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Camões Lírico
Três conceitos caracterizaram a grande viragem no pensamento humano:
renascimento, humanismo e classicismo.
O renascimento é um movimento cultural com origem em Itália (sec. XIV-XVI),
em que surge uma nova conceção de homem e natureza, caracterizando-se por uma
recuperação dos conhecimentos e modelos da antiguidade clássica. Humanismo é um
movimento intelectual e filosófico que coloca o homem no centro do conhecimento
(antropocentrismo), através de uma valorização do próprio homem e exaltação da sua
capacidade de entender o mundo e tudo o que o rodeia. Classicismo é uma tendência
estética que ganha corpo com os valores clássicos greco-latinos e introduz novas formas,
novas espécies, novos géneros nas artes plásticas e na literatura, como modelos a imitar;
preconiza o gosto das composições equilibradas, a simplicidade, a precisão, a busca da
harmoniza das formas e a idealização da realidade, de que a visão da natureza como um
locus amoenus, a mulher perfeita, idealiza de acordo com o cânone petrarquista, e o
amor platónico são exemplos.
Estrutura interna
O poema está organizado em quatro partes: Proposição (I, 1-3); Invocação (I,4-
5); Dedicatória (I, 6-18 e X, 145-156); Narração (I-X).
Proposição, apresenta o assunto da epopeia, propondo-se cantar os feitos do
povo português.
Invocação; suplica, apelo, pedido.
Dedicatória, camões oferece a epopeia ao rei D. Sebastião.
Narração, o poeta narra os feitos das personagens.
11ºano
Linguagem e estilo
Recursos expressivos:
a. Alegoria, que é todo o sermão, na medida em que os defeitos dos peixes
personificam a maldade humana;
b. Comparação, entre os peixes e os homens, pois os homens, com suas más e
perversas cobiças, vêm a ser como os peixes;
c. Metáfora, identificam os pregadores com o sal da terra;
d. Apostrofe, (invocação de pessoas ausentes, seres inanimados ou entidades
abstratas) em Vós, diz cristo senhor nosso, falando com os pregadores, sois o
sal da terra;
e. Enumeração, associada a uma gradação: começam a correr os peixes, os
grandes, os maiores, os pequenos;
f. Antíteses, deixa as praças vai-se às praias, deixa a terra, vai-se ao mar;
g. Anáfora, p.e mimetismo do polvo: se está nos limos faz-se verde, se está na
areia faz-se branco, se esta no lodo faz-se pardo.
Frei Luís de Sousa, Almeida Garret
O pano de fundo da obra romântica é um quadro tumultuoso, agreste, sombrio,
preferencialmente noturno- a dita paisagem romântica (locus horrendus) – que
contrasta com a sobriedade, harmonia, frescura, serenidade e elegância da paisagem
clássica (locus amoenus).
Sebastianismo: história e ficção
O sebastianismo é um mito criado apos o desaparecimento do rei D. Sebastião
na batalha de Alcácer Quibir em 1578 que apresenta várias características. O
desaparecimento misterioso de D. Sebastião; associação da sua morte à decadência do
império; esperança no seu regresso.
Fundada em superstições, a crença popular profetizava o regresso do rei numa
manhã de nevoeiro para libertar o país do domínio filipino e instaurar a gloria passada.
O mito tornou-se um traço de personalidade nacional que se caracteriza por viver as
glorias do passado e acreditar que os problemas serão resolvidos com a chegada de um
redentor, de um messias.
Em Frei Luís de Sousa, as personagens assumem posições contrárias
relativamente a este mito. Com efeito, Maria de Noronha confessa o seu culto por D.
Sebastião e acredita em lendas messiânicas sobre o seu regresso. Na mesma linha,
Telmo pais alia o sebastianismo à esperança do regresso do seu amo, D. João de
Portugal, desaparecido na mesma batalha. Pelo contrário, D. Madalena vive
atormentada pela imagem sempre obsessivamente presente do primeiro marido, D.
João de Portugal. Manuel de Sousa Coutinho, apesar do seu patriotismo, mas com uma
mentalidade racionalista, nega este mito. Por último, D. João de Portugal, na figura do
Romeiro, representa o Portugal do passado e o seu regresso desencadeará a tragédia
familiar.
Personagens:
D. Madalena de Vilhena, a mais trágica das personagens, encarna a heroína
romântica.
Manuel de Sousa Coutinho, é a personagem que melhor define as contradições
do homem romântico. Oscilando entre a razão e o sentimento.
Maria, também ela uma heroína romântica, é o anjo inocente vítima da
sociedade, que acredita piamente no regresso de D. Sebastião. Treze anos com uma
maturidade e preocupações invulgares para a sua idade. Acentuada pela tuberculose,
deixa-se arrastar pela tragedia presente e a persegue, morrendo de vergonha em palco,
como convém a um final trágico.
Telmo Pais, escudeiro valido, o familiar quase parente, o velho amigo que foi de
D. João de Portugal e que permaneceu ao serviço de D. Madalena, apos o
desaparecimento daquele.
D. João de Portugal é, na verdade, a sombra que paira desde o início sobre os
Sousa Coutinho.
Frei Jorge, frade dominicano, irmão de Manuel, representa o papel dos
confidentes da tragédia clássica e pode ser considerado o verdadeiro culpado do
desfecho tráfico.
i
Sinestesias, Associação de sensações resultantes da perceção sensorial de sentidos diferentes.
ii
Parnasianismo, procura a confeção perfeita através de uma poesia descritiva, baseada em temáticas
greco-latinas que defende a reação contra o romantismo, a obsessão pela beleza na perfeição formal
(em ritmo e rima) e a busca da impessoalidade e da impassibilidade.
iii
Assíndeto, acentua os valores individuais de cada palavra, registando as gradações subtis de uma
realidade mutável.
12º ano
Fingimento artístico
Nos poemas «Autopsicografia» e «Isto», o eu lírico defende que o poeta não
pretende representar diretamente os seus sentimentos e as suas experiências interiores
tal qual as viveu. Nesta sua conceção de poesia, Pessoa afirma que o poeta parte das
emoções que experienciou («a dor que deveras sente») e representa-as poeticamente,
por palavras, transformando essas emoções em arte, através de um processo de
intelectualização. A escrita resulta, portanto de um processo de racionalização dos
sentimentos e da imaginação artística (trabalho poético) para escrever o poema.
Pessoa chama a este processo fingimento artístico: «o poeta é um fingidor». Mas
fingimento não significa aqui falta de autenticidade ou de sinceridade, o poeta apenas
ganha distanciação em relação aos seus sentimentos para os poder representar
estipticidade por palavras.
Fingimento artístico associada às dicotomias sentir/ Pensar, Coração/ Razão;
Sinceridade convencional/ Sinceridade Intelectual.
A dor de pensar
A consciência de si é um fardo, uma dor, por isso o poeta inveja aqueles que não
pensam e que não intelectualizam a sua condição humana e, num sentido mais lato, a
existência. No entanto, o “eu” acredita que aqueles que não pensam não podem ser
verdadeiramente felizes, uma vez que não tem consciência da sua suposta felicidade.
Surgem tentativas da fuga à dor de pensar: Alberto Caeiro, sonho, música e a
nostalgia da infância.
Ex: “gato que brincas na rua” e “ela canta pobre ceifeira”
Sonho e realidade
O “eu” lírico não encontra a felicidade na realidade do quotidiano, porque se
sente tomado pela frustração, pelo vazio ou pelo tédio. O sonho é a dimensão em que
se idealiza e onde cré conseguir realizar-se e atingir a plenitude ou o equilíbrio:
metaforicamente, refere-se a este como «um país/ onde ser feliz/ consiste/ apenas em
ser feliz» (“às vezes em sonho triste”).
Na poesia de pessoa, o espaço onírico, ou seja, o mundo do sonho, não funciona
como uma evasão ou escape, é antes um lugar onde o “eu” acredita que pode recuperar
uma experiência perdida (a da infância) ou ser o que não se é no mundo «real».
O “eu sonhado” não é uma outra pessoa, é sim uma outra faceta do «eu» lírico
(“não sei se é sonho, se realidade”). O sujeito sente-se, pois, dividido entre o que é
«realmente» e o que desejava ser.
Para pessoa, a sensação do sonho torna-se mais profunda que a própria realidade.
A nostalgia da infância
A melancolia no presente que marca o «eu» na poesia de Fernando Pessoa
ortónimo leva-o muitas vezes a manifestar um sentimento de nostalgia em relação à
infância. Nessa época, o “eu” não recorria ao pensamento analito que lhe permitiria ter
consciência do seu estado de alma. Deste modo, a evocação da infância não passa de
uma tentativa infrutífera de evasão da melancolia do presente através de um passado
que, porque concebido apenas ilusoriamente como um paraíso perdido, acaba por não
permitir ao «eu» libertar-se da tristeza, do tédio e da angústia que o atormentam.
Ex: “ó sino da mina aldeia”, “pobre velha música”
Contradições:
• Caeiro diz desvalorizar ou recusar o pensamento, mas os seus poemas
são reflexões e não tanto descrições da Natureza.
• Analisa e reflete sobre as sensações, não se limita a captar impressões.
• Afirma-se contra a filosofia, mas expõe a sua doutrina nos seus poemas.
Estilo:
• Frases simples
• Domínio do campo lexical de «natureza»
• Marcas do discurso de oralidade (polissíndeto, repetição)
• Recursos retóricos: comparações, metáforas e imagens simples
• Irregularidade a nível da estrutura estrófica e métrica.
Ricardo Reis, o poeta clássico
Ricardo Reis é helenista (estudioso da língua e/ou civilização da antiga Grécia) e
latinista (conhece bem e estuda a língua e literaturas latinas).
Transmite nos poemas ensinamentos (uma filosofia de vida) para os indivíduos
saberem enfrentar as adversidades do mundo. Entre essas adversidades contam-se a
ação do destino (fado), o tempo que foge, a velhice, a doença, a morte e outras situações
que desencadeiam o sofrimento.
Aconselha a aceitar a ordem das coisas e a desfrutar a vida na terra.
Adota uma visão pagã do mundo, em que o homem vive em comunhão com a
Natureza e em que existem deuses, uma mitologia e o destino. «Abdica e sê rei de ti
próprio».
Epicurismo
• Na vida, devem procurar-se os prazeres serenos e moderados;
• Aconselha-se a fruição tranquila do presente em vez de recear a ação do destino,
a morte e outros problemas que ameaçam os indivíduos;
• Adota-se a firmeza e a autonomia na forma como se enfrentam as adversidades
do mundo e se evitam as ciladas da fortuna (do fado);
• Advoga-se uma atitude imperturbável e de distanciação face aos males que
podem surgir: ataraxia;
• Defende-se o carpe diem, a ideia de se procurar uma felicidade suave e tranquila
de prazeres moderados;
• Incentiva-se a aceitação de uma vida simples, sem grandes ambições e em
contacto com a natureza.
Estoicismo
• Autodisciplina e autocontrolo na vida e na escrita;
• Indiferença perante as paixões;
• Encoraja-se a «apatia», um estado de ausência do sofrimento como forma de o
sujeito enfrentar com determinação as contrariedades, a doença e a morte;
• Aconselha-se também a ataraxia.
Estilo:
• Recurso ao hipérbato e à anástrofe, sugerindo, assim, a construção da frase
latina.
• Uso de um vocabulário erudito de origem grega e latina.
Álvaro de campos, o poeta da modernidade
Evolução literária em 3 fases: 1º fase- decadentista; 2º fase- sensacionista e
futurista; 3º fase- intimista.
Após uma primeira fase mais associadas a temas característicos do
decadentismo (tédio profundo em relação à vida, desejo de experimentar novas
sensações), e que tem como paradigma o poema «opiário», a poesia de Álvaro de
Campos evolui para um período fortemente marcado pela influência do futurismo
(2ºfase).
É neste âmbito que o sujeito poético procede à exaltação da vida moderna, ou
sejam da crescente industrialização, da evolução tecnológica e do ritmo frenético dos
grandes centros urbanos, sobretudo em poemas como «Ode triunfal» e «Ode
marítimas»
A poesia de Álvaro de campos transmite nos seus poemas as sensações intensas
desencadeadas pelo ritmo alucinante das máquinas e da vida moderna. Por dar primazia
às sensações («sentir tudo de todas as maneiras», também é um exemplo de
sensacionismo.
Na terceira fase, todo este ambiente marcado pelo excesso se desfaz, acabando
por culminar uma atitude de apatia resultante de um desalento e ceticismo profundos
em relação à vida. A defetividade do presente desencadeia no «eu» uma profunda
nostalgia da infância, época supostamente feliz.
Em suma, Álvaro de Campos resulta no heterónimo mais complexo de Pessoa,
atravessando fases poéticas diferentes.
Estrutura da obra
Mensagem divide-se em três partes: Brasão, Mar Português e o Encoberto.
Na primeira parte, Brasão, alinham-se mitos e figuras históricas de Portugal.
Na segunda parte, Mar Português, fala-se dos descobrimentos.
Na terceira parte, Encoberto, sebastianismo e iminência da concretização do
quinto império.
O sebastianismo
Mensagem retoma o mito Sebástico com uma configuração própria. Fernando
pessoa é agora o profeta que, num contexto nacional difícil e de crise, fala do
ressurgimento de Portugal e do seu futuro traçado por deus. Nesta obra, D. Sebastião é
uma figura que surge no título de dois poemas, mas o seu valor é simbólico e não será
o seu regresso «carnal» que Pessoa aguarda; a noção de Salvador terá uma configuração
simbólica.
Mensagem é atravessada por figuras, símbolos («as ilhas afortunadas»,
«nevoeiro») e avisos («o bandarra», «nevoeiro») que anunciam uma nova era. Essa era
futura é o do Quinto Império. Um conceito bíblico que o padre António Vieira, Fernando
Pessoa e outros autores atualizaram. Para o poeta da Mensagem, depois dos impérios
grego, romano, cristão (medieval) e europeu marítimo chegará este novo tempo (quinto
império).
O Quinto Império é um conceito universal, pois envolve toda a humanidade e
não será conquistada pelas armas. Trata-se de um domínio espiritual, que por escolha
divina, tem Portugal à cabeça e que se propõe trazer fraternidade, paz, prosperidade a
todos os povos. Será uma espécie de regresso ao paraíso perfeito.
*Livro do desassossego, Bernardo Soares*
O quotidiano
Bernardo Soares reconhece que o fracasso que marca o seu quotidiano decorre,
em parte, da inaptidão para lidar com estas questões pragmáticas da existência («Nunca
aprendi a existir»). Consciente desta sua característica, acredita que todos os seus
sonhos estão à partida condenados ao malogro- motivo pelo qual se refugia numa
atitude de inércia.
Considera que a condição de ser pensante o torna superior aos indivíduos que o
rodeiam- seres marcados pela inconsciência que se contentam com uma existência
marcada pela mediocridade. É por este motivo que se refugia numa solidão voluntária.