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Capítulo 01 – A Escola Liberal Clássica do Direito Penal e a Criminologia Positivista (pg 29)
Há nas escolas positivistas, o começo da criminologia como uma nova disciplina e produtora
de um discurso autônomo, que tem por objeto não propriamente o delito, mas sim o homem
delinquente, considerado como individuo diferente e consequentemente observável. O
batismo da criminologia como estudo das causas que levam uma pessoa a cometer um crime,
enseja essa concepção positivista (pg 29).
A criminologia quando inicia seu caráter crítico, atinge maturação quando o enfoque
macrossociológico se desloca do comportamento desviante para os mecanismos de controle
social, em particular, o processo de criminalização.
Sendo assim, o Direito Penal não é mais considerado somente como um sistema estático de
normas, mas como sistema dinâmico de funções, no qual destacam-se: 1) o mecanismo da
produção de normas (criminologia primaria); 2) o mecanismo de aplicação das normas
(criminologia secundária) e 3) mecanismos de execuções penais e medidas de segurança.
Passa-se assim a criticar o Direito Penal, tendo como premissas: a) O Direito penal não
defende todos e somente bens essenciais. Quando há punição é de modo desigual e
fragmentário; b) A lei penal não é igual para todos e a rotulação de criminoso é considerada
de forma diferente entre os indivíduos; c) o grau de tutela e esse status de criminoso
independem da danosidade do evento (pg. 162).
Ou seja, o Direito Penal não é menos desigual do que outros ramos do direito, sendo desigual
por excelência. Uma crítica que ratifica essa proposição é a marxista, principalmente a Crítica
ao programa de Gotha, já que considera a desigualdade sobre dois enfoques: o do contrato e
da distribuição.
A partir da criminologia crítica se considera que o caráter fragmentário do direito penal passa
a ser objeto de controle penal, mascarando suas intenções a partir da seletividade dos bens
protegidos e dos comportamentos lesivos, tendo como consequência o privilégio dos
interesses das classes dominantes e a imunizar do processo de criminalização comportamentos
danosos, geralmente ligados à acumulação capitalista, concernentes a essas classes.
Com isso há um desvio de criminalização, sobretudo para classes subalternas. Isso não
acontece apenas com a escolha dos comportamentos abrangidos por lei, mas também com a
própria formulação dos tipos legais.
A comunidade carcerária construiu um modelo próprio e tudo isso foi possível graças ao fato
de que ela se ancorou nas estruturas das sociedades capitalistas contemporâneas. Essas
características produzem efeitos contrários às possibilidades de reeducação e reinserção do
condenado, aumentando as chances dele adentrar na população criminosa.
Este modelo carcerário está longe de ser um modelo educativo efetivo, visto que a educação
fomenta a individualidade, o autorrespeito do indivíduo, e é alimentada pelo respeito do
educador, promovendo o sentimento de liberdade e de espontaneidade do indivíduo. Ao
contrário de tudo isso, está a vida no cárcere, tendo em vista que esta é marcada pela
repressão, disciplina e uniformização. Deste modo, é forçoso destacar que o instituto da pena
está extremamente desconectado do instituto da educação.
Outra questão emblemática são as privações que os indivíduos nestas condições são postos.
Efeitos sobre a personalidade e o funcionamento não educativo da estrutura, fazem com que
os meios de satisfação das necessidades sejam negados, havendo privação também no que
tange a relações heterossexuais. (livro de goffman, página 31).
O individuo é submetido a um processo primeiramente de “desculturação”, ou seja,
desadapta-se à vida de liberdade, que Baratta (2002) elenca como a diminuição da força de
vontade, perda do senso de autorresponsabilidade social ou econômica. Segundo, pelo
processo de “aculturação” ou “prisionalização”, que nada mais é do que a assunção de
atitudes e modelos de comportamentos próprios do cárcere.
A sociedade tende a estigmatizar o indivíduo que cometeu crime mesmo após o cumprimento
da pena e esta se torna indelével no indivíduo. É como se a pessoa após o cumprimento da
detenção, resguardando os conceitos de Foucault (1975), fosse submetida a um novo modelo
de panoptismo, ou seja, passa a ser vigiada por toda a sociedade, como se ainda tivesse
alguma dívida com a justiça.