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KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro.

Gilberto Velho e a an-


tropologia das emoções no Brasil. RBSE – Revista Brasileira
de Sociologia da Emoção, v. 14, n. 41, p. 22-37, ago. 2015.
ISSN: 1676-8965.
ARTIGO
http://www.cchla.ufpb.br/rbse/Index.html

22
Gilberto Velho e a antropologia das emoções no Brasil

Mauro Guilherme Pinheiro Koury

Recebido: 15.06.2015
Aceito: 30.06.2015

Resumo: Nos anos 1990 se pode afirmar o surgimento de uma antropologia das emoções
como interesse de pesquisa no Brasil, e da luta, no interior da academia, por sua consolida-
ção. Gilberto Velho pode ser considerado um precursor importante deste novo campo ana-
lítico que lida com as relações entre as emoções, cultura e sociedade no país. Este artigo
discute a obra de Gilberto Velho e sua importância para o desenvolvimento da antropologia
das emoções no Brasil, bem como para a antropologia das sociedades complexas e urbana
no país. Aborda os modos metodológicos e as aberturas teóricas que movimentaram e de-
ram sentido às pesquisas e ao conjunto da obra de Velho. Palavras-chave: Gilberto Velho,
antropologia das emoções, indivíduo psi, projeto, campo de possibilidades

Introdução7 com as relações entre as emoções, a


cultura e a sociedade no país. Este ar-
Nos anos 1990 podemos afirmar no
tigo discute a obra de Gilberto Velho e a
Brasil o surgimento de uma antropolo-
sua importância para o desenvolvimento
gia das emoções como interesse de pes-
da antropologia das emoções, bem co-
quisa, e a luta por sua consolidação, no
mo para a antropologia das sociedades
interior da academia. Gilberto Velho é
complexas e urbana no país (KOURY,
considerado um precursor importante
2009).
deste novo campo analítico que lida
Aborda, portanto, os modos meto-
7 dológicos e as aberturas teóricas que
Trabalho apresentado no GT 01 Antropologia
das Emoções e da Moralidade: Emoções, Luga- movimentaram e deram sentido às pes-
res e Memória durante a V Reunião Equatorial quisas e ao conjunto da obra de Gilberto
de Antropologia e XIV Reunião dos Antropólo- Velho. Busca entender os papéis e os
gos do Norte e Nordeste, de 19 a 22 de julho de processos conformadores do indivíduo e
2015, Maceió, Alagoas.
a conformação do indivíduo psicoló-

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gico, chamado por ele de psi, na socie- a subjetividade e a sociabilidade. Ques-
dade complexa, e, também, as relações tão esta que movimenta quadros teóri-
impessoais e a sua significação na vida cos e dão suporte interpretativo ao pen-
cotidiana dos indivíduos no urbano con- samento recente e estruturador de uma
temporâneo. sociologia e de uma antropologia das
Discute ainda a importância dos pro- emoções no Brasil.
jetos individuais e da categoria projeto Gilberto Velho, deste modo, foi um
em Velho, e a sua relação direta com a autor importante na configuração de
ampliação do campo de autonomia dos uma antropologia e de uma sociologia
indivíduos no interior de um contexto das emoções no Brasil. Velho, em seus
social específico. O correlato aumento estudos e pesquisas, enfatizou a cultura
das opções e dos campos de possibili- emocional, principalmente a das classes 23
dades no constrangimento do indivíduo médias, no Brasil urbano contemporâ-
contemporâneo em sua inserção social e neo, principalmente o carioca da zona
o conjunto de vulnerabilidades neles sul da cidade.
contidas é outra questão a ser tratada Em seus trabalhos, deu relevo espe-
neste trabalho. cial aos modos de vida e aos comporta-
mentos no urbano. Enfatizou os rear-
O conjunto da obra de Gilberto Ve- ranjos familiares e de amizade e a ló-
lho pode ser lido através de uma muta- gica individualista dos projetos de vida,
ção e aprimoramento constante do seu em contraposição aos projetos societá-
arcabouço conceitual. O seu trabalho rios e coletivos. Tais relevos e desta-
parte, contudo, de uma dualidade es- ques advieram do interior de uma leitura
truturante da realidade brasileira entre teórico-metodológica de grande influ-
os sistemas hierárquicos e os sistemas ência simmeliana, que mistura a análise
individualistas. Dentro dessa dualidade fenomenológica com a análise intera-
estruturante, Velho baseou o seu aporte cionista dos dois momentos importantes
para a construção e entendimento da da Escola de Chicago.
lógica da hierarquia no Brasil na análise Nesta última, principalmente, através
dumoniana, entre os sistemas holistas e de autores como Robert Park, George
individualistas. Mead, Herbert Blumer, Erving Goffman
Para tal, partiu do pressuposto de e Howard Becker. Sem desprezar, con-
uma diversidade de padrões comporta- tudo, a leitura atenta e atenciosa de au-
mentais e de sistemas individualistas e tores da escola francesa, como, por e-
holistas na sociedade nacional, e enfati- xemplo, Marcel Mauss, Claude Lévi-
zou a necessidade de se procurar com- Strauss e Louis Dumont, da Escola de
preender o social brasileiro das classes Manchester e dos estudos sobre redes
médias urbanas através da lógica indi- sociais de Max Glukman, Clyde Mit-
vidualista. Nessa direção aprofunda e chell, Elizabeth Bott, Victor Turner, e
discute a emergência da individualidade da Antropologia social britânica, de
e do que ele chama de indivíduo psico- Evans-Pritchard a Mary Douglas8.
lógico no Brasil urbano, e o apareci-
mento de um individualismo crescente
nas camadas médias urbanas das gran- 8
Ver a entrevista de Gilberto Velho a Maurício
des metrópoles no país (VELHO, 2000). Fiore, publicada no Blog pessoal de Gilberto
Esse conjunto de categorias e suas Velho [2010]: http://gilbertovelho.blogspot.
com.br/ [lida em 15.04.2015]. Nesta entrevista
aplicações na realidade brasileira, - e Gilberto Velho revela a necessidade de cruzar
carioca, em particular, - fazem de Velho diferentes escolas e perspectivas teóricas, prin-
um dos autores fundamentais para a cipalmente verificando as convergências em
apreensão da questão das relações entre temáticas ou assinalando as diferenças no de-
senvolvimento entre as escolas.

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Velho elaborou, deste modo, uma formação e atuação, em muitos aspec-
análise profunda e profícua sobre as tos, se confunde com a consolidação da
questões ligadas à relação entre as for- antropologia no Brasil, e também dos
mas de subjetividade e da objetividade cursos de pós-graduação no país, so-
na análise da cultura e do social, bem bretudo, no caso aqui tratado, das ciên-
como, sobre a problemática das emo- cias sociais.
ções e da cultura emocional urbana na A antropologia acionada por Gilberto
contemporaneidade brasileira. Proble- Velho foi inovadora no Brasil em vários
matizou desta forma a tensa relação aspectos: o primeiro deles diz respeito à
entre indivíduos, cultura e sociedade, abertura do olhar antropológico na co-
fazendo desta tensão um tema recor- munidade acadêmica brasileira para o
rente em sua obra. estudo das sociedades complexas. Nesse 24
As relações entre indivíduo, cultura e aspecto é pioneiro não só no Brasil, mas
sociedade, tal como analisada em Ve- segue uma discussão, ainda em si fa-
lho, marcam uma dualidade que parece zendo e cheia de nós, da crise episte-
se manifestar e se expressar - de dife- mológica vivida pela antropologia e
rentes formas, - em outras relações, co- pelas ciências sociais estadunidense dos
mo, por exemplo, nas relações entre o anos de 1970, em suas diversas verten-
grupo e os seus membros ou, nas rela- tes: antropologia, sociologia e política.
ções existentes, ou não, entre os proje- O segundo aspecto diz respeito à in-
tos individuais e os campos de possibi- fluência da discussão que ocorria na
lidade oferecidos para o seu apareci- academia estadunidense, o levando a
mento e realização. Do mesmo modo, defender uma antropologia que estude
desponta nas tensões entre a questão das também o urbano e sua complexidade.
unidades individual e social, e da frag- Nessa direção, afirma que uma antro-
mentação nas sociedades complexas, pologia nessa esfera tem que ser uma
ou, ainda, nas questões relacionadas às antropologia em continuo diálogo com
tensões permanentes entre o consenso e outros campos temáticos, não só no
o conflito, e entre as normas e o desvio, interior das ciências sociais, bem como
na busca de demonstrar o caráter hete- com outros campos disciplinares como
rogêneo do urbano, onde diferentes pro- a filosofia, psicanálise, a psicologia, a
jetos, individuais e coletivos, se chocam história, a literatura e outras afins.
e interpenetram em rearranjos sempre Estes dois aspectos mudariam com-
em movimento. pletamente o olhar disciplinar até então
Iniciamos agora um percurso analí- vigente na antropologia brasileira da
tico, quase um mergulho em alguns as- época, quase totalmente voltada para as
pectos da obra de um autor contempo- comunidades indígenas e camponesas.
râneo, o antropólogo Gilberto Velho, O que possibilitou, deste modo, a aber-
que foi professor titular da Universidade tura das portas da comunidade antro-
Federal do Rio de Janeiro, lotado, até a pológica no Brasil para um diálogo mais
sua morte, no Programa de Pós-Gradua- denso com outras perspectivas que se
ção em Antropologia do Museu Nacio- abriam à análise das sociabilidades em
nal. sociedades complexas.
Gilberto Velho (1945-2012) é consi- Pode-se afirmar que Gilberto Velho,
derado um dos antropólogos brasileiros nesse sentido, foi um dos nomes im-
mais respeitados e influentes da comu- portantes para a abertura da antropolo-
nidade antropológica brasileira. Sua gia e sua redefinição, abrigando campos
obra possui grande influência na antro- novos e novas metodologias. A antro-
pologia portuguesa e de países de língua pologia contemporânea muito deve à
portuguesa, e da América Latina. A sua audácia de Gilberto Velho e sua insis-

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tência em abrir campos novos, - especi- tudo sobre os moradores de um pequeno
ficamente para a análise das sociedades edifício do bairro de Copacabana, onde
complexas, e especialmente, a antropo- recém-casados residiam.
logia urbana, - e estabelecer diálogos Este edifício, um prédio de pequenos
teóricos e metodológicos com áreas apartamentos em Copacabana, era ha-
disciplinares das ciências sociais e afins. bitado em sua maioria por pessoas da
baixa classe média e, nas palavras dos
Trajetória
autores [Velho e Maggie], com
Gilberto Velho fez parte da primeira um “ aixo a o mo al" e amplamente
turma do programa de pós-graduação conhecido por sua presen a contínua
em antropologia do Museu Nacional da nas páginas policiais, e símbolo incon-
Universidade Federal do Rio de Janeiro, teste da precariedade urbana. No edifí- 25
um dos primeiros programas de pós- cio residiam cerca de dois mil morado-
graduação em antropologia do pa- res, reunindo em seus doze andares uma
ís. Aberto em 1968, teve a sua primeira enorme variedade de pessoas em termos
turma em 1969 e primeiras dissertações etários, sociais e ocupacionais: de pros-
defendidas em finais de 1970 e 19719. titutas, a homossexuais, biscateiros e
Gilberto Velho estava entre os estu- pequenos marginais a trabalhadores de
dantes que defenderam suas disserta- serviços públicos urbanos, comerciá-
ções neste final do ano de 1970, com 18 rios, entre outros tantos.
meses de curso. Sua dissertação intitu- Os dois estudantes entregam o tra-
lada Utopia Urbana, tratou da sociabili- balho de pouco mais de 15 páginas, sem
dade do bairro carioca de Copacabana. título, com uma descrição sobre os mo-
A origem desse interesse se deve a radores do edifício: quem eram os ha-
importância do Prof. Dr. Anthony Leeds bitantes, de onde vieram, porque vieram
da Universidade do Texas, EUA, que na morar em Copacabana, onde a pergunta
época atuava como professor visitante básica da dissertação de mestrado girou
no PPGA do Museu. O Dr. Leeds ofere- em torno da decisão de morar naquele
ceu uma disciplina intitulada Antropo- bairro. Em seu relato o texto evoca o
logia Urbana, onde proporcionou uma fascínio da zona sul carioca e, princi-
discussão sobre o problema de habita- palmente, do bairro de Copacabana na
ção na América Latina. época, sobre os moradores da zona nor-
Entre os seus alunos se encontrava te e de cidades da região metropolitana
Gilberto Velho10. Com Maggie, - aten- do Rio de Janeiro11.
dendo a proposta do professor de que o O trabalho recebeu comentários críti-
trabalho de final da disciplina deveria cos e elogiosos do Professor Anthony
ser uma curta etnografia sobre as formas Leeds. Estes comentários e as recomen-
de se habitar no estado do Rio de Ja- dações para um possível prosseguir do
neiro, - elabora um projeto para um es- trabalho de campo entusiasmaram o
aluno Gilberto Velho. O qual, alguns
9
meses depois, portanto, refez e propôs
O seu doutoramento foi realizado na Universi-
como projeto de dissertação de mes-
dade de São Paulo (USP), com a Profa. Dra.
Ruth Cardoso. Gilberto Velho (2010) explica trado a continuidade do projeto sobre o
que isso se deu devido ao Museu Nacional, onde
havia terminado o mestrado não ter conseguido
11
abrir no momento o seu curso de doutorado. Este pequeno relato etnográfico foi recém-
Sendo, então, orientado pelo diretor do PPGA publicado, em 2013, pela revista Anuário An-
do Museu Nacional, Prof. Dr. Roberto Cardoso tropológico, do Departamento de Antropologia
de Oliveira a fazer na USP, intermediando o da UNB Universidade de Brasília, em uma
contato dele com a Professora Ruth Cardoso. homenagem acontecida em 2012, a Gilberto
10
E Yvonne Maggie, em tão recém-casada com Velho, cujo falecimento precoce, acabava de
o Velho. acontecer. (VELHO e MAGGIE, 2013).

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edifício de Copacabana, feito original- trevistas e observação participante pró-
mente para a disciplina Antropologia prios da análise etnográfica. A terceira
Urbana ministrada pelo Professor An- razão se localiza na ousadia de advogar
thony Leeds. claramente que a compreensão da com-
O projeto foi defendido e a disserta- plexidade urbana não podia se ater ape-
ção dele resultante, defendida em março nas à etnografia, mas tinha que abrir
de 1971, e publicada, com poucas re- diálogo com outras formas e caminhos
formulações e com o mesmo título da analíticos.
dissertação: A utopia urbana, em 1973. A quarta razão, por fim, tomou forma
Nesta dissertação Gilberto Velho in- no lançamento de um artigo-manifesto,
forma que o seu trabalho faz “uma aná- intitulado ani a o ocial o meio
lise da ideologia das camadas médias 12
urbano . Neste artigo os auto- 26
urbanas”. res defendem a urgência e a necessidade
Esta chamada está em destaque para de uma antropologia e de uma sociolo-
atrair a atenção sobre ela, já que esta gia urbana no Brasil.
temática ocupará a sua atenção e foco Propõem, ainda, que a antropologia e
analítico por toda a sua vida acadêmica, a sociologia urbana deveriam ser cam-
seja como objeto de pesquisa: as classes pos com diálogo aberto a uma plêiade
médias urbanas; seja como universo de de disciplinas. E com um espaço analí-
pesquisa: o bairro carioca de Copaca- tico que requeria trabalhos conjuntos,
bana que Gilberto Velho elegerá tam- principalmente, entre as disciplinas an-
bém como foco permanente de observa- tropologia e sociologia.
ção. Pode-se até afirmar, que Copaca- Afirmam várias vezes o diálogo entre
bana foi o seu laboratório de pesquisa campos acadêmicos diversos como for-
por excelência: misturando nele experi- ma de dar conta da complexidade social
ência pessoal de vida e observação par- e cultural do urbano, e aludem, por fim,
ticipante. a necessidade de compreensão dos indi-
A Utopia Urbana é um trabalho pio- víduos urbanos como uma com-
neiro na análise antropológica brasileira plexidade à parte e diferenciada dos
por muitas razões: a primeira delas por indivíduos vivendo em sociedades me-
revelar que a análise trata de um bairro nos complexas. Ponto polêmico é bom
próximo do autor que o analisava. Fato frisar, onde querem afirmar a autonomia
que causou muitas objeções no staff do individual relativa, a heterogeneidade
PPGA, que não via com bons olhos essa do indivíduo urbano e sua fragmenta-
quase blasfêmia à antropologia de en- ção.
tão: estudar o próximo e não as socieda- Na Utopia Urbana, - dissertação de
des distantes e exóticas, como era o mestrado de Gilberto Velho, hoje um
costume da antropologia da época não clássico da literatura antropológica e da
só no Brasil, mas no mundo ocidental. Antropologia Urbana brasileira, - algu-
Como afirma Gilberto Velho, logo no mas temáticas serão caras e estarão pre-
preâmbulo da sua dissertação, em tom sentes na sua reflexão em todos os seus
provocativo: “A Antropologia, tradicio- escritos. Entre estas temáticas, se pode
nalmente, tem estu a o os ‘outros’ e eu citar aqui, por também serem caras à
me propus a estudar o ‘n s’”. análise da antropologia e da sociologia
A segunda razão se encontra no usar das emoções, que veem em Gilberto
a etnografia como modelo interpreta- Velho um precursor atinado, entre ou-
tivo, porém, misturada com métodos e
técnicas e conceitos vindos da análise 12
Saído no número 1, volume 1, da revis-
sociológica: como dados estatísticos, ta Anuário Antropológico, em 1976, junto com
enquetes, questionário, ao lado de en- o sociólogo Luiz Antônio Machado da Silva
(VELHO e MACHADO DA SILVA, 1976).

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tras: as temáticas que exploram as di- tram insinuadas as noções de projeto e
nâmicas das desculpas, das acusações e de campo de possibilidades.
do desvio13. Em uma entrevista (VE- Noções trazidas à consciência do au-
LHO, 2010) fala da importância dos tor, e dispostas de forma conceituais nas
estudos interacionistas para as proble- suas análises posteriormente ao seu
máticas da acusação e do desvio no seu mestrado, através de suas andanças para
trabalho, associando ainda a influência formação intelectual como bolsista da
dos estudos da antropologia social bri- Fundação Ford, em um curso de especi-
tânica sobre a temática da acusação, alização em Antropologia Urbana nos
principalmente através da leitura de Estados Unidos, entre os anos de 1971-
Evans-Pritchard (2005) e Mary Douglas 197214.
(2004). Durante a sua estada nos Estados U- 27
Estes temas seriam explorados um nidos, Gilberto Velho se defronta com a
pouco mais tarde por Gilberto Velho em crise epistemológica nas ciências sociais
sua tese de doutorado intitulada, Nobre local, que passa por uma crítica severa
e anjos: um estu o e t xicos e ie ar- às razões ocidentais no processo de cri-
quia, - defendida em 1975, - onde dis- ação e consolidação destas ciências e de
cute e busca compreender o modo de sua forma de classificar e diagnosticar o
vida urbano de segmentos das classes outro culturalmente diverso. Em sua
médias cariocas residentes no bairro de trajetória estadunidense, assim, vivencia
Copacabana, através das experiências e as várias aberturas metodológicas e teó-
percepções sobre o consumo de drogas ricas tecidas em um ambiente de crítica
entre eles (VELHO, 1998). à tradição das ciências sociais, onde
Desde a Utopia Urbana, porém, esta uma efervescência epistemológica se
temática já está sugerida, muito embora processava e, particularmente, para nós,
sem aplicar diretamente os conceitos. no seio da antropologia e da sociologia
Nesta dissertação há um leque de no- locais.
ções que também será importante na Nestas experiências a que teve aces-
análise de Gilberto Velho no domínio so, Gilberto Velho entra em contato
completo de sua obra: lá já se encon- com a análise fenomenológica de Alfred
Schütz, por exemplo, de quem trouxe a
13 noção de projeto15. Entra em contato,
As categorias de acusação e desvio são impor-
tantes na obra de Gilberto Velho. Em sua entre- também, com a escola interacionista, de
vista a Maurício Fiore (VELHO, 2010), fala da
importância destas categorias em sua obra. Cita
14
a sua utilização para além de sua tese de douto- Gilberto Velho (2010) em sua entrevista a
rado (VELHO, 1998), evocando três artigos Maurício Fiori revela a importância de sua esta-
anteriores onde estas categorias foram mais da na academia estadunidense no início da dé-
aprofundadas, dois deles lançados na coletânea cada de 1970, e de que os impactos causados
por ele coordenada: Desvio e divergência: uma pelas informações recebidas foram importantes
crítica da patologia social (VELHO, 1981a), para a sua formação e caminhos futuros, mas
com primeira edição de 1974. O primeiro artigo, que isso só ficou mais claro bem depois, quan-
intitulado: O estudo do comportamento desvian- do, em primeiro lugar, ele conseguiu compor o
te: a contribuição da antropologia social (VE- quadro conceitual e o diálogo entre autores até
LHO, 1981b, p. 11-28), e o segundo com o então assimilados e que mexeram com a sua
título: Estigma e comportamento desviante em sensibilidade acadêmica, e, que, em segundo
Copacabana (VELHO, 1981c, p. 116-124), mas lugar, no momento de maturidade reflexiva ao
publicado originalmente em 1971, na revista lidar com o passado construído, onde ele pode
América Latina (VELHO, 1971). O terceiro retornar como memória ao processo de sua
deles, com o título: Duas categorias de acusa- construção teórico-metodológica.
15
ção na cultura brasileira contemporânea, escri- Para uma aproximação com a obra de Schütz,
to no decorrer do ano de 1975, e que se encontra com tradução para o português, vê a miscelânea
na coletânea Individualismo e cultura (VELHO, de textos publicados pela editora Vozes, sobre
1981a, p. 55-64). Schütz (2012).

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onde trouxe a ideia de campo de possi- objeto de pesquisa e a cidade como lu-
bilidades, além de uma ligação teórica e gar estratégico para se pensar e compre-
metodológica com os trabalhos de Ge- ender a sociabilidade contemporânea.
org Simmel, chegados até ele através do Nas palavras de Gilberto Velho, em
contato pessoal e da obra Erving Goff- sua entrevista a Maurício Fiore, o ponto
man e de Howard Becker (VELHO, de vista assumido no artigo é o de que
2010). Com este último, por sinal, pri- “alguma coisa ser familiar não signi-
vou de uma longa amizade, até a sua fica que ela seja conhecida e que,
morte precoce16. portanto, para você estudar o famili-
Observando o familiar ar, você tem que desenvolver uma es-
tratégia própria de objetivação, de es-
Ainda na década de 1970, Gilberto tranhamento, de distanciamento, nem 28
Velho (1978) lança um desafio meto- que seja em um movimento de ir e
dológico no artigo Observando o fami- vir” (VELHO, 2010),
liar, publicado pela primeira vez no ano constante e reflexivo.
de 1978. Este artigo tinha um argu-
mento ousado para a época e, inclusive, No jogo acima montado, a complexi-
já insinuado na sua dissertação de 1973, dade urbana e a complexidade do indi-
- a Utopia Urbana, - sobre a necessi- víduo no urbano são o desafio metodo-
dade da observação do familiar nas lógico e teórico enfrentado. O primeiro
pesquisas em sociedades complexas. desafio, já lançado em a Utopia Urbana
Acredito que todos conheçam esse e agora retomado de forma metodoló-
clássico da literatura metodológica da gica, se encontra no fato do antropólogo
antropologia brasileira. Artigo lido e estudar o seu próprio ambiente, se en-
relido por todos acadêmicos desde as contrando, ao mesmo tempo, como uma
introduções à pesquisa em antropologia, pessoa, personagem do lugar e pesqui-
quanto da sociológica, no ensino de sador.
graduação e pós-graduação no país, que Esse primeiro desafio recai sobre a
vão da leitura etnográfica aos métodos situação do pesquisador que observa o
qualitativos de análise do social. que lhe é familiar. Nesta dimensão, sur-
O impacto causado por esse pequeno ge a primeira separação metodológica: a
artigo, onde se informa que o desafio do de não confundir o familiar com o co-
pesquisador é o de tentar se colocar no nhecido.
lugar do outro, mas consciente de que Deste modo, se dá a descoberta ini-
esse outro sempre envolve distância. E cial: a de que nem todo o familiar é ne-
de que o binômio proximidade e distân- cessariamente conhecido e próximo. E,
cia é complexo e se emaranha mais e de que nem todo o desconhecido é ne-
mais quando a escolha do que se estudar cessariamente estranho e distante.
recai sobre o próximo urbano como A partir desta separação metodoló-
gica e destas descobertas iniciais, Gil-
berto Velho questiona as bases episte-
16
Um pouco antes de terminar o doutorado, mológicas da antropologia como a ciên-
Gilberto Velho recebe um convite de Howard cia do outro distante, de outras terras e
Becker para passar um ano na Northwestern de outros mares, e aproxima o seu olhar
University como professor visitante, para onde
segue um mês depois da defesa de sua tese, em
para o que está próximo, no cotidiano
dezembro de 1975, chegando à cidade de E- da experiência da cidade. Do próximo a
vanston em janeiro de 1976. De acordo com quem e com quem se compartilha o es-
Gilberto Velho (2010), o convite partiu da leitu- paço da cidade como habitante, mas que
ra de Becker sobre a sua coletânea Desvio e não necessariamente o vê e, quando o
divergência, em 1974, iniciando um processo de
troca permanente entre ele (Gilberto) e Becker,
enxerga, o olha sob uma névoa que na-
que durou por toda a sua vida. turaliza o ambiente. O que coloca este

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próximo em uma distância impossível A partir desse estranhamento, por-
de ser recuperada pelo pensamento crí- tanto, agora distanciado reflexivamente
tico, a não ser pela e através de uma para melhor compreender as bases em
critica aos valores do próprio pesquisa- que se erguem as sociabilidades, a hete-
dor. rogeneidade e as segmentações da e na
Lição weberiana, por sinal, seguida à cidade, e no e dos indivíduos que nela
risca por Velho. É bom frisar, contudo, habitam, consegue dialogar com as dife-
que sem consciência desse fato e do seu renças e construir códigos aproximati-
uso, já que, nos dois primeiros parágra- vos de compreensão do real. Um real
fos do artigo, ataca a objetividade e a onde o pesquisador também habita e
neutralidade axiológica weberiana: con- compartilha de uma proximidade cega,
fundindo objetividade com verdade; e mas, agora estranhada e transformada 29
neutralidade axiológica com neutrali- em objeto de reflexão.
dade em si. Por conseguinte, e deste modo, Gil-
Weber ainda é lido por Velho sob a berto Velho propõe a máxima de estra-
influência de um Weber ‘ven i o’ por nhar o que estar próximo para melhor o
Talcott Parsons, que o transformou em compreender e interpretar. Coloca a
um estrutural funcionalista. Weber é ênfase no autor/pesquisador e clarifica
visto à luz do tratado científico, e o ao leitor possível que a sua análise não é
caminho de leitura de Velho é o ensaio: nada mais do que uma interpretação.
a sua opção, ainda não de todo decla- Interpretação esta que o pesquisador faz
rada, é por Simmel, mas, feita sob a da realidade a partir das opções do o-
influência do olhar geertziano da inter- lhar. Olhar este, que promoveu e pos-
pretação, sem ainda perceber o caminho sibilitou o caminho aproximativo ao
da crítica a Parsons trazida por Clifford objeto estudado. Nada mais weberiano,
Geertz na sua desfiliação à grande teoria portanto, eu diria!
parsoniana (GEERTZ, 2012; KUPER, Isso, principalmente, quando a ênfase
2002), e a releitura proposta em Geertz de Gilberto Velho recai sobre a validade
(1978) de um Weber que adota a com- científica da interpretação de um autor
preensão como entendimento, no cami- sobre um dado objeto, e quando afirma
nho da interpretação como linha com- que esta interpretação passa por uma
preensiva do objeto estudado. crítica de vários outros acadêmicos, que
Mas, deixando de lado esse equí- a leem e a autenticam ou não. Bem co-
voco, o texto procura achegar-se à di- mo incide sobre diversos outros per-
nâmica compreensiva weberiana, adota sonagens envolvidos em outras lógicas
uma postura ensaística e um resultado que não a acadêmica, de onde também
interpretativo que é uma construção comentam, interferem e corroboram ou
aproximativa do real, e nunca o real em não a interpretação proposta por um
si. Assim, mesmo sem ter consciência autor.
do uso de Weber, transforma a crítica De novo Weber, portanto! Aquele
axiológica weberiana em um exercício diz que o pesquisador é um personagem
metodológico de exotizar o próximo e do jogo social e, como tal, coberto de
estranhá-lo. valores, de sentimentos.
Exotizar o próximo, ao mesmo tem- Estranhar esses valores, ou seja, ela-
po em que estranha a si mesmo, como borar uma crítica axiológica, destarte, é
forma de compreensão deste outro pró- o primeiro passo para conhecer o objeto
ximo. O outro próximo, agora, estra- que se propôs a estudar. O que quer
nhado e desnaturalizado como paisa- dizer que, ao cercar o objeto através da
gem aparentemente conhecida. crítica axiológica dos valores do próprio
pesquisador, remete o pesquisador a

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outro processo de escolha. Nesse novo para a sociologia das emoções. Este par
processo o pesquisador submete o ob- conceitual atende às noções de projeto e
jeto estudado a diversas perspectivas de de campo de possibilidades.
análise e escolhe o arcabouço teórico e Noções estas que colocam em cena
metodológico que melhor se adeque a as relações entre os indivíduos e as for-
análise do objeto. mas de sociabilidade em uma cultura e
O quadro compreensivo, em Weber, em um social dados. Alocam também
ou o quadro interpretativo em Gilberto em cena as emoções, as escolhas e a
Velho via Geertz, que daí resulta, desta formação de curvas de vida nas relações
maneira, é sempre uma construção. É estabelecidas entre os indivíduos e a
sempre uma aproximação do real, nun- sociedade, trazendo a análise para o
ca o real como verdade em si. campo fenomenológico de Schütz, e 30
Construção essa disposta publica- para o interacionismo de Goffman e
mente e analisada, avaliada e aceita ou Becker, sempre à luz das análises sim-
refutada pelos pares acadêmicos, e por melianas e weberianas.
outras instituições não acadêmicas que a É necessário, aqui, abrir um parên-
abonam, a usam ou rejeitam os signifi- tese para uma breve nota sobre Alfred
cados elencados, analisados e expressos Schütz e a sua obra. A obra de Alfred
na construção compreensiva e ou inter- Schütz se constitui de uma formulação
pretativa de um autor pesquisador. Gil- sociológica abaixo considerações de
berto Velho, portanto, neste texto, segue contorno fenomenológico, buscando
um Weber lido por interacionistas e nela realizar uma síntese entre a socio-
recuperado nos anos de 1970 nos Esta- logia e a fenomenologia.
dos Unidos e nos anos de 1990 no Bra- As bases de sua obra se encontram
sil. calcadas em dois autores. O primeiro é
Muito embora, no momento da edi- Edmund Husserl através de sua filosofia
ção do Observando o familiar e da Uto- fenomenológica. Filosofia esta, cujo
pia Urbana, os anos de 1970, - e a ên- ponto de partida tem início nas experi-
fase se faz aqui necessária, - sem a ple- ências do ser humano consciente. Indi-
na consciência desse fato ousado. E víduo que vive a age em um ‘mundo’
mais, ele ousa e provoca além, ao cha- por ele percebido, interpretado e que faz
mar as emoções do pesquisador e as sentido para ele, através das intenções
emoções dos pesquisados para o jogo de do tributário da ação.
cena compreensivo/interpretativo de um Para Husserl, lido por Schütz, assim,
objeto dado em um universo temporal e os objetos formados são construções.
espacialmente delimitado. Construções erguidas por e através de
um processo de apercepção sintética de
As noções de projeto e campo de pos-
diferentes ‘perspectivas’, por meio das
sibilidades
quais os objetos são montados nas tro-
Após virmos os caminhos e as entra- cas acionais e, a partir de então, vistos e
das inovadoras de Gilberto Velho, ainda tipificados.
que mais pejada de sensibilidade do que O segundo autor caro a Schütz é Max
de precisão conceitual, em A Utopia Weber e a sua construção sociológica. A
Urbana e no artigo Observando o Fa- leitura atenta da sociologia compreen-
miliar, vamos adentrar em seu esquema siva da ação social weberiana realizada
analítico, sempre em maturação, através por Schütz foi de fundamental impor-
de um par de conceitos por mim consi- tância para a construção de sua síntese
derados fundamentais para a antropolo- teórica para uma sociologia fenomeno-
gia e para a sociologia em geral e, aqui, lógica.
especificamente, para a antropologia e

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Schütz, portanto, desde o seu pri- de ação como portadora de intenciona-
meiro grande estudo publicado e du- lidades e sentidos e, neste momento,
rante toda a sequência posterior de suas como criadora do social e do individual
pesquisas, confrontou os dois autores específicos.
mencionados. Tornou-os, a partir de E vai além, ao indicar a consciência
então, em toda a sua obra, a base para a emocional dos atores na conformação
sua busca incessante de uma nova sín- de uma consciência coletiva singular, a
tese que levasse à constituição de uma partir de suas trocas sociais com outros
ciência social de base fenomenológica. atores e a sociedade. Ou, nas palavras
A compreensão da importância de de Simmel, nas trocas entre as culturas
Alfred Schütz na obra de Gilberto Ve- subjetivas e a cultura objetiva, pondo
lho não pode ser lida, todavia, sem indi- em tensão e em modificações contínuas 31
car essa filiação schützeriana à filosofia as redes sociais e individuais constituí-
de Husserl e à sociologia weberiana. A das nas trocas.
importância dada ao indivíduo em sua As leituras de Gilberto Velho, de S-
complexidade nas trocas sociais, e a chütz, o introduziram nesse veio rico de
indicação, como ponto de partida, das inspirações que conformariam duas dé-
experiências dos atores na conformação cadas depois a antropologia e a so-
de suas próprias trajetórias e trocas com ciologia das emoções: nos anos de
os diversos mundos sociais com que 1970, nos Estados Unidos, e nos anos
lida em sua vida, para Schütz, confor- de 1990, no Brasil. A sua leitura de S-
mam, nessas trocas, uma trajetória e chütz, nesse primeiro momento, porém,
uma curva de vida singular e individua- entre os primeiros anos da década de
lizada. Singular e individualizada, sim, 1970 até o início dos seus escritos dos
mas, também, misturada. anos de 1980, é ainda intuitiva, e ainda
Trajetórias pessoais e curvas de vida não tem consciência plena das bases
que vão se singularizando em experiên- fundadoras da síntese entre ciências
cias e vivências sempre embaralhadas, sociais e a fenomenologia, e de seus
combinadas e compostas com os as- inspiradores Weber e Husserl na socio-
pectos das tradições que os indivíduos logia schützeriana.
frequentam ou frequentaram durante Mas, a intuição criadora está lá, nas
todo o conjunto experiencial por eles formulações ousadas para a época de
vivido. O que significa em Schütz, que sua criação. Nasce, portanto, um precur-
os indivíduos em sociedade vivem a sor da antropologia e da sociologia das
partir de um determinado momento his- emoções, com força de um quase fun-
tórico e temporal em uma sociabilidade dador destas disciplinas no Brasil.
específica, e que suas experiências e ex- Velho elaborou, deste modo, uma
perimentações que conformam a sua análise profunda e profícua sobre as
curva de vida, e a sua singularidade, questões ligadas à relação entre as for-
acontecem nas trocas societárias e nas mas de subjetividade e da objetividade
opções que esses indivíduos são levados na análise da cultura e do social, bem
a tomar ou decidem seguir. como, sobre a problemática das emo-
Schütz, portanto, assume os mundos ções e da cultura emocional urbana na
husserlnianos através das trajetórias dos contemporaneidade brasileira. Proble-
indivíduos e das opções arriscadas por matizou a tensa relação entre indiví-
eles em cada situação proposta ou pre- duos, cultura e sociedade, fazendo desta
disposta em cada um dos mundos em tensão um tema recorrente em sua obra.
que frequenta. Mas, assume esse cami- As relações entre indivíduo, cultura e
nho metodológico adotando, ao lado e sociedade, tal como analisada em Ve-
ao mesmo tempo, o conceito weberiano lho, marcam uma dualidade que parece

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se manifestar e se expressar de diferen- a padrões específicos, e outros cons-
tes formas, em outras relações, como, trangimentos de cultura, que pedem ao
por exemplo, nas relações entre o grupo indivíduo autonomia e singularidade. O
e os seus membros ou, nas relações e- equilíbrio tenso entre estes constrangi-
xistentes, ou não, entre os projetos indi- mentos faz parte da carga de pressões
viduais e os campos de possibilidade cotidianas e das tarefas diárias dos indi-
oferecidos para o seu aparecimento e víduos nas sociedades ocidentais con-
realização. Do mesmo modo, parece se temporâneas.
produzir nas tensões entre a relação no O que o leva a desenvolver as temá-
interior das unidades individual e social, ticas sobre o ser no mundo, das ideolo-
e da fragmentação nas sociedades com- gias individualistas, das alianças, das
plexas. Ou, ainda, nas questões relacio- diferenças individuais, da questão gera- 32
nadas às tensões permanentes entre o cional, da problemática da família, da
consenso e o conflito, e entre as normas psicologização das sociedades urbanas
e o desvio, na procura de demonstração contemporâneas, da relação entre a ra-
do caráter heterogêneo do urbano, onde cionalidade e as emoções, das relações
diferentes projetos, individuais e coleti- entre a cultura objetiva e a cultura sub-
vos, se chocam e interpenetram em rear- jetiva, - esta última cara à análise sim-
ranjos sempre em movimento. meliana, - por fim, onde a questão as-
A noção de projeto é uma das suas cende, como um elemento compreen-
noções fundamentais, para o tratamento sivo fundamental no jogo ambivalente
da questão da heterogeneidade mencio- de formação dos sujeitos sociais e indi-
nada, e das tensões relacionais entre viduais, para a análise da sociabilidade
indivíduos e a cultura em uma socie- urbana contemporânea. Além e princi-
dade complexa. Para ele, seguindo de palmente, para o entendimento da e-
perto a análise realizada por Alfred S- mergência, da fundação, e dos modos de
chütz, a noção de projeto implica em agir e de significar dos indivíduos, per-
uma definição de situações em relação tencentes às camadas médias urbanas,
com os meios e os fins das ações huma- com ênfase na sociabilidade carioca,
nas coletivas e individuais, estando, onde concentrou os seus estudos e pes-
portanto, fortemente vinculada a uma quisas, de modo particular.
realidade objetiva e externa. Gilberto Velho, portanto, pode ser
O que leva o pesquisador, também, considerado como um dos autores fun-
para uma avaliação consciente das con- damentais para a compreensão da ques-
dições subjetivas de elaboração dos pro- tão das relações entre a subjetividade e
jetos, estratégias montadas, e busca de a sociabilidade que movimenta quadros
caminhos para a sua concretização. O teóricos e dão suporte interpretativo ao
conceito de projeto individual para Ve- pensamento recente e estruturador de
lho, assim, não é um fenômeno pu- uma sociologia e de uma antropologia
ramente interno e subjetivo, mas, for- das emoções no Brasil.
mulado e elaborado dentro de um cam- Pode ser considerado, assim, um pre-
po de possibilidades, e circunscrito his- cursor importante e, talvez, o principal,
tórica e culturalmente, tanto em termos deste novo campo analítico que lida,
da própria noção de indivíduo no social, desde os anos de 1990, com as relações
quanto às temáticas, prioridades e para- entre as emoções, cultura e sociedade
digmas culturalmente existentes. no país.
Para ele, seguindo uma lógica sim-
meliana, cada indivíduo é um lócus de É bom salientar que o par de con-
tensão entre os constrangimentos da ceitos projeto e campo de possibilidades
cultura, que solicitam o enquadramento trás a sua volta outra rede conceitual

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que complementa e amplia ao mesmo a formula ão e implementa ão
tempo a análise de Gilberto Velho. Este dos projetos individuais ou coletivos
par conceitual vai ser explorado, primei- elaborados. Satisfaz, portanto, às opções
ramente, no seu livro Individualismo e construídas no interior de um processo
Cultura de 1981 (VELHO, 1981). Mais sóciohistórico dado e com um grande
tarde no livro Projeto e Metamorfose, potencial interpretativo do mundo sim-
de 1991 (VELHO, 1991), onde trabalha lico a cultura.
com as noções de Trajetória individual Isso tanto em relação aos aspectos li-
e campo de possibilidades17. gados às categorias sociais distinguíveis
Este par conceitual será depois cons- e com certa permanência, como, por
tante em todos os demais livros e arti- exemplo, os elementos de estratificação,
gos por ele trabalhados e formarão a bem como com respeito aos aspectos 33
base conceitual de sua obra inteira. O ligados às ideias de complexidade e de
primeiro capítulo de Individualismo e heterogeneidade cultural.
Cultura formaliza esta proposta con- Opções realizadas e vivenciadas no
ceitual desde o título: “Projeto, emoção tráfego em vários mundos sociais que
e orientação em sociedades comple- um mesmo indivíduo ou grupos fre-
xas”. Nele já estão objetivamente for- quentam e dão sentido em suas trajetó-
muladas as ideias de projeto e de campo rias, criando possibilidades de coexis-
de possibilidades. tência de espaços díspares e até antagô-
No uso conceitual da noção de pro- nicos nos trajetos experimentados pelos
jeto, Gilberto Velho utiliza a definição indivíduos que os caminham. Coexis-
dada por Alfred Schütz, contida no ar- tência sempre tensa, é bom salientar,
tigo The problem of social reality, onde por se situar em uma pluralidade de
Schütz (1974), através da noção de pro- tradições e ordenamentos simbólicos.
jeto, explora as condutas organizadas Tradições e ordenamentos simbóli-
para atingir determinados fins. A no ão cos estes que se abrem em diversas por-
de projeto lida, assim, diretamente, com tas e possibilidades, que vão desde sis-
a dimensão do indivíduo enquanto su- temas ocupacionais, sexuais, etários,
jeito emocional, que faz escolhas, que étnicos, e outros, que levam, encami-
se organiza e traça caminhos, que con- nham tensamente os atores em proces-
segue ou se frustra nesse caminhar pro- sos e a estilos e modos de vida múlti-
jetado e vivido. plos. Processos e estilos de vida que
A noção de projeto serve desta ma- coabitam um mesmo tempo-espaço e,
neira, como um instrumento privilegi- no interior desse social tempo-espacial
ado à análise de t a et ias coletivas ou definido, e através dele, se colocam
individuais. Serve também às aprecia- como originais e únicos e se defrontam
ções de processos de articula ão de dis- ou se aproximam, dando um matiz es-
cursos identitários entre indivíduos, em pecial aos indivíduos e grupos partici-
uma cultura e sociedade delimitada pantes do jogo social e cultural neles
tempo e espacialmente. vividos.
A noção de campo de possibilidades, Os projetos individuais, assim, sem-
por sua ve , corresponde ao espa o para pre interagem com outros projetos, in-
dividuais e coletivos, no interior de um
17
campo de possibilidades aberto no trá-
Um exemplo de aplicabilidade do par concei- fego e no trajeto experimentado por um
tual projeto e campo de possibilidades: ambos
mesmo indivíduo ou grupo. Os projetos
os conceitos podem ser lidos na sua análise do
estudo de caso da trajetória de uma migrante em interação tensionam e modificam os
portuguesa de nome Catarina em terras estadu- próprios indivíduos que os construíram
nidense da cidade de Boston (VELHO, 1991). e os experimentam, assim como o es-

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paço cultural e social onde acontecem em vários mundos sociais habitado por
essa construção e vivência, e sendo por um indivíduo, se vai produzindo cami-
eles modificados. nhos diferenciados e singulares, próxi-
Deste modo, se pode compreender mos ou afastados em relação aos outros
que os projetos individuais não operam indivíduos e grupos com que comparti-
em um vazio, mas através de premissas lha trajetos nos diversos mundos sociais
e paradigmas culturais compartilhados que frequenta, tais como a família, os
por e em universos específicos. E os amigos, a escola, o trabalho, entre tanto
projetos sociais e culturais, por sua vez, outros.
não são produtos de uma mão desconhe- Mundos e relações onde tais projetos
cida que opera independente dos ho- foram gerados ou sofreram resistência.
mens, mas, também são constituídos e O que institui, entre os indivíduos e 34
operam nos e através dos processos in- grupos em relação, um processo perma-
teracionais entre os indivíduos sociais. nente de disputa, de definição e de ne-
Neste sentido, são processos com- gociação da realidade. Noções estas
plexos. E esta complexidade aumenta ao caras à análise simmeliana e entre os
se perceber que os indivíduos, grupos e interacionistas.
sociabilidades portam não apenas vários Neste jogo tenso de definição, dis-
projetos, mas projetos diferentes e até puta e negociação, as curvas de vida
contraditórios entre si. individuais vão se formando e se afir-
A pertinência e as relevâncias dos mando em um processo constante e an-
projetos, deste modo, são definidas con- gustiante de rupturas, conflitos, tensões,
textualmente dentro de um jogo tenso e mas, também, de gozo, de aceitação, de
conflitual. Jogo que conforma um cam- conformação e de continuidade das re-
po processual sempre tênue e marcado lações entre os pares, gerando processos
pelo diálogo e pela negociação perma- cada vez mais heterogêneos e cada vez
nente entre os indivíduos e grupos. mais complexos.
As ideias que norteiam as noções de A viabilidade das realizações proje-
trajetória individual, grupal ou socio- tadas dos indivíduos, assim, depende do
cultural, bem como as de curvas de vi- jogo interacional com outras projeções
das, de singularidade e diversidade, de individuais e grupais em mundos sociais
harmonia e conflito, e ajudam a com- diversos onde um indivíduo frequenta e
preender e interpretar uma determinada compartilha no interior de um contexto
cultura emocional e os indivíduos moral histórico, social e cultural dado. Assim
e emocionalmente dispostos nela. São como é dependente da natureza dinâ-
ideias que se fortalecem e ao mesmo mica do campo de possibilidades indi-
tempo complementam o par conceitual vidual, nos mundos sociais onde os in-
projeto e campo de possibilidades na divíduos se encontram inseridos e nas
obra de Gilberto Velho e sua antropolo- formas de organização pessoal interior a
gia e sociologia das sociedades comple- cada agente.
xas, largamente situada no campo inte- Os indivíduos, desta forma, po-
racionista de um Goffman, e fenome- dem acertar e concluir os seus projetos,
nológico de um Schütz. ou se perder em seus trajetos, como
Como uma consequência do jogo en- também podem redefinir os caminhos
tre projetos, e na definição de uma indi- adequando os meios aos fins projetados.
vidualidade, Gilberto Velho utiliza e É a este jogo, que só se constrói na
amplia metodologicamente o conceito vivência e manejos e adequações por
de metamorfose. Este conceito indica que passam os projetos, experimentados
que na experimentação e na procura de nos campos de possibilidades abertos a
realização de uma plêiade de projetos cada individualidade ou grupo específi-

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cos, que a noção de metamorfose re- As heranças ou tradições sociocultu-
mete. Isto é, os indivíduos sonham, pro- rais de um determinado contexto histó-
jetam, elaboram nas buscas de suas rea- rico, assim, vistas aqui através da noção
lizações, às vezes conseguem, às vezes de projeto coletivo não é, em Gilberto
têm que se desviar do rumo traçado, Velho, experimentado e vivenciado de
voltando um tempo depois, abandonam maneira igual por todos os indivíduos
caminhos, seguem outros, se sentem que o compartilham. Existem diferentes
realizados ou não, e nessa trajetória curvas de vida, existem diferentes for-
consolidam uma curva de vida que é o mas de apreensão geracional, de gê-
resultado da experiência múltipla e das nero, de vivências de trajetórias apa-
mudanças sofridas pessoalmente ou rentemente comuns, do que se considera
grupalmente através de tocarem para normal ou desviante, do que se consi- 35
frente os seus projetos. dera vitória ou frustração, que alteram o
Nesse jogo se processam como ho- contexto a todo o momento, e criam
mens e mulheres individualizados mas tensão e negociação entre os indivíduos
em relações, sempre tênues e sempre envolvidos.
negociadas e sempre conflituais, de on- Estas são ideias trazidas das tradi-
de se veem como passado e presente e ções interacionistas, de um Erving
reprojetam futuros, em novas mudanças Goffman, de um Howard Becker, mas
para realizações e para frustrações, para também de um Robert Park, Louis Wir-
aproximações e para afastamentos de th, Howard Hughes, entre outros. E fe-
mundos sociais novos e velhos. E de nomenológica, de um Alfred Schütz e
onde constroem saudades, significações, de um Peter Berger. Assim como das
caminhares; mas também, de onde ve- análises simmelianas, em sua sociologia
lhos mundos deixam de ter significa- formal, e weberiana, com a sua análise
ções nas escolhas atuais e os indivíduos compreensiva.
que nele se situavam são sentidos atra- Ao mesmo tempo em que Gilberto
vés de sua pequenez, ou o seu contrário, velho acrescenta em sua leitura das tra-
onde mundos sociais que desejava per- dições simmeliana, weberiana, intera-
tencer não os aceitaram e são vistos cionista e fenomenológica o debate e a
sobre os olhos do ressentimento, da re- reflexão da tradição antropológica de
volta contida ou não, da frustração e da um Marcel Mauss, Bronislaw Mali-
exclusão. nowski, Louis Dumont, Lévi-Strauss,
Através dessas mudanças, desses go- Clifford Geertz, Victor Turner, Evans-
zos, dos sofrimentos, dos não sentidos Pritchard, Franz Boas, Roberto Cardoso
ou do ressentimento, os indivíduos e de Oliveira, Roberto DaMatta, Viveiros
grupos traçam trajetórias e conformam de Castro, entre tantos outros contempo-
curvas de vida. Uma curva de vida, as- râneos. E com outras tradições e lugares
sim, nada mais é do que o conjunto de de fala, a partir das interrelações havi-
trajetórias, de negociações, de mudan- das com a psicanálise e a psicologia, a
ças e experimentações de um indivíduo história e a literatura para a análise do
em relação com outros, indivíduo e das individualidades emer-
Uma curva de vida retrata uma vida gentes em um sistema social complexo
individual e sua singularidade frente a e heterogêneo.
outras vidas. Sempre como resultado de A análise conflitual, mas ao mesmo
opções, negociações e disputas no inte- tempo complementar, entre projeto in-
rior de um campo de possibilidades, isto dividual e projeto social ou coletivo em
é, dentro das perspectivas abertas pelo Gilberto Velho, enfim, demonstra à di-
contexto socio-histórico e cultural em nâmica, por um lado, entre um ethos
que um indivíduo está inserido. que permite indivíduos pertencentes a

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um mesmo espaço e tempo cultural e discussão das relações entre as emo-
societal se comunicarem, e deterem uma ções, a cultura e a sociedade foi acio-
cultura emocional comum. Ao mesmo nada em suas significações mais afina-
tempo em que, por outro lado, se con- das e encaixadas de hoje que concebem
formarem como individualidades sin- a categoria Emoções como a categoria
gulares, com projetos próprios, com chave de explicação antropológica e
desejos e ambições próprias. E traça- sociológica.
rem, assim, as suas trajetórias em curvas
Referências
de vida singulares.
Curvas de vida produzidas e monta- EVANS-PRITCHARD, Edward. Bruxaria,
das no elenco das opções feitas para os oráculos e magia entre os Azande. Rio de
caminhos projetados, que levaram à Janeiro: Jorge Zahar, [1937] 2005. 36
realização ou à frustração pessoal, e que DOUGLAS, Mary. Witchcraft, confessions
montaram perspectivas novas sobre as and accusations. New York: Routledge,
já traçadas. E que as exploram, as ne- [1970] 2004.
gam, as compartilham sempre com os GEERTZ, Clifford. A interpretação das
outros em um plano harmonioso ou culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
complementar, ou em bases conflituais GEERTZ, Clifford. Atrás dos fatos. Dois
e desgastantes, encaradas moralmente países, quarto décadas, um antropólogo.
como desejadas, ou como desviantes do Petrópolis: Vozes, 2012.
percurso desejado socialmente como
‘normal’. KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Emo-
ções, sociedade e cultura: a categoria de
Conclusão análise das emoções como conceito-chave
Os conceitos de projeto e de campo KUPER, Adam. Clifford Geertz: cultura
de possibilidades deste modo, em Gil- como religião e como grande ópera. Cultu-
berto Velho, organizam e tecem uma ra: a visão dos antropólogos. Bauru: E-
teia que molda um aparato teórico e DUSC, 2002.
metodológico significativo, para se pen- SCHÜTZ, Alfred. Collected Papers I. The
sar o Brasil contemporâneo, e para se Problem of Social Reality. (Phaeno-
pensar a complexidade social e cultural menologica). Norwell: Kluwer Academic
em sociabilidades quaisquer. Através de Publishers, 1974.
noções que giram em torno desse par SCHÜTZ, Alfred. Sobre fenomenologia e
conceitual, como individualismo de relações sociais. Petrópolis: Vozes, 2012.
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motivação social e psicológica, biogra- tamento desviante em Copacabana. Améri-
fia, visão de mundo e estilos de vida, ca Latina, v. 14, n.1/2, p. 3-9, 1971.
bem como as categorias de desculpa e
VELHO, Gilberto. A utopia urbana. Rio de
acusação e desvio, Gilberto Velho orga-
Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1973.
niza um modelo analítico que mais tarde
será utilizado largamente para a relei- VELHO, Gilberto. Observando o familiar.
tura proposta às ciências sociais brasi- In: Edson de Oliveira Nunes (Org.). A aven-
leira, nos anos de 1990 em diante, pelos tura sociológica: objetividade, paixão, im-
organizadores e pelos que fazem a an- proviso e método na pesquisa social. Rio de
Janeiro: Zahar Editores, p. 36-46, 1978.
tropologia e a sociologia das emoções
no país. VELHO, Gilberto. Individualismo e cultu-
Gilberto Velho é considerado, por- ra. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
tanto, um precursor desses novos cam- VELHO, Gilberto. Duas categorias de acu-
pos. Com ele, mais do que outros auto- sação na cultura brasileira contemporânea.
res também considerados precursores, a

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edição, Rio de Janeiro: Zahar, [1974] theoretical modes openings
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VELHO, Gilberto (Org.). Estigma e com- Velho's work. Key-words: Gil-
portamento desviante em Copacabana. Des- berto Velho, anthropology of
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Abstract: In the 1990s it can be


said the emergence of an anthro-
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interest in Brazil, and the struggle
within the academic field, for its
consolidation. Gilberto Velho can

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