Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
A minha bisavó paterna, cantora de Ópera no Brasil, chamava Biriba a todos os gatos.
- Olha um biriba no muro, diria ela.
….
Subitamente, numa montra perto da Praça do Chile, um gato pequenino olhou para
mim. Preto e branco, meio sujo, meio magro, meio salvo, meio salvação.
Devo ser o único lisboeta que gastou dinheiro para adquirir um gato rafeiro, coberto de
pulgas, com fome, lombrigas, febre e diarreia.
Dois contos e quinhentos pelo bicho, areia, caixa higiénica e comida de lata.
NOTA:
Há no gato doméstico, espécie já querida dos Egípcios, qualquer coisa que o torna
especialmente próximo do ser humano. O papel que tiveram, e ainda têm, como
caçadores de ratos, está enraizado em muitas culturas, mas há algo mais: o efeito
calmante e tranquilo do seu ronronar, o exemplo de independência firme, o carinho
sincero, a gratidão em estado puro. A estratégia de sobrevivência desta espécie,
passa claramente pela sedução e manipulação do nosso sistema de afectos. Como
conseguiu esta espécie evoluir no sentido de melhor aproveitar a sua relação com os
terríveis humanos?
O Professor Agostinho da Silva costumava dizer que não tinha gatos. “Os gatos é que
me têm. Entram e saem quando querem, vêm para o colo ou recebem festas quando
lhes apetece”, dizia o mestre filósofo afagando um bem alimentado gato cinzento
tigrado, que namorava a gata branca da vizinha.
André Barreiros
http://andrebarreiros.bloguepessoal.com
DEZ/07