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net/publication/327318702
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Makoto Namba
Bureau de Projetos TÜV Süd Group
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Vale S.A.
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O estudo de caso da barragem Itabiruçu: Gestão de Risco Geotécnico de barragens de rejeito 30/março/2018 página 1 de 10
Prêmio José Machado
Conceição. Em meados da década de 1980, a El. 833,0 m e extravasor tulipa na El. 825,0 m),
disposição dos rejeitos foi alterada para o ambos com projetos executivos elaborados pela
sistema de ciclonagem, cujo overflow (material Engecorps, com construção finalizada em 2005
de fração mais fina) passou a ser disposto no (parcial) e em 2013 pela Construtora Mello
reservatório da Barragem Conceição enquanto o Azevedo.
underflow (material de fração mais grossa, A condição atual da barragem foi alcançada
masque também incluía partículas finas de após a execução de alteamento provisório do maciço
minério de ferro) no reservatório da Barragem (crista na El. 836,0 m), desativação do extravasor
Itabiruçu. Desde 2009, após a interrupção da tulipa por tamponamento e execução de vertedor
ciclonagem, a Barragem Itabiruçu é responsável tipo torre-galeria na ombreira esquerda (soleira
pela contenção de rejeito total e acumulação e na El. 833,0 m), com projeto executivo elaborado
recirculação de água para atendimento às pela Engecorps e construção finalizada em 2016
demandas das usinas da Mina Conceição. pelas empresas Salum Construções e Progeo
A primeira etapa da Barragem Itabiruçu (crista Engenharia.
na El. 812,0 m e extravasor tulipa na El. 808,8 m) A geometria da barragem é apresentada em
teve seu projeto executivo desenvolvido pela planta na Figura 2, a qual indica a seção
Milder Kaiser e Eletroprojetos, cuja construção transversal de análise apresentada na Figura 3.
foi finalizada em 1981 pela Queiroz Galvão. Para seu monitoramento, encontram-se
A segunda etapa refere-se a um alteamento instalados 19 piezômetros (PZs), 8 medidores de
parcial (crista na El. 817,5 m e extravasor tulipa nível d’água (INAs), 6 réguas de reservatório
na El. 813,8 m) e um alteamento final (crista na 2 medidores de vazão e 21 marcos topográficos.
seção de
análise 103
09 12 13 06
08 07 80
81 82
06 07 14 15
104 20 21
10 11
02
04
111
16 17
03
Legenda:
piezômetros
medidores de nível d’água 18 19
escala gráfica
Figura 2 – Planta de locação da instrumentação instalada, com indicação da seção transversal de análise.
Figura 3 – Seção transversal de análise, com interpretação da piezometria (no maciço e na fundação).
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probabilística foi realizada a partir da simulação entretanto ela ainda se encontra em fase de
do trânsito de cheias nos reservatórios presentes desenvolvimento no mundo. A utilização do
no complexo da Mina Conceição (barragens método tem como vantagem a reflexão
Conceição, Rio do Peixe, Itabiruçu e diques aprofundada sobre o desenvolvimento do modo
internos), com o intuito de identificar as de falha e dos fatores que influenciam cada uma
características dos eventos pluvio-fluviométricos das etapas do fenômeno.
capazes de promover o galgamento dessas Esta metodologia foi desenvolvida com base
estruturas. em Foster e Fell (1999), Fell et al. (2005) e em
Como resultado desta simulação de trânsito Fell e Fry (2007), com as devidas adaptações e
de cheias, foram obtidos os hidrogramas especificidades para barragens de mineração.
afluentes e defluentes do reservatório da Existem, basicamente, quatro mecanismos
Barragem Itabiruçu, bem como a sua sobrelevação principais de erosão interna: erosão regressiva
máxima para cada duração de cada chuva com entubamento (piping), sufusão
associada a um tempo de retorno (TR). (instabilidade interna), erosão em fluxos
A probabilidade de ruptura é calculada como concentrados e erosão de contato entre solos.
o inverso do tempo de retorno (1/TR). Não foi Para a Barragem Itabiruçu, foram avaliados
verificado o fenômeno de galgamento da três cenários distintos, referentes a eventos
Barragem Itabiruçu nem mesmo para a cheia iniciadores julgados como mais prováveis de
decorrente da precipitação máxima provável ocorrer: (i) erosão interna pelo maciço, por
(PMP), restando uma borda livre de 1,90 m. erosão regressiva com entubamento; (ii) erosão
Entende-se, assim, que a probabilidade de interna pela fundação, por erosão regressiva
galgamento da barragem é desprezível. De todo com entubamento; e (iii) erosão interna em fluxo
modo, optou-se por adotar como valor mínimo a concentrado pelo maciço, ao longo de conduto
probabilidade de ruptura de 1 ₓ 10-8, como enterrado (galeria tamponada do antigo sistema
estabelecido pela metodologia do GRG. extravasor).
Para cada cenário, uma Árvore de Eventos é
3.2.2. Modo de falha Erosão Interna elaborada representando a sequência de
evolução do processo erosivo por meio dos nós:
Quando um evento de falha, neste caso a erosão (a) iniciação; (b) continuação; (c) formação do
interna, não pode ser definido por uma tubo; (d) progressão do tubo; (e) detecção do
formulação racional de Engenharia, analítica ou processo e sua intervenção; e (f) formação do
numérica, para sua avaliação probabilística, mecanismo de ruptura.
recorre-se à combinação de Árvores de Eventos Apresenta-se na Figura 4 a Árvore de Eventos
com Árvores de Falhas. Esta metodologia para de resultado mais desfavorável, referente à
avaliação do potencial de erosão interna tem erosão interna pela fundação na região da
sido utilizada por várias organizações, incluindo ombreira esquerda, com probabilidade de
o USACE (2006), o USBR (2015) e organizações ruptura de 1 ₓ 10-5.
australianas desde o final da década de 90,
Ruptura da barragem
sim com formação de Pf = 1ₓ10-5
brecha e vertimento de (= 0,02ₓ0,99ₓ0,13ₓ
0,72
material para jusante ₓ0,01ₓ0,45ₓ0,72)
sim Alargamento
(f)
0,45 do tubo
Danos graves à estrutura
sim
Incapacidade 0,28 da barragem sem Pf = 4ₓ10-6
de detecção (e) (= 0,02ₓ0,99ₓ0,13ₓ
0,01 e intervenção não vertimento de material
A erosão é para jusante ₓ0,01ₓ0,45ₓ0,28)
O tubo 0,55
sim detectada e
permanece (d)
não interrompida
0,13 aberto
O tubo P = 2ₓ10-5
sim Formação 0,99
(c) colapsa
0,99 do tubo não
Interrupção do
Continuação P = 2ₓ10-3
sim 0,87 processo
do processo (b)
não erosivo
0,02 erosivo
Erosão regressiva Aumento das
P = 2ₓ10-2
pela fundação com 0,01 vazões
(a)
entubamento não percoladas
O processo
(piping ) P = 2ₓ10-4
0,98 erosivo não é
não iniciado
P = 0,98
Figura 4 – Árvore de Eventos para erosão interna pela fundação, com probabilidades de ocorrência dos nós.
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Probabilidade acumulada
Probabilidade acumulada
Probabilidade acumulada
Densidade de probabilidade
Densidade de probabilidade
0,60
0,16 0,40
0,55
0,50 0,14 0,35
0,45 0,12 0,30
0,40
0,35 0,10 0,25
0,30 0,08 0,20
0,25
0,20 0,06 0,15
0,15 0,04 0,10
0,10
0,02 0,05
0,05
0,00 0,00 0,00
12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40
Peso específico (kN/m³) Coesão efetiva (kPa) Ângulo de atrito efetivo (graus)
Maciço 1a etapa (30 ensaios) Maciço 1a etapa (7 ensaios) Maciço 1a etapa (9 ensaios)
Maciço 2a etapa (74 ensaios) Maciço 2a etapa (14 ensaios) Maciço 2a etapa (19 ensaios)
Solo residual (48 ensaios) Solo residual (13 ensaios) Solo residual (13 ensaios)
Solo saprolítico (71 ensaios) Solo saprolítico (20 ensaios) Solo saprolítico (20 ensaios)
Maciço 1a etapa (distribuição Normal) Maciço 1a etapa (distribuição Log-normal) Maciço 1a etapa (distribuição Normal)
Maciço 2a etapa (distribuição Normal) Maciço 2a etapa (distribuição Log-normal) Maciço 2a etapa (distribuição Normal)
Solo residual (distribuição Normal) Solo residual (distribuição Log-normal) Solo residual (distribuição Normal)
Solo saprolítico (distribuição Normal) Solo saprolítico (distribuição Log-normal) Solo saprolítico (distribuição Normal)
Probabilidade de Ruptura
FS, Fator de Segurança
Desvio-padrão do FS
1,20 5E-6
1,55 0,13
1,10 4E-6
Média do FS
1,54 0,12 1,00 3E-6
Desvio-padrão do FS
0,90 2E-6
1,53 0,11
FS mín
0,80 1E-6
Probabilidade de ruptura frequentista
1,52 0,10 0,70 0E+0
0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000
Número de simulações Número de simulações
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1,00
Probabilidade acumulada
500.000 Simulações 0,95
6E-5 0,90
P [FS]
Distribuição Normal 0,85
5E-5 Distribuição Log-normal 0,80
0,75
Distribuição Beta 0,70
4E-5 0,65
Distribuição Gama 0,60
3E-5 0,55
0,50
0,45
2E-5 0,40
0,35
1E-5 0,30
0,25
0E+0 0,20
0,15
0,90 0,95 1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 0,10
FS 0,05
0,00
0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0 2,1
FS, Fator de Segurança
4,00
Densidade de probabilidade
500.000 Simulações
4E-3 Distribuição Normal 3,50
p [FS]
Distribuição Log-normal
3,00
3E-3 Distribuição Beta
Distribuição Gama 2,50
2E-3
2,00
1E-3 1,50
1,00
0E+0
0,90 0,95 1,00 1,05 1,10 1,15 1,20 0,50
FS
0,00
0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0 2,1
FS, Fator de Segurança
Tabela 1 – Custo das consequências (R$) por esfera de valoração e para diferentes cenários.
Cenário
Ruptura Noturna Ruptura Noturna Ruptura Noturna Ruptura Noturna
Dia Seco Dia Seco Dia Chuvoso Dia Chuvoso
SEM alerta prévio COM alerta prévio SEM alerta prévio COM alerta prévio
Econômica 6.265.639.046 6.240.561.426 9.061.933.537 6.848.278.343
Saúde e segurança 26.407.083.888 1.663.427.350 27.440.466.859 1.718.358.939
Esfera
Social 40.169.939 38.665.282 85.512.469 83.954.694
de
Meio ambiente 100.513.032 100.513.032 118.379.849 118.379.849
valoração
Órgãos reguladores 547.850.001 547.850.001 547.850.001 547.850.001
Imagem da empresa 7.103.370.988 4.925.775.984 7.103.370.988 6.334.812.340
TOTAL 40.464.626.894 13.516.793.074 44.357.513.702 15.651.634.166
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1E+0
Legenda:
1E-1
ruptura noturna, dia seco,
Erosão Interna sem alerta prévio
1E-2
Probabilidade (Pf = 1ₓ10-5) ruptura noturna, dia seco,
com alerta prévio
1E-3
Os cenários de dia chuvoso não são BAECHER, G.B. e CHRISTIAN, J.T. (2003). Reliability and
visualizados no gráfico, pois as probabilidades Statistics in Geotechnical Engineering. England: John
Wiley and Sons Ltd., 605p.
de falha foram multiplicadas pela probabilidade CECÍLIO Jr, M.O. et al. (2012). Avaliação de risco da
de uma chuva decamilenar (1ₓ10-4). estabilidade de escavações de túneis em solo baseada
na variabilidade de parâmetros geotécnicos. In: 3º
Congresso Brasileiro de Túneis. São Paulo: CBT/ABMS.
DNPM (2017). Portaria Nº 70.389, em 17/05/2017.
4. Considerações Finais Disponível em http://www.anm.gov.br/acesso-a-
informacao/legislacao/portarias-do-diretor-geral-do-
O estudo permitiu determinar probabilidades de dnpm/portarias-do-diretor-geral/portaria-70-389-de-
falha para a Barragem Itabiruçu, tendo sido 2017/view. (último acesso em 30/03/2018).
FEAR, C.E. e ROBERTSON, P.K. (1995). Estimating the
encontrados valores baixos. Isto reitera a undrained strength of sand: a theoretical framework.
segurança da barragem, até então avaliada Canadian Geotechnical Journal, 32(4), pp.859-870.
deterministicamente por Fatores de Segurança. FELL, R. et al. (2005). Geotechnical Engineering of Dams.
Complementarmente, foi possível identificar CRC Press, 1348p. ISBN 9781138749344.
os riscos presentes na Barragem Itabiruçu FELL, R. e FRY, J.J. (2007). Internal erosion of dams and
their foundations. CRC Press, 245p. ISBN
(inferiores a R$404.646) e estabelecer ações 9780415437240
para minimizá-los. FOSTER, M.A. e FELL, R. (1999). Assessing embankment
A quantificação do risco, além de minimizar o dam filters which do not satisfy design criteria. UNICIV
uso de avaliações qualitativas que são Report No. R-376, ISBN 85841 343 4, ISSN 0077-880X,
The University of New South Wales, Sydney.
essencialmente subjetivas, representa uma OLSON, S.M. (2001). Liquefaction analysis of level and
ferramenta fundamental para a gestão das sloping ground using field case histories and penetration
estruturas sob responsabilidade da Vale S.A. resistance. PhD Thesis – University of Illinois at Urbana-
Ainda que existam incertezas nas avaliações, Champaign, Urbana.
estas subsidiam a gestão do risco presente nas OLSON, S.M. (2016). Minicurso 1: Liquefaction Analysis of
Tailings Facilities. In: XVIII Cobramseg Congresso
estruturas, permitindo otimizar a alocação de Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
investimentos em função de seu valor Geotécnica.
monetizado. TAGUCHI, G (2014). Fault Tree Analysis of Slurry and
Dewatered Tailings Management – A Frame Work.
Thesis (MSc), University of British Columbia, Canada,
89 p.
5. Referências Bibliográficas USACE (2006). Reliability Analysis and Risk Assessment
for Seepage and Slope Stability Failure Modes for
NBR 31.000 (2009). Gestão de riscos - Princípios e Embankment Dams. COE ETL 1110-2-561, 128p.
diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 32p. USBR (2015). Best practices in dam and levee safety risk
ASSIS, A.P. et al. (2004). Métodos estatísticos e analysis. Disponível em: http://www.usbr.gov/ssle/
probabilísticos aplicados a Geotecnia. Universidade de damsafety/Risk/methodology.html (último acesso em
Brasília, 177p. 30/03/2018).
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