvores de fruto e pela mata.

─ Sol, Sol! ─ trauteiam os pardais,

tordos, melros e verdiais.


─ Sol, Sol! ─ pede o tuinho na balsa

e o auricu que apagou o candil na salsa.

E o Sol ergue-se por detrás dos montes,

e lá vem, sem olhar a vias nem pontes,

triunfal, contente como um ás,

com sua capa de arcebispo primaz.

Quem não ouve decerto sente

que vem salvando: ─ Olá, boa gente,

pássaros a voar e no ninho,

fonte, e tu a ladrar, cãozinho,

para que abram e nos deixem entrar.

Olá, meu amigo carvalho,

à minha espera no festo da colina,

e, no almarge, o carneiro do chocalho,

o cabrito, a cabrinha e até o chibo,

ronda-vos o lobo, mas sopro a neblina,

e vai mais longe buscar o cibo.

Salve, amigos, haja fartura e alegria! (…)

Aquilino Ribeiro

in O livro de Marianinha (1967)

Vous aimerez peut-être aussi