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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
HISTÓRIA E POLÍTICA EDUCACIONAL
ABSTRACT: This essay discusses the different social conceptions about disability
from historically constructed points of view, and how these concepts have defined the
way society relates to people with disabilities, outlining patterns of behavior throughout
time.
INTRODUÇÃO
Este ensaio tem por objetivo abordar as diferentes concepções sociais sobre
a deficiência, a partir de olhares construídos historicamente, analisando como essas
concepções influenciaram o modo como a sociedade vê e se relaciona com as pessoas
com deficiência, delineando assim padrões de comportamento ao longo do tempo e que
podem ou não ser observados na atualidade.
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Formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA, Mestranda do Programa de
Pós-Graduação em Educação da UFMA. E-mail: florizagomide@gmail.com
cultural específico do desenvolvimento da humanidade, no processo de produção e
reprodução da existência humana.
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Utiliza-se aqui o termo “deficiência mental” por corresponder à expressão do referido autor. Convém
esclarecer que a terminologia utilizada atualmente é deficiência intelectual, de modo a demarcar a
distinção existente entre deficiência intelectual e doença mental, e contribuir para a desmistificação da
deficiência intelectual, ainda carregada de pré-conceitos provenientes do modelo médico da deficiência,
abordado na 4a parte deste ensaio, intitulada “O OLHAR CIENTÍFICO: DE POSSUÍDOS A
DOENTES”.
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Para efeito deste ensaio, serão utilizadas quatro das seis matrizes interpretativas da deficiência,
propostas no Capítulo 2 da Tese de Doutorado “A Inserção de Pessoas com Deficiência em Empresas
Brasileiras. Um Estudo sobre as Relações entre Concepções de Deficiência, Condições de Trabalho e
Qualidade de Vida no Trabalho”, de Maria Nivalda de Carvalho-Freitas. UFMG - Belo Horizonte/2007.
evolução do pensamento humano, da disseminação do conhecimento, da quebra de
paradigmas e das necessidades de homens e mulheres de construção material de sua
existência e, portanto, de sobrevivência.
Esta tão propalada cura da alma, mais que do corpo, é bastante reforçada
pelo cristianismo em inúmeras passagens bíblicas, que exemplificam a ação curadora de
Jesus para com inúmeros deficientes, ora expulsando espíritos ruins, ora perdoando-lhes
os pecados ou ainda ensinando aos discípulos nobres sentimentos.
E, entrando no barco, passou para a outra banda, e chegou à sua cidade. E eis
que lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama.
E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, tem bom ânimo;
perdoados te são os teus pecados.
E eis que alguns dos escribas diziam entre si: Ele blasfema.
Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: Por que pensais mal em
vossos corações?
Pois qual é mais fácil? Dizer: Perdoados te são os teus pecados; ou dizer:
Levanta-te a anda?
Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra autoridade para
perdoar pecados (disse então ao paralítico): Levanta-te; toma a tua cama e vai
para a tua casa. (BÍBLIA SAGRADA, 2006, Mateus 9: 1-6, grifo nosso).
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O final da Idade Moderna marca o surgimento das primeiras instituições especializadas dedicadas à
educação de pessoas com deficiência: o Instituto Nacional de Surdos Mudos, em 1760, e o Instituto dos
Jovens Cegos, em 1784, ambos na cidade de Paris (BUENO, 2004, p. 81).
Ao afirmar que os homens são uma tábula rasa, John Locke (1632-1704)
contribuiu fortemente para combater o teocentrismo vigente e abriu espaço para a
possibilidade de educação de pessoas com deficiência, em especial o campo da
deficiência mental5. Em seu Ensaio acerca do Entendimento ele enfatiza que
5
Para aprofundamento da questão da deficiência mental consultar PESSOTTI, Isaías. Deficiência
mental: da superstição à ciência. São Paulo: T. A. Queiroz, 1984. 206p.
americanos, explicando a necessária proliferação de instituições responsáveis e
específicas para esses cuidados.
Inscrever o outro numa posição fora das normas e das regras é, ao mesmo
tempo, causa e conseqüência do estigma do anormal. Sabedora disso, a classe
dominante, por meio da ideologia, articula seu discurso de modo a perpetuar
esse enquadramento nas faixas de normalidade ou de anormalidade,
conforme os interesses em jogo. (MARQUES, 2001, p. 6)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fica claro que a pessoa com deficiência teve que lutar, durante muitos
séculos, contra práticas e comportamentos segregativos, excludentes, discriminatórios e
até desumanos de relacionamento com o restante da sociedade, que se estendem até os
tempos atuais, a exemplo do Programa de Eutanásia de Hitler, na Alemanha nazista.
Também nos parece evidente que o “o desconhecido é a matéria prima para a
perpetuação das atitudes preconceituosas e das leituras estereotipadas da deficiência,
seja esse desconhecimento relativo ao fato em si, às emoções geradas ou às reações
subsequentes”. (ROCHA, 2000, p. 9).
Por outro lado, a abertura dos portões do isolamento, por si só, coloca
minimante a necessidade de redirecionamento do olhar e de formulação de novas
concepções sociais sobre a deficiência, na medida em que vão sendo geradas
necessidades de discussão de conceitos e ajustamento das práticas consoantes com o
paradigma inclusivo.
ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Martin Claret, 2002. Texto integral (Coleção
Obra-Prima de cada autor).
CARVALHO, Alfredo R.; ROCHA, Jomar V. da; SILVA, Vera Lúcia R. R. da. Pessoa
com deficiência na história: modelos de tratamento e compreensão. In Pessoa com
deficiência: aspectos teóricos e práticos. Universidade Estadual do Oeste do Paraná:
Gráfica UNIOESTE, 2006.
GUERRERO, Maria José León. Da integração escolar à escola inclusiva ou escola para
todos. In ROYO, María Ángeles Lou; URQUÍZAR, Natividad López (Orgs.). Bases
psicopedagógicas da Educação Especial. Tradução Ricardo Rosenbusch. Petrópolis:
Vozes, 2012. p. 31-55.
LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. Tradução Anoar Aiex. São
Paulo: Nova Cultural, 1991. (Os Pensadores, 9)