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Documento Científico
Departamento Científico
de Endocrinologia
Hipotireoidismo Congênito:
Triagem Neonatal
Departamento Científico de Endocrinologia
Presidente: Crésio de Aragão Dantas Alves
Secretária: Kassie Regina Neves Cargnin
Conselho Científico: Leila Cristina Pedroso de Paula, Lena Stiliadini Garcia, Paulo Ferrez Collett-Solberg,
Raphael Del Roio Liberatore Jr, Renata Machado Pinto, Ricardo Fernando Arrais
Colaboradora: Marilza Leal Nascimento
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Hipotireoidismo Congênito: Triagem Neonatal
O HC pode ser classificado, de acordo com No Brasil, a dosagem de TSH por imunofluori-
o nível da lesão, em primário quando a altera- metria, em amostra de sangue coletada em papel
ção ocorre na glândula tireoide; secundário, na filtro é a rotina recomendada para a triagem neo-
hipófise e terciário, no hipotálamo. Esses dois natal do HC1,3-7. Pode-se realizar a dosagem simul-
últimos são extremamente raros. A denomina- tânea de TSH e T4, porém esta estratégia encarece
ção hipotireoidismo central também pode ser os programas de triagem1,4,6.
empregada quando a etiologia é hipofisária ou
A triagem neonatal é realizada no Brasil há
hipotalâmica. O hipotireoidismo central geral-
mais de três décadas. Entretanto, somente em
mente é associado a outras deficiências hormo-
2001, o Ministério da Saúde implantou o Progra-
nais (ex: hipopituitarismo)1-4.
ma Nacional de Triagem Neonatal (PNTN) pelo
O HC primário (HCP), em aproximadamen- Sistema Único de Saúde (SUS), pela Portaria GM/
te 85% dos casos, é causado por disgenesia ti- MS n.º 822, de 6 de junho de 2001. Esse Progra-
reoidiana (atireose, hipoplasia e/ou ectopia da ma tem como objetivo promover a detecção de
glândula), e, em 15% dos casos, resulta de disor- doenças congênitas em fase pré-sintomática em
monogênese (defeitos da síntese dos hormônios todos os nascidos vivos, permitindo o tratamento
tireoidianos, considerados erros inatos do meta- precoce8.
bolismo). A disgenesia tireoidiana é geralmente
Atualmente, todos os estados brasileiros e o
esporádica, sendo familiar em cerca de 2% dos
Distrito Federal realizam a triagem neonatal para
casos. Nestes casos, está associada a mutações
HC pela dosagem do TSH cujos valores de corte
genéticas nos fatores de transição PAX-8, TTF-1 e
variam de 5-10 μU/ml14. O nível de corte de TSH
TTF-2. No entanto, nos casos esporádicos os me-
preconizado pelo PNTN é 10 mUI/l9. Crianças com
canismos do defeito de embriogênese permane-
TSH elevado na triagem neonatal, são convocadas
cem obscuros. A disormonogênese é geralmente
para avaliação e confirmação do diagnóstico4,7,14.
autossômica recessiva, e raramente autossômica
dominante ou esporádica, sendo usualmente A idade ideal para a coleta da primeira amos-
causada por defeito da organificação, resultado tra de sangue para a triagem é entre o 3º e 5º dia
de mutações do gene da peroxidase1-4. de vida, quando já ocorreu a diminuição do pico
de elevação fisiológica do TSH1-7.
O HCP pode ser transitório, em 5% a 10%
dos casos, quando decorre do uso materno de Nos Estados Unidos, as coletas geralmente
medicamentos antitireoidianos, exposição ma- são feitas no momento da alta, por recomendação
terna ou neonatal a agentes iodados (ex: antis- da Academia Americana de Pediatria para que ne-
sépticos, antitussígenos, contrastes), passagem nhum caso seja perdido1. Algumas vezes, a coleta
transplacentária de anticorpos maternos que é feita antes de 48 horas de vida, o que repre-
bloqueiam o receptor de TSH, deficiência da in- senta um problema na utilização do TSH, já que
gestão de iodo, mutações em heterozigose nas os níveis podem estar fisiologicamente elevados,
enzimas DUOX1 (gene DUOXA1) ou DUOX2/ induzindo a um número expressivo de resultados
THOX (gene DUOX2) e grandes hemangiomas falso-positivos2,3. A utilização de valores de corte
hepáticos (aumento da atividade da desiodase diferenciados de acordo com o momento da cole-
tipo 3)1-4. ta pode ser uma solução.
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– Realizar a triagem tripla no 5º, 10º e A observação clínica é de valor limitado na de-
30º dias de vida. tecção do HC. O quadro clínico se estabelece len-
tamente, em semanas ou meses, porém a maior
parte das manifestações é inespecífica. Por este
motivo somente 5% das crianças são diagnosti-
Existe diferença na triagem cadas clinicamente no período neonatal1,3.
no recém-nascido a termo versus
o recém-nascido pré-termo O diagnóstico deve ser considerado em qual-
ou em situações especiais? quer lactente que apresente icterícia prolongada,
hipotermia transitória, fontanela posterior au-
mentada, dificuldade de sucção ou dificuldade
A estratégia de triagem neonatal do HC reco-
respiratória às mamadas. Os sinais clássicos de-
mendada para recém-nascidos (RN) a termo não
senvolvem-se durante as primeiras semanas após
é eficaz para prematuros e RN gravemente enfer-
o nascimento. A maior parte dos sinais e sintomas
mos10.
está presente em 6 a 12 semanas de vida, espe-
Recém-nascidos prematuros e de muito baixo cialmente letargia, obstipação intestinal e hérnia
peso podem ter elevação tardia do TSH, determi- umbilical. O fácies cretinoide e o retardo de cres-
nando um risco de perda de casos de HC quan- cimento tornam-se, progressivamente, mais ób-
do apenas uma amostra é colhida entre o 3º e o vios após os primeiros meses de vida1,3.
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Características Provável
Outros achados
principais diagnóstico
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se grave, já poderá ocorrer algum dano cerebral. água, ou leite materno, e administrado, via oral,
Quando o tratamento é iniciado precocemente, o pela manhã, uma vez ao dia, em jejum. Manter
impacto negativo de HC grave desaparece1,2,17,33-35. 30 minutos sem alimentação. Em caso de vômitos
imediatos, repetir a mesma dose1,5,6. Se o jejum
A preparação hormonal tireoidiana de escolha não for possível, a LT4 poderá ser administrada no
para o tratamento é a LT4 (levotiroxina), já que a intervalo entre as mamadas e as doses devem ser
maior parte do hormônio tireoidiano nas células ajustadas baseando-se nas concentrações séricas
do SNC deriva da conversão local de T4 em T31-6,17. dos hormônios. A LT4 não pode ser administrada
A dose inicial, de 10 a 15µg/kg/dia1,-5,7,17, 33-36. com outras substâncias que interferem na sua ab-
sorção, como soja, ferro ou cálcio1,4,6.
Devem ser utilizados comprimidos de LT4,
uma vez que não existe aprovação de soluções lí- O Quadro 5, sumariza o tratamento do HC e
quidas do hormônio. O comprimido deve ser ma- o Quadro 6 mostra as preparações comerciais de
cerado e dissolvido com pequena quantidade de levotiroxina disponíveis no Brasil.
- Iniciar o tratamento o mais cedo possível, idealmente nos primeiros 14 dias vida, após coleta
de sangue para exames confirmatórios.
- Tratar com levotiroxina: 10-15 mcg/Kg/dia, via oral, 1 vez/dia. Doses maiores são usadas para
iniciar o tratamento dos pacientes com hipotireoidismo mais grave (menores níveis de T4L).
Dose média para RN a termo é de 50 mcg/dia e para RN pré-termo de 25-37,5 mcg/dia.
- Evitar a administração concomitante de: soja (leite de soja), ferro (suplementos vitamínicos) e
cálcio.
- Mães usando drogas antitireoidianas podem continuar a amamentar seus filhos, mesmo que
eles tenham hipotireoidismo.
- Se houver deficiência do ACTH, a reposição da levotiroxina só deve ser iniciada 3-5 dias após o
início da corticoterapia para evitar a precipitação de uma crise adrenal.
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Se os valores de TSH forem acima de 9,9 mU/l to37-40. Pacientes que receberam doses mais altas
confirma-se o diagnóstico de disormonogênese. apresentam melhor desempenho em testes de
Se o TSH se mantém abaixo de 5 mU/l após 3 ava- inteligência, habilidade verbal e memória, porém
liações seriadas com intervalo de um mês entre têm mais problemas comportamentais37-40.
coletas com tratamento suspenso é firmado o
A natureza e gravidade dos déficits cogni-
diagnóstico de HC transitório. Pacientes com TSH
tivos nas crianças com HC refletem interação
entre 5,0-9,9 mU/l devem ser reavaliados com
complexa de fatores associados a essa doença e
dosagem de TSH mensalmente. Caso apresentem
seu gerenciamento. Estas incluem: hipotireoidis-
elevação de TSH é definido o diagnóstico de di-
mo fetal, etiologia e gravidade da doença, idade
sormonogênese, e se níveis se mantiverem abai-
de início do tratamento, doses iniciais e subse-
xo de 5 mU/l define-se como HC transitório. Uma
quentes de levotiroxina, frequência e qualidade
vez firmado o diagnóstico etiológico de disormo-
do seguimento. Além disso, alguns resultados de
nogênese restitui-se o tratamento6,25.
testes parecem estar diretamente afetados pelos
Nos pacientes que não têm alguma avaliação níveis dos hormônios tireoidianos (HT) na época
etiológica prévia suspende-se a levotiroxina por do teste37,39,40.
30 dias e realiza-se avaliação clínica e laborato-
O crescimento e o desenvolvimento puberal,
rial com dosagem de T4 livre, TSH e tireoglobuli-
das crianças que iniciaram o tratamento preco-
na, cintilografia de tireoide com 99mTc e ultrassom
cemente com dose adequada de levotiroxina e
de tireoide. Quando tais avaliações se mostraram
aderiram ao tratamento é essencialmente nor-
normais, os pacientes são considerados portado-
mal19,40. Os dois fatores mais importantes afe-
res de hipotireoidismo transitório; se alteradas,
tando a altura do adulto com HC são o genético
definiram-se como hipotireoidismo congênito
(altura dos pais) e a dose diária de levotiroxina.
permanente, sendo o diagnóstico etiológico esta-
Todos os pacientes devem ser acompanhados
belecido e reinicia-se a terapia com LT41,3
com curvas de crescimento. Alguns casos podem
ter velocidade de crescimento reduzida entre
seis e doze meses, seguido de velocidade normal
Qual é o prognóstico do após 12 meses. A idade óssea (IO) geralmente
hipotireoidismo congênito? normaliza aos três anos, podendo em alguns ca-
sos já estar compatível com a idade cronológica
aos 12 meses, sendo observada uma correlação
Embora a triagem e o tratamento precoce te- positiva entre IO e dose de levotiroxina quando o
nham melhorado o prognóstico das crianças com tratamento é regular. Portanto a IO é um parâme-
HC, algumas crianças têm risco de deficiências tro de tratamento adequado no seguimento das
intelectuais seletivas. Seus déficits são em regra crianças com HC1,3,19,40.
não globais, mas um tanto seletivos para habili-
dades dentro dos domínios da linguagem, senso
motor e visual espacial. Esses déficits também
contribuem para rendimento escolar mais limi- Considerações finais
tado e realizações educacionais menos adequa-
das37-38. Além disso, essas crianças apresentam A triagem neonatal permite o diagnóstico
maior risco de uma variedade de problemas com- precoce na grande maioria dos pacientes com hi-
portamentais leves não específicos37-39. potireoidismo congênito primário.
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Hipotireoidismo Congênito: Triagem Neonatal
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Diretoria
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Helita Regina F. Cardoso de Azevedo (BA) Kátia Laureano dos Santos (PB) Herberto José Chong Neto (PR)
Patrícia Guedes de Souza (BA) COORDENAÇÃO BLS – SUPORTE BÁSICO DE VIDA DIRETOR DE PATRIMÔNIO
Profissionais de Educação Física: Valéria Maria Bezerra Silva (PE) Cláudio Barsanti (SP)
Teresa Maria Bianchini de Quadros (BA) COORDENAÇÃO DO CURSO DE APRIMORAMENTO EM NUTROLOGIA COMISSÃO DE SINDICÂNCIA
Alex Pinheiro Gordia (BA) PEDIÁTRICA (CANP) Gilberto Pascolat (PR)
Isabel Guimarães (BA) Virgínia Resende S. Weffort (MG) Aníbal Augusto Gaudêncio de Melo (PE)
Jorge Mota (Portugal) PEDIATRIA PARA FAMÍLIAS Isabel Rey Madeira (RJ)
Mauro Virgílio Gomes de Barros (PE) Luciana Rodrigues Silva (BA) Joaquim João Caetano Menezes (SP)
Colaborador: Coordenadores: Valmin Ramos da Silva (ES)
Dirceu Solé (SP) Nilza Perin (SC) Paulo Tadeu Falanghe (SP)
Metodologia Científica: Normeide Pedreira dos Santos (BA) Tânia Denise Resener (RS)
Gisélia Alves Pontes da Silva (PE) Fábio Pessoa (GO) João Coriolano Rego Barros (SP)
Cláudio Leone (SP) PORTAL SBP Maria Sidneuma de Melo Ventura (CE)
Pediatria e Humanidade: Flávio Diniz Capanema (MG) Marisa Lopes Miranda (SP)
Álvaro Jorge Madeiro Leite (CE) COORDENAÇÃO DO CENTRO DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA CONSELHO FISCAL
Luciana Rodrigues Silva (BA) José Maria Lopes (RJ) Titulares:
João de Melo Régis Filho (PE) Núbia Mendonça (SE)
PROGRAMA DE ATUALIZAÇÃO CONTINUADA À DISTÂNCIA Nélson Grisard (SC)
Transplante em Pediatria: Altacílio Aparecido Nunes (SP)
Themis Reverbel da Silveira (RS) Antônio Márcio Junqueira Lisboa (DF)
João Joaquim Freitas do Amaral (CE) Suplentes:
Irene Kazue Miura (SP)
Carmen Lúcia Bonnet (PR) DOCUMENTOS CIENTÍFICOS Adelma Alves de Figueiredo (RR)
Adriana Seber (SP) Luciana Rodrigues Silva (BA) João de Melo Régis Filho (PE)
Paulo Cesar Koch Nogueira (SP) Dirceu Solé (SP) Darci Vieira da Silva Bonetto (PR)
Fabianne Altruda de M. Costa Carlesse (SP) Emanuel Sávio Cavalcanti Sarinho (PE) ACADEMIA BRASILEIRA DE PEDIATRIA
Joel Alves Lamounier (MG) Presidente:
Oftalmologia Pediátrica
Coordenador: DIRETORIA DE PUBLICAÇÕES Mario Santoro Júnior (SP)
Fábio Ejzenbaum (SP) Fábio Ancona Lopez (SP) Vice-presidente:
Membros: EDITORES DA REVISTA SBP CIÊNCIA Luiz Eduardo Vaz Miranda (RJ)
Luciana Rodrigues Silva (BA) Joel Alves Lamounier (MG) Secretário Geral:
Dirceu Solé (SP) Altacílio Aparecido Nunes (SP) Jefferson Pedro Piva (RS)
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