Vous êtes sur la page 1sur 29

Resenhas

Mudanças e continuidades na família

Cadernos de Pesquisa - a lia No entanto e na relativização dessa identi


dade que consiste uma das principais contribui
família em destaque ções deste numero dos Cadernos de Pesquisa
Destaca se a reflexão de Cynthia Sart'
BRUSCHINI Cristina COSTA Albertina de que expõe com simplicidade e clareza parte
Oliveira e SARTl Cynthia (org ) dos resultados de sua tese de doutorado fruto
de muita sensibilidade e observação aguçada
São Paulo Fundação Carlos Chagas 1994
da dinâmica das relações familiares de cama
n 91
das pobres de um bairro da perrfena de São
Paulo O seu argumento vai na direção de
Marcando a passagem do Ano Internaci pensar a família não apenas como um grupo
onal da Família celebrado em 1994 os Cader de pessoas relacionadas por laços de paren
nos de Pesquisa da Fundação Carlos Chagas tesco mas como uma ordem moral na qual o
nos oferecem essa coletânea dando prossegui homem se destaca como figura de autoridade
mento a promoção do debate multidisciplinar e respeito posição que não e garantida sim
sobre questões controvertidas e atuais como as plesmente pela função de provedor mas por
que revestem o tema Família Reunindo artigos um conjunto de valores que estrutura as rela
de 10 pesquisadoras nove delas vinculadas a ções no interior do grupo familiar definindo
instituições paulistas essa publicação traça um hierarquias e obrigações morais Assim a
panorama diversificado não apenas em seu inexistência de um chefe masculino não alte
conteudo empirico fruto de pesquisas em uni mia o principio da autoridade moral centrada
versos e tempos distintos como tambem em na figura masculina Uma ampla rede de rela
suas abordagens teoricas ções familiares se constitui no esforço de preen
A forte presença feminina no campo dos cher as lacunas deixadas pela ruptura do casal
estudos sobre família e por si so como ja ressal buscando restabelecer o eixo moral em torno
tou Roberto da Matta' reveladora da maneira do qual a noção de família se constroi e ganha
como a sociedade classifica e ordena hierar- sentido Entendida como um sistema de obri-
quicamente os seus dominios atraves de uma gações morais a família e tambem uma lin
especialização entre gêneros A família se im guagem que traduz, de maneira especifica o
põe como assunto de mulher o que vem mundo social orientando e qualificando as re
sendo confirmado não apenas pela manuten lações dentro e fora da casa
ção dessa tendência na produção recente so Cruzando a Psicologia com a Antropolo
bre o tema a presente publicação sendo um gia Rosa Maria Macedo se orienta na mesma
exemplo como tombem pelas pesquisas direção apontando para a noção de família
empiricas que reafirmam a centralidade da como uma ideal que norteia as experiencias
mulher no espaço familiar transformando a em individuais marcando a construção das subjeti
informante privilegiado e por consequencia vidades Preocupada com a intervenção do
reificando a simbiose entre mulher casa e fami- terapeuta a autora contribui com a critica as
abordagens positivistas que naturalizam as re
loções familiares e universalizam o modelo da
' Ver especificamente DA MATTA R A Família como
Valor considerações nao familiares sobre a família família burguesa Ao chamara atenção para a
brasileiro In ALMEIDA A et ai (org) Pensando a diversidade das conceituações de família e
Família no Brasil Rio de Janeiro Espaço e Tempo/ das formas de organização familiar relativiza a
UFRRJ 1987 p 115 136 ideia de uma família normal sem problemas

ESTUDOS FEMINISTAS 561 N 2/95


abrindo espaço para a família de cada um o divorcio A inadequação entre os principias
que reforça a necessidade de se diversificar os ordenadores e as praticas estaria evidenciada
modelos orientadores da pratica do terapeuta pela fragmentação do modelo hegemônico
principalmente no que se refere as famílias po de família e a concretização/proposição de
bres mas não exclui a possibilidade de famílias novas referências sobre a sexualidade a repro
disfuncionais e com baixa capacidade de dução e a união amorosa No esforço de cons
adaptação para as quais a Terapia Familiar sena truir uma adequação minima o Estado e a Igreja
indicada Aqui ao tentar pensar a pratica a atuariam enquanto instituições ordenadoras
autora abandona parcialmente a relativização de forma contraditona e complementar evi
indicada pela teoria deixando se orientar pela denciando se um desatrelamento entre as
ideia da função adaptativa da família matrizes de referência das duas instituições no
O distanciamento entre a pratica das re qual a dissolublidade do casamento sena um
lações familiares e os modelos socialmente marco histonco
hegemônicos e uma inquietação presente em É levantada a questão da natureza do
varias artigos A pesqlfisa apresentada por Ana processo em curso ate que ponto estanamos
Mana Goldani abrindo a coletânea nos colo presenciando uma mudança de valores que
ca de imediato essa questão A partir de uma estariam perdendo a sua essencialidade ou ao
cuidadosa analise dos Censos Demograficos a contrario uma mera recodificação da ordem
autora apresenta dados reveladores de uma ja estabelecida'? O artigo conclui afirmando
mudança profunda no padrão organizacional que uma nova moralidade teria sido responsa
da família expressa no aumento da taxa de vel pelo recuo da Igreja em sua hegemonia
ruptura de casais e no consequente incremen enquanto instituição ordenadora da família
to do numero de famílias reconstrtuidas E inte Enfatiza no entanto que o surgimento de novos
ressante que este estudo estatistico sobre um valores e a quebra do consenso nos mecanis
amplo universo (o Brasil) aponta para conclu mos socializadores não implicariam necessan
sões que confirmam certas pesquisas qualitati cimente a eliminação das antigas referências
vas A dinâmica demografica revela um pro constatando se a convivência de eticas dife
cesso contraditono que inclui tanto um senti renciadas no interior dos modelos culturais
mento de falência da família quanto um refor Preocupada em discutir os requisitos para
ço de relações fidas como familiares atraves de a construção de uma cidadania democratica
redes de solidariedade que se estendem alem Mana Lygia Quartim de Moraes traça um inte
dos laços de parentesco Associando a mudan ressante paralelo entre o lugar da criança na
ça das condições de reprodução a mudança família e a formação de um sentimento de
dos padrões de relações familiares a autora justiça que fundamentaria a noção de ciciada
constata ao contrario do que foi observado nia Pensando a infância no contexto da crise
por Cynthia Sart' uma crise dos modelos de da família contemporânea ocidental discute
autoridade provocada sobretudo pela entra as implicações do processo contraditono em
da da mulher no mercado de trabalho curso onde o modelo tradicional de casamen
Ao traçar o perfil dos arranjos domesticos to sustentado na progenitura convive com o
no Brasil acentua a importancia da função ideal do casal igualitano Inspirada em Giddens
adaptativa da família e reforça o papel do problematiza os caminhos apontados pelo
Estado na formulação de pancas publicas que modelo democratico de relação afetiva e
assegurem condições minimas de vida a popu histonciza o questionamento da maternidade
lação pobre Pensando o futuro da família bra promovido pelas feministas para então inda
&leira este estudo contribui para relativizar a gar na direção oposta a de Badinter e de Aries
abrangência do padrão da família nuclear bra sobre o lugar do sentimento na criação de um
dera e para a possibilidade de novos arranjos filho e na produção de uma infância feliz Sus
domesticas constituidos em torno de outros la tentada em Winnicott e em Piaget desenvolve
ços que não os de parentesco o argumento de que o amor e o respeito mutuo
Abordando os discursos da Igreja Catoli entre pais e filhos são qualidades fundamentais
ca e do Estado como matrizes de referências para o desenvolvimento da autonomia moral
para vivências familiares Ivete Ribeiro tambem e assim para o exercicio da cidadania demo
discute a ruptura e permanência de valores cratica Conclui lembrando que para preen
relacionados a família no periodo de 1964 a cher essas funções sociais a maternidade deve
1984 tomando como foco de analise o debate ser reconhecida como voluntana o que implica
sobre o planejamento familiar o aborto e o o direito ao planejamento familiar e ao aborto

ANO 3 562 2° SEMESTRE 95


A preocupação com a infeincia e a ado da Colônia era prosaicamente nuclear no
lescência tambem e tema de estudo de Fulvia entanto revela toda uma rede de tramas coti
Rosemberg que expõe o rigor da metodologia danas que envolviam famílias da elite e filhos
empregada no levantamento por ela coordena bastardos de mulheres de classes subalter
do da estimativa de cnanças e adolescentes em nas O artigo nos apresenta interessantes tre
situação de rua na cidade de São Paulo Recu chos de inventarias e testamentos que atestam
sando a assumir a associação que normalmen a pratica difundida entre as mulheres da elite
te se faz entre pobreza e abandono de cnan de se responsabilizarem pelos filhos bastardos
ças esta pesquisa nos revela um outro perfil da de seus maridos O exercia° dessa maternida
população de crianças em situação de rua de multipla e o carater matnfocal das unidades
enfatizando a dimensão temporal do estar na familiares engendrariam redes de auxilio mu
rua e a diversidade das condições familiares e tuo que resultavam na valorização da mulher
das formas de uso da rua por esta população como uma figura central no suporte de um tipo
Quanto aos resultados o primeiro impac de família que a autora qualifica de família no
to e sobre a dimensão da população contada feminino plural
significativamente inferior as estimativas produ A outra abordagem histonca se dedica
zsdas nos anos 80 Outro dado relevante e a ao estudo de processos de divorcio entre imi
capacidade ociosa de alguns albergues notur grantes na São Paulo da Primeira Republica
nos ainda que o numero de vagas seja inferior Maria Cecília de Souza pretende com esta
ao de crianças e adolescentes que pernoitam analise resgatar ostensões a que foram subme
na rua Finalmente a pesquisa nos revela uma fidas as famílias de imigrantes O recurso ao
imagem da vida dessas crianças/adolescentes divorcio mais comum entre imigrantes do que
que diverge muito do estereotipo veiculado entre brasileiros pode ser interpretado como
pela midia A luta pela sobrevivência e um sugere a autora como um mecanismo de fazer
baixo indice de atividades infracionats são as valer seus direitos de cidadãos e portanto se
caractensficas mais marcantes O artigo tern defenderem dos preconceitos A analise dos
na com um conjunto de sugestões para a ação autos de divorcio revela que a sobrevivência
Jerusa Vieira Gomes aponta alguns pro material mais do que a ruptura do casal e o
blemas na atribuição da tarefa de socialização tema dominante e que a instabilidade do vin
primaria a família Identificando a instituição auto conjugal sena causada pelas incertezas
com grupos domesticas a autora parte da da vida e pelo desenraizamento cultural pro
constatação da pluralidade de formas de or pilo da situação de migrante A partir dos de
ganização familiar para se deter na reflexão caimentos das testemunhas e dos envolvidos
sobre famílias de camadas populares urbanas no processo de separação a autora traça um
ressaltando o papel dos pais na mediação en interessante perfil das condições de vida des
tre a sociedade e as crianças Alem do ses imigrantes e sobretudo dos valores que
pertencimento a uma classe e a historia famili informam a Justiça na avaliação dos autos
ar pessoal e ocupacional dos pais que acres Responsabiliza o modelo de família patriarcal
cento elementos explicativos importantes ao cujas exigências normativas eram dificeis de
estudo do processo socializatono Considera serem cumpridas entre as classes sociais
ainda o aspecto emocional inerente a apren desfavorecidas O divorcio e assim apresenta
dizagem destacando o peso das atitudes de do como uma alternativa as tensões causadas
submissão resignação conformismo ou rebel pelas dificuldades em exercer o papel social
dia dos pais face ao mundo em que vivem mente atributdo aos homens Constata confir
Finaliza lembrando a existência de outras ins mando observações de outros artigos da cole
tâncias socializadoras alem da família e ressal- tãnea a importância das redes de solidaneda
ta que a socialização não e nem vocação da de formadas por parentes vizinhos ou pessoas
mulher nem obrigação exclusiva da família no da mesma origem etnica no sentido de contro
caso das camadas populares chamando a lar e dar suporte as famílias chefiadas por mu
responsabilidade o Estado atraves de politicas lheres abandonadas pelos maridos
publicas mais eficazes Nada 8attella Gotlib finaliza a coletânea
Dois artigos refletem a família numa pers com um artigo que toma como matena prima
pectiva historia° O de Mary Lucy Del Priore vai três contos de Clarice Lispector reunidos em
incidirtambem sobre a questão da abrangencia Laços de Familia A trama narrativa de Clarice
do modelo de família nuclear Contrapondo se sobre os desencontros e a solidão estrutural do
a Gilberto Freyre sustenta que o cenano familiar casal serve de inspiração para um texto muito

ESTUDOS FEMINISTAS 563 N 2/95


bem construido que discute a natureza dos conjunto de valores em oposição diadica do
sentimentos que envolvem as relações inter mina a cena familiar a ordem (domestica) x a
subjetivas no contexto familiar Centrando a desordem (selvagem) o dentro x o fora o eu x
analise na figura feminina no desempenho de o outro o familiar x o desconhecido o controle
seu papel de mãe problematiza a altendade das regras sociais x a liberdade da ausência de
intrinseca a cada personagem onde o eu soa limites do imaginano Condu enfateando a dimen
ai se contrapõe e se complementa ao outro são existencial do romance de Clarice Lispector
ilimitado guiado pela liberdade do imaginano que elegendo as relações familiares como
Os laços de familia como amarras impossiveis tema acaba por desmistifica las sem contudo
de serem desatadas chamam esse individuo banalizar os mistenos intradutiveis desses laços
mulher para a realidade das obrigações sociais
definidas no seio das relações familiares Um MARIA JOSE CARNEIRO

Os corpos se fazem textos


Corpo e Significado ensaios de Conceptivas valendo se de dados de varias
fontes (rurais e urbanas) e pesquisas focalizan
Antropologia Social do o entendimento sobre reprodução de pes
soas que têm acesso a serviços medicos efeti
LEAL Ondina Faohel (org ) vos ela analisa um dado recorrente mulheres
de classes populares entendem que o seu pen
Porto Alegre Editora da Universidade/UFRGS
odo fertil se sobrepõe ou esta imediatamente
1995 472p
vinculado ao penado menstrual Constatando
ainda que o sangue menstrual e tombem tepre
Organizada por nucleos tematicos dentro sentado como veiculo e constituidor da cnan
de uma abordagem geral de uma antropolo ça a fecundação e percebida como consu
gia do corpo (saude reprodutiva representa bstanciação de sangue e esperma conquanto
ções de corpo gênero doença ritos etc ) a condições de temperatura e umidade do cor
coletânea reune vinte e sete artigos que em po estejam presentes considerando se ainda
bora referidos a diversos universos de pesquisa que esses fluidos obedecem a dinâmica de um
têm referenciais teoncos bastante recorrentes corpo que se fecha e que se abre Adinâmico
De fato seus autores compõem um grupo de dos fluidos masculinos e femininos e a forma do
pesquisadores ligados de alguma maneira ao mundo intimo e interior fisiologico estabelecer
Programa de Pos Graduação em Antropologia relações da ordem do intimo - com o mundo
Social da Universidade Federal do Rio Grande de fora o mundo social Segundo Leal esse-
do Sul (PPGAS/UFRGS) ou ao Nucleo de Pesqu repertono cultural conduza um melhor enten
sas em Antropologia do Corpo e da Saude dimento por um lado da eficacia limitada do
(NUPACS) abrigado na mesma instituição atra uso de alguns metodos contraceptivos e por
ves de um programa de pesquisas e de semina outro lado explica pelo menos em parte uma
rios que vem agregando professores e onentan demanda feminina por esterilização arurgica
dos com interesses comuns Fruto de uma con Ondina Fachel Leal e co autora nos dois
vivência acadêmica que preza a interlocução artigos seguintes O objetivo de O Corpo como
entre colegas de diversas gerações e favorece Dado em co autoria com Jandyra M G Fachel
a formação de um corpo de conhecimento que e estattstica e Mano Guimarães Jr e expor
regional Corpo e Significado aborda com serie a tentativa de combinar uma abordagem
dade uma variedade de contextos etnograficos antropologica do objeto um procedimento
do sul brasileiro em que os corpos se fazem etnografia° de pesquisa e consequente mate
textos do nosso tempo nal qualitativo com procedimentos estatisticos
Coordenadora do NUPACS Ondina e ferramentas informatizadas que permitam a
Fachel Leal organizou a coletânea e assina três montagem de um banco de dados e o
artigos Em 'Sangue Fertilidade e Praticas gerenciamento e cruzamento destes dados A

ANO 3 564 20 SEMESTRE 95


tecnica estatistica proposta e a analise fatorial modelo de construção da pessoa vigente nas
de correspondência que permite medir e classes populares urbanas
visualizar de modo grafia° o grau de associa Ceres G Motora observa As Imagens do
ção de um conjunto de vanaveis qualitativas Corpo atraves das representações graficas do
para uma determinada população Eu co aparelho reprodutor feminino e das reapro
nhecia a proposta metodologrca mais ampla priações que fazem dos modelos medicas Es
das autoras atraves de um paper apresentado ses desenhos foram pedidos a gestantes de
na reunião da ANPOCS de 1994 "Antropologia uma vila popular de Porto Alegre A percepção
do Corpo e Pesquisa sobre Sexualidade dados do corpo e da gestação ocorre a partir de
qualitativos e tratamento estafisfico uma propos sensações construidos em relação a experán
ta metodologica e devo confessar que ape cia pratica ou seja o sistema cognitivo e
sar de entender o objetivo desse empreendi avaliativo do corpo organiza se em função da
mento e respeitar a seriedade do intento con experiencia sensorial das mulheres sendo por
tinuo a ter duvidas do seu alcance em desven tanto singular Identificam ainda o penado fertil
dar o indesvendavel e gostaria de apreciar com a menstruação Esta percepção persa
conclusões mais contundentes do que aquelas nalizada do corpo humano carrega uma serie
apresentadas neste texto Sera que um híbrido de consequências no nivel da utilização de
de survey com etnografia não pode ser apenas metodos anticoncepcionais na medida em
tão preciso quanto um survey tradicional com que as mulheres percebem que cada pessoa
questionanos bem estruturados e muito menos tem um corpo que funciona de maneira singu
nco do queuma etnografia densa capazdecom lar diferente do corpo da outra pessoa Motora
plementar qualquer survey na mesma area9 nota ainda que se ha uma releitura do discurso
Enfim em Pessoa Aborto e Contracep medico evidente na colocação de um com
ção Ondula Fachel Leal e Bernardo Lewgoy plexo utero trompas abaixo do umbigo muitas
refletem teoncarnente a respeito do modelo de das imagens não incluem a presença do canal
pessoa acionado em grupos populares de Por vaginal sugerindo que ele pode ser considera
to Alegre a partir da perspectiva da concep do como orgão externo ou que ele não tem
ção e reprodução biologica do individuo e do relação direta com a reprodução ou ainda
ãngulo das praticas sociais relacionadas a de sua omissão explica se pelo pudor
cisão de ter ou evitar filhos Os autores utilizam Em ' A Semiologia do Corpo Jaqueline
a distinção entre a ontologia substancialista e a Ferreira analisa parte de uma etnografia real'
ontologia relacional holista tal como proposta zada numa vila popular de Porto Alegre relati
por autores franceses a proposito da definição va a metodos de exame clinico Utilizando a
de embrião Para a primeira ligada a tradição perspectiva de Goffman de drama social ela
cristã ha no embrião presença da pessoa hu observa consultas medicas nas suas diversas
mana enquanto que para a segunda numa etapas a entrevista na qual o paciente traduz
perspectiva kantiano de pessoa como ser do suas sensações para o medico e o exame
tado de razão so ha pessoa com um ser humo clinico pelo qual o medico Interpreta essas
no nascido vivo A analise dos discursos dos seus sensações Dor e fraqueza são sintomas sempre
Informantes revela que são etnograficam ente presentes na fala dos pacientes cujas metafo
tipicos os casos em que uma ontologia ras passam a ser utilizadas pelos medicas mos
substancialista explicita povoa o que identifica trando que o saber medico e uma construção
mos como o nivel da regra enquanto que no influenciada por concepções de senso comum
nivel da pratica subsequente do informante Cristina Duarte Ribeiro discute detalhada
ha um suporte implicito numa ontologia mente o tema de 'A Corporalidade nos Contos
relacional Recorrendo a distinção formula de Fada particularmente como esta aparece
da por Bourdieu entre regra e estratégia os nos motivos de redenção quando persa
autores reconstroem as logicas subjacentes a nagens amaldiçoados conseguem recuperar
frases como Fez tem que assumir e Assume sua forma original apos submeter se a provas
se quando da Reconhecem o perrodo em diversas purificação absorção de flores pan
que a gestação talvez não seja senão uma cadas ou beijos A autora segue esses motivos
possibilidade um atraso de regra como liminar em uma sucessão de contos Os Sete Corvos O
pois permite que se suprima apenas um proje Asno de Ouro A Bela e a Fera A Rã que era Filha
to (corroborado pelos argumentos da defesa do Czar e outros bem como em mitos e em
que encontrei em pesquisa recente sobre pra processos de iniciação xamanisfica Lançando
cessos de aborto) o que não conflito com o mão da tecnica de amplificação Ribeiro de

ESTUDOS FEMINISTAS 565 N 2/95


monstra que um aspecto obscuro de um de Memoria Re encantada traz algumas das con
terminado mito pode ser esclarecido atraves clusões de pesquisas realizadas em duas regi
do seu confronto com outra versão que conte ões carboniferas no Rio Grande do Sul e em Ia
nha os mesmos motivos bascos porem aborda Grand Combe no sul da França As representa
dos sob outro ângulo Em todas as areas onde se ções que os mineiros têm de sua atividade e de
expressa o pensamento magico religioso en seus corpos marcado-à por ela reelaboram nos
contramos a transformação em animal o tema como figura berma e essentialmente mascu
do banho etc A pesquisa antropologica permi tina A narrativa de Eckert acompanha os cor
te explorar essas inter relações pos deteriorados dia a dia por um trabalho de
Jacqueline Bntto Polvora descreve O Cor homem restaurados pela comida pronta em
po Batuqueis° como uma expressão religiosa casa graças a mulher de mineiro cujos nervos
afro-brasileira ja que corpo e pessoa batuqueira estão esmigalhados com o medo constante do
são ritualmente construidos °traves de longas acidente Alem da morte na mina assistimos a
etapas de aprendizagem sob a orientação de morte da mina a mecanização progressiva das
um magisterso iniciatico Ao ser possuido pelo minas o fechamento dos primeiros poços nos
seu Onxa o filho de santo tem seu corpo altera anos 60 e dos ultimos nos anos 80 Hoje em La
do em suatotalidade expressão gestos assim Grand Combe os aposentados da mina
como seus codigos sensoriais são modificados reordenam o tempo como num esforço de
O Corpo nos Rituais do Batuque de Jose garantir pela memona a continuidade do gru
Carlos Gomes dos Anjos completa o trabalho po No Brasil os desempregados da desa
anterior com uma etnografia muito cuidada Nação temporana de Chasqueadas sem a
dos rituais de aprontamento no santo de inicia proteção do Estado de bem estar hesitam en
ção no batuque que repetem os rituais de nas tre a continuidade do trabalho na mina e novos
cimento Ate se aprontar o batuqueiro vai ao empregos qualificados
chão (fica deitado vanos dias) varias vezes Com Performances Reprodução e Produ
Num unico ritual são resumidos os três eventos ção dos Corpos Masculinos Denise Fagundes
elementares da vida de um indwiduo como um Jardim analisa as entrevistas que fez com ho
ritual de passagem no aprontamento o incho mens que frequentam os butecos do bairro
duo morre para a sua existência anterior vive a Cidade Baixa de Porto Alegre e compartilham
liminandade como momento fraga e perigoso da mesma maneira de ser um homem na
e renasce revigorado no fim do processo Re vida Pagar a sua propna bebida não cair
correndo a Auge que vê entre o evento ele bêbado nem ser carregado por outros con
mentor (nascimento doença ou morte) e o even trolar o malandro no olho são performances
to simbolico uma relação metafonca reciproca esperadas de um homem que não e malandro
foge se da leitura funcional O autor vê nesses nem vagabundo Alem dessas qualidades que
rituais uma esconjuração da natureza pela qual descrevem o que vem a ser um homem entre
a cultura popular marca desde este momen eles as marcas no corpo os distinguem das
to a cultura como destino do corpo humano mulheres e singularizam entre pares Assim e
Escolhendo um dos aspectos da sua dis necessano ser ativo situação que torna o corpo
sertação de mestrado Adnane Luisa Rodolpho e seus usos o foco central para a definição de
delineia os contrapontos entre Eros e Thanatos de um pertencimento (ou para excluir outros cor
O Corpo na Quimbanda A concepção do pos) de uma comunidade de destino
corpo cristão e de um corpo como elemento a Edson LUIS Gastaldo nos fala da corpo
ser superado na busca do Bem abstrato Corpo ralidade nos esportes de combate Trata se da
Thanatos segundo a autora corpo carcere do Forja do Homem de Ferro entre praticantes de
espeto corpo martinzavel obstaculo ao verda Full Contact ( uma tecnica corporal em ulti
deiro desenvolvimento do espirito Ao contra ma analise ) numa academia da zona norte
no nas religiões afro brasileiras o corpo e o focos de Porto Alegre Três aspectos a compõem a
central da atividade nele a entidade desce o construção do corpo para a luta o desprezo a
seu bem estar fisco e fundamental Corpo Eros dor e a aceitação irrestrita das regras da luta A
expressa e atualiza um discurso mitico Con construção do corpo não e caracteristica pe
cepções opostas de corpo e tombem de pessoa cubar do Full Contact e a base da dança seja
Cornelia Eckert escolheu as minas de car ela CICISSICCI ou contemporânea O corpo e
vão e seus trabalhadores corpos feitos força de ferramenta basica O desprezo da dor acom
trabalho e a historia social do capital como ponha em algum grau todas as atividades
campo de trabalho Do Corpo Dilapidado a fiscos do bale ate o futebol Enfim a aceitação

ANO 3 566 2° SEMESTRE 95


das regras e comum a todas as artes marciais e da em ambiente de festa na rua propõe a
jogos jogar e desde ia aceitar as regras Portan autora uma discussão da questão da oralidade
to esse Homem de Ferro poderia ser forjado em como um modo de expressão privilegiado com
varias outras atividades corporais Resta saber respeito aos afetos das pessoas que frequen
entretanto por que os frequentadores dessa tam o namoro no radio A conversa amorosa
academia são em geral provenientes das das esta na voz e não na letra Alem disso as
ses medias e superiores com escolaridade pessoas que assistem ao programa a todo
variando entre o grau secundam e o nivel momento participam ouvem interferem e °ai
superior incompleto 9 Qual e essa dor a que se nam sobre o que acontece ao seu redor Dia
deve resistir? ( Pior do que dor de parto ? Sera?) logando com historiadores da vida privada
Onde esta a especificidade do uso do corpo Boff opõe a qualidade coletiva destes afetos
nessa luta se cada academia pode desenvol a qualidade intimista de outros grupos soci
ver metodos de ensino que não são unanime ais para então concluir que essa linguagem
mente aplicados? corporal oral e um estilo expressivo que não
"Corpo Metamorfoses e Identidades con se restringe a uma deficiência intelectual obe
tunde pelo estilo vapt vupt a concisão da nar dece a uma estetica somatica barulhenta e
nativa reverbera a constante violência ligada a que essa coreografia rumorosa e quente ex
prostituição e/ou o sofrimento da carne pressa relações afetivas mergulhadas numa in
travestida Num instante de cinco paginas teração social continuamente efervescente
Suzana Helena Soares da Silva Lopes nos joga Sabedora de que não e possivel conceber for
na cara os dois anos em que Alan a bichinha ma e conteudo separadamente Boff traz lite
boy transformou se no travesti Elisa Star As ralmente na sua voz o afeto pela etnografia
nuances da construção (desse corpo femini O gênero e a categoria escolhida por
no ) são incontaveis Ha muito sofrimento para Maria de Nazareth Agra Hassen que faz Da
um corpo submetido aos quimicos os Visita Intima na Prisão o contexto de uma
hormônios e as injeções (com agulhas para uso corporalidade negociada Atraves das histo
vetennano) de silicone e a seguir o desconfor rias de vida de Marina Beatriz, Luisa e Ligia a
to de carregar um pedaço de cabo devassou autora pretende demonstrar que se o corpo e
ra atado ao peito com um barbante para que produto da construção cultural ele tambem
o silicone não passasse de um lado para o outro pode auxiliar a produzir determinações cultu
Quarenta dias assim pertuba qualquer um rais e neste caso o corpo e veiculo de transfor
Mesmo assim quando Alan reaparece no GAPA mação de papeis sociais O que a interessa
descolorido corte chanel brincos de argola não e especificamente o efeito do aprisiona
dourados calça jeans salto e mini blusa e mento sobre o corpo dos presos mas sobre a
com um sorriso de satisfação testemunha da vida e a sexualidade de suas companheiras De
coragem de levar esse sonho a serio fato com a imposição de manter o lar e os filhos
É muito sugestivo o estudo que faz Adnane elas vivem a independentização do mando
de Mello Boff da sociabilidade entre pessoas Essas mulheres tomam iniciativas em geral e
que frequentam o programa radiofônico Adeus dentro disso no sexo tombem como diz Marina
a Solidão O Afeto na Voz e no Corpo e um e passam a exigir o m axim o de consideração
relato vivo cuidadoso bem estruturado de todo segundo Ligia Ate ai concordo a sexualidade
o contexto em que a Radio Farroupilha promo e comportamento e como tal reverbera a au
ve essa emissão ao vivo aos sabados a tarde tonomia do sujeito Estão ai as mudanças na
proporcionando encontros entre pretendentes instituição do casamento a indicar que mulhe
que vão se prolongando apos o programa nos res que trabalham como profissionais ganham
arredores da emissora Nestes os amores as o seu dinheiro e gozam de alguma autonomia
vaidades e outros aspectos subjetivos que fa real tendem a ter uma sexualidade mais livre o
zem parte do processo de sedução são aos que tem efeito direto sobre a qualidade da
poucos revelados Basta estar atento ao idio relação sexual ocorra ela dentro de uma situa
ma dos corpos olhares sorrisos footing parti ção de casamento tradicional ou não So que
cular perfume suor e halito de cerveja essas relações sexuais comuns se dão com ho
investidas com poucos rodeios Nas conver mens que se assumem ainda como socialmen
sas atenção tambem e dada aos sinais corpo te provedores (na tradicional concepção de
rais que indiquem doença ou vicio os sinais casamento) e como mais valorizados social
de beleza de asseio etc Os corpos literalmen mente (na nossa ordem de gênero) No caso da
te trocam ideias Essa sociabilidade que se prisão a tradicional relação inverteu se o ma

ESTUDOS FEMINISTAS 567 N 2/95


rido (ex maisvalonzado ex provedor) esta cum sa Relatonos da Provedona da Santa Casa de
alindo pena discriminado culpado e ela a Misencordia (principalmente do ano de 1884) e
esposa/companheira embora num papel soci os Prontuanos Psiquiatncos do Hospital São Pedro
ai errado de provedora em vez de mantida em Porto Alegre Com sabor e precisão o autor
(como sena na tradicional relação de casa reconstitui o processo de institucionalização da
mento) esta no papel moral positivo da inocen psiquiatria no Rio Grande do Sul mostrando
te Não ha mudança e sim inversão Acredito como se passa no inicio da Republica de um
como a autora que as mudanças para serem livre pensar do medico para um sistema em
duraveis devem operar se senão na alma que o controle exercido pelo Estado e quem
certamente nas formas cotidianas de organi cerceia e enclausura e não o propno medico
zarmos as nossas vidas Entretanto quando afir e em que a psiquiatria buscou reforçar seus
ma que a situação de aprisionamento do com mecanismos de atrelação ao projeto da elite"
panheiro produziu mais efeitos junto as entrevis Atraves dos prontuanos emergem pacientes
tadas do que os movimentos de mulheres na dotados de temperamentos e de uma cons
alteração deste papel eu recomendaria an tituição oferecidos a nossa curiosidade en
tes de mandar prendê los todos ( I) reconside quanto Schiavoni prossegue na pesquisa
rar o uso da categoria gênero na sua analise Mana Cristina Garcia Vasconcellos Paulo
Liliane Stanisçuaski Guterres observou pra Belmonte Abreu e outros estudam a leitura de
ficas corporais de integrantes da Escola de sintomas de esquizofrenia para refletir A Propo
Samba Imperadores do Samba de Porto Alegre sito de Modelos Culturais Explanatonos de Do
durante os ensaios e o propno desfile Sua etno ença Mental Utilizando se da diferenciação
grafia da sociabilidade carnavalesca destaca basica feita por Kleinman entre enfermidade e
o corpo carnavalesco como um forte simbolo doença para construir modelos explanatonos
capazdeestabelecercomunicação eque não os autores pesquisaram percepções de 20 forni
tem pudor ou vergonha velho ou jovem ele in liares e 15 pacientes internados com diagnosti
forma comunica um modo de sercarnavalesco co de esquizofrenia em unidades psiquiatncas
João Aníbal dos Santos elaborou ' Corpo e em Porto Alegre Neste teste piloto aplica
Sexualidade Atraves da TV em uma Comunicla ram questionarias cujas respostas permitem iden
de Tradicional a partir de sua dissertação de tificar dois modelos explanatonos o medico e o
mestrado sobre os efeitos da televisão numa laico O primeiro demanda uma comprovação
comunidade de descendentes de imigrantes da doença e o segundo uma explicação um
alemães no interior do Rio Grande do Sul Defi sentido para uma desordem repentina A expli
nindo a cultura local como ethos alemão o cação da doença e majoritariamente de ar
autor conclui que a reação as imagens dem social e a consequência e que surgem
televisivas de nudez reflete uma tensão entre a expectativas particularmente no que diz res
presença da religiosidade catolica e do ethos peito ao retorno ao trabalho quando isto não e
alemão e os valoresmoderno individualistas prioridade nem indicador de sucesso terapêu
Fica nos devendo algo mais sobre essa tensão tico para os agentes de saude
Criadora? Destrutivo') Agrega eventualmente Zulmira Newlands Borges comparece com
as mulheres ou os homens entre si ? Sera que essa ' A Construção Social da Doença um estudo
tensão e apenas devida ao ethos alemão 9 A das representações sobre o transplante renal
nudez masculina tambem provoca tensão9 Ela acompanhou por seis meses pacientes por
Maria Clara Mocellin que estudou as tadores de insuficiência renal crônica nas salas
memonas de colonos italianos no sul do Brasil de hemodialise São doentes que esperam o
acerca de suas origens familiares para uma transplante de orgõos de parentes vivos Situa
dissertação de mestrado reflete aqui sobre ção particular não apenas pela presença cons
corpo e identidade regional Segundo ela a tante da morte como pela confrontação com
condição do colono esta inscrita no seu proprio o ser estar ou não ser doente a hemodialise e
corpo de agricultor o que lhe permite explora um espaço liminar do qual se sai para a vida
lo como expressão de um habitus nostermos de com a dadiva do rim que por sua vez recria
Bourdieu O Corpo em Evidência marcado uma nova dinâmica familiar
tombem pelo gênero atravessa os tempos e Daniela Riva Knauth vem trabalhando ha
continua como imagem marca de distinção varias anos sobre doença e cura em classes
social que habita as memonas populares em Porto Alegre Em seu artigo ela
Em Corpo e Loucura na Porto Alegre do descreve a percepção da Aids entre mulheres
Final do Seculo XIX Alexandre Schiavoni anali soropositivas de baixa renda como um proble

ANO 3 568 2° SEMESTRE 95


ma da familia A suspensão do trabalho da multimidia Surpreende porem a timidez na
atividade remunerada bem como do trabalho escolha do seu referencial teonco pois na era
domestico concebido comumente como fonte da construção social da virtualidade em que
potencial de doenças as afasta do convivi° experimentamos um olhar atônito sobre a fusão
social e aciona a rede de relações familiares De do tempo e do espaço de que nos valem
outra parte a concepção comum de doença esquemas classificatorios de olhares' ? A não ser
(repentina inesperada) incompativel com a ideia que o autor queira fazer uma Historia do Olhar
abstrata de um virus agindo aos poucos dificul Brasileiro o que aparentemente não propõe
ta a profilaxia A invisibilidade do vírus e tombem Em Natureza Corpo e Saude Maria
a invisibilidade da doença um problema que Cristina Gonçalves Giacomazi numa sintese da
passa a ser vivido como problema da família sua tese de mestrado enumera praticas e con
Fernando Seffner em Aids Estigma e cepções sobre o mundo natural presentes entre
Corpo nos fala sobre individuossoropositivos e a os grupos que se mobilizam por saude mulheres
relação que mantem com o seu corpo A situa atuando em Clubes de Mães e nas CEBs numa
ção de morte fisica anunciada e tombem vila da periferia de Porto Alegre
uma situação de quase morte civil com a O que É Afinal o Corpo índio no Brasil Men
redução dos direitos civis consequente da dis dona'', perguntaJose Otavio Catafesto de Sou
criminação Se a constante presença da morte za Trabalhando com populações de descen
acompanha a etnografia requerendo do pes dência indigena no Sul do Brasil falantes das lin
quisador especial sensibilidade e resistência a guas Guarani e Kaingang consciente da dificul
pandemia da Aids fruto da discriminação e do dade de dissociar nos relatos atuais o peso das
estigma requer por sua vez uma teorização influências exogenas pretende entender como
que ultrapasse as reflexões de Sontag e as co o corpo aparece representado nas configurações
tegonas de Goffman Ela sera certamente en ideologicas veiculadas por essas populações
contrada na diversidade das abordagens e atra sua relação com a pessoa e com as forças
ves da multiplicação de pesquisas como estas espintos e almas que povoam este e os outros
Com O Retrato de Si Maria Letiva mundos acessiveis a experiência No seu arti
Mazzuchi Ferreira relata um dos usos possiveis go preludio da futura pesquisa o autor procura
da fotografia em Antropologia quando frente estabelecer teoricamente a sua hipotese discu
a sua procria imagem fotografada as infor findo as explicações oferecidas em textos etno
mantes invariavelmente remetem se ao passa graficos sobre essas populações bem como es
do a outras idades da vida revelando um quemas explicativos da construção da pessoa no
conjunto de imagens representações inscritas Ocidente moderno que ao seu ver não põem
num codigo simbolicamente dimensionado A em perspectiva a nossa propna racionalidade
rica e viva transcrição do material etnografia° Tema tão propicio para a reflexão por ser
indica o uso certeiro de tal metodologia e reve a condição do homem (o que e viver senão
la uma fina observadora Entretanto a preocu reduzir constantemente o mundo a ele' ?) o
pação com a informação teorica e a igno corpo objeto da analise antropologica não e
rância de categorias uteis de analise comuns mais hoje apenas o corpo desempenho atuan
aos iniciantes impedem maior exploração sim te graças a aprendizagem segundo Mauss l de
roles e direta das entrevistas Por exemplo tanto tecnicas tradicionais e eficazes atos de or
a analise das diferenças entre os discursos de dem mecânica fisica ou fisco quimica sujei
Catarina e Elvira sobre uma mesma velhice tos por sua vez a qualidade das possibilidades
(estado unico somente para o senso comum) psiquicas de tal ou qual raça e de tal ou qual
quanto o uso da categoria gênero na analise biologia de tal ou qual povo Ao mesmo tempo
do discurso de Hilda querendo ser retratada sujeito e objeto maneira pela qual nos nos
juntamente com as fotografias do pai e do instalamos no mundo ganhando e doando sig
mando revelariam diferenças na propna rela nificação o visivel que se vê o eu irremedia
ção que têm com o mundo e trariam provavel velmente preso ao outro 2 o corpo esta sem
mente uma outra dimensão ao retrato que pre propondo algum enigma Embora falemos
essas mulheres fazem de si
Lua Eduardo de Robinson Achutti em Ima ' MAUSS M Les Techniques du Corps In Soctologie
gem e Fotografia aprendendo a olhar inicia et Anthropologie Paris PUF 1966 p365 389
uma louvavel reflexão sobre o olhar ocidental 2 MERLEAU PONTY M L °ellen Espnt Paris Gallirnard
contemporâneo que acompanha a evolução (Folio/Essais/13) 1992 p 19 20 Textos Selecionados
de recursos tecnicos desde a fotografia ate a São Paulo Abril Cultural 1984

ESTUDOS FEMINISTAS 569 N 2/95


cada vez mais em liberação do corpo estamos equipe assim como uma maior familiaridade
o tempo todo tentando interferir nele ultrapas com algumas maneiras de ser das populações
sar os seus limites transforma lo para oferecer das vilas populares de Porto Alegre e de outras
ao outro essa imagem que cada um projeta de partes do Rio Grande do Sul
si Com isto estamos nos propondo novos obje
tos de pesquisa
Muito bem vinda portanto essa coletânea
que nos traz o resultado de um trabalho de DANIELLE ARDAILLON e

A sacralidade da vida humana


CORPO meu bem, meu mal III ço aberto mulheres das mais diversas areas do
saber economia literatura antropologia soci
Seminário de Teologia e Direi- ologia bioetica engenharia genetica psicolo
tos Reprodutivos Ética e Poder gia filosofia teologia Assim com este leque
vario e plural de corpos mentes e corações
aconteceu o III Seminano de Teologia e Direitos
CARNEIRO Fernanda e OLIVEIRA, Rosangela
Reprodutivos organizado pelo Programa Sofia e
Soares de cujos textos ali apresentados deram origem a
este livro que ora recenseamos
Rio de Janeiro Programa Sofia Mulher Teolo O rosto e a forma do livro ja nos impactam
gia e Cidadania ISER 1995 159p favoravelmente por sua diferença e beleza
Nada das diagramações sisudas e ja esperadas
dos livros tradicionais Mas um formato que
Desde que a humanidade reflete sobre si horizontal lembra um corpo em repouso e o texto
mesma o sentir seu corpo como lugar de pra disposto em colunas ou em concreta e livre
zer vida e fecundidade mas ao mesmo tempo poesia estimula o pensar e o sentir As ilustrações
como interdito e espaço onde o mal pode que pontuam o texto aqui e ali assim como os
tornar se realidade e inspirador das mais diver diferentescorposde letras poronde o texto espraia
sas formas de pensamento e de discurso sua configuração tambem dão testemunho da
Numa humanidade onde o homem de proveniência de suas autoras dessas praias
tem o poder do pensamento e da palavra no outras e diferentes da condição de ser mulher
entanto esse tipo de reflexão e discurso geral A filosofa Rachel Gutierrez entrevistada e
mente eram assinados por pensadores mascu editada por Fernanda Carneiro inaugura o li
Inas Tratava se portanto do corpo da outra vro com algumas instigantes reflexões sobre
e não do proprio corpo o controvertido e am efica e sexualidade Trazendo uma fala não
biguo espaço do deleite e do pecado da confessional e portanto sem qualquer preten
virtude e da transgressão que tantos rios de tinta são de estatuto teologico Rachel arrisca-se
fez correr das mãos de filosofas teologos e pelos caminhos de temas de moral sexual tão
pensadores sociais os mais diversos polêmicos como a homossexualidade femini
É mais que tempo portanto da mulher na a marca da cultura sobre a colocação da
mesma pensar e falar sobre seu propno corpo mulher em plano inferior a nudez feminina re
organizando e dando forma a um discurso ate duzida pelo masculino a instrumento de uma
então inscrito apenas em sua carne desejante relação despersonalizada Finalmente Rachel
vulneravel aberta maternal A corporeidade vai concluindo sua reflexão com um belo tre
da mulher pensada discutida refletida e ex cho sobre a cumplicidade mulher e natureza
pressa por ela mesma eis o tema do livro que o desembocando numa serie de indagações
Programa Sofia mulher teologia e cidadania derivadas do tema que questiona a denomina
do ISER acaba de nos fazer chegar as mãos ção do feminismo e sua nomeação enquanto
Trata se de uma reflexão interdisciplinar feminismo da igualdade ou da diferença O
Uma conversa onde entram e encontram espa desafio por uma efica feminista e o que fica ao

ANO 3 570 20 SEMESTRE 95


final de todo esse percurso de Rachel que nos da que trazem consigo este tema e esta ques
convida a participar e caminhar em comunhão tão Mas em todas falta parece me inclusive
Uma psicologa (Tereza Creuza de Goes nas de teologia explicita de H Jarschel e 1
Monteiro) uma escritora (Rose Mane Muraro) e Gebara o elemento crucial que aparece ao se
uma antropologa (Ligia Dabul) nos dão a mão falar de direitos reprodutivos e aborto enquanto
em seguida para fazer nos andar "pelos carni decisão livre da mulher o outro Na verdade o
nhos da culpa Se o corpo e bem e mal a culpa aborto e questão tão espinhosa e mobilizadora
não pode estar ausente quando dele se trata porque ha mais de um direito em questão o da
Ainda mais se a Teologia que lida explicitamen mulher e da mãe certamente Mas tambem o
te com as questões de bem e mal pecado e do feto outro silencioso e silenciado cuja
graça culpa e salvação esta no epicentro do epifania teima em acontecer e cuja voz soe
dialogo que a Psicanalise a Antropologia e a ouvida mediante uma atitude de muita abertu
Literatura desejam construir ra e fina sintonia
Parece ser a partir do que nos deixam As denuncias do texto de 1 Gebara
entrever os três textos que se o ser humano contra uma sociedade em si mesma abortiva
muitas vezes não consegue lidar com a culpa despertam nossos sentidos e nos ajudam a des
de modo sadio e integrador isso e ainda mais cobrir nos ainda capazes de indignação etica
verdade quando se trata da mulher portadora Tombem seus apelos em favor de uma solidar]
que e de culpas não apenas propnas mas edade de amor e defesa da vida enriquecem
tambem das que lhe são impostas por uma o livro de maneira significativa (p 137 143) De
sociedade controlada pelo poder masculino uma certa forma entrelaçam se de maneira
Diante disso e preciso criatividade e imagina fecunda com as reflexões de H Jarschel sobre
ção muito mais poderosas que o saber (p 39) o relato do capitulo 3 do livro do Gênesis sobre
e a mulher tem diante de si grandes possibilida o pecado original e uma efica cujo peso maior
des de realizar isto A poesia de Ligia Dabul recai sobre a corporeidade feminina gerando
(p 54) enfeixa graciosamente as reflexões pro uma sociedade cuja °fica (ou falta de etica)
fundas e densas de Teresa e Rose sobre esse pressiona as mulheres em direção as decisões
sentimento ao mesmo tempo paralisante e na verdade agressoras a sua corporeidade e
potenciador que e a culpa liberdade (p 78 95)
A seção seguinte do livro intitula se Re Colocando a questão dos direitos
flexões Teologicas e Filosoficas e vai versar so reprodutivos em chave mais abrangente (como
bretudo sobre a questão da reprodução suas procura fazer I Gebara atraves do titulo mesmo
dificuldades e ambiguidades suas glorias e de seu texto Uma Luta Maior) as mulheres que
misertas Conduzidas por filosofas que não se pensam falam e sofrem neste livro e atraves dele
auto compreendem como tais (CARNEIRO parecem encontrar um caminho mais promissor
p 57) sociologas e outras cientistas sociais que do que numa luta restrita somente e apenas a
olham e analisam realidades duras e sofridas do algumas bandeiras muito individuais que não
cotidiano de certos grupos de mulheres têm condições de dar conta de toda a comple
(notadamente mulheres dos meios populares xidade dos problemas que a corporeidade
comunidades de base bolas frias negras e in humana e no caso a feminina trazem a baila
digenas) pastoras que são tambem antropolo O apendice Para Não Esquecer de
gas teologas que são tambem pastoras antro Alejandra Ratar-lia que encerra o livro vem de
pologas que são tombem poetas as questões outros arraiais Nele percebemos a emergência
da gravidez da fertilidade da fecundidade da bioetica onde o binômio vida (bios) e etica
do controle da natalidade transitam por estas (ethos) vem encontrando cidadania sempre
paginas trazendo o experiencial entrelaçado mais protagonistica na sociedade e na acade
com o teonco e dele inseparavel As mulheres mia Navegando no pensamento de HansJonas
pobres ou profissionais têm em comum seu cor Alejandra questiona a tecnologia modema no
po seu bem e seu mal Protagonistas ou porta sentido de seus deveres e limites de intervenção
vozes de outras seu falar diferente e diferencia quando entra em jogo o imperativo etico da
do tem em comum essa corporeidade aberta existência de uma humanidade que não pode
espaço de produção da vida vulnerabilidade estar a mercê de experimentos enlouquecidos
maior terreno de potencialidades e de direitos com a vida humana em laboratonos
A questão do aborto talvez seja a mais Parece nos que o texto de Alejandra no
debatida por todas porque mais assustadora E fundo e no final recoloca de maneira contun
todas as abordagens deixam a nu a dor profun dente a questão que e e deve ser a principal

ESTUDOS FEMINISTAS 571 N 2/95


quando se trata da corporeidade humana pelas reflexões aqui contidas merecem ser mais
seja ela feminina ou masculina No caso deste e melhor explorados em outras e novas ocasi
livro o corpo da mulher enquanto seu bem e ões onde a experiência e as ciências o pensar
seu mal deixa ecoar como um gnto esta questão e a fe deverão novamente escutar se respeito
a questão da sacralidade da vida humana somente e interagir fecundantemente para
O significado e o porquê desta sacralidade que todos tenham vida e a tenham em
parece nos dever ser ainda objeto de outro e abundância (Jo 10 10)
de muitos outros seminanos como o que deu
origem a esse livro Veus apenas levantados MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER e

De sexo e fogueiras

Chacina de Feiticeiras - uma dida que novas perguntas e categorias de ana


lise são lançadas Por que onde e quando
revisão histórica da caça às aconteceram as perseguições as feiticeiras e
bruxas na Europa por que a sociedade europeia voltou se contra
certos grupos de suas proprias mulheres são
BARSTOW Anne Llewellyn (tradução de questões respondidas pela introdução do sexo
ismênia Tupy) dasvflimas como uma categoria de analise histon
ca acompanhada de outras categorias neces
sanas e pouco trabalhadas como a formação
Rio de Janeiro Jose Olympio Editora 1995 do patriarcado os efeitos que as execuções publi
cas por feitiçaria engendraram na sociedade
europeia e finalmente a distinção entre papel
O trabalho de Anne Llewellyn Barstow e sexual produtivo e reprodutivo das mulheres
dedicado a todas as mulheres que não sobrevi Atraves da analise da violência na formação
veram Dedicatona que e tambem tributo uma da sociedade patnarcal europeia a pesquisa
vez que se reconheça que para alem do mun enqõe a vulnerabilidade do corpo feminino o terror
do ocidental para alem da temporalidade sexual e a brutalidade a que foram submetidos
estudada no caso os seculos XV( e XVII na durante a chacina das feiticeiras Para Anne
Europa a matança de mulheres continua nas Barstow saber quais mulheres foram acusadas e
mais distintas culturas sob os mais diversos e sutis sob quais circunstancias revela muito sobre o status
aspectos No entanto seu trabalho não cai nas das mulheres no começo da Europa moderna
armadilhas do eterno e portanto natural Apesar de examinar a documentação da
feminino Pelo contrario e uma sintese densa feitiçaria sob o prisma de uma perseguição
sobre as varias facetas da violência relacionada ao sexo das pessoas a autora não
Com um olhar onde passado e presente considera o sexo como um fator de explicação
se entrelaçam e se iluminam sua pesquisa mi para a chacina das feiticeiras maior do que os
cia se não com a descoberta de novas fontes legais religiosos politicos ou de função econõ
mas com a identificação de um problema nos mica e social Assim aceitando e ampliando
estudos sobre feitiçaria Segundo a autora tais hipoteses seu trabalho nos fornece para alem
estudos apesar de apontarem numencamen do poder de vida e morte dos homens sobre
te para os casos de mulheres vitimadas rara suas mulheres ambiguidades e sutilezas da pro
mente enxergam o sexo como a matena prima cria representação demoniaca da mulher no
da qual a misoginia e constituida Ignoram inicio dos tempos modernos
tanto o alto nivel de violência fisica praticado A estrutura da caça as feiticeiras e revela
para alem dos limites judiciais quanto a nature da a partir do confronto da tensão e dos des
za sexual dessa violência encontros entre antigas tradições comunais
Assim os parâmetros de seu estudo par medievais e a introdução desequilibradora de
tem de silêncios que vão ganhando voz a me novos poderes e costumes legais associados a

ANO 3 572 20 SEMESTRE 95


formação dos Estados modernos Em suas co xas em toda a Europa esclarecera para a
munidades tradicionais as mulheres eram as autora não apenas as estruturas legais add.'
senhoras das forças vitais lidavam com os as cas e religiosas contrastantes mas tombem as
pectos magicas tanto negativos quanto positi diferentes atitudes em relação as mulheres nas
vos em seus papeis de curandeiras e parteiras mais diversas regiões Assim sua pesquisa ora
Contudo a crença na magia por siso não pode- aproxima ora afasta diversos fatores que expli
ria explicar as perseguições contra as mulheres cariam as especificidades regionais dos mode
Segundo o livro a caça so aconteceu los de caça as feiticeiras
quando a crença na magia maligna foi associ Seu texto como um caleidoscopio co
ada ao demônio Assim a crença na maligni meça percorrendo a Alemanha e as terras cato
dade da magia veio com a introdução nas licas influenciadas pelos costumes germã
comunidades medievais de novas estruturas n icos (ducado de Lorena Franco Condado
de poder que identificavam os antigos costu Luxemburgo Polônia e Suiça) onde houve a
mes principalmente os relacionados aos pa maior e a mais violenta chacina de feiticeiras
peis das mulheres como um ataque do demô aproximadamente 24 600 mulheres
nio ao mundo cristão atraves de suas servas as Examina então alem dos problemas eco
feiticeiras Por outro lado a autora identifica nômicos regionais a existência de uma tradi
como um solo fedil para as acusações de feitt ção de perseguição contra os judeus e hereges
çana a introdução de valores estranhos aos na Alemanha ressaltando a necessidade ale-
tradicionais ajustes comunais a partir da trans mã de utilização de um grupo marginal como
formação de uma justiça restitutiva pessoal e bode expiatono Apresenta tombem todo um
comunitana cujo principal objetivo era a res imaginaria construido em torno dosjudeus cujos
tauração da paz comunal em uma justiça pu afastamentos e aproximações com relação as
nitiva impessoal e distante cujo objetivo era mulheres são surpreendentes
purificar o Estado Segundo a autora governos Nasterras francesas Anne Barstow encon
ducais e reais da Europa estavam tornando se tra a segunda mais intensa concentração de
centralizados e poderosos capazes de contro julgamentos por feitiçaria No entanto onde o
lar os aspectos mais intimos da vida das pesso controle real era firme o pânico foi mantido sob
as atraves de seus tribunais seculares que se controle cabendo as regiões mais longinquas a
apoderavam de processos criminais antes re caça sem restrições Na França apesar da
solvidos em instâncias mais privadas da Igreja existência de uma forte misoginia representada
ou da vizinhança pelo controle da sexualidade havia tombem
Assim a partir da intensidade e da qual] um certo ceticismo com relação a crença no
dade da crença na magia demoniaca e as demônio por parte de juizes Assim a persegui
diferentes condições legais Anne Barstowapon ção foi motivada por uma prolongada ruptura
ta para os motivos que poderiam desencadear nos antigos quadros comunais guerras e mise
a caça as feiticeiras no mundo europeu Tais ria mais do que por uma crença demoniaca
motivos calamidades pessoais desastres natu Quando a diferença entre ncos e pobres cresceu
mis ou desejo de vingança teriam como pano as tensões sociais aumentaram e foram resolvi
de fundo os tempos drficeis dos seculos XVI e das pelas famílias mais poderosas por meio de
XVII permeados por convulsões politicas acusações de feitiçaria contra os indigentes
osas e econômicas A pesquisa percorre as Ilhas Britânicas
Para Anne Barstow o novo sistema de mostrando que na Inglaterra a ausência da lei
controle social associado a crença demoniaca romana a inexistência dostribunaisinquisitonals
implicava a instauração de processos sobre e a fraca crença demonologica explicam os
questões sexuais e religiosas que acabaram poucos casos de perseguição mas não signifi
introduzindo a plena maturidade legal das com ausência de misoginia Ja na Escocia uma
mulheres como feiticeiras o que significava disputa entre a Igreja e o Estado em torno de
não apenas sua vulnerabilidade como tom quem poderia ser mais divino causou a feroci
bem a misoginia da sociedade europeia Em dade dos julgamentos e das perseguições A
bora a Igreja deva ser responsabilizada pelo Irlanda apesar de ter sido cenano de um dos
desenvolvimento das teorias demoniacas os primeiros julgamentos de feiticeiras recebeu
tribunais seculares foram os mais sanguinanos pouca atenção dos estudiosos de feitiçaria
ao adotarem os modelos inquisitonais para pu Mesmo assim Anne Barstow analisa um dos
nficar os costumes julgamentos
Um exame dos modelos de caça as bru Na Nova Inglaterra são apontados o cru

ESTUDOS FEMINISTAS 573 N 2/95


zamento entre controle religioso e econômico ausência de um assassinato em massa de mu-
no estabelecimento de uma sociedade excep lheres na Espanha
cionalmente patriarcal e a influência das cren Sem duvida o exame da caça as feiticei
ças de diabolismo do continente europeu como ras nessas regiões e os levantamentos estatisti
responsaveis pela ferocidade de alguns prega cos apresentados revelam a misoginia euro
dores e juizes puritanos peia e o fato de que as mulheres eram suficien
Quanto a Russia Anne Barstow estabele temente poderosas para serem temidas Con
ce um interessante dialogo com os estudos ja tudo não explicam o que as mulheres estavam
realizados encaminhando novas possibilida fazendo realmente e onde jazia seu poder
des de analise para o problema da caça as Assim a autora tenta completar essa questão
feiticeiras vale ressaltar a ausência da obses analisando a marginalização econômica fe
são demonologica entre os padres ortodoxos e minina Não encontrando nas causas econômicas
a fraca interferência do governo dos czares na um fator comum que explique a caça as feiti-
vida sexual das comunidades ceiras Anne Barstow faz uma analise minuciosa
Nos poises escandinavos a autora encon da transformação das curandeiras em feiticeiras
tra alem da forte presença da feitiçaria mascu O trabalho de pesquisa expõe as diversas
lina a impossibilidade das crenças demono ações e representações sobre o corpo femini
logicas dos juizes e teologos penetrarem na no salientando a violência e o sadismo nas
antiga tradição europeia sobre a magia Con bases de afirmação da sociedade patriarcal
tudo sempre que as crenças sobre o diabo europeia Examina tombem astransformações
eram disseminadas atraves de simbolos do pro que os novos poderes e as novas crenças cau
pno fundo cultural tradicional o numero de saram nos costumes sexuais tradicionais no sen
mulheres acusadas aumentava tido de sua demonização e criminalização
Na Hungria incluindo a Transilveinia Anne Finalizando o livro Anne Barstow analisa
Barstow identifica mais de 1 600 julgamentos brilhantemente o papel e a eficacta da queima
com mais de 800 mortes Ressalta a riqueza da publica das feiticeiras no imaginaria europeu
documentação com sua quantidade de infor fazendo um paralelo com o carater expiatono
mações sobre magia arcaica e expondo o de antigos sacnficios onde a carne oferecida
problema de luta pela autonomia nacional era sagrada Conforme a autora a sociedade
acrescenta dados estatisficos que colocam a europeia ao contrario nunca investiu a carne
Hungria como um laboratono de preconceitos das feiticeiras de nenhum poder de salvação
contra as mulheres No entanto não aceita nem as suas cinzas depois de terem sido
como explicação apenas o fato de as mulheres purificadas pelas chamas Por essa razão não
terem obtido tanto poder como misticas e san era um ritual com o poder de expiação mas
tas que os homens em defesa procria as torna sim um ritual de vingança Uma vingança que
ram diabolicas tem marcado varias perseguições ate hoje Por
A pesquisa identifica os Poises Baixos como outro lado o livro afirma que as execuções
uma anomalia entre as terras europeias do publicas são responsaveis pela passividade e
norte tiveram uma perseguição moderada a submissão que simbolizou as mulheres ate a
feitiçaria apesar de estarem sob o controle de metade do seculo XIX
uma legislação que incentivava a chacina de O mento indiscutivei do livro esta nesse
feiticeiras Assim a autora levanta a questão de panorama que inclui regiões distantes e pouco
quanta influência deve ser atribuida a fatores estudadas por nossa tradição intelectual e no
legais e politicos seu esforço em desvendar as sutilezas de uma
Finalmente nas terras da 'taba e da dominação sem recorrer a um ponto argui
Espanha Anne Barstow relaciona a presença mediano de analise Com esta perspectiva o
da Inquisição e sua duvida com relação ao problema da caça as feiticeiras ganha movi
poder do diabo com uma certa indulgência mento e sutilezas que certamente ficariam en
para com os praticantes da magia Convencida cobertas se a autora optasse pelo estudo de
de que essas crenças originavam se da igno uma so região ou se perseguisse fatores
rância a Igreja queria corrigir e não destruir os explicativos ngidos
praticantes A presença de outros bodes
expiatonos e o acolhimento das mulheres como
fundamentais em seus grupos explicariam a FLAVIA MARIA SCHLEE EYLER •

ANOS 574 2° SEMESTRE 95


A visão de mundo de uma mulher
D Maria José, Retrato de uma atraves da criação de parques infantis O obje
tivo era desenvolver atividades em favor das
Cidadã Brasileira crianças carentes e da maternidade infantil
garantindo lhes aulas atendimento medico e
CALLADO Ana Arruda e LEITÃO Denilde alimentar e creche
O livro apresenta ainda os relatos de Dona
Rio de Janeiro Relume Dumara 1995 Mana Jose acercado sua vida familiar as rela
ções com filhos netos e demais parentes e sua
atuação como administradora dos negocias
O livro de Dona Maria Jose Barbosa Lima da familia
relata as memonas de uma mulher da elite Ao me deparar com uma obra como esta
paulista nascida em 1906 e casada com o na condição de historiadora coloco a seguinte
proeminente brasileiro Alexandre Barbosa Lima questão que importância as memonas familia
Sobrinho Narrando suas experiências e de sua res podem ter para o historiador e quais as
familia a depoente confere atenção especial possibilidades de sua utilização como fonte his
a sua atuação para o desenvolvimento da toricag O uso de memonas relatos pessoais ou
assistência social no pais A obra e resultado de autobiografias como fonte de inveshgação cien
entrevistas gravadas pelas jornalistas Ana Arruda Moa tem provocado grandes debates meto
Callado e Denilde Leitão em sucessivos encontros dologicos no campo das ciências sociais e são
ao longo de um periodo de mais de dois anos numerosos problemas e limitações levantados
Desde sua juventude fica evidenciada a Especialmente ao longo dos anos 60 e 70 pre
combatividade e a capacidade de liderança dominou na historiografia a tendência a valon
de D Marta Jose junto as amigas atraves da zação do estudo das estruturas dos processos
cria ção da Associação Desportiva Feminina de longa duração e a desvalonzação do fato
grupo liderado por D Mana Jose que agregava historia° singular Nesse movimento o uso das
jovens da sociedade paulista para o desenvol fontes seriais e das tecnicas de quantificação
vimento de atividades de lazer mas que tam assumiu uma importância fundamental en
bem propunha algumas iniciativas para ajudar quanto a analise do individuo os estudos de
as crianças pobres Para esta fase o relato de D conjunturas de aspectos culturais e polificos
Maria Jose e rico sobre sua vida familiar as foram relegados a um plano secundaria O
formas de divertimento de uma jovem de sua emprego dos relatos pessoais das historias de
classe social e seu namoro e casamento com o vida das biografias passou a ser visto conse
Dr Barbosa Lima quentemente como extremamenteproblema
Outro momento relatado e ponto alto do tico Condenava se sua subjetividade duvida
livro e a sua chegada em 1948 e permanência va se das visões distorcidas apresentadas
em Recife na condição de primeira dama do enfatizava se a dificuldade de se obter relatos
Estado ja que seu marido fora eleito governa fidedignos Alegava se tombem que os depoi
dor de Pernambuco mentos pessoais não podiam ser considerados
Durante esses anos D Maria Jose dedi representativos de uma epoca ou um grupo A
cou se a organizar uma obra social voltada experiência individual era uma visão particular
para dar assistência as crianças e suas mães O e não permitia generalizações
primeiro passo foi sensibilizar as senhoras da A virada dos anos 70 e os anos 80 trouxe
sociedade local para a desesperadora situa ram entretanto transformações expressivas
ção de misena da infância de Pernambuco e nos diferentes campos da pesquisa historica
em especial dos bairros pobres de Recife A revalorizando a analise qualitativa resgatan
desnutrição e a falta de assistência medica do a importância das expenências individuais
que acarretavam uma altissima taxa de morta promovendo um renascimento do estudo do
Idade era o grande desafio a ser enfrentado campo politico e dando impulso a historia cul
D Maria Jose com coragem e dinamis tural que tem como figuras exemplares histon
mo criou a Campanha Pernambucana Pro adorescomo Darton Ginzburg Maurice Agullon
Infância Seu depoimento fornece informações entre outros
minuciosas sobre a organização da entidade Dentro desta nova postura os depoimen

ESTUDOS FEMINISTAS 575 N 2/95


tos os relatos pessoais e a biografia tambem no pais Os esforços de Darci Vargas para a
foram revalorizados e muitos dos seus defeitos criação da Legião de Caridade e da Casa do
foram relativizados Argumentou se em defesa Pequeno Jornaleiro de Sara Kubitschek para cnar
da abordagem biografica que o relato pes as Pioneiras Sociais de Alzira Vargas na funda
soai podia assegurar a transmissão de uma ção Anchieta e na Maternidade Divina Provi
experiência coletiva e podia constituir se numa dência de D Mana Jose e certamente de outras
representação que espelha uma visão de mun mulheres não mereceram a atenção devida
do Por outro lado a parcialidade do depoi Por essas razões as memonas de D Maria
mento pessoal poderia ser superada pelo uso Jose revestem se de importância e assumem
de fontes complementares um carater pioneiro visto que não se tem noti
E neste estagio da historiografia que o cias de publicações de carater semelhante
relato pessoal de D Maria Jose Barbosa Lima O depoimento de D Mana Jose tombem
ganha importância como fonte historica tanto pode nos ajudar a refletir sobre as relações
para a historia das mentalidades e a historia da entre a mulher e a politica na sociedade brasi
cultura quanto para a historia social do Brasil leira Considerando o numero pouco expressivo
Em primeiro lugar atraves de D Maria de mulheres que participaram da vida publica
Jose uma cidadã brasileira e possivel perce brasileira com reconhecimento e extremamen
ber a visão de mundo de uma mulher da nossa te util a trajetona de D Mana Jose que mesmo
sociedade no seculo XX A despeito das singu dizendo não gostar e não entender de politica
landades da depoente seu relato pode ser sem duvida teve uma participação singular e
tomado como representativo de uma mulher importante
de seu tempo e de sua classe social Resta chamar a atenção ainda que o
Sua narrativa alem de denotar grande relato de D Mana Jose suscitou me imensa
sensibilidade para captar a sociedade em que curiosidade e desejo de conhecer com mais
vive e expressar uma memona coletiva aborda profundidade alguns momentos de sua historia
diferentes temas que por sua vez apresentam de vida A entrevisf a entretanto privilegiou
'numeras possibilidades de utilização como fon apenas alguns aspectos de sua trajetona e a
te para pesquisa ordem de apresentação dos temas segue uma
Um tema especialmente rico para ser tra cronologia frouxa que nem sempre facilita a
balhado e a historia da assistência social no compreensão dos fatos Ao longo do livro são
Brasil que alias ainda esta para ser escrita inseridos textos sem uma explicação de onde
embora sejam muito antigas as primeiras inicia foram extraidos (o que o historiador chama de
tivas de auxilio sistematico aos desvalidos atra citar as fontes) o que tambem cria algumas
ves da atuação das Santas Casas de Misencor dificuldades para o leitor Julgo que o uso da
dia Sem duvida esforços têm sido feitos visan metodologia da Historia Oral na coleta dos
do recuperar a trajetona de algumas institui depoimentos teria sido extremamente util con
ções relevantes mas ainda estamos longe de ferindo uma maior densidade a entrevista
possuir um retrato completo da assistência Essas observações não desmerecem en
social no pais tretanto a importante iniciativa das entrevista
Uma area completamente a descoberto doras e o resultado final do trabalho As memo
e a da ação das mulheres de homens publicas nas de D Mana Jose não so constituem fonte
que ocuparam cargos executivos as chama rica para o pesquisador em geral como tam
das primeiras damas denominação sempre bem e um livro de leitura agradavel para o
usada de forma pejorativa e que nos bastido grande publico
res e de forma desapercebida desempenha
ram importantes papeis no campo assistencial MARIETA DE MORAES FERREIRA •

ANO 3 576 2 0 SEMESTRE 95


A luta pelo direito de enterrar os filhos
Mães de Acari uma história de de 26 anos praticava assaltos a caminhões de
carga Segundo o depoimento de Dona Edmea
luta contra a impunidade Moises e Lula envolvidos nessas ações ilegais
NOBRE Carlos contratavam um grupo de menores de
Acan(entre os quais seu filho) para organizar
Rio de Janeiro Relume Dumara 1994 bailes na comunidade Lula que não estava
entre os refens foi negociar com os policiais e
conseguiu entregar lhes quase dois milhões de
O autor narra os acontecimentos a partir cruzeiros Os referis foram liberados com a pra
da experiência de seus personagens Estes com messa de conseguira restante do dinheiro exigido
suas familias tentam livrar se da pressão dos No dia seguinte quando os PMs voltaram
policiais que abusam do poder para extorquir a favela para recebera restante do resgate
ameaçar e matar foram informados de que o resto do dinheiro
A forma tipica de romance policial com estava com um advogado habituado a reali
que Carlos Nobre descreve a luta das mães zar este tipo de intermediação Nessa ocasião
que se encontram sob a mira da policia faz os PMs perguntaram por Lula Moises e mais dois
com que o leitor se torne cumplice dessas mu rapazes Wallace e Bira tombem envolvidos no
lheres as Mães de Acari principais persona roubo de cargas Estes ao saberem que esta
gens desta historia vam na mira dos policiais resolveram passar um
Logo no inicio da narrativa o autor des tempo fora de Acari
creve o acontecimento-chave de toda a trama Numa tentativa de despistara esconder'
uma sucessão de fatos em que praticas de subor jo saíram de Acari dizendo que iriam para
no e ameaças policiais culminam na busca de Cachoeira de Macacu Na realidade foram
sesperada de mães pelos corpos de onze jovens para um sitio em Mage de propriedade de um
Era sabado 14 de julho de 1990 inicio da rapaz que se juntou ao grupo Queriam
noite Numa birosca jovens bebericavam e acobertar a fuga atraves de um programa de
muita gente se dingia para uma festa junina fim de semana La estariam alem dos procura
organizada pela comunidade dos pela policia as namoradas de alguns dos
Faltavam dez minutos para as oito horas da rapazes em um total de 12 jovens entre os quais
noite ( ) A chegada de um rapaz bastante assus alguns menores Um dos rapazes (o Jacare) teria
tado deixa o pessoal da birosca em estado de voltado antes do exterminio e era posto em sus
alerta Ele revela que os PMs invadiram a casa peição pela comunidade assim como o moto
de dona Edmea da Silva Euzebio 47 anos mora nsta de um dos carros que os levaram para Mage
dora antiga da favela ( ) Um dos militares (em A avo de Wallace dona do sitio em que se
numero de três) manda parara festa ( ) No peito encontravam os jovens tena sido prevenida pelo
de cada um a identificação funcional esta enco neto de que estavam fugindo da policia So não
berta com esparadrapo uma mascara que de foi sequestrada com o grupo e provavelmente
nuncia os piores propostos Se houvesse queixa tombem assassinada porque ao notara chega
contra eles ninguem podena citar seus nomes ( ) da dos policiais que perguntavam por joias e
A comunidade tem pavor dos policiais Ações dinheiro pulou °janela com o neto que VIVO com
antenores dos PMs na favela explicam o receio ela e se escondeu entre as bananeiras de seu sftio
Os homens que se aproximam fazem parte do Quando a noticia do desaparecimento dos
grupo conhecido como Cavalos Corredores jovens saiu nos jornais a comunidade partiu para
criado especialmente pelo comando do 9° BPM procurar os corpos Tiveram ajuda da procria
em Rocha Miranda para combatera trafico de policia atraves do tenente coronel Walmir Alves
drogas Eles entram correndo e atirando nas Brum então responsavel pelo inquento instaurado
comunidades carentes dai o apelido (p 20-22) A partir dai desenvolveu se uma intnncada
Dentro da casa de Dona Erimea dois rapa historia em que policiais queriam parte do di
zes e uma moça permaneciam como refens dos nheiro obtido com roubo de carga de caminhões
policiais militares Os policiais exigiam a soma de no qual estavam envolvidos somente três dos
cinco milhões de cruzeiros (em 1990) para liberar onze desaparecidos Apesar da abertura de
os três jovens dos quais apenas um deles Moises um processo e da acusação a alguns policiais

ESTUDOS FEMINISTAS 577 N 2/95


a partir do relatono do tenente coronel Brum os de das mulheres A irmã de Antigona propõe ao
acusados permaneciam livres Um dispositivo tio ser morta no lugar da traidora O que une as
do Codigo de Processo Penal determina sem Mães de Acari não são os laços de parentesco
cadaver não ha assassinato Por outro lado o mas o fato de terem seus filhos vitimas do mes
tenente coronel Emir Larangeira que chefiava mo grupo de exterminadores Algumas não mo
09° BPM a epoca do sequestro desqualifica o ravam em Acari nem se conheciam mas che
relatono do tenente coronel Brum atribuindo o garam a fundar uma ONG
crime aos traficantes de Parada de Lucas que A grandeza e o heroismo das Mães de Acan
teriam agido a mando dos traficantes de Acari baseiam se na exigência do direito de chorar e
O autor mostra então uma sucessão de praticas enterrar seus filhos A heroina de Sofocles e uma
de proteção corporativa na qual autoridades nobre eleita pelo autor para realizar um ato de
politicas e policiais procuram proteger velhos bravura dar ao irmão o direito de ser enterrado
companheiros minimizando a tragedia se não como rei como um simples mortal
Durante todo o tempo destacando-se o pe- Para Manlene a coisa mais absurda alem
nodo em que as investigações ficaram sob a dire- de ter perdido a filha era não ter tido o direito
ção do tenente-coronel Alves Brum a estrategia de enterra la As pessoas que fizeram isso nem
era encontrar os corpos O que se sabia e que as são inteligentes repetia ela sempre Se fos
onze vitimas tinham se escondido na casa de sem teriam deixado os corpos Com os corpos
parente de um deles levando suas namoradas a gente chorava deixava correr nossa dor e
A historia das Mães de Acari faz lembrar enterrava Tudo sena logo esquecido porque
uma tragedia de Sofocles Antigona se rebela somos pobres (p 20) Enterrar os corpos no
contra a ordem de seu tio Creonte que proíbe entanto seria reconhecero massacre de 11 jovens
o enterro de seu irmão Uma mulher motivada que numa intrincado historia policial de subor
por laços de parentesco desobedece ao tio e nos e ameaças as famílias tornaria evidentes as
por isso deve ser morta Vanos personagens relações perigosas entre policiais e criminosos
literanos e reais mulheres mães irmãs motiva que muitas vezes não se distinguem entre si
dos pelo afeto e pelas tradições enfrentam Edmea foi assassinada em 15 de janeiro
com coragem um poder que não se apresenta de 1993 na estação de metrô da Praça Onze
de forma tão explicita como na tragedia grega quando vinha do presidio Frei Caneca onde
O poder dos fracos e esta capacidade de fora buscar informações Com ela tombem foi
luta e coragem para cumprir a tradição de assassinada uma moça que acabara de co
enterrar seus mortos Não são os Pais mas as nhecer no presidio
Mães de Acari que desde 1990 procuram os Em seu ultimo depoimento atraves de
corpos de seus filhos Nesse tempo algumas carta precatona na 10s Vara Cnrninal do Tribunal
perderam marido emprego foram acometi do Rio de Janeiro continuava acusando polici
das de gravidez psicologia° e uma delas ais dizendo que so se calaria se a matassem
Edmea considerada uma das principais lideres Edmea declarou ao autor do livro que
assassinada Outras recorreram a centros espi queria justiça
ritos e a igrejas pentecostais Sonhavam com Tem que ter Claro Se eu sair com você
seus filhos sendo maltratados Mas nada disso rodando esta favela eu vou mostrar as mães dos
impediu que essas mães se unissem numa luta filhos que eles mataram E todo mundo Ah moço
que se transformou em movimento palite° a gente tem medo Tem que ter uma justiça Por
A tragedia de Acari revela muito do cot; que senão amanhã eles chegam aqui e matam
diano das classes populares brasileiras muitas minha neta matam meu neto o filho da vizinha
vezes envolvidas com subornos policiais para e ninguem vai faiar nada porque eles são mata-
libertarem seus filhos eventualmente ligados a dores Tem que haver justiça meu Deus do ceu
alguma forma de contravenção O caso de Eu não aceito que digam que não tem
Acari ao contrario da obra de Sofocles não solução Tem que ter solução Ate que mexam
esta concluido Mulheres mães procuram ha embaixo da saia da mãe deles tem de ser
mais de cinco anos os corpos de seus filhos cobrado Porque mexeram com a gente A
Na tragedia de Sofocles Antigona deso gente não vai mexer com o coração da mãe
bedece ao rei Creonte e enterra seu irmão de ninguem A gente chora elas riem Não
considerado traidor cumprindo o ritual segun pode Então vamos chorar igual Sendo que
do o qual os mortos merecem um sepultamento aqui são onze mães juntas E elas quando cho
Em Acari podemos ver as marcas da tra rar vai ser uma a uma Vai ser pior (p 135)
gedia grega heroismo coragem e solidaneda ROSILENE ALVIM •

ANO 3 578 2° SEMESTRE 95


Teoria crítica sim, com autocrítica

Infância e Violência Doméstica guineos ou afins nem ao âmbito do domicilio


Sua territortalização deve ser precisa a fim de
fronteiras do conhecimento não induzira leitor a equivocas O grupo dom
ciliar deve obediência em geral a um senhor
AZEVEDO M A GUERRA V N A (org ) a um dominus que de facto embora não de
jure detem poder de vida ou morte sobre sua
São Paulo Cortez Editora 1993 mulher e sua prole Na ausência deste amo
pode assumir seu lugar a mulher mas tambem
pode fazê lo um filho via de regra o mais velho
A tematica desta coletânea apresenta a O agressor de crianças e adolescentes não e
maior relevância pois no Brasil sequer se con desta forma sempre homem Mesmo quando a
seguiu visibilizar na medida do desejavel o figura paterna esta presente no domicilio a
fenômeno da violência domestica Mesmo com mulher se transfere o poder de aplicar castigos
as Delegacias da Mulher cujo peso neste pro fisicos aos filhos nos impedimentos do chefe
cesso e apreciavel ainda se esta aquem do mor Pai e mãe podem aliar se na perpetração
ponto capaz de mobilizar a sociedade em de de violência fisica contra crianças e adolescen
tesa dos socialmente mais fragas Como a fami tes vivendo sob o mesmo teto O poder da
lia e excessivamente sacralizada a sociedade mãe rigorosamente pertence ao pai que lho
tende a se condoer com a situação das cnan delega A hierarquia das bicadas define se
ças de rua e a não se imiscuir na vida das que atraves de dois eixos 1) o das gerações no qual
vivem com seus pais Graças a crença de que os menores devem obediência aos adultos 2) o
toda mãe e todo pai ama seus filhos embora a de gênero que especifica a subordinação da
historia e a ciência tragam senas evidências de mulher ao homem Na area da violência sexual
que este tipo de amor e construido atraves da o homem detem poder quase absoluto consti
convivência E tudo que depende das relações tunda se no agressor praticamente exclusivo
humanas pode tomar a direção do amor ou do das categorias sociais em apreço Mais do que
odio Ou melhor ha sempre uma dose de cada isto pode estender seus tentaculos a co resi
um destes sentimentos em todas as relações dentes não parentes como e o caso da em
sociais o que significa que mães e pais podem pregada domestica frequentemente obriga
ser ate muito devotados a seus filhos sem con da a prestar favores sexuais a seu patrão ou ao
tudo deixar de sentir raiva deles sobretudo nos filho deste Assim a violência domestica trans
momentos de desacato a sua autondade É cende os laços familiares não se contendo no
preciso ainda mostrar a natureza mitica da espaço interno do domicilio Não e raro que o
crença de que mães e pais gostam homoge homem espere sua mulher defronte ao local de
neamente de seus filhos pois na verdade trabalho desta para espanca la exemplarmen
amam nos diferencialmente Gostam mais de te diante de seus colegas visando a humilha la
uns que de outros gostam de uns e não gostam Desta sorte a violência domestica pode ocor
de outros A revelação da violência domestica rer em qualquer lugar massa pode ser pratica
contra crianças e adolescentes seja atraves de da por aquele ou aqueles que detêm poder no
palestras debates videos seja por meio de pes grupo domiciliar Obviamente a maior parte da
guisas amplamente divulgadas auxilia a dessa violência domestica recai sobre parentes na medi
cralizar a instituição da família tornando a passi da em que a unidade domiciliar e mais densa
vel de critica e portanto de aperfeiçoamento do que ode não parentes É importante todavia
A antologia ressente se porem de uma deixar claro que o poder do dorninus ou de quem
caracterização precisa do fenômeno sobre o lhe faz as vezes extravasa os limites da família
qual incide Ha momentos em que a violencia Especialmente no dominio da violência sexual
domestica parece limitar se as fronteiras fama' este esclarecimento adquire grande relevância
ares enquanto ha outros em que se extrapolam O livro divide se em quatro partes A pri
de muito os contornos da família e do grupo melro refere se a família e a violência que den
domestico A rigor a violência domestica não tro dela se pratica contra crianças e adoles
se restringe nem ao grupo de parentes consan centes O artigo de C Bruschini apresenta alta

ESTUDOS FEMINISTAS 579 N 2/95


qualidade fazendo uma revisão da literatura de um novo referencial teonco adequado para
sobre o tema O deJ P Netto não e menos bom tratar do fenômeno O problema reside em
Entretanto cabe a pergunta qual e sua rela convidar o leitor a desempenhar um papel
ção com a violência intrafamiliar9 Bruschini não para o qual não se lhe da nenhuma pista
aborda esta questão e certamente não assu A segunda parte da antologia e dedicada
miu este compromisso A Netto foi dada a In ao Abuso Sexual Ritualistico fenômeno não
cumbência de discorrer sobre a família do necessariamente vinculado a violência domes
ponto de vista da teoria marxiana É ele propno fica Ao contrario as evidências sinalizam a
que declara não encontrarmos em Marx uma recorrência do sacnfiao do filho dos outros
elaboração teonca centrada em instituições escapando por conseguinte não apenas do
como a familia (p 83 4) Tambem o artigo de âmbito domestico como tombem familiar Tra
J L Crochick revela certo constrangimento ta-se de uma parte do livro bastante desigual
Tendo discorrido brevemente sobre teoria criti Traz conhecimentos antropologicos interessan
ca e ideologia não cabia de forma direta tes mas abordados ligeiramente em artigos
referência a família e seus vinculos com a via muito curtos talvez mesmo em decorrência de
lência contra a geração imatura Desta sorte não estarem diretamente ligados ao fenômeno
estes três trabalhos não incidem sobre o tema central da coletânea De duas uma ou os
o que revela erro de concepção do livro M A artigos sobre o sacrificio de crianças não ca
Azevedo parece ter descoberto agora a Escola bem no livro ou o titulo deste e demasiadamen
de Frankfurt e por ela estar deslumbrada Dese te restrito Esta falta de correspondência entre
ja a construção de uma Teoria Critica da Vio titulo e conteudo e alias um traço marcante do
lência Familiar contra Crianças e Adolescen livro Haja vista o artigo Crimes Sexuais Barbaros
tes convidando o leitor a dar sua contribuição contra Crianças e Adolescentes alguns apon
para o desempenho desta tarefa que ela acre tomentos de Azevedo Se ha um fenômeno do
dita coletiva (p 46) Pode se discordar frontal qual o artigo não trata e exatamente da violên
mente dessa ideia pois ha pessoas bem dota cia domestica contra a geração imatura Dig
das para a teoria e outras nem tanto De outra no de nota e o excelente trabalho do medico
parte ha muitas teorias construidos de forma Oswaldo Frota Pessoa sobre os portadores de
totalmente soldaria No que tange a teoria em um cromossomo X e de dois y (XYY) Todavia mais
epigrafe o imprescindivel e ter domino sobre uma vez se trata de um fenômeno mais geral
as outras duas que lhe deram origem o maten que ultrapassa a tematica que da nome ao livro
alismo historia° e a psicanalise Não segue por A terceira parte da antologia traz o titulo
ai porem o interesse (ou a competência) de de Abuso Fisico e Incesto Recorre se a um
Azevedo que trata de reconstituir a trajetona medico espanhol para a exposição do quadro
da Escola de Frankfurt transcrevendo numero epidemiologico dos maus tratos de menores
sos capitulas do livro de B Freitag (A Teoria Obviamente os dados que compõem este
Critica Ontem e Hoje Brasiliense 1990) Alias quadro dizem respeito a Espanha Em nenhum
não e somente desta obra que o numero de momento neste livro mencionam se os aspec
transcrições e excessivo O histonco da Teoria tos epidemiologicos da violência domestica
Critica não apresenta nenhum interesse para o contra crianças e adolescentes no Brasil São
debate sobre família e violência contra cnan muitos os acadêmicos que reclamam da ca
ças e adolescentes Mais adequado sena dis rência de dados globais sobre certos fenôme
cutir as varias vertentes desta teoria que esta nos sociais no pais e via de regra com razão
muito longe de ser homogênea inclusive da Quando eles existem porem não são utilizados
perspectiva epistemo/ogica Não seria o caso com a frequência desejavel Ha um supfemen
de apontar discutindo os os conceitos dos quais to da PNAD 1988 publicado pela FIBGE em 1990
eventualmente se possa partir para formular e amplamente conhecido por estudiosos da
uma Teoria Critica da Violência Familiar contra violencia que apresenta dados globais para o
Crianças e Adolescentes 9 Mas isto requer co pais e grandes regiões sobre agressões fiscos
nheamento e criatividade Sem se dar pelo desagregados por sexo faixa etana local da
menos o primeiro passo na construção desta pratica da violência relação agressor vitima
teoria não parece adequado lançara desafio Ainda que o local da agressão não permita
de urna nova formulação teonca O fato de a apreender todas as violências fisects domesti
T C não incidir diretamente sobre o fenômeno cas cometidas contra crianças e adolescentes
da violência intrafamiliar não significa que não as perpetradas em residências lidas conjunta
se possa toma la como base para a geração mente com a relação de parentesco entre

AN" 580 2° SEMESTRE 95


agressor e vitima possibilitam averiguar a exten pai filha atendidas no ano de 1985 pela pn
são deste problema social É lamentavel que as mem Delegacia de Policia de Defesa da Mu
organizadoras da coletânea não se tenham Iher em São Paulo Tais informações merecen
valido da publicação da FIBGE unica fonte am uma analise qualitativa de corte feminista
confiavel de dados globais Mais do que isto as historias de vida destas
A respeito de relações incestuosas pare meninas deveriam ter sido reconstituidas pois
ce fundamental distinguir entre o verdadeiro este tipo de material permite analises bastante
incesto so possivel numa relação não permeada profundas O quadro ao contrario simplifica
pelo poder e portanto prazerosa e o abuso empobrece O artigo de C Cohen sobre inces
incestuoso no qual se separam nitidamente a to deixa muito a desejar Não apenas não distin
figura do agressor e a figura da vitima impondo gue entre incesto no qual ha convergência de
o primeiro sua vontade a segunda (SAFFIOTI vontades e abuso incestuoso relação que im
Circuito Cerrado Abuso Sexual Incestuoso plica a imposição da vontade de um sobre a
1993) Esta não constitui entretanto uma preo vontade do outro como define o primeiro atra
cupação das autoras deste texto mais ves do segundo Podemos definir incesto como
centradas na esteira do trabalho de Herman e um abuso sexual intrafamiliar Portanto as ca
Hirschman na diferenciação entre o carater ractensficas do incesto são o abuso sexual e o
recorrente do abuso sexual do pai contra a vinculo familiar (p 212)
filha chamado de incesto ordinano e na rara A quarta parte do livro incide sobre politi
ocorrência do denominado incesto extraordi cas sociais capazes de coibir a violência do
nano como o que acontece entre mãe e filho mestica contra crianças e adolescentes É
Afirmam as autoras (Azevedo Guerra e escrita pelas organizadoras e traz a baila algu
Vaiciunas) que Conceber o incesto pai filha mas das condições enfrentadas pela infância
como abuso/vitimização sexual domestica da brasileira assim como a questão das politicas
mulher criança pelo pai homem e adulto impli sociais a respeito do fenômeno em epigrafe
ca no pressuposto de que tal pratica pode com referências a São Paulo e outros poises
gerar consequências psicologicas do incesto sobretudo Estados Unidos Sobre violência sexu
pai filha na medida em que os resultados de ai utilizam se os dados da CPI da Violência
pesquisa na area estão ainda muito longe de contra a Mulher que embora falhos constitu
serem convergentes ou pacsficos (p 197 8 em a unica fonte de informações globais La
italicos no original) Concorda se com o segun menta se que as autoras recorram a expressão
do penodo pois ha quem defenda a iniciação racista pedagogia negra(p 242 255 274) refe
sexual de meninas por seus pais e ha estudiosos rindo se a metodos violentos de adestramento
que não vêem qualquer mal em relações inces de crianças e a expressão mosaico negro para
tuosas em si mesmas mas se discorda radical designar a situação da infância em dificulda
mente da primeira assertiva Ainda que não de da infância violentada e violada cotidiana
haja consequências deletérias para a menina mente (p 245 italico de HIBS) A verdadeira
conduzida a uma relação incestuosa com seu atitude de defesa dos direitos humanos exige a
pai ela teve inegavelmente um direito humo construção de uma subjetividade singular que
no violado Ora como não existe lugar fuja portanto a senalização produzida peias
ontologico para a violência a mica perspecti ideologias hegemonicas de genero de raça/
va que resta para os que manifestam interesse etnia e de classe social Profissões de fe não
por crianças enquanto titulares de direitos bastam pois a conduta ordinana não e capaz
consiste na intransigente defesa dos direitos de filtrar sociabilidades autontanas tão somen
humanos inclusive daqueles que não atingi te reprimidas contrarias a defesa dos direitos
ram a maioridade civil As três autoras do artigo humanos exige uma nova etica de convivên
e em particular as organizadoras da coleta cia que se poderia designar com a etica da
nea oscilam entre os desejos de definir liberdade cujo significado apresenta no mini
ontologicamente a violência e de defender os mo duas faces a possibilidade de outro sobre
direitos humanos de crianças e adolescentes quem recaem as politicas sociais experimentar
parecendo não perceber a abissal diferença livremente distintos modos de viver e a necessi
entre eles O Quadro I denominado Mapea dade daquele que formula estas poli-ticos ser
mento dos Resultados revela se extremamen livre de preconceitos Não ha liberdade possi
te insuficiente para comunicar ao leitor o con vel na vivência da discriminação contra o outro
teudo das entrevistas realizadas com 21 meni seja ela degenero de raça/etnia de classe social
nas entre 3 e 18 anos com queixas de incesto Alias a coletânea ganharia muito se estes tres

ESTUDOS FEMINISTAS 581 N 2/95


recortes fossem realizados de forma integrada Esta resenha pretende ensejar a abertura deste
Não obstante os equivocas de concep debate que inclui questões polêmicas como a
ção do livro e a flutuação da qualidade dos das relações incestuosas entre adultos e meno-
diferentes artigos pode-se considerar positiva res não serem necessariamente deletenas para
sua publicação porquanto chama atenção a segunda categoria problema aqui apenas
para um fenômeno da maior gravidade e que tangenciado
exige urgentes soluções ou encaminhamentos
para isto Ademais e preciso que intelectuais
sobretudo feministas discutam esta tematica HELEIETH I B SAFFIOTI •

Ainda temos muito o que dizer


Acerca de Ias Mujeres Género uma vasta documentação levantando uma mult
piedade de temas e espaços sociais instituições
y Sociedad en Ia Pampa estatais e religiosas Enfim sacodem a poeira
de livros jornais codigos penais processos cri
USCIA,Mana H DIUSCIA,ManaS Di BILLOROU minais mapas estatisticas e revistas a procura
Mana J e RODRIGUEZ Ana M (org ) de informações sobre mulheres de diferentes
classes sociais e credos religiosos Elas querem
Santa Rosa FCH UNLPam 1994 saber o que a sociedade da região dos pampas
do iniciado seculo XX (1914 a 1930) pensava e
desejava das mulheres e os valores norteadores
Esta ultima decada desencadeou no inte da organização dos papeis sexuais"
nor dos estudos feministas um amplo questio O inicio do seculo vinte demarca para
namento teonco e politica mobilizando estar esta região um momento de transformações
ços de diferentes disciplinas em torno da politicas e estruturais A luta pela autonomia da
(re)formulação de suas pesquisas Por um lado oram= mobiliza a população local configu
essa aparente crise visava desvincular os estu rando mudanças no padrão demografico
dos sobre familia sexualidade hierarquização moral e econômico Este cenano e segundo as
sexual etc do estigma daquilo que se popula autoras propicio para historiar tambem a parti
rizou como feminista ou seja sinônimo de cipação das mulheres na esfera publica o que
uma analise parcial e comprometida com as escreviam como buscavam expressão social
reivindicações dos movimentos feministas Por Dentre as tematicas abordadas no decorrer do
outro o grande desafio estava em conseguir livro moda sexualidade criminalidade edu
respeitabilidade tanto no recorte tematico cação politica sanitarista prostituição
quanto na qualidade das analises empreendi filantropia figura um ensaio dedicado a con
das No Brasil houve uma grande proliferação frontar o discurso socialista e o catolico numa
de grupos de pesquisa e estudo dedicados tentativa de desmistificar a ligação entre sacia
especificamente a tematica da mulher Recen lismo e melhoria das condições femininas No
temente estes grupos e outros que estão surgin ataque de socialistas ao tradicionalismo da
do passaram a incorporar a tematica da mu Igreja catoltca as autoras vão descortinando
lher as discussões de gênero Acerca de Ias aproximações chocantes entre certos valores
Muieres e um livro publicado ha pouco na Ar morais do senso comum subentendidos no pro
gentina que pode contribuir para esquentar pno discurso que se doa progressista e libertador
nossas discussões sobre gênero e mulheres Cada ensaio do livro possui sua propna
O livro e fruto de pesquisas coletivas e de estu especificidade aborda um tema um penado
dosinterdisciplinaresdesenvolvidosna Universidad uma documentação que lhe e propna A uni
Nacional de la Pampa (interior da Argentina) o dade do livro (alem da demarcação espaço
que demonstra a proliferação deste tipo de temporal) fica estabelecido pela maneira como
pesquisa para fora dos muros dos grandes cen as autoras propõem realizar uma historia das
lios acadêmicos Quatro histonadoras vasculham mulheres soba otica de uma determinada con

ANO 3 582 20 SEMESTRE 95


cepção de gênero Sempre que se remetem ao es un elemento constitutivo de las relaciones
termo mulher as autoras têm a preocupação baseadas en las diferencias que distinguem a
de usar o plural mulheres visando assim demar los sexos y ademas el campo pnmano dentro
cor um certo distanciamento para com a forma dei cual se articula el poder (p 22)
homogênea e universal de utilização desta ca Esta definição de gênero como sendo o
tegoria A diversidade interna (mulheres pobres aspecto cultural que incide sobre uma base
ricas brancas negras urbanas rurais letradas primeira (sexo natural) e uma forma de distinguir
analfabetas ) e a historicidade da condição o fenómeno social da sexualidade da determi
feminina ficam então implicitas neste recorte nação direta do sexo ou seja e uma forma de
historia das mulheres e não historia da mulher utilizar gênero para enfatizar a construção soa
Quando no primeiro ensaio a historiado ai das ideias adequadas ao comportamento
ra M H Di Liscia realiza uma especie de balan de homens e mulheres (Estudo das ideologias
ço teonco dos estudos sobre mulher apontan presentes nas relações entre os sexos ) No livro
do limites e delimitando o posicionamento des esta distinção e adotada como se fosse a
sa pesquisa no rol dos estudos contemporãne forma sugerida por Scott Este e um dos primei
os vemos emergir no texto os primeiros indicios ros pontos de divergência de leitura pois no
de uma tensão teoria] na forma como a autora meu entender quando Scott apresenta esta
faz a leitura de um texto classico da literatura de concepção de gênero ela esta justamente cri
gênero o trabalho de Joan Scott que se intitula ficando a apontando seus limites para desen
Gênero uma Categoria Util de Analise Histon volver a argumentação em torno de uma con
ca Esta tensão existe (não apenas neste capitu- cepção de gênero como categoria analitica
lo mas no livro como um todo) justamente porque Outro detalhe interessante e que na definição
ao meu ver as autoras fazem uma analise histo de gênero como constitutivo de relações soci
nografica completamente distinta da proposta ais fundadas sobre as diferenças percebidas
de Scott sem discordar da autora mas dizendo entre os sexos Scott2 acrescenta o termo perce
concordar com a mesma Em outras palavras bidas negligenciado pelas autoras de Acerca
penso que ha tensão e divergências na propria de /as Mujeres Penso que Scott pretendia mais
compreensão e leitura deste texto de Scott uma vez desnaturalizar a nossa compreensão
sem entrar no mento da autora ter razão ou não da diferença sexual que para ela não existe em
Destacarei para reflexão quatro pontos pote si depende da maneira como a percebemos
micos que rondam os embates em torno da Tratar o sexo como natural algo que ante-
noção de gênero e que estão presentes no livro cede as marcas da cultura sena uma forma
1) o recorte cultura/natureza gênero/ sexo 2) gê- estatica uma forma uma de significar o corpo
nero e a manutenção de um sujeito coletivo hete humano o que para Scott seria negar a
rossexual ou seja gênero e a perspectiva iden historicidade do gênero em si mesmo Neste
titana 3) o uso descntivo e o uso anona° da cate- ponto encontramos outro foco de tensão Por
gona gênero 4) gênero e ruptura epistemologica atuar tombem na confecção corporea ge
Em Acerca de Ias Muferes gênero e con nero para Scott não se limita a papeis sociais
cebido como una categoria cultural valores culturais Ele implica sobretudo prati
impuesta sobre un cuerpo sexuado ,(p21) e cos de subjetivação(psiquicas e corporais) que
subvertem as fronteiras entre o natural e o cultu
rol Como categoria analitica não como tema
ou categoria histonca (homem/mulher) ge
, Na versão brasileira deste texto de Scott Gênero
uma Categoria Utd de Analise Historie° suprimiram nero inclui a possibilidade de uma historia poli
se as notas que constavam no original Justamente fica uma historia das artes uma historia da
quando Scatt analisa esta compreensao de gêne filosofia etc que abarque tanto a relação ho
ro ela acrescenta o seguinte comentado critico mem/mulher como possiveis analogias entre as
em forma de nota Para um argumento contra o referências femininas e masculinas para coisas
uso do termo gênero para enfatizar o aspecto da instituições praticas politicas e ainda abre a
diferença sexual ver Moira Gatens A Critique of
the Sex-Gender Distinction ( ) Eu concordo com o
argumento dela de que a distinçao sexo/gênero Util de Analise Histonca Revista Educaçao e Real,
garante uma determinaçao autonoma ou transpa dade Porto Alegre jul/dez 1990 16(2) 6-22
rente para o corpo ignorando o fato de o que
sabemos sobre o corpo ser um conhecimento cul GenderandthePoldicsofHtstoty Nova Iorque
turalmente produzido (Tradução Estudos Feminis Columbia University Press 1988
tas) SCOTT Joon Wallach Genero uma Categoria 2 SCOTT 1990 op cit p14

ESTUDOS FEMINISTAS 583 N 2/95


perspectiva de se historiar subjetividades e rela presença histonca dos sujeitos homens se faz
ções sociais que estão fora da demarcação dentro dos limites de uma demarcação
heterossexual identitana (reforça a semelhança biologica em
As autoras se referem a gênero principal detrimento das diferenças sociais em função
mente quando na exposição concluem que e do argumento de que esta condição biologica
impossivel falar das mulheres sem falar nos ho estipula uma pauta comum de sofrimentos
mens pois as identidades destes são forjadas discriminações e determina um conjunto de
uma em relação a outra (a mulher em relação problemas sociais particularizados que permi
ao homem e vice-versa) No caso da analise do te a atuação politica enquanto grupo)
controle estatal sobre a prostituição imagens Neste sentido os dois objetivos basicos do
de mulheres surgem em função do atendimen livro en pnmer lugar reintegrar las mujeres a
to de certas expectativas eroticas dos homens ia historia y en segundo termino restituir a las
que por ocuparem o centro do poder politico mujeres su historia constituem ao mesmo
censuram as mesmas mulheres que acariciam tempo a sintese da investigação e o no polêmi
em noites de farra Em outras palavras gênero co do texto Joan Scott3 em outro texto fazen
possibilita as autoras pensar de forma relacional do um balanço da historia das mulheres nos
sem fazer das mulheres um objeto histonco iso ultimos vinte anos caracteriza este procedi
lado Esse aspecto relacional e um dos poucos mento como uma historia suplementar Urna
pontos de consenso entre as diferentes noções historia que acrescenta e valoriza um novo
de gênero Podenamos apenas indagar a par sujeito historio() (mulheres) mas que não
tir deste mesmo texto de Scott se estamos dian extrapola este funcionalismo se restringe a
te de formas distintas de compreender esse dar as mulheres uma historia e a acrescentar a
aspecto relacional Para as autoras de Acerca historia da humanidade um novo sujeito antes
delas Mujeres essa relação fica implicitamente ignorado pela historia universal neutra (do
restrita a uma composição heterossexual Nao ponto de vista de gênero) Em outras palavras
ha em momento algum do livro qualquer tipo Scott critica a manutenção do sujeito Para ela
de questionamento das fontes quanto a natu e preciso desconstruir analiticamente o sujeito
(alidade desta dualidade homem/mulher As para que ele possa perder o status de naturali
autoras questionam o conteudo ou seja ques dade ontologica e ganhe novamente sua di
flanam o que socialmente se entende pelo mensão histonca (homens e mulheres forjados
dominio feminino e pelo masculino Questio cultural e historicamente) Dependendo da
nam a vinculação entre feminino e fragilidade maneira como nos relacionamos com a docu
inferioridade domesticidade etc Questionam mentação podemos contribuir ou não para
o masculino como simbolo de poder força essa historicização A manutenção do sujeito
persuasão Contudo não problematizam a res mulheres seria assim uma forma de ratificar o
tnção do feminino ao mundo das mulheres ou dado da documentação esse sena talvez o
do masculino como dominio exclusivo dos ho perigo a armadilha da historia narrativa descri
mens não chegam a explicitar a heterosse 'mia Em Acerca de Ias Mujeres se percebe ao
xualidade como construção social descrevem mesmo tempo a fragilidade e a magia deste
e constatam a sexualidade binaria presente empreendimento As autoras (e provavelmen
nos discursos das distintas fontes pesquisadas te nos leitores) foram seduzidas pelas imagens
No horizonte das problematicas suscita e retomas da documentação embarcaram
das em Acerca de las Mujeres não ha espaço nas classificações operadas pelas fontes que
para se desconstruir o referencial identitano A são tratadas no texto como testemunho como
diversidade interna aludida antes em torno do monumento de uma historia a historia das mu
uso do termo mulheres e subsumida diante da Iheres (ou de como os homens a construiram)
unidade estabelecida externamente atraves No capitulo Imagenes Femeninas Mujer y
da referência a diferença homem/mulher No Mujeres a autora nos remete a dois tipos ideais
fundo o que une tão dispares subjetividades (os de mulher construidos pelo discurso da im pren
mais variados tipos de mulheres e os mais varia
dos estilos masculinos) e os constituem enquan
to grupo e o aspecto biologico o fato de se ter 3 Scott esta sendo utilizada como contraponto para
nascido com orgãos sexuais masculinos ou fe o dialogo com as autoras por ser uma das teoricas
do genero mais citadas durante o livro Acerca de
mininos e o fato destas diferenças assumirem lasMujeres SC011 JoanWallach Prefacio a Gender
significações sociais distintas A ênfase em uma Politics of History Campinas Cadernos Pagu IFCH/
histona das mulheres mesmo considerando a UNICAMP vol 3 1994

ANO 3 584 2° SEMESTRE 95


sa A mulher reprodutora mãe e responsavel Na sua forma descritiva ouso de gênero se
pela harmonia do lar e do lado oposto a limita a elaboração de um tema constitui um
mulher mundana propna para os baixos pra novo dominio de pesquisas historicas mas não
zeres da carne desprezível para os homens de tem a força de analise suficiente para questionar
bem Os discursos tentam elaborar a essência (e mudar) os paradigmas h istoncos existentes 5
do feminino (Essa dualidade mulheres do lar e No caso de Acerca de (as Mujeres ha uma
mundanas esta presente tombem nos demais preocupação teonca que no entanto não
ensaios do livro sejam sobre o Judiciano o propõe uma revisão de Scott (talvez fosse o
discurso medico higienista a Igreja o Socialis caso) mas seleciona da autora certas defini
mo ou o Anarquismo A autora relata ainda sutis çães retirando lhes as outras posstveis implica
diferenças nos artigos dedicados as mulheres çõesteoncas Scott situa gênero dentro de uma
Alguns estimulam o cuidado com a beleza a proposta de ruptura epistemologica com o
produção estettca cultivam a mulher adorno marxismo ortodoxo e mesmo com o marxismo
Outros artigos ceticos quanto ao rumo destas flexivel heterodoxo muitas vezes vinculados a
propagandas e preocupados com a formação historiografia social inglesa O pos estruturalis
de futuras donas de casa remetem as mulhe mo e para Scott uma das formas de revirar a
res para o campo da responsabilidade sed teoria descortinando uma nova compreensão
buenas y no as preocupe tanto ser bonitas diz da realidade A nova função da linguagem
uma citação da autora (p 72) Nesses discursos dos processos de significação e consequente
como observam as autoras existe sempre um mente a nova postura quanto a analise do
sujeito oculto O Outro implicito nesta constru discurso são para Scott uma condição para se
ção da mulher e o homem aquele que de pensar gênero como uma categoria analitica
forma invisivel cobra da mulher tanto a beleza util teorica e politicamente
quanto a responsabilidade Ele e o ser deseja O procedimento historiografico das auto
do ele e o grande fim ao qual as mulheres ras não aponta para uma tal ruptura conceituai
devem direcionar seus estratagemas histonografica O novo para elas esta sendo
O texto registra com ênfase valores ima concretizado no propno levantamento de uma
gens representações acerca das mulheres tem afica ate então ignorada pela historiografia
apontando a preocupação da epoca com a argentina e tombem atraves do questio
expectativa masculina em relação a mulher namento da condição social das mulheres no
No entanto esta reflexão não permite abrir o passado daquela região Nesse sentido as mu
debate acerca da compulsonedade da matriz lheres são um sujeito a ser investigado e
heterossexual e das propnas formas de construir revalorizado A partir desta perspectiva apre
o discurso historia° (questões epistemologicas) sentada em Acerca de las Mujeres fica então
Na descrição da autora a heterossexualidade uma duvida Estaria Scott exagerando ao pos
e um padrão subentendido e um dado não tular a existencia de um abismo entre pos estru
uma questão histonca Por outro lado discor turalismo e historia social'? Seria necessano esta
dando da leitura que as autoras fizeram do ruptura com a historia politica e a historia social
texto de Scan o desafio desta busca do passa quando se trata de incorporara historia a expe
do seria investigar gênero não como o conjunto nência das mulheres'? As autoras não levaram o
de representações (fixas) de uma sociedade de- pensamento de Scott as ultimas consequências
terminada acerca do masculino e do feminino em suas pesquisas optando por estabelecer
massair mesmo dessa oposição binaria descons elos com outros pensadores feministas que abor
truir as identidades elaboradas em torno dessa dam gênero ou simplesmente não percebe
dualidade buscara dinâmica da construção sim
botica o jogo de micropoderes que operam junto
as significações Isto implicaria deslocara pesqui a uma açao a uma forma de atuaçao da cultura
sa da noção sociologica (estatica) de papeis creio que necessitanamos de um termo que nos
remetesse para este carater de construçao do
sexuais incorporados por individuos/grupos
genero Em outro momento usei o termo sexualizar
mantidos e reproduzidos atraves dos mais varia mas reconhecendo que engendered ainda impli
dos tipos de discursos que circulam na socieda ca algo mais do que a construção do sexo pois
de para adentrar as varias possibilidades de refere se a marcas deixadas no corpo na subjetivs
construção de subjetividades genenficadas4 dade como um todo opto agora por genenficar
mesmo sabendo que nao ha uma traduçao literal
4 Algumas autoras traduzem gendered por do termo
sexuada(o) mas como o termo em inglês se remete 5 SCOTT 1990 op cit p8

ESTUDOS FEMINISTAS 585 N 2/95


ram esta tensão e os desdobramentos da vanas pesquisas apontam para a redutibilidade
conceitualização de gênero proposto por Scott? desta compreensão moderna da sexualidade
O poder outra noção polêmica dentro Tanto Peter Gayó quanto Foucault7 atraves de
do pos-estruturalismo de Scott e para as auto caminhos diferentes suscitaram duvidas quan
ras de Acerca de las Mujeres centralizado no to'a esse carater predominantemente repressi
Estado (atraves de suas instituições jundicas vo da moralidade vitoriana Seria então uma
politicas sanrtanas classificações estattsficas especificidade da região dos Pampas essa for
controle da propna ciência) e atua de forma ma repressiva de poder ou seria por parte da
repressiva e dual ou seja nega a sexualidade escrita da historia uma forma viciada de inter
da mulher e incentiva a virilidade masculina As rogar a documentação?
autoras citam os trabalhos de Foucault sobre Acerca de las Mujeres nos coloca no ter
sexualidade e sobre a microfisica do poder reno fedi( de um grande empreendimento de
mas estas noções não são essenciais para a pesquisa um verdadeiro convite a reatualização
analise ja que de acordo com as fontes das da polêmica em torno do genero e dos estudos
autoras o poder visivel e macro e negligente sobre mulher que desafia nossas inseguranças
Ha uma unilateralidade do poder mesmo ten teoncas ao esforço da conceitualização
do as autoras abandonado e criticado esta
unilateralidade caractenstica das pesquisas
que pensavam o poder na sua forma patriarcal , GAY Peter A Pouco Eterna A Experiência Bur
Os homens são apresentados como construto guesa da Rainha Vitoria a Freud São Paulo Cia
res e narradores de uma historia que visa (cons das Letras 1990
ciente ou não) escamotear e subestimar a par
7 FOUCAULT M Historia da Sexualtdade A Vontade
ticipação das mulheres Utilizam se de referên de Saber Rio de Janeiro Graal 1984 5a ed
cias as influências da era vitoriana entendida
como sinónimo de repressão e austeridade se
xual na moral daquela região Na historiografia KARLA ADRIANA MARTINS BESSA •

Um quadro latino-americano

Alternativas Escassas saúde dos resultados que apresenta como pela diver
sidade dos temas abordados Abarcando as
sexualidade e reprodução suntos como gravidez em adolescentes discri
minação de raça associada ao gênero traba
COSTA Albertina de Oliveira e AMADO lho de parteiras em comunidades incligenas
Tina (org ) contracepção e religião mulheres e AIDS dis
curso e normas medicas e incesto o livro reune
estudos quantitativos qualitativos e reflexões
São Paulo Editora 34 1994 teoricas Chama atenção a boa organização e
a cuidadosa edição dos textos O perfil desta
cado dessa obra como aponta Sandra Azeredo
Alternativas Escassas saude sexualidade em sua apresentação reside no fato de estas
e reprodução coletânea organizada por pesquisas terem sido conduzidas por profissio
Albertina de Oliveira e Tina Amado e o resulta- nas de diversas areas do conhecimento e com
do de pesquisas promovidas pelo Programa experiências latino americanas diversas São
de Treinamento e Pesquisa sobre Direitos elas (e eles) antropologas medicas historiado
Reprodutivos na America Latina e Caribe/ ras psicologas e sociologas da Argentina Chi
PRODIR da Fundação Carlos Chagas projeto le Brasil Uruguai Momo e Venezuela
que conta com o apoio da Fundação Mac A questão das instituições poderosas como
Arthur Livro fundamental para quem trabalha a familia a Igreja e a medicina influenciando as
com direitos reprodutivos não so pela riqueza mulheres na meneia da sexualidade e da re

ANO 3 586 2. SEMESTRE 95


produção surge com muitas novidades pesqui examinam as estruturas e estrafegas familiares
sas criativas e muita dedicação Este e pnnci as mentalidades a auto percepção e as pers
palmente um livro de estudo para ser consulta pectivas de gênero e sexualidade dentro deste
do e saboreado nas suas reflexões contexto As polificas assistenciais são tombem
O primeiro artigo Resposta a gravidez abordadas Como recomendação final pro
entre adolescentes chilenas de estratos popu põem um programa de prevenção a gravidez
lares de Irma Palma Maripuez e Cecília indesejada cuja base seria a escola atraves de
Quilodran Le Bert de Santiago do Chile apre programas de educação sexual e mudanças
senta uma pesquisa qualitativa feita com 89 nos papeis de gênero
adolescentes com o objetivo de entender os Ja o texto Casamentos inter raciais o
efeitos de cada uma das respostas possiveis a homem negro e a rejeição da mulher negra
gravidez adolescente casamento união de Diva Moreira e Adalberto Batista Sobrinho
consensual maternidade solteira adoção ou traz os resultados de urna pesquisa sobre o
aborto Utilizando grupos de discussão para as crescimento do casamento entre homens ne
três primeiras escolhas e entrevistas em profun gros e mulheres brancas Nascido de uma pre-
didade para as adolescentes que deram seus ocupação dentro do movimento negro este
filhos para adoção ou fizeram um aborto os resul estudo conduzido em Belo Horizonte apresenta
todos descortinam uma realidade comovente uma visão demograftca e histonca dos casa
da mudança drastica e inesperada na vida mentos inter raciais que antigamente se da
dessas meninas Tomando a gravidez como vam pela exploração sexual das escravas pelos
uma situação limite as autoras propõem um senhores brancos quando hoje os vinculos en
quadro teonco em que a noção de projeto de tre os grupos se alteraram expressando as van
vida e central para o entendimento da escolha as faces do branqueamento que a sociedade
por uma determinada estrategia de sobrevi brasileira assiste O incremento da exogamia
vência Utilizam esse procedimento em dois racial dos homens negros e explicado como
niveis naquele que articula a dimensão emoci uma estrategica salda para fugir do racismo O
anal possivel para essa moças uma avaliação casamento inter racial apresenta-se aos olhos
subjetiva realizada por elas e noutro em que se dos negros como avia de acesso a uma melhor
expressa um julgamento o mais possivel objeti integração social e a condição de usufruto e
vo das propnas condições de existência É suge compartilhamento com as demais raças dos
rido que a natureza das opções adotadas se bens sacio culturais e econômicos produzidos
relaciona com a situação da origem da gravidez, pela sociedade (p 96) O trabalho inclui um
ou seja o aborto ou adoção poderiam estar exame da imagem da mulher negra na historia
relacionados a natureza violenta ou incestuosa e na literatura bem como das representações
da relação sexual Por ser considerada uma sociais sobre o racismo e da ideologia do bran
transgressão a maternidade das adolescentes queamento que situa de maneira competente
implica um esforço de elaboração de significa o mito da democracia social
do que se atrela ao imperativo de uma repara Barbara Caldenas e Loteio Pons Banais
ção ou expiação da culpa Sacriffcios renuncia contribuem com o artigo O trabalho das par
e esforço pessoal constituem o solo comum que taras em comunidades indigenas mexicanas
unifica as experiências dessas adolescentes ain Neste artigo elas objetivam analisara participa
da que suas escolhas sejam diferentes ção das parteiras no sistema de poder e presti
Maternidade adolescente em Bariloche gio de quatro comunidades nativas do estado
Argentina de Laura Caldiz Laura Malosetti e de Chiapas no Mexico O enfoque recai sobre
Rubens Bayardo e um artigo de carater o modo como as parteiras articulam reprodu
abrangente que articula as diversas facetas do ção social e biologica em contexto de praticas
tema adolescência e maternidade Apresenta tradicionais A perspectiva de gênero e crucial
o resultado de um estudo quantitativo com 100 para o entendimento dos valores da comuni
adolescentes com o objetivo de estabelecer a dade e se revela de modo exemplar nos costu
hierarquia de fatores que concorrem para a mes que envolvem o enterro da placenta As
incidência de gravidez em adolescentes em placentas das filhas devem ser enterradas junto
Bariloche na Provincia de Rio Negro A ao fogão sinalizando para um nexo ritual entre
metodologia quantitativa somou se a realiza destino feminino e aprendizagem dos deveres
ção de entrevistas semi estruturadas com 15 do lar por esses bebês enquanto as de filhos
adolescentes e algumas em profundidade A homens destinam se ao espaço externo apon
partir de um enfoque multidisciplinar os autores tando para o vinculo dos homens com as ativi

ESTUDOS FEMINISTAS 587 N 2/95


dades do campo Tal qual vanos outros traba da clinica na Vila Kennedy o estudo teve três
lhos presentes neste livro a pesquisa visava fases e apresenta resultados importantes tais
subsidiar formas de intervenção na comunida como a posição de vulnerabilidade das mulhe
de e neste caso trata se de estabelecer politi res em relação a AIDS devido ao modo como se
cas educativas em saude para essas comuni estruturam as relações de gênero que se tradu
dades tendo como parâmetro o fato da cultura zem nos dados epidemiologicos relativos ao
tradicional ser a chave do sucesso da intervenção aumento da transmissão heterossexual Carmern
Anticoncepção e comunidades eclesiais Dora diz com precisão No caso das mulheres
de base e De mulheres sexo e Igreja respec suas condições e possibilidades são mais pre
tivamente de Lucia Ribeiro e de Mana Jose canas que nos homens É uma questão histon
Nunes são duas contribuições que iluminam as ca social e pessoal (p 278) Não apenas o
relações complexas entre sexo contracepção poder do virus mas a falta de poder (powerless)
e religião catolica no Brasil O primeiro trabalho das mulheres faz de nos um alvo facil dessa
incide sobre mulheres de comunidades eclesiais epidemia Registre se que na fase de interven
de base com idade entre 21 e 57 anos na ção visando o empowerment de mulheres de
região de Nova Iguaçu no Rio de Janeiro A baixa renda produziu se uma revista em quadri
pesquisa baseou se na tecnica de entrevistas nhos chamada Acorda Adelaide
coletivas semi estruturadas Os resultados ates O trabalho Construção social do discurso
tam de que modo as praticas contraceptivas medico em torno da maternidade de Myriam
de mulheres envolvidas num projeto religioso de Mitjavila e Loura Echeveste discute a relação
forte cunho comunitano não as impede de se da Medicina com a maternidade enfocando as
assemelharem as suas companheiras de classe representações simbolicas contidas no discurso
que são estranhas a essa experiência Ja Mana medico sobre o aleitamento de pediatras de
Jose elege as comunidades do estado de São Montevideu a suas clientes Tendo realizado um
Paulo para debruçar se sobre o mesmo fenõ acompanhamento de consultas pediatricas as
meno Ela assinala de que modo ao criarem autoras assinalam como são perceptiveis as di
grupos de mulheres que se reunem fora do ferenças de discurso de acordo com a situação
espaço da Igreja esses sujeitos sociais realizam social das clientes Atraves de um exame da fala
uma ruptura importante com a definição soa medica com seus enunciados silêncios e gestos
ai duplicada pela religiosa da maternidade apontam como se constitui uma atribuição de
como atributo central do feminino Demonstra valor social inferior ao corpo da mãe compara
com maestria como o discurso do Estado a tivamente ao do filho assinalando desse modo
politica e o discurso e a pratica da Igreja Cato como medicalização da maternidade e este
lica interagem com as determinações das mu reotipos sobre a mulher andam de mãos dadas
danças ocorridas na três ultimas decadas no Mana Auxiliadora Banchs da Venezuela
campo do que se chama hoje direitos traz a tona um tabu vivido com culpa silêncio e
reprodutivos Exemplo precioso dessa comple vergonha por muitas mulheres em varias partes
xa interação e o modo como mulheres catoui do mundo o incesto Reconstrução teonca de
cas utilizam o propno discurso religioso para um caso de família incestuosa traz uma valiosa
afirmar suas decisões no campo reprodutivo contribuição da Psicologia Social para os estu
O artigo Mulheres sexualidade e AIDS dos desse tipo de violência contra a mulher O
um projeto de prevenção de Carmem Dora recorte teoria° do objeto de estudo adotado e
Guimarães apresenta um estudo realizado com o do interacionismo simbolico que preside a
mulheres numa clinica da Benfam no Rio e junto analise de um untco caso Atraves de entrevis
da Sociedade de Amigos da Vila Kennedy tas observação participante e analise do pra
Almejando analisar as atitudes em relação a cesso judicial desvela se a dinâmica familiar
sexualidade e ao uso do preservativo a pesqui mostrando a cumplicidade e a resistência das
sa tinha tambem a finalidade de desenvolver mulheres nesta situação O caso em exame e
intervenções que permitam incentivar mulhe paradigmatico da situação de incesto o delito
res a conversar sobre sua sexualidade com os e mantido em segredo por longo tempo a
parceiros e a usar/negociar o preservativo Uti mãe apesar de ciente nega o fato culpando
lizando 10 grupos focais metodologia qualitati as filhas pelo acontecido O incesto ocorre pri
va com 40 pessoas e quantitativa com 220 melro com a filha mais velha estendendo se
mulheres o material reunido traz contribuição depois as mais jovens A interpretação se de
importante ao conhecimento das atitudes em senrola para afirmar que a familia patriarcal e
relação a prevenção da AIDS Com as mulheres um locus privilegiado das relações de gênero

ANO 3 588 2 SEMESTRE 95


estruturadas por relações de poder em que o filhos um comportamento esperado em rela
incesto e um caso limite ção a contracepção e um cuidado particular
O artigo Normatização dos comporta com os filhos Atraves de entrevistas e observa
mentos reprodutivos e paradigmas medicos ção participante delineia se a questão do po
estudo de caso em instituição de saude para der medico na construção do normal e do
camadas medias de Esteia Grassi Liliana patologico que tem como referência central
Raggio e Ana Gonzalez, introduz uma perspec um outro social que são os pobres
tiva antropologica no exame das regras que Alternativas Escassas impõe se como obra
presidem os serviços medicos relativo aos com de referência para quem se dedica ao estudo
portamentos reprodutivos Enfocando o aten ou a formulação de ações no campo dos direi
dimento de Ginecologia Obstetncia e Pedia tos reprodutivos Com temasvanados e enfoque
fria em uma instituição de saude de Buenos multidisciplinar e um livro que se fala da penu
Aires as autoras discutem a relação entre na das opções para as mulheres aposta na ri
medicalização da reprodução via a pratica queza das interpretações que essa area merece
institucional e a construção de comportamen
tos reprodutivos Consistindo numa cultura pe ELIZABETH MELONI e
cubar que sanciona um numero desejavel de ISABEL MIRANDA •

ESTUDOS FEMINISTAS 589 N 2/95

Vous aimerez peut-être aussi