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VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
compromisso com você
www.crmvmg.org.br
Editorial
A Escola de Veterinária e o Conselho Regional de
Medicina Veterinária de Minas Gerais têm a satisfação
de encaminhar à comunidade veterinária e zootécnica
mineira um volume dos Cadernos Técnicos destinado à
Criação de Bezerras Leiteiras, para a educação continua-
da da comunidade dos médicos veterinários e zootecnis-
tas de Minas Gerais. O manejo da vaca leiteira no perí-
odo pré-parto ou período seco é importante não apenas
para o desenvolvimento fetal, mas também para a involu-
ção e a regeneração da glândula mamária, determinantes
da produção leiteira na próxima lactação. Por sua vez,
as instalações adequadas para bezerras proporcionam a
proteção contra os extremos térmicos e climáticos, aces-
so ao alimento, segurança a traumas e controle geral da
saúde e do bem-estar. A partir de 2002, tem-se discutido
o fornecimento de mais volume de dieta líquida duran-
te o crescimento acelerado. Entretanto, a dieta líquida
é onerosa e representa até 70% dos custos variáveis e,
considerando os riscos com o uso de leite de descarte,
buscam-se alternativas como sucedâneos no aleitamento
integral. Para o desenvolvimento adequado dos pré-es-
tômagos e a gradual substituição do leite ou sucedâneo
por alimentos sólidos é necessário o consumo precoce
Universidade Federal
de concentrado com a produção de ácidos graxos volá-
de Minas Gerais teis, que resultam na conformação do sistema digestivo
Escola de Veterinária e mudanças no metabolismo do animal. Como o desen-
Fundação de Estudo e Pesquisa em
Medicina Veterinária e Zootecnia volvimento ruminal é fator chave para o desaleitamento
- FEPMVZ Editora de bezerras, a alimentação com forragem contribui na
Conselho Regional de evolução dessas etapas. O presente número aborda obje-
Medicina Veterinária do
Estado de Minas Gerais tivamente os principais temas que envolvem os aspectos
- CRMV-MG mais modernos da criação de bezerras de leite.
www.vet.ufmg.br/editora
Correspondência:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins - CRMV-MG 4809
Editor dos Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia
FEPMVZ Editora Prof. Renato de Lima Santos - CRMV-MG 4577
Caixa Postal 567
Diretor da Escola de Veterinária da UFMG
30161-970 - Belo Horizonte - MG
Telefone: (31) 3409-2042 Prof. Antonio de Pinho Marques Junior - CRMV-MG 0918
Editor-Chefe do Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia (ABMVZ)
E-mail:
editora.vet.ufmg@gmail.com Prof. Nivaldo da Silva - CRMV-MG 0747
Presidente do CRMV-MG
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais
- CRMV-MG
Presidente:
Prof. Nivaldo da Silva
E-mail: crmvmg@crmvmg.org.br
CADERNOS TÉCNICOS DE
VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
Edição da FEPMVZ Editora em convênio com o CRMV-MG
Fundação de Estudo e Pesquisa em Medicina Veterinária e
Zootecnia - FEPMVZ
Editor da FEPMVZ Editora:
Prof. Antônio de Pinho Marques Junior
Editor do Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia:
Prof. Nelson Rodrigo da Silva Martins
Editores convidados para esta edição:
Sandra Gesteira Coelho
Rafael Alves de Azevedo
Revisora autônoma:
Giovanna Spotorno
Tiragem desta edição:
1.000 exemplares
Layout e editoração:
Soluções Criativas em Comunicação Ldta.
Impressão:
Imprensa Universitária da UFMG
Sha Tao 1
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Figura 1. Sistemas de alojamento em tie-stall (baias de contenção) com piso de cimento ou com piso
ripado elevado
Figura 7. Situações com problemas de acesso à sombra (superior) e bezerreiro com sombra extra
(inferior)
Figura 12. Sistema de canzil para aleitamento individual em sistemas de criação coletivo
al. 2004; Lesmeister e Henrichs, 2004; mento e ao tipo de dieta líquida a serem
Khan et al, 2007 Suarez-Mena et al, ofertadas aos bezerros tornaram-se o
2011; Silper et al., 2014) observadas foco de estudos nas últimas décadas.
com a restrição no volume de leite a Nos sistemas de aleitamento artifi-
10% do peso corporal. cial em que a dieta líquida é fornecida
Dessa forma, apesar do sistema de à vontade, normalmente os bezerros
aleitamento convencional ter sido pre- consomem em média 10 L/dia ( Jasper
conizado por muitas décadas e utilizado e Weary, 2002; Sweeney et al., 2010).
mundialmente, questionamentos a res- Já aqueles criados junto à mãe, em dois
peito da taxa de morta- turnos de duas horas por
lidade de 11% relatadas Nos sistemas de dia, ingerem em média
pelo National Animal aleitamento artificial 6,5 L/dia na primeira
Health Monitoring em que a dieta líquida semana de vida e 12,5
System (2003) nos EUA, é fornecida à vontade, L/dia na nona semana
durante a fase de aleita- normalmente os de vida (de Passillé et
mento, foram levantados bezerros consomem em al., 2008). Apesar dos
com o objetivo de verifi- média 10 L/dia. melhores resultados na
car se esse índice estava eficiência de crescimen-
de alguma forma ligado to durante o aleitamento
ao sistema de criação, que vinha sendo intensificado, o fornecimento de dieta lí-
adotado durante a fase de cria dos be- quida em maiores quantidades, do que a
zerros nos EUA. Diante disso, estudos fornecida convencionalmente, têm sido
relacionados à quantidade, ao forneci- criticado por proporcionar menor con-
Letras maiúsculas distintas nas linhas e minúsculas nas colunas diferem estatisticamente pelo teste SNK(P<0,05). CV =
31,17%. MS – matéria seca.
vada nesse trabalho não deve ser atribu- (2015) testaram três diferentes sistemas
ída apenas ao tipo de dieta líquida (leite de aleitamento: baixo volume de leite
x sucedâneo), e sim a diferença entre pasteurizado (4 L/dia até 35 dias de
ingestão de matéria seca (MS), prote- idade); moderado volume (6 L/dia até
ína bruta (PB) e energia metabolizável 49 dias de idade) e alto volume (8 L/dia
(EM) imposta pelas estratégias de alei- até 49 dias de idade), e verificaram que
tamento adotadas. o maior fornecimento de dieta líquida
Bach et al. (2013) observaram que proporcionou maior taxa de crescimen-
bezerros recebendo 8 L/dia de sucedâ- to dos bezerros, melhoria na eficiência
neo apresentaram taxas superiores de alimentar, porém, o estresse durante o
crescimento quando comparados a ani- desaleitamento foi maior para o grupo
mais alimentados com 6 L/dia, porém, com alto volume de dieta líquida quan-
no período entre o pré-desaleitamento do comparado ao de baixo e médio vo-
e o desaleitamento, quando o volume lume de dieta líquida, os quais apresen-
de 8 ou 6 L de sucedâneo taram menor consumo
foi reduzido para 4 L/ Para contornar a de concentrado durante
dia, aqueles que estavam queda no consumo a fase de aleitamento.
recebendo menor volu- de alimentos sólidos Para contornar a
me apresentaram maior durante o aleitamento queda no consumo de
taxa de crescimento do com maior volume alimentos sólidos du-
que os que estavam rece- de leite uma boa rante o aleitamento com
bendo maior volume de estratégia é o uso do maior volume de leite
dieta líquida. Yavuz et al. desaleitamento gradual. foram desenvolvidas as
3. Dieta líquida para bezerros leiteiros 49
estratégias de desaleitamento gradual tava os bezerros com sucedâneo (28%
(Sweeney et al., 2010) e o aleitamento PB e 15% ou 20% de gordura) e eram
em “step-down” (Khan et al., 2007a). O desaleitados aos 50 dias de idade. Na
aleitamento em “step down” consiste no outra, eram fornecidos 900 g/dia de su-
fornecimento da dieta líquida a 20% do cedâneo comercial em volume final 3,8
peso corporal, até 28 dias de idade, com L/dia (28% PB e 15% de gordura), sen-
redução a partir daí para 10% do peso do os animais desaleitados também aos
corporal, essa queda no volume de lei- 50 dias de idade. Foi avaliado o GMD
te provoca aumento linear do consumo durante o aleitamento, a ingestão de
de sólidos, proporcionalmente à redu- energia proveniente do sucedâneo e de
ção na ingestão líquida. Os autores ob- outras variáveis para avaliar a influên-
servaram maior ganho de peso durante cia do GMD no período de aleitamen-
todo o período experimental, incluindo to sobre a lactação futura das fêmeas.
a fase pós-desaleitamento no grupo em Segundo os autores o plano nutricional
“step-down”. O maior ganho de peso foi durante o aleitamento pode contribuir
consequência do aumento da ingestão em 22% da variação na produção de lei-
de leite nas primeiras semanas, e ape- te na primeira lactação, mostrando que
sar do menor consumo de concentrado os planos nutricionais durante o aleita-
durante esse período, resultou em con- mento possuem efeito na produção fu-
sumo significativamente maior durante tura dos animais.
o restante do período de aleitamento Morrison et al. (2009) conduziram
e desaleitamento. O grupo “step down” experimentos para avaliar diferentes
apresentou melhor desenvolvimento planos de aleitamento. Um total de 153
dos pré-estômagos e do abomaso e au- animais (88 fêmeas e 65 machos) foram
mento no tamanho das papilas no rú- alocados em um dos quatro tratamentos
men (Khan et al.,2007b), o que indica no nascimento, para avaliar dois planos
que essa estratégia de aleitamento não de fornecimento de sucedâneo: 5 ou
impactou negativamente o desenvolvi- 10 L/dia de dieta líquida constituída
mento do rúmen. de 120 g/sucedâneo por litro de água,
O aumento da dieta líquida duran- que poderia ser de um sucedâneo com
te a fase de aleitamento e os seus efei- 210 g/PB/kg de matéria seca (MS) ou
tos ao longo prazo na vida produtiva 270 g/PB/kg de MS. Todos os animais
dos animais é outro ponto importante foram aleitados de cinco a 56 dias de
e que deve ser considerado. Soberon et idade. Os animais foram alojados em
al. (2012) realizaram uma meta-análise baias com alimentadores automáticos.
de dados de duas fazendas distintas que Água e concentrado com 22% PB foram
possuíam manejos parecidos. Uma alei- administrados à vontade para todos os
50 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 81 - junho de 2016
grupos. Após o desaleitamento todos primeiro parto e a produção de leite não
os animais passaram a receber a mes- foram diferentes entre os tratamentos,
ma dieta. Os animais foram insemina- assim não houve diferença na produção
dos aos 13,5 meses com 315 kg de PC. de leite. Quando foi avaliado o mérito
Dados de 88 animais na primeira lac- genético dos animais houve tendência
tação e 66 animais na segunda lactação (p=0,08) para maior produção de leite
foram avaliados, não sendo observada nos animais aleitados intensivamente.
diferença entre os grupos para a idade e Os autores consideraram essa tendência
peso no primeiro parto e para produção na avaliação econômica, e não encon-
de leite nas lactações avaliadas. traram diferença de custo entre os trata-
Davis Rincker et al. (2011) estuda- mentos, deixando a cargo do produtor
ram o efeito do aleitamento intensivo a escolha do melhor manejo nutricional
sobre o crescimento, a idade da pu- das fêmeas.
berdade, a idade do primeiro parto e a Kiezebrink et al. (2015) utilizaram
produção de leite e fizeram uma análi- 152 fêmeas da raça Holandês em dois
se econômica das diferentes estratégias tratamentos: 4 ou 8 L/dia de leite e rela-
avaliadas. Foram utilizados 40 animais taram que ao desaleitamento das fêmeas
em cada grupo experimental. O aleita- alimentadas com 8 L/dia apresentaram
mento convencional com sucedâneo aumento do PC e eram mais altas, po-
(21,5% de PB, 21,5% gordura) a 1,2% rém, essas diferenças desapareceram aos
PC na MS seca foi comparado com 112 dias de idade, não sendo observada
aleitamento intensivo com sucedâneo nenhuma diferença nos parâmetros re-
(30,6% PB e 16,1% gordura) adminis- produtivos ou de produção de leite na
trado a 2,1% PC na MS. Os animais fo- primeira lactação em relação aos ani-
ram desaleitados aos 42 dias de idade. mais aleitados convencionalmente.
O grupo de aleitamento convencional Yunta et al. (2015) avaliaram os efei-
recebeu concentrado com 20% PB e o tos em curto e médio prazo do forneci-
grupo com aleitamento intensivo rece- mento de 4, 6 ou 8 L/dia de sucedâneo,
beu concentrado com 24% PB. Após o duas vezes ao dia, sobre o desempenho
desaleitamento os animais foram sub- e o metabolismo de glicose de fêmeas
metidos ao mesmo manejo, sendo libe- da raça Holandês. O sucedâneo foi pre-
rados para inseminação artificial com parado para conter 15% ST (22,8% PB e
405 kg. Os animais em aleitamento in- 19,4% gordura). Segundo os autores, os
tensivo foram 31 dias mais precoces na animais que receberam 6 ou 8 L/dia de
puberdade do que os animais em alei- sucedâneo tiveram maior GMD durante
tamento convencional. Essa diferença o aleitamento e atingiram maior PC, po-
não se manteve e a idade e o peso do rém, durante o desaleitamento eles não
3. Dieta líquida para bezerros leiteiros 51
conseguiram compensar a perda dos volumes de leite ou de sucedâneo por
nutrientes provenientes do sucedâneo animais que nasceram com baixo PC.
com o aumento do consumo de alimen- Sendo assim, uma estratégia que pode
tos sólidos, os animais que receberam contornar em parte esses problemas
4 L/dia passaram então a apresentar seria a adição de determinada quanti-
maior GMD. Por outro lado, os animais dade de sucedâneo em pó, aumentando
que receberam 6 ou 8 L/dia foram mais o ST da dieta líquida, sem aumentar o
precoces a primeira inseminação artifi- volume oferecido aos bezerros. Porém,
cial, não sendo observada essa diferença apenas três artigos foram publicados nas
para a idade das prenhes e para a taxa de duas últimas décadas tratando desse sis-
concepção. tema de aleitamento.
Em síntese, os resultados são con- Raeth-Knight et al. (2009) testaram
troversos e as conclusões mostram que cinco dietas líquidas diferentes, e dentre
aumentar o aporte nutricional no início elas, em uma fixou-se o volume de 3,5
da vida não garante aumento da pro- kg/dia de dieta líquida, composta de su-
dução de leite futura. Existem muitos cedâneo enriquecido para 13,9 % de ST
fatores de confundimento entre os tra- (convencional), em outra o volume foi
balhos avaliados que dificultam a elabo- mantido próximo a (3,4 kg/dia), com
ração de uma conclusão sobre o tema. 16,7% de ST (intensivo). Ambos os tra-
Mais trabalhos devem ser realizados tamentos foram fornecidos duas vezes
buscando contornar esses fatores para ao dia, com 50% do volume final sen-
maior segurança das recomendações de do oferecido em cada refeição até os 35
aleitamento. Além disso, fatores econô- dias. Dos 36 aos 42 dias as dietas líqui-
micos devem ser levados em considera- das foram reduzidas pela metade, sen-
ção para a tomada de decisão. do os animais desaleitados em seguida.
Durante a fase de aleitamento os autores
Aumento da concentração relataram que no sistema convencional
de sólidos totais na dieta as bezerras apresentaram menor consu-
líquida mo de MS total, de GMD, de PC e de
Por várias razões produtores e técni- eficiência alimentar do que as bezerras
cos relutam em aumentar o volume de em aleitamento intensivo, não foram
leite fornecido para os bezerros. Entre observadas diferenças entre o consumo
elas temos a redução no consumo de de concentrado, desenvolvimento cor-
concentrado e o possível atraso no de- poral e escore de fezes entre os animais.
senvolvimento do rúmen, com conse- No pós-aleitamento os animais apre-
quente perda de peso após o desaleita- sentaram similaridade de consumo, de
mento, e também a recusa de grandes desempenho e de eficiência alimentar,
52 Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, nº 81 - junho de 2016
bem como para a idade do parto e os pa- que nos demais. Já a eficiência alimentar
râmetros de produção e de composição foi superior nos animais do T3 e T4 do
do leite, demonstrando que as bezerras que nos animais aleitados convencio-
que receberam maior %) de ST na dieta nalmente ou no T2, os quais foram se-
líquida, em baixo volume, foram mais melhantes entre si, demonstrando que
pesadas durante a fase de aleitamento e a mesma está mais interligada ao consu-
no pós-aleitamento imediato (56 dias) mo de leite integral do que ao consumo
em comparação aos animais aleitados de ST. Possivelmente devido à diferença
convencionalmente. No entanto, essa constitucional dos nutrientes entre am-
vantagem não foi mantida durante a fase bos e ao melhor aproveitamento do leite
de recria das novilhas. pelas bezerras em relação aos sucedâne-
Glosson et al. (2015) avaliaram sis- os. Para as medidas de desenvolvimento
temas de aleitamento intensivos com corporal nenhuma diferença foi obser-
leite adicionado com produto em pó vada entre os tratamentos e, no final da
Milk plus balancer (o qual possui 25% de fase de aleitamento, os bezerros do T3
PB e 10% de gordura, sendo composto, apresentaram maior PC em relação aos
com ingredientes de soro de leite em pó, demais sistemas, os quais não diferiram
concentrado de proteína de soro de leite, entre si. O escore fecal foi maior nos ani-
soro de leite, leite em pó desnatado, lei- mais do T3, sem diferenças para o esco-
te em pó, proteína e gordura animal) em re respiratório entre os tratamentos. Os
três tratamentos intensivos: T1-3,8 L de autores concluíram que uma opção para
leite mais Milk plus balancer para 17,6% os produtores aumentarem o GMD, PC
de ST; T2-sistema Step-Down (3,8 L/d e a eficiência alimentar na fase de alei-
até 14 d; 5,7 L/d até 49 d e 2,8 até 56 d) tamento seria a utilização de leite enri-
com leite a 12,5% de ST; T3 - mesmo quecido com produto em pó balancea-
sistema Step-Down do T2, com Milk dor. Os autores chamam atenção que o
plus balancer para 17,6% de ST; contra investimento no período pré-desaleita-
um sistema convencional T4 (3,8 L de mento para bezerras deve ser benéfico
leite com 12,5 % de ST) de aleitamen- para o desempenho futuro como vacas,
to, até os 56 dias de idade. Observou-se ressaltando a importância de observa-
que o consumo de concentrado dos ani- ções de longo prazo para determinar os
mais aleitados convencionalmente foi efeitos desses sistemas na produção e na
superior aos outros sistemas avaliados, composição posterior do leite.
os quais não diferiram entre si, o GMD Azevedo et al. (2016 in press) ava-
dos animais aleitados convencional- liaram os efeitos do aumento dos teores
mente foi menor do que o T2 e o T3, de ST na dieta líquida, composta de lei-
sendo verificado maior valor no T3 do te integral acrescida de sucedâneo em
3. Dieta líquida para bezerros leiteiros 53
pó, sob o consumo, o desempenho e os Referências
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Desempenho e saúde de bezerras alimentadas com
de aleitamento convencional (10% PC) leite sem resíduo de drogas antimicrobianas ou lei-
e menos que nos sistemas à vontade (8 te de vacas tratadas contra mastite adicionado ou
não de probiótico. Arq. Bras. Med. Vet. Zoot., v.60,
a 12 litros/dia), se mostram como boa p.185-191, 2008.
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Effect of intensified feeding of heifer calves on
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Sandra Gesteira Coelho - CRMV/MG-2335
Profa da Escola de Veterinária UFMG
Ingredientes Efeito
Bicarbonato de sódio (>1%) ↑↓
Gorduras e óleos (>3%) ↓
Soja grão e caroço de algodão ↑
Ionofóros ↓
Leveduras ↑
Melaço ↑
Farelo de soja --↑
Milho --↑
Polpa de beterraba ↓
Ureia ↓
Adaptado de Quigley (1998), ↓ estudos mostraram diminuição na palatabilidade, ↑ aumento na palatabilidade, -- sem efeito
sobre palatabilidade.
Alimento Recomendação
Algodão, farelo Até 20%
Amendoim, farelo Até 30%
Arroz, farelo Até 20%
Arroz, farelo desengordurado Até 20%
Canola, farelo Sem restrições
Melaço Até 7%
Milho, grão Sem restrições
Soja, farelo Sem restrições
Soja, grão cru Até 20%
Trigo, farelo Até 30%
Ureia* Até 1/3 da proteína total
*Fornecida após 12 semanas de idade. Adaptado: Campos & Lizieire EMBRAPA Nota técnica.
água para compensar a desidratação. 3. Bateman, H. G.; Hill, T. M.; Aldrich, J. M.;
Schlotterbeck, R. L. Effects of corn processing par-
Coelho (1999) e Bernardes et al. ticle size and diet form on performance of calves in
(2007) observaram aumento do consu- bedded pens. J. Dairy Sci, v. 92, p 782 - 789, 2009.
mo de água de acordo com o aumento 4. Baldwin, R. L.; Mcleod, K. R.; Klotz, J. L. Rumen
development, intestinal growth and hepatic me-
do consumo de matéria seca, apresen- tabolism in the pre- and postweaning ruminant. J.
tando correlação positiva (p<0,05) en- Dairy Sci., v.87 (suppl E), p.E55-E65, 2004.
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Marta Terré1
Llorenç Castells 1
1
Dep. Prod. Ruminantes, IRTA (Institut de Recerca e Tecnologia Agroalimentares), Caldes de Montbui, Espanha
o desaleitamento. A ma-
Se o ganho de 1 kg/dia 2006b, 2007, 2009). Se o
nutenção do correto ganho de 1 kg/dia após o
após o desaleitamento
GMD durante a transi- desaleitamento é a meta,
é a meta, então as
ção é muito importante bezerras devem então as bezerras devem
devido à relação próxi- consumir mais de 1 consumir mais de 1 kg/
ma entre o crescimento kg/dia de concentrado dia de concentrado antes
dos animas, no começo antes do desaleitamento. do desaleitamento.
de suas vidas, e a produ- Dessa forma, estra-
ção de leite futura (Bach, tégias que estimulam o
2012). Além disso, esse parâmetro consumo de concentrado são de grande
também contribui para alcançar o obje- valor na indústria leiteira, e a alimen-
tivo de aumentar a substituição do reba- tação com forragem no início da vida
nho: obter o primeiro parto aos 22-23 pode contribuir nessa tarefa.
meses sem comprometer o peso corpo-
ral (PC) no parto (620-650 kg antes do Efeitos do fornecimento
parto em rebanhos Holandês). A Figura de forragem no início da
2 mostra o consumo de concentrado
na semana anterior ao desaleitamento
vida
relacionado ao GMD da semana poste- Na literatura, algumas vantagens
rior ao desaleitamento, considerando os e desvantagens de oferecer forragem
dados individuais das bezerras dos estu- para bezerras têm sido descritas e foram
dos realizados por Terré et al., (2006a, resumidas na Tabela 1.
6. Forragem para alimentação de bezerras 93
2
GPC ajustado – semana após a desmama, kg/d
1,5
0,5
0 0,5 1 1,5 2
Consumo concentrado na semana anterior ao desaleitamento, kg/d
Figura 2. Relação quadrática observada entre o consumo de concentrado na semana anterior ao de-
saleitamento, com o GMD ajustado em um estudo na semana posterior ao desaleitamento. GMD (kg/
dia) = 0,395 + 0,809 consumo na semana antes do desaleitamento – 0,168 (consumo na semana antes
do desaleitamento)2, R2=0.42, P<0,001.
15
10
Figura 3. Relação quadrática entre o peso do rúmen cheio expresso como porcentagem do PC e o
consumo de forragem expresso como porcentagem do PC de bezerras alimentadas com baixas quan-
tidades de leite.
0%
0,8 13,6%
0,6
0,4
0,2
0
CON AH RH OH BS TS CS
Fonte de forragem
Figura 4. Consumo de forragem, de concentrado e o ganho diário médio de bezerras alimentadas com
diferentes fontes de forragem: COM (concentrado apenas), AH (feno de alfafa), RH (feno de azevém),
OH (feno de aveia), /bs (palha de cevada), TS (silagem de triticale) e CS (silagem de milho). As por-
centagens indicam a proporção de forragem de alimentos sólidos consumidos voluntariamente pelas
bezerras.
% de forragem na dieta
Figura 5. Relação quadrática entre a porcentagem da forragem na dieta de bezerras com o consumo de
concentrado inicial (kg/d).
leite, concentrado e feno de aveia (OH). Graham et al., 2007). Portanto, pode ser
As concentrações ruminais totais de especulado que o aumento de MCT1 em
AGV são resultado da fermentação dos bezerras suplementadas com forragens
alimentos pela microbiota ruminal e a possa ser parcialmente responsável pelo
capacidade de absorção de AGV pelo aumento da absorção de ácidos graxos de
epitélio ruminal. No estudo de Castells cadeia curta.
et al. (2013), foi observado aumento da
expressão de MCT1 na
Forma física da fibra
parede ruminal de be- As fontes de fibras
zerras suplementadas Montoro et al. (2013) para bezerras podem
com forragem. MCT1 forneceram feno de ser oferecidas por meio
é um transportador gramíneas picadas (3-4 cm) do concentrado inicial
localizado na mem- ou de feno de gramíneas (pelo aumento do con-
brana basolateral do finamente moídas (2mm) teúdo de FDN e FDA
epitélio ruminal, e está a uma taxa de 10% da dos concentrados), por
envolvido no transpor- dieta total das bezerras. adição de ingredientes
te de lactato, acetato Eles observaram alguns fibrosos finamente ou
e prótons do epitélio benefícios quando o feno de grosseiramente moí-
ruminal para a corren- gramíneas foi incluído de dos, tais como casca
te sanguínea (Gäbel forma picada ao invés de de soja, semente de
e Aschenbach, 2006; finamente moído. trigo, polpa de beter-
6. Forragem para alimentação de bezerras 101
raba, grãos destilados, ou suplemen-
concentrado;
tados, concentrado com mais de uma
• Aumento do crescimento;
fonte de forragem picada. Montoro et
• Aumento do tempo de
al. (2013) forneceram feno de gramí-
ruminacão;
neas picadas (3-4 cm) ou de feno de
• Redução do comportamento
gramíneas finamente moídas (2mm)
oral não nutritivo;
a uma taxa de 10% da dieta total das
• Aumento do pH ruminal e
bezerras. Eles observaram alguns bene-
redução da concentração no
fícios quando o feno de gramíneas foi
rúmen.
incluído de forma picada ao invés de
finamente moído. A partir de tais observações, a se-
Com outro enfoque, Terré et al. guinte questão é levantada: “O que
(2013) compararam os benefícios da acontece se a forragem for oferecida
oferta de fibras a bezerras vindas de apenas após o desaleitamento?” Castells
fontes de concentrado e forragem. O et al. (2015) responderam essa ques-
estudo foi realizado em um delinea- tão comparando um grupo de bezerras
mento fatorial 2x2 sendo os dois fato- alimentadas com feno de aveia picado
res: alto (27% FDN) ou baixo (18% (68% FDN, e 27.8% > 20 mm tamanho
FDN) de fibra peletizada de concen- de partícula), a partir de sete dias de
trado, combinada com a suplemen- idade, até duas semanas após o desa-
tação ou não de feno de aveia picado leitamento, com um grupo de bezerras
(63% FDN e 38% >20 mm tamanho de em que a mesma forragem foi oferecida
partícula). Nesse estudo, as principais apenas após o desaleitamento:
vantagens da suplementação de forra-
gem foram observadas durante as duas • Consumiram menos concen-
semanas após o desaleitamento, desta- trado inicial durante o período
cando a importância da disponibilida- pré-desmame;
de de forragem nas semanas próximas • Cresceram menos durante o perí-
ao desaleitamento: odo pré-desmame;
• Após o desaleitamento (quan-
• Concentrado com baixo teor de fi- do todos os grupos foram su-
bra melhorou a eficiência alimentar plementados com a forragem):
durante o período pré-desmame; • Não houve diferença em de-
• Benefícios da suplementação com sempenho e consumo de
forragem foram observados após o concentrado;
desaleitamento: • Não houve diferença na diges-
• Aumento do consumo de tibilidade da dieta.