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Natal/RN
2013
MUSICALIZAÇÃO ATRAVÉS DO ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTO
MUSICAL:
Um relato de experiência de ensino coletivo de violão no Núcleo de Música do SESI.
Natal/RN
2013
Catalogação da Publicação na Fonte
Biblioteca Setorial da Escola de Música
iii
RUBENS DA SILVA CASTRO
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof. Esp. Jacó Silva Freire – Orientador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_________________________________________________
Prof. Dr. Alvaro Alberto de Paiva Barros - Examinador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
________________________________________________
Prof. Ms. Eugênio Lima de Souza - Examinador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu pai celestial, o SENHOR Deus de toda a criação, que me deu forças para
persistir mesmo quando tudo parecia impossível, ele preparou o caminho a minha frente e
firmou os meus passos, a ele a honra e a glória! Agradeço ao meu orientador, Jacó Freire, pela
grande ajuda que me tem prestado desde antes que eu chegasse à universidade. Certamente ele
é uma das pessoas mais influentes na minha formação. Agradeço também a Sydney Xavier e
Egberto Trigueiro, dois grandes amigos que me ajudaram bastante ao logo dos anos que tenho
me dedicado a estudar música. Por fim, devo um muito obrigado a Iasmim Fernandes que
confortou e me ajudou grandemente em todos os momentos, mesmo naqueles mais difíceis.
Iasmim, muito obrigado por sempre me apoiar em tudo, você é muito especial na minha vida!
Sem todas essas pessoas eu jamais teria concluído este trabalho.
v
“LOUVAI ao SENHOR. Louvai a
Deus no seu santuário; louvai-o no
firmamento do seu poder [...] Louvai-o
com o som de trombeta; louvai-o com
o saltério e a harpa. Louvai-o com o
tamborim e a dança, louvai-o com
instrumentos de cordas e com órgãos”.
(Livro dos Salmos, 150: 1, 3 e 4).
vi
RESUMO
vii
ABSTRACT
The musical instruments collective teaching has been widely spread in Brazil, the U.S. and
European countries, democratizing music education and reducing costs to the students’
formation. The good results of this type of teaching for musical instruments learning and
musical initiation are notable. This monograph aims to report my personal experience as a
teacher of guitar collective classes at the Núcleo de Música do SESI (Social Service of the
Industry), as well as the actions developed in the musicalization process of children and
teenagers between eight and sixteen through guitar teaching. I describe the musicalization
process by collective classes with objectives that go beyond musical formation, for it also
includes the development of human values such as social, emotional and political awareness,
among others. It’s also made a report about the history of the Núcleo de Música do SESI and
the history of the musical instruments collective teaching in the Europe, USA and Brazil.
viii
LISTA DE FIGURAS
ix
LISTA DE ANEXOS
x
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 13
2.1 Fundação............................................................................................................ 24
4.6 Repertório........................................................................................................... 33
4.7 Arranjo................................................................................................................ 34
xi
4.8 O Ensino da Teoria Musical............................................................................... 35
4.9 Reflexões............................................................................................................ 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 37
REFERÊNCIAS..................................................................................................... 39
APÊNDICE............................................................................................................. 40
ANEXOS................................................................................................................. 45
xii
INTRODUÇÃO
O ensino coletivo de instrumentos musicais tem se tornado uma prática cada vez mais
utilizada como metodologia de iniciação musical e de formação de instrumentistas. Em
projetos sociais, conservatórios e até nas universidades este método tem sido adotado, não
apenas como um fator de democratização do ensino, mas também como importante
ferramenta que auxilia o desenvolvimento musical, agregando à formação artística, valores
como a cooperação, solidariedade, afetividade, consciência política e respeito mútuo. Valores
estes, que não são tão fáceis de serem desenvolvidos no ensino individual.
13
servir como um “norte” para outros professores que pretendem trabalhar com o ensino
coletivo de violão, sobretudo em projetos sociais. Comento também como cada aspecto
estudado favorece não só a prática instrumental dos alunos, mas também a formação musical
como um todo.
14
CAPÍTULO I – O ENSINO COLETIVO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS
Um fator importante que colaborou para que esta metodologia se estabelecesse nos
EUA foi uma forte uma efervescência cultural após a Guerra Civil, como é mostrado no
trecho a seguir:
Mas o uso do ensino de instrumento em grupo sofreu declínio no final do século XIX,
devido ao surgimento dos cursos de nível superior, e o fato de muitos professores criticarem a
prática coletiva de ensino. Estes professores defendiam a extrema especialização dos
instrumentistas. Então, o ensino individual de instrumentos foi adotado pelas universidades e
também retornou aos conservatórios.
Nos Estados Unidos, o ensino coletivo apresenta três fases importantes: a primeira é
marcada pelo período em que as academias recebiam um grande número de alunos para as
aulas coletivas; a segunda é a dos conservatórios cujas turmas possuíam quatro alunos, e por
fim, a terceira, na qual as escolas públicas adotaram a música em sua estrutura curricular, com
aulas ministradas para grupos de alunos que se desenvolvem musicalmente em conjunto.
15
1.2 A origem do ensino coletivo de instrumentos no Brasil
Segundo o portal virtual do Conservatório de Tatuí1, esta banda surgiu com o objetivo
de participar de uma festa nobre na região, dedicada à Santa Cruz, que existia desde 1847. O
regente nomeou a banda homenageando o evento, chamou-lhe Banda Santa Cruz, sendo seu
nome original Sociedade Musical Santa Cruz.
A banda Santa Cruz existe até os dias atuais, e é chamada Corporação Musical Santa
Cruz. Ao final do século XIX os integrantes da banda passeavam pelas ruas durante a
madrugada fazendo o que chamavam de “alvorada”, e despertavam a população da cidade
para mais um dia de trabalho. Assim, outras bandas surgiram e inclusive participavam de
disputas musicais com a banda Santa Cruz, sendo apenas reflexo da política local, e ao longo
dos anos, as bandas de música eram apreciadas em todo o país.
Logo no início do século XX, Tatuí passou por um forte desenvolvimento econômico
ligado às tecelagens. A cidade recebeu novos habitantes de diversas partes do Estado, e tanto
a vida social quanto a musical foi transformada. Nesta época, O professor José Coelho de
Almeida foi responsável por alguns experimentos através da formação de bandas de música
nas fábricas no interior paulista.
Até que no dia 13 de Abril de 1951, o Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos
de Campos” de Tatuí foi criado por lei estadual, e fundado oficialmente em 11 de agosto de
1954. Catorze anos mais tarde o número de alunos matriculados era de 250 (duzentos e
cinquenta), quantidade excessiva para as instalações originais.
1
Portal do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” de Tatuí que é mantido pela Secretaria
da Cultura do Estado de São Paulo.
16
do Estado. Mas, a mobilização em favor do conservatório foi forte, e coseguiu mudar a
decisão do governador que, em troca do não fechamento da escola, exigiu a troca da direção.
Desta maneira, o professor de flauta e regente José Coelho de Almeida, que na década
de 50, já realizava a formação de bandas de música nas fabricas do interior de São Paulo, em
1968 torna-se diretor do Conservatório Dr. Carlos de Campos, e na sua gestão a escola passou
por um crescimento bastante significativo. Neste período, Coelho de Almeida cria um projeto
de iniciação e aprendizado musical em conjunto, através de instrumentos de corda, os
professores eram Pedro Cameron e José Antonio Pereira.
Na década de 1970, Alberto Jaffé e sua esposa Dayse de Luca, uma renomada pianista,
dão os primeiros passos para o ensino coletivo de cordas fazendo alguns experimentos.
2
Projeto de lei nº 676/2004, do Deputado Waldir Agnello – PTB.
3
Alberto Jaffé já fazia seu primeiro recital de violino no Rio de janeiro aos oito anos de idade. Mais tarde, atuou
como professor, violinista, maestro e compositor.
17
Brasil inteiro. O nome dado ao programa foi Projeto Espiral, e o primeiro centro foi
estabelecido em Brasília. Um ano depois Jaffé e Dayse mudam-se para São Paulo a convite do
Serviço Social do Comércio (SESC) para trabalhar no projeto por quatro anos. Em 1992, o
casal mudou-se para os Estados Unidos, convidados pelo Pensacola Christian College, na
Califórnia, com o objetivo de editar seu objeto de ensino. “A edição denominada The Jaffé
String Program, faz parte do projeto Beka Book, e tem como objetivo a produção de vídeo-
aulas no modelo home school” (CRUVINEL, 2004, p.78).
18
1.4 Benefícios do ensino coletivo de instrumentos musicais
Por fim, sugere-se que os educadores musicais busquem meios de propor políticas
educacionais para a introdução do ensino coletivo de instrumento musical nas instituições de
ensino formal, em escolas de ensino básico e especializado, e em entidades de ensino informal
19
como, por exemplo, as ONGs, as casas de Cultura e os projetos sociais, a fim de defender uma
escola crítica e transformadora, ligada ao empenho coletivo de democratização da sociedade.
No que diz respeito ao ensino tutorial, Cristina Tourinho4 afirma ser esta uma
metodologia de ensino das escolas especializadas que privilegia poucos escolhidos, por meio
de rigorosos testes de seleção, os quais incluem leitura musical e execução de repertorio
europeu. Este processo de seleção quase sempre deixa de fora iniciantes que não
desenvolveram habilidades com o instrumento que gostariam de aprender. “É possível afirmar
que parte dos estudantes que inicia o aprendizado de um instrumento não se profissionaliza ou
nem mesmo pensa neste aspecto” (TOURINHO, 2007, p. 1). De modo que, muitos procuram
aprender a tocar um instrumento musical motivados apenas pelo prazer de conseguir produzir
sons. Ainda segundo Tourinho (2007) é possível ressaltar em favor do ensino coletivo que o
aprendizado é proveniente da observação e da interação com outras pessoas, assim como
desde o inicio somos influenciados pelos outros, aprendemos a falar, a andar, a comer.
4
Mestre e Doutora em Educação Musical pela UFBA. Diretora Regional da ABEM (2001-2005), chefe do
departamento de música aplicada (2001-2005), coordenadora do Programa de Pós Graduação em Música da
UFBA (2009-20110).
20
os estudantes não sabem ainda tocar o instrumento desejado e quando já tocam, fazem isso
sem ler qualquer partitura musical, ou seja, “de ouvido5”.
O segundo é que todos aprendem com todos. O professor é o modelo que toca com
facilidade, enquanto os alunos refletem as dificuldades individuais do grupo. E assim, como
no ensino tutorial, o professor do ensino coletivo corrige e incentiva seus alunos
demonstrando muitas vezes tocando o instrumento ao invés de explicar verbalmente. Uma
importante habilidade aprendida é a capacidade de não interromper uma performance em
conjunto durante a correção individual, feita através de um olhar, um sorriso ou um toque no
ombro.
O terceiro princípio trata do ritmo da aula, que deve ser planejada e direcionada para o
grupo, requerendo apenas do estudante a assiduidade, a disciplina e a concentração. Em
algumas ocasiões é necessário ter um “roteiro de apoio”, no qual se organiza os assuntos que
serão trabalhados em aula, para que isto resulte num melhor aproveitamento da aula por parte
dos alunos. É importante ressaltar que uma aula em grupo exige também grande atenção do
professor, que atende vários alunos ao mesmo tempo.
5
Maneira popular de se referir a uma pessoa que toca algum instrumento musical, mas não lê partitura.
21
Deste modo, o ensino coletivo de instrumentos não só favorece aqueles que têm o
desejo de aprender algum instrumento, mas tem também o objetivo de musicalizar aqueles
que não possuíam qualquer contato com o instrumento e/ou a música.
Segundo Tourinho (2007), a maioria dos professores que utilizam o ensino tutorial de
instrumentos musicais como metodologia, resiste a pratica de ensino coletivo. Muitos desses
professores acreditam que somente é possível conhecer e dominar o instrumento a partir de
aulas individuais, principalmente se o foco for o desenvolvimento profissional do aluno na
área musical. Desta forma posicionam-se contra o aprendizado em grupo para fins de
conhecimento avançado e atuação técnica na área, sendo possível apenas para amadores.
Alguns dos professores que defendem as aulas tutoriais acreditam que esta
proporciona ao aluno resultados eficazes e em um tempo menor, enquanto que no ensino
coletivo o prazo de tempo de aprendizagem seria mais longo. E ao contemplar várias pessoas
ao mesmo tempo, a qualidade deste ensino diminui, não sendo possível o total aproveitamento
da aula por parte do aluno, e da mesma maneira o objetivo do professor não é totalmente
atingido.
22
Outro argumento usado para a oposição ao ensino coletivo de instrumentos encontra-
se no fato de que, quando um estudante não comparece frequentemente as aulas, os outros que
vão assiduamente tendem a avançar. Porém, a dificuldade está em administrar o progresso dos
faltosos na medida em que voltam a frequentar as aulas, e muitas vezes essas dificuldades
encontradas se tornam em um dos maiores fatores de desistência dos cursos. Enquanto que na
aula tutorial, o faltoso retoma exatamente de onde havia parado sem qualquer dano ao
aprendizado. Aí a importância de se desenvolver a disciplina e a assiduidade exigida no
ensino coletivo.
23
CAPITULO II – BREVE HISTÓRICO DO NÚCLEO DE MÚSICA DO SESI
2.1 Fundação
A história do Núcleo de Música do SESI tem início a mais de trinta anos. Em 1980,
quando o Padre Thiago Theisen convida a professora Cândida Bezerra da UFRN para um
trabalho voluntário de iniciação musical por meio da flauta doce no Jardim de infância
Pinóquio da paróquia Santa Maria Mãe, no qual Candinha, como é conhecida, instruía
musicalmente as professoras do Jardim, que recebiam a tarefa de compartilhar os conteúdos
adquiridos aos seus alunos. Desta feita, surge a primeira experiência musical com Flauta Doce
(ver Anexo I).
Este trabalho ganhou força ao longo de alguns anos até que houve a necessidade de
integrar o ensino de outros instrumentos musicais. Daí acontece a criação do Núcleo de
Formação dos Instrumentistas da Zona Note (como era conhecido inicialmente), através do
Jardim de infância Pinóquio, em convênio com o Serviço Social da Indústria – SESI,
contando com o significativo apoio da professora Candinha Bezerra.
O Núcleo contava com a metodologia Suzuki em suas aulas. Trata-se de uma técnica
desenvolvida no Japão pelo violinista e pedagogo Shinichi Suzuki, que inicialmente ensina
“de ouvido”. Suzuki observou que as crianças em todo mundo aprendem suas línguas
maternas com aparente facilidade, apesar de todas as habilidades necessárias para comunicar-
24
se fluentemente. Com esta observação, Suzuki começou a ter suas primeiras ideias sobre
aquele que seria mais tarde o seu método de se aprender música. Embora o método Suzuki
seja usado também para o ensino de flauta, piano e violão, no Núcleo era utilizado somente
nas aulas de viola, violino, violoncelo, contrabaixo, teclado e percussão. Orienta o aluno,
trabalhando o crescimento de suas habilidades, incentivando-o a ter persistência, força de
vontade, e superar os obstáculos. Além disso, orienta e instrui, mesmo que o aluno ainda não
tenha tido qualquer experiência musical. Com apenas doze aulas este método proporciona ao
aluno a competência de tocar oito peças musicais.
Em março de 1999, foi formada a Orquestra Igapó (ver Anexo III), através do apoio
do Pe. Tiago e Candinha Bezerra, vinculada ao Núcleo de Formação de Instrumentistas da
Zona Norte, por meio do convênio firmado com o SESI. O primeiro regente foi o maestro
Luiz Antônio de Paiva que esteve à frente da primeira apresentação em agosto de 1999,
durante a V Semana de Cultura Popular.
26
CAPÍTULO III – O PROJETO SESI CRESCENDO COM ARTE
Criado em 2009 pelo Centro de Lazer e Cultura do SESI – Solar Bela Vista, o projeto
“SESI Crescendo Com Arte” tem o intuito de fortalecer as ações de arte e cultura já existentes
no Núcleo de Música do SESI (o antigo Núcleo de Formação dos Instrumentistas da Zona
Norte), bem como democratizar o acesso às manifestações artísticas para os trabalhadores da
indústria, seus dependentes e a comunidade em geral.
As turmas são compostas por quatro alunos e as aulas têm duração de uma hora. Os
alunos do curso de música recebem semanalmente uma aula prática de instrumento musical e
uma aula de teoria musical.
27
aspectos básicos da técnica instrumental e conceitos musicais elementares, que no meu caso,
só vieram a ser corrigidas com meu ingresso na universidade.
Foi então que comecei a pensar num modelo de conteúdos e métodos que usaria em
minhas aulas, até por que a supervisão do projeto deixou por conta dos professores a
elaboração dos planos de curso, porém sempre cobrando os devidos resultados.
Sabendo que se trata de um projeto que visa promover a inclusão social através do
ensino da música, o meu modelo de aula deveria adotar medidas que transmitisse essa idéia. O
modelo que optei para as minhas aulas se fundamentou sobre três aspectos: 1) o
desenvolvimento da musicalidade, no que diz respeito à apreciação, percepção, criação e
crítica; 2) o desenvolvimento da técnica instrumental e 3) a formação de repertório com
ênfase na música nacional e regional, resgatando e valorizando a nossa produção cultural.
7
O “como fazer” refere-se aos artifícios técnicos empregados para se executar um determinado trecho
musical. Já o “o que estou fazendo” trata da conscientização dos elementos musicais dentro de um fragmento
musical, como uma escala, arpejo ou acorde.
28
CAPÍTULO IV – RELATO DA EXPERIÊNCIA DE ENSINO COLETIVO DE
VIOLÃO NO NÚCLEO DE MÚSICA DO SESI
Na primeira aula, se tratando de alunos que estão tendo o seu primeiro contato com o
violão, eu apresento o instrumento mostrando cada uma das partes, e sua importância na hora
de se tocar e estabelecer uma postura correta, além de apresentar as diferentes maneiras de se
tirar som do instrumento, seja com melodia, harmonia ou até mesmo a percussão. Nesta
mesma aula eu costumo desmistificar algumas “crenças”, como por exemplo, a escolha do
nylon ou do aço.
Tenho observado que muitos alunos tinham ouvido falar que iniciantes tocam com
cordas de nylon, para não machucar tanto os dedos, enquanto que músicos experientes tocam
com cordas de aço, pois seus dedos já estão “calejados”. Eu explico a estes alunos que nylon
ou aço é uma questão de estilo, uma escolha que é feita de acordo com o gênero musical que
se pretende tocar e que não tem relação com amadorismo e profissionalismo. Também é
importante deixar claro para os alunos iniciantes, que existem instrumentos que são feitos
para suportar cordas de nylon, como o violão clássico tradicional, e outros instrumentos que
são projetados para cordas de aço, como o violão folk.
Outra idéia bastante recorrente, que os alunos trazem do senso comum, é que o estudo
do violão é uma pré-escola para o estudo da guitarra elétrica. Em virtude disto, se faz
necessário esclarecer que embora a guitarra elétrica e o violão tenham suas semelhanças, até
porque um se originou do outro, trata-se de dois instrumentos diferentes, que utilizam técnicas
distintas e que desempenham diferentes papéis nos diversos grupos musicais.
Também é de grande importância que neste primeiro momento dos alunos com a
música, alguns conceitos sejam definidos, como: grave e agudo, timbre, e outras questões
referentes às propriedades do som.
Uma dificuldade bastante comum para os iniciantes no violão é o fato de que não é tão
fácil visualizar as notas musicais no instrumento, pois no violão não há diferenciação das
notas por cores, por exemplo, como é o caso do piano (BARRETO 2008, p. 31). Para atender
29
a esta necessidade de visualizar de forma objetiva as notas musicais no braço do violão, se faz
necessário o uso de diagramas.
30
observam o que desejam executar. O foco está voltado para o resultado sonoro obtido e não na
decodificação de símbolos musicais. Baseando-se nesta prerrogativa, as primeiras melodias
são representadas pelos nomes das notas (sol, lá, si, ré...), já aprendidas anteriormente
conforme a imagem acima, para que os alunos tenham um maior estímulo à memória,
enquanto que a técnica necessária para a execução das músicas é aprendida por observação.
8
Sistema de escrita que se fundamenta na simplificação de uma tablatura, em que ao invés de se desenhar as
cordas e por sobre elas os números das casas, escreve-se o número da corda e em seguida o da casa. O
resultado é geralmente uma dezena, onde o primeiro número da dezena representa a corda do instrumento e
o segundo representa a casa.
31
que não conseguem fazer os acordes completos, até porque os primeiros acordes trabalhados
são acordes de fácil execução.
Ainda nesta primeira aula já se dá início ao estudo rítmico das “batidas” para
acompanhamento, iniciando com gêneros musicais mais populares e atuais como o Pop-Rock.
No estudo das batidas rítmicas o movimento realizado pela mão direita é escrito com o uso de
setas para melhor compreensão, enquanto que o ritmo é aprendido por imitação, usando o
violão como instrumento de percussão para um melhor entendimento.
32
No violão, acordes sem pestana é amplamente mais tocados do que os com pestana.
Em razão disto, alguns dos alunos se deparam com uma dificuldade que procuram esquivar-
se: A pestana. No entanto, se for dado um cuidado especial essa dificuldade logo será
transposta. As pontas dos dedos (falanges distais) da mão esquerda são mais condicionadas
para pressionar as cordas do violão do que a parte inferior do dedo indicador (falange
proximal) que faz a pestana. Exercícios cromáticos são indicados para o fortalecimento desta
região do dedo indicador.
Uma vez que a turma está conseguindo fazer as pestanas com qualidade razoável, são
estudados os acordes maiores e menores alterados (com sustenido e bemol), pois a maiorias
deles é feito com o uso da pestana.
Ao passo que os alunos vão aprendendo novos acordes eles começam a perceber certas
semelhanças, como a “fôrma” dos acordes. Partindo desta frequente dedução dos alunos é
feito um estudo teórico sobre tom, semitom, escala diatônica e cromática para associar com o
que eles já fazem na prática. Isto faz com que os alunos passem a ter uma percepção maior da
escala do instrumento, no que diz respeito à transposição de melodias e acordes, tornando as
notas do instrumento mais “visíveis”.
Para o estudo de acordes do tipo: diminuto, m7(b5), 7M, m7 e outros mais, o uso de
fôrmas acelera o entendimento dos alunos, uma vez que os mesmos já conseguem transpor os
acordes. Estes acordes são acrescentados aos poucos, de acordo com a demanda do repertório
trabalhado.
4.6 O repertório
33
Cada aluno tem total liberdade para desenvolver o seu próprio repertório,
independentemente do que é trabalhado em sala de aula, e para tal é estimulado todo o tempo.
A escolha do repertório também se dá em virtude de usá-lo para desenvolver alguns
elementos técnicos que cada música exige. Como por exemplo, tocar uma bossa-nova para
desenvolver o toque simultâneo dos dedos indicador, médio e anular, ou ainda um chorinho,
9
para aprimorar o toque do polegar, em virtude do frequente uso das “baixarias”,
características do choro.
Desta feita, o repertório assume a função não somente de ter um produto a ser
apresentado ao público, mas também de técnica aplicada, uma vez que o aluno é estimulado a
superar um aspecto técnico em virtude do desejo de tocar as músicas.
4.7 Arranjo
Antes de ser professor no Núcleo de Música do SESI eu nunca tinha feito um arranjo
formalmente, até porque não senti essa necessidade. Quando isso aconteceu eu optei por não
buscar um arranjo já pronto, pois este dificilmente seria apropriado para a instrumentação que
seria usada (flautas-doce e violões) e para o nível técnico dos alunos. Foi então que percebi
que seria minha a tarefa de escrever o arranjo.
O primeiro arranjo que escrevi foi para uma música do compositor Hermeto Pascoa,
intitulada “O Ovo”. A instrumentação utilizada foi: flauta solo, flautas-doce e dois violões
(ver Anexo VII), que era tocada com outras músicas regionais no mesmo programa. Por se
9
Segundo KIEFER (1977, p.15), O baixo contrapontístico e melódico, ou como classifica o baixo cantante, tão
característico do choro, foi e é amplamente utilizado no maxixe e no samba. Funcionando como uma segunda
melodia, a linha de baixo do choro, além de dialogar com a melodia principal define a harmonia conectando os
acordes. É um tipo de linha muito ornamentada, com grande quantidade de notas, fazendo uso constante de
semicolcheias e de tercinas, executada entre o C3 e o C1, e por isso soando bem em instrumentos que, como o
violão e o bombardino, possuem nos registros médio-graves a sua melhor sonoridade. Este tipo de linha ficou
conhecido como “baixaria do choro”, ou apenas “baixaria”.
34
tratar de um baião, seria importante adicionar ao arranjo algumas sincopes que são
características do gênero. A maneira que encontrei para usá-las sem confundir os alunos na
hora da execução foi fazendo com que elas se apresentassem em forma de ostinatos, que
devido a sua repetição ficou fácil de compreender.
Esse primeiro arranjo que escrevi se mostrou bastante abrangente, pois nele há partes
que demandam um nível técnico elementar, enquanto outras exigem uma técnica mais
aprimorada. Para mim também foi bastante proveitoso ter feito este arranjo, pois me garantiu
uma experiência para poder fazer outros.
Essas células rítmicas são feitas usando-se a percussão corporal e também o violão,
como instrumento percussivo. O ritmo é aprendido por imitação e quando os alunos já estão
fazendo com um bom desempenho lhes é apresentada a escrita tradicional referente ao ritmo
feito, como nos mostra a imagem a seguir:
35
4.9 Reflexões
Tem sido de grande importância para minha vida profissional poder participar de um
projeto como o SESI Crescendo com Arte. Assumir o compromisso de ensinar todos os dias
tem sido também um compromisso de aprender cada vez mais, a fim de sempre melhorar a
qualidade das aulas ministradas. Não é fácil lidar com adolescentes, quase sempre eufóricos e
cheios de questionamentos, mas a recompensa vem de cada aplauso recebido depois de uma
apresentação pública.
Fico muito feliz, pois às vezes depois de uma apresentação que fazemos geralmente
duas vezes ao ano, no fim de cada semestre, alguns jovens da platéia me procuram pra saber
como fazer para participar das aulas. Houve meses em que a procura foi tanta que somando
todas as minhas turmas havia um total de mais de setenta alunos. Tenho total consciência que
a maioria dos meus alunos não irão se profissionalizar como músicos, muito embora alguns já
apresentem esse desejo. Mas, entendo que a formação musical faz parte da formação da
cidadania e não temos negado isso aos alunos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse crescimento exorbitante se deve não somente ao fato desse tipo de ensino
favorecer a democratização, alargando as portas das instituições que o adotam. Até porque
vimos que no final do século XIX, que os conservatórios e universidades dos Estados Unidos,
substituíram o ensino coletivo pelo ensino tutorial. Na verdade, a utilização cada vez mais
frequente de métodos de ensino em grupo é resultado da comprovação dos muitos benefícios
que se tem ao aprender em conjunto. É comum vermos os frutos deste tipo de educação
musical estampado nas capas dos jornais, trabalhos científicos, palcos e tantos outros tipos de
mídia.
No Núcleo de Música do SESI, desde o seu início, com as aulas de flauta-doce com a
professora Candinha Bezerra até os dias atuais, o ensino coletivo tem esteve na instituição.
Como resultado do precioso trabalho que foi e vem sendo realizado no estabelecimento temos
uma geração inteira de pessoas musicalizadas durante os mais de trinta anos de trabalho
realizado. Alguns dos alunos que por lá passaram são hoje músicos profissionais, outros
saíram de lá direto para a universidade, e ainda outros, assim como eu, voltaram para a
instituição não mais como alunos, mas como professores.
Trabalhar no Núcleo de Música do SESI tem sido uma grande experiência para minha
vida profissional. Observar o desenvolvimento musical dos alunos é bastante gratificante, pois
estou certo que o trabalho tem alcançado seus objetivos. Ensinar todos os dias é também
aprender todos os dias, para que possamos sair da nossa “zona de conforto” e buscar novas
estratégias, a fim de ministrar uma aula com qualidade.
37
Por fim, acredito que este presente trabalho ajudará outros professores que trabalham
com o ensino coletivo de instrumentos musicais. Pois muitos dos princípios aqui tratados não
se aplicam somente ao contexto em que atuo, mas também podem ser inseridos em diversos
espaços em que se aprende música.
38
REFERÊNCIAS
KIEFER, Bruno. História da música brasileira: dos primórdios ao início do século XX. 4.
ed. Porto Alegre: Movimento, 1977. 140 p. (Coleção Luís Cosme, v. 9).
39
APÊNDICE
40
APÊNDICE B: Sistema de escrita por números.
41
APÊNDICE C: Arranjo da música “O Ovo”, composta por Hermeto Pascoal.
42
43
APÊNDICE D: Estudo das células rítmicas através da percussão corporal.
44
ANEXOS
45
ANEXO II: Inauguração do “Núcleo de Formação de instrumentistas da Zona Norte”, Com a
presença do Pe. Tiago, Candinha Bezerra, Luiza Braz e convidados. Data: 21/ 09 / 1998.
46
ANEXO III: Apresentação da Orquestra Igapó no Projeto Nação potiguar.
47
ANEXO IV: Capa do Jornal tribuna do Norte de 07 de outubro de 1998.
48