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Economias de Escala,

Concorrência Imperfeita e
Comércio Internacional

KRUGMAN & OBSTFELD, CAP. 6; WTP, CAP. 8

OBS.: ESTAS NOTAS DE AULA NÃO FORAM SUBMETIDAS A REVISÃO, TENDO COMO ÚNICA
FINALIDADE A ORIENTAÇÃO DA APRESENTAÇÃO EM CLASSE. COMENTÁRIOS SÃO BEM VINDOS E
PODEM SER ENVIADOS A rsaldanha@actiomercatoria.com.br. REPRODUÇÃO SOB
QUAISQUER MEIOS OU DISTRIBUIÇÃO PROIBIDA SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA DO AUTOR.

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INTRODUÇÃO

o A compreensão da lógica subjacente ao comércio internacional moderno


exige que se avaliem, além das motivações tecnológicas e de
dotações/qualidade dos recursos em um ambiente concorrencial, as
estruturas não concorrenciais de mercado.

o Efetivamente, existem e são importantes internacionalmente as


estruturas de mercado em que os agentes não são meros tomadores de
preços. Nestes casos, utilizam-se os elementos teóricos básicos da
Organização Industrial e da Microeconomia para ajudar a compreender a
realidade.

o As economias de escala, internas e externas, têm papel fundamental


para justificar as diferentes estruturas de mercado domésticas e
internacionais. O estudo inicia pela discussão desse conceito,
associando-o ao comportamento não competitivo.

o A seguir, uma breve análise da concorrência monopolística em seu


impacto no comércio internacional e, por fim, a discussão do conceito
e lógica de dumping, a prática de venda de bens e serviços no exterior
a preços inferiores aos observados na economia doméstica.

Economias de Escala

o O conceito de economias de escala se refere a uma classificação para


o tipo de comportamento dos custos com o qual se defronta uma empresa
à medida em que sua escala de produção varia.

o As economias de escala podem ser medidas pela elasticidade Custo da


Escala (quantidade) de Produção, definida como na fórmula abaixo:

dC (Q) Q CMg
Ec = = <1
dQ C CMe

o Percebe-se na fórmula que as economias de escala implicam uma


redução dos custos médios de produção à medida em que a escala
aumenta. Lembre-se que os custos médios estarão caindo sempre que
forem maiores que os custos marginais.

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o Aproveitando o ensejo, haveriam deseconomias de escala se Ec > 1, ou
seja, se os custos médios aumentassem à medida em que a escala de
produção também aumentasse.

o Presume-se que o aumento nas quantidades utilizadas de insumos seja


ótimo, quer dizer, que as empresas estejam sempre escolhendo seus
insumos de forma a minimizar os custos para as diferentes escalas de
produção (sempre na tangência da isocusto mais baixa com a isoquanta
que define uma escala de produção ou quantidade produzida).

o As economias de escala podem ser de dois tipos:

Internas: a redução de custos à medida em que a escala de


produção aumenta depende apenas de aspectos internos à firma
(tecnologia);

Quando existem economias de escala internas, uma empresa


consegue reduzir seus custos (e ter produtos mais
baratos/competitivos), com o aumento de sua escala produtiva.
Assim, as economias de escala estimulam a especialização e
concentração na produção: em vez de produzir muitos produtos em
escala menor, a produção de um único produto, sob as economias de
escala, implica uma alternativa mais interessante.

Externas: a redução de custos da firma decorre do aumento no


tamanho da indústria (conjunto de firmas), normalmente associada
à redução nos preços dos insumos quando há mais fornecedores.

O crescimento da indústria pode implicar reduções de custos


para a firma por diversos motivos:

Especialização dos fornecedores de insumos;

Agrupamento da mão de obra;

Transbordamentos tecnológicos.

o As economias de escala internas costumam determinar estruturas de


mercado com um ou poucos fabricantes, operando em escalas bastante
grandes, já as economias externas costumam implicar indústrias
grandes, não necessariamente compostas por empresas grandes. É

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possível, entretanto, que haja simultaneamente economias de escala
internas e externas.

o Outra fonte possível de redução de custos, que não se confunde com


as economias de escala, são os retornos com o aprendizado (learning by
doing). Tratam-se de ganhos de produtividade dinâmicos, que dependem
da experiência na produção, número de unidade produzidas
historicamente, e não da escala de produção, número de unidade de
produção possíveis.

o Os ganhos dinâmicos são transitórios, mas podem explicar a proteção


que alguns países dão a determinadas indústrias sob a justificativa de
se tratar de uma indústria nascente. De fato, este tipo de proteção
presta-se a permitir que a indústria acumule experiência na produção,
de forma que possa participar do comércio internacional, quando a
proteção for eliminada, de forma mais competitiva.

Concorrência Imperfeita: Aspectos Básicos

o Uma estrutura de mercado é dita “de concorrência imperfeita” quando


os agentes envolvidos não são tomadores de preços, ou seja, conseguem
afetar os preços de mercado propositalmente com suas ações. Os casos
extremos de concorrência imperfeita costumam ser associados ao
monopólio, em que existe um único ofertante no mercado, e ao
monopsônio, em que há um único demandante. Vale notar que a quantidade
de agentes envolvidos é importante, mas não é condição suficiente para
que possam interferir nos preços de mercado. De fato, um monopolista
diante de uma demanda perfeitamente preço-elástica não tem poder de
mercado algum.

o Pelo lado da oferta, entre a concorrência perfeita e o monopólio


encontram-se duas outras estruturas de mercados típicas: a
concorrência monopolística e os oligopólios. A tabela abaixo apresenta
as principais características destas diferentes estruturas de mercado,
lembrando que se tratam de estruturas ideais, teóricas, deve-se
esperar na realidade estruturas de mercado intermediárias:

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Estrutura Número de Características Básicas
Ofertantes

Concorrência Muitos, Agentes tomadores de preços,


Perfeita “atomizados” produtos homogêneos, ausência
de barreiras à entrada/saída.

Concorrência Alguns, Produtos diferenciados, no


Monopolística especializados curto-prazo agem como
monopolistas, no longo-prazo,
agem como firmas
concorrenciais. Barreiras à
entrada/saída baixas.

Oligopólio poucos Produtos homogêneos ou


diferenciados, altas
barreiras à entrada/saída,
problemas estratégicos entre
os participantes.

Monopólio um Produto único, altas


barreiras à entrada.

Monopólio - Revisão

o O problema típico do monopolista é o de encontrar a quantidade ótima


a ser produzida (aquela que maximiza seus lucros), dados:

As características da demanda em seu mercado (a curva de


demanda); e,

Os custos de produção.

o Graficamente, o problema é posto na figura abaixo. O monopolista


“enxerga” uma curva de demanda de mercado e seus custos, se deseja
maximizar os lucros precisa encontrar a quantidade produzida (ou
ofertada) que faz com que suas receitas marginais se igualem aos
custos marginais.

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o Para encontrar a produção compatível com o lucro máximo, o
monopolista precisa levar em consideração o seu poder sobre o preço de
mercado. O preço recebido por unidade vendida (receita média) é
definido pela quantidade que o monopolista oferta no mercado: é o
preço definido na curva de demanda para aquela quantidade ofertada
pelo monopolista. De forma mais geral, a receita total do monopolista
é dada por RT = PQ, mas o preço é função da própria quantidade
ofertada, ou seja, RT = P(Q) Q. Assim, a Receita Marginal do
monopolista é dada por:

RT = PQ
dRT dP dQ
RMg = = Q+ P
dQ dQ dQ

ou, multiplicando e dividindo o primeiro termo do lado direito por P:

dRT dP Q
RMg = =P + 1P
dQ dQ P

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recordando a definição da elasticidade preço da demanda:

dP Q 1
= , logo,
dQ P ε PQ D
 
+ P = P 1 + 
1 1
RMg = P
ε PQ D  ε D 
 PQ 

assim, para maximizar os lucros, o monopolista deve ofertar a


quantidade que faz valer a igualdade RMg = CMg:

 
RMg = P1 +  = CMg
1
 ε D 
 PQ 

o Note que o poder de mercado do monopolista decorre da faculdade de


cobrar preços superiores aos custos marginais. A elasticidade-preço da
ε
demanda, PQ , situa-se entre 0 (bens cuja demanda é completamente
D

inelástica aos preços), e - ∞ (bens de demanda completamente preço-


elástica). Assim, se a elasticidade preço da demanda tender a - ∞,
mesmo que o produtor seja o único ofertante do mercado (monopólio),
não terá poder de mercado, vale dizer, cobrará um preço igual a seus
custos marginais, ou, no máximo, igual aos seus custos totais médios
(caso de economias de escala). Já se a demanda for pouco preço-
elástica, digamos, com uma elasticidade igual a – 4, o preço que
maximiza os lucros será igual a 1,33 vezes os custos marginais.
(cheque os cálculos!).

o Note, ainda, que a Receita Marginal estará sempre abaixo da curva de


demanda, que representa a Receita Média. Isto pode ser entendido

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ε
diretamente pela fórmula acima, onde PQ é a elasticidade preço da
D

demanda (negativa), ou graficamente, pois quando a Receita Média está


caindo, a Receita Marginal precisa ser menor do que a média.

o Krugman & Obstfeld trabalham com uma função demanda de mercado


linear, da forma

Q D = a − bP

mas, o Preço é função da quantidade ofertada, pelo que a equação


da demanda poderia ser reescrita como:

a 1
P= − Q
b b

como a Receita Total é produto entre preço e quantidade,


multiplicando a expressão para P por Q:

a 1
RT = PQ = Q − Q2
b b

de forma que, a receita marginal, para esta curva de demanda


específica é dada por:

∂RT a 1 1
= −2 Q = P− Q
∂Q b b b

o A firma maximiza os lucros quando RMg = CMg. De fato, o monopolista


escolherá a quantidade produzida de acordo com esta regra, o preço a
ser cobrado por unidade, entretanto, normalmente será maior do que os
custos marginais (lembre-se que o Preço na derivação acima saiu da
curva de demanda), podendo ser encontrado pela substituição da
quantidade escolhida na curva de demanda ou receita média.

o O raciocínio da comparação dos custos marginais com as receitas


marginais precisa ser complementado quando existem economias de escala
(custos marginais menores do que os custos médios). De fato, sempre
que houver custos fixos, os custos médios terão um componente que não
entra no raciocínio marginalista, vale dizer, a regra RMg = CMg não
leva em consideração os custos fixos. Assim, não há garantia de que a
Receita Média seja igual ou maior do que os custos totais médios

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quando se está na presença de economias de escala. Este teste precisa
ser feito e:

Se os custos médios forem menores do que as receitas médias, o


monopolista aufere lucros positivos;

Se os custos médios forem iguais às receitas médias, o


monopolista tem lucro econômico igual a zero, o mesmo de empresas
competitivas;

Se os custos médios forem maiores que o preço, o monopolista


teria prejuízo produzindo aquela quantidade. Neste caso, o preço
mínimo que o monopolista estaria disposto a receber para
participar do mercado seria aquele que cobrisse os custos totais
médios. Normalmente, este problema é raro na prática dos
monopólios, mas é importante levá-lo em consideração,
especialmente em estruturas de concorrência monopolística
(discutidas abaixo).

o Os lucros do monopolista são dados pela diferença RT-CT, ou, (RMe-


CTMe)Q. Graficamente, o retângulo com altura igual a PM (P = RMe) e
base igual a QM têm uma área igual às Receitas Totais. O retângulo de
altura AC (CTMe) e base QM, têm área igual aos Custos Totais. Assim, os
lucros do monopolista podem ser encontrados pela diferença entre as
áreas dos dois retângulos.

o Os lucros econômicos positivos do monopolista são “anormais”, ou


seja, excedem a rentabilidade normal derivada do uso concorrencial dos
recursos. Assim, há um estímulo à entrada de empresas neste mercado,
procurando compartilhar estes lucros acima do normal. No monopólio,
enquanto as barreiras à entrada/saída forem altas, os lucros anormais
do monopolista poderão ser preservados. Se, entretanto, as barreiras
diminuírem, a entrada de novas firmas será inevitável.

o Com a eventual entrada de novas firmas, como acontece normalmente em


mercados de concorrência monopolística, melhor analisados abaixo, o
efeito básico percebido pelo monopolista é o de um deslocamento para a
esquerda (ou para baixo) de sua curva de demanda. Tente fazer um
gráfico do problema do monopolista comparando a situação sem
concorrência e a decorrente da entrada de novas empresas no mercado.
Os lucros de monopólio tendem a diminuir e o interesse de entrantes
neste mercado só para de existir quando os lucros econômicos deixarem

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de ser positivos. A situação concorrencial é a de lucro econômico
zero!

Concorrência Monopolística

o Na concorrência monopolística, os participantes do mercado detêm um


monopólio transitório, de curto-prazo, que perdura enquanto os
consumidores perceberem os produtos como diferenciados. Como as
barreiras à entrada são baixas, a imitação dos produtos que tenham
diferenciais lucrativos faz com que seus preços diminuam, levando, em
última instância, à saída de alguns participantes do mercado e
eliminando os lucros de “monopólio”.

o Têm-se, assim, uma estrutura de mercado parecida com os monopólios


no curto-prazo, tendendo a uma solução concorrencial no longo-prazo.
Em linhas gerais, esta estrutura de mercado induz o aparecimento
permanente de novidades, invenções, produtos diferenciados, na
proporção em que são estes diferenciais que justificam os lucros
positivos de curto-prazo. Normalmente, entretanto, o excesso de
diferenciação pode impedir o aproveitamento de economias de escala,
causando uma diferenciação excessiva. O comércio internacional,
ampliando as dimensões dos mercados consumidores, pode diminuir o
problema de excesso de diversificação e melhorar os benefícios de
economias de escala.

o Um modelo estilizado, apresentado por Krugman e Obstfeld, supõe que


uma firma em concorrência monopolística se depara com uma curva de
demanda negativamente inclinada (tem poder de mercado), mas que
depende

Do número de empresas participantes do mercado, n. A participação


de mercado da empresa considerada, supondo que todas as empresas
tenham o mesmo tamanho e que as vendas totais neste mercado
tenham o valor S, será igual a (1/n)S;

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Da substitutibilidade entre o produto da empresa considerada e os
dos demais fabricantes. Supõe-se, de forma genérica, que uma
redução no preço dos bens concorrentes, P , diminua a demanda pelo
bem fabricado pela empresa de acordo com o parâmetro b.

o A função demanda linear, dadas estas suposições, tem a seguinte


especificação:

1 
Q D = S  − b(P − P )
n 

o No que concerne aos custos de produção, supõe-se que todas as


empresas trabalhem com estruturas de custos idênticas, com:

Custos Totais: CT = F + cQ , onde F são os custos fixos e c os


custos variáveis por unidade;

CT F Q F
= + c = CMe = + c
Custos Totais Médios: Q Q Q Q , ou, lembrando que
a quantidade produzida pela firma corresponde à sua fatia de
mercado, Q = S/n:

F F F
CMe = +c = +c =n +c
Q (S n ) S

o Dado o tamanho do mercado, S, os custos médios de uma empresa


participante aumentam à medida em que o número de participantes
aumenta (a escala de produção de cada empresa diminui, pois sua fatia
de mercado se reduz).

o Dados os preços cobrados pelas demais empresas, o problema de


maximização dos lucros pela empresa considerada consiste da escolha da
quantidade produzida que iguala RMg e CMg, cobrando, então, o preço
máximo por aquela quantidade. Os passos são:

Encontrar a RT, a partir da função demanda:

Isola-se P, expressando-o em função de Q:

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1  S
Q D = S  − b(P − P ) = − SbP + SbP ⇒
n  n
1 S  1 Q
P=  + SbP − Q  = +P−
Sb  n  bn Sb

Multiplica-se P por Q, para obter a expressão para a RT:

1 Q2
PQ = Q + PQ −
bn Sb

Encontra-se a Rmg:

∂RT 1 Q 1 S  Q Q
= +P −2 =  + SbP − Q  − = P−
∂Q bn Sb Sb  n  Sb Sb

Encontra-se o CMg:

dCT
=c
dQ

Iguala-se Cmg a Rmg:

Q
RMg = P − = c = CMg
Sb

ou,

Q
P=c+
Sb

o Lembrando que S = Qn, pode-se reescrever a condição de maximização


de lucro de forma a perceber que um aumento no número de empresas (n)
implica uma redução dos preços cobrados pelas formas individualmente:

Q
P =c+
Qnb

o A equação dos custos totais médios e da maximização de lucros em


função do número de empresas podem ser representadas graficamente:

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o No ponto em que o número de firmas iguala os custos médios aos
preços, os lucros econômicos são nulos, ou seja, o mercado tende a
ter, no longo-prazo, n2 firmas. Quando há apenas n1 firmas, os preços
são maiores do que os custos e, com lucros de monopólio, novas firmas
são atraídas ara o mercado. Com n3 firmas, as participantes do mercado
têm prejuízos econômicos, tendendo a sair do mercado até que se atinja
o número n1 de firmas.

Concorrência Monopolística e Comércio

o Como já se aventou, uma economia fechada limita as possibilidades de


especialização. No modelo de concorrência monopolística, esta
restrição aparece na variável S, o montante de vendas. Uma elevação em
S desloca a curva CC para a direita, ampliando o número de firmas que
podem participar do mercado em equilíbrio, pois os custos médios
diminuem.

o Note que a mera expansão dos mercados envolvidos, pelas economias de


escala associadas, viabilizam um maior comércio internacional. Este
fenômeno não depende da existência de vantagens comparativas, é uma
nova explicação para o comércio internacional.

o Veja este efeito na figura abaixo e examine o exemplo numérico


apresentado por Krugman e Obstfeld.

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Comércio Inter-industrial e Intra-industrial

o A existência das economias de escala, internas e externas, dá razão


a um tipo de comércio que não precisa ser amparado nas vantagens
comparativas. De fato, pelas vantagens comparativas um país tende a
exportar os bens para os quais tenha custos relativos de produção
menores, importando os outros tipos de bens. Este tipo de comércio
envolve transações com bens diferentes, produzidos em indústrias
diferentes. Chama-se comércio INTER-industrial.

o O comércio baseado em economias de escala, a seu turno, depende


fundamentalmente da existência de demanda suficiente para justificar a
produção especializada, de produtos diferenciados e em larga escala.
Uma economia fechada não teria condições de produzir os todos os
diferentes bens de uma indústria aproveitando as economias de escala,
a variedade seria limitada pela demanda doméstica e os custos de
produção seriam mais altos, pois as escalas seriam menores. Com a
ampliação de mercados trazida pela abertura comercial, portanto,
torna-se factível a especialização mais profunda, cada país produzindo
uma pequena variedade de bens similares, mas diferenciados, em grande
escala e a custos médios baixos. A variedade dos bens disponíveis aos
consumidores, entretanto, aumentaria através das importações. Trata-se
de um comércio de bens similares, de uma mesma indústria, manufaturas,
por exemplo, denominado comércio INTRA-industrial.

o O comércio intra-industrial, ao prescindir de fatores que


justifiquem as vantagens comparativas (diferenças de tecnologias,

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dotações, especificidade de fatores...) pode ser realizado entre
países estruturalmente bastante parecidos. De fato, a maior parte do
comercio entre países desenvolvidos é da modalidade intra-industrial,
um exemplo típico sendo o observado na União Européia. Este tipo de
comércio não tem implicações importantes em termos de redistribuição
de renda interna aos países que os realizam, os setores crescerão em
todos os países participantes, ainda que de forma especializada em
determinados produtos.

o A especialização na produção decorrente do comércio intra-


industrial, vale dizer, não segue qualquer padrão pré-definido. De
fato, a probabilidade de que um país se especialize na produção de uma
determinada variedade de um bem depende muito da sorte e contingência
histórica. O país que iniciar antes sua especialização em um bem que
tenha ampla demanda internacional perceberá, pelas economias de
escala, vantagens concorrenciais sobre os demais.

o Finalmente, uma fórmula usada para calcular a importância do


comercio intra-industrial em relação ao comércio inter-industrial
relativo a um determinado setor, i, seria:

Xi −Mi
I = 1−
i

Xi +Mi

Se a indústria i realiza apenas comércio inter-industrial, será


uma exportadora ou uma importadora de bens, não ambos. Assim. X
ou M serão nulos na fórmula acima e I será igual a 0 para a
indústria i.

Se a indústria i realiza apenas comércio intra-industrial,


exportando exatamente o mesmo valor importado, o valor do
numerado será igual a 0, e o índice I será igual a 1.

Quanto mais próximo de 1 (mais distante de 0) estiver I, maior a


importância do comércio intra-industrial para a indústria em
questão. Vide a Tabela 6-3 para exemplos.

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Dumping

o A prática de dumping consiste da discriminação internacional de


preços, mediante a qual o preço do produto no mercado importador é
fixado a menor do que o observado no mercado do país de origem. As
notas abaixo extrapolam um pouco o texto de Krugman & Obstfeld,
aprofundando a análise.

o Trata-se de conduta de âmbito comercial, mais especificamente, de


expediente condenado pela boa prática do comércio internacional.
Existindo alguma indústria ou empresa doméstica no país importador que
se perceba prejudicada pelo dumping, o tema costuma ganhar destaque e
o interesse das autoridades domésticas competentes.

o Para entender os possíveis motivos pelos quais uma empresa tentaria


colocar seus produtos em mercados estrangeiros a preços menores do que
os praticados no país de origem recorre-se, ainda hoje, às lições de
Jacob Viner . Segundo o autor, três razões poderiam subjazer à prática
de dumping:

i) a conveniência de escoar eventuais e inesperados excedentes


produtivos domésticos, sem reduzir os preços praticados no mercado de
origem (dumping esporádico);

ii) a estratégia de entrar em determinado mercado, conquistando


participação significativa ou expulsando os concorrentes lá
existentes. Para justificar esta linha de ação, a entrada e
monopolização do mercado estrangeiro precisariam permitir, num segundo
momento, a elevação dos preços no mercado estrangeiro a níveis até
maiores do que os observados antes do dumping (dumping de curto-prazo,
ou dumping predatório); e,

iii) a intenção de alcançar, ou manter, larga escala de produção


no país de origem, aproveitando as reduções nos custos de produção
associadas (dumping de longo-prazo).

o A viabilidade da prática de dumping, qualquer seja sua motivação,


deve ser bem apreendida. Trata-se de conduta cuja viabilidade é
condicionada, inexoravelmente, pela possibilidade de discriminação
entre mercados, de separação de regiões comerciais estanques em que
serão cobrados preços diferentes para produtos iguais. Efetivamente,
não é possível, sob qualquer hipótese, realizar dumping entre mercados

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que se mostrem interligados. De fato, se existe em certo país produto
idêntico (ou muito similar) disponível a preços menores do que em
outro, os consumidores não estarão dispostos a adquiri-los aos preços
mais altos. Há que se ter claro, portanto, que condições
especialíssimas – mormente quando se considera a alta integração dos
mercados internacionais na modernidade – são necessárias para que a
prática de dumping seja logicamente possível e economicamente
interessante. Para que haja a chance da prática de dumping é
necessário que barreiras artificiais (tarifas, cotas, restrições
administrativas) ou naturais (custos de transporte, seguros, problemas
informacionais) logrem isolar os mercados doméstico e estrangeiro.

o No caso do dumping esporádico, o exportador procura vender produtos


a preços maiores em seu próprio país, desviando para outro as
eventuais sobras de produção. A oferta dos excedentes no país de
origem faria seus preços diminuírem, razão do direcionamento do mesmo
a outros mercados. Isso traz prejuízos tanto aos consumidores do país
de origem quanto aos produtores (de bens substitutos) do país de
destino. Os consumidores do país de destino, contudo, apreciam a
redução dos preços das mercadorias estrangeiras e suas substitutas
domésticas, ainda que eventual. O dumping aqui tratado é de caráter
esporádico, interessante apenas quando a produção no país de origem é
maior, por erro de previsão, do que demanda doméstica. A constatação
da prática desta modalidade de dumping depende da detecção de
variabilidade eventual e transitória de preços e quantidades
exportadas do produto em questão, não exibindo caráter prolongado.

o O dumping de curto-prazo, por sua vez, implica estratégia análoga à


prática de preços predatórios, ou underselling. Pode-se antecipar,
contudo, que neste caso a venda de produtos a preços inferiores aos
praticados no mercado de origem constitui uma forma de “investimento”
estratégico. Com efeito, o produtor no país de origem estaria disposto
a sofrer prejuízos (ou redução de lucros) transitórios com a redução
de seus preços, enquanto fragiliza e elimina a concorrência no país de
destino. Após ter logrado a monopolização do mercado de destino,
precisa recuperar os custos da dominação do mercado, elevando os
preços a patamares maiores que os praticados antes da estratégia de
dumping.

o Na situação de dumping predatório, o interesse econômico na


realização do “investimento” estratégico representado pelos prejuízos

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contabilizados durante o período de predação exige que - após a
ulterior elevação dos preços - inexista a possibilidade de retorno dos
participantes expulsos do mercado (re-entrada) ou de entrada de novos
participantes. Efetivamente, caso a expulsão ou fragilização dos
concorrentes fosse apenas transitória, a recuperação dos gastos com a
predação seria inviável, tornando a estratégia ilógica e inconveniente
sob o ponto de vista econômico. Somente na hipótese da existência de
barreiras à entrada e re-entrada em determinado mercado
suficientemente altas, portanto, a estratégia de dumping de curto-
prazo poderia interessar ao produtor do país de origem. Sendo
factível, o dumping predatório é pernicioso tanto aos produtores
quanto aos consumidores do país importador.

o Finalmente, o dumping de longo-prazo encontra amparo lógico no


intuito de um fabricante no país de origem aproveitar ao máximo sua
capacidade produtiva instalada quando esta é sujeita a economias de
escala. Nessa situação, os produtores no país de origem perceberiam
diminuições de custos com a elevação de sua escala de produção. A
oferta de mais produtos no próprio país de origem poderia ser pouco
interessante, na medida em que implicasse a redução dos preços daquele
mercado. Assim, sendo possível estabelecer preços diferentes no país
de origem e em outras nações, a prática de dumping teria algum
respaldo lógico: os preços no país de origem permaneceriam altos e os
custos de produção diminuiriam, com as economias de escala, pela
ampliação das quantidades vendidas em mercados estrangeiros.

o Novamente, essa última modalidade de dumping depende da


possibilidade de isolar os mercados de origem e destino, praticando
preços diferentes em cada qual. Ainda, mostra-se benéfica aos
consumidores do país de destino e aos produtores no país de origem,
prejudicando os produtores do país de destino e os consumidores do
país de origem. Baseada na utilização eficiente dos recursos exige
análise mais detalhada para que se possam avaliar os resultados
líquidos, em termos de bem-estar, nas sociedades produtoras e
importadoras das mercadorias envolvidas.

o O grande dilema que se coloca às autoridades responsáveis pela


política comercial dos países submetidos à eventual prática de dumping
e às entidades internacionais de composição dos litígios envolvidos
encontra-se na dificuldade em discernir entre as situações em que o
dumping efetivamente ocorre e aquelas em que se observa a simples e

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salutar operação da concorrência de mercado. De fato, produtores
domésticos ineficientes, utilizando escalas de produção pouco
competitivas ou tecnologias ultrapassadas sentem-se pressionados pela
concorrência de produtores estrangeiros mais eficientes, sendo comum a
tentativa de eliminar a incômoda competição alienígena mediante o
apelo à tutela estatal, argüindo, ainda que com tíbia fundamentação, a
prática de dumping pelos concorrentes estrangeiros.

o Na proporção em que empresas menos eficientes são mais expostas à


concorrência internacional, as acusações de práticas de dumping,
especialmente as infundadas, tendem a aumentar. Paradoxalmente, a
maior exposição ao comércio internacional, com a redução das barreiras
que separam os mercados, reduz a possibilidade da efetiva prática de
dumping.

o A tendência mundial no sentido da diminuição da proteção aos


mercados nacionais ressurge com a constituição do Acordo Geral de
Tarifas e Comércio - GATT, em 1947. Após a elaboração do referido
Acordo, diversas rodadas de negociação multilateral entre os países
signatários foram realizadas , tendo a última ficado conhecida como a
"Rodada do Uruguai", iniciada em 1986 e concluída em 1993. O sentido
claro dessas mesas de negociação é o de procurar reduzir os esquemas
de proteção tarifária e não tarifária entre os países, incrementando o
comércio internacional e favorecer todas as comunidades envolvidas.
Nessa linha, o processo internacional de liberalização comercial, ao
reduzir e expor os mercados dos diferentes países à concorrência
internacional, facilita a ocorrência de ocorrências de acusações
infundadas de prática de dumping, ainda que diminua a possibilidade de
discriminação entre mercados.

o Finger (1999) atesta que, atualmente, cerca de 40 países contam com


regulamentação doméstica para combater o dumping. É neste contexto que
se deve compreender a regulamentação imposta sob o Artigo VI da GATT -
1994 , que cuida dos procedimentos de investigação e proteção das
indústrias domésticas ao dumping.

o Na referida legislação encontram-se parâmetros para orientar a


detecção e dimensionar a magnitude do dumping eventualmente praticado.
Em termos procedimentais, com base em denúncia de empresa doméstica
interessada, ou ex officio, as autoridades competentes - no Brasil a

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SECEX -, iniciam procedimento de investigação antidumping. Nessa
investigação importa averiguar:

i) a efetiva ocorrência de dumping;

ii) a eventual ocorrência de dano à indústria doméstica; e,

iii) a existência de nexo causal entre o possível dumping e eventual


dano à indústria doméstica.

o Finalmente, é conveniente notar que a constatação da prática de


dumping normalmente enseja combate pela imposição de direitos
antidumping definitivos. Estes representam montantes pecuniários,
usualmente definidos sob a forma de taxas ad valorem sobre os preços
de importação, que são recolhidos, como se fossem impostos, aos cofres
públicos. A magnitude dos direitos antidumping é determinada a partir
da diferença entre os preços "normais" - aqueles que, segundo os
cálculos, não configurariam dumping, - e os preços de "exportação".
Potencialmente, a imposição de direitos antidumping tem dois efeitos:
(i) aumentar os preços dos produtos por eles atingidos para os
consumidores domésticos; e (ii) estimular as empresas estrangeiras
afetadas pelos direitos antidumping a, no futuro, diminuírem as
exportações para o país que as penaliza, numa modalidade de restrição
comercial denominada "Restrição Voluntária às Exportações" (RVE). As
RVE fazem com que, pela menor oferta de produtos no mercado de
destino, lá sejam praticados preços maiores, compatíveis com os
interesses dos produtores domésticos. Deixando de incomodar aos
produtores tutelados no país de destino, no decorrer do tempo as
empresas estrangeiras passam a lá disponibilizar produtos a preços
mais altos, imunes aos direitos antidumping. Por esta via, as RVEs
redundam na cobrança, pela própria empresa estrangeira, dos valores
correspondente aos direitos antidumping anteriormente impostos. É
notável e inconteste a inconveniência social trazida pela tutela,
quando este for o caso, dos interesses de uma indústria doméstica
ineficiente: conforta-se um estreito e incompetente ramo industrial às
custas de milhares de consumidores e do próprio bem-estar da
sociedade, valor último a merecer efetivo amparo estatal.

o O gráfico abaixo mostra a lógica geral da precificação no dumping.


Note que há discriminação entre o mercado doméstico e estrangeiro,
identificam-se duas curvas de demanda distintas, uma negativamente

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inclinada (a domestica) e, neste caso, outra horizontal ( a
estrangeira). No mercado internacional o produtor não tem poder de
mercado, mas domesticamente se depara com uma curva de demanda
negativamente inclinada. Assim sendo, se conseguir praticar preços
diferentes no mercado doméstico e no mercado internacional, ofertará
QDOM unidades na economia doméstica, praticando um preço superior ao
internacional, e ofertará a quantidade (QMonopoly – Q Dom) no mercado
internacional, aos preços internacionais..

o Uma curiosidade interessante é o caso do dumping recíproco, em que


e,presas produtores do mesmo bem em países diferentes discriminam
entre seus mercados domésticos e os estrangeiros. Se isto ocorrer,
cada produtor domestico estará contestando o mercado do produtor do
outro país, e vice-versa. Evidentemente, o dumping recíproco limita a
possibilidade de exercer preços domésticos muito superiores aos
internacionais que, no limite, só poderiam diferir pelos custos de
transporte e eventuais tarifas. Esta possibilidade é interessante na
medida em que serve para explicar o fato (raro) de um país exportar e
importar exatamente o mesmo bem.

Perguntas

o Problemas do Capítulo 6 – Krugman & Obstfeld: Todas

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Bibliografia

Caves, Richard E., Frankel, Jeffrey A., Jones, Richard W. World, Trade and
Payments: An Introduction. USA: Addison Wesley, 1999.
Finger, J. Michael. "GATT EXPERIENCE WITH SAFEGUARDS:Making Economic and Political
Sense of the Possibilities That the GATT allows to Restrict Imports." World Bank.
1999
Krishna, Raj. "Antidumping in Law and Practice." World Bank Economic Papers. 1823.
37 p: World Bank, 09/1997
Krugman, Paul R., Obstfeld, Maurice. Economia Makron Books, 1999.

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