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ANTONIO BIVAR CLAUDIO WILLER EDUARDO BUENO LEONARDO FROES PEPE ESCOBAR ADO MORAES ROBERTO MUGGIAT| REIN iM Beat e Tradic&o Romantica Ligados a uma tradi¢éo de inconformismo e rebeliao, herdeiros dos grandes poetas malditos, os beats tentaram transformar a Iteratura, — e suas vidas e sua sociedade. Geracao Beat: fenémeno comportamental ou literario? Ai esté uma questao que, trinta anos depois, continua sen- do dirigida contra os autores Beat ¢ também contra seus aprecia- dores, leitores, comentaristas ¢ estudiosos. No entanto, trata-se de uma falsa questao. No fundo dela, repousa uma esquizofré- nica divisdo entre arte e vida, literatura ¢ comportamento. Esta é exatamente a divisio que Ginsberg, Kerouac, Bur- troughs, Corso, Ferlinghetti, Snyder, McClure e Lamantia, cada qual a seu modo, tentaram — e conseguiram — ultrapassar. Em suas obras, encontramos textos que falam do que eles estavam vivendo; nas suas biografias, vidas coerentes com suas idéias, suas visdes de mundo e concepgées literarias. A insistente indagacdo é, na verdade, uma acusacao. E como se fossem incriminados e culpabilizados por terem vivido intensamente; principalmente, por nao sé terem experimentado drogas, cruzado algumas vezes a fronteira da loucura, delirado de varias formas, tido diversos tipos de problemas com a policia € suas vidas sexuais ¢ amorosas serem ricas ¢ diversificadas, mas, Principalmente, por terem falado abertamente de tudo isso, nas 29 suas obtas ¢ fora delas também. Por tris da acusagio, hé um ‘nunciado implicito, algo como “esti vivendo, por isso nzo po- de ser um grande esctitor”, 0 cotoldrio de um absurdo teotema pelo qual se tenta demonstiar que arte nao € vida. Semelhante enunciado parece desconhecet que a loucuta ¢ o delitio, 0 sexo ¢ as paixdes("“normais” ou perversas) as aluc- nagBes ¢ 0s alucin6genos, a marginalidade e a transgressio nada mais sio que atitudes lterérias por exceléncia — desde que, evi- dentemente, ocorrendo no contexto da criagdo de uma obra lite. tiria. Hi uma tradigéo toméntica que comprova isso. Afinal, a biografia de Blake, Nerval, Baudelaire, Rimbaud, Apollinaire e Artaud, entre outtos, ndo’€ uma sucessio de atestados de bom comportamento, Todos eles tentaram franqueat a barteia entte ae ¢ vida e romper com as fronteiras do limitado espaco.n0 ‘qual a sociedade burguesa quer citcunscrever seus poctas. Em toca, reeeberam a petha de loucos, a acusacio de serem sexual- ‘mente perversos, tomnando-se malditos em vida e mites litetitios depois de mortos. Sob este aspecto, a biografia de Baudelaire € exemplar: "dandy" excénttico, passante desocupado pelas ruas de Paris, apaixonado por uma prostituta e fascinado por lésbieas, ousan- do telatar suas experiéncias com o haxixe, tradutor e divulgador ‘na Franca de Edgar Allan Poe, que foi talvez 0 mais desregrado de todos os grandes escitores do século XIX. Em troca, Baude- hare foi censurado eestigmatizado por seus contemporineos. As Flores do Mal nos parece, hoje em dia, um livro bem-comporta- ddo, com seu satanismo tendo como pano de fundo a crenga em Deus ¢ na moral criti. O processo movido contta este livro se deve & suspeita de que aquelas litanias satinicastinham algo a ver, uma intima coeréncia e uma espécie de profunda cumplic- dade, com a pessoa do seu autor. A celeuma em rorno do que Baudelaire tinha de transgressor como personagem serviu como pretexto pata desconhecetem ¢ minimizarem a importincia das suas concepg8es sobre a modernidade, suas teorias das corres- pondéncias, a criagio da poesia em prosa, sua inovadora conti- buigio& critica de arte, cu trabalho como tradutor, sua mudan- sana forma e na temitica da poesia francesa. Hoje, ndo ha mais avida que a excentricidade do comportamento de Baudelaire, ‘lado marginal da sua vida, e tudo o que sua obra tem de rup- tura einovagdo,sio faces da mesma moeda, aspectosindissocé- 30 eis da mesma inquictagio que se manifestava igualmente no plano do comportamento da criagdo lierdra. "A mencio a Baudelaite serve para especificar um pouco mais caramente 0 que se entende por “‘tradigdo romantica” Hii um determinado tipo de histria da literatura, preocupada fom sua petiodizagio, com a classificagZo em periodos ¢ ten- Gencias, pela qual o Romantismo francés, por exemplo, teria co {no representantes mais caracteristicos a triade constiufda por Must, Lamartine ¢ Alfred de Vigny. Isto ainda continua sendo tnsinado em escolas e manuais académicos, privilegiando o lts tho enfaticoe is vezes grandiloquente desses trés autores. Nessa Guia, Baudelaire seria algo como um pés-romantico © um pré- simbolist ‘outta forma de escrever a hist6ria da literatura, pela qual Baudelaire, assim como Gérard de Nerval, setiam expoen- tes do Romantismo, Também fariam parte do Romantismo au- tores usualmente classificados como sendo o simbolismo francés: Mallarmé, Verlaine e Rimbaud; ¢ também Lauttéamont. O grande mérito desta visio € mostrar 0 Romantismo como proceso, destacando sua continuidade © petmanéncia, ¢ conse- {lencemente sua contemporaneidade, em ver de confing-lo 2 {um compartimento estanque da histéria, tentando transformé- lo em coisa datada, ultrapassada e morta. A diferenca entre 0s dois enfoques consiste em, de um lado, privilegiar uma deter- minada forma ou modo de escrever; de outro, em dar importin- cia poscua do artista e sua relasio com a sociedade AA visio do Romantismo como processo, ¢ portanto como continuidade, atualidade © permanéncia, estd claramente ex- pressa no Segundo Manifesto do Surrealismo de André Breton, quando este, comentando as comemoragdes do centenirio do Romantismo em 1930, diz que: ‘“Ter cem anos de existéncia € para clea juventude, ¢ 0 que chamam erradamente de sua fase hherbica nada mais € que 0 vagido de um ser que mal comega a tornar conhecido seu desejo através de nés, sendo que, se admi- tirmos que tudo aquilo que foi pensado antes dele — “‘clasica- mente" — € 0 bem, quet incontestavelmente todo o mal” Um dos grandes méritos de Octavio Paz, como te6rico © historiador da poesia, consiste precisamente em mostrar esta

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