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Revista Afluente – A revista do JPS – Ano I / Nº 2 – Dezembro de 2017

Artigo

IMPORTÂNCIA DA GEOMORFOLOGIA FLUVIAL NO


CONTEXTO DO SANEAMENTO AMBIENTAL
Maurício Andrades Paixão

Masato Kobiyama

Karla Campagnolo

No mundo inteiro a água uti- manancial, buscando-se adotar


lizada para fins de abastecimen- estratégias que garantam a segu-
to humano, agrícola e industrial é rança hídrica. Nota-se que esses
proveniente, predominantemente, cuidados estão relacionados às
de águas superficiais. Embora em características dos rios, ou seja,
algumas regiões haja grande con- ao conhecimento da geomorfo-
tribuição da água subterrânea, são logia fluvial.
as águas superficiais as responsá-
veis pela maior parte do abasteci- Para garantir a quantidade e
mento, uma vez que são de mais a qualidade dos recursos hídricos
fácil captação que as águas sub- é preciso manter os rios naturais
terrâneas. Além disso, sua dinâmi- saudáveis e recuperar os rios de-
ca de deslocamento permite que gradados. No caso da degradação
sua renovação ocorra mais rapi- de rios, necessita-se tal recupera-
damente que a água subterrânea. ção para atendimento das necessi-
A história humana na qual a civili- dades sociais relacionadas à água.
zação tinha acontecido na beira de No contexto do saneamento am-
rio, por exemplo, rio Nilo, rio Ama- biental - conjunto de práticas que
relo, rio Tigre e Eufrates e rio Indo, promovem a qualidade de vida,
claramente demonstra a importân- melhora o ambiente e contribui
cia dos rios para as sociedades. para a saúde pública – a geomor-
fologia fluvial auxilia no processo
Em sistemas de captação de de escolha de pontos de captação
águas superficiais a tomada de de água, na renaturalização de
água normalmente ocorre a mon- rios e na identificação de padrões
tante da zona de abastecimento, fluviais que atendam as deman-
distante de lançamentos de esgo- das sociais. Nessa circunstância, o
to, no lado externo da curvatura objetivo do presente trabalho foi
de um rio e deve ser considerada apresentar a importância da geo-
a segurança quanto aos níveis de morfologia fluvial no contexto do
cheia e de estiagem. Além disso, saneamento ambiental.
deve-se conhecer a disponibi-
lidade de água proveniente do

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FLUVIAL NO
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GEOMORFOLOGIA FLUVIAL rial do canal. Rosgen (1994) dividiu


sua classificação em quatro diferen-
Devido aos grandes distúrbios tes níveis de detalhamento: (I) mor-
e perturbações que o homem vem fologia geral; (II) tipos de rios; (III)
provocando nos rios ao redor do estado dos rios; e (IV) verificação,
mundo, muitos pesquisadores, ges- na qual se apresentam em ordem
tores e tomadores de decisão vêm crescente de detalhamento. A Figu-
tentando entender, monitorar e res- ra 1 apresenta o nível I da classi-
taurar os rios (Buffington e Mont- ficação de Rosgen. Sua classifica-
gomery, 2013). Uma parcela consi- ção é a mais utilizada no mundo,
derável desses esforços tem como especialmente em projetos de en-
objetivo avaliar os efeitos dos dis- genharia voltados à renaturalização
túrbios na paisagem, compreen- de rios. No entanto, Simon et al.
der as respostas anteriores, deter- (2007) alertaram que sua utilização
minar as condições atuais e prever irrestrita pode ser falha, principal-
as condições futuras (Kondolf et al., mente por desconsiderar os proces-
2001). Desse modo, a classificação sos governados pela ação de forças
dos rios serve como ferramenta na de cisalhamento e de resistência e
identificação e na interpretação de pelo desequilíbrio entre o forneci-
padrões de similaridade espacial mento e o poder de transporte de
e temporal da paisagem que são sedimentos em sistemas fluviais.
úteis no contexto da renaturaliza-
ção do rio e consequentemente do Schumm (1977) dividiu os rios
saneamento ambiental. de acordo com a zona de produ-
ção, de transporte e de deposição
Existem diversas formas de clas- de sedimentos, trazendo uma visão
sificação de rios. Rosgen (1994), baseada no processo de movimen-
por exemplo, classificou 94 dife- to dos sedimentos através dos cor-
rentes tipos básicos de rios, basea- pos hídricos. A partir desta visão,
do no grau de entrincheiramento Montgomery e Buffington (1997)
dos corpos hídricos, na largura, na e Montgomery (1999) classifica-
sinuosidade, na visualização plana ram os rios de acordo com a fonte
do rio, na declividade e no mate- de sedimentos, seu transporte e

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seus mecanismos de resposta. Esse


avanço permitiu identificar unida-
des geomorfológicas fundamentais
que estruturam o comportamento
dos rios na paisagem e, justamen-
te por isso, é uma importante fer-
ramenta para a gestão da terra e da
conservação do meio ambiente. A
Figura 2 apresenta a ideia de pro-
cesso aliada à ideia de fonte de se-
Figura 2 – Produção de sedimentos em rios
dimentos proposta por Montgo- (Modificado de Kondolf, 1994)
mery (1999).
na compreensão dos processos em
A classificação de rios ainda escala de bacia hidrográfica.
pode incluir diferentes análises, tais
como, a ocorrência de unidades RENATURALIZAÇÃO DE RIOS
geomorfológicas específicas de pe-
quena escala (pools, riffles, steps, Harman e Starr (2011) relataram
entre outros), análise de material muitos projetos de renaturalização
do leito e sua mobilidade (Figura 3), de rios, realizados nos EUA com
classificações estatísticas e, ainda, base na classificação de rios por
classificações hierárquicas. A clas- Rosgen (1994) e com grande su-
sificação hierárquica presume clas- cesso. As classificações hierárqui-
sificações em escalas sucessivas de cas, como a proposta por Church
condições físicas e biológicas e per- (2006), também têm sido ampla-
mite uma abordagem mais holística mente utilizadas na gestão territo-

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rial por permitirem compreender tratégias de renaturalização de rios


os processos que ocorrem em nível com vistas à melhora ambiental dos
de bacia hidrográfica em uma se- recursos hídricos visando o abaste-
cimento de água, por exemplo, é
preciso considerar a importância da
geomorfologia.

Segundo Souza e Kobiyama


(2003), os principais objetivos da
renaturalização de rios podem ser:
(i) A recuperação da qualidade da
água; (ii) a estabilização de encos-
tas e margens (eliminar erosões); (iii)
a recuperação da biodiversidade do
Figura 3 – Unidades geomorfológicas de ecossistema (fauna e flora); (iv) res-
pequena escala e materiais de leito: (a) canais tabelecimento das áreas naturais de
rápidos; (b) step-pools; e (c) step-pools com
interação do leito (Modificado de Church e inundação; (v) recuperação da pai-
Zimmermann, 2007).
sagem natural; e (vi) o aumento do
número de espécies. A geomorfolo-
quência. Portanto, ao se estabele- gia fluvial pode auxiliar para alcan-
cer estratégias de renaturalização çar a esses objetivos.
de rios, faz sentido que se busque
classificações hierárquicas. Segundo Gilvear (1997), a
geomorfologia na engenharia flu-
Como a geomorfologia traba- vial se baseia em cinco princí-
lha com identificação de padrões, pios: (i) as alterações morfológi-
hierarquiza-los permite saber a se- cas, de água e de sedimentos em
quência de passos que precisam um canal acontecem nas dimen-
ser dados na renaturalização de um sões longitudinal, transversal e
rio, respeitando, assim, o equilíbrio vertical; (ii) o rio apresenta resposta
entre o fornecimento e a capacida- de acordo com as variações na en-
de de transporte de sedimentos em trada de água e sedimentos a mon-
rios. Portanto, ao se estabelecer es- tante; (iii) a morfologia de um rio

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se altera temporalmente mas a di- para os gestores de saneamento


nâmica de ajuste do canal varia ao ambiental. Para isso, os mesmos
longo do próprio rio; (iv) alterações necessitam perceber os rios naturais
provocadas no uso da terra, no tanto para compreender como os
leito do rio e nas margens podem rios naturais se comportam quanto
afetar a estabilidade do sistema de para identificar e classificar os mes-
um rio; e (v) os processos de alte- mos. Sem percepção dos rios natu-
ração da morfologia definem os rais, não existe sucesso na renatura-
hábitats para a biota e tem impor- lização e manutenção dos rios. Para
tante papel nas alterações dos pro- essa percepção qualitativa e quanti-
cessos fluviais. tativa, a geomorfologia fluvial pos-
sui o fundamental papel. •
O sucesso de renaturalização do
rio traz a saúde do mesmo, o que
melhoraria a qualidade da água, au-
mentaria a biodiversidade do ecos-
sistema fluvial, agradaria a paisagem
fluvial, reduziria significativamente o
odor desagradável à sociedade, re-
gulamentaria o regime fluvimético,
entre outros. Esses itens fazem parte
do saneamento ambiental. Assim
sendo, pode-se dizer há a grande
importância da geomorfologia flu-
vial no saneamento ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Renaturalização de rios e manu-


tenção dos rios saudáveis podem
ser uma das mais importantes metas

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REFERÊNCIAS

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