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0007
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Fiocruz, 2011.
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encarnar um ideal utópico positivista de estado ou negatividade ou pela positividade, aplicadas ao
situação ótima do ser humano, já foi ampla e indivíduo ou ao coletivo, de base biológica ou
criticamente discutido ao longo de décadas, sociocultural [...]” (p.125) ainda são insuficientes
sobretudo a partir das denúncias concernentes às para contemplar uma noção ampliada do conceito
desigualdades e iniquidades em saúde. de saúde, haja vista seus aspectos
Mediante distintas contribuições de matrizes multidimensionais, complexos, articulados e
conceituais e teórico-metodológicas relativas às dinâmicos. O autor considera a possibilidade de
teorias da justiça, por meio de uma abordagem construir uma concepção holística da saúde.
ampla, o autor confronta diferentes propostas de Baseando-se nas premissas teóricas relativas à
minimizar as desigualdades e iniquidades sociais noção filosófica e científica elaboradas por
que interferem (in)diretamente no “valor” saúde Georges Canguilhem, e nos pensamentos
dos indivíduos. Na direção do trabalho de Vieira epistemológicos vinculados às abordagens acerca
da Silva e Almeida Filho (2009), os autores da complexidade das questões constitutivas da
elucidam, brevemente, os pressupostos saúde, desenvolvidos por Juan Samaja, o capítulo
epistemológicos e as teorias sociais relativas aos indica alguns modos de entender tal constructo.
conceitos de desigualdade e diferença que, Almeida Filho faz um balanço crítico acerca de
constantemente, obscurecem o de igualdade e diferentes discursos contemporâneos responsáveis
equidade, que, por consequência, conectam-se à por determinados problemas teóricos que
dimensão da atenção-cuidado. obstaculizam conceber a saúde (ou, na
Em seguida, no sexto capítulo, intitulado perspectiva do autor, as várias “saúdes”) como um
Saúde como Campo de Práticas, tendo como “[...] objeto plural, mutante, relativo e não
ponto de análise o viés histórico-epistemológico, ontológico [...]” (p.138).
de modo objetivo, argumenta-se que os campos Portanto, mais do que uma pergunta a ser
de saberes são atravessados por certos paradigmas respondida, sobretudo de forma unívoca, o título
coexistentes em constante tensão, atingindo, do livro lança diversas questões ainda a serem
inevitavelmente, os setores das práticas. De modo debatidas no campo da Saúde Coletiva brasileira.
preliminar e genérico, o autor apresenta o que se Há uma significativa inconsistência epistemológica
entende por “paradigma” e por “campo social”, a e conceitual que abrange os referenciais teórico-
fim de, no segundo momento, relacionar tais metodológicos relacionados à saúde, sobretudo
conceitos aos saberes e práticas em saúde. pelo fato de o diálogo entre os saberes
Almeida Filho problematiza as diferentes disciplinares ainda ser desarticulado, como
acepções do termo “paradigma” e seus usos exposto em Almeida Filho (2005). A produção
ideológicos no “campo” da Saúde Coletiva. acadêmica parece se prender a modelos que
No Brasil, tal campo vem se consolidando em ainda enfatizam as análises biomédicas da saúde-
diferentes espaços acadêmico-profissionais e se doença no nível individual em detrimento do
fundamentando por meio de diferentes áreas do coletivo – denúncia esta constantemente realizada
conhecimento, o que exige, de acordo com o por filósofos e cientistas sociais.
autor, práticas transdisciplinares, multiprofissionais, Por fim, vale frisar que, embora este livro seja
interinstitucionais e transetoriais. Mais que considerado sintético em seu conteúdo, tal obra
fundamentar as estratégias de prevenção, pode ser entendida como um grande vulto no
proteção, promoção (sentido restrito) e campo da Saúde Coletiva. Torna-se indispensável
precaução, para se propor um quadro a leitura deste excitante texto, para se pensar o
paradigmático de síntese acerca do complexo processo saúde-doença de modo amplo na
promoção-saúde-doença-cuidado, é mister produção acadêmica e na intervenção profissional,
minimizar a práxis hegemônica da Saúde Coletiva seja na interface com a subárea das Ciências
voltada ao plano individual e mecanicista. Humanas e Sociais, na Epidemiologia e na Política,
No último capítulo, Saúde como Síntese, Planejamento e Administração.
emerge a ideia de que “[...] teorias restritas de
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