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Doryol Taborda A dama da túnica escarlate
A dama
da túnica
escarlate
contos policiais
Editora A Noite
Rio de Janeiro
1939
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Doryol Taborda A dama da túnica escarlate
A meus amigos
e
Amy Müller Santos
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Doryol Taborda A dama da túnica escarlate
O aniversário sangrento
ir Malcolm Rost era um dos homens mais proeminentes de
toda Londres. Imensamente rico, com grande fortuna
conseguida no negócio de jóia, vivia quase exclusivamente de
seu rendimento, repartindo entre sua filha e os livros toda
dedicação.
Estava entregue à leitura quando Margarete o veio prevenir de
que os convidados começavam a chegar.
Seu palacete na Parque do Regente era uma das mais lindas
residências de todo o bairro e nesse dia abria, como em todos os
anos, os salões pra festejar mais um aniversário de sua filha.
Margarete completava 22 primaveras e seu aspecto era o duma
avezinha travessa. Muito bela, aliava a esse dom uma primorosa
educação.
Os primeiros acordes da música já se faziam ouvir, quando sir
Malcolm se retirou à biblioteca. Se recostou numa cômoda cadeira
estofada, junto à lareira e, tomando entre as mãos um bilhete que
retirara da escrivaninha, o amassou e atirou ao fogo.
— Não fará isso...
Sir Malcolm possuía na alma uma nódoa que ninguém conhecia
e que nem mesmo o tempo conseguira apagar.
— Margarete! Estás cada vez mais linda.
— Não digas tolice, Cedric. O mais que posso fazer é te
conceder esta dança.
Cedric diversas vezes a pedira em casamento, mas sir Malcolm
se opunha ao enlace. O rapaz não se dava por vencido e naquela
noite tentaria mais uma vez.
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Margarete, a fizeste passar por tua filha. Se isso não é verdade, por
que abandonaste a mulher da qual tinhas um filho? O que seria
dessa pobre infeliz se o destino não lhe tivesse feito encontrar um
homem que a amparou, lhe deu seu nome e a tornou feliz? Sim,
canalha. Estás admirado de que eu saiba tanto! Não é? E sei
também, Malcolm, quem é teu filho. Me dás o dinheiro ou toda
Londres conhecerá o verdadeiro Malcolm Rost e todas as
imundícies de sua alma.
— Marcus, não farás isso e nada te darei.
Malcolm foi à escrivaninha. Quando Marcus se aproximou viu,
apontado a si, um revólver que brilhava nas mãos dele.
— Agora saias por onde entraste e te previno de que se tornares
a me aborrecer te matarei como um cão leproso. Quero que saibas
que todo meu haver pertencerá a Margarete após minha morte.
Um leve rumor como o de folhas pisadas veio da janela.
— Muito bem, Malcolm. Sairei mas me pagarás bem caro. E,
pro caso de mudares de idéia, aqui está meu endereço.
Depois de riscar com um alfinete a escrivaninha, se dirigiu à
janela, a transpondo num salto.
— Rua Shadwell, 3. Docas Índias Ocidentais, hem! Cão
imundo!
Na sala os pares continuavam a dançar.
— Ó! Emil, estive te procurando pra dançarmos uma vez.
— Fui apanhar um pouco de ar, Margarete.
— Viste Cedric?
— Sim. Quando entrei o vi dançando.
Iam em direção à varanda quando o criado veio correndo.
— Senhorita Margarete... Senhorita Margarete... Estou batendo
há dez minutos na porta da biblioteca e sir Malcolm não responde.
Acho que algo aconteceu.
— Venhas, Emil. E tu, Johnson, chames Senhor Cedric.
— Meu pai, meu pai, abras a porta.
— Vamos arrombar, Johnson. — Disse Emil.
Quando a porta foi aberta um quadro horripilante se apresentou.
Sir Malcolm estava debruçado sobre a escrivaninha, tendo um
punhal cravado na nuca.
— Meu pai!...
Sir Emil e Johnson ampararam Margarete, que acabara de
desfalecer.
— A levai enquanto telefonarei à polícia.
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II
— Jaime, Tom, sargento Stanley, vinde comigo.
Em poucos minutos o carro da polícia chegava à Parque do
Regente. A música já cessara quando capitão Edu Brown chegou.
Duas pessoas o esperavam à entrada.
— Sou Cedric Shering, a pessoa que telefonou, e este é meu
amigo Emil Ludwig.
— Queres ter a bondade de nos mostrar o corpo?, senhor Cedric.
— Pois não. Está na biblioteca. Fazei o favor de me seguir.
— Bem apunhalado, hem?, chefe.
— Jaime, providencies a remoção do corpo e, desde já,
encarregues te deste caso. Voltarei à chefatura. — Disse capitão
Edu.
Jaime deu as primeiras providências e o acompanhou até a porta.
— Sargento Stanley, fiques aqui e não deixes alguém se
aproximar do cadáver. Tom, faças com que os convidados se
retirem. Quero somente que fiquem senhor Cedric e senhor Emil.
— Senhor inspetor! Senhorita Margarete está recolhida a seu
aposento e pede que a vás ver logo que possas.
— Antes de mais nada — principiou Jaime — desejo saber
quem descobriu o corpo.
— Eu estava com Margarete no salão, quando Johnson veio
dizer que estava batendo na porta e ninguém respondia. Corremos
até lá e, como não respondessem, ela nos pediu que arrombássemos
a porta. Entramos e deparamos com Sir Malcolm apunha-lado.
— Senhor Cedric poderias me dizer o que fazias quando
Johnson foi te procurar?
— Estava dançando com senhorita Lílian.
Algum dos senhores esteve com sir Malcolm antes de
descoberto o crime?
— Sim. — Disse Cedric. — Fui pedir Margarete em casamento.
Era a quarta vez que o fazia e Malcolm, como das outras vezes, me
respondeu com um não. Quando ia saindo Emil entrava.
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Sobre a origem do termo Scotland Yard (Jardim Escocês), fiz um apêndice no final
do livro. Nota do digitalizador.
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inspetor.
— Nada tens que agradecer, senhorita. Cumpri somente meu
dever. Eu desejava te fazer algumas perguntas mas acho que estás
muito fatigada. Por isso deixarei pra depois.
Enquanto Jaime falava ela o olhava, contemplando. Jaime tinha
cerca de 2,3m de altura e os ombros largos davam um aspeto de
atleta. Era bonito mas Margarete reparou que as linhas de seu rosto
eram duras e a boca parecia nunca se ter aberto num sorriso.
— Sabes dalguém que tivesse motivo pra ass... isto é, tem
suspeitas de alguém?
— Não, inspetor. Meu pai não tinha, que eu saiba, alguém que
tivesse razão pra tal. Creio, mesmo, que não tinha inimigo, pois era
muito generoso e todos o estimavam.
— Suponho que estás noiva de senhor Cedric Shering. Não é?
— Cedric costumava me pedir, a papai, em casamento, mas isso
não quer dizer que eu esteja noiva.
— Sabes dalgum motivo pelo qual teu pai se opunha ao
casamento?
— Não. Cedric sempre gostou muito de jogar e talvez fosse por
isso. Mas não creio, inspetor.
Jaime ia fazer novas perguntas, quando notou que os olhos de
Margarete estavam cheios de lágrima.
Pediu desculpa por a ter incomodado e avisou que se, acaso,
precisasse, estaria na biblioteca. Desceu a escada e, encontrando
Johnson, o mandou levar um calmante à moça.
— Jaime, os peritos já retiraram as marcas. Sobre a faca não
havia impressão. Tinha gravadas no cabo as iniciais M. R. e,
enquanto estavas lá em cima, verifiquei que a mesma pertencia a
Malcolm Rost e foi retirada dessa panóplia, onde há outra igual.
Depois de examinar o lugar donde fora retirada a faca e que
ficava justamente atrás da escrivaninha, Jaime principiou a
examinar as gavetas. Quando já perdia a esperança de achar uma
pista, encontrou na última, uma promissória assinada por Emil
Ludwig e que venceria no dia 12. Viu um pequeno revólver Smith
and Wesson, calibre 32, niquelado, e um rápido exame lhe fez ver
que a arma estava carregada. Quanto à promissória, viu que, de
fato, Emil falara a verdade.
O revólver fez compreender a Jaime que sir Malcolm fora
assassinado por uma pessoa a quem não temia, pois deixou que a
mesma dele se aproximasse sem tentar se defender.
Portanto, Malcolm morreu sem adivinhar o que lhe sucederia.
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IV
O carro da polícia partiu, levando Jaime Patrício e quatro
homens.
O nevoeiro era denso. Com a sirene funcionando o carro corria
na travessia Charing. Jaime ordenou a Morgan que virasse em
Wapping e parasse no cruzamento com Shadwell.
— Vinde comigo, rapazes. Não creio que haja necessidade mas
estejais prontos pra atirar.
Seguindo, silenciosos, nas ruas enlameadas desse bairro
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As mortes em série
m espesso nevoeiro cobria Londres naquele dia triste e frio
de dezembro. Sons estridentes de buzinas rompendo o
caminho através da treva, que dominava a cidade, chegaram
da rua até o gabinete do capitão Edu Brown, que estava encostado
ao peitoril da janela e seus olhos demonstravam agitação e fadiga.
Quatro pessoas estavam ali, reunidas com ele: Os detetives
Jaime Patrício e Tom Malloney e o promotor Owen Proust.
Havia uma semana que todo o departamento de Scotland Yard,
superintendido pelo capitão Edu Brown, estava de prontidão.
Sete dias tem uma semana e sete crimes foram cometidos nela, o
que equivalia, no caso, a um crime por dia.
Em todos o assassino não deixara pista à investigação policial.
Foram todos realizados na mesma hora: 11h da noite. Todos
morreram da mesma maneira: Estrangulados por uma corda. Ao
lado de cada corpo foi encontrado um cartão com o desenho duma
forca e as palavras A Forca cumpriu sua missão.
Os mortos eram todos homens de posição social e ocupantes de
grandes cargos e essa era a razão pela qual os jornais se ocupavam
grandemente dos crimes e criticavam acremente a ação policial.
O Herald fez imprimir na primeira página uma grande forca, a
ladeando pelos retratos do rei e do capitão Edu Brown sobre a
legenda: Se a Scotland Yard continuar dormindo A Forca
matará até nosso soberano!
O promotor Owen Proust viera ao gabinete de Edu Brown, ver
se conseguia saber algo sobre o último assassinado, que era seu
colega Dênis Martin:
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Albião (Albion) é o primeiro nome historicamente conhecido da Inglaterra. Nota
do digitalizador.
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II
Às primeiras horas da manhã o telefone do apartamento de
Jaime tilintou furiosamente.
— Jaime, sou eu, Edu. — Disse a voz do outro lado da linha —
Nos colocaste mal com essa história dos jornais.
— Chefe, não gosto muito de falar ao telefone. Dentro de meia
hora estarei aí.
— Posso garantir — disse Jaime, já instalado numa cadeira do
gabinete de seu chefe — que hoje não teremos crime. Certamente
leu a notícia e deve estar intrigado com a tal pista. Hoje não agirá...
Quero que digas que estou com a prova em minhas mãos.
— Ótimo, Jaime. Mas o que farás?
— Não sei, chefe, mas penso que esperarei o que vier.
Saiu em direção ao bar Florista e sua cabeça trabalhava. Pediu
uma gim tônica e enquanto sorvia, a pequeno gole, perguntou a
Tom se se lembrava de já ter visto aquela datilógrafa nalguma
parte.
— É esquisito, Jaime. Me lembro de jà ter visto mas não consigo
lembrar onde.
— Hoje na noite iremos a uma festa na casa de senhor Carol
Loose — disse Jaime — e espero que te portes bem, Tom.
Jaime, depois de sair do bar, pediu a Tom que lhe arranjasse
uma lista dos capitalistas e homens de posição mas de caráter
duvidoso.
— Irei até nosso apartamento. O'Hara, do I. S., te ajudará a fazer
essa lista. Estejas com ela às 2h, na chefatura.
Quando Jaime abriu a porta de seu apartamento uma surpresa o
esperava. Todas as peças do quarto estavam revoltas. As gavetas
abertas estavam desarrumadas e não havia móvel que não fora
tocado pelo visitante.
Telefonou a seu chefe e o pôs a par de tudo.
— Eu não te disse?, capitão. A Forca está assustada!
Desligou o telefone e correu os olhos no chão. Seu olhar parou
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sobre um objeto, que bem sabia não lhe pertencer, nem a Tom. Se
abaixou e apanhou um lenço branco de cambraia finíssima e um
leve aroma se exalou.
— Gardênia! Hum!...
Guardou no bolso e, depois duma rápida arrumação, saiu,
apressado, em direção à Scotland Yard.
Contou a capitão Edu Brown a visita que tivera e lhe mostrou o
lenço.
— Deve pertencer ao homem que cometera todos esses crimes
ou a um cúmplice. O guardarei como lembrança.
Ia saindo quando Tom entrou.
— Jaime, aqui está o que pediste. E lhe entregou a lista.
Trinta nomes entre banqueiros, capitalistas e homens públicos.
Jaime entregou a lista a capitão Edu pedindo informar a todos os
listados o perigo que os ameaçava.
— Capitão Edu, não posso dizer qual será a próxima vítima mas
posso garantir que será um destes. — E me apontou a lista. Os
faças vir àqui pessoalmente, um a um e arranjes um detetive pra
proteger cada um.
— Mas Jaime, escutes aqui. Só tenho vinte homens sob meu
comando neste departamento e nessa lista estão trinta nomes.
— Chefe, peças mais dez homens, pois quero que todos fiquem
protegidos.
Jaime saiu com Tom e se dirigiu ao escritório da companhia de
seguro, procurar Elynor Allan e foi bem sucedido.
— Senhorita, quando não me lembro duma pessoa que tenho
certeza de já ter visto antes gosto muito de tirar a dúvida e creio
que não haverá empecilho a isso.
Elynor sorriu e disse:
— Não te lembras onde me conheceste?, inspetor. Nunca
estiveste no hospital São Tomás?
Jaime e Tom se entreolharam.
— Ó!, senhorita, é verdade. Agora me lembro. Quando Jaime
fora ferido tivera como enfermeira a atual datilógrafa, Elynor
Allan.
Ela se preparava pra sair e, abrindo a bolsa, tirou um pequenino
lenço, que passou de leve sobre o rosto, e Jaime sentiu um forte
cheiro. Se despediu da moça e, na rua, murmurou apenas:
— Heliotrópio!
Tirou o lenço que trazia consigo e aspirou:
— Hum!... Gardênia. Bem diferentes.
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Na manhã seguinte Jaime saiu bem cedo e capitão Edu já o
esperava. Jaime nada contou do que lhe sucedera na véspera.
— Todos estão sendo vigiados — falou Edu. Dei ordens severas
aos agentes e os fiz compreender que nunca deveriam se afastar
mais de dez metros dos homens que devem proteger. Escute Jaime,
você tem idéia de quem seja?
— Não, capitão. Tanto pode ser um homem como uma mulher.
A única prova que possuímos é um lenço perfumado, que tanto
pode pertencer a um como a outro ou mesmo a nenhum deles.
Jaime ia continuar a falar quando percebeu que alguém estava
encostado à porta da sala de seu chefe. Se levantou num salto e a
abrindo se deparou com o rosto de Elynor Allan.
— Ó!, inspetor! — Disse ela, agitada — Estava te procurando.
— Entres, senhorita. Não te fica bem escutar a conversa alheia.
— Ó! Não. Eu juro, senhor, que te vim falar. Te lembras quando
te falei da conversa de doutor Eduardo com meu chefe? Pois bem.
Acho que poderá vos dar alguma informação, pois ontem esteve
comigo e parecia muito nervoso. O vim procurar porque me disse
que o perseguiam.
— Puxa!, Jaime. Íamos deixando escapar esse pássaro. — Disse
capitão Edu.
— Senhorita Elynor, seria incômodo nos acompanhar até a
residência de doutor Eduardo?
— Não, inspetor.
Bateram à porta e não obtiveram resposta.
— É estranho que ninguém venha abrir. — Disse Edu Brown.
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Davis.
— É verdade, senhor, uma briguinha...
— Um tiro, com certeza. — Disse Jaime. — É muito perigoso se
expor a uma arma.
João Davis ficou muito nervoso e Jaime notou que seus lábios e
a mão que segurava o copo de gim tremiam, deixando cair algumas
gotas na calça. Davis tirou o lenço do bolso e a limpou. Jaime,
depois de assistir esse gesto, o cumprimentou e saiu.
Ia subindo a escadaria da Scotland Yard quando um garoto lhe
entregou um grande envelope e partiu correndo. Jaime rasgou o
envelope e uma corda lhe caiu aos pés. Abriu o papel e leu A
Forca continuará a cumprir a sua missão. Te afastes de seu
caminho. Eduardo sabia demais e morreu...
Jaime abriu a porta da sala de seu chefe e entrou. O chefe a
corda nas mãos dele e perguntou:
— O que é isso?, Jaime.
— Nada, chefe. Um pequeno aviso de nosso amigo.
E entregou o bilhete.
— Jaime, acho que enlouquecerei.
Eram dez horas quando Tom entrou na chefatura. Fora verificar
se os homens encarregados da vigilância dos marcados pra morrer
estavam em seus postos.
Os três se sentaram e ficaram olhando o relógio. Os ponteiros
marcavam quinze minutos às onze.
Quando o relógio bateu onze horas, uma atmosfera de apreensão
reinava no pequeno gabinete. Nenhum deles se atrevia a romper o
silêncio. O telefone tilintou e Jaime notou que a mão do chefe
tremia ao o segurar. Um leve murmúrio escapou dos lábios.
— Vamos!, rapazes. Carol Loose foi assassinado. Quem estava
em guarda de Loose?, Jaime.
— Morgan. — Respondeu Tom.
Saltaram à porta da residência de Carol Loose e Morgan veio
correndo em direção a eles. Trazia a cabeça enfaixada num pano
ensangüentado.
— Como foi?, Morgan. — Perguntou Edu.
— Não sei, chefe. Eu estava de guarda junto à janela do
escritório, donde via senhor Loose escrevendo. Dessa posição eu
via, também, a porta que dá entrada ao escritório. No momento em
que eu ia acender um cigarro senti qualquer coisa bater em minha
cabeça e creio que perdi o sentido. Quando voltei a mim a primeira
coisa que fiz foi olhar a dentro do escritório e vi a corda em torno
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aquele cargo.
— Capitão Edu, faltam dois dias pro Natal e te prometo entregar
o assassino antes de Westminster bater a última badalada da meia-
noite do dia 25. Será meu presente de Festas.
O aperto de mão de Edu fez Jaime ver o quanto seu chefe ficaria
grato.
— Capitão, — disse Jaime — digas a todos os agentes
encarregados de vigiar aqueles homens pra não se afastarem deles e
que atirem a qualquer movimento suspeito de pessoa que deles se
aproximar. A Forca não deverá agir hoje.
Havia, seguramente, uma hora que anoitecera. Jaime foi a seu
apartamento e, mesmo antes de entrar, sabia que Tom já lá estava,
pois alguém assobiava a marcha fúnebre, e esse era um velho
hábito.
— Alô, Jaime. Encontrei o garoto e fui obrigado a lhe dar uns
cascudos pra que desembuchasse. O pequeno de nada sabe. Disse
que é vendedor de jornal e, certa vez, uma moça lhe pediu pra ir
comprar corda, o que fez, recebendo, em troca do favor, dez xelins.
Disse que a mulher ficou esperando na porta do edifício Londres e
quando recebeu o embrulho entrou no edifício.
— Tom, — disse Jaime — Temos um servicinho presta noite e
que não será muito agradável. Alguma vez já foste ladrão?
— Ei!, Jaime. Que história é essa?
— É o que estou dizendo. Hoje na noite seremos ladrões. Quero
dar uma olhada em todos os escritórios que estão no edifício
Londres e, como não quero que suspeitem, prefiro arriscar assim.
— Creio que não deve ser agradável receber uma bala e também
acho que não dou prà coisa, mas, já que irás, irei contigo. O que
precisaremos levar?
— Basta o grampo, Tom, e uma boa pistola.
Eram quase 10:30h quando os dois detetives atravessaram praça
Piccadilly. Passaram pela catedral de São Paulo e tomaram a
direção da colina Ludgate.
Um prédio de quatro andares se erguia diante deles. Olharam ao
redor, como se certificando de que ninguém os via, e resolveram
entrar em ação.
Um policial passou naquele instante e Jaime, puxando Tom pelo
casaco, se coseu de encontro à parede.
Depois caminharam até o fundo do edifício e em poucos
segundos a porta de serviço estava aberta. Atravessaram um
corredor estreito, no primeiro andar, e iam começar a agir, quando
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Na manhã seguinte capitão Edu estava de muito mau-humor, e
foi nesse estado que recebeu a visita de promotor Harrington.
Jaime e Tom estavam encostados à mesa de seu chefe, e ambos
tinham o mesmo pensamento.
Os olhos de Jaime não cessavam de contemplar o promotor. A
vinda dele se prendia à visita noturna a seu escritório. E se naquele
momento tivesse olhado o rosto de Tom Malloney teria visto a
força que ele fazia pra conter o riso.
Quando o promotor se retirou capitão Edu fez ver a Jaime ter
dois dias pra resignar ao cargo.
— Muito bem, chefe. Tenho, ainda, 48h pra o entregar em tuas
mãos, e hei de entregar.
Jaime ia entrando no edifício Londres quando avistou promotor
Proust.
— Vinha falar a ti a respeito da visita que os senhores tiveram
em seus escritórios.
— Ó! ,inspetor, creio não haver necessidade de prosseguir neste
caso. Harrington ficou um pouco assustado mas, felizmente, nada
roubaram e a única coisa grave foi espancar o guarda do prédio e o
prender no quarto de limpeza.
Um táxi que o promotor chamara acabara de parar à porta do
edifício.
— Se o senhor inspetor irá aos lados da travessia Charing, o
poderei conduzir.
— Obrigado, senhor Proust. Aceito teu convite.
Enquanto conversava Jaime sentia um forte cheiro de perfume e,
se inclinando, abriu a janela do carro pra entrar um pouco de ar.
— O inspetor parece não ser amigo de perfume!
— É verdade. Gosto muito pouco. — Disse Jaime.
Este, que estás sentindo, — disse Proust — é gardênia, um dos
melhores perfumes da praça.3
Não era preciso que o promotor dissesse, pois Jaime já conhecia
aquele cheiro.
No cruzamento da travessia Charing com rua Euston, Jaime
agradeceu ao promotor Proust e saltou.
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Tanto que até virou um bolero clássico: Perfume de gardenia tiene tu boca.
Perfume del amor... Nota do digitalizador.
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Os diamantes acusadores
relógio da chefatura batera 11h e o capitão Edu Brown
tamborilava, impacientemente, os dedos sobre a
escrivaninha apinhada de papel.
Toda a Scotland Yard estava procurando o misterioso assassino
do célebre Gordon Steam, opulento mercador de diamante,
vulgarmente conhecido pela alcunha de O Africano.
O detetive Jaime Patrício, encarregado do caso, nada conseguira
saber além do que todo o departamento sabia: Gordon fora morto
por um colte calibre 38, a 45m de sua residência, no dia em que
carregava consigo uma caixa contendo vinte e dois diamantes
estimados em grande valor.
Jaime era considerado, por seus companheiros, o mais arguto
dos detetives e era tão bom no gatilho que o diziam capaz de
atravessar, com uma bala, um buraco de agulha.
Todas as missões perigosas lhe eram confiadas por capitão Edu,
que nele depositava inteira confiança. Jaime entrou no gabinete do
chefe, que, impaciente, mastigava um charuto há muito apagado.
— Jaime, os jornais estão comentando nossa lentidão nesse caso
e acho que haverá muita demissão na polícia se não conseguirmos
algo dentro de quarenta e oito horas.
— Chefe, a única coisa que posso dizer é que muito antes de
esgotado esse tempo faremos uma prisão. Estudei todo o passado
de Gordon e consegui saber que tinha muitos inimigos mas creio
que nenhum deles seria capaz de o assassinar. Gordon era solteiro e
possuía um seguro de vida de 50.000 libras a favor duma irmã,
Catharina Steam, que ora está na América.
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II
Jaime desceu do carro no 56 da rua Regente. O criado que abriu
a porta se limitou a menear a cabeça dando passagem aos dois
detetives. Jaime disse:
— Júlio, antes de tudo quero que me digas algo sobre os hábitos
de teu amo. É preciso que te diga que já cumpriste uma sentença
em Dartmor, por furto. Te lembres, portanto, que posso te acusar de
ter roubado os diamantes de teu patrão e por isso trates de falar
direitinho.
— Não, inspetor. Juro que não fui. E sobre a vida de meu patrão
pouco sei. Era muito bondoso pra mim e a única coisa que te posso
dizer é que todas as quintas-feiras recebia a visita duma mulher.
Nesses dias, invariavelmente, me mandava sair, entre 10h e 1h da
madrugada.
— Viste essa mulher ou teu patrão se referiu a ela em tua
presença?
— Não, inspetor.
— Me leves a seu quarto.
Jaime revolveu todas as gavetas e finalmente, entre os papéis
que estavam na escrivaninha, retirou um livrinho de cheque que,
depois de examinar, guardou, cuidadosamente, no bolso.
Agradecendo a Júlio, saiu seguido de Tom, que acompanhava todos
seus movimentos.
— Te lembras, mais ou menos, em que ponto foi encontrado o
corpo?, Tom. — Jaime perguntou, na rua.
— Sim chefe. Estava neste lugar. — Respondeu Tom, apontando
a um lugar na calçada enquanto a cabeça estava voltada à casa.
Jaime olhou em todos os sentidos da rua e, depois de contar uns
trinta e cinco passos, deu um pequeno assobio e gritou a Tom:
— Vamos à chefatura, depressa!
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III
Meia hora mais tarde Jaime entrou no gabinete do chefe tendo,
entre ele e Tom, Senhor Pitt.
— Eis o assassino de Gordon, chefe. Prometi o trazer antes de
decorridas 48h e cumpri minha palavra.
— Capitão Edu, responderás pela acusação sem fundamento que
me faz teu subordinado.
— Senhor Pitt tem razão. Nada podemos fazer contra ele, Jaime.
— Talvez queiras, no entanto, ouvir a minha história. —
Retrucou Jaime, obrigando Pitt a se sentar.
— Quando te disse ter estudado o passado de Gordon, chefe, e te
falei no seguro de vida e nos inimigos, afastei a possibilidade do
crime ter sido praticado pelo beneficiário do seguro ou por um
desses últimos porque os quatro únicos inimigos de Gordon estão
na África. E também posso garantir que nenhum deles seria capaz
de o matar pelas costas a uma distância de 30m. O beneficiário do
seguro era, como te fiz ver, uma irmã residente em Estados Unidos,
e um telegrama da polícia ianque me afastou essa hipótese porque
no dia do crime Catharina Steam estava em Estados Unidos, em sua
residência na 5a avenida.
Eu tinha diante de mim um crime misterioso que, a princípio,
julguei perfeito. Revistando o apartamento de Gordon encontrei um
livro de cheque do banco Cidade e dele constavam várias saídas a
favor duma tal Violeta Bruni. O exame do cadáver revelou que o
tiro partira duma distância de 30m e o corpo foi encontrado a 45m
de sua residência. Tinha uma bala calibre 38 no pulmão direito,
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bala esta que fora disparada por uma pessoa que estava em nível
muito superior ao do morto.
Me restavam essas duas trilhas: Procurar a dama misteriosa das
quintas-feiras, ou seja Violeta Brum, e revistar as casas
compreendidas na distância de 30m do local em que foi encontrado
o corpo. Verifiquei que o tiro só poderia ter partido duma das
janelas do 34 ou do 38 da rua Regente. Quando me disseste que o
38 era a residência dum dos diretores do banco Cidade, nome que
estava no livro de cheque, cheguei à conclusão de que senhor Pitt
talvez me pudesse dar informação. O acaso me pôs, então, diante
de Violeta Brum e, por sua história, cheguei a uma conclusão:
Senhor Pitt era o assassino de Gordon Steam.
Muito ciumento, sabendo dos encontros de Violeta com Gordon,
resolveu estudar pacientemente um meio de liquidar o rival.
Sabendo que Gordon, na noite do crime, iria a sua residência,
disse a Violeta que teria de ir ao banco. Mas em lugar disso se
limitou a dar um giro por parque Hyde e meia hora depois voltou a
casa. Aproveitando a ausência dos criados, entrou pela porta de
serviço e dali divisou Violeta no sofá, em companhia de Gordon.
Subiu a escada e, entrando em seus aposentos, cujas janelas dão
à rua, se limitou a esperar a saída de Gordon. Adaptou um
silenciador ao revólver pra evitar o estampido e não provocar,
assim, suspeita de Violeta. Quando Gordon saiu foi covardemente
alvejado pelas costas.
Depois de praticado o crime saiu da mesma maneira que entrara.
Na rua reparou que ainda não havia alguém junto ao corpo. Pra
parecer furto retirou o pacote contendo os diamantes. Foi à drogaria
e dali telefonou a Violeta, dizendo que chegaria mais tarde. Tudo
isso fez em 15min, de acordo com a declaração de Violeta. Depois
tomou um táxi e foi ao banco, onde guardou, em seu cofre
particular, os diamantes pertencentes a Gordon, bem como o
revólver que usara.
Entretanto cometeu, como todo criminoso, um erro.
No bolso de Gordon foi encontrada uma carteira contendo 2.000
libras e somente o pacote com os diamantes desaparecera. Portanto
a hipótese de roubo ficou afastada.
Somente duas pessoas sabiam que Gordon portava, naquele dia,
uma caixa com diamante.
Uma era o secreta do banco, pois todas as remessas de diamante
que Gordon recebia lhe eram entregues pelo capitão do navio
Tetrágono. A outra pessoa era o mui digno senhor Pitt, que na
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O Fantasma de Londres
á crimes que se tornaram famosos pela selvageria dos
ataques, bem como sempre houve, em todos os cantos do
mundo, criminosos dotados de grande imaginação, que tecem
verdadeiros enredos em torno de seus assaltos e mortes. Em muitos
casos esses indivíduos talhados pro mal desde o berço, agem de
maneira desconcertante, procurando encobrir o móvel do crime, ou
o variando de maneira a escapar a espíritos argutos e atilados que
os combatem e combaterão eternamente como defensores da lei.
Homens cuja vida periga noite e dia mas que jamais recuam, se
atemorizam nem perdem a esperança ante o mais insondável e
tenebroso mistério! Homens soturnos e corajosos, sempre prontos a
manter a paz e livrar a sociedade de verdugos sem consciência!
Homens poderosos como o silêncio eloqüente de suas armas e cujas
vozes são como o reflexo da própria morte!
Foi contra esses incansáveis trabalhadores cujos cérebros
meditam sobre fios de cabelo, papéis queimados, pontas de cigarro
e tantas outras minúcias, buscando a verdade, e cujas armas,
quando detonam, não são mais que o eco da dos assassinos, que se
revoltou uma cidade inteira, pela voz terrível de sua imprensa.
Não resta dúvida de que Chicago e Londres sempre foram as
duas cidades onde os crimes têm maior curso. Se, porém, em
Chicago o combate é mais feroz em vista do aparelhamento de que
se munem os quadrilheiros, no entanto, a polícia não deixa de levar
certas vantagens sobre eles, tanto mais que são, na maioria,
conhecidos como homens-g. Em Londres, no entanto, se bem que o
combate não seja tão feroz, a polícia encontra, muitas vezes, sérias
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●
Naquela manhã fria e nevoenta de dezembro o movimento
parecia muito pequeno. Se não fosse o som estridente de buzina
rompendo caminho através da escuridão e o relógio marcar apenas
9h se diria ser noite em Londres.
Num prédio baixo e imundo, na imediação das docas, dois
homens discutiam acaloradamente um assunto ao qual há muito se
voltaram os olhos dos inspetores da Scotland Yard. Ambos, pela
aparência, não eram mais que simples trabalhadores mas em
realidade eram dois temíveis bandidos. Disse o mais alto dos dois,
tipo horrivelmente feio e de compleição hercúlea:
— Não, Lanzy. Não faremos isso. Não podemos praticar esse
assalto e sabes tão bem quanto eu que há, em Londres, um
indivíduo mais poderoso que nós, que também quer. Se quiseres
vás sozinho, Lanzy. Não irei.
— Muito bem, medroso! Me deixes, se quiseres. Continuarei e
garanto que levarei a cabo meu plano.
— Não, Lanzy, encontrarás com morte prosseguindo nisso. Te
lembres de que o Fantasma tudo vê.
— Fantasma! Ora, Ricardinho, não sejas tolo! Pode ser muito
esperto pros agentes, não pra mim. De mais a mais, praticarei o
assalto à luz do dia e só me consta que o Fantasma aja na noite.
— Estás enganado, Lanzy. Ontem foi visto na manhã! Repito
que encontrarás a morte!
— Ela que venha, Ricardinho. Não temo o Fantasma e só
acreditarei em sua existência quando o encontrar em minha frente.
O homem mais baixo, chamado Ricardinho, fez um gesto com as
mãos, como quem diz: Paciência! e se levantou pra sair. Um leve
ruído veio da porta e uma figura grotesca, quase sobrenatural,
assomou à soleira da mesma.
— Me procurais?, cavalheiros.
— O Fantasma!...
As pernas do homem mais baixo começaram a tremer e o
homem alto, Lanzy, fez um movimento qualquer no intuito de
retirar algo do bolso mas parou em meio do gesto e um grito surdo
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tanto dissabor com meu silêncio mas darei toda informação que
puder. O doido que fugiu sempre teve mania de grandeza. A
princípio não acreditei que fosse autor de todas essas
monstruosidades mas agora acredito piamente. Tanto mais que
Jângal sempre teve períodos de lucidez muito largos. Tenho em
meu poder esta fotografia, que te entrego. É o retrato de Jângal e
creio que, talvez, te seja útil. Isso é quase tudo. O resto é o silêncio
que peço em torno disso. Sempre foste meu amigo, Edu...
— Podes ficar tranqüilo, João. Ninguém saberá.
Iam saindo da casa de João Lucks quando ouviram o grito
furioso duma sirene se aproximando aos poucos, aumentando de
intensidade.
Um carro da polícia, vindo do parque Hyde, entrou na rua
Vitória, estacionando à porta da casa de João Lucks. Dali saiu,
correndo, um policial a encontro de capitão Edu.
— Capitão! Mataram o caixa da Estação de Londres, no
Terraplenagem Vitória. O Fantasma foi visto!, senhor.
— Vamos, rapazes, depressa!
O caixa jazia no chão, estrangulado. Jaime contemplou o corpo
do rapaz alguns instantes e, se virando a Edu, disse:
— Chefe, levaremos este cadáver conosco.
— O Fantasma?, Jaime.
— Veremos, Edu.
Naquela sala escura, na Scotland Yard, várias pessoas reunidas
presenciavam o exame que Jaime fazia no corpo do rapaz. Ao cabo
dalguns minutos, quando as luzes foram acesas, Jaime falou.
— Não foi o Fantasma quem matou!, Edu. No pescoço deste
homem nada se nota, ao passo que em todos os outros, aquela
mancha fosforescente era bem visível.
Doutor Jorge, que fora chamado por Jaime, acabava de entrar,
sempre brincalhão, no gabinete de capitão Edu Brown.
— Doutor, eu queria que me informasses algo sobre os exames
que fizeste nos corpos dos homens estrangulados. O podes me dizer
que substância empregou o Fantasma pra deixar aquelas marcas?
— Sim, Jaime. É uma pasta fosforescente. Mas o que estranhei é
não terem ficado marcados os dedos do homem.
— Sim, doutor, mas isso poderia ter sido feito com o auxílio de
luvas. Não?
— Naturalmente, Jaime.
— Muito bem. Apenas mais uma pergunta. Haverá, por acaso,
um crânio humano capaz de ser adaptado à cabeça dum homem
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normal?
— Não, Jaime. É verdade que todas as pessoas que conseguiram
avistar o Fantasma afirmaram tal, porém garanto que só um crânio
feito em gesso ou massa pode ser adaptado à cabeça de alguém, por
menor que ela seja.
— Obrigado, doutor. É tudo o que eu precisava.
Jaime se levantou e foi até um mapa preso à parede. O
contemplou alguns instantes.
— Edu, não importa que a Scotland Yard fique deserta mas
faças o que direi. Disponhas todos os carros e os espalhes de
maneira que todas as estradas fiquem patrulhadas. Irradies a
descrição de Jângal e que da cidade nenhum carro saia. Quero
todos os homens bem equipados e, se possível, munidos de
metralhadora. Reúnas todo o destacamento policial e o distribuas
em todas as ruas, contanto que em cada uma fiquem duas
sentinelas, dia e noite, com ordem de atirar pra matar. Feito isso,
Edu, chames os rapazes da imprensa e digas que dentro de 24 horas
entregarás o Fantasma à forca.
— Mas, Jaime...
— Sim, Edu. Sei que dentro de oito horas terás de entregar o
Fantasma ou o cargo mas não faz mal. Prometo que entregarás
somente o primeiro.
— Mas, Jaime. Não posso dispor de todos os homens!...
— É preciso, Edu. Chames Duggan e Carlos, àqui,
imediatamente.
Os dois inspetores entraram, satisfeitos, no gabinete do capitão,
pois gostavam de trabalhar com Jaime.
— Tu, Tom, Duggan e Carlos ireis, agora, procurar todas as
casas vazias ou em construção dentro da cidade. Não importa
quantas sejam. O fato é que preciso dum policial em cada uma. Se
restar alguma me encarregarei dela.
Os três rapazes saíram dispostos a cumprir a determinação de
Jaime. Disse Jaime, depois que se retiraram:
— Bem, Edu. Creio que também irei e espero que faças o que
pedi.
— Muito bem, Jaime. Farei, custe o que custar. Perdido, perdido
e meio.
III
O clube Ouro regurgitava de gente naquela hora da noite. Jaime
Patrício subiu os três únicos degraus da escada e no patamar, um
porteiro vistosamente fardado levou a mão ao quepe.
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Plafoniê - sm (aportuguesado do fr. plafonnier) Lâmpada ou lustre muito colado ao
teto. Nota do digitalizador. Extraído de dicionário KingHost.
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— O Fantasma!
— Sim, meus senhores. Sinto muito interromper mas sou o
Fantasma. O único! Ouvistes bem? — E seus olhos se fixaram em
Jaime Patrício. — Sabei que sou o Fantasma e continuarei em meu
caminho porque sou mais forte que vós.
Dito isto, segurou na porta e, a batendo violentamente, correu no
corredor do prédio. Edu, Estévio, Fredinho e Tom correram,
rápidos, pistolas em punho, à porta. Apitos tocaram ouvir e como
resposta veio o eco daquela sinistra gargalhada repercutindo
através do corredor da Scotland Yard. Fredinho Stone exclamou:
— Francamente! Esse homem é doido. É fantástico o que fez!
— O que dirão os jornais? — Perguntou Estévio Benton, se
sentando, aniquilado.
Um jovem entrou naquele instante no gabinete. Perguntou o
recém-chegado, que era o filho de Estévio Benton:
— O que houve aqui?
— O Fantasma nos visitou.
— Como? Aqui na Scotland Yard?
Jaime olhou o rosto do filho de Estévio Benton e sorriu. Ele,
notando as algemas nos pulsos do inspetor, também sorriu e lhe
falou, quase ao ouvido:
— Eu não disse que aquele soco te custaria caro?
— Inspetor Jaime. — Disse Fredinho Stone — Peço me perdoar
pelo que aconteceu e também peço que assumas novamente teu
posto.
— Não, capitão, obrigado. Só sei trabalhar com Edu Brown.
— Capitão Edu Brown continuará neste departamento. — Disse
Estévio Benton — Depois do que aconteceu só me resta abandonar
o cargo.
— Se Edu ficar ficarei. — Disse Jaime.
Fredinho Stone deixaria o gabinete em companhia de Estévio
Benton e seu filho, nos olhos do qual brilhava intenso ódio, quando
uma pessoa entrou.
— Doutor Jorge! — Exclamou Fredinho Stone.
— Sim, Fredinho. Sou eu, mesmo. Já estou a par de tudo. Sinto
muito, Jaime, pelo que te fiz passar.
— Sim, doutor. como soubeste o que sucedeu?
— Ó! Carlos me disse tudo lá em baixo, quando entrei. Não
desapareci, felizmente. Fui ver um amigo que me chamou, fora da
cidade.
— Chegou há muito tempo?, doutor. — Perguntou Jaime.
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certos: Pai e filho foram mortos pelo Fantasma, que era alguém que
ambos conheciam. Não restava dúvida de que Estévio Benton fora
o primeiro a morrer e o fato do filho ter tentado se comunicar com
Edu significava ter se encontrado com o Fantasma depois de
Benton morrer. Aquela palavra assassino, que Edu ouvira fora
dirigida ao Fantasma pelo filho de Estévio Benton e provava que o
garoto conhecia a identidade do Fantasma.
— Creio que não estamos muito longe do fim, Edu. — Disse
Jaime — Ao menos só me restam dois suspeitos. Portanto a coisa
está mais fácil.
No automóvel que os conduzia à Scotland Yard os três detetives
quase não falavam.
Jaime, desde que o carro se pusera em movimento, brincava com
uma pequenina bola de ouro, tendo em cima uma águia com as asas
abertas.
— Edu. — Disse Jaime — O Fantasma é doido mas não é um
doido comum.
— Sim, Jaime, mas... O que é isso que tens nas mãos?
— Ó! Creio ser quase nada. É uma bolinha de ouro.
— Esperes aí, Jaime...
Capitão Edu retirou do bolso uma pequenina bola semelhante
àquela que Jaime tinha nas mãos e a mostrou.
— Edu! Isto tem alguma significação?
— Sim, Jaime. É mais ou menos assim, em rápidas palavras: Há
muitos anos eu fazia parte dum grupo de rapazes que fundaram um
clube e todos os associados possuíam uma bola semelhante a esta,
como emblema. A águia significava o nome do clube. À entrada
um porteiro indagava de maneira interessante se o indivíduo era de
fato associado e como prova deveria segurar a bola com a mão
esquerda, de maneira a que a águia ficasse de cabeça a baixo.
— Muito interessante, Edu. Continues...
— Mas, Jaime...
— Sim, Edu. Sei o que estás pensando. Sabes como me veio
parar nas mãos esta bola? Foi naquele dia em que o Fantasma me
atacou na casa deserta, na travessia Charing. Durante a luta ela me
ficou nas mãos.
— Jaime, isso já é uma boa pista! Foi um membro do extinto
clube quem te feriu e ele é o Fantasma!
— Sim, Edu. Seria uma boa pista, se tivesses, por exemplo, uma
lista ou alguma fotografia dos antigos sócios.
— E tenho!, Jaime.
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O contrabando de platina
Capítulo I
Um dia aborrecido
ma chuva fina e impertinente caía sobre Londres naquele dia
triste e nevoento de inverno. Jaime Patrício passou a mão
aberta numa pequena parte do vidro da janela de seu
apartamento que deita à praça Piccadilly, o limpando do bafo
característico da umidade e, colando o rosto à vidraça, tentou
distinguir os anúncios luminosos ao longe.
Aborrecido, voltou as costas à janela e, bocejando, caminhou em
direção à cama.
Havia cinco dias que aquela chuva não cessava e o nevoeiro
continuava denso, tornando quase impossível a visibilidade.
Jaime olhou o relógio de pulso que colocara, como sempre o
fazia, em cima duma pequena mesa ao lado da cama. Os ponteiros
marcavam 8h.
— Há 20min, comentou consigo, já devia estar na chefatura,
mas... com este tempo... e, bocejando novamente, enfiou a mão no
bolso direito do colete, retirando um pequeno maço de cigarro, já
bastante amarrotado.
Enquanto contemplava as espirais de fumo que iam subindo ao
teto, Jaime monologava:
— É bastante ingrata a vida dum policial. Passar, às vezes,
noites inteiras acordado, caçando ladrões e criminosos. Enfim, a
toda essa canalha. E pra quê?... Se não se tiver a desgraça de cair
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nas mãos dum deles, como Morgan Flewer e tantos outros, ouvir o
chefe dizer:
— Muito bem fulano ou sicrano, o departamento se orgulha de
ti. Te recomendarei. Felizmente ainda temos, a nosso favor, esse
bendito nevoeiro e essa chuvinha gostosa, que entorpecem e
esfriam o cérebro desses malditos transgressores da lei e nos dão
uns dias de sossego.
Se levantou sem pressa e, depois de colocar o inseparável 38 a
tiracolo, vestiu o casaco e, segurando a capa, saiu.
Capítulo II
Jaime entra em ação
Eram quase nove horas da noite quando Jaime Patrício entrou no
gabinete de capitão Edu Brown, chefe do departamento onde
trabalhava na Scotland Yard.
Capitão Edu estava sentado a sua mesa, diante da porta, com seu
cachimbo predileto, de madeira escura, entre os dentes. Seus olhos
fitavam qualquer parte do teto.
Com a súbita aparição de seu subalterno, que era, na realidade,
seu melhor detetive e também amigo, Edu despertou da abstração
em que estava.
— Alô!, chefe. — Disse Jaime, tirando o chapéu e se sentando
comodamente numa cadeira de braço.
— Creio que esse tempo acovarda os ratos.
— Não tanto. — Retrucou Edu Brown. — Se não estiveres
muito cansado, Jaime, leias a última página desse jornal que está
diante de seus olhos.
Jaime esticou o corpo a diante e segurou a última edição do
Times. Leu os tópicos da última página e, subitamente, seus olhos
pararam sobre algo que o interessou, visto o brusco movimento que
fez, se ajeitando melhor na cadeira.
— Ei!, chefe. Onde esses diabos de repórteres conseguiram isso?
E como querendo se certificar que seus olhos não o enganaram,
leu novamente e em voz alta:
— Paris, 16. Vítima de vultoso roubo a companhia de câmbio.
Mais de 1 milhão em barras de platina. A polícia até agora não
conseguiu efetuar prisão. A cada vez se torna mais misterioso esse
roubo.
— Sim, Jaime. É isso mesmo
— Caramba!, Edu. Mais de 1 milhão! Mas, enfim, que se
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Capítulo III
Na pista
O número 195 de rua Carambola era uma casa de boa aparência,
típica residência inglesa, e o dono denotava bom gosto, a julgar
pela maneira que a tinha mobiliado.
O corpo dum homem de presumíveis 35 a 40 anos jazia sobre a
cama. No quarto se notou vestígio de breve luta. Jaime desceu a
escada, deixando os dois policiais montando guarda ao corpo. O
sargento O'Hara acabava de entrar quando Jaime chegou ao saguão.
5
Sûreté (termo francês pra garantia mas normalmente é traduzido como seguro ou
segurança) é um termo usado em países ou regiões de língua francesa pra
denominar organização de força policial civil, especialmente uma filial detetivesca
no exterior. Nota do digitalizador. Extraído de Wikipedia.
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Capítulo IV
Onde entra uma mulher
Naquela manhã, capitão Edu Brown, falando com Jaime, se
mostrava intrigado com o súbito desejo dele de tomar conta dum
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Capítulo V
As coisa se complica
Na rua a chuva continuava caindo e o nevoeiro se adensava.
Jaime levantou a gola da capa e se dispunha a seguir em direção
ao carro quando um cochicho vindo de trás o fez parar:
— Se prezas a vida, inspetor, não faças movimento.
Jaime era bastante forte mas compreendeu que de nada
adiantaria resistir naquele escuro e estava, mesmo, arriscado a levar
uma bala nas costas.
Sentiu que o aliviavam de seu pesado revólver e o obrigavam a
caminhar a um carro preto parado com as cortinas descidas.
Uma voz de moça falou de dentro, extremamente calma, não
tanto que ocultasse a Jaime a agitação de quem falava.
O homem que o algemou estava na direção do carro.
— Fizeste bem em não resistir, inspetor. — Disse a moça.
— Sim, senhorita Guilhermina Alencastro. Creias que eu ia,
mesmo, te procurar. Me evitaste um grande incômodo.
Os olhos da moça brilharam quando Jaime pronunciou seu
nome.
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Capítulo VI
No barracão
Uma das portas foi aberta, rangendo muito nas dobradiças, e
Jaime foi empurrado ao interior.
Viu um carro verde escuro num canto. O barracão estava bem
sujo e a graxa em toda a parte emprestava ao ambiente maior
sujeira ainda.
Os olhos de Jaime percorreram rapidamente todos os cantos. Viu
duas grandes latas, dois balões de oxigênio num canto, uma lata
com uma substância branca, parecendo gesso, um enorme saco
cheio de qualquer coisa que não podia ver donde estava.
Um forte cheiro chegou às narinas. Estavam derretendo qualquer
coisa. Comentou consigo mesmo.:
— Chumbo!... Sim, chumbo derretido.
— Ei!, Spunck. Tires esses ferros de seus pulsos! — Gritou o
homem menor, que Jaime agora sabia se chamar Jack.
Viu o outro homem trazer uma lata com um líquido qualquer.
Era o chumbo derretido... Olhou à porta por onde entrara. Pensou:
— Será agora ou nunca.
A automática de Helt estava apontada a ele.
Spunck segurava a lata a uns dois passos dele e Jack estava
agachado atrás.
Jaime prendeu a respiração quando Spunck se aproximou.
Torceu o corpo à direita, enviando um pontapé nas costas de
Spunck, ao mesmo tempo que pulava fora da linha de mira de Helt.
Spunck caiu sobre a vasilha, soltando um berro de dor, ao mesmo
tempo que a automática de Helt vomitava fogo.
Jaime se atirou ao chão, se resguardando atrás das latas de
gasolina. Um súbito movimento atrás o advertiu da presença de
Jack. Segurou uma barra de ferro que estava caída no chão e, se
levantando rapidamente, a vibrou sobre a testa dele, no mesmo
instante em que um tiro partiu da direção de Helt, e Jaime sentiu
qualquer coisa lhe queimando os ombros. Pensou:
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Capítulo VII
A história de Guilhermina Alencastro
O carro negro voava na estrada, não respeitando a chuva que
tornava perigosíssimo correr.
— Obrigado, senhorita, por me ter ajudado.
— Ó!, inspetor. Julguei que não escapasses mais. Creio que
acharás estranho que te salvasse, depois de te conduzir àqui. Eu
mesma não posso explicar meu gesto. Mas só agora comecei a
compreender certas coisas. Regressara à Inglaterra e fiquei
espantada de encontrar aqui meu noivo, que eu julgava estar em
Paris. Quando titio foi morto, Roger me levou consigo, nada me
dizendo. Ontem ouvi uma conversa dele com aqueles homens.
Falavam calmamente da morte de titio. Também falaram sobre um
negócio de platina. Compreendi que Roger matara titio e o
abominei desde aquele instante. Eu precisava dalguém que me
ajudasse e, como estava sempre vigiada, só encontrei um meio. Foi
o que pus em prática: Ajudar aquele homem a te seqüestrar.
— Senhorita, esse Roger é alguém importante em Paris?
— É diretor da Exchange.
O carro chegara à Scotland Yard e Tom Malloney vinha
descendo a escada em direção a ele.
— Ei!, Jaime. O pessoal estava assustado. Te esperei na rua
Carambola e, como não aparecias, me comuniquei com Edu. Nesta
hora deve haver uma boa dezena de rapazes te procurando!
Jaime entrou no gabinete do chefe com Guilhermina Alencastro.
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Capítulo VIII
Tudo resolvido
Jaime Patrício seguia num carro da polícia, com Tom Malloney
a seu lado. Atrás iam cinco rapazes decididos.
— Rapazes, — disse Jaime — já sabeis o que fazer.
Não decorrera muito tempo e já estavam descendo no atalho que
conduzia à casa escondida pela mata.
Silenciosos, comprimindo os cabos dos revólveres, se dirigiram,
em linha, até casa.
Jaime espreitou por uma das janelas e sussurrou ao ouvido de
Tom:
— Entres com Shane e Brian por aquela porta do lado. Melwin e
Guilherme: Ficai aqui, protegendo a saída. Douglas, corras ao carro
e atires a qualquer movimento suspeito. E tu, Riskin, venhas
comigo.
No interior da casa estavam três homens. Um deles, pela
aparência, pensou Jaime, devia ser Roger Perrot.
A porta foi aberta e Riskin se atirou ao interior, gritando:
— Ficai quietinhos!
O homem que estava à direita de Roger fez um gesto e Jaime,
sacando a arma, atirou. Os outros dois, vendo o companheiro caído,
levantaram as mãos.
Os rapazes da polícia os conduziram ao carro e receberam as
ordens de Jaime:
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A lágrima da deusa
Capítulo I
movimento naquela hora da noite, na rua São Jaime, era
pouco intenso.
Um rapaz decentemente vestido, chapéu desabado, entrou,
nervoso, numa drogaria. O homem atrás do balcão o olhou inquieto
e, a pedido, apontou o lugar onde estava o telefone, já tranqüilo,
pois se tratava somente do uso de seu telefone.
Quem revistasse os bolsos do rapaz ao telefone encontraria um
cartão da Scotland Yard com o nome de Roberto Bell.
— Me ligues com o departamento do capitão Edu Brown, na
Scotland Yard.
Poucos segundos decorreram do pedido e uma voz calma
respondeu do outro lado da linha:
— Capitão Edu ao aparelho.
— Capitão! Aqui é Roberto Bell. Jaime está aí?
— Sim, Beto, esperes um pouco.
Jaime Patrício, o orgulho da polícia londrina, segurou o receptor
com aparente calma, pois o fato de o chamarem ao telefone era
raríssimo.
— Ei!, Jaime. Descobri algo que, se estourar, nos dará bastante
trabalho e mexerá com a tranqüilidade de nossa velha cidade.
— Calma, Beto! Estás agitado. Te expliques melhor.
— Jaime, estou numa drogaria na rua São Jaime, 3. Venhas
depressa.
Desligando o aparelho, o inspetor Beto Bell agradeceu ao
homem da drogaria, se retirando a seguir. Acabara de dar alguns
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Capítulo II
As últimas vinte e quatro horas se passaram e nada sucedeu.
Jaime tampouco ajustou contas com o chofer pelo motivo muito
simples de haver o mesmo passado ao outro mundo, com uma bala
nas costas, enquanto era conduzido à Scotland Yard.
— Francamente, Edu. — Disse Jaime, sentado numa cômoda
cadeira do escritório de seu chefe. — Chego a acreditar que não foi
mais que acidente a morte de Beto.
— Não sei por quê mas a palavra assassínio persiste em me
incomodar.
O telefone, sobre a secretária, tilintou furiosamente.
— Alô. Capitão Edu Brown.
— Uma morte, senhor, foi cometida na rua Carambola 31. —
Disse a voz do outro lado do fio.
— Muito bem Carlos. Fiques aí. Jaime irá imediatamente.
Rua Carambola 31 era uma casa antiga, porém bastante
suntuosa. Um verdadeiro palácio. Residência de Ricardinho
Charthwood, presidente do banco Real.
Quando Jaime saltou do carro, Carlos, um velho e dedicado
policial, correu a seu encontro.
— Alguém da casa?, Carlos.
— Não, inspetor. Te lembras daquele ladrão que procurávamos
há muito?
— Quem? O dândi?
— Sim, senhor. Já providenciei a remoção do corpo.
Senhor Chartwood estava sentado numa bela poltrona estufada
de damasco, vermelho escuro, um tanto amolado com o que
sucedera em sua casa. Uma mulher e outro homem estavam de pé.
Ele encostado ao peitoril duma janela e ela junto a uma mesa.
— Muito obrigado por ter vindo, senhor. — Disse Charthwood
— Estamos realmente aborrecidos com o que se deu, tanto mais
que foi um nosso hóspede quem alvejou o homem.
O rapaz que estava à janela se aproximou rapidamente.
— Fui eu, senhor. Antes de mais, tenho muito prazer em te
conhecer. De fato, atirei. Estávamos na sala de jantar quando
ouvimos um barulho em cima. Senhor Chartwood correu
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Capítulo III
Os acontecimentos que se desenrolaram no dia anterior em nada
influíram, no pensar de Jaime Patrício. Em verdade o brilhante não
aparecera e, apesar de preocupado com o caso, não podia esquecer
seu bom amigo e companheiro Beto.
Atravessava praça Piccadilly naquele momento quando veio à
mente a associação do roubo com a morte de Beto. Seria isso o
estouro que Beto dissera ter descoberto? Pensou Jaime:
— Não pode ser. Isso não pode abalar Londres. E o que Beto
disse...
Jaime bateu à porta da residência de Ricardinho Charthwood,
disposto a sair dali com toda a verdade a respeito da pedra
desaparecida.
Não estava o dono da casa nem o detetive particular Jack
Shelton. Jaime se viu obrigado a falar com a própria senhora
Charthwood.
— Desejo que me prestes esclarecimento sobre o brilhante e me
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Luger - Famosa marca de pistola militar alemã. Nota do digitalizador.
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corpo. Era o detetive particular Jack Shelton, que estava caído com
uma bala no ombro.
— Obrigado, inspetor. Tua vinda me salvou a vida. Há de
estranhar que eu esteja aqui. Não é? Mas vim só em tuas pegadas.
Eu disse que trabalharia contigo e aqui estou.
— É verdade, mas começaste mal, rapaz. Isto aqui não é a
América. Se tem de aprender muito pra trabalhar com êxito. Aqui,
se luta, não só com o homem, também com o nevoeiro. Agora
iremos a um hospital pra tratar desse ombro.
— Viste quem te alvejou?
— De certo, inspetor. Eram chineses mas não os conheço.
— Tom. — Disse Jaime — Leves o rapaz a um hospital.
Providencies a remoção do corpo do judeu e digas a Edu que o
procurarei, mas só depois de ver certo sujeito.
E se afastou rapidamente.
Capítulo IV
No centro duma enorme sala, na casa número 5 da rua Waping,
um minúsculo chinês, de olhos semi-fechados, tirava pequenas
baforadas dum fino e comprido cigarro. Quase ajoelhados a seus
pés estavam outros dois, que, a julgar pela roupa que trajavam,
eram duma classe inferior.
— Mestre, disse o mais baixo e horrendo dos dois, a Lágrima da
deusa será bem guardada.
— Que a bênção dos deuses paire sobre tua cabeça Wing-Pu. —
Disse o chinês a que o outro chamara de mestre.
— Mestre, vimos Riskin tombar morto. Homem americano
atacou Wing-Pu, mas Wing-Pu nunca morre e Wing-Pu está aqui.
— Podeis ir à sala da gema e vos lembrai de que o homem a
buscará amanhã. Se for roubada a morte vos esperará. Mãos
profanas a querem...
Os dois chineses saíram, ligeiros, ao interior dum aposento onde,
no regaço duma deusa de bronze, fulgia, sobre um fundo de veludo
azul, enorme e límpido brilhante. Nesse instante pesadas pancadas
soaram na porta da frente.
— Abras, Wu-Ching, em nome da lei! É o detetive Jaime
Patrício, da Scotland Yard.
Em menos de 1min a porta foi aberta. Jaime conhecia aquela
casa, por isso não estranhou que ninguém estivesse à porta pra o
receber. Se abria por meio dum dispositivo secreto. Imediatamente
foi à sala onde estava o chinês que os outros chamaram de mestre.
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faca enterrada por mãos delicadas, visto a pouca força do golpe que
a cravara no corpo do ex-presidente do banco Real.
Jaime, tirando do bolso um lenço, o enrolou na faca, a retirando
do corpo. Era uma pequena faca chinesa!...
Não chegou a formular pensamento, pois as suspeitas que tinha
sobre Ricardinho Charthwood ruíram naquele instante, quando o
detetive ianque, Jack Shelton, entrou no quarto.
— Inspetor, preciso que me ajudes a capturar o criminoso. Vi a
feição e tenho certeza de que as reconhecerei em qualquer parte.
Era um chinês mal-encarado.
— Muito bem, rapaz. Se queres me prestar um favor, corras à
Scotland Yard e digas ao inspetor Tom Malloney que traga a
informação pedida.
Mal o ianque deixara a casa, Jaime desceu, rapidamente, a
escada. Ia interrogar senhora Charthwood e a encontrou na sala,
sentada em confortável sofá, como se nada houvesse sucedido.
— Boa noite, inspetor. Creio que o caso está se tornando cada
vez mais complicado. Não?
— É verdade, senhora. Preciso que me digas algo sobre teu
marido. Desconfias dalguém?
— Meu marido, inspetor, era um...
A palavra que senhora Charthwood pronunciaria não chegou a
escapar dos lábios. Como arrependida do que diria, se levantou
sorrindo, começando a passear na sala.
— Teu marido era um quê? Termines!, senhora.
— Ó! Nada, inspetor... Era um bom homem...
Jaime sabia que senhora Charthwood não ia dizer aquilo. Via,
claramente, em seus olhos, que estava mentindo.
— Minha senhora, te peço, pra seu próprio bem, que me
respondas certo às perguntas que te farei. Conheceste algum
homem chamado Júlio Riskin?
— Não, inspetor. Tenho certeza.
— Conheces algum chinês chamado Wu-Ching?
— Sim, inspetor.
Os olhos de Jaime brilharam. Se enganara, pois não esperava tal
resposta.
Ela, como indiferente ao que ele pensava naquele momento,
prosseguiu, com voz calma.
— A verdade, inspetor, é que eu desejava me desfazer daquele
brilhante e o faria por intermédio de Wu-Ching, quando a pedra
desapareceu. Tenho quase certeza de que foi meu marido quem a
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roubou mas não posso compreender por que o mataram. Agora vejo
o mal que fiz em não dar importância àquelas ameaças...
Jaime deixou que senhora Charthwood terminasse de falar e
ficou sentado quando ela se retirou da sala.
Apanhou, ao acaso, um cigarro duma pequena caixa de madeira
sobre uma mesa, se recostou no sofá. Muitas coisas o
preocupavam. Aquele jogo estava se tornando cada vez mais
confuso. A partida dependia duma única jogada e Jaime confiava
em sua boa estrela.
Ainda não terminara o cigarro que acendera, quando o detetive
Tom Malloney entrou acompanhado por Jack Shelton. Disse Tom:
— Grande novidade, Jaime. Só há um iate e pertence a um
ricaço da Austrália.
— Eu esperava isso, Tom. Nesta época do ano seria um fato
incomum se descobrisses mais de um aqui. Veremos esse homem e
tu, — disse, se referindo a Jack — faças o obséquio de vigiar
senhora Charthwood enquanto saio. Creio que tua tarefa, agora, é
bem mais arriscada que a primitiva.
Capítulo V
Um pequeno mas formoso iate estava ancorado no centro da
baía. Em sua direção, jogando, impelida pelas ondas, seguia uma
minúscula lancha da polícia, levando os detetives Jaime Patrício e
Tom Malloney.
— Ei, Jaime! Será que terei o prazer de usar isto? — Disse Tom,
mostrando uma enorme e pesada pistola.
— Não creio, Tom. Se minha teoria estiver certa esse homem é a
criatura mais pacata e inofensiva do mundo. E espero que assim
seja, pois do contrário perderei a partida.
— Francamente Jaime. Não sei pra quê andamos armados. Acho
que doravante deixarei minha pistola em casa. Há duas semanas
que não a uso. Oras, bolas! Esses criminosos, dum tempo a cá,
agem como se fossem criança ou mulher! Creio que o melhor caso
que nós já resolvemos foi o daquela quadrilha do Capuz Negro! Te
lembras? Nunca ri tanto!
— Tinham graça aqueles caras com os capuzes negros.
— Aquilo sim, é que foi um caso duro. Te afianço que minha
pistola nunca trabalhou tanto. Por falar nisso, Jaime, quem é o tal
Africano, Mensageiro da deusa da vingança? Palavra que tenho
vontade de ver o bruto! É boa. Não? Africanos em Londres...
A lancha da polícia encostou suavemente ao costado do Sídnei.
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Dar a de vila-diogo: Fugir, se safar. Segundo o Diccionario de uso del español, de
Marta Moliner, a expressão significa fugir precipitadamente, por alusão aos alforjes
(sacola, saco de viagem) que se fabricavam na povoação de Villadiego. Nota do
digitalizador. Extraído de http://aldacris.wordpress.com/2007/01/26/dar-as-de-vila-
diogo/
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milionário australiano.
No meio de tudo isso há, sem dúvida, coisas estranhas, como, por
exemplo, o misterioso desaparecimento do brilhante. A princípio
desconfiei de Ricardinho Charthwood e mesmo da senhora, mas,
com a morte de Ricardinho, varri essas suspeitas de minha
imaginação, tanto mais que ele não poderia ter assassinado Beto e o
chofer do carro.
Hoje o milionário australiano deveria ir à casa de Wu-Ching
receber das mãos dele o Lágrima da deusa, o que me leva a crer
que Wu-Ching já esteja de posse do brilhante, tendo, assim,
logrado a senhora Charthwood. Desconfio de como Wu-Ching se
apoderou da pedra, o que só poderei afirmar depois de receber certa
comunicação, que espero a qualquer momento e duns quantos
eventos nesta noite.
— Queres dizer, Jaime, que de todos os suspeitos, o que reúne
maior complicação em torno de si é Wu-Ching?
— Sim, Edu.
Então o prenderemos imediatamente como ladrão e assassino.
— Não, Edu. Wu-Ching é ladrão mas nunca matou. E não seria
tão estúpido a ponto de matar um agente da Scotland Yard.
Disse Tom, entrando na conversa:
— Mas, Jaime. Te esqueces de que Anjinho disse que o chofer
trabalhava pra Wu-Ching!
— Sim. Tom, costumava trabalhar não quer dizer que trabalhe e
sabes muito bem que esses sujeitos trabalham pra quem lhes dá
mais.
— Pelo que me dizes, Jaime, — disse capitão Edu, Wu-Ching, já
deve estar preparando um bom álibi. Como sempre.
— Edu, Wu-Ching não matou alguém. O podemos prender como
ladrão mas não como assassino. O homem responsável por todas
essas mortes e que estava, ao mesmo tempo, senhor dos passos de
todos os outros, usa o pomposo pseudônimo de mensageiro da
deusa da vingança, e é com ele que tenciono me encontrar agora.
Sem esperar mais, Jaime se retirou, acenando a Tom pra que o
seguisse.
A cidade estava bastante escura e o nevoeiro impedia quase
totalmente a visão das coisas mais próximas.
Os dois detetives seguiam em direção à casa de Wu-Ching.
Jaime Patrício, enfiando a mão direita sob o casaco, desabotoou
o coldre do inseparável 38.
Passavam junto a um lampião de iluminação quando um roçar,
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O pássaro da morte
Capítulo I
nspetor Jaime Patrício contemplava o movimento da rua através
da vidraça duma das janelas de sua sala, na Scotland Yard.
Havia 20min que deixara a sala de julgamento, onde doutor
Judd Mac Carthy, um dos mais famosos cientistas londrinos, estava
respondendo a júri como acusado de assassinar, na noite de 11 de
novembro, seu assistente, Vickery Melbourne. Jaime saíra, depois
que o advogado do doutor acabara a defesa e estava certo de que o
veredito seria favorável. Antes de ser levado a júri sabia que o
doutor seria absolvido, não só por falta de prova, como pelo
testemunho de três dos mais proeminentes homens da cidade, entre
eles o próprio advogado, que afirmavam ter o doutor estado com
eles na noite do crime, das 7h às 10h da noite, e Vickery
Melbourne fora assassinado às 9h. Além disso, a causa da morte
fora envenenamento, porém, os médicos legistas desconheciam o
veneno. As vísceras do morto apresentavam uma coloração
azulada, semelhante à que se encontra em envenenamento por
sulfato de cobre, mas os outros órgãos examinados não
demonstravam a presença.
Todos os médicos legistas tinham opinião diferente, concluindo
pelo desconhecimento do veneno. A única suspeita contra o doutor
residia no fato de junto ao corpo de Vickery Melbourne, caído dez
passos na frente da porta do laboratório, situado no fundo do prédio
#30 da Parque do Regente, estarem escritas na terra as seguintes
palavras: Eu sabia que eras tu, J... e que, evidentemente, foram
escritas, com o dedo, pelo próprio Vickery, moribundo, como
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Capítulo II
Num dos aposentos do apartamento de Jaime, na rodovia da
travessia Charing, que servia, ao mesmo, tempo de sala de estar e
gabinete de estudo, inspetor Tom, sentado numa cômoda poltrona,
contemplava, em silêncio, seu companheiro passeando dum lado a
outro em passadas largas e fortes, cujo som era protegido por um
grosso tapete estendido ao longo da sala.
Dois profundos sulcos nos cantos da boca de Jaime indicavam a
Tom o estado nervoso do amigo. As rugas significavam ódio surdo
no coração do inspetor. Quantas assassinos já viram aqueles sulcos
antes de subirem à forca?
Tom olhava, com a admiração e o respeito dum discípulo, todas
as vezes que Jaime retirava um livro da grande estante no fundo e
em ângulo da sala e reparou como a fisionomia se modificou
rapidamente, quando repôs, ao mesmo lugar em que estava, um
grosso volume encadernado de preto.
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Pois terá a pena capital. Nota do digitalizador.
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Capítulo III
Eram, precisamente, 20h quando inspetor Jaime Patrício chegou
ao #30 da Parque do Regente.
O criado de doutor Judd Mac Carthy reconheceu, prontamente, o
inspetor. Depois de inclinar a cabeça o cumprimentando, lhe fez
sinal pra entrar.
— Boa noite, inspetor. A quem desejas falar? Se é a doutor
Judd, está no laboratório. Senhora Judite está na sala, com senhor
Carlington.
— Sim, rapaz. Me leves até ela.
Judite Melbourne, sentada num amplo sofá, em companhia de
Jeová Carlington, não parecia abalada pela morte, ainda recente, do
marido. Sorria ao advogado no momento em que Jaime entrou e
percebeu uma ponta de idílio entre os dois.
— O que desejas?, inspetor. — Perguntou Judite Melbourne,
permanecendo sentada.
— Desejo fazer perguntas a ti, minha senhora, porque...
— Não perguntarás! Já basta o que fizeste com doutor Judd. —
Disse o advogado.
— Muito obrigado por tanta amabilidade. Creio que é melhor
procurar o doutor. Talvez me entenda melhor com ele.
Jaime saiu da sala, em direção ao laboratório. Antes de
atravessar o quintal, segurou, de leve, o braço do criado.
— Há quanto tempo conheces o advogado Jeová Carlington?
— Ó! Há muitos anos, senhor. Vem diariamente a esta casa. É
muito íntimo.
— Sim? Te lembras a que horas veio buscar doutor Judd?, no
dia em que Vickery Melbourne foi assassinado.
— Perfeitamente, senhor. Eram, mais ou menos, 7h.
— Doutor Judd voltou à casa pra ir ao laboratório nesse dia?
— Não senhor. Depois das 5h, quando fazia experiência com o
senhor Vickery, não voltou mais ao laboratório.
— Obrigado, rapaz. — Disse Jaime, se aproximando da porta do
laboratório.
Doutor Judd, de pé, diante duma pequena mesa, examinava um
líquido qualquer no fundo dum tubo. Quando notou a presença do
inspetor deixou o tubo sobre a mesa e, descalçando as luvas de
borracha, ajeitou os óculos, indo até ele.
— Inspetor! A que devo a honra de tua visita? Graças-a-deus fui
julgado inocente. Obrigado por não ter me acusado.
— Nada tens a agradecer, doutor. Não te acusei porque acreditei,
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Capítulo IV
Inspetor Jaime Patrício e capitão Edu conversavam na sala dele,
no edifício da Scotland Yard.
— Mas, Jaime. Tens certeza de que o conseguirás prender?
— Não sei, Edu. Tenho certeza de que é o assassino mas duvido
muito que o possamos levar ao patíbulo. Em todo caso, sempre há
outros métodos, como...
A porta da sala foi aberta, nesse momento, e Tom entrou,
contente.
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Chateleine - sf Pequena corrente, geralmente ornamentada, que se prende ao
relógio de bolso. Nota do digitalizador. Extraído de dicionário KintHost.
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Pituí (Pitohui) – Peculiar gênero de aves canoras da sub-família
Pachycephalinae, encontrado nas florestas tropicais da Nova Guiné. Pássaro
incomum, pois é o único, em todo o mundo, que possui um tipo de toxina, presente
na pele e nas penas, chamado de batracotoxina, os mesmos compostos presentes nas
rãs dendrobatas. Foi descoberto recentemente e pouco se sabe sobre sua vida, sendo
diurno, se alimentando de besouro da família Melirydae, onde consegue, dalguma
forma, absorver o veneno e o depositar no próprio corpo. Os nativos das ilhas onde a
ave habita não a comem, pois sabem que o veneno provoca sensação de dormência e
paralisia bucal. Se pode saber a toxicidade conhecendo a coloração da espécie. O
Pituí-marrom é pouco venenoso, ao contrário do Pituí-de-penacho, com penas
vermelhas e pretas, que é o mais venenoso. Espécies: Pitohui kirhocephalus, Pitohui
dichrous, Pitohui incertus, Pitohui ferrugineus, Pitohui cristatus, Pitohui nigrescens
Nota do digitalizador. Extraído de http://pt.wikipedia.org/wiki/Pitohui
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O segredo da bíblia
Capítulo I
a pequenina cidade de Warrington, situada no condado de
Alencastro, era imensamente conhecido o excêntrico
colecionador de livro raro, Godofredo Smith. O diziam
ianque. Na verdade era mas, apesar disso, se considerava inglês.
Residia numa casa de sua propriedade na imediação da rua Três,
de um só andar, e tinha como único companheiro um velho criado
que lhe fazia todo o serviço.
Eram cerca de 9h quando o criado, entrando na biblioteca,
anunciou a visita de Jorge Parker.
— Jove! Estás ficando velho, meu caro, disse Godofredo Smith,
se dirigindo ao criado. Por que não o mandaste entrar?
O visitante entrou e a porta foi fechada. Era um homem alto,
bem trajado e, a julgar pela quantidade de cabelo prateado, devia
ter 50 anos.
O escritório onde foi recebido era bem amplo e todo circundado
por altas estantes envidraçadas. Uma larga mesa repleta de papéis e
livros ficava, mais ou menos, no centro da sala. Ao lado um velho
grupo de couro e em frente um desses relógios enormes,
antiqüíssimos, que marcam as luas e o tempo.
Jorge Parker era, também, maníaco em colecionar livro raro e
com uma vantagem sobre Godofredo Smith: Era muito rico e os
podia adquirir mais facilmente que ele, o que fazia nascer certa
animosidade entre ambos. Apesar disso eram amigos e sempre que
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Capítulo II
Capitão Edu Brown, da Scotland Yard, estava em sua mesa de
trabalho, quando o detetive Malloney entrou.
— Tom, aqui está uma carta pra ti.
O rosto do detetive foi se transformando à medida que os olhos
corriam no papel.
— Algo mau?, Tom.
— Sim, chefe. Leias.
— Podes embarcar, Tom. Terás sete dias de licença.
Sentado no assento do trem que o conduziria a Alencastro, Tom
se lastimava não ter encontrado seu companheiro Jaime Patrício pra
se despedir. Era a primeira vez que trabalharia sozinho. Abriu a
carta mais uma vez e leu:
Senhor detetive Tom Malloney.
Quando receberes esta tomes o trem a Alencastro e te
dirijas ao posto policial da cidade de Warrington. Teu amigo
Jorge Parker foi assassinado. Me encontrarei contigo no
posto policial.
Godofredo Smith
— Quem seria esse sujeito? — Pensou Tom.
Quando entrou no posto policial de Warrington, foi atendido por
um policial.
— Procuro um homem chamado Godofredo Smith.
O policial o introduziu numa sala onde estava sentado sargento
Higgins. Tom Malloney apresentou sua credencial e pediu ao
sargento que o levasse à presença do comandante do posto.
— Perfeitamente, senhor. — Respondeu, afavelmente, sargento
Higgins, a quem aquele inesperado conhecimento com um
verdadeiro detetive de Londres dava imensa satisfação.
Tom entregou a capitão Hoggart, chefe do posto, uma carta de
capitão Edu Brown.
— Teremos muito prazer em ter tua colaboração neste caso. —
Disse Hoggart, após ler a carta. — Sargento Higgins trabalhará
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contigo.
— Muito obrigado. Se me permites, desejo falar com um homem
chamado Godofredo Smith, que deve estar aqui, me esperando.
Sargento Higgins o conduziu ao homem que procurava e a quem
Tom se fez apresentar.
— Foi muita gentileza de tua parte ter vindo, senhor. — Disse
Godofredo. Eu e Jorge éramos amigos e nada mais faço além de
atender a seu último desejo.
— Último desejo? — Perguntou Tom.
Godofredo Smith relatou tudo o que se passara na noite em que
Jorge fora assassinado.
— Ele previa, então, o que lhe aconteceu! — Exclamou Tom.
— Sargento, sabes algo da vida de Jorge nesta cidade?
— Muito pouco. Sei que tem um filho que não tem muito boa
fama na redondeza. Prendi este colecionador de livro raro. —
Apontando a Godofredo Smith — Ele o criado eram os únicos
presentes quando cheguei.
— Sim. — Disse Tom — Mas acho que o criado não está aqui.
Creio, sargento, pelo que ouvi, que este homem não é culpado. Se
Jorge morreu com um tiro atrás da cabeça e este homem estava
justamente diante dele, como poderia ter disparado o tiro?
— Sim. É evidente. — Respondeu sargento Higgins.
— Não há motivo, pois, pra este homem estar preso.
Capítulo III
O detetive Tom Malloney estava sentado a uma mesa dum
pequeno hotel de Warrington. Há três dias que estava naquela
cidade e nada conseguira sobre a morte de Jorge Parker. Naquele
instante seu pensamento estava em Jaime Patrício, e no que
estariam pensando dele os rapazes do posto policial da cidade.
— Ó! Se Jaime estivesse aqui!... Era o único homem que me
poderia ajudar...
O que intrigava a Tom, era o fato da janela do escritório onde
Jorge Parker fora assassinado estar aberta. O tiro, sem dúvida,
partira dali, mas qualquer pessoa teria deixado marca de sapato na
terra e, demais a mais, chovera em Warrington no dia anterior. Mas
nenhuma pegada fora encontrada no terreno. A única pessoa que
teria interesse em liquidar o velho Parker era seu filho Carr, pois
herdaria toda a fortuna. Mas como poderia se aproximar da janela,
desfechar um tiro no pai e fugir sem deixar marca no solo? Estava
meditando sobre isso quando a voz de sargento Higgins o despertou
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de seu pensamento.
— Venho da casa de Carr Parker e consegui saber umas coisas
que deixam o rapaz em má posição. Um empregado me disse que o
patrão tivera uma discussão com o filho na noite em que foi
assassinado. Ouviu Carr ameaçar o pai por ele estar empregando
toda a fortuna na compra de livro raro.
Sargento Higgins, enquanto falava, não cessava de passar o
lenço no rosto. Suava em bica e parecia agitado.
— Creio que é evidente, inspetor Tom.
Tom deu um soco na mesa.
— Há três dias que só sabes dizer É evidente a tudo e até agora,
sargento, ainda não pude ver algo que fosse evidente.
— Ó!, inspetor. Minha dedução é a seguinte: Carr sabia que o
pai veria Godofredo Smith. Saiu atrás dele e até lá se dirigiu,
também. Da janela que estava aberta matou o pai, pois tudo que o
velho tinha ele sabia que lhe pertenceria. Portanto, pra que o velho
não continuasse a gastar na compra de livro, resolveu o liquidar.
— Bela teoria!, sargento... Creio, então, que só nos resta prender
o rapaz. Agora escutes. Como é que o rapaz não deixou pegada no
terreno? Penses, sargento, antes... de falar.
— É, isso é verdade. Com-os-diabos! Já prendi o rapaz.
— Vamos ao posto, sargento. Quero ver esse rapaz.
Capítulo IV
Carr Parker era um jovem de estatura mediana, cabelo castanho
e extremamente pálido.
Respondeu, embora muito nervoso, a todas as perguntas que o
detetive Tom Malloney fez, e acrescentou:
— É verdade que discuti com meu pai por ele estar gastando
muito dinheiro com livro raro mas tens de acreditar em mim,
inspetor. Não... matei... meu... pai...
Sargento Higgins apreciava, num canto, o interrogatório, quando
um policial se dirigiu a ele.
— Sargento, aí está um homem que te procura. É um tal Miguel
Curtis. É a terceira vez que vem àqui te procurar.
— Com mil bombas! O Diabo que o carregue! A ninguém
atenderei! Não vês que estou ocupado?
— O quê? — Perguntou Tom, que ouvira as últimas palavras do
policial. Miguel Curtis aqui, em Warrington, e no posto policial? O
mandes entrar. Disse o recém-vindo:
— Olá, Tom. Não sabia que estavas aqui!
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Capítulo V
Meia hora depois entrava na residência de Godofredo Smith.
— Ó!, inspetor. Faças o favor de te sentares. A que devo a honra
de tua visita?
— Te lembras, mais ou menos, a posição em que caiu Jorge
Parker?
— Perfeitamente. Jove, meu empregado, acabava de trazer uma
bebida e a colocou sobre minha mesa. Eu estava sentado como
agora, nesta mesma posição, e Jorge se levantou pra se servir,
quando ouvimos um pequeno estalido.
Tom se levantou, se encostando à mesa, e olhou dela à janela.
— Sim. É isso mesmo! — Murmurou consigo mesmo — Não
podia ter sido dado da janela. Obrigado, Jaime.
Se tivesse sido ditas em voz alta o obrigado final teria intrigado
a Godofredo Smith.
— És colecionador de livro raro?, senhor Godofredo.
— Sim. É uma mania que tenho.
Tom começou a examinar as estantes apinhadas de livro.
— A mim parecem todos iguais mas, com certeza, devem valer
uma fortuna.
— Ó, meu-deus! — Disse, rindo, Godofredo Smith — Nem
todos. Não sou tão rico assim pra poder comprar tantos livros raros.
Os olhos de Tom se detiveram sobre um pequenino livro
encadernado a couro que estava entre dois grossos volumes.
— Isso me faz lembrar de meus tempo de escola. — Disse,
retirando o livro que olhara e que era uma pequena bíblia.
Ao o retirar da estante sua intenção era bem outra da que
Godofredo pensara.
A contemplou alguns minutos e viu gravadas na última página as
palavras Miguel Curtis & Cia, Antiguidades, Londres.
— Isso terá valor? — Perguntou, simulando indiferença.
— Não, inspetor. É uma relíquia de família. Godofredo Smith
pediu licença a Tom e se retirou um instante.
O tiro partira dali e agora Tom estava certo disso.
Encontrara ali a bíblia que Miguel Curtis vendera a Jorge
Parker. Porque Godofredo dissera que era uma relíquia de família?
O grande relógio bateu horas e Tom se virou pra ver.
Seus olhos foram do relógio à mesa e vice-versa.
Soltou um pequeno assobio e abriu a porta do relógio. Olhou o
interior e não levou muito tempo pra encontrar, no lugar onde é
marcado o tempo, uma coisa preta que lhe chamou a atenção. Antes
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Capítulo II
Capitão Edu Brown estava triste e aborrecido, sentado em seu
gabinete de trabalho, na Scotland Yard.
Dera ordem a seus subalternos pra que não o incomodassem
naquela tarde. Queria estar só, devido à morte dum de seus mais
prestimosos agentes, inspetor Morgan.
Essa ordem não se estendia, naturalmente, à pessoa de Jaime
Patrício, que, desde longos anos, era o braço direito de seu chefe.
A porta se abriu, dando passagem ao ás dos detetives, inspetor
Jaime Patrício.
Capitão Edu ergueu os olhos a ele e murmurou um alô, Jaime,
distraído.
Tanto um como outro bem sabiam que a coisa não poderia estar
pior. Fracassaram no cerco no qual poderiam ter apanhado toda a
quadrilha. As palavras que Edu Brown pronunciara não tiveram,
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Capítulo III
A última edição do Times saíra meia hora antes de Jaime pedir
ligação ao gabinete de seu chefe.
— Alô, Edu. Aqui é Jaime. Leias a última página do Times. Está
muito interessante.
— Olhes, Jaime. Sei o que estás querendo dizer, pois também
estava te procurando prà mesma coisa. Creio que já poderás agir.
Se bem que seja desnecessário, advirto que deves ter muita cautela.
Estamos trabalhando no escuro.
Jaime Patrício desligou o telefone e, tomando o jornal entre as
mãos, abriu pra ler novamente o que tanto o interessava:
Senhor D. Acho que tua associação me interessa.
Aguardo tuas ordens. – Jolly Dorth.
Jaime ia murmurar consigo mesmo qualquer coisa, quando a
porta de seu apartamento foi aberta e Tom Malloney entrou,
satisfeito.
— Tom, irei à chefatura. Quero que procurares saber onde mora
uma pessoa chamada Jolly Dorth.
— Hum! É bonita?, Jaime.
— Talvez seja. Ainda não tive o prazer de conhecer.
Ao contrário do que sempre fazia, Jaime, nesse caso, não
guardava segredo a seu auxiliar. Assim lhe explicou, em breves
palavras, tudo que precisava fazer e explicou todo seu plano.
Perto da praça Piccadilly os dois detetives se separaram.
Jaime encontrou seu chefe às voltas com os jornalistas, quando
entrou em seu departamento, na Scotland Yard.
— Jaime, — disse o capitão Edu ao o ver — chegaste a tempo.
Roubaram o banco Westminster. Foram eles.
— O quê?!, Edu. A que horas foi isso?
— Cerca de uma hora. O guarda deu o alarme e foi ferido mas
um dos assaltantes foi morto por ele. Estavam com os capuzes
negros cobrindo o rosto.
— Edu, não quero perder tempo. Vamos ao necrotério, pois
preciso ver o corpo do sujeito.
Na mesa da morgue o homem que estava deitado apresentava
um orifício feito por bala um pouco acima da vista direita. A seu
lado estava um capuz preto.
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Capítulo IV
Eram oito horas da noite, quando Edu Brown entrou em seu
gabinete, seguido de Jaime. Tom Malloney já os esperava.
— Tudo bem, Jaime. Encontrei a residência da tal dama. Mora
em Glaucéster.
Jaime se despediu do chefe e desceu a escadaria do edifício,
acompanhado por Tom.
Um automóvel fechado estava parado a uns 20m quando os dois
detetives ganharam o passeio.
O chofer pôs o carro em movimento e, com um rápido golpe de
direção, o guiou de encontro a eles.
Jaime pressentiu a manobra do homem e previu o que iria
acontecer. Empurrou Tom ao lado no instante em que o carro,
subindo o passeio, batia contra a parede.
Correu atrás do homem, que deixara o carro e fugia
desabaladamente.
— Estavas com pressa, hem!, amigo. — Disse Jaime, o
segurando pela gola do casaco. Agora me dirás, direitinho, quem te
pagou pra isso.
— Não sei de coisa alguma, seu...
Jaime deu um soco que o atingiu em cheio no rosto.
— Não costumo ter contemplação com indivíduo de tua espécie
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Capítulo V
O dia seguinte surgiu encontrando a velha Londres coberta por
uma densa cerração.
Os dois detetives estavam sentados num trem com destino a
Glaucéster. Disse Jaime:
— Creio que deveríamos ter avisado Edu, pois, além de nós
dois, ninguém sabe dessa nossa viagem. E mesmo, talvez, precise
de nós.
O trem corria e Tom olhava a vegetação que se estendia ante
seus olhos:
— Creio que o nevoeiro não levantará tão cedo.
Jaime Patrício acabara de ler um papel dobrado em quatro que
retirara do bolso.
— Com mil diabos! — Exclamou, se dirigindo a Tom — Se
entendo o que significam estas palavras: Horse Campbell. 20 de
maio de 1908. Ponhas o A A, o B B, o L L e empurres, A 3.
(Os segundos A, B e L estão escritos de pernas ao ar).
Tom, que se inclinara sobre o papel que Jaime tinha entre as
mãos, soltou um grunhido.
— Caramba!, Jaime. Onde achaste esse negócio? Parece um
hieroglifo.
— O que é não sei mas tenho certeza de que este papel contém a
chave duma coisa que muito nos interessa.
Logo que desembarcaram, Jaime Patrício foi ao posto policial de
Glaucéster. Foi dizendo ao chefe do posto, ao mesmo tempo que
mostrava a credencial.
— Sou inspetor Patrício, da Scotland Yard. Desejo que me
informes onde fica a residência duma moça chamada Jolly Dorth.
— Pois não, inspetor. Esta senhorita é muito conhecida em
nosso condado. É órfã e vive com uma velha ama numa fazenda
que o pai lhe deixou, situada no vale do Avão. O caminho deve
estar péssimo, devido à chuva que caiu ultimamente. Poderei
arranjar um guarda pra te servir de guia.
— Muito obrigado, capitão, pela gentileza, mas creio não haver
necessidade disso. Trouxe comigo meu auxiliar.
Jaime se retirava num carro que o chefe do posto lhe pusera à
disposição, quando ouviu a voz dele:
— Sigas por Brístol, inspetor. A fazenda fica naqueles lados.
A fazenda ficava na região dos vales que compreendem as terras
baixas situadas ao longo do Severno e do Avão, e que desembocam
em Brístol.
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Capítulo VI
A primeira coisa que Jaime Patrício fez ao chegar a Londres foi
tomar uma pequena refeição. Em seguida foi à Scotland Yard.
Capitão Edu Brown estava mal-humorado naquela manhã.
— Jaime! Onde diabo estiveste? Há dois dias que te procuro e
ninguém sabia onde estavas.
— Não precisas ficar aborrecido, chefe. Estive dando um
passeio em Glaucéster.
— Glaucéster! Não queres que eu fique aborrecido e quando
penso que estiveste na pista dalguma coisa me dizes, com a cara
mais cínica, que andaste passeando. Sou muito amigo, é verdade,
mas isso não quer dizer que não te possa advertir. Ainda sou teu
chefe.
Jaime soltou uma risada ante as últimas palavras do capitão Edu
e o tranqüilizou, contando, rapidamente, todo o sucedido, inclusive
a morte de Tigre.
— Bom trabalho, Jaime. Mas devias ter me avisado antes de ir.
Jaime se despediria do chefe, quando foi convidado a se sentar.
— Jaime, aconteceram dois casos em tua ausência. Fomos
certificados, por telefonema anônimo, de que a quadrilha está
explorando o negócio de entorpecente. Localizamos a chamada,
que partiu duma drogaria na travessia Charing, mas até agora nada
conseguimos. O segundo caso é de menor importância. Um antigo
sentenciado foi assassinado e seu corpo atirado na escadaria deste
edifício. O homem trazia um cartaz nas costas, preso por uma faca
enterrada até ao cabo, que dizia: Assim fazemos aos delatores.
Não sabemos quem o matou.
— Está claro, chefe, que era o homem do telefonema. As duas
coisas se completam.
— É verdade! Ando tão preocupado que nem pensei nisso.
— O homem disse algo que nos pudesse auxiliar?
— Sim. Disse que os entorpecentes eram lançados pra entrar em
circulação por meio duma pequena embarcação com o nome de
More. Demos uma busca em todo o Tâmisa e nem sombra do
barco.
— Chefe, eu gostaria de ir dar uma volta até as docas. Queres ir
também?
— Certamente.
O dia não estava muito favorável a uma busca nas docas.
Um intenso nevoeiro se estendia em todo o Tâmisa, reduzindo
muito a visão.
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Capítulo VII
No bairro de Shadwell, em ampla sala duma casa, toda escura,
quase quarenta pessoas ouviam, sentadas em cadeiras nada
confortáveis, a voz rouca e trêmula dum homem.
Nenhum deles conhecia a identidade do homem que falava e que
era seu chefe nem poderiam dizer se aquela voz que ouviam era
natural ou simulada.
— Meus amigos, dois traidores já pagaram com a vida o
prejuízo que nos causaram. A polícia descobriu e varejou nosso
esconderijo de entorpecente mas o delator já pagou com a vida o
preço da traição. É preciso que todos vós tenhais cautela em vossos
movimentos. A polícia nos aperta cada vez mais em suas malhas.
Nenhum de vós me conheceis e se a polícia nos apanhar o prejuízo
será somente vosso, porque vos digo que escaparei.
Há um inspetor, na Scotland Yard, que está de posse da chave de
nosso esconderijo. Esse homem precisa morrer porque enquanto
estiver vivo nossa vida correrá perigo. Nosso esconderijo, na
floresta Dean, não mais pôde ser utilizado e nosso barco também
está impraticável.
Doravante todas nossas reuniões serão feitas em nosso esconderijo
principal. Agora prestai atenção: Darei ordens.
Agente número 11, aprisiones a moça de Glaucéster. A faças vir a
esta casa como se fosse a mando do inspetor Jaime Patrício.
Agentes 15 e 2, vede se conseguis os papéis que detetive Jaime
tirou do bolso de nossos agentes mortos mas evitai violência e
tende todo cuidado.
Amanhã assaltaremos o banco União de Capital e o produto será
repartido como sempre. Esse assalto não pode falhar e vos lembrai
de que não estarei convosco.
A voz cessou. Pouco a pouco a casa se foi esvaziando e a
quadrilha se dispersou.
Eram 8h da noite quando o detetive Jaime Patrício entrou no
gabinete do chefe.
— Alô, Edu. Leste os jornais?
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Capítulo VIII
O dia seguinte surgiu encontrando a cidade liberta do manto de
neblina.
Jaime e Tom foram, a pé, até a proximidade de Piccadilly.
— Tom, verei Edu Brown mas tenho um serviço pra ti. Te
lembras do papel que me disseste parecer um hieroglifo? Pois bem,
nesse papel se encontra a chave do esconderijo da quadrilha. Quero
que indagues onde reside um homem cujo nome é Horse Campbell.
Te espero, às 3h, no Rouge.
Jaime foi, a passos largos, à chefatura, sem mesmo se preocupar
com o homem que o seguia.
A ninguém estava disposto a fazer frente naquela manhã e
mesmo porque tinha várias coisas a tratar e delas dependia o êxito
da Scotland Yard.
Dobrou a primeira esquina, entrando numa casa de bugiganga, e
dentro em pouco perdia de vista o homem que o seguia.
Disse, Jaime, se sentando:
— Edu, creio que estamos bem perto do fim. Se há mais tempo
eu tivesse dado atenção a uma coisa que eu julgava sem valor tudo
já estaria terminado. Mandei Tom fazer umas averiguações. Se me
trouxer a resposta que espero tudo sairá bem.
Meia hora mais tarde Tom entrou suando e dando mostras de
cansaço, no gabinete do capitão Edu Brown.
— Ei!, Jaime. Caramba! Aqui ninguém conhece esse nome e nas
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então, o homem.
Capítulo IX
A noite escura facilitava, de certo modo, a ação da polícia.
Edu Brown, Jaime e Tom estavam agachados entre duas
sepulturas, donde avistavam perfeitamente a porta do túmulo de
Horse Campbell.
Vários policiais estavam espalhados na proximidade e todos, da
mesma forma, escondidos como seus chefes.
A maior parte estava aparelhada de metralhadora manual mas
tinham ordem de atirar somente em último recurso.
O relógio da torre de entrada do cemitério começou a dar as
badaladas das 10h, quando o primeiro homem, tendo um capuz
negro esconder a feição, parou um instante à porta da cova e,
depois de abrir, entrou.
Pouco a pouco outros foram chegando e Jaime contou catorze
homens.
— Jaime, — disse Edu, baixinho — creio que é melhor
atacarmos agora.
— Não, chefe. Deixemos que comecem a sair. Será melhor
assim.
Os policiais começaram a sair e a tomar posição.
Quando os bandidos começaram a deixar a cova receberam a
voz de se render. Jaime berrou:
— Vos rendei! Estais todos cercados!
Um tiro partiu e um dos policiais levou as mãos ao ventre e,
dando uma volta sobre si mesmo, caiu, em cheio, ao chão.
O tiroteio principiou, com baixa de parte a parte.
As metralhadoras dos homens da polícia vomitavam fogo e
chumbo num matracar ininterrupto, levantando, do meio dos
bandidos, gritos de dor e barulho de bala contra pedra.
Um dos homens da quadrilha se esgueirou nas sepulturas e se
dirigiu à porta de saída do cemitério sem ser percebido pela polícia.
Quando o tiroteio cessou capitão Edu Brown verificou que, dos
catorze homens que entraram na sepultura só treze ali estavam.
— Jaime! Creio que um deles fugiu.
— Sim, Edu. Sei quem é. Morgan tinha razão ao dizer que eu o
conhecia.
Eram 11h da noite quando Jaime Patrício se dirigiu ao bulevar
Belgrave.
Dissera a Tom que se não estivesse de volta à chefatura até 1h
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Capítulo X
Eram 9h da manhã quando Jaime Patrício e Tom Malloney
entraram no gabinete do chefe, capitão Edu Brown, a chamado.
— Jaime, meus superiores resolveram te dar dois meses de férias
e me chamaram pra saber minha opinião. Minha resposta já sabes
qual é.
Jaime agradeceu a Edu e saiu acompanhado de seu auxiliar.
— Onde passarás esses dois meses? — Perguntou Tom.
— Ainda não sei. Creio que ficarei aqui mesmo.
— Não, Jaime. Não ficarás aqui. Há uma casa perto da floresta
Dean, que é muito aprazível. Além do mais, sua dona nos receberá
com prazer.
— Quem? Jolly Dorth?
Tom o olhou, piscando um olho, e os dois detetives
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Contrário à evidência
Capítulo I
polícia fora chamada prum caso de assassínio no número 3
da rua São Jaime.
Capitão Edu Brown e detetive Tom Malloney entraram na
residência de Vick Midlestone pela porta da frente, que estava
aberta. Estava mal-humorado por não saber, desde o dia anterior,
do paradeiro de Jaime Patrício.
A casa era de construção antiga, de sólidas paredes e grande
demais pros moradores. Sir Vick Midlestone, uma velha criada e
um jardineiro compunham todo o pessoal da casa.
Edu Brown entrou num amplo escritório, confortavelmente
mobiliado e circundado por altas estantes que iam do chão ao teto.
Alem dessas estantes, a sala continha mais uma larga secretária
preta, um grupo de couro marrom e uma pequena escada, que
servia, naturalmente, pra retirar os livro das prateleiras mais altas.
Estava tudo muito limpo, indicando que o proprietário era amigo da
ordem e do asseio.
O corpo do homem jazia de bruços sobre o tapete da sala, numa
poça de sangue, com um ferimento produzido por arma de fogo de
calibre pequeno, na altura do pulmão direito.
Um rapaz magro, ruivo e extremamente pálido estava sentado
numa cadeira e, pelo olhar, parecia alheio a tudo que se
desenrolava naquele ambiente.
— Ei!, rapaz. — Disse capitão Edu, depois de ter examinado o
cadáver e posto sobre a mesa um pequeno revólver niquelado, com
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Capítulo II
Tom Malloney estava no gabinete do chefe quando a porta foi
aberta e o detetive Jaime Patrício entrou.
— Jaime! Onde estiveste nestes dois dias? Te procurei em toda
parte. Vick Midlestone foi assassinado.
— Vicky Midlestone! O professor? — Perguntou Jaime, se
sentando.
— Sim. Tudo faz crer que o filho seja o assassino, ao menos o
rapaz está em boa complicação e será difícil se safar dela.
— Santo-deus!, Edu. Não gosto de ouvir falar que um filho
matou o pai. Será que o rapaz está assim tão complicado na
história?
— Sim. Tom está cuidando do caso.
— Não, chefe. Eu estava. Desde que Jaime chegou o caso é seu.
— Bem, senhores, se me dais licença — disse Jaime — irei agir
porque não gosto de estar parado. Venhas, Tom, e vás dizendo, no
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Capítulo III
— Então: O rapaz está encrencado? — Perguntou Edu Brown,
quando Jaime entrou em seu gabinete.
— Não faço juízos temerários. Daqui a meia hora saberei se
estou com a razão.
— Mas Jaime, hás de concordar que não há algo que absolva o
rapaz e implique outra pessoa no caso.
Jaime desceu a escadaria da Scotland Yard, procurando o doutor
Munt, que era o homem que Jaime precisava. Uma só palavra dele
poderia absolver ou condenar Owen Midlestone.
— Alô, doutor. — Disse Jaime, ao o ver — Como vai a dor de
cabeça?
— Vás ao inferno, rapaz. E digas logo o que queres de mim. Não
tenho tempo a perder.
— Doutor, a que horas, mais ou menos, morreu Vick
Midlestone?
— Não sei ao certo. Eram 6h, quando examinei o corpo, e o
homem já devia estar morto há uma hora. Portanto, é provável que
o crime tenha sido praticado entre 5h e 5:30h.
— Muito obrigado, doutor Munt.
Jaime se dirigiu, rapidamente, ao gabinete de seu chefe, capitão
Edu Brown.
— Ei!, chefe. Vamos à casa de Owen Midlestone, e tu, Tom,
procures saber quem é o advogado dele e o leves até lá.
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Alice no país das maravilhas e Tragédias. Mantido os títulos originais, em inglês,
por motivo óbvio. Nota do digitalizador.
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A vingança do mutilado
Capítulo I
nspetor Jaime Patrício, sentado diante de capitão Edu, em sua
sala, no edifício de Scotland Yard, segurou, em segunda vez,
um exemplar do Chronicle, que estava sobre a mesa, a fim de
ler a notícia sobre o mutilado que fora encontrado na escadaria do
dique do Tâmisa, e seu rosto ia aos poucos adquirindo uma
expressão de ódio, à medida que seus olhos corriam nas colunas do
jornal, onde se lia em menos de dez linhas:
Já terá sido descoberta, pela polícia, a identidade do
homem, vítima de bárbaro e cruel atentado, encontrado
ontem, nas primeiras horas da manhã, completamente
mutilado na escadaria do dique?
Jaime soltou novamente o jornal sobre a mesa, se voltando ao
capitão.
— Edu, quero que me contes como o encontraram e em que
estado.
— É pouca coisa, Jaime. Juro que nunca vi selvageria maior que
a praticada naquele homem...
— O mutilaram horrivelmente! Está no hospital São Tomás e
aguardo o telefonema do médico a fim de seguir até lá. Duvido, no
entanto, que consigamos algo, porque está cego, mudo e sem mão.
Além disso os médicos acreditam que não resistirá muito tempo.
— Disseste que o cegaram, o emudeceram e cortaram as mãos?
— Sim.
— Edu, nesse caso iremos ao hospital. Quero ver esse homem,
porque deve haver algo importante atrás desse atentado e que prova
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Doryol Taborda A dama da túnica escarlate
ser ele conhecedor do que quer que seja essa coisa. O deixaram
vivo, porém, em condição de nada poder dizer.
— É verdade. Mas ainda não conseguimos descobrir a
identidade do homem e isso...
O telefone sobre a mesa tilintou no momento em que capitão
Edu terminaria a frase. Se curvando, segurou o receptor.
— É capitão Edu?
— Sim.
— Um momento, capitão. Doutor Hilário falará.
Depois de breve pausa o doutor se fez ouvir.
— Capitão, creio que já podes vir. Nosso homem foi
identificado há meia hora por um cavalheiro cujo nome é Perri
Nander, que me disse ser o mutilado, empregado dum amigo, Paulo
Heavens, residente em Lisson Lane e que desaparecera há dois
dias.
— Está bem, doutor. Obrigado por tudo. Estarei aí dentro de
poucos minutos.
Desligando o telefone, capitão Edu deixou, apressado, a sala em
companhia de inspetor Jaime Patrício.
No carro que os conduzia ao hospital, Jaime se dirigiu ao
capitão:
— O guarda que encontrou o homem notou algo fora do comum
ou teria ouvido o ruído dalgum carro?
— Nada. Foram os gemidos do homem que o atraíram.
E como estava a noite?
— Clara. As primeiras horas, com cerração, mais tarde, ficando
completamente escura. O guarda afirma que no momento em que
ouviu os gemidos havia neblina cerrada.
— Uma noite propícia. Não?
— Não há dúvida...
Doutor Hilário, homem afável, refletindo saúde em todo o
corpo, conduziu os dois agentes da Scotland Yard através do
corredor do hospital São Tomás, até ao quarto onde estava o
mutilado, que jazia, imóvel, sobre o leito no momento em que os
dois inspetores entraram. Quando capitão Edu falou ao doutor ele
se mexeu na cama, como que assustado com a nova voz. Jaime se
aproximou e, colocando levemente a mão sobre a testa do homem,
cuja cabeça estava toda envolvida em gaze, falou docemente:
— Não tenhas receio. Sou inspetor Jaime Patrício, da Scotland
Yard, e sou teu amigo. Fiques tranqüilo porque encontrarei o
homem que te fez isso.
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Doryol Taborda A dama da túnica escarlate
Capítulo II
No terceiro andar dum edifício sombrio e majestoso, em
Piccadilly, um homem ainda jovem, esbelto de corpo, ouvia
sentado, com extraordinária calma, a ameaça que lhe fazia outro
homem, baixo, gordo e calvo, que gesticulava com ar ameaçador.
— É o que te digo!, Perri Nander. Te arrependerás! Nancy é
filha de Paulo Heavens!
— Basta!, João. — Exclamou Perri, se erguendo da cadeira. —
Nada direi a Paulo sobre isso porque não acredito no homem que
inventou essa história.
— Perri, és o advogado de Paulo e tens obrigação de lhe contar
isso. Sabes que sempre suspeitou que a filha fosse viva.
— Não, João. Nada direi.
— Queres o dinheiro de Paulo, bem sei!, Perri.
— E por que não? Não fez o testamento, legando tudo que
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●
Eram 6h em ponto quando Jaime deixou o edifício da chefatura.
Ia até seu apartamento, porém uma força misteriosa dentro de si o
impelia a Lisson Lane.
Havia qualquer coisa no fundo daquele atentado e bem a
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Capítulo III
A casa na qual residia Paulo Heavens era um prédio de dois
andares, isolado, bastante afastado da rua e todo cercado por alto
gradil. A distância dava a impressão duma casa deserta e solitária.
De perto essa impressão era ainda mais acentuada.
Jaime e Tom desceram do carro que os conduzira até ali e
caminharam ao portão. Fizeram soar a campainha algum tempo
sem que alguém viesse atender. O portão da rua estava aberto e os
dois detetives entraram, seguindo numa aléia de aloendro.12 Na
porta da residência fizeram soar o tímpano alguns minutos. O
silêncio foi a resposta que obtiveram.
— Tom, tens contigo alguma chave que possa abrir esta porta?
— Sim. Era justamente isso que eu estava pensando fazer.
Poucos segundos depois estavam no saguão da casa. Jaime
chamou várias vezes o nome de Paulo Heavens, sem obter resposta.
Percorreram todos os recantos sem deparar viva alma. Ao lado dum
dos últimos aposentos por onde passaram, Jaime encontrou uma
pequena escada de cinco degraus que parecia conduzir aos alicerces
da casa. Desceu nela, ficando diante duma porta de aço fechada,
12
Aloendro, também conhecido por loendro, cevadilha, adelfa (Nerium oleander) é
um arbusto ou arvoreta da região mediterrânea que no verão se cobre de flor de
cores que vão do cor-de-rosa vivo ao branco. Encontrado em ravina, margem ou
leito seco de curso dágua e berma (acostamento) de estrada. Muito utilizado como
barreira em separador central de auto-estrada. Nota do digitalizador. Extraído de
http://entretejodiana.blogs.sapo.pt/23412.html
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Doryol Taborda A dama da túnica escarlate
Capítulo IV
Era ainda muito cedo na manhã seguinte e já o inspetor Jaime
estava na Scotland Yard. Assinou vários papéis que estavam sobre
a mesa e, se levantando, caminhou até a janela. Uma chuva miúda e
impertinente caía sobre Londres naquele dia. Jaime ficou alguns
momentos contemplando as gotas dágua que escorriam, umas após
outras, na vidraça.
— Por que teriam assassinado Paulo Heavens? — Interrogou a si
próprio. Subitamente uma idéia lhe acudiu à mente: Esse crime
teria ligação com a mutilação do criado?
A porta de seu gabinete foi aberta e capitão Edu entrou e disse:
— É fantástico. Tudo parecia indicar suicídio. No entanto...
— É verdade. Mas ainda existem três coisas que me preocupam.
A primeira é a chave estar sobre a mesa, o que não posso
compreender, a menos que o assassino tivesse uma duplicata. A
segunda é a filha de Paulo Heavens. E a terceira é o
reconhecimento do criado.
— O que tem isso?
— Doutor Hilário também era amigo de Paulo e, no entanto, não
reconheceu o criado dele, mas pôde, entretanto, gravar na memória
certos detalhes da casa...
Jaime foi ao armário. Apanhou a capa, a vestiu e segurou o
chapéu pra sair.
— Aonde irás?
— Procurar Perri Nander, o advogado de Paulo Heavens.
Inspetor Jaime desceu do carro diante dum edifício em
Piccadilly.
O advogado o recebeu amavelmente, o convidando a se sentar.
— Estou realmente apatetado, inspetor, com a morte de Paulo.
Nunca pensei que fosse capaz de suicidar.
— É verdade, senhor Nander, mas a vida tem dessas surpresas.
Tens conhecimento dalgo que o pudesse levar a cometer esse gesto
de extremo desespero?
— Absolutamente, inspetor. Tudo na vida lhe parecia sorrir.
— Deixou testamento?
— Sim, inspetor. Tudo que possuía, isto é, 70.000 libras, deixou
a três de seus amigos, que são Doutor Hilário, João Lazist e eu.
— Senhor Nander, desejo fazer uma pergunta que, como
advogado de Paulo Heavens, talvez possas responder.
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— Perfeitamente, inspetor.
— Sabes se deixou alguma filha viva?
— Não sei. Por que fazes tal pergunta? Mas seja por que for,
devo acrescentar que não tenho conhecimento da existência
dalguma filha.
— Estás certo do que me dizes?
— Certíssimo, inspetor.
Jaime se ergueu da cadeira e estendendo a mão a Perri Nander,
murmurou um muito obrigado, com um sorriso nos lábios.
A figura da secretária do advogado, que assomou à porta no
momento em que se retirava, lhe chamou a atenção. Era alta e
esguia e seus traços fisionômicos tinham certa semelhança com os
de alguém que Jaime estava certo já ter visto.
De volta à Scotland Yard seu pensamento estava na carta que
encontrara na mesa do escritório de Paulo Heavens, e em X, seu
misterioso signatário.
Jaime não dissera ao advogado Perri Nander que Paulo fora
assassinado. Isso porque achara estranho que negasse ter
conhecimento da existência da filha do amigo, quando o homem
que escrevera a carta a Paulo Heavens dissera que Perri Nander era
sabedor disso.
Era grande o desejo, do inspetor, de se encontrar com esse
senhor X, quando entrou no edifício da chefatura.
Caminhou até a sala 47. entrando, foi dizendo antes que o
capitão falasse algo:
— Edu, mandes notícia, aos jornais, sobre a morte de Paulo
Heavens. Digas que foi assassinado mas que estamos na pista do
criminoso.
— Mas, Jaime, que história é essa?
— Paulo Heavens foi assassinado. O homem que o matou está
certo de ter praticado um crime perfeito, como estou certo de
descobrir, em poucas horas, de que maneira e porquê foi
assassinado. Com a notícia nos jornais ficará inquieto e já não
pensará que seu crime foi perfeito, pois que o descobrimos.
— Está certo, Jaime, mas...
— E, de mais a mais, Edu, creio que essa é a melhor maneira de
me encontrar com um tal senhor X, porque, se minha suspeita se
confirmar, virá me procurar.
Capitão Edu olhou a Jaime ao sair da sala. Sentia orgulho de ser
chefe do departamento em que o inspetor trabalhava. E concordou
que quase sempre, afora a amizade que os unia, Jaime parecia ser
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Capítulo V
Jaime deixou seu apartamento na travessia da rodovia Charing
às 6:30h da manhã seguinte. Queria fazer um pouco de exercício, e,
por isso, resolveu seguir, a pé, à Scotland Yard. Não era longe e
suas pernas necessitavam dum desentorpecente.
Quando chegou à chefatura era ainda muito cedo. Não obstante,
ali encontrou, em sua sala, inspetor Tom Malloney.
— Alô, Jaime. Estou chegando agora e ainda não preguei olho.
Eu e Betinho passamos toda a noite em Lisson Lane. Nada
descobrimos sobre o novo anestésico. Encontrei um caderno de
156
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●
—Inspetor Jaime! — Exclamou o advogado, se erguendo da
cadeira. Eu ia, justamente agora, te procurar. Não posso
compreender o que li nos jornais. Me deste a entender que fora um
suicídio e com surpresa, pra mim, li que foi assassinado.
— Sim, senhor Nander. Foi assassinado.
— Mas por quem? Eu era advogado de Paulo e te garanto que
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Capítulo VI
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●
Jaime, Tom e capitão Edu Brown, chegaram meia hora depois à
residência de Paulo Heavens, em Lisson Lane, e se encaminharam
diretamente ao gabinete particular da casa.
Inspetor Jaime acendeu uma vela que levara consigo, a
colocando na mesma posição em que encontrara a outra, no dia em
que Paulo Heavens fora assassinado. Depois pediu a Tom que se
sentasse no mesmo lugar em que encontraram morto senhor
Heavens. Feito isso se virou a capitão Edu.
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Capítulo VII
Eram 7:45h da noite, e Jaime estava em companhia de Tom, no
escritório de capitão Edu, pronto pra seguir viagem.
— Está certo, Jaime. Compreendo que não me queiras dizer o
motivo dessa viagem, porém o que quero é que me entregues, o
mais depressa possível, o homem que matou Paulo Heavens.
— Farei, Edu. Podes crer. Dentro de 18 horas, Antes do
mutilado morrer.
— Por quê?
— Já viste um homem sem mão, cego mudo acusar alguém?
— Nunca. Palavra que gostaria de ver isso.
— E nada te impedirá de ver. — Disse Jaime, caminhando em
direção à porta e saindo.
●
Depois que deixou o edifício da Scotland Yard, inspetor Jaime
Patrício, tomando um táxi, foi à estação de Vitória, seguindo no
trem do horário, na linha de Cantuária a Dôver, onde tomou o
vapor a Calais.
Sua missão na França era bem simples e Jaime não encontrou
dificuldade em encontrar um médico de nome Geraldo Saussi, em
vista da solicitude dum agente da polícia francesa a quem Jaime
fizera, outrora, um grande favor e que, por isso, lhe dedicava muita
afeição. Tendo explicado a doutor Geraldo o motivo de sua ida a
Paris, ele se prontificou, imediatamente, a fornecer as informações
pedidas, dizendo que, de fato, recebera uma carta de Londres, na
qual um velho amigo, que há muitos anos não via, lhe oferecia, a
venda, um novo anestésico. Doutor Geraldo explicou mais a
inspetor Jaime, que respondera afirmativamente e que aguardava
somente uma nova carta a fim de seguir a Londres.
Satisfeito e vitorioso em sua missão, inspetor Jaime Patrício,
radiante, deixou Paris, com destino a Londres.
Saltou do trem, na estação de Vitória e chamou um táxi, que
164
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●
Quando Jaime chegou ao hospital, em companhia de capitão Edu
e de inspetor Tom, encontrou Perri Nander e João Lazist, que
conversavam com doutor Hilário.
— Inspetor Jaime! — Exclamou João Lazist, se aproximando
em companhia dos outros.
— Podemos saber o motivo da reunião?, inspetor. — Indagou
Perri Nander.
— Sabereis mais tarde, senhores. — Respondeu Jaime.
E, se virando ao doutor:
— Está nas últimas. Não é? Haverá um quarto desocupado ao
lado?
— Perfeitamente, inspetor, mas...
— Faças o obséquio de nos levar a esse quarto, doutor.
Ao lado do quarto, onde o mutilado, antigo criado de Paulo
Heavens, agonizava, sem fala pra se queixar, e sem olho pra, ao
menos, poder encarar a morte que o espreitava, doutor Hilário,
Perri Nander e João Lazist, sentados, olhavam o rosto de inspetor
Jaime Patrício, enquanto capitão Edu e inspetor Tom continuavam
junto à porta que ligava os dois quartos e que fora
propositadamente aberta. Disse Jaime:
— Vos reuni aqui porque são os herdeiros de Paulo Heavens, e,
portanto, penso, os mais interessados em saber a verdade sobre sua
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●
Três meses mais tarde, numa manhã nevoenta e triste, João
Lazist, sentado na beira da cama, em sua cela, fumava o último
cigarro.
A porta se abriu, entrando inspetor Jaime Patrício.
— Obrigado, inspetor, por ter vindo me ver. Sempre te admirei
muito e creias que és o maior detetive que existe em Londres. Se
não fosses tu...
Jaime olhou o rosto de João Lazist.
— Por que fizeste aquilo com o criado?
— Não adivinhaste?, inspetor É porque sabia, sabia demais,
porque era... meu irmão.
A porta foi aberta novamente. Pouco depois João Lazist deixava
aquele quarto em companhia do carrasco e dum padre, a fim de
seguir viagem a um lugar tranqüilo e eterno donde jamais alguém
voltou.
Inspetor Jaime Patrício esperou, em silêncio, até que ele
atravessasse a última porta. Um minuto depois um ruído o fez
compreender que João Lazist fora se juntar a suas vítimas.
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Herdeiros da morte
Capítulo I
ma chuva forte e copiosa caía sobre Londres naquela tarde e
grossas bátegas impulsionadas pelo vento batiam nas
vidraças dum prédio na travessia da rodovia Charing, indo
estalar sobre a calçada.
Sentado em confortável maple,13 inspetor Jaime Patrício, tirando
de espaço em espaço leves baforadas de seu cachimbo predileto, de
madeira escura, contemplava e ouvia, em silêncio, o clarão dos
relâmpagos, o barulho do trovão, o zunir do vento, e o estalar da
chuva sobre a calçada, em furioso concerto da orquestra da
natureza, executando a sinfonia da fúria e do ódio. Chamou o
criado:
— Lucas! Hoje não voltarei à Scotland Yard. Ouviste?
— Sim, senhor. Queres teu chambre?
— Não Lucas. És um homem feliz. Sabes?
— Creio que já disseste várias vezes.
— Gosto muito de conversar contigo, Lucas.
13
Maple laranja, dos anos 1930, com braços de madeira. - (Houaiss) Maple -
Substantivo masculino - Regionalismo: Portugal: Poltrona baixa, forrada. A
etimologia é inglesa: Maple (século 14) Espécie de árvore cuja madeira é muito
usada em marchetaria e carpintaria. A palavra teve curso no Brasil, pois foi utilizada
por Mauro Mota no poema Boletim sentimental da guerra em Recife: As mapples
[sic] dos automóveis, e também por João do Rio. Em inglês também designa a cor
típica dessa madeira. Nota do digitalizador. Extraído de
http://forum.wordreference.com/showthread.php?t=280754
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Capítulo II
Às 8h da manhã seguinte inspetor Jaime Patrício deixou seu
apartamento na travessia Charing, seguindo, a pé, ao edifício da
Scotland Yard.
— Bom dia!, Edu. — Exclamou, se dirigindo a seu superior e
amigo, capitão Edu Brown.
— Ainda estás em Londres? Já te julgava fora.
— Assim era meu desejo Edu. Porém... — Se sentando, narrou,
rapidamente e sem preâmbulo, as conversas que tivera com
Berenice Weldon e Valdeque Morris.
— E o que tencionas fazer? Abrirás mão de tua licença?
— Talvez sim, talvez não. Os acontecimentos que se
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●
Mal chegara a Chélsia, Jaime foi, rapidamente, à residência de
Eugênio Weldon. Passou diante da velha igreja de Chélsia, à
esquina da trilha de Chene e rua da Igreja, caminhando ao
verdadeiro palácio daquele que fora um dos homens mais ricos da
cidade. Situado numa espécie de elevação, em estilo Tudor. Um
verdadeiro bosque o cercava. Da parte mais alta se via, ao longe, o
hospício de Chélsia.
Quando bateu à porta, faltavam ainda 15min às 9h. Não obstante
ali encontrou Valdeque Morris.
Foi introduzido, por um velho criado, a uma enorme sala cheia
de móvel e poltrona, onde se agrupavam meia dúzia de pessoas.
— Olá!, Jaime. — Exclamou o advogado. — Muito obrigado
por teres vindo.
Berenice Weldon, deixando a companhia dum rapaz que lhe
dirigia a palavra naquele instante, caminhou em direção ao
inspetor, lhe estendendo a mão. Depois, se virando aos presentes,
disse:
— Este é o homem de quem vos falei. Será nosso hóspede.
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E, se voltando a Jaime:
— Creio que devo fazer as apresentações.
— Um já me é familiar. — Disse o inspetor. — Há muitos anos
conheço Valdeque Morris.
— Então vamos aos outros. — Disse Berenice, sorrindo.
E inspetor Jaime foi apresentado às outras quatro pessoas.
— Doutor Carlos, médico da família. Larry Weldon. Dique
Weldon e Tomás Sloane, meu noivo.
Poucos minutos depois Valdeque Morris retirava de sua pasta de
couro um envelope de regular tamanho. Era o testamento de
Eugênio Weldon. Todos os presentes se sentaram e Jaime ocupou
um lugar ao lado da mesa na qual Valdeque estava apoiado. O
advogado começou:
Vos reuni aqui pra informar a última vontade de Eugênio
Weldon...
Enquanto Valdeque Morris lia o testamento inspetor Jaime
Patrício estudava os semblantes das pessoas presentes e cujos
olhares convergiam à figura do advogado.
Doutor Carlos Hubert era um tipinho baixo e irrequieto. Olhos
verdes, nariz curto, cabelo ruivo e de tez um tanto pálida. Os dois
irmãos Weldon: Larry e Dique, eram bastante saudáveis e de
aparência robusta. A cor da pele rosada, o cabelo e os olhos
castanhos e o nariz reto e grande, eram semelhantes em ambos. Se
diria que eram gêmeos. Marcus, o outro sobrinho, era, ao contrário,
franzino e parecia doente. O noivo de Berenice Weldon, Tomás
Sloane, era agradavelmente simpático. Traços delicados e meigos,
contrastavam com a masculinidade do corpo harmonioso e robusto.
Os olhos eram frios e tristes, refletindo a calma e a doçura de seu
espírito.
— E assim é que... — Continuou o advogado. Jaime voltou a
cabeça a ele.
— Deixo toda minha fortuna, em bem e dinheiro, no montante
de 10 milhões de libras a meus quatro sobrinhos: Larry, Dique e
Berenice, filhos de meu irmão Antônio, e Marcus, filho de minha
irmã Maria, já falecida. No caso da morte dum deles tudo ficará aos
restantes.
Valdeque Morris parou um instante a leitura do testamento e
Jaime pôde observar que suas mãos tremiam ligeiramente quando
recomeçou a ler.
— Porém se nenhum de meus ditos sobrinhos estiver vivo quero
que tudo que possuo seja repartido entre meu médico, Carlos
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Capítulo III
Na manhã seguinte, depois que o corpo de Dique Weldon fora
removido, capitão Edu conversava com Jaime:
— E o interessante é que foi empregado o mesmo veneno: Ácido
cianídrico.
— Sim, Edu. Te garanto que estamos diante dum caso duro de
resolver. Dez milhões de libras é uma quantia respeitável.
— Houve algo antes de nossa vinda?
— Nada. Farei o interrogatório de todos os herdeiros. Depois
disso procurarei uma pista.
10min mais tarde, na biblioteca da casa, Jaime interrogava Larry
e Berenice, irmãos de Dique. Os olhos da moça estavam injetados e
fundos, indicando que passara uma noite em claro e em pranto.
— Não lhe disse?, inspetor. Eu sabia que algo de mal nos
aconteceria.
— Sim, senhorita. É verdade. Infelizmente acertaste e eu de
pouco te pude valer. Me digas: Desconfias dalguém?
— Não, inspetor.
Jaime olhou o rosto de Larry. Também estava bastante abatido.
Seu braço direito estava numa tipóia.
— Larry. Por que não deste parte à polícia quando te feriram?
— Foi Dique que não quis, inspetor. Ficou zangado quando
soube que Berenice o procurara.
— Chegaste a ver quem te feriu?
— Não, senhor. Estava bastante escuro quando me dirigia até
casa. Ouvi um estampido e, pouco depois, notei que estava ferido.
— Onde foi?
— Lá em baixo, perto do portão da rua e um pouco depois da
casa vazia.
— Casa vazia?
— Sim. É uma casa que fica dentro de nossa propriedade e que
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Capítulo IV
Não havia dúvida de que um grande perigo ameaçava os
Weldon. Um a um, talvez, seriam todos exterminados pela mesma
mão que matara Dique Weldon.
Inspetor Jaime Patrício nada descobrira que pudesse lançar um
pouco de luz sobre a misteriosa morte do sobrinho de Eugênio
Weldon. Sabia, apenas, que fora ácido cianídrico o causador da
morte, porém ignorava como e por quem fora ministrado.
Interrogara os herdeiros e nenhum dissera algo importante.
O testamento de Eugênio Weldon era horrivelmente estranho.
Nada menos de seis pessoas concorriam a seus milhões, sempre um
após a morte do outro, em sucessão macabra. Eram herdeiros da
morte. E Dique Weldon fora o primeiro a desaparecer do lúgubre
préstito. Disse inspetor Jaime em seu gabinete na Scotland Yard:
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●
Eram 8h da noite quando inspetor Jaime Patrício chegou a
Chélsia. Um guarda uniformizado, postado junto ao portão de
entrada levou a mão ao quepe, o cumprimentando.
— Algo de novo?, rapaz.
— Tudo em paz, inspetor.
— Onde estão os outros guardas?
— Espalhados no jardim, senhor.
— Esta casa é muito grande e penso que somos poucos prà
vigiar.
— É verdade, inspetor. Doutor Hubert quis sair mas não
consenti.
— Fizeste bem, rapaz. Ninguém pode sair.
Inspetor Jaime não dera mais de três passos no caminho calçado
de pedra e marginado de árvore, que conduzia a casa, quando ouviu
o eco dum estampido. Correu até casa mas muito antes de chegar já
sabia o significado daquele estampido. E sabia que não partira dum
revólver... O som, era inconfundível: Metálico. Fora um tiro de
rifle.
Quando entrou, um policial que descia a escada foi a seu
encontro.
— Inspetor Jaime, assassinaram Larry Weldon!
— Onde? Como?
— Subas, inspetor. Estava se vestindo pra jantar.
— Chames a Scotland Yard, rapaz. Peças mais cinco homens a
capitão Edu e digas a inspetor Tom que venha imediatamente a
Chélsia. — Disse Jaime, subindo a escada de dois em dois degraus.
Larry Weldon jazia de bruços, morto, com uma brecha no
occipital. O corpo estava perto do camiseiro, diante do qual ficava
uma larga janela onde num dos vidros se podia ver um orifício
produzido por bala.
Berenice Weldon, encostada ao pé da cama, tinha os olhos
banhados em lágrima e cabeça apoiada no ombro de seu noivo,
Tomás Sloane.
Junto à porta estava Marcus Flaming e no centro do quarto o
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— Alguma coisa?
— Parece, rapaz.
Em poucos segundos Tom se juntava a ele.
— O que houve?
— Onde está Berenice Weldon?
— No quarto. Acabou de beber um copo dágua.
— Quem levou a água?
— O guarda do corredor. Por quê?
— Por isto, Tom. — Disse Jaime, mostrando o bisturi.
— Santo-deus! Qual deles seria agora?
— Creio que posso responder a isso. — Respondeu, caminhando
ao quarto de Marcus Flaming.
Sobre o leito jazia o sobrinho de Eugênio Weldon. Através do
pijama entreaberto se via uma mancha escarlate no lado esquerdo
do peito.
Inspetor Jaime segurou uma das pontas do lençol e, o puxando,
cobriu o rosto de Marcus Flaming.
— Chames a Scotland Yard. — Disse a Tom Malloney.
Berenice Weldon, que despertara com ruído no corredor,
assomou à porta naquele momento.
— Marcus, morto! — Exclamou, levando as mãos ao rosto.
— Sinto muito, senhorita.
Doutor Hubert, acabando de vestir o chambre, e Tomás Sloane
entraram logo a seguir. Disse o doutor, se aproximando da cama:
— Mas isto é horrível!, inspetor.
— Sim. É horrível. Ouviste ruído no corredor? Doutor.
— Nada, absolutamente nada. Tenho sono de pedra.
— E o que foi que te despertou?
— Não sei... o ruído, talvez. És o culpado de tudo isto inspetor.
— Deveras?, doutor Hubert. Por quê?
— Por nos reter nesta maldita casa.
— Sinto muito te contrariar, doutor, — disse Jaime, com um
sorriso — mas continuareis aqui.
— Inspetor Jaime. — Disse o noivo de Berenice Weldon —
Consentirás que eu leve Berenice a longe desta casa?
— É natural que queiras afastar tua noiva do perigo. Porém
ficará aqui. Estará melhor protegida.
— O inspetor tem razão, Tomás. Sabe o que faz. — Disse
Berenice.
— O que houve aqui? — Indagou o advogado Valdeque Morris,
acabando de entrar no quarto, esfregando os olhos como quem
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acaba de acordar.
— Onde estiveste?, Valdeque. — Perguntou Jaime, fitando o
advogado.
— Numa palavra meu amigo: Dormindo.
Inspetor Jaime o olhou. Conquanto houvesse esfregado os olhos,
que estavam um tanto avermelhados, seu rosto não era o duma
pessoa que acaba de despertar.
— Estás certo de que estavas dormindo? Valdeque.
— Ora essa!, Jaime. Me perguntas se estou certo de que estava
dormindo? Como posso estar certo? Acredito que sim, pois me
lembro de ter me deitado. Mas o que houve?, afinal.
— Marcus Flaming foi assassinado.
— Hem? Mas como? Nesta casa não fico mais um segundo.
Prefiro que me metas na cadeia a ficar aqui. Preso muito minha
vida ara me deixar matar.
— Queres ir, mesmo, à cadeia?, Valdeque.
— Prefiro. É mais seguro.
— Sinto muito, Valdeque, mas hoje terás que ficar. Depois,
talvez...
Capítulo V
Às 9h da manhã seguinte inspetor Jaime Patrício estava na
Scotland Yard, em sua sala.
— Então, Crawford. Investigastes o que vos pedi? — Indagou,
se dirigindo a um rapaz que estava de pé, ao lado da mesa.
— Perfeitamente, inspetor. — Respondeu o rapaz, enfiando a
mão no bolso e retirando um papel.
— Aqui está um relatório sobre toda nossa investigação.
— Muito bem, Crawford. Ponhas sobre a mesa e podes ir.
5min após a saída do rapaz o inspetor terminava a leitura do
relatório. O atirou, aborrecido, sobre a mesa. Nele nada havia de
interessante.
— Respeitável! Respeitável! Respeitável! — Exclamou, se
erguendo da cadeira e caminhando até a janela.
Depois, como quem se recorda dalguma coisa que esqueceu,
voltou à mesa e novamente começou a ler o relatório. Em certa
altura seu rosto tomou nova feição. Fincou os cotovelos sobre a
mesa e, apoiando a cabeça sobre as mãos, leu com mais calma a
parte que prendera sua atenção.
Depois levantou os olhos do papel e ficou olhando um canto da
sala como se procurasse se lembrar dalguma coisa.
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sentar.
— Obrigado, senhor.
— Tua conduta neste caso dos Weldon, inspetor Jaime, é
verdadeiramente lamentável. Erraste de princípio, mantendo todas
aquelas pessoas, como prisioneiras, dentro da casa.
— Perdão, sir João, mas fiz o que achei melhor.
— O que chamas de achar melhor?, inspetor Por acaso todas as
mortes não foram oriundas da tua intransigência? Erraste!, inspetor.
Intransigência conduz, infalivelmente, a conseqüência absurda ou
desastrosa, como em nosso caso. Creio que me entendes
perfeitamente. Não?
— Sim, sir João. Devo resignar?
— Em absoluto, inspetor. O senhor é um dos melhores agentes
da Scotland Yard, e eu próprio reconheço. Minha única intenção ao
te chamar foi te advertir do erro que praticaste.
— Obrigado, senhor. Dentro de 24 horas entregarei o culpado à
justiça.
— Tanto melhor pra ti, inspetor.
●
A noite estava bastante agradável e magnífico luar enchia de
encanto o imenso jardim da residência dos Weldon. Inspetor Jaime
Patrício saiu pra percorrer o arredor após o jantar. Caminhou
despreocupadamente um bom trecho do terreno e depois retornou a
casa. Antes de chegar viu alguém agachado na grama como se
estivesse procurando algo. Se aproximou, devagar.
— Posso te ajudar na busca?, doutor. — Perguntou, docemente.
Doutor Hubert se ergueu, assustado:
— Ó!, inspetor. Me assustaste. Ando tão amedrontado com essas
mortes...
— Estavas procurando algo? Doutor.
— Sim, inspetor. Uma medalha que perdi. Por quê?
— Por nada doutor. Pensei que fosse um instrumento cirúrgico
como por exemplo... um bisturi.
— Com licença, inspetor. — Disse doutor Hubert, se afastando.
O inspetor Jaime ficou contemplando um instante a silhueta do
doutor, que se afastava, depois caminhou em direção à casa.
Berenice Weldon estava só na sala e inspetor Tom a vigiava
dum canto da janela. Jaime perguntou:
— Olá!, Tom. Onde estão Valdeque Morris e Tomás Sloane?
— No jardim.
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●
Na manhã seguinte capitão Edu Brown recebeu inspetor Jaime
de muito mau humor.
— Não sei mais o que fazer, nem como explicar a sir João o
motivo porque retiramos os guardas de Chélsia.
— Não precisas pensar mais nisso, Edu. Tomás Sloane é nosso
homem.
— Hem?
— Sim, Edu. Os milhões tomaram completamente a cabeça do
pobre rapaz.
— Mas é impossível, Jaime. Nem é herdeiro.
— Ele não, Edu, mas... sua noiva Berenice Weldon, herdaria
toda a fortuna se os outros morressem. Agora tudo está bem claro
pra mim e te explicarei morte a morte: Eugênio Weldon e depois
Larry foram envenenados pela mesma droga. Ambos no consultório
de Tomás Sloane. O rapaz é dentista e se aproveitando disso, ao
obturar os dentes de Eugênio Weldon e Larry, colocou um pouco
de ácido cianídrico nas cavidades dos dentes de ambos, calculando
porém essa quantidade de maneira a que a absorção só se
verificasse três horas mais tarde. Depois, como ficasse retido em
Chélsia procurou outro meio de eliminação aos restantes herdeiros,
mas de modo que ninguém suspeitasse. Foi assim que atirou com
um rifle, da casa vazia, em Dique Weldon, certo de que eu
suspeitaria, como suspeitei do judeu que a alugara. Depois
eliminou Marcus Flaming com um bisturi, bisturi esse que
pertencia ao doutor Hubert, certo de que minha suspeita recairia no
doutor. Completamente dominado pela fortuna que lhe pertenceria,
indiretamente, e animado com meus insucessos, prosseguiu na série
de morte. A próxima vítima foi doutor Carlos. O matou com um
revólver que encontrei na relva do jardim, revólver que pertencia a
Valdeque Morris. Parece que ele desconfiou de qualquer coisa,
razão pela qual deixou o quarto altas horas da madrugada, na noite
em que o segui. Quanto ao primo de Eugênio Weldon, Hugo, tenho
quase a certeza de que Tomás o matou porque presenciara o
assassínio do doutor.
— E sabias de tudo isso?, Jaime.
— Mais ou menos. Na noite em que Dique Weldon foi
assassinado reparei que os sapatos de Tomás Sloane estavam sujos
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●
Valdeque Morris, ciente de tudo, por intermédio do inspetor
Jaime, se preparou pra dormir, enquanto ele se colocava por trás
dos grossos e pesados reposteiros do quarto, em companhia de
capitão Edu e de inspetor Tom.
Passava um pouco da meia-noite quando a porta foi
cautelosamente aberta e Tomás Sloane penetrou no quarto. Em sua
mão brilhava uma arma. Valdeque Morris suava entre os lençóis à
medida que ele se aproximava da cama. Súbito, as luzes foram
acesas.
— Te levantes!, Valdeque. — Gritou Tomás, apontando a arma.
— Tomás! Tu... — Disse o advogado, simulando espanto.
— Sim, Valdeque. Eu mesmo.
— Te apanharão.
— Não, Valdeque. O autor de todos os crimes será considerado
tu.
— Eu? Como?
Tomás Sloane retirou um papel do bolso e o colocou sobre a
mesinha, diante dos olhos de Valdeque.
— Antes de te matar quero que assines isto.
— Mas o que é?
— Vamos! Assines logo, Valdeque. É a confissão de teus
crimes. Te lembres de que estamos sós na casa.
Os três homens de Scotland Yard saíram do esconderijo.
— Bravo!, Tomás, bravíssimo! — Exclamou inspetor Jaime.
A arma que o rapaz tinha nas mãos detonou uma vez, ao mesmo
tempo que as armas de Jaime e de inspetor Tom detonavam
também. Tomás Sloane caiu morto no momento em que capitão
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Capítulo II
Quem é Bartolomeu Lansing
Na manhã do dia seguinte inspetor Jaime Patrício estava na
Scotland Yard às 8:30h. Sobre sua mesa alguns memorandos do
departamento e vários documentos a ser entregues aos superiores
da Yard.
Jaime olhou os papéis e assinou dois, guardando os outros.
Capitão Edu entrou naquele momento na sala.
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Pincenê (do francês pince-nez). Modelo de óculos usado nos século 15 até
o início do século 20, cuja estrutura era desprovida de haste. A fixação era feita
apenas sobre o nariz. Diferente dos lernhons, cujo modelo era dotado de haste
lateral pra ser colocado diante dos olhos, o pincenê prendia os aros, como uma
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Capítulo III
Lurdes
Eram 10:30h da noite e Jaime Patrício estava sentado em sua
sala, na Scotland Yard, com a cabeça apoiada entre as mãos. Sobre
a mesa descansava um pequeno retrato de mulher ao qual olhava.
Apertou uma campainha e, poucos instantes depois, surgiu um
mensageiro fardado a quem Jaime deu um papel pra ser entregue a
capitão Edu. O mensageiro ia sair quando Jaime o chamou.
— Rapaz! Espero uma pessoa às 11h. Dês ordem pra que a
deixem entrar.
— Sim senhor, inspetor Jaime.
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Lurdes Smith.
— Trabalhas há muito com sir Bartolomeu?
— Sim, inspetor. Desde que perdi meus pais, com a idade de 16
anos.
Ele desejaria, ainda. perguntar muitas coisas mais, porém já
chegaram.
Capítulo IV
Noite sinistra
Sir Bartolomeu Lansing estava em seu escritório, em traje
caseiro, quando Jaime entrou em companhia de senhorita Smith.
Um sorriso aflorou aos lábios quando viu a figura do inspetor.
— Muito obrigado, sir Bartolomeu, por me enviar tão cativante
companhia.
— Se queres agradecer agradeças a si mesma. Foi por sua
espontânea vontade.
Lurdes sorriu e Jaime notou, naquela sala claramente iluminada,
que ela era mais linda do que pensara na Scotland Yard. E notou
mais, que piscava os olhos graciosamente, quando sorria ou falava.
Sir Bartolomeu puxou uma campainha de cordão e o criado
atendeu prontamente.
— Desejas beber algo?
— Não, obrigado. Se não for incômodo quero uma chávena de
chá.
— Tomarás, inspetor, e feito por mim. — Disse senhorita Smith,
saindo logo depois do criado.
— Esse empregado está contigo há muito tempo?, sir
Bartolomeu.
— Sim. O trouxe da Guatemala.
Sir Lansing olhou o grande relógio cujos ponteiros marcavam
exatamente 11:30h.
— Dentro de meia hora verás os horrores desta casa na meia-
noite. Tens algum plano?
Senhorita Smith entrou com uma bandeja entre as mãos.
Enquanto sorvia, a pequenos goles, o chá, Jaime fitava sir
Lansing.
— Não sei o que tencionas fazer, inspetor, mas teu quarto está
pronto.
— Muito obrigado, senhor, mas ficarei aqui mesmo.
— Aqui? — Interrogou Lurdes Smith.
— Justamente, senhorita. Nesta mesma cadeira na qual estou
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Capítulo V
Érico Lansing
Muito cedo, na manhã seguinte, Jaime estava na Scotland Yard.
A cabeça doía um pouco. Depois de despachar alguns papéis saiu
com destino à casa. Lucas nem perguntou onde o patrão estivera a
noite toda e se limitou a lhe dar um remédio que fora pedido e
preparar a roupa pra ele vestir ao sair do banho.
— Lucas, há em Londres uma criatura encantadora! Um anjo de
graça.
— Acredito, senhor.
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Capítulo VI
Flash se intromete
O louro ex-sentenciado Flash Millis estava parado em Piccadilly
naquela hora da tarde. Reparou na graciosa silhueta de moça que
caminhava apressada na calçada e resolveu se atirar.
Lurdes Smith viu que Flash se aproximava e acelerou o passo.
Outro homem caminhava atrás de Flash, atento ao movimento.
No instante em que ele se dirigiria à moça, uma pesada mão caiu
sobre os ombros.
Fazendo alguma conquista?, Flash.
— Ó!, inspetor. És o Diabo em pessoa. Estás em todo lugar!
— Sim?, Flash. Pois trates de andar direitinho. Te lembras da
galeria G, em Portolândia? Estou com vontade de te mandar gozar
mais umas feriazinhas!
Lurdes Smith, um pouco afastada, apreciava aquela cena.
Quando Flash se afastou se dirigiu ao inspetor.
— Boa tarde, inspetor. Obrigada. Não sabia que também eras
protetor de moça.
— E sou, senhorita. De moça bonita...
— Mas eu já estou acostumada a andar só, inspetor, e não tenho
receio de conquistadores.
— Jaime a acompanhou até Hampstead, a deixando em casa.
Ia atravessar pra tomar um carro, quando viu Flash entrando
num prédio contíguo ao de sir Bartolomeu. Era uma casa de dois
andares, tendo uma drogaria na loja.
— Alguma droga pros nervos? — Perguntou Jaime, batendo no
ombro de Flash Millis.
— Tu de novo? O que queres?
— Nada, Flash. Queria ter certeza de que eras tu mesmo.
Jaime saiu da drogaria e esperou um pouco na calçada. Vendo
que Flash não saía tomou um táxi.
Antes de ir à Scotland Yard precisava passar no apartamento.
Capítulo VII
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15
Ou uma variante desse provérbio: A palavra é de prata, o silêncio é de ouro.
Nota do digitalizador.
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16
No texto impresso consta o termo lacônico. Mas tal não procede porque o termo
lacônico se refere a uma frase com o mínimo de palavra, geralmente uma, duas ou
três. Uma frase tão longa não é lacônica. Os dicionários registram o termo como
significando resumido, sucinto, breve. Na antiga Grécia Felipe da Macedônia (pai
de Alexandre Magno) cercou a Lacônia e enviou uma mensagem aos espartanos: Se
não vos renderdes imediatamente invadirei vossas terras. Se meus
exércitos as invadirem pilharão e queimarão tudo o que mais prezais. Se eu
marchar sobre a Lacônia arrasarei vossas cidades. Alguns dias depois Felipe
recebeu a resposta. Abriu a carta e encontrou somente uma palavra escrita: Se. É a
origem da expressão Resposta lacônica. Nota do digitalizador.
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Capítulo VIII
A morte no carro
Às 9h da manhã seguinte inspetor Jaime Patrício caminhava,
lado a lado, com Tom, numa rua de Hampstead.
— Iremos à residência de sir Bartolomeu?, Jaime.
— Sim, Tom. Mas primeiro iremos àquele prédio.
Apontou uma casa de dois andares, contígua à de sir Lansing, a
mesma na qual entrara Flash Millis no dia anterior.
— Naquela drogaria?
— Exato. Se não estiver enganado encontrarei a solução do
problema número 1. Isto é, porque Flash Millis estava com Érico
Lansing.
Jaime não teve dificuldade em obter, do empregado, a
informação que queria ao mostrar sua chapa.
— Sim, inspetor. O cavalheiro que procuras mora no segundo
andar. Sai sempre na manhã e só volta na noite.
— Tens chave que abra o quarto?
O empregado a entregou e Jaime subiu com Tom. Entraram no
quarto e, depois duma busca, encontraram um pequeno baú sob o
colchão. Dentro um pacote de cartas, escritas por mãos femininas, a
Érico Lansing.
Jaime sorriu satisfeito e, segurando o baú, disse:
— Vamos Tom. Encontrei o que esperava encontrar.
Durante 5min fizeram soar a campainha da residência de sir
Bartolomeu Lansing, sem que a porta fosse aberta. Até que
apareceu o rosto risonho de senhorita Smith.
— Desculpes fazer esperar, inspetor, mas estou só.
— Estás só? Onde estão sir Bartolomeu e o criado?
— Foram a Beverley Manor. Sir Bartolomeu me disse que não
demoraria. Estava muito agitado e Pedro resolveu o acompanhar.
— Mas, senhorita... e
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Capítulo IX
O seguro de vida
Jaime voltou, imediatamente, à Scotland Yard. Levava um par
de abotoadura, um relógio e um anel, objetos que pertenciam a sir
Bartolomeu Lansing. Os guardou na gaveta da mesa de sua sala,
juntamente com os outros que já estavam ali.
Agora tinha de agir e depressa. O seguro de vida era uma pista
que o levava a Érico Lansing, porque senhorita Lurdes ele varria do
rol de suspeito.
— Sim, meu-deus! Mas é isso mesmo! Não podia ser Lurdes! —
Pensou. O que o intrigava era a desaparição do criado Pedro.
Capitão Edu Brown entrou na sala naquele momento:
— Tudo isso é horrível. Antes de ser queimado sir Bartolomeu
levou uma forte pancada na cabeça.
— Sim, Edu. Isso é explicável. Pra poderem atear fogo ao carro
era preciso que sir Lansing estivesse morto ou desmaiado. Mas o
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Capítulo X
Flash caminhou à morte
Jaime subiu, alegre, a escada do prédio onde morava. Uma
surpresa desagradável o esperava à porta do apartamento. Queria
Flash Millis e o encontrou, junto a sua porta, mas apunhalado.
Jaime chamou Lucas e se comunicou com a Scotland Yard.
Estava certo de que assassinaram Flash porque lhe contaria algo.
Depois de falar com a Scotland Yard retirou do bolso um papel
dobrado, chamando outro número.
— Sim. Aqui é doutor Guilherme. — Respondeu uma voz
amável, no outro lado da linha.
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Capítulo XI
Érico lansing morreu
Jaime saltou dum carro à porta do edifício, onde estava instalada
a Greenwich de seguro.
Inspetor Tom Malloney correu a seu encontro.
— Algo de novo?, Tom.
— Sim, Jaime. O dinheiro do resseguro já foi pago.
— Sim? Deixaste senhor Lansing sozinho?
— Não. Isto é: A não ser quando entrou um velhinho.
— Certo, Tom. Subamos depressa porque se minha suspeita se
confirmar...
À porta, onde se lia o nome de Érico Lansing, Jaime bateu com
os nós dos dedos alguns instantes. Ninguém respondeu...
— Entremos.
Érico Lansing estava sentado, imóvel, busto ereto, tendo um
pequeno orifício no pescoço.
— Assassinado! — Exclamou Tom.
— Sim. Nada de novo. Tens certeza de que recebeu o dinheiro?
— Plena, Jaime. Eu estava aqui, consigo, quando trouxeram.
— Em cheque?
— Não. Dinheiro contado. 100 mil libras!...
Jaime, depois de ordenar a Tom que chamasse a Scotland Yard e
não se afastasse daquela sala, saiu apressadamente.
Sabia, tinha certeza de que estava muito próximo do fim, mas
também se sentia cansado. Só precisava descansar um pouco, pois
havia duas noites que não dormia, e, depois, reunir os fatos e
entregar o culpado à justiça.
O primeiro movimento que fez, ao entrar em seu apartamento,
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Capítulo XII
A história de Jaime Patrício
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moça.
— Como estás linda!, Doroti.
—Não digas tolice, Roberto. Se eu fosse realmente
bonita te casarias comigo.
— Sim, querida, mas... Sabe que teu tio não quer nosso
casamento. Às vezes tenho ímpeto de o matar mas compreendo seu
sentimento.
Ambos, tão entretidos estavam, que não perceberam a presença
de sir Antônio atrás do caramanchão.
— Quando terminar o idílio e as considerações a meu respeito,
Roberto, te consideres despedido.
— Sempre te apreciei até o dia em que ousaste erguer os olhos a
minha sobrinha.
— Ó!, Titio. Por favor, o deixes ficar.
— Sinto muito, senhor, o que sucedeu. Deixarei tua sobrinha em
paz.
— Muito bem. Te lembres, então, que nesta casa és apenas meu
secretário e parceiro de xadrez. Queiras me acompanhar aonde irei.
Capítulo II
Se podia, sem receio de errar, afirmar que mais de 400 mil
pessoas estavam espalhadas em toda a extensão onde iria ser
corrida a grande carreira.
Barracas e mostruários, os mais variados possíveis, se erguiam
aqui e ali, no meio das terras onde passam as pistas. Tudo
emprestava à Epsom17 uma azáfama extraordinária e festiva alegria.
Dentro de 10min seria conhecido o resultado da maior prova de
turfe na Inglaterra.
Num dos camarotes estavam Doroti Stanley, seu primo Craig e
André Richards. Sir Antônio e Roberto Cooper permaneceram em
Londres.
Os cavalos desfilavam ante os olhos da multidão, a caminho do
lugar da partida.
Cavalgada passava diante do camarote, pilotado por Smith.
— Teu potro está lindo!, senhor André. — Exclamou Doroti.
— Obrigado, senhorita. Mas ali vem o vencedor. — Respondeu
17
Epsom, em Surrey, Reino Unido. Não é Epson. Nota do
digitalizador.
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●
Naquela noite André Richards discutia, encolerizado, com sir
Antônio Stanley, no enorme e espaçoso escritório da residência
dele.
— Não quero mas exijo que me digas por que Cavalo Branco
não venceu.
— Ora!, André. Não venceu porque não pôde!
— Sim? Por que Gordon fechou meu potro? Duma coisa estou
certo, Antônio: Gordon estava comprado. Não sei por quem mas
garanto que saberei e se fores o culpado disso...
— Eu não seria capaz de tal coisa!, André.
André Richards saiu do escritório sem se despedir de sir
Antônio, batendo a porta violentamente.
Só, naquele imenso escritório de chão original, em quadrados
amarelos e pretos, formando um enorme tabuleiro de xadrez, cheio
de móveis antigos, verdadeiras relíquias de família, e tendo nas
paredes os retratos dos antepassados, sir Antônio Stanley se sentia
inquieto e assustado. Foi ao cordão da campainha e o puxou com
força.
O criado que atendeu ao chamado era um velho serviçal, há
longos anos com a família e por isso não ocultou seu espanto ante a
fisionomia alterada de seu patrão.
— Guto, tragas uísque.
O velho criado saiu, regressando pouco depois com uma bandeja
na mão esquerda. A direita perdera há muitos anos, num acidente,
mas nem por isso deixava de ser um ótimo criado, tanto mais que
utilizava o único braço com a mesma destreza que se maneja o
direito.
— Onde está minha sobrinha?, Guto.
— Saiu com senhor Cooper, sir.
— Cooper! Hem!
Mal pronunciara essas palavras, Doroti imergiu na sala, em
companhia de Roberto Cooper.
O rosto de Sir Antônio, virou uma máscara de ódio.
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Capítulo III
Do velho casarão ao portão, se tinha de andar, seguramente,
durante uns 3min. Situada no centro duma verdadeira floresta, a
mansão ficava sombria e lúgubre.
Doroti Stanley saiu pela porta da frente, sem fazer ruído. A luz
do escritório de seu tio estava acesa. Ouviu o relógio carrilhão
bater 11h e caminhou, a passo apressado, ao portão.
— O que quererá Craig comigo nesta hora? — Pensou, atirando
fora o bilhete que Guto lhe entregara.
Chegando ao portão ouviu um Psiu! Se voltou. Era Craig, seu
primo.
— Obrigado por teres vindo, Doroti. Estou em apuro e poderás
me ajudar. Tudo que tinha apostei em Cavalgada.
— Mas Craig...
— Senhorita Doroti! Senhorita Doroti! — Foi o grito que a
moça ouviu.
— O que foi?, Guto. — Perguntou, assustada, vendo o criado
pálido e ofegante.
— Teu tio, senhorita. Parece que foi...
Sir Antônio Stanley jazia morto, no chão do escritório, tendo, na
mão direita estendida, uma miniatura, em bronze, de seu potro
Cavalo Branco.
— Guto, leves Doroti a cima enquanto chamo a polícia. — Disse
Craig.
— Não, Craig. Ficarei aqui. — Respondeu Doroti, se dirigindo a
uma larga cadeira, enquanto grossa e abundante lágrima escorria no
rosto.
Capitão Edu Brown chegou meia hora depois, em companhia de
inspetor Tom Malloney.
Fez um rápido exame no corpo de sir Antônio e inspecionou
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meticulosamente o escritório.
— Quem encontrou o corpo? — Perguntou, se dirigindo aos
presentes: Doroti, Craig e Guto.
— Eu. — Respondeu Guto.
— Viste arma junto ao corpo?
— Se não há, como poderia ver?, capitão.
— Tom, — disse Edu — providencies a remoção do corpo e
chames Jaime.
Quando Jaime Patrício entrou no escritório de sir Antônio, o
corpo já fora removido mas ali continuavam, como testemunhas
silenciosas do crime, o sangue e tudo o mais que ali estava.
Jaime cumprimentou Craig e, saudando Edu, foi aonde estava
sentada Doroti Stanley.
— Senhorita, sou inspetor Jaime Patrício, da Scotland Yard e te
peço o obséquio de te recolher a teus aposentos. Por ora não
necessito de tua declaração.
Depois que a moça saiu da sala Jaime retirou do bolso seu
cachimbo de madeira escura e, do outro bolso, um pacote de fumo
claro.
Se sentou numa larga poltrona. Enquanto enchia o cachimbo
seus olhos percorriam todo o recinto como se estivesse fixando na
imaginação todos os detalhes. Craig, sentado numa cadeira próxima
à de Jaime, o olhava, interessado. Edu e Tom, juntos, à janela,
guardavam silêncio. O velho criado Guto, encostado à soleira da
porta, completava o cenário.
Os olhos de Jaime se detiveram em Guto.
— Ei! Onde perdeste o braço direito?
— Num acidente, senhor. — Disse o criado, se assustando.
— Quem chamou a polícia?
— Eu, inspetor. — Disse Craig.
— És sobrinho de sir Antônio. Não? Onde estavas quando teu
tio foi assassinado?
— No portão, com minha prima Doroti.
— Sabes algo deste crime?
— Numa palavra, inspetor: Não!
— Quem estava em casa, Guto, quando descobriste o corpo de
teu patrão?
— Ninguém.
— Ninguém a não ser tu. Não é? Guto.
— Inspetor! Por acaso desconfias de mim?, um velho aleijado.
— Ó!, Guto. Em absoluto. Por enquanto desconfio de ninguém.
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muito agitado.
— Continues!, Guto.
— Depois chegou o secretário de meu patrão, senhor Roberto
Cooper, com senhorita Doroti. Sir Antônio ficou enfurecido, pois
parece que não via com bons olhos o romance entre os dois.
— Sabes se sir Antônio discutiu com senhor Roberto?
— Não sei dizer, senhor. Me retirei da sala. Mas é bem possível,
pois vi senhorita Doroti subir a escada em pranto.
— Estou satisfeito, Guto. Podes te retirar.
Depois do criado deixar a sala, Jaime foi à janela, bateu a cinza
do cachimbo e, depois de olhar por ela, disse a capitão Edu:
— Creio que poderemos ir.
Antes de sair, Jaime se voltou a Craig.
— Quem joga xadrez nesta casa?
— Meu tio costumava jogar muito com Roberto.
— E tu?
— Nem em sonho, inspetor.
— Hoje estiveste com teu tio?
— Não, inspetor. Falando a verdade, meu tio me expulsou daqui,
alegando que sou esbanjador.
— Mas não disseste que estiveste com tua prima no portão?
— É verdade, inspetor. Mas meu tio não sabia de minha
presença.
Jaime Patrício, capitão Edu, Tom e Craig, seguiram, no
gramado, em direção ao portão. Disse Tom:
— Belo lugar prum crime! Hem, Jaime.
— Sabes se há outra saída?, além da principal, senhor Craig.
— Não que eu saiba, inspetor.
5min depois os três homens da Scotland Yard regressavam num
carro da chefatura. No espírito de Jaime muita coisa já começava a
se desenhar. Porém, ele próprio sentia, tudo ainda estava muito
confuso.
— Ei!, Jaime. Por que não deixamos alguém na casa?
— Ó! Não havia necessidade, Edu. Guardei todos os detalhes na
memória e procedeste como eu queria. Talvez a pessoa que matou
sir Antônio volte pra corrigir algum erro que, porventura, pense ter
cometido e assim o apanharei mais facilmente.
Capítulo IV
Na manhã do dia seguinte, no gabinete particular de capitão Edu
Brown, no edifício da New Scotland Yard, Jaime contemplava os
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sir Antônio fora assassinado e o único que estava dentro de casa era
Guto. Tanto Craig, como senhorita Doroti e Guto não ouviram o
tiro, assim sendo...
Jaime retirou do bolso sua pesada automática, a contemplando
alguns momentos. Fez pontaria ao interior da lareira e deu no
gatilho. Um pequeno recuo e estremecimento de sua mão direita
indicava que disparara. Feito isso guardou a pistola e, sentado,
como estava, aguardou que alguém aparecesse. Ninguém veio. Mas
estavam na casa Roberto Cooper, Guto e senhorita Doroti.
Poucos minutos decorreram quando a porta do escritório foi
aberta pelo velho criado Guto, dando passagem ao inspetor Carlos
Butterwood.
— Olá, Jaime. Aqui estou. Os rapazes estão do lado de fora.
— Vás chamar, Carlos.
Quando o inspetor saiu, Guto entrou na sala.
— Senhor, lá fora estão vários policiais. Prenderás alguém?
— Não, Guto. Não precisas te assustar.
— Inspetor, senhor André Richards está na varanda com
senhorita Doroti e diz que precisa te ver.
— Muito bem, Guto. Digas que dentro de poucos minutos
estarei lá. — Disse Jaime, enquanto os policiais entravam na sala.
— Rapazes, quero que revistais cuidadosamente todo o jardim
desta casa e todos os recantos, procurando uma arma calibre 32.
Tão certo quanto eu estar aqui, a encontrareis. A trazei. E tu,
Carlos, dirijas os rapazes.
Jaime saiu do escritório em companhia dos policiais, indo à
varanda.
Doroti e Roberto estavam sentados, próximos um do outro. Do
lado oposto da mesa estava André Richards, tendo nas mãos um
copo, que pousou sobre a mesa à entrada de Jaime.
— Inspetor, eu soube que sir Antônio foi assassinado e me
apressei a vir prestar declaração.
— É muita gentileza de tua parte, mas saibas que se não viesses
espontaneamente eu te procuraria!
— Senhor André, onde estiveste ontem, depois de deixar esta
casa.
— Pra falar a verdade... Bem... Fui procurar um amigo.
— Que amigo?
— Ó! Um conhecido meu...
— Não foras, por acaso, procurar um jóquei chamado Gordon?
— Sim inspetor. Tens razão. Sou tolo em procurar encobrir uma
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Capítulo V
Eram, precisamente, 7:30h quando Jaime regressou. Estava
alegre e risonho. Quando entrou no portão retirou do bolso seu
relógio pra marcar o tempo que gastaria até a casa. Jaime, mal
entrou no escritório, disse:
— Edu, reúnas, na sala, Doroti, Craig, Guto, Roberto Cooper e
André Richards. Dentro de meia hora me reunirei a vós.
Depois de falar com capitão Edu, Jaime chamou o velho criado
Guto.
— Onde fica teu quarto?
— Ali, quase embaixo da escada de serviço, inspetor.
Jaime mandou que o criado fosse à sala com os outros e
caminhou até o quarto que Guto indicara.
Retirou o relógio do bolso, abriu a porta, tornou a fechar, indo
ao escritório. Ali ficou alguns momentos, quando o telefone
tilintou.
— Alô, Tom. És tu?
— Sim, Jaime. Custei mas descobri o que querias. A pessoa que
suspeitavas acertou perto de 10 mil libras em Soberano, na base de
1/30.
— Obrigado, Tom. Venhas depressa, pois ainda ouvirás o final.
— Disse, desligando o telefone e saindo rapidamente à sala.
As pessoas ali reunidas se ergueram à entrada de Jaime, que,
simulando indiferença, se dirigiu a um largo sofá, se sentando.
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●
20min depois, no carro que os conduzia à Scotland Yard, Jaime
olhou o rosto abatido de Craig.
— Tenho pena de ti, rapaz, tanto mais que aquele testamento
ainda não era válido. Só o seria dentro de um mês. Se em vez de o
matar te regenerasses...
na noite, em seu gabinete, Jaime escrevia, em seu diário, os
apontamentos sobre este caso. Como arremate escreveu:
— E tudo por causa dum cavalo branco.
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Apêndice do digitalizador
Scotland Yard
Também conhecida por New Scotland
Yard ou Yard, é o quartel-general da
Metropolitan Police Service (MPS, em
inglês, Serviço Metropolitano de Polícia), a
força policial da capital do Reino Unido,
Londres. Popularmente, o termo New
Scotland Yard é usado, como metonímia,
pra designar o Metropolitan Police Service e
ou a Polícia Judiciária de Londres. O
edifício New Scotland Yard, usado como
sede desde 1967, é localizado na região administrativa de
Westminster, perto do Palácio de Westminster, onde estão instaladas
as duas câmaras do parlamento do Reino Unido. Fundado junto com o
Metropolitan Police Service em 29 de setembro de 1829 pelo político
inglês e, na época, ministro do interior Robert Peel, a Scotland Yard
foi aquartelada num edifício da rua Whitehall. Em 1890 se mudou a
um edifício da rua Victoria Embankment, recebendo a nova
denominação New Scotland Yard.
Ao contrário do que muitos pensam, a estrutura é essencialmente
militar, o que facilita a tomada de decisão por parte de seus
comandantes devido à hierarquia ser respeitada como forma de
operacionalização da segurança pública do Reino Unido.
Fonte: Wikipedia
Qual a razão da polícia britânica se chamar Scotland Yard?
Scotland Yard era uma pequena rua de Londres, situada perto da
praça Trafalgar. Originalmente, o escritório da polícia metropolitana
londrina (Metropolitan Police) se localizava no reduto Whitehall e
dava de fundo à rua Scotland Yard.
Numa sala do fundo trabalhava uma divisão da polícia. Essa
divisão acabou ficando conhecida como Scotland Yard. Logo o nome
acabou sendo usado para designar toda a polícia.
A origem do nome da rua é incerta. Existem algumas histórias
etiológicas. Uma delas é que a região onde ficava a rua Scotland Yard
era onde estava a residência dos reis da Escócia (Scotland, em inglês)
quando iam a Londres. A rua, que passava diante da casa, era
chamada de Jardim da Escócia (Scotland Yard).
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A dama
da túnica
escarlate
5 O aniversário sangrento
20 As mortes em série
36 Os diamantes acusadores
43 O fantasma de Londres
65 O contrabando de platina
75 A lágrima da deusa
96 O pássaro da morte
106 O segredo da bíblia
115 A quadrilha do capuz negro
136 Contrário à evidência
143 A vingança do mutilado
164 Herdeiros da morte
186 A dama da túnica escarlate
210 O mistério do cavalo branco
228 Apêndice do digitalizador - Scotland Yard
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