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Direitos Políticos
Inicialmente, destaque-se que os direitos políticos nada mais são que instrumentos por
meio dos quais a CRFB garante o exercício da soberania popular, atribuindo poderes aos
cidadãos para interferirem na condução da coisa pública, seja direta ou indiretamente.
Cumpre trazer a definição clássica de Pimenta Bueno, no qual direitos políticos são:
“prerrogativa, atributos, faculdades, ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo
de seu país, intervenção direta ou indireta, mais ou menos ampla, segundo a intensidade de
gozo desses direitos. São o Jus Civitatis, os direitos cívicos, que se referem ao Poder Público,
que autorizam o cidadão ativo a participar na formação ou exercício da autoridade nacional, a
exercer o direito de vontade ou eleitor, os direitos de deputados ou senador, a ocupar cargos
políticos e a manifestar suas opiniões sobre o governo do Estado”.
1) Democracia:,
Quando se fala em democracia, associais à ideia de governo do povo (demo = povo e
cracia = governo). Dessa forma pode-se dividir os regimes políticos em democráticos e não
democráticos (regimes ditatoriais – autoritarista, totalistarismo). Trata-se, portanto, de regimes
políticos, quenada mais são do que técnicas de desempenho do poder do Estado. Este, em
regra, é dividido em 3 espécies:
Obs.: Lembre que os radicais Mono (um); Oligo (alguns); Demo (todos) são oriundos do
grego.
A democracia pode ser conceituada como sendo o governo do povo, para o povo e pelo
povo, veja:
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Deve-se destacar ainda a ideia do Novo Constitucionalismo Latino Americano, tratado por
alguns autores americanos. Essa expressão foi criada pelo autor espanhol Rubens Dalman, que se refere
a três experiências: Venezuela em 1999; Equador em 2006 e Bolívia em 2010.
A característica desses três países foi haver uma constituição outorgada que ficara submetida a
plebiscitos ou a referendos na tentativa de dar um grau de legitimidade mínimo para torná-la de acordo
com o povo. Note que esse processo, que confunde democracia com voto, entendendo que basta que se
vote para que haja democracia. Esse tipo de processo, infelizmente, vem se espalhando pela América
Latina, mostrando que esses dois institutos de democracia direta estão sendo aplicados para dar
legitimidade a constituições não legitimas.
1.1) Classificação
De modo geral, podemos classificar os regimes democráticos em 3 espécies:
Obs.: As formas de participação direta do povo que estão no art. 14, CRFB não
são as únicas. Portanto, o rol do art.14 não é taxativo. Existem ao longo do texto
constitucional outras formas de participação direta, como a Ação Popular (art. 5º,
LXXIII, CRFB), Iniciativa popular de leis no âmbito municipal e estadual (art.
1 Não se admite que o militar tenha filiação partidária. Assim, a filiação partidária, enquanto condição de
elegibilidade, para o militar é mitigada. O militar terá o registro da candidatura sem filiação partidária num
primeiro momento, mas tem que ter um atestado de um partido de que depois de eleito irá para a inatividade (art.
14, §8º, I e II, CRFB).
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29, XIII; e art. 27, §4º, CRFB); Audiência Pública2 (art. 58, §2º, II, CRFB),e
Participação do Povo na Administração Pública (art. 37, §3º, CRFB).
O Plebiscito é uma consulta prévia que se faz aos cidadãos no gozo dos seus
direitos políticos, sobre determinada matéria a ser, posteriormente, discutida no
Congresso Nacional. Assim sendo, há convocação com anterioridade ao ato legislativo
ou administrativo, cabendo ao povo, por meio do voto, aprovar ou denegar o que lhe
tenha sido submetido à apreciação. Neste sentido fica o governante condicionado ao
que for deliberado pelo povo.
Obs.: Em tais hipóteses, o voto também será obrigatório, com base no art. 14, §1º,
CRFB.
Como exemplo de referendo temos o previsto no art. 35, §1º, da Lei 10.826/2003
(Estatuto do Desarmamento), organizado pelo TSE, na qual previa a manifestação do
eleitorado sobre a manutenção ou rejeição da proibição da comercialização de armas de
fogo e munição em todo o território nacional (2005).
Obs.: A Lei 10.826/2003 foi objeto de diversas ADIs, de modo que o STF
(Ricardo Lewandowski) determinou o apensamento de todas à de nº 3.112, já que
esta impugnava a totalidade da lei. No mérito, o STF decidiu pela
inconstitucionalidade do § único dos arts. 14 e 15 (considerou não razoável a
vedação de fiança) e art. 21 do Estatuto (violação da presunção de inocência e do
O Veto Popular é o instrumento pelo qual o povo poderia vetar projetos de lei,
podendo arquivá-los, mesmo contra a vontade do parlamento. Teria efeito sobre os
projetos de lei tramitando no Congresso Nacional.
O Estado Democrático de Direito busca um ponto de equilíbrio entre dois valores que
tendem a ser antagônicos entre si: de um lado, o princípio majoritário (entenda-se como a
prevalência da vontade da maioria) e de outro lado, o valor da limitação do poder político (ou
seja, é o poder político limitado).
Quando se fala em limitação do poder político, esse valor do poder político limitado é a
essência do Estado de Direito, sendo que a limitação do poder político se dá através de normas
jurídicas. Por sua vez, a ideia central de democracia é a de vontade da maioria com respeito das
minorias.
Vamos imaginar que num Estado, a maioria do povo entenda que os judeus constituem
uma raça inferior, devendo ser eliminados. Numa ideia extrema de vontade da maioria, caso se
radicalize a ideia de vontade da maioria, poderia se chegar ao absurdo de dizer que se uma
decisão deriva da vontade da maioria é legítima em si mesma. Então, se poderia legitimar a
perseguição a um grupo alegando que isso deriva da vontade da maioria. Por outro lado, caso
se leve a ideia de Estado de Direito ao extremo, pode-se entender que o poder é tão limitado
que de nada adianta a vontade da maioria.
Dessa forma, esses dois valores levados ao extremo se mostram antagônicos. Portanto, o
Estado Democrático de Direito pretende definir um poder político limitado, porém limitado,
a partir de valores definidos pela maioria sem sacrificar as minorias. No nosso caso, os valores
definidos pela maioria estão plasmados na CRFB. Assim, há um núcleo limitador do poder sem
sacrificar a vontade da maioria e se insere a ideia de defesa e manutenção das conquistas
sociais, chegando-se assim, a vertente que seria o Estado Democrático Social De Direito (≠
Estado Democrático Liberal de Direito). No Estado Democrático Social De Direito, o que se insere
são as conquistas econômicas e sociais.
2) Conceitos Básicos:
Soberania Popular: Conforme Uadi Lammêgo Bulos, é a qualidade máxima do poder
extraída da soma dos atributos de cada membro da sociedade estatal, encarregado de
escolher os seus representantes no governo por meio de sufrágio universal e do voto direto,
secreto e igualitário.
Cidadania: Tem por pressuposto a nacionalidade (que é mais ampla que a cidadania),
caracterizando como a titularidade de direitos políticos de votar e ser votado. O cidadão,
portanto, é o nacional que goza de direitos políticos.
Voto: É o ato por meio do qual se exercita o sufrágio (instrumento do sufrágio). De acordo
com Alexandre de Moraes, o voto possui natureza de direito público subjetivo, possuindo
também função política e social de soberania popular na democracia representativa.
Ademais, para muitos se caracteriza como um dever.
Escrutínio: É o modo, maneira, forma pela qual se exercita o voto (público ou secreto).
3) Direito Político
3.1) Direito Político Positivo (Direito de Sufrágio):
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Um dos núcleos dos direitos políticos é o direito de sufrágio, que se divide, como visto,
em capacidade eleitoral passiva e ativa.
Obs.: De acordo com o art. 14, §1º, I, CRFB, o voto é obrigatório para os maiores
de 18 e menores de 70 anos. Fora de tal faixa, o voto é facultativo.
O voto é direto, secreto, universal, periódico, livre, personalíssimo e com valor igual
para todos. Vale lembrar que o constituinte originário elevou à categoria de cláusula pétrea tais
características, conforme art. 60, §4º, II.
5 Conforme o STF decidiu em medida cautelar na ADI 4.467, não há necessidade de dupla identificação do eleitor,
por ferir a proporcionalidade e razoabilidade. Assim, basta apresentar documento oficial com foto para exercício da
capacidade eleitoral ativa. O mérito se encontra pendente.
6 São aqueles que estão prestando serviço militar obrigatório.
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Livre: A escolhe pode dar-se por um ou outro candidato, podendo também anular
ou votar em branco. A obrigatoriedade está em comparecer à urnas apenas. Neste
sentido, Alexandre fala em “obrigatoriedade de formal comparecimento”.
Igualitário: Decorre do princípio one mano ne vote, de forma que o voto deve ter
valor igual para todos.
As condições de elegibilidade estão previstas no art. 14, §3º (ler7 - cai em prova). Em
relação à idade mínima, de acordo com a Res. 22.156/TSE, esta é verificada por referência a data
da posse.
3.2.a) Inelegibilidades:
As inelegibilidades são as circunstâncias (constitucionais ou legais) quem impedem o
cidadão do exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva (eleger-se).
7Vale notar que o estrangeiro naturalizado pode candidatar-se ao Senado Federal ou Deputado Federal, apenas
não podendo ser eleito presidente daquelas Casas (art. 12, §3º, III).
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De acordo com o art. 14, §9º, as inelegibilidades protegem a probidade administrativa, a
moralidade para o exercício do mandato, considerando a vida pregressa do candidato e a
normalidade e legitimidade das eleições, contra a influência do poder econômico ou o abuso do
exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.
As causas de inelegibilidade estão previstas no §4º ao §8º do art. 14, normas estas que
independem de regulamentação infraconstitucional (normas de eficácia plena e imediata), e
em lei complementar, que poderá estabelecer outros casos de inelegibilidade, conforme §9º.
12 No entendimento do STF, a redação do art. 14, §5º, foi infeliz ao se refere “quem houve sucedido ou substituído”,
de modo que o exercício da titularidade do cargo somente se dá pela eleição ou sucessão. O texto constitucional não
proíbe a candidatura daquele que tenha substituído precariamente o titular do cargo
13 Com algumas limitações, como no caso de município limítrofe, microrregião eleitoral única ou resultante de
Obs.: No caso de governador, irá gerar impedimento para todos os cargos dentro do
estado (inclusive Governador), menos o de presidente e vice-presidente da república
(Deputado Federal e Senador são eleitos por um estado - Se tornam Senador eleito
pelo Estado do Rio e Deputado Federal do RJ) (mas haverá possibilidade se
candidatar a qualquer cargo dentro de outro estado).
Por fim, de acordo com a Súmula Vinculante 18, pacificou o STF que a dissolução
da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não fasta tal inelegibilidade.
Porém, de acordo com o STF (RE 758.461), não há de ser seguida a orientação constante na
Súmula Vinculante 18, a qual não se aplica nos casos de extinção do vínculo conjugal pela
morte de um dos cônjuges.
3. Militares: De acordo com o art. 14, §8º, o militar alistável é elegível, sendo que, se tiver
menos de 10 anos de serviço, deverá afastar-se da atividade, e se tiver mais, será agregado
pela autoridade superior (afastado temporariamente), e se eleito passará automaticamente,
no ato da diplomação, para a inatividade.
De acordo com interpretação do STF (RE 279.469), o termo “afastar-se” deve ser
entendido como definitivo, de modo que deve ser excluído do serviço ativo mediante
demissão ou licenciamente ex officio, e o consequente desligamento da organização a que
estiver vinculado.
16Para Pedro Lenza, ademais, apenas pode ser fixada pelo constituinte originário, sob pena de se ferir direito e
garantias individuais (art. 60, §4º, IV).
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Antes de tal modificação, para que se caracterizasse hipótese de inelegibilidade era
necessário que houvesse sentença negativa transitada em julgado (O STF considerava
constitucional tal regra).
Com a mudança, passou-se a prever hipótese de inelegibilidade não somente no caso de
decisão transitada em julgado por praticado, como também em razão de decisão proferida, na
hipótese dos crimes elencados, por órgão colegiado, mesmo que ainda não tenha ocorrido o
trânsito em julgado (art. 1º, I, e, LC 64/90). De igual modo houve previsão em relação à decisão
transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado da Justiça Eleitoral, em decorrência de
algumas atitudes vedadas.
Contudo, a referida alteração gerou 2 discussões:
17 Ressalte-se que o princípio da anualidade não modifica a data de vigência da lei, apenas não a aplicando às
eleições que se realizem até um ano da data de sua vigência.
18 Houve empate na votação, e a presidenta Dilma, após as eleições de 2010, indicou o Ministro Fux para o STF, de
modo que o mesmo decidiu pela não aplicação da referida regra às eleições de 2010.
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Estrangeiros
Inalistáveis
Absoluta Conscritos
Analfabetos
Para o mesmo
cargo (reeleição)
Inelegibilidade Motivos
Funcionais Para outros
cargos
(desicompatibiliz
ação)
Cônjuge/Parente Inelegibilidade
sco/Afinidade Reflexa
Relativa
Menos de 10
anos de serviço /
Militares
Mais de 10 anos
de serviço
Legais LC 64/90
Obs.: Para muitos autores de Direito Eleitoral, essa é uma hipótese de suspensão
e não de perda de direitos políticos, conforme art. 4º, §2º, Lei 8.239/91. Contudo,
na visão de José Afonso da Silva, será hipótese de perda, pois a pessoa apenas
irá readquirir os direitos políticos se tomar prestar o serviço alternativo, não
sendo o vício suprimido por decurso de prazo.
2.1. Incapacidade civil absoluta (art. 15, II): Casos de interdição. De acordo
com Pontes de Miranda, no casos em que as enfermidades são incuráveis (causando
uma incapacidade absoluta fixa e imutável), nestes casos haverá a perda dos direitos
políticos, e não a suspensão. Assim sendo, Pontes de Miranda defende que o
absolutamente incapaz por enfermidade ou doença mental incurável, será caso de
perda, e não de suspensão. No entanto, em uma prova, deve-se responder sempre
que a incapacidade absoluta é causa de suspensão.
Obs.: Caso dos Índios: o estatuto do índio (lei 6.001/74), em seu art. 4º, prevê 3
tipos de índios:
19 Vale lembrar que os estrangeiros e conscritos são inalistáveis, e o alistamento eleitoral é condição de
elegibilidade.
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2.3. Improbidade Administrativa nos termos do art. 37, §4º (art. 15,
V): Além da perda da função pública, os atos de improbidade administrativa
importam em suspensão dos direitos políticos. A declaração de improbidade terá de
ser via processo judicial, não podendo ser através de mero processo administrativo.
2.5. Art. 55, II, e §1º, c/c art. 1o, I, b, da LC 64/90: Procedimento do
Deputado ou Senador declarado incompatível com o decoro parlamentar –
inelegibilidade por 8 anos, nos termos do art. 1º, b, da LC 64/90.