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1 . Considerações Introdutórias
1 Há uma clara indefinição terminológica em Bakhtin, no que diz respeito aos termos enunciado,
enunciação e texto. Os gêneros são mais frequentemente tratados como gêneros do discurso, mas
às vezes também como gêneros do texto e a terminologia usada para seus constituintes internos é
muito hesitante. (Linguagem, língua, estilo, discurso). Bronckat (1999, p. 143)
“essas formações elaboram diferentes espécies de textos, que apresentam características
relativamente estáveis (justificando-se que sejam chamados de gêneros de textos).”
As marcas que emergem em cada expressão particular podem apresentar confluências
e convergências de estilo na interseção com parceiros de uma mesma esfera comunicativa,
assumindo a liberdade de carimbarem, de múltiplas formas, a cultura de seus usuários.
Não se pode deixar de considerar que são os enunciados, nas especificidades de suas
condições de produção, que se impõem como escrivães da história humana.
Bakhtin ressalta o caráter dinâmico do gênero e sua contínua transmutação. A partir
de obras individuais, os gêneros renascem e se renovam incessantemente, estabelecendo
uma inconteste relação entre o passado e o presente.
É claramente perceptível, na proposta bakhtiniana, uma afirmação do dialogismo
como condição sine qua non à articulação da linguagem simbólica. Assim, a textualidade
se define a partir dos gêneros, que ratificam sua condição de agenciadores de visões de
mundo, as quais se materializam através de pontos de vista de atores imersos num dado
contexto comunicacional.
A importância da existência do gênero, enquanto fator de economia linguística que
vai agilizar os processos comunicativos, é enfatizada por Bakhtin: Se os gêneros de discurso
não existissem e se não tivéssemos o domínio deles e fôssemos obrigados a inventá-los a
cada vez no processo da fala, se fôssemos obrigados a construir cada um de nossos
enunciados, a troca verbal seria impossível”. (op. cit.:273)
Barros (2002) destaca a compleição do gênero enquanto contrato cooperativo e regido
por normas. No entanto, para essa autora, apesar de o discurso pressupor regras, estas
podem ser transgredidas, posto que são flexíveis.
Todorov, que tão bem leu Bakhtin, indaga-se sobre a gênese dos gêneros. Para
responder tal questionamento, o autor assegura que os gêneros são mutações de outros
gêneros pré-existentes, marcadas por inversões, deslocamentos ou combinações: ‘Nunca
houve literatura sem gêneros; é um sistema em contínua transformação e a questão das
origens não pode abandonar, historicamente, o terreno dos próprios gêneros: no tempo,
nada há de ‘anterior’ aos gêneros’”. (1980:49)
Todorov enfatiza, ainda, a concomitância entre a existência do gênero e a atividade
descritiva e analítica que elabora a metalinguagem a ele pertinente. Há um volumoso
discurso sobre os gêneros que parece se confundir com sua própria existência. Entretanto,
é relevante não descuidar do fato de que o gênero é, em si mesmo, uma atividade discursiva
independente da metadiscursividade que se lhe perscruta paralelamente.
“. as tipologias funcionais fundadas sobre o estudo das funções dos discursos (na
perspectiva de Bühler e Jakobson, 1963);
. as tipologias enunciativas que tratam principalmente da influência das condições de
enunciação (interlocutores, lugar e tempo) sobre a organização discursiva (aqui se incluem
os modelos inspirados por Benveniste, de 1966 e o trabalho de Bronckart et alli., 1985);
. as tipologias cognitivas, que tratam principalmente da organização cognitiva, pré-
linguística, subjacente à organização de certas seqüências – narrativa, descritiva etc. (neste
grupo estaria o modelo de Adam, 1987);
. a tipologia sócio-interacionista de Bakhtin (1992).”
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