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04/01/2019 Consulta Jurisprudencial

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 13ª REGIÃO

RECURSO ORDINÁRIO (1009)


PROCESSO nº 0001062-76.2017.5.13.0007
RECORRENTES: JESSICA DAYANE RAMOS DE FIGUEIREDO, AEC CENTRO DE
CONTATOS S/A
RECORRIDAS: JESSICA DAYANE RAMOS DE FIGUEIREDO, AEC CENTRO DE CONTATOS
S/A
RELATOR: THIAGO DE OLIVEIRA ANDRADE

EMENTA
PROCESSO AJUIZADO EM PERÍODO ANTERIOR A VIGÊNCIA
DA LEI 13.467/2017. RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA.
DOENÇA OCUPACIONAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. NEXO
CAUSAL. INDENIZAÇÃO. Comprovado que a atividade
desenvolvida na empresa foi o fator responsável pelo
surgimento/agravamento das lesões que acometem a trabalhadora,
é devido o pagamento de indenização no âmbito moral, pela
incidência da enfermidade e material, pela redução de sua
capacidade laboral, autorizando a legislação civil o arbitramento de
quantia única a substituir o pensionamento mensal vitalício.

RELATÓRIO
Recurso ordinário proveniente da 1ª Vara do Trabalho de Campina
Grande - PB, interposto por, recorrente AEC CENTRO DE CONTATOS S/A e JESSICA
DAYANE RAMOS DE FIGUEIREDO, recorrida.

Nos termos dos Ids. 5Ee2e96, f11af39 e d05281d, o Juízo de


origem condenou a reclamada ao pagamento de: a) Indenização por danos morais e materiais
decorrentes da doença profissional; b) Indenização referente a estabilidade provisória - salários,

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13o salários, férias mais 1/3, DSR e FGTS mais 40% referentes ao período de 03.03.2017 a
01.09.2017; c) Honorários advocatícios (10%) em favor do advogado da parte autora; d)
Honorários periciais em favor do perito, o qual fixamos em R$ 1.500,00.

Em recurso ordinário de Id. c0ee172, a reclamada postula a reforma


da sentença, quanto aos itens: 1) doença ocupacional - danos morais; 2) doença ocupacional -
danos materiais; e 3) estabilidade provisória.

A seu turno, a reclamante oferta recurso ordinário através do id


0787d83, requerendo alteração do julgado quanto aos itens: a) período de treinamento -
clandestino; b) danos morais - restrição ao uso do banheiro; c) tempo à disposição; d)
comissões de vendas; e e) folgas.

Foram apresentadas contrarrazões por parte da reclamada através


do id 9497c54 e pela reclamante, pelo id 5d1e33e.

Desnecessária a remessa ao Ministério Público do Trabalho, em


face do que dispõe o art. 178, parágrafo único, do NCPC, ressalvando-se a faculdade de
pronunciar-se verbalmente ou pedir vista na sessão de julgamento, caso entenda necessário
(art. 83, VII, da LC 75/93).

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO
VOTO

ADMISSIBILIDADE

Conheço dos recursos ordinários apresentados pelas partes, eis


que interpostos a tempo e modo.

RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA

DOENÇA OCUPACIONAL - DANOS MORAIS e MATERIAIS

A reclamada não se conforma com o laudo pericial, que reconheceu


o nexo causal entre a patologia obreira e suas atribuições funcionais. Refere que a doença da
reclamante é de origem degenerativa e multifatorial, não restando configurado qualquer dano de
natureza acidentária. Reputa ser zelosa com seus empregados, possuindo PCMSO e PPRA,
mantendo comissão interna de prevenção de acidentes CIPA e SESMT (serviço especializado
em engenharia de segurança e medicina do trabalho) dimensionados de acordo com as
exigências estabelecidas nas Normas Regulamentadoras NR-5 e NR-4 do MTE. Rebate as
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conclusões periciais, argumentando que a perita sequer visitou o local de trabalho da obreira,
apontando, ainda, que o benefício concedido pelo INSS foi de auxílio doença comum (B 31),
portanto, não acidentário. Postula a exclusão das reparações por danos morais e materiais, ou,
alternativamente, que sejam fixados em importes mais condizentes com a natureza tênue da
vinculação das patologias com seus afazeres profissionais.

Examino.

No que se refere especificamente à infortunística, preceitua o art. 19


da Lei nº 8.123/91 que acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço
da empresa ou pelo exercício do trabalho, provocando lesão corporal ou perturbação funcional
que cause morte, perda ou redução permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
O inciso II do art. 20 da mesma Lei preconiza que a doença do trabalho é aquela adquirida ou
desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se
relacione diretamente.

A reclamante iniciou seu vínculo empregatício com a ré aos 21 anos


de idade, eis que nascida em 29/08/1996 (TRCT, id 7a9e4df) e admitida em 01/12/2014, com o
fim do enlace contratual, sem justo motivo, em 03/03/2017, nos termos do TRCT. A contratação
deu-se para o período entre 01.12.2014 e 03.03.2017, na função de atendente de telemarketing
e, posteriormente, de auxiliar de operação. A reclamante narra tratar-se de seu primeiro
emprego.

Os Atestados de Saúde Ocupacional - ASO, com exames


complementares, referentes aos anos de 2014 a 2017 (ids 24aea73, pgs. 01-2 e abeeacd, pgs.
05-6), indicam que a autora está APTA para o serviço.

Foram concedidos a obreira, pelo INSS, auxílio doença comum (B


31), com prorrogação do benefício conforme ids 3e231bf e seguintes, restando afastada por
cerca de 20 dias durante o ano de 2016, por conta de Disfonia Severa (CID J 38.2) com a
presença de uma Fenda Vocal em Terço Médio (CID J 040), nos termos dos laudos médicos
anexados nos ids. 89F2c6c, 984e791 e seguintes.

Na ata de audiência de instrução, tombada sob id eedfec7, as


partes produziram prova testemunhal.

A reclamante tece relatos, no sentido de "(...) que não sabe informar


que ficou afastada pelo INSS pelo benefício B31 ou B91; que quando retornou do
afastamento a depoente passou por uma pessoa da medicina, mas não teve nenhum
acompanhamento; que fez exame admissional e demissional; que não lembra se fez algum
outro exame; (...)" - grifei.
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A única testemunha autoral, Sra. Gerlane, assevera "(...) que


trabalhou na mesma ilha da autora no setor de combo multo com o supervisor Ericson; que
presenciou a doença da autora; que a reclamante começou apresentando rouquidão e
depois de um tempo começou a se queixar também de dor no meio do atendimento; que o
supervisor orientava a autora a beber água e voltar a atender mesmo com a rouquidão;
que já presenciou essa fato diversas vezes; que o piso do local de trabalho era de carpete;
que o carpete era varrido; (...)" - grifei.

A única testemunha patronal, Sr. José Almir, relata "(...) que quando
não batem a meta é feito uma reciclagem com o operador, de acordo com o que ele mais tem
dificuldade; que quando o funcionário volta de afastamento é dirigido até a medicina para
consulta e uma entrevista; que quando o operador completa ano na empresa passa por
exame periódico; (...) que o piso onde a autora trabalhava era de carpete; (...)" - grifei.

O laudo médico pericial tombado sob id 2d41b63, elaborado pela


Dra. Gabrielle do Nascimento Holanda, médica otorrinolaringologista, expert que goza da
confiança do Juízo, refere ter realizado exame da autora e de seus exames médicos, procedido
anamnese, exame físico e avaliação de exames da autora, em seu consultório médico, com a
presença de representante patronal.

Do exame documental e físico, a perita refere:

Queixa principal e duração (QPD): alteração na voz há cerca de dois anos.


História Pregressa da Moléstia Atual (HPMA): Paciente foi admitida pela
empresada reclamada em Dezembro de 2014 para exercer a função de
atendente de telemarketing.
Quando em Outubro de 2015 começou a apresentar disfonia e dor na
garganta, sintomas esses inicialmente intermitentes, mas, que atrapalhavam a
execução de suas atividades laborais, tanto que no mês seguinte
(Novembro/2015) resolveu procurar atendimento médico onde foi realizada
laringoscopia (10/11/15) que constatou a existência de fenda vocal.
Por solicitação médica foi afastada por 10 meses e iniciou acompanhamento
fonterápico.
Neste período de afastamento recebeu auxilio-doença do INSS, quando em
Setembro/2016 o próprio INSS solicitou mudança de função.
Ficou sem executar função especifica até Dezembro/2016 quando a empresa
deu férias, ao retornar em Janeiro/2017 foi locada no setor de comunicação,
local este que permaneceu até Março/2017, mês em que foi demitida.
Relata que este foi o seu primeiro emprego.
Atualmente segue em acompanhamento fonoerápico e com qualidade vocal ainda
ruim.
Nega qualquer queixa vocal ou relacionada a nariz, ouvidos e garganta prévia.
Nega alergias medicamentosas
Nega comorbidades/ uso de medicações ou tabagismo.
Nunca realizou laringoscopia, nem mesmo durante o processo admissional.
(grifei)

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Em sua conclusão pericial (id e4ac4ca, pgs. 03-4), a expert


arremata:

No caso em questão a paciente apresenta uma disfonia functional com


formação de fenda vocal triangular médio-posterior. Neste tipo de fenda o
vértice oposto à base atinge geralmente o terço médio das pregas vocais, decorre
de um estado de contração excessiva da musculatura intrínseca da laringe
(hipercinesia). Pela importância e predomínio da função dos músculos
cricoaritenoideos posteriores, os únicos abdutores, a laringe tem as pregas vocais
afastadas na região posterior. A voz é soprosa, podendo ser áspera ou rouca.
Esta fenda está associada à presença de nódulos, que aparecem como uma
resposta à concentração de energia na região do terço médio das pregas vocais e
ao turbilhonamento do ar. A energia posta para a produção do som limita-se a
atuar no terço médio das pregas vocais, pois não ocorre vibração no terço
posterior em função do afastamento e nem no terço anterior pela aproximação
excessiva; esta energia acaba por traumatizar os tecidos, levando à formação dos
nódulos.
A principal causa de formação de nódulos vocais está relacionada ao uso
excessivo e/ou incorreto da voz.
Geralmente, pacientes com nódulos vocais têm uma freqüência fundamental
artificialmente baixa e intensidade de voz alta. Caracteriza-se por disfonia
persistente ou recorrente e aguda acompanhada de história de
abuso vocal. (grifei)
Em resposta aos quesitos da reclamada, a perita afirma:

(...) 02. Os laudos apresentados pelos médicos correspondem ao estado da


Reclamante? R- Sim, os laudos apresentados pelo médico assistente
correspondem ao estado de saúde, inclusive atualmente a qualidade vocal da
paciente continua ruim.
(...) 04. O número do CID constante nas declarações emitidas pelos médicos
estão corretas? R - Os CIDs encontrados nas declarações foram: R49 - Disturbio
da voz; J38.2- Nódulo das cordas vocais; J04.0- Laringite aguda. Consideramos
os CIDs R49 e J38.2 adequados para o problema da paciente.
05. A readequação do local de trabalho realizada pelo INSS foi realizada de modo
correto? R- O paciente com quadro de disfonia pode continuar exercendo
atividade laboral durante o tratamento desde que esta atividade não exija uso
da voz. É natural que a readequação de local de trabalho seja solicitada para que
a paciente continua a trabalhar.
06. Há nexo causal entre o uso constante da voz de forma profissional e o
agravamento da doença conforme laudo trazido pela Fonoaudióloga? R- Como
explanado anteriormente todas as alterações encontradas na paciente,
disfonia funcional, fenda vocal triangular médio-posterior e nódulo vocal
são devidas ao uso abusivo da voz, havendo sim nexo causal
entre a função exercida pela Reclamante e sua queixa.
07. Qual a capacidade atual da voz da Reclamante? R- A paciente apresenta
qualidade vocal alterada com rouquidão e soprosidade.
08. Informe o senhor perito tudo o mais que lhe parecer relevante para a
apuração da perícia, fornecendo os elementos que considerar importantes para a
elucidação do presente feito, relativamente à constatação do uso da voz existente
na atividade desempenhada pela reclamante durante a vigência da relação de
emprego.
R- Dentre os profissionais da voz, os teleoperadores merecem destaque por
estarem expostos à fatores de riscos como: uso intenso da voz, fatores
ambientais (como mudança brusca de temperatura, ambiente frio ou quente
demais; presença de carpete, ar condicionado, poeira, fumaça e ruído no
ambiente de trabalho) e organizacionais (estresse relacionado ao trabalho,
pressão por desempenho, falta de treinamento, entre outros fatores). O uso
intermitente da voz e a repetição dos textos no exercicio profissional do
telemarketing, ao usar o telefone ou head set, pode acarretar alterações vocais
prejudicando desta forma, sua saúde e sua performance no trabalho. (grifei)

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As partes ofertaram quesitos complementares ao laudo pericial,


que foram atendidos através do laudo de id 3b07aa5:

(...) 3-Queira o Sr. Perito informar a(s) atividade(s) desempenhada(s) pela


reclamante, bem como o(s) local(is) onde a(s) mesma(s) era(m) exercida(s),
incluindo a descrição do ambiente de trabalho. R- Dentro de um Call Center a
pessoa responsável por efetuar e receber as ligações é o operador de
telemarketing. Esse profissional é encarregado de diversas funções como,
divulgar produtos, serviços e promoções ou registrar informações, reclamações e
pedidos de clientes. Não estive presente no ambiente de trabalho
mas a descrição do ambiente é sempre a mesma seja por
periciandos ou pacientes: ambiente fechado com ar
condicionado e com chão recoberto por carpete, tal ambiente é
considerado com má qualidade para vias respiratórias devido a
baixa umidade do ar causada pelo ar condicionado e acumlo de
poluição pelo carpete, o que pode ao longo do tempo gerar o que na
literatura temos como síndrome do edifício doente (inicialmente descrita na
década de 70, ela pode ser provocada pela presença de bactérias, vírus ou
fungos em sistemas de ar condicionado sem manutenção adequada; de produtos
químicos dispersos no ar ou de poeira acumulada em carpetes ou cortinas.
Fatores como temperatura inadequada, velocidade do ar e umidade abaixo ou
acima do recomendável também estão relacionados à síndrome.).
(...) 7- Queira o Sr. Perito informar se durante a jornada de trabalho a reclamada
incentiva a ingestão de agua para lubrificar as cordas vocais? R - Sim, mas só
isso não basta para se evitar a instalação de lesão fonotraumática.
(...) 9-Queira o Sr. Perito informar se há atestados médicos e relatórios médicos
anexados aos autos e , caso positivo , informar a quais patologias se referem e se
é possível através dos mesmos estabelecer nexo entre estas patologias e o
trabalho exercido pela Reclamante. R- Sim , há relatórios médicos completos.
Referem-se a nódulo de corda vocal, distúrbio de voz e laringite, o nexo
causal já fora estabelecido na coclusão do processo a paciente é portadora
de disfonia funcional ocasionada por uma lesão fonotraumática denominada
nódulo vocal.
(...) 12-Queira o Sr. Perito informar se durante a evolução do quadro manifesto
pela reclamante tal acometimento ensejou o afastamento do trabalho por mais de
15 dias com encaminhamento à Perícia Médica do INSS. Caso positivo informar
se ocorreu a concessão de benefício detalhando a espécie (Auxílio Doença em
espécie B31 ou Auxílio Doença Acidentário , em espécie B91). R- Sim , a
paciente permaneceu cerca de 10 meses afastada recebendo auxilio doença
em espécie B31.
(...) 14-Queira o Sr. Perito informar se a reclamante apresenta, no momento,
doença que a incapacite para o exercício da suas atividades profissionais. Em
caso afirmativo, informar se essa incapacidade laborativa é parcial ou total e
ainda se é permanente ou temporária. R - A paciente apresenta baixa qualidade
vocal com voz rouca e soprosa, em virtude desse quadro apresenta
incapacidade laborativa parcial e permanente, estando incapaz de exercer a
função laboral exercida na reclamada e qualquer outra função que lhe exija
o uso frequente da voz.
(...) 16-Queira o Sr. Perito informar se a patologia apresentada pela Reclamante
está relacionada à atividade de teleatendimento na Tabela de CNAE e CID do
NTEP. R- Apesar dos distúrbios de voz ainda não constarem das listas oficiais de
doenças relacionados ao trabalho, há muitos estudos que sustentam, esta
relação. As disfonias ocupacionais há apenas cerca de 20 anos vem sendo
levadas em consideração devido elevada prevalência de alteração vocal no
exercício do trabalho sinalizando um adoecimento coletivo, determinado pelo
desgaste da voz sob precárias condições ocupacionais. (...) Ressalta-se que,
mesmo havendo fatores pessoais que possam desencadear um distúrbio de
voz, fatores de ambiente e organização do trabalho são determinantes do
adoecimento devido ao trabalho. Schilling classifica as DRT em três categorias: I -
trabalho como causa única e necessária; II - como um fator contributivo; III - como
fator provocador de distúrbio latente ou agravante de doença estabelecida. O
DVRT, por sua natureza multicausal, encontra-se nas categorias II e III, havendo
uma probabilidade aumentada de ocorrência da doença quando fatores de risco
relacionados ao trabalho se apresentam. Desta forma, o nexo entre doença e

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trabalho é estabelecido de maneira epidemiológica, considerando-se o excesso


de frequência em determinados grupos profissionais, assim como fatores de
risco relacionados ao trabalho.
(...) na avaliação clinica e de exames complementares é bem claro que o
caso trata-se de Disfonia ocupacional, não se fazendo necessário o
preenchimento de todos os itens acima relatados para se observar o nexo
laboral. (grifei)

O Brasil é signatário da Convenção n. 155 da Organização


Internacional do Trabalho - OIT, que impôs aos membros que a firmaram, a implantação de uma
política nacional em matéria de segurança e saúde dos trabalhadores e meio ambiente de
trabalho, estabelecendo, notadamente, obrigações a serem cumpridas pelas empresas (artigos
16 a 21).

O art. 5º, da referida convenção, deixa clara a visão moderna no


sentido da necessidade de haver a adaptação do trabalho ao homem, ajustando equipamentos,
duração do trabalho, formas de organização e processos produtivos às capacidades físicas e
mentais dos trabalhadores, superando-se a visão antiga e retrógrada de que o homem é quem
deveria se adaptar às condições de trabalho existentes, enquadrando-o às exigências do
serviço.

A Convenção nº 161 da OIT, por seu turno, em seu artigo 5º prevê a


obrigação do empregador de identificar e avaliar os riscos para a saúde presentes nos locais de
trabalho, promover a adaptação do trabalho ao trabalhador, dentre outras obrigações

Já no âmbito nacional, a Constituição Federal da República, em seu


art. 7º, reza que são direitos dos trabalhadores, urbanos e rurais, dentre outros:

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene segurança.

O art. 170, da CF, registra que a ordem econômica, fundada na


valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem, por fim, assegurar a todos existência
digna, conforme os ditames da Justiça Social, observada a defesa do meio ambiente.

A interpretação sistemática do disposto nos arts. 6°, 7°, XXII, 196 e


225, V, da Constituição da República, também não deixa dúvidas de que a saúde do trabalhador
e o meio ambiente do trabalho foram alçados a direito social de natureza constitucional, matéria
também disciplinada na CLT.

Da mesma forma, o art. 157, I, da CLT estabelece:

Art. 157. Cabe às empresas:


I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho.

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Não custa lembrar que as normas do Direito do Trabalho,


especialmente as relativas ao meio ambiente do trabalho, são de ordem pública, natureza
cogente, indisponível e não comporta derrogação pela vontade das partes, quiçá
unilateralmente pelo empregador, que tem o dever legal de cumpri-las de imediato, notadamente
porque, se afastadas, podem ocasionar lesões irreparáveis aos seres humanos expostos ao
perigo e à insegurança.

O estudo do caderno processual nos leva a concluir que as ações


preventivas supostamente adotadas pela empresa demandada, tais como exames médicos
ocupacionais PCMSO e PPRA, mantendo comissão interna de prevenção de acidentes CIPA e
SESMT, não foram suficientes para evitar o surgimento e/ou agravamento de enfermidades
próprias daqueles que exercem atividades consideradas repetitivas, pois os seus funcionários
corriqueiramente vêm acionando esta Justiça Especializada para receberem indenizações em
virtude de aquisição de doença laboral.

Tratando especificamente da caracterização do acidente de


trabalho, a Lei 8.213/91, assim esclarece:

Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço
de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos
segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal
ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente
ou temporária, da capacidade para o trabalho.

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as


seguintes entidades mórbidas:
I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo
exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva
relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;
II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função
de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione
diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.
Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:
I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única,
haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da
sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica
para a sua recuperação;

Para caracterização da responsabilidade civil e, portanto, o dever de


indenizar faz-se necessária a conjunção de três requisitos: a) ação (ou omissão voluntária); b)
dano (acidente de trabalho ou doença a ele equiparada) e c) o nexo de causalidade entre a
ação (ou omissão).

É do empregador a responsabilidade de demonstrar a inexistência


de culpa é do empregador, ou seja, fazer prova de que não concorreu para o infortúnio mediante
ato (ação ou omissão dolosa ou culposa, em qualquer grau). Por outro lado, incumbe ao
empregado provar o nexo causal (artigos 186, 187 e 927, do Código Civil).
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Detendo-me a análise dos fatos narrados nos autos, verifico que a


perícia pela presença de nexo causal entre as patologias "CID R49 - Disturbio da voz e CID
J38.2 - Disfonia Ocupacional (Nódulo das cordas vocais)" que acometem a obreira e o labor por
ela desempenhado em favor da empresa demandada. A perícia indicou a presença de
incapacidade parcial e permanente, quanto a atividades que façam uso contínuo da voz da
autora.

Ressalto, por oportuno, que o julgador não está adstrito ao teor da


prova técnica, sendo-lhe possível formar convencimento diverso, desde que devidamente
fundamentado e amparado nos elementos probantes dos autos. Não é o que observa-se da
análise do caso dos autos, eis que todo o contexto probatório fornece amparo às conclusões
periciais

Documentos médicos (laudos e exames), bem como documentos


do INSS, que demonstram a existência de concessão e de prorrogação do auxílio doença (B 31)
em diversas ocasiões, que, apesar de não serem auxílio doença acidentário, também fornecem
suporte documental às conclusões periciais. Reforça tal tese o documento do INSS que após a
obreira permanecer cerca de 10 meses afastada, em gozo de benefício, o próprio órgão
previdenciário solicitou a mudança de função da obreira (id 31c92a8), para executar tarefas que
não requeressem esforço vocal.

De tal modo, não há como não considerar que, ainda que a obreira
tivesse propensão genética em relação às patologias CID R49 - Disturbio da voz e CID J38.2 -
Disfonia Ocupacional (Nódulo das cordas vocais), o labor durante cerca de 04 anos em
atividades que envolvem atividades com uso excessivo em suas cordas vocais, torna
inafastável o nexo de causalidade entre a patologia e a atividade por ele realizada em
favor da reclamada.

Resta inconteste, portanto, a relação de causalidade e/ou, no


mínimo, de concausalidade entre as patologias da empregada e as atividades por ela
desempenhadas, eis que, ainda que o labor nestas condições não tenha dado origem aos
problemas físicos que afligem a reclamante, de certo, agravaram sua condição, tendo ele
concorrido para o advento da incapacidade parcial, gerando o direito à indenização por danos
morais. A própria perícia destaca esse ponto, ao explicar que, apesar de não fazer-se presente
no ambiente de trabalho da reclamante, a "descrição do ambiente é sempre a mesma seja por
periciandos ou pacientes: ambiente fechado com ar condicionado e com chão recoberto por
carpete, tal ambiente é considerado com má qualidade para vias respiratórias devido a baixa
umidade do ar causada pelo ar condicionado e acumlo de poluição pelo carpete". E a narrativa
pericial do local de trabalho foi corroborada pela prova oral.

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A culpa da ré exsurge não apenas pelo tipo de atividade exercida


pela reclamante, mas também em decorrência da sua negligência quanto à efetiva implantação
de medidas de segurança, fiscalização e controle de proteção da saúde da autora, mediante
fornecimento de um ambiente de trabalho seguro, capaz de impedir infortúnios dessa natureza,
apesar de a empresa contar com planos institucionais envolvendo a temática Segurança no
Trabalho, o que demonstra que não houve a implementação prática destes projetos. Os próprios
Atestados de Saúde Ocupacional - ASO, demonstram que a autora esteve APTA para o serviço,
mas não foi realizado exame "laringoscopia" em nenhum momento do curso laboral.

Destaco, por oportuno, que, em julgamento de demanda em muito


assemelhada ao caso presente (RO0130766-50.2014.5.13.0007), envolvendo a ré AeC e
reclamante com idêntica patologia da autura desta ação, a Exma Desembargadora Ana Maria
Ferreira Madruga, assim tratou a matéria na fundamentação de seu julgado:

(...) Como bem entendeu o juízo sentenciante, resta comprovado nos autos que a
reclamante afastou-se de suas atividades por diversas vezes, por problemas de
saúde relacionados às suas cordas vocais (sequencial Num. 0Ceaaca e Num.
00ba213).
No sequencial Num. 0ceaaca - Pág. 4, consta laudo do médico otorrino,
relatando que a autora apresenta disfonia contínua e nódulo vocal em terço
médio bilateralmente por inadaptação vocal e fonotrauma, necessitando de
menor esforço vocal.
A reclamante trouxe aos autos, ainda, diversos exames,a exemplo de
Videolaringoscopia, revelando a existência de nódulos em ambas as pregas
vocais. (Num. 0ceaaca - Pág. 9 )
Apesar das alegações contrárias da empresa, existem diversos laudos médicos
periciais, emitidos pela Previdência Social (Num. ab3e413 - Pág. 9-14),
confirmando que a incapacidade da autora teve início em 08.03.2014, atestando,
ainda, a existência de disfonia com nódulos nas pregas vocais bilaterais, o que
incapacita a autora para seu trabalho de atendente de telefonia. Consta do
referido laudo, expressamente, a determinação de que a empresa deverá
encaminhar a reclamante para o exercício de outra função, que não a de
operadora de telemarketing.
Ora, em que pese as determinações contidas nos laudos apresentados, não há
prova nos autos de que, por ocasião do término de qualquer uma das licenças
médicas, a reclamada tenha efetivado a necessária mudança de função, apesar
do exercício do trabalho de atendente de telemarketing ser incompatível com sua
condição de saúde.
A empresa, por sua vez, informa que adotou todas as medidas necessárias à
preservação da saúde da obreira, promovendo, inclusive, programa de
reabilitação profissional, redirecionando a reclamante a setor diverso, no qual não
há necessidade de utilização da voz. (Num. 96bdfe8 - Pág. 1)
Todavia, tal alegação não foi comprovada.
Na verdade, o laudo médico pericial, apresentado sob sequencial Num. ab3e413 -
Pág. 15 (com data de 07.11.2014), informando que a reclamante está em
treinamento para o exercício de outra função, revela que, apesar de todas as
solicitações e indicações médicas anteriores, a empresa reclamada providenciou
a mudança de função da autora, apenas após a audiência de instrução, realizada
em 04.11.2014.
Ora, após o surgimento da doença da reclamante, em suas cordas vocais,
deveria a empresa recorrente ter providenciado uma nova colocação para a
empregada, readaptando-a em função compatível com sua condição física,
uma vez que sua capacidade laborativa estava prejudicada, o que, todavia,
não ocorreu.

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Dessa forma, a conduta da empresa constitui, sim, flagrante descumprimento de


suas obrigações na qualidade de empregadora, que feriram os direitos da
reclamante, autorizando, assim, a rescisão do contrato de trabalho, nos termos do
art. 483, letra 'd', da CLT, conforme entendeu o juízo de primeiro grau. (...)

Desse modo, provado o fato causador do infortúnio, o dano, o nexo


causal e a culpa da reclamada, resta configurada a responsabilidade civil sob a ótica da
responsabilidade subjetiva preconizada pelos arts. 7º, XXVIII, da CF e 186, do CC.

QUANTUM INDENIZATÓRIO

A indenização relativa a danos morais encontra amparo,


inicialmente, no art. 5º, incisos V e X, da Constituição Federal, vez que o último inciso, em
particular, garante serem "invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação".

No âmbito infraconstitucional, a indenização por danos morais


encontra-se mais definida e assegurada no artigo 927 Código Civil, nos termos dos quais
"aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo".
Ainda especifica o artigo 932, inciso III, do Código Civil, ao adentrar na esfera juslaboralista, que
também são responsáveis pela reparação civil, ou seja, deve responder pelos seus atos, "o
empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho
que lhes competir, ou em razão dele".

Pois bem, a considerar que as moléstias de que padece a


reclamante vieram a se agravar em decorrência da atividade que despendia para a empresa
reclamada, o que de alguma forma evidencia a sua contribuição para o agravamento, consoante
dispõe o precitado artigo 21 da Lei 8.213/1991, admite-se que fora atingida a própria esfera
moral e, por conseguinte, restaram violados os seus direitos da personalidade.

Entendo que da violação a direitos da personalidade decorre o dano


moral, sendo suficiente a demonstração da conduta in re ipsa por parte da empresa, nos termos
dos arts. 186 e 927 do CC.

Em relação ao quantum devido, transcrevo os ensinamentos do


juslaboralista e doutrinador João Oreste Dalazen, segundo o qual para a fixação do valor da
indenização por dano moral, deve-se: "1) compreender que o dano moral em si é
incomensurável; 2) considerar a gravidade objetiva do dano; 3) levar em conta a intensidade do
sofrimento da vítima; 4) considerar a personalidade (antecedente, grau de culpa, índole, etc.) e
o maior ou menor poder econômico do ofensor; 5) não desprezar a conjuntura econômica do
país; 6) pautar-se pela razoabilidade e equidade na estipulação, evitando-se, de um lado, um
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valor exagerado e exorbitante, a ponto de levar a uma situação de enriquecimento sem causa,
ou à especulação, ou conduzir à ruína financeira o ofensor; de outro, evitando-se um valor tão
baixo que seja irrisório e desprezível, a ponto de não cumprir a função" (in Aspectos do dano
moral trabalhista, Revista do TribunalSuperior do Trabalho, Brasília, v. 65, n. 1, p. 69-84
out./dez. 1999).

Diante de tais elementos e disposto no art. 944 do CC,


considerando tratar-se de patologia cujo nexo de causalidade foi reconhecido pela perícia
técnica, além de todas as variantes suso explanadas, o porte econômico do empregador (AeC)
e, ainda, a necessidade de sancionar e coibir a reiteração da conduta ilícita da empresa nestes
autos comprovada, que perdurou por anos, reputo razoável e proporcional o montante fixado em
sentença de "R$ 11.291,60 (duas vezes o valor do maior benefício pago pelo Regime Geral de
Previdência Social que nesse corrente ano é de R$ 5.645,80)".

DANOS MATERIAIS. PENSIONAMENTO

A decisão de origem condenou a reclamada ao pagamento de


indenização por danos materiais no importe de R$ "28.229,00 (cinco vezes o valor do maior
benefício pago pelo Regime Geral de Previdência Social que nesse corrente ano é de R$
5.645,80)".

Inicialmente, impende salientar que danos morais e materiais são


institutos totalmente distintos, que se somam e não se excluem, tendo o fim precípuo de
compensar o empregado, tanto pelos sofrimentos que lhe foram infligidos em decorrência da
patologia surgida ou agravada por força de suas atividades laborais, quanto pela perda material
suportada.

O dano material abrange, além do dano emergente (despesas com


tratamento) e dos lucros cessantes até o fim da convalescença, uma pensão correspondente à
importância do trabalho para o qual a vítima se inabilitou, ou da depreciação que ela sofreu
(arts. 949 e 950 do CC).

Na presente demanda, restou afastada a conclusão pericial,


reconhecendo-se o nexo de causalidade entre as patologias que acometem o reclamante e o
trabalho por ele desempenhado ao longo de cerca 04 anos em favor da ré, que causaram e/ou
agravaram lesões permanentes em suas cordas vocais, não havendo possibilidade de
restauração ou regresso da lesão já consolidada, facultando-se a ela apenas a convivência se
restrita sua capacidade vocal.

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Indicam as provas dos autos que as sequelas originárias das


patologias incapacitaram o reclamante, inclusive à luz do histórico de patologias presente no
laudo médico pericial produzido no presente processo, de forma parcial e temporária, eis que,
as enfermidades constatadas na voz da obreira tornaram latente que não seria mais possível
desempenhar as atribuições inerentes à função para a qual foi originalmente contratada,
restando-lhe a readaptação à função que apenas demandasse pouco uso de sua capacidade
vocal.

Depreendo, por conseguinte, que a redução da capacidade


laborativa e funcional da autora é parcial e permanente em decorrência do nexo causal entre às
patologias "CID R49 - Disturbio da voz e CID J38.2 - Disfonia Ocupacional (Nódulo das cordas
vocais)" que acomete ma obreira e o labor por ela desempenhado em favor da empresa
demandada.

Nesse contexto, incidem as disposições contidas no art. 950 do


Código Civil atinentes ao dano material:

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o
seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a
indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da
convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para
que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.
Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja
arbitrada e paga de uma só vez.

Portanto, a pensão deve guardar paralelo com a diminuição da


capacidade de labor, indenizando a importância correspondente à contraprestação do trabalho
para o qual a obreira se inabilitou ou sofreu depreciação.

Acerca da questão, o nosso Regional editou a Súmula n.º 12, que


assim estabelece:

ACIDENTE DE TRABALHO. REDUÇÃO DA CAPACIDADE LABORATIVA DO


EMPREGADO. PENSIONAMENTO. Em caso de acidente de trabalho que
implique redução da capacidade laboral, por culpa ou dolo do empregador, é
devido pensionamento enquanto perdurar essa circunstância.

Saliento que, mediante o arbitramento de indenização, a ser paga


de uma única vez, o credor livra-se da álea, ao mesmo tempo em que se beneficia do
pagamento antecipado de seu crédito. Muitas vezes se vê até mesmo verdadeiro
enriquecimento sem causa do beneficiário da pensão.

Tratando precisamente desse tema, pagamento de pensão, nos


moldes do parágrafo único do art. 950 do CC, o articulista Fábio Luiz Pereira da Silva (in: O
Arbitramento em Parcela Única de Pensão Indenizatória Decorrente de Acidente no Trabalho -
LTr. 78-02/188) defende que "tal reparação, arbitrada para pagamento único e adiantado, não

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leva em conta as incertezas do futuro, tais quais a reabilitação (ainda que parcial) da vítima, o
seu eventual falecimento, entre outros fatores que não justificam a alteração legislativa aqui em
debate". Acrescenta que, em muitos casos, "o pagamento antecipado do valor correspondente à
pensão por inabilitação ou depreciação da força de trabalho representará não só possibilidade
de insolvência do devedor, mas também poderá implicar enriquecimento sem causa da vítima",
exatamente o que se pode observar com o exemplo a seguir.

Em acréscimo, nas palavras de Rui Stoco, citado no mencionado


artigo doutrinário:

"(....) pode-se entender que o parágrafo único do artigo permite que - exercida a
preferência por parte da vítima e exigindo ela que a 'indenização' (e não mais a
pensão mensal) seja paga de uma só vez - este valor representativo de verba
com característica alimentar (e, portanto, lucro cessante que se caracteriza como
dano material) se converta em dano moral."

Assim ocorrendo, ao fazer a opção, o ofendido renuncia aos lucros


cessantes (pensão mensal) e aceita que a indenização seja arbitrada pelo magistrado como
reparação moral. Neste caso, não havendo nenhum outro parâmetro preestabelecido, o julgador
fixará o quantum segundo o seu prudente critério, podendo reduzir aquele valor originariamente
correspondente ao salário da vítima multiplicado pelos meses de sobrevida, para qualquer coisa
que seja factível e razoável, posto que convertido em mera compensação.

Sebastião Geraldo de Oliveira, igualmente tratando do tema,


leciona:

"'Se para a vítima o pagamento de uma só vez significa uma antecipação de


receita, abrangendo todo o período de sua provável sobrevida, para o
empregador representa concentrar as despesas de quase 50 anos num único
pagamento'. E acrescenta: 'Em face de tais dificuldades, tende a ganhar
relevância - e até demasiada extensão - a faculdade do art. 944, parágrafo
único, do Código Civil que prevê: 'Se houver excessiva desproporção entre
a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a
indenização'. Aliás, é razoável interpretar a previsão legal 'a indenização seja
arbitrada e paga de uma só vez' como um indicativo de que, na fixação do valor
do quantum indenizatório pelo julgador, deve ser adotado um critério de justiça do
caso concreto (arbitrar), mas sem vinculação necessária com os rendimentos
acumulados na provável sobrevida da vítima. Ainda assim, mesmo com toda a
ponderação do magistrado, o arbitramento não deixa de ser arriscado para a
vítima a longo prazo e muito oneroso, de imediato, para o empregador" -
OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou
doença ocupacional. 4. ed. São Paulo, LTr, 2008, pp. 299-302 (grifos nossos).

Assim, ao julgador é dada a faculdade prevista no art. 944,


parágrafo único, do Código Civil que prevê: "Se houver excessiva desproporção entre a
gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização".

De todo o exposto, entendo razoável e proporcional o valor fixado


em sentença a ser paga em cota única, com os parâmetros de "R$ "28.229,00 (cinco vezes o
valor do maior benefício pago pelo Regime Geral de Previdência Social que nesse corrente ano
é de R$ 5.645,80)".
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ESTABILIDADE PROVISÓRIA

Registre-se que na hipótese sob análise, conforme examinado no


item anterior, restou clara a prova quanto à falha da empregadora em proporcionar ambiente
saudável e adequado às necessidades do trabalhador, em flagrante descumprimento de normas
regulamentares de proteção ao trabalhador, de modo que, dúvidas não há acerca da prática de
ato ilícito e culpa da reclamada, quanto ao agravamento da doença adquirida pelo reclamante,
ainda que causada por razões multifatoriais.

Com efeito, equipara-se ao acidente do trabalho o evento ligado ao


trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para o
surgimento ou agravamento da patologia diagnosticada, e não ser o seu causador, conforme
define o artigo 21, inciso I, da Lei 8.123/1991.

Por sua vez, acerca da estabilidade provisória, o item II, da Súmula


378, do TST, estabelece que:

"II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior


a 15 dias e a conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo se
constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de
causalidade com a execução do contrato de emprego. (primeira parte - ex-OJ
nº 230 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)"

Da análise do histórico médico da obreira e diante dos dados


contidos no conjunto fático probatório dos presentes autos processuais, evidencia-se que a
perícia técnica reconheceu a doença profissional, bem como o nexo causal e a incapacidade
parcial permanente da autora que gozou de benefício previdenciário (B 31) até agosto de 2016 e
foi demitida em 03/03/2017.

Conforme bem frisado pelo Magistrado sentenciante, "os fatos


acima mencionados atraem a aplicação do inciso II, da Súmula n. 378 do C. TST, a qual confere
ao magistrado a possibilidade de reconhecer a doença profissional após a demissão do obreiro".

Os períodos de licença médica e os documentos previdenciários


(ids. 689204d, 3e231bf e seguintes) revelam afastamento por doença por período superior a
quinze dias, em concessões renovadas, cabendo ressaltar que nesta hipótese era da reclamada
o ônus da prova quanto à apresentação dos atestados médicos que motivaram os afastamentos
do reclamante.

Diante disto, ainda que não haja nos autos cópia dos benefícios
concedidos pelo INSS, entendo ter direito o reclamante à estabilidade acidentária nos termos
previstos no artigo 21, inciso I, da Lei 8.123/1991 e no item II, da Súmula 378 do TST.

Neste sentido a seguinte jurisprudência:

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"RECURSO DE REVISTA. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. DOENÇA


OCUPACIONAL. Na hipótese dos autos, conforme se extrai do acórdão regional,
ainda que o labor na reclamada não seja reconhecido como causa direta da
doença ocupacional, a atividade laborativa desempenhada pela reclamante atuou
inequivocamente como concausa, o que legalmente se equipara ao acidente do
trabalho, na forma do art. 21, I, da Lei 8.213/91. Ademais, consta expressamente
no acórdão regional que a reclamada não observava as normas de prevenção e
informações relativas a acidentes do trabalho e doenças profissionais. Tais
circunstâncias, somadas, são suficientes para caracterizar o nexo de
concausalidade entre a conduta da reclamada e os danos sofridos pela
reclamante, bem como a culpa daquela no agravamento da doença. Logo, o
quadro fático delimitado no acórdão regional, revela a presença dos requisitos da
responsabilidade civil (dano, culpa e nexo de causalidade), previstos no art.186do
Código Civil. Portanto, reconhecido o nexo de causalidade da doença que
acometeu a reclamante com o trabalho realizado, faz jus ela à estabilidade
provisória prevista no artigo 118 da Lei8.213/91 combinado com a parte final da
Súmula 378, II, do TST, porquanto a doença profissional só foi constatada após o
término do contrato de trabalho. Recurso de revista conhecido e provido." (TST -
RR: 14591520125120048, Relatora: Min. Delaíde Miranda Arantes, Data de
Julgamento: 03/02/2016, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 19/02/2016)

Em sendo assim, corroboro o entendimento esposado pelo Juízo


de origem, que deferiu "o pedido do autor relativo ao pagamento das verbas referentes ao
período da estabilidade, devendo a condenação da ré compreender, além dos salários do
período compreendido entre a demissão (03.03.2017) e o fim do período estabilitário
(01.09.2017), os 13o salários, férias mais 1/3, e FGTS mais 40%".

Nego provimento.

CONCLUSÃO DO RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA

NEGO PROVIMENTO.

RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE

PERÍODO DE TREINAMENTO - CLANDESTINO

Na verdade, a questão como posta não diverge das demais


demandas analisadas por este Tribunal, a envolver a mesma temática e inclusive a mesma
reclamada, as quais têm sido invariavelmente resolvidas por esta E. Corte no sentido de que o
período apontado como de treinamento na verdade integra o contrato de trabalho, por configurar
tempo à disposição da empresa.

Ainda, sob a perspectiva legal, esse período se identifica com o


contrato de experiência, razão pela qual deve integrar-se ao contrato de trabalho com a
necessidade, consequentemente, de retificação da CTPS e de pagamento das verbas
trabalhistas correspondentes a respectivo período.

https://www.trt13.jus.br/jurisprudencia/#/integra 16/26
04/01/2019 Consulta Jurisprudencial

Da análise do caso concreto, verifica-se que, em sua inicial (id


89032b6, pg. 02), a autora narra que realizou treinamento por volta de 30 dias antes de firmado
o contrato com a reclamada.

Na ata de audiência tombada no id eedfec7, a reclamante afirma "


(...) Que o treinamento da depoente durou 8 dias; que houve informações de que o processo
teria um critério eliminatório; (...)". (grifei)

A testemunha autoral, Sra. Gerlane dos Santos, assevera "(...) que


fez treinamento; que o treinamento durou 30 dias; que não fez treinamento com a
reclamante; que a duração do trabalho era de 06:20h; que o instrutor transmitia ordem da
empresa durante o treinamento; (...)". (grifei)

No aspecto, entendo que o depoimento da testemunha autoral


corrobora a rese da reclamante no sentido e que havia período anterior à contratação destinado
ao treinamento. Contudo, o depoimento autoral acerca de que esse período de treinamento
durou 08 dias, entendo tratar-se de confissão real, limitador da postulação obreira a esse
período.

Eis a jurisprudência deste Regional:

"RECURSO DA AEC: PERÍODO DE TREINAMENTO. INTEGRAÇÃO AO


CONTRATO DE TRABALHO. O período de treinamento antes da admissão
cumpre a finalidade do contrato de experiência, quais sejam: aferição das
aptidões técnicas para o desempenho da função e comportamento do candidato
ao emprego. Logo, integra o contrato de trabalho, para todos os fins. Recurso
ordinário a que se nega provimento. (...)." - TRT-13, RO 0001093-
93.2017.5.13.0008 (PJE), Relator: Des. Edvaldo de Andrade, 2ª Turma, Data de
Julgamento: 06/02/2018.
"AEC. TREINAMENTO. PERÍODO À DISPOSIÇÃO DO EMPREGADOR.
EFETIVO SERVIÇO. CONFIGURAÇÃO. RETIFICAÇÃO DA CTPS. É configurado
como tempo de serviço, para todos os efeitos legais, o período de treinamento
antecedente à contratação formal efetivada, porquanto, nesse interregno, o
empregado fica à disposição e sob o comando do empregador, onde executa
serviços à empresa, ainda que para fins de aferição, condição a ensejar o
reconhecimento da relação de trabalho desde a origem, o que impõe a retificação
da CTPS do autor. Recurso provido." - TRT-13, RO 0001310-42.2017.5.13.0007
(PJE), Relatora: Des. Ana Maria Ferreira Madruga, 1ª Turma, Data de
Julgamento: 30/01/2018.

Também o C. TST tem trilhado pelo mesmo caminho, a exemplo do


aresto que ora se transcreve:

"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.


RECONHECIMENTO DO VÍNCULO DE EMPREGO. PERÍODO DESTINADO AO
TREINAMENTO. VERDADEIRO CONTRATO DE EXPERIÊNCIA. No caso, o
Tribunal Regional reformou a sentença, reconhecendo a existência de vínculo
empregatício em relação ao período destinado ao treinamento da autora .
Consignou que o período de treinamento se equiparava ao contrato de
experiência, uma vez que a autora estava à disposição da empregadora e
sujeita ao seu poder diretivo. Assim, estando evidenciado que o suposto
processo seletivo era, na verdade, período de treinamento, que se insere na
dinâmica produtora da empresa e caracteriza-se como tempo à disposição,
equipara-se ao período do contrato de experiência, devendo ser reconhecido o

https://www.trt13.jus.br/jurisprudencia/#/integra 17/26
04/01/2019 Consulta Jurisprudencial

vínculo de emprego. Desse modo, considerando que a Corte de origem, soberana


na análise das provas produzidas nos autos, concluiu pelo reconhecimento de
vínculo durante o período do treinamento, nos termos da sentença, impossível a
esta instância recursal de natureza extraordinária chegar a conclusão diversa, por
óbice da Súmula nº 126 do Tribunal Superior do Trabalho , estando incólume o
disposto nos artigos 3º e 445 da CLT . Recurso de revista não conhecido. (...)." -
TST - RR: 3053620155030038, Relator: José Roberto Freire Pimenta, Data de
Julgamento: 08/11/2017, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 10/11/2017.

Pois bem, como os demais casos retratados na jurisprudência, a


parte ora reclamante, no período destinado ao treinamento, também esteve à disposição da
reclamada, aguardando e executando ordens, em consonância com os termos do artigo 4º,
caput, da CLT, ainda que se limitasse a simulações a atendimento a clientes e a avaliações,
devendo portanto a empresa reclamada pagar as verbas trabalhistas daí decorrentes, bem
como retificar a data de início do contrato de trabalho na sua CTPS.

O fato de a empresa realizar provas e avaliações com os


empregados não torna a situação distinta.

Por fim, no presente caso, não se afigura qualquer ofensa aos


artigos 2º, 3º e 4º da CLT, tampouco ao artigo 5º, incisos II, XXXV, LIV, LV, da Constituição
Federal.

De tal modo, dou provimento ao recurso autoral, no aspecto, para


condenar a reclamada ao pagamento das parcelas trabalhistas correspondentes ao período de
08 dias anteriores à sua contratação, destinados ao treinamento, devendo a empresa
demandada retificar a CTPS obreira para fazer constar este período.

DANOS MORAIS - RESTRIÇÃO AO USO DO BANHEIRO

Em síntese, pleiteia a reclamante danos morais em razão de


limitação de uso de banheiro. Alega que tal conduta patronal é vedada pela instrução do MTE
(MTE; NR 17, Anexo II, item 5.11., b), além do que é abusiva (art. 187, CC), e afronta a
dignidade humana (arts. 1°, III, CF, e 170, CF), gerando, assim, o dever de indenizar (art. 5°, V e
X, CF; e art. 927, CC).

Analiso.

A considerar as provas produzidas nos autos e os diversos


precedentes analisados por esta 2ª Turma, envolvendo a mesma empresa reclamada, os
empregados dispunham, durante a jornada de seis horas, além das pausas no trabalho para o
uso do banheiro - com orientação abstrata de duração de cinco minutos cada, de mais duas
pausas para o descanso, de 10 minutos cada, e mais de uma outra pausa para o lanche, de 20
minutos. Do contexto, ainda interessa ressaltar que os empregados poderiam ir ao banheiro nas
pausas destinadas ao descanso e ao lanche.

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Ademais, do próprio depoimento da reclamante, ficou patente o


correto cumprimento da legislação laboral relativa aos intervalos e registros de jornada, restando
claro que gozava sim de vários intervalos (dois de 10 minutos e um de 20 minutos) distribuídos
ao longo da jornada de trabalho (de seis horas).

Em seu depoimento pessoal, a autora relata "(...) que sua jornada


diária era de 06h20; que dentro das 06h20 tinha duas pausas de 10min e uma pausa de
20min; que a jornada da depoente era contada do login ao logout; (...) que tinha pausa
banheiro de 5min; que alguns supervisores iam chamar no banheiro ou então lhe chamavam a
atenção quando esse tempo era extrapolado; que o banheiro era de uso comum; que qualquer
funcionária da empresa poderia entrar no banheiro feminino, mas a supervisora entrava para
chamar as funcionárias; que nunca recebeu medida disciplinar, mas já foi chamada a atenção
ou feedback ; que poderia ir ao banheiro mais de uma vez mas o supervisor pedia para
utilizar as pausas de 10/20 minutos; (...)". (grifei)

O que se verifica na situação fática descrita é o mero


estabelecimento de rotinas para alimentação do sistema quando da paralisação dos serviços,
inclusive para fim de usufruto dos intervalos, como também das pausas para ida ao banheiro,
assim decorrendo de política organizacional da empresa reclamada, cujas atividades não
podem ser interrompidas, tal como a de operador de telemarketing exercida pela parte autora.

Como se pode ver, a concessão de pausas e intervalos se dava em


tempo suficiente ao atendimento das necessidades fisiológicas da recorrente, consoante
preocupação realçada na petição inicial, desconfigurando-se a alegada restrição, notadamente
em se tratando de uma jornada de seis horas.

Acresça-se a isso o fato de que não havia impedimento ao uso do


banheiro. Tanto que o empregado, se fosse o caso, bastava dar um comando no sistema do
computador em que trabalhava para poder atender a sua necessidade. Havia, sim, como já
realçado, uma política de organização, o que não se traduz, na ótica deste Relator, em ato
ilícito, até porque eram disponibilizadas pausas suficientes para a finalidade em comento.

Assim, ante as circunstâncias, não se há de falar em danos morais,


tampouco em uma reparação respectiva. Afinal, a meu ver, o acesso de certa forma ordenado
ao uso do banheiro, como restou demonstrado nos autos, é insuficiente a infringir a integridade
psicológica da empregada, nem se considera ter havido, nessa hipótese, abuso no poder
diretivo por parte da empregadora.

Há, no caso, um mínimo de organização e controle por parte da


empregadora para que haja a correta fruição dos serviços que são por ela prestados.

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04/01/2019 Consulta Jurisprudencial

Nessa linha, à luz dos princípios da razoabilidade e da


proporcionalidade, não se considera ilícita a conduta da parte empregadora, nos moldes do
artigo 186 do Código Civil, com relação ao uso do banheiro pelos empregados, de certa forma
controlado, razão pela qual desmerece guarida a pretensão autoral quanto ao pagamento de
uma indenização por danos morais.

No mesmo sentido, eis o julgado oriundo do C. TST:

"RECURSO DE REVISTA DA LEI Nº 13.015/2014 - RESPONSABILIDADE CIVIL


- LIMITAÇÃO DE USO DO BANHEIRO - DANOS MORAIS - CONFIGURAÇÃO -
NÃO OCORRÊNCIA DE ABUSO DO PODER DIRETIVO - INDENIZAÇÃO
INDEVIDA NA HIPÓTESE DOS AUTOS As peculiaridades do caso concreto
revelam a ausência de abuso do poder diretivo da empresa. A necessidade de
substituição do empregado antes da liberação para o uso do banheiro não implica
situação humilhante, porquanto se insere no campo organizacional da empresa e
mostra-se razoável em razão da natureza ininterrupta da atividade. Nesse
contexto, o Eg. TRT concluiu que não havia proibição ao uso do banheiro,
premissa fática intransponível nesta instância extraordinária, ante o óbice da
Súmula nº 126 do TST. (...)" (TST - RR: 5824020155120058, Relator: Maria
Cristina Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento: 29/08/2017, 8ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 01/09/2017)

No mesmo sentido, eis o seguinte julgado oriundo da C. 1ª Turma


deste Regional:

"(...) RECURSO DAS RECLAMADAS. REGULAMENTAÇÃO DE IDAS AO


BANHEIRO. OPERADORA DE TELEMARKETING. RAZOABILIDADE. DANO
MORAL. INEXISTÊNCIA. A regulamentação das idas dos empregados ao
banheiro é uma regra adequada à especificidade do serviço prestado pela
empresa reclamada, não havendo qualquer indício, nos autos, de que a parte
autora sofria ofensas e humilhações direcionadas, até porque, tal controle se faz
necessário, para que os postos de atendimento não fiquem desguarnecidos.
Assim, ante a ausência de constrangimento ou sofrimento que pudesse afetar
direitos da personalidade da parte, a exemplo da sua honra, não faz jus a obreira
à indenização pleiteada. Recurso a que se dá provimento parcial." (TRT-13, RO
0000796-75.2016.5.13.0023 (PJE), Relator: Des. Leonardo Jose Videres Trajano,
1ª Turma, Data de Julgamento: 20.02.2018)

Também tem sido esse o entendimento na 2ª Turma deste Regional,


como citado no aresto abaixo:

"(...) RECURSO DA RECLAMADA AEC CENTRO DE CONTATOS. LIMITAÇÃO


AO USO DE BANHEIRO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
INDEFERIMENTO. Demonstrado pelas provas testemunhais que a restrição ao
uso do banheiro não se fez em detrimento do respeito à pessoa dos empregados
e que o registro do período de afastamento ficava a cargo da própria empregada,
sem necessidade de autorização prévia, não há como evidenciar a prática de
conduta ilícita por parte do empregador para efeito de impor-lhe o dever de
indenizar. (...)" (TRT-13, RO 130964-05.2015.5.13.0023 (PJE), Relator: Des.
Edvaldo De Andrade, 2ª Turma, Data de Julgamento: 06.02.2018)

Deste modo, merece ser mantida a sentençaa quo que afastou a


indenização por danos morais ante a suposta limitação ao uso do banheiro.

Nada a deferir, neste ponto.

TEMPO À DISPOSIÇÃO

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04/01/2019 Consulta Jurisprudencial

A reclamante sustenta que sua jornada de trabalho só começava a


ser computada quando "logava" no sistema após percorrer o trajeto da catraca na entrada,
passar pelos armários para guardar seus pertences para assim chegar à sua estação de
trabalho. Relata haver determinação patronal para chegar com 10 minutos de antecedência,
caracterizando tempo a disposição do empregador. Postula a condenação patronal ao
pagamento de 10 minutos diários como horas extras.

Examino.

Da análise do conjunto probatório, verifica-se que os cartões ponto


(ids b62880f e seguintes) juntados consignam as horas extras prestadas pela reclamante, sendo
assinaladas e possuindo regular quitação.

Conforme bem ponderado pelo Juízo de origem (id 5ee2e96, pg.


06) e conforme já analisado no item recursal patronal "DANOS MORAIS - RESTRIÇÃO AO USO
DO BANHEIRO", da análise dos registros ponto, diversamente do afirmado pelo reclamante, sua
jornada de trabalho não ultrapassava a jornada própria estabelecida pela categoria, restando
comprovados o gozo dos três intervalos (dois de 10 minutos, computados na jornada e um de
20 minutos, não computados), logo dentro do limite legalmente estabelecido, acrescidos de
pausas de 05 minutos para ir ao banheiro.

Em seu depoimento pessoal (id eedfec7), a própria reclamante


corrobora os dados supratranscritos. Refere, ainda "(...) que a catraca era liberada com 20min
de antecedência e, posteriormente, com 10min; que sempre pediam para chegar mais cedo
para logar com, pelo menos 4min de antecedência, para não ficar abaixo das 06h20; que
não havia aplicação de medida disciplinar caso não chegasse com 10 min de
antecedência; que não se recorda de ter 5min de tolerâcia; (...)". (grifei)

Como visto, a depoente se contradiz em seu depoimento pessoal.


Ao passo em que afirma que havia determinação patronal para chegar 10 minutos antes, em
seus relatos testemunhais, narra que "pediam para chegar mais cedo" para logar com, "pelo
menos 4 min de antecedência" e não mais 10 minutos. Complementa, afirmando que não havia
medida disciplinar para o caso de não cumprimento da postulação patronal, o que demostra não
tratar-se de uma obrigação.

A testemunha da autora, Sra. Gerlane dos Santos, assevera "(...)


que a jornada era contada do login até o logout; que se chegasse com cinco minutos de
antecedência ainda dava para correr e logar o sistema sem atraso; que logar com atraso

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impacta na meto do supervisor; que nesse caso o supervisor chama a atenção; que se o atraso
ocorrer várias vezes ocorre uma advertência escrita; que a depoente já recebeu advertência
escrita por chegar 10/15 minutos atrasada; (...)". (grifei)

A testemunha patronal, Sr. José Almir, supervisor, afirma "(...) que


não há obrigação de chegarem no limite que a catraca libera; que o sistema dar 5 minutos de
tolerância para que possam se logar; (...)". (grifei)

Dos relatos testemunhais, evidencia-se que todas as informações


convergem no sentido de que: 1- o sistema dá 05 minutos de tolerância do horário contratual
para o empregado logar; 2- o empregado chegando na empresa no horário de início das
atividades, contratualmente estabelecido, conseguiria logar no sistema com até 05 minutos de
atraso, sem punição; 3- a testemunha autoral refere que recebeu advertência escrita por chegar
de 10 a 15 minutos atrasada, corroborando todos os demais dados acerca de login e de atraso.

De tal modo, restou evidenciado que a parte autora não logrou êxito
em se desincumbir do encargo probatório que lhe dizia respeito, nos termos dos arts. 818 da
CLT e 373, I do CPC 2015, por tratar-se de fato constitutivo de seu direito, eis que não trouxe
prova oral e/ou documental apta e suficiente a corroborar sua tese.

Não há falar, portanto, em alteração do julgado de primeiro grau, no


aspecto.

Nego provimento.

COMISSÕES DE VENDAS

A reclamante narra que quando o atendimento se transformou no


chamado "COMBO MULTI", que é a mesma prestação de serviços com acréscimo de produtos
(no caso internet e telefone), simplesmente extinguiram a comissão sem maiores explicações.

Examino.

Da análise da prova oral (ata de audiências - id eedfec7), verifica-se


que a autora, em seu depoimento pessoal, afirma "(...) que a depoente normalmente batia as
metas da empresa; que a depoente nunca recebeu medida disciplinar, mas já foi chamada a
atenção pelo supervisor por não ter batido a meta; (...)" - grifei.

A testemunha da autora, Sra. Gerlane dos Santos, assevera "(...)


que trabalhou de combo multi por aproximadamente dois meses; que a reclamante também já
trabalhou no setor da Claro TV; que não trabalhou com a reclamante neste setor; que não
sabe dizer se o combo multi encerrou na empresa; que não sabe se a autora bateu metas;

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(...) que a comissão depende de metas atingidas; que nem sempre bateu as metas; que não
punida por não bater as metas mas recebia feedback; que não viu a atora sendo chamada a
atenção por não bater as metas (...)" - grifei.

A testemunha patronal, Sr. José Almir, supervisor, afirma "(...) que


as cobranças das metas e resultados mensais era passado individualmente por feedback;
(...) que quando não batem a meta é feito uma reciclagem co o operador, de acordo com o que
ele mais tem dificuldade; (...) que não se lembra a meta do setor Claro TV que a autora
trabalhava; que a meta era diferente de um setor para outro; (...)" - grifei.

Da análise da prova documental, resta evidenciado que a


remuneração da autora era composta de parte fixa e parte variável, que nem sempre era
contraprestada devido a necessidade do atingimento das metas de vendas (contracheques
colacionados nos ids c0586f4 e seguintes).

Comparando as provas oral e documental, resta latente que: haviam


metas a serem batidas; as metas de cada setor eram distintas (inclusive do setor Combo Claro);
a própria reclamante relata que normalmente batia suas metas; a testemunha autoral não
trabalhou com a reclamante, não foi punida por não bater metas, não viu a autora ser chamada
a atenção por não bater metas, não sabe se o Combo Multi encerrou na empresa.

De tal modo, verifica-se que todo o conjunto probatório demonstra


ser inviável o pleito patronal, eis que inexiste prova acerca da alegada extinção da comissão de
vendas do setor "Combo Multi", não tendo a obreira se desincumbido do encargo probatório que
lhe dizia respeito, nos termos do art. 818 da CLT e do art. 373, I do CPC 2015, por tratar-se de
fato constitutivo de seu direito, eis que não trouxe aos autos prova oral e/ou documental apta e
capaz de amparar suas alegações.

Face ao exposto, corroboro a decisão de origem, não havendo falar


em redução salarial, eis que sequer houve prova acerca da redução do percentual das
comissões, ou da exclusão de seu pagamento em relação ao "Combo Multi".

Nego provimento.

FOLGAS

A reclamante alega que a prova testemunhal demonstra que a


escala era informada um ou dois dias antes do evento em desrespeito ao direito à vida privada e
lazer da autora, configurando ato ilícito pela ré e a transgressão de direito não patrimonial da
autora. Postula a condenação da reclamada em danos morais decorrentes da presente medida
atentatória.

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Analiso.

Acerca das folgas (repouso semanal remunerado), assim dispõe a


legislação celetista:

Art. 67 - Será assegurado a todo empregado um descanso semanal de 24 (vinte


e quatro) horas consecutivas, o qual, salvo motivo de conveniência pública ou
necessidade imperiosa do serviço, deverá coincidir com o domingo, no todo ou
em parte.
Parágrafo único - Nos serviços que exijam trabalho aos domingos, com exceção
quanto aos elencos teatrais, será estabelecida escala de revezamento,
mensalmente organizada e constando de quadro sujeito à fiscalização.
Art. 386 - Havendo trabalho aos domingos, será organizada uma escala de
revezamento quinzenal, que favoreça o repouso dominical.

Como evidencia-se, a legislação trabalhista exige que seja


concedido o gozo de folga semanal remunerada, preferencialmente, aos domingos. Desse
modo, resta admitido o labor nesses dias a depender da atividade empresarial que, por sua
natureza, dependa do funcionamento também nestes dias.

A NR 17, assim trata a matéria:

A organização do trabalho deve ser feita de forma a não haver atividades aos
domingos e feriados, seja total ou parcial, com exceção das empresas
autorizadas previamente pelo Ministério do Trabalho e Emprego, conforme o
previsto no Artigo 68, "caput", da CLT e das atividades previstas em lei. 5.1.1. Aos
trabalhadores é assegurado, nos casos previamente autorizados, pelo menos um
dia de repouso semanal remunerado coincidente com o domingo a cada mês,
independentemente de metas, faltas e/ou produtividade. 5.1.2. As escalas de fins
de semana e de feriados devem ser especificadas e informadas aos
trabalhadores com a antecedência necessária, de conformidade com os Artigos
67, parágrafo único, e 386 da CLT, ou por intermédio de acordos ou convenções
coletivas. 5.1.2.1. Os empregadores devem levar em consideração as
necessidades dos operadores na elaboração das escalas laborais que acomodem
necessidades especiais da vida familiar dos trabalhadores com dependentes sob
seus cuidados, especialmente nutrizes, incluindo flexibilidade especial para trocas
de horários e utilização das pausas".

Da análise dos registros de jornada ids b62880f e seguintes,


verifica-se que o procedimento adotado pela empresa demandada concedeu diversas folgas aos
domingos à obreira, a exemplo dos dias: 07.12.2014, 21.12.2014, 04.01.2015, 11.01.2015,
18.01.2015.

Da análise da prova oral, verifica-se que as testemunhas ofertam


relatos contraditórios.

A testemunha da autora (ata de audiências - id eedfec7),, Sra.


Gerlane dos Santos, assevera "(...) que normalmente as escalas eram entregues com
antecedência de 48 horas mas, muitas vezes chegava a ser entregues apenas com 24 horas
de antecedência (...)" - grifei.

A testemunha patronal, Sr. José Almir, supervisor, afirma "(...) que


recebem a planilha de folgas com uma semana de antecedência; (...)" - grifei.
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Da análise do conjunto probatório, evidencia-se que: a reclamante


gozou de diversas folgas semanais durante dias de domingo; as testemunhas relatam que as
escalas poderiam ser entregues com uma semana, ou com dias de antecedência.

Não há falar, portanto, corroboro a tese sentencial de que inexiste a


demonstração de irregularidade no procedimento empresarial, inclusive, diante do fato de a
autora não demonstrar nenhuma ocasião em que sofreu prejuízo direto em virtude da alegada
entrega da escala de folgas com pouca antecipação do dia de repouso a ser gozado.

Em mais uma ocasião, portanto, a parte autora não logrou êxito em


desvencilhar-se do ônus de prova que dizia respeito ao seu fato constitutivo de direito, nos
termos do art. 818 da CLT e do art. 373, I do CPC 2015, eis que não produziu provas oral e/ou
documental capazes de fornecer amparo à sua tese.

Nego provimento.

CONCLUSÃO DO RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE

Dou parcial provimento ao recurso autoral para condenar a


reclamada ao pagamento das parcelas trabalhistas correspondentes ao período de 08 dias
anteriores à sua contratação, destinados ao treinamento, devendo a empresa demandada
retificar a CTPS obreira para fazer constar este período.

PREQUESTIONAMENTO

Destaco que a matéria contida nas disposições legais e


constitucionais invocadas pelas partes, em suas peças processuais, foi devidamente apreciada
na elaboração deste julgado, caso em que adota-se o disposto na OJ 118 da SDI-1, do TST.

CONCLUSÃO

Isso posto, QUANTO AO RECURSO DA RECLAMADA, NEGO


PROVIMENTO; Quanto ao recurso da RECLAMANTE, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao para
condenar a reclamada ao pagamento das parcelas trabalhistas correspondentes ao período de
08 dias anteriores à sua contratação, destinados ao treinamento, devendo a empresa
demandada retificar a CTPS obreira para fazer constar este período.

Custas mantidas.

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ACÓRDÃO

ACORDA a Colenda 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da


13ª Região, com a presença do(a) representante da Procuradoria Regional do Trabalho, por
unanimidade: QUANTO AO RECURSO DA RECLAMADA, NEGAR PROVIMENTO; Quanto ao
recurso da RECLAMANTE, DAR PARCIAL PROVIMENTO ao para condenar a reclamada ao
pagamento das parcelas trabalhistas correspondentes ao período de 08 dias anteriores à sua
contratação, destinados ao treinamento, devendo a empresa demandada retificar a CTPS
obreira para fazer constar este período. Custas mantidas.

Presentes à Sessão Ordinária de julgamento realizada em


13/11/2018, sob a Presidência de Sua Excelência o Senhor Desembargador Francisco de Assis
Carvalho e Silva, Suas Excelências os Senhores Desembargadores Edvaldo de Andrade e
Thiago de Oliveira Andrade, bem como Sua Excelência o Senhor Procurador do Trabalho
Márcio Roberto de Freitas Evangelista.

THIAGO DE OLIVEIRA ANDRADE


Desembargador Relator

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