Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Um livro que se assume desde a primeira página como “um exemplo para explicar
às crianças que nem todos nascem iguais”. E também “uma lição de vida para
ensinar os adultos a lidar com a diferença”. Com textos curtos e desenhos coloridos
página a página, Teresa Coutinho apresentou o livro em várias escolas públicas e
privadas, nas dos filhos também. Valeu a pena, pelas reações, pela forma como os
mais pequenos respondiam às questões, como partilhavam os seus pensamentos
sem qualquer receio. “As crianças encaram o outro como igual, que a deficiência é
uma diferença especial”, conta ao EDUCARE.PT. “As crianças estão habituadas à
diferen-
ça”, acrescenta.
Fácil explicar às crianças, mais difícil explicar aos adultos, aos que têm o poder de
decidir se uma criança vai ou não passar a vida numa cadeira de rodas, se o acesso
às terapêuticas e materiais é ou não gratuito, se há ou não rampas nos passeios e
transportes públicos, se há ou não acessibilidades para todos. “Ainda há um grande
combate de mentalidades a fazer, faltam elevadores, rampas, ainda há quem
estacione nos lugares reservados aos deficientes. Ainda há uma mentalidade a
mudar, ainda há adultos que olham para trás ou para o lado quando veem alguém
diferente, que não sabem lidar com uma criança com deficiência”, sublinha.
“Com este livro, tento ajudar a explicar às crianças porque existe esta diferença. E
os adultos que precisam de explicar a um filho, a um familiar, a uma turma da
escola o que é ser deficiente. Ou simplesmente habituar as crianças ao facto de que
a diferença existe, mesmo que não partilhe com elas a mesma família, a mesma
turma
ou a mesma rua. Apenas existe”, escreve.
Maria cresceu entretanto. Tem agora 9 anos, anda num colégio privado, numa
turma regular. “E é uma menina superfeliz porque lhe é dada a oportunidade de ser
igual”. Maria tem mais dois irmãos, Lourenço, de 12 anos, e Constança, de 5.
Começou a andar aos quatro anos, caminha com ajuda de um andarilho. “Continua
o seu caminho e a tentar ser o mais autónoma possível”. E os professores são
essenciais neste trajeto por estarem ao lado de crianças que têm um papel muito
importante em casa e que amanhã serão adultos. Maria continua a crescer e Teresa
Coutinho pensa se não valerá a pena dar continuidade a essa história real com mais
um livro e com uma mensagem que já navega na sua cabeça. “As pessoas
diferentes conseguem vencer as adversidades e conseguem realizar os seus
sonhos”. Como a Maria.
A mãe Teresa partilha a história da sua Maria num livro, cujas receitas revertem a
favor de associações que trabalham com pessoas com paralisia cerebral, uma em
Portugal, o Sorriso da Rita, e outra associação de pais em Espanha. Não é ficção, é
realidade. Maria teve pressa de conhecer o mundo, não sossegava quieta na
barriga da mãe, e nasceu. Não foi bem como se estava à espera, teve de ir para
uma incubadora e os mimos chegavam de todos os lados, através de um vidro, dos
pais, do irmão, dos avós. Até que chegou o dia de conhecer o mundo. E sorriu pela
primeira vez. “Mas, mais uma vez, não era fácil. A Maria não conseguia fazer as
mesmas coisas que os outros bebés e precisava de ajuda para aprender”, escreve a
mãe Teresa.
Maria teve de fazer algumas coisas. “Começou então uma ginástica – com o nome
esquisito de fisioterapia – que a ensinava a abrir os braços, a segurar o pescoço, a
sentar-se, a pôr-se de pé, a tentar andar… Coisas que a Maria não conseguia fazer
sozinha”, escreve. Ao lado da frase, desenhos com a ginástica da Maria. “Na escola,
brincava com os outros meninos. Como não andava, eles vinham ter com ela,
traziam-lhe os brinquedos, ajudavam-na a pintar com os lápis.”
Maria era feliz, nadava na piscina, montava a cavalo, fazia fisioterapia. “Ela
ensinava os meninos a limparem os seus óculos e mostrava-lhes o andarilho onde
tentava dar os primeiros passos. Todos queriam experimentar.” E, certo dia,
Lourenço, o irmão, perguntou o que é ser deficiente. E a mãe respondeu-lhe num
livro colorido. “Há meninos que não conseguem ver, outros ouvir, outros ainda não
andam, como a Maria. Alguns ficam sempre pequeninos. E isso torna-os especiais.
E ser deficiente é
isso mesmo, é ser especial.”
“Não podemos ter a pretensão de que as crianças entendam nomes como paralisia
cerebral. Mas temos de lhes explicar que ser diferente – afinal, a diferença da Maria
– é uma realidade e que há muitos meninos assim. Mas não deixam de ser felizes,
de ser meninos como eles. Brincam, riem, choram, cantam, fazem o que eles
fazem. De maneira diferente. Especial”, escreve no final do seu livro numa página
dedicada
a pais e educadores.
Teresa Coutinho, mãe e escritora, percebeu então que a missão era mais fácil.
“Porque as crianças aceitam a diferença sem julgar, rejeitar ou adjetivar. Não
precisam de palavras caras nem com cargas negativas – como deficiência. Mas
ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE CELORICO DE BASTO OC - FC
Dia Internacional da Pessoa com Deficiência
3 de dezembro 2017/2018
(Partilha de ideias)
precisam de saber que elas existem, precisamente para que a carga negativa
desapareça”. Precisam de respostas para a sua curiosidade. E foi precisamente isso
que Teresa fez num livro colorido.