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Alessandro Baratta - Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal

Capítulo 01 – A Escola Liberal Clássica do Direito Penal e a Criminologia Positivista (pg 29)

- Criminologia contemporânea (a partir dos anos 30)  tendência a superar as teorias


patológicas da criminalidade (baseada em características biológicas e psicológicas) e sobre a
negação do livre arbítrio. Essas características eram próprias da criminologia positivista.

Há nas escolas positivistas, o começo da criminologia como uma nova disciplina e produtora
de um discurso autônomo, que tem por objeto não propriamente o delito, mas sim o homem
delinquente, considerado como individuo diferente e consequentemente observável. O
batismo da criminologia como estudo das causas que levam uma pessoa a cometer um crime,
enseja essa concepção positivista (pg 29).

Mesmo que atualmente haja um novo paradigma criminológico denominado labeling


approach (paradigma da reação social), há ainda, segundo o autor uma tendência dominante
do modelo positivista (etiológico) no que tange a individualizar as medidas adequadas para
remover os fatores da criminalidade, intervindo principalmente no sujeito criminoso
(correlacionismo) dentro da sociologia criminal contemporânea.

O paradigma do labeling approach considera que não é possível considerar a criminalidade


como um dado pré-constituído às definições legais de certos comportamentos e de certos
sujeitos. O crime passa a ser considerado como um comportamento definido pelo direito,
sendo repudiados o determinismo e a consideração do delinquente como individuo diferente,
superando-se assim, o pensamento do paradigma anterior.

A criminologia quando inicia seu caráter crítico, atinge maturação quando o enfoque
macrossociológico se desloca do comportamento desviante para os mecanismos de controle
social, em particular, o processo de criminalização.

Sendo assim, o Direito Penal não é mais considerado somente como um sistema estático de
normas, mas como sistema dinâmico de funções, no qual destacam-se: 1) o mecanismo da
produção de normas (criminologia primaria); 2) o mecanismo de aplicação das normas
(criminologia secundária) e 3) mecanismos de execuções penais e medidas de segurança.
Passa-se assim a criticar o Direito Penal, tendo como premissas: a) O Direito penal não
defende todos e somente bens essenciais. Quando há punição é de modo desigual e
fragmentário; b) A lei penal não é igual para todos e a rotulação de criminoso é considerada
de forma diferente entre os indivíduos; c) o grau de tutela e esse status de criminoso
independem da danosidade do evento (pg. 162).

Ou seja, o Direito Penal não é menos desigual do que outros ramos do direito, sendo desigual
por excelência. Uma crítica que ratifica essa proposição é a marxista, principalmente a Crítica
ao programa de Gotha, já que considera a desigualdade sobre dois enfoques: o do contrato e
da distribuição.

Sob o aspecto contratual, a crítica se dirige ao aspecto desigual da formação de contrato,


tendo em vista que há um pacto entre duas pessoas que são necessariamente são iguais
formalmente e substancialmente falando. No que tange ao enfoque da distribuição, a
desigualdade substancial é vista como o acesso desigual aos meios de satisfação das
necessidades; e a igualdade formal se revela como meio de legitimação da desigualdade
substancial.

A partir da criminologia crítica se considera que o caráter fragmentário do direito penal passa
a ser objeto de controle penal, mascarando suas intenções a partir da seletividade dos bens
protegidos e dos comportamentos lesivos, tendo como consequência o privilégio dos
interesses das classes dominantes e a imunizar do processo de criminalização comportamentos
danosos, geralmente ligados à acumulação capitalista, concernentes a essas classes.

Com isso há um desvio de criminalização, sobretudo para classes subalternas. Isso não
acontece apenas com a escolha dos comportamentos abrangidos por lei, mas também com a
própria formulação dos tipos legais.

As maiores chances de ser selecionado para fazer parte da “população criminosa”


aparecem, de fato, concentradas nos níveis mais baixos da escala social
(subproletariado e grupos marginais). A posição precária no mercado de trabalho
(desocupação, subocupação, falta de qualificação profissional) e defeitos de
socialização familiar a escolar, que são características dos indivíduos pertencentes
aos níveis mais baixos, e que, na criminologia positivista e em boa parte da
criminologia liberal contemporânea são indicados como as causas da criminalidade,
revelam ser, antes, conotações sobre a base das quais o status de criminoso é
atribuído (BARATTA, 2011, pg. 165).
Segundo o autor, a seletividade das sanções penais estigmatizantes como o cárcere, é
essencial para manter a escala vertical da sociedade. Essa repressão incide, sobretudo, no
status social dos indivíduos pertencentes a estratos sociais mais baixos, impedindo assim a
ascensão social dessa parcela populacional. Como consequência, consegue-se assim a
cobertura de outras condutas ilícitas advindas, sobretudo de classes mais altas e sua
imunização penal.

O cárcere se mostra um excelente meio de se produzir os sujeitos passivos da desigualdade.


Baratta (2002) discorre que esta instituição penal tem raízes históricas a partir da própria
trajetória do capitalismo, tendo em vista que tanto o cárcere quanto o capitalismo são calcados
em relações de subordinação e disciplina (sobretudo no controle total do individuo preso, que
se assemelha ao trabalhador fabril). Pontua também que há nexo entre o cárcere e a fábrica,
entre a introdução do sistema carcerário e a transformação de uma massa indisciplinada de
camponeses expulsos do campo e separados dos meios de produção.

Capítulo XIV- Cárcere e Marginalidade Social (p.g 183)

A comunidade carcerária construiu um modelo próprio e tudo isso foi possível graças ao fato
de que ela se ancorou nas estruturas das sociedades capitalistas contemporâneas. Essas
características produzem efeitos contrários às possibilidades de reeducação e reinserção do
condenado, aumentando as chances dele adentrar na população criminosa.

Este modelo carcerário está longe de ser um modelo educativo efetivo, visto que a educação
fomenta a individualidade, o autorrespeito do indivíduo, e é alimentada pelo respeito do
educador, promovendo o sentimento de liberdade e de espontaneidade do indivíduo. Ao
contrário de tudo isso, está a vida no cárcere, tendo em vista que esta é marcada pela
repressão, disciplina e uniformização. Deste modo, é forçoso destacar que o instituto da pena
está extremamente desconectado do instituto da educação.

Outra questão emblemática são as privações que os indivíduos nestas condições são postos.
Efeitos sobre a personalidade e o funcionamento não educativo da estrutura, fazem com que
os meios de satisfação das necessidades sejam negados, havendo privação também no que
tange a relações heterossexuais. (livro de goffman, página 31).
O individuo é submetido a um processo primeiramente de “desculturação”, ou seja,
desadapta-se à vida de liberdade, que Baratta (2002) elenca como a diminuição da força de
vontade, perda do senso de autorresponsabilidade social ou econômica. Segundo, pelo
processo de “aculturação” ou “prisionalização”, que nada mais é do que a assunção de
atitudes e modelos de comportamentos próprios do cárcere.

É imperioso destacar que o cárcere reflete a estrutura da sociedade, principalmente em suas


características negativas, e em seu caráter mais elementar, amplifica as características do
capitalismo; sobretudo devido às relações serem calcadas no egoísmo e na violência ilegal
pelas quais submetem indivíduos mais débeis os quais são explorados e submetidos.

A sociedade tende a estigmatizar o indivíduo que cometeu crime mesmo após o cumprimento
da pena e esta se torna indelével no indivíduo. É como se a pessoa após o cumprimento da
detenção, resguardando os conceitos de Foucault (1975), fosse submetida a um novo modelo
de panoptismo, ou seja, passa a ser vigiada por toda a sociedade, como se ainda tivesse
alguma dívida com a justiça.

Sobre o conceito de “marginalidade”, Baratta (2002, p.188) dispõe:

O conceito de marginalidade tem sido baseado substancialmente em três elementos:


1) a participação em uma subcultura diferente em relação à dos outros grupos sociais
e os correspondentes modelos de comportamento, frequentemente desviantes, que
dela derivam; 2) a definição dominante desta diferença cultural na sociedade e a
correspondente reação social em relação ao grupo respectivo; 3) a consciência do
sujeito da própria posição marginal e a auto-identificação com os papeis
correspondentes [...].

As perspectivas de Rusche e Kirchheimer e Focault

Rusche e Kirchheimer esclareceram as relações existentes entre mercado de trabalho, sistema


punitivo e cárcere. O processo de exclusão implicado no mercado de trabalho representa um
terreno de cultura para a marginalização criminal. A tentativa de ressocialização mediante
trabalho em muito se aproxima com a acumulação capitalista.
Para Foucault, o sistema punitivo tem duas funções: enquanto a função indireta é de golpear
uma ilegalidade para acobertar outra, a direta tem o escopo de nutrir uma zona de
marginalizados abrangidos por um contexto econômico e político. Sendo assim, não há como
enfrentar o problema da marginalização criminal sem desmantelar a própria estrutura
capitalista, tendo em vista que esta necessita de desempregados, de uma marginalização
criminal para suprir seus interesses ideológicos e econômicos.

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