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Juliana Xavier Pinheiro da Cunha1, Jussiara Barros Oliveira2, Valéria Alves da Silva Nery3, Edite Lago da
Silva Sena4, Rita Narriman Silva de Oliveira Boery5, Sergio Donha Yarid6
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Mestranda do Programa de Pós-Graduação
Enfermagem e Saúde da Universidade
RESUMO Objetiva-se analisar a literatura existente sobre a preservação dos aspectos éti-
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) –
Itapetinga (BA), Brasil.
cos da autonomia da pessoa idosa e as implicações na assistência de enfermagem. A busca
julianaxcunha@gmail.com
foi realizada através da Biblioteca Virtual em Saúde, no período de 2003 a 2011. Da análise
Mestranda do Programa de Pós-Graduação
emergiram três eixos temáticos: Visão social sobre o idoso; O princípio ético da autonomia
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CUNHA, J.X.P.; OLIVEIRA, J.B.; NERY, V.A.S.; SENAE.L.S.; BOERY, R.N.S.O.; YARID, S.D. • Autonomia do idoso e suas implicações éticas na assistência de enfermagem
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CUNHA, J.X.P.; OLIVEIRA, J.B.; NERY, V.A.S.; SENAE.L.S.; BOERY, R.N.S.O.; YARID, S.D. • Autonomia do idoso e suas implicações éticas na assistência de enfermagem
profissional de saúde decide a respeito do que é melhor Para isso, foram realizadas buscas na Biblioteca
para o paciente. Essas atitudes predominam de forma Virtual em Saúde – BVS, em publicações compreen-
acentuada nas práticas dos profissionais no cuidado aos didas entre os anos de 2003 e 2011. A delimitação do
idosos, por julgarem serem estes incapazes de decidir de recorte temporal da pesquisa teve por início o ano de
forma sensata a respeito de sua saúde. Nesse sentido, 2003, por ter sido o ano em que foi decretado e san-
pode ser afetado um dos princípios básicos da bioética, cionado o dispositivo legal de incentivo à preservação
que é o respeito à autonomia. da autonomia dos idosos brasileiros, a Lei Nº 10.741/
O respeito ao princípio da autonomia na assis- 2003, que aprovou o Estatuto do Idoso (BRASIL,
tência ao idoso deve levar o profissional de saúde, em 2003).
particular o da enfermagem, a considerar a capacidade Para seleção dos estudos, realizou-se uma análise
de escolha, crenças e valores morais do paciente. Isso prévia a partir da leitura dos títulos e resumos, a fim de
possibilita que o idoso exerça a sua autonomia e decida verificar se preenchiam os critérios de inclusão estabe-
entre as alternativas de cuidado que lhe são apresenta- lecidos: estudos completos em português, publicados a
das, a partir da compreensão clara das consequências de partir de 2003, que se adequassem a uma das questões
cada uma delas. norteadoras. Foram excluídos: conferências, capítulos
Dessa forma, busca-se, com este artigo, analisar de livros, assim como pesquisas que não tivessem rela-
a literatura existente sobre a preservação dos aspectos ção com a temática proposta.
éticos da autonomia da pessoa idosa e as implicações na Surgiram 85 estudos distintos a partir da união
assistência de enfermagem. entre descritores: “idoso”; “autonomia pessoal”; “cuida-
do de Enfermagem”; “ética” e “Enfermagem”. Porém,
ao se aplicarem os critérios de inclusão e exclusão, fo-
Método ram selecionadas 12 pesquisas que se aproximaram do
objetivo proposto. Essas foram salvas em arquivos doc e
Trata-se de uma revisão de literatura, realizada no pri- pdf, e armazenadas em pasta própria, analisadas crite-
meiro semestre de 2011, buscando-se responder as se- riosamente, identificadas conforme foco de investiga-
guintes questões norteadoras: o que a literatura eletrô- ção e objetivo do estudo.
nica apresenta acerca da preservação dos aspectos éticos Para nortear a discussão, foram identificados três
da autonomia da pessoa idosa? Quais as implicações eixos temáticos: visão social sobre o idoso; o princípio
da preservação dessa autonomia para a assistência de ético da autonomia para o idoso; e o respeito à autono-
enfermagem? mia na assistência de Enfermagem ao idoso.
Tabela 1. Estudos que contemplam a autonomia da pessoa idosa, publicados no período de janeiro de 2000 a junho de 2011
(N=12)
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VISENTIN; LABRONICI;
--------------------- --------------------- Revisão bibliográfica
LENARDT/ 2007
Trabalhadores que prestam
cuidados de enfermagem
REIS; CEOLIM/ 2007 Questionário Quantitativa
a idosos institucionalizados
GANDOLPHO; FERRARI/
--------------- --------------- Revisão bibliográfica
2006
MARTINS; RODRIGUES/
--------------- --------------- Revisão bibliográfica
2004
SANTOS; MASSAROLLO/
Enfermeiros Entrevista Quanti-qualitativa
2004
Idosos coordenadores e
responsáveis por duas
ALVES JÚNIOR/ 2004 Observação e entrevista Qualitativa
associações brasileiras e
duas francesas
Fonte: ALMEIDA; AGUIAR, 2011; TAMAI , 2011; FERNANDES; GARCIA, 2010; FLORES et al, 2010; OLIVEIRA; ALVES, 2012; VISENTIN; LABRONICI; LENARDT,
2007; REIS; CEOLIM, 2007; GANDOLPHO; FERRARI, 2006; MARTINS; RODRIGUES, 2004; SANTOS; EIDT, 2004; SANTOS; MASSAROLLO, 2004; ALVES JÚNIOR,
2004.
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CUNHA, J.X.P.; OLIVEIRA, J.B.; NERY, V.A.S.; SENAE.L.S.; BOERY, R.N.S.O.; YARID, S.D. • Autonomia do idoso e suas implicações éticas na assistência de enfermagem
buscou-se nesses estudos a compreensão dos estereó- aspectos fisiológicos, psicológicos, emocionais e sociais,
tipos que cercam a pessoa idosa e as implicações para o que gera, muitas vezes, um atendimento inadequado
a sua autonomia, a fim de contribuir para a discussão (REIS; CEOLIM, 2007).
frente à assistência de Enfermagem ao idoso. Desta maneira, o cuidado ao idoso fica compro-
A partir da análise, emergiram três categorias so- metido quando é fundamentado em uma visão social
bre a autonomia do idoso e as suas implicações éticas generalista e preconceituosa, que desconsidera as carac-
na assistência de enfermagem, que serão discutidas a terísticas individuais da pessoa idosa. Frente a isso, é
seguir. necessário que o tratamento destinado a essa população
seja especializado e livre de associações estigmatizantes,
o que possibilita ao idoso o exercício de sua autonomia
Visão social sobre o idoso (TAMAI , 2011).
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CUNHA, J.X.P.; OLIVEIRA, J.B.; NERY, V.A.S.; SENAE.L.S.; BOERY, R.N.S.O.; YARID, S.D. • Autonomia do idoso e suas implicações éticas na assistência de enfermagem
Muitas vezes, os profissionais de saúde não valorizam e configuram-se elementos impeditivos para que es-
o direito que o paciente tem de ser informado, pois, es- ses pacientes possam gerenciar o seu cuidado. Isso faz
tando mais esclarecido, fará reivindicações e não aceitará com que as pessoas idosas tornem-se dependentes dos
atitudes paternalistas. Com relação aos idosos, outro fator profissionais que cuidam de sua saúde e que decidem a
que dificulta o acesso às informações está relacionado aos respeito dela, e, por falta de preparo, muitas vezes, tais
estereótipos sociais que influenciam a prática do profissio- profissionais tendem a infantilizar o cuidado.
nal no cuidado à pessoa idosa; essa, por sua vez, não pode O tratamento infantilizado do idoso resulta de
ser anulada e tampouco ter o seu direito à informação uma comparação equivocada do tratamento afetivo e
desrespeitado, em função de estereótipos sociais que ge- respeitoso que é dado às crianças, concepção que apro-
neralizam os idosos como incapazes e dependentes; o fato xima velhos e crianças e que, por vezes, é inculcado no
de tratá-lo como uma pessoa que tem o direito de exercer imaginário social. Isso pode ser resultado, em parte, da
a sua autonomia possibilita uma relação respeitosa entre aparente fragilização e dependência dessa população, o
o idoso e o profissional (VISENTIN; LABRONICI; LE- que acaba por se manifestar na prática dos profissio-
NARDT, 2007). nais de enfermagem, no sentido de atuar de forma im-
Existe, enraizada na prática de muitos profissionais, perativa, não respeitando as decisões do idoso e nem
a visão de que a autonomia do idoso está diretamente as- lhe fornecendo informações suficientes sobre sua saúde
sociada à noção de dependência social e física. Eles des- (ALVES JUNIOR, 2004).
consideram o idoso como participante de seu processo de Ao agir dessa forma, o profissional acaba por vi-
vida e adoecer e o direito de ter conhecimento sobre sua timizar os idosos, ao utilizar expressões diminutivas e
condição de saúde, aspectos que interferem na tomada de infantilizadoras, acreditando que assim estará demons-
decisões pautadas na autonomia; enfim, adotam uma ati- trando afeto e compaixão. Muitas vezes, esses aspectos
tude paternalista (VISENTIN; LABRONICI; LENAR- se apresentam de forma velada na prática cotidiana
DT, 2007). do profissional de enfermagem, no momento em que
O paternalismo é definido como condutas realizadas concebe todo idoso como uma pessoa dócil, submissa
pelos profissionais que, julgando beneficiar o paciente, de- e conformada, o que, na verdade, contribui para que se
cidem por ele sem o seu consentimento. Em se tratando de diminua ainda mais a sua autonomia e independência
pessoas idosas, que estejam com suas capacidades cogniti- (REIS; CEOLIM, 2007).
vas preservadas, a atitude paternalista infringe uma regra Quando o profissional desrespeita a autonomia
ética, legal e moral (SANTOS; MASSAROLLO, 2004). do idoso, ele o submete a seus cuidados de forma au-
Vale ressaltar que os idosos que se identificam como toritária, fazendo com que muitos idosos apresentem
autônomos sentem-se mais valorizados e com a dignidade um comportamento passivo e pouco questionador; ao
preservada; e, para eles, a falta de respeito à sua autonomia contrário, é fundamental que a equipe de enfermagem
reflete diretamente na sua qualidade de vida. Mesmo que preserve a capacidade de decisão do idoso, garanta o
haja algum tipo de dependência, a autonomia pode ser vi- cuidado sob a perspectiva da integralidade e estabeleça
venciada no cotidiano do idoso, a partir do momento em um vínculo que resulte em uma assistência respeitosa e
que os profissionais consideram as suas escolhas e lhe dão digna; é imprescindível valorizar suas vivências e contri-
liberdade para agir (FLORES, 2010). buições, tratá-lo com atenção, amabilidade, paciência,
atendendo às suas necessidades biopsicossociais com
competência, estimulando o autocuidado, contribuin-
O respeito à autonomia na assistência de En- do para sua independência e autonomia (GANDOL-
fermagem ao idoso PHO; FERRARI, 2006).
Dessa forma, ao prestar assistência de enfermagem
Os estereótipos com relação aos idosos, construídos so- às pessoas idosas, não se deve rotulá-las como incapazes,
cialmente, por vezes, permeiam as ações de enfermagem pois o envelhecimento apresenta-se a cada ser humano
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CUNHA, J.X.P.; OLIVEIRA, J.B.; NERY, V.A.S.; SENAE.L.S.; BOERY, R.N.S.O.; YARID, S.D. • Autonomia do idoso e suas implicações éticas na assistência de enfermagem
de forma singular, e, para os que necessitam de cuida- Porém, nem sempre é possível que o idoso gra-
dos mais constantes, na medida do possível, deve ser vemente enfermo ou com limitações cognitivas com-
estimulado o autocuidado e considerada a capacidade preenda as informações que lhe são fornecidas sobre o
de decisão. seu estado de saúde. Nesses casos, em que a autono-
É necessário rejeitar concepções negativas sobre o mia encontra-se comprometida, as relações da equipe
envelhecer e, mesmo para aqueles idosos mais fragiliza- de saúde ocorrem com a família. Assim, por exemplo,
dos, é necessário que o cuidado esteja fundamentado na para a decisão da continuidade de um tratamento,
manutenção de sua autonomia e da qualidade de vida a escolha deve considerar a opção demonstrada pela
(SANTOS; EIDT, 2004). Diante disso, os profissionais pessoa idosa antes do comprometimento; dessa for-
de enfermagem precisam rever seus conceitos sobre o ma, tenta-se resguardar a sua autonomia (VISENTIN;
ser idoso, com o intuito de desenvolver suas atividades LABRONICI; LENARDT, 2007).
de forma a promover a independência e garantir a au- Portanto, situações dilemáticas, com as quais o
tonomia, tendo como meta a atenção holística ao ser profissional de enfermagem se depara na assistência
humano que envelhece. ao idoso, devem ser analisadas sob a perspectiva da
O profissional de enfermagem precisa estar cons- bioética, em suas várias vertentes. Caso o respeito à
ciente de que é fundamental uma avaliação constante autonomia do idoso infrinja outros princípios éticos
para motivar a autonomia do idoso, pois os cuidados da beneficência, da justiça e da não-maleficência, o
devem ser reestruturados conforme o estado de saúde profissional deve rever a sua atuação, a fim de prestar
apresentado, para que ele participe do gerenciamento uma assistência de enfermagem qualificada e racional,
de seu cuidado de maneira segura. garantindo a integridade física, espiritual e emocional
Assim, a assistência deve se efetivar através de uma da pessoa idosa.
avaliação multidimensional do idoso por parte do en-
fermeiro e de outros profissionais da equipe de saúde,
visando à participação ativa do idoso no seu cuidado, Considerações Finais
incentivando sua autonomia e corresponsabilidade.
Essa conduta inscreve-se em uma atitude ética, o que se O profissional de enfermagem deve estar a todo o mo-
contrapõe à instituição social de estereótipos e atitudes mento revendo a sua postura ética no cuidado à pes-
paternalistas que interferem no cuidado. soa idosa, pois os estereótipos sociais constantemente
Ao adotar uma postura paternalista, o profissio- interferem nas práticas desses profissionais, fazendo-
nal não valoriza a capacidade de decisão dos idosos de os adotar uma atitude paternalista e, de certa forma,
exercer seu autogoverno. Um exemplo disso é a omis- autoritária. A partir do momento em que o princípio
são total ou parcial para o paciente sobre seu estado de ético da autonomia dessa população for respeitado na
saúde, principalmente quando o prognóstico não lhe é assistência de enfermagem, contribuirá para a partici-
favorável, e a situação se mostra mais frequente quando pação ativa e cidadã no seu processo de cuidado.
se trata de pessoas idosas (SANTOS; MASSAROLLO, Mesmo para as pessoas idosas que se encontram
2004). Geralmente, o profissional, no intuito de prote- em estado de saúde mais fragilizado, na medida do
ger o idoso, no caso da constatação de uma patologia, possível, sua autonomia deve ser estimulada por meio
não lhe informa o diagnóstico, o que fere o princípio de ações simples, como a escuta ativa, considerando a
ético da autonomia. Dessa forma, o profissional fica singularidade do envelhecimento de cada pessoa e a
diante de situações dilemáticas, como, por exemplo, repercussão positiva no cuidado, a partir do momento
comunicar ou não à pessoa idosa uma enfermidade em que lhe é garantido o direito humano básico de
terminal ou que o seu tratamento é apenas paliativo exercer seu autogoverno.
(SANTOS; MASSAROLLO, 2004; VISENTIN; LA- Verificou-se também, através da análise dos es-
BRONICI; LENARDT, 2007). tudos, uma carência voltada para pesquisas originais
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CUNHA, J.X.P.; OLIVEIRA, J.B.; NERY, V.A.S.; SENAE.L.S.; BOERY, R.N.S.O.; YARID, S.D. • Autonomia do idoso e suas implicações éticas na assistência de enfermagem
sobre a autonomia do idoso. Ainda são poucos os es- Nesse sentido, este estudo poderá contribuir
tudos voltados para essa temática, que se mostra de para uma reflexão e mudança de prática dos profis-
grande relevância devido ao atual panorama brasilei- sionais de enfermagem, fomentando discussões que
ro, no qual a expectativa de vida da população idosa abordem os aspectos éticos, frente à necessidade do
tem aumentado e demonstrado a necessidade de ha- respeito e da preservação da autonomia do idoso, bem
ver profissionais habilitados para lidar com esse novo como estudos futuros de avaliação da assistência de
cenário, compreendendo o ser idoso de forma plena enfermagem e da percepção dos idosos, diante dessa
e ética. perspectiva de abordagem.
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664 Saúde em Debate • Rio de Janeiro, v. 36, n. 95, p. 657-664, out./dez. 2012