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RAE-cLÁSSICOS' ECOLOGIA POPULACIONAL DAS ORGANIZACOES

ECOLOGIA POPULACIONAL DAS ORGANIZACOES

RESUMO
Aperspectiva da ecologia populacional sobre as rela~óes organiza~ao-ambiente é urna proposta alternativa
para a perspectiva de adapta~ao dominante. A for~a das pressóes de inércia sobre a estrutura organizacional
sugere a aplica~ao de modelos que dependam da ~~mpeti~ao e sele~ao nas popula~óes das organiza~óes.
Neste artigo sao..discutidos vários desses modelos, bem como questóes que surgem da tentativa de aplica~ao
destes ao problema da organiza~ao-ambiente.

Mlchael T. Hannan
Stanford University

John Freeman
Unlversity of California - Berkeley

ABSTRAer A population eco!ogy perspective on organization-environment relations is proposed as an altemative to the dominant adaptation
perspective. The strength 01 inertial pressures on organizational structure suggests the application 01 mode1s that depend on competition and
seleetion in popu!ations olorganizations. Several such models as well as issues that arise in attempts to apply them to the olganization-environment
problem are discussed.

?ALAVRA5-CHAVE Ecologia populacíonal, ecología organízacíonal, rela<;ao organíza<;ao-ambíente, ínércía eSlnllUral, competi<;ao e
sele<;ao.
XEYWORDS Population ec%gy, organizational ec%gy, organization-envihi,nment I'elation, s~ructural inertia, competition and selection.
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MICHAEL T. HANNAN •JOHN FREEMAN

INTRODU~AO naturalque teorias enfatizando a tomada de decisao ado­


tem a visao de adapta~ao (March e Simon, 1958; Cyert e
A análise dos efeitos do ambiente sobre a estrutura orga­ March, 1963). Mesmo o celebrado casamento de
nizacional tem sido deslocada, recentemente, para urna Thompson (1967) entre os sistemas abertos e fechados
posi~ao central na teoria e pesquisa das organiza~oes. pensando em abordar a perspectiva de adapta~ao de um
Essa mudanc;a abriu um número enorme de possibilida­ modo explícito (veja, particularmente, a segunda parte
des. Porém, até o momento, nada de semelhante a plena do livro de Thompson).
promessa de mudanc;a foi realizado. Acreditamos que a De maneira'clara, os líderes das organiza~oes realmente
falta de desenvolvimento se deve, em parte, ao fracasso formulam estratégias e as organizac;oes se adaptam as
de produzir modelos ecológicos relacionados a questoes contingencias do ambiente. Como resultado, ao menos
de caráter preeminentemente ecológico. Sugerimos urna alguma relac;ao entre estrutura e ambiente deve reflettr o
reformulac;ao do problema em termos da ecologia popu­ comportamento ou a aprendizagem adaptativos. Contu­
lacional,l do, nao existe urna razao para concluir que a grande va­
Embora exista urna ampla variedade de perspectivas riabilidade estrutural das organizac;oes reflete somente
ecológicas, todas elas dao enfoque a selec;ao. lsto é, atri­ ou determinantemente urna adaptac;ao.
buem padroes na natureza a ac;ao dos processos de sele­ Existem muitas limitac;oes na habiliélade de adapta­
c;ao. O vasto acervo literário sobre as organizac;oes con­ c;ao das organizac;oes, ou seja, existem muitos processos
tribui para dar urna visao diferente, a qual chamamos de que geram urna inércia estrutural. Quanto mais fortes as
perspectiva de adaptac;ao. 2 De acordo com essa perspec­ pressoes, mais baixa a flexibilidade de a.daptac;ao das or­
tiva, subunidades da organizac;ao - geralmente coalizóes ganizac;óes e mais provável que a lógica da selec;ao am­
de gerentes ou coalizóes dominantes - fazem urna varre­ biental seja apropriada. Como conseqüencia, o proble­
dura do ambiente relevante para oportunidades e amea­ ma da inércia estrutural é importante na escolha entre os
c;as, formulam respostas estratégicas e ajustam a estrutu­ modelos de adaptac;ao e selec;ao.
ra organizacional apropriadamente. A possibilidade de a estrutura da organizac;ao conter
A perspectiva de adaptac;ao é vista mais claramente na um grande componente inercial foi sugerida por Burns e
literatura sobre gestao. Contribuintes desta assumem, Stalker (1961) e Stinchcombe (1965). Contudo, o assunto ,
,
geralmente, urna hierarquia de autoridade e controle que em sua globalidade tem sido ignorado. E, no entanto,
determina decisoes com relac;ao a organizaC;ao como um muitas proposic;óes importantes podem ser encontradas
todo no seu topo. Acontece, entao, que as organizac;oes na literatura organizacional.
sao afetadas por seus ambientes de acordo com os mo­ As pressóes inerciais 5urgem tanto de arranjos estru­
dos pelos quais os gerentes ou líderes formulam estraté­ turais internos quanto de restric;oes ambientais. Urna lis­ I
'1
gias, tomam decisoes e as implementam. Os gerentes ta mínima de restric;oes surge das seguintes considera­
particularmente bem-sucedidos sao capazes tanto de sal­ C;oes internas: 11';1'
: 1

'1,1'
vaguardar suas organizac;óes de perturbac;oes ambientais 1. O investimento da organizaC;ao em planta industrial, I:!,
como de organizar ajustes leves que exigem perturbac;ao equipamento e pessoal especializado constitui recur­ l

mínima da estrutura organizacional. sos que nao sao facilmente transferíveis a outras tare­
i rl
fas ou func;óes. A maneira pela qual tais despesas ¡
Urna perspectiva parecida, freqüentemente expressa ,
de forma diferente, domina a literatura sociológica sobre irreversíveis restringe as opc;óes de adaptac;ao é tao l'
I

o assunto. Ela tem um papel importante na análise fun­ óbvia que nao precisa ser mais discutida. iI
cional das relac;óes entre a organizac;ao e o ambiente de 2. Aqueles que tomam decisóes organizacionais também I
, I

Parsons (1956) e é encontrada em urna tradic;ao mais enfrentam restric;óes nas informac;oes que recebem. , ,1
I

estritamente weberiana (veja Selznick, 1957). É interes­ Muito daquilo que sabemos sobre o fluxo de informa­
sante notar que, enquanto os funcionalistas tem se inte­ c;ao por meio das estruturas organizacionais nos diz
, ,~
ressado sobre os efeitos do sistema e baseado muito da que os líderes nao chegam nem perto de obter a infor­
lógica de sua abordagem nos imperativos de sobreviven­ mac;ao completa sobre as atividades dentro da organi­
cia, eles nao tem lidado com os fenómenos de selec;ao. za~ao e sobre as contingencias ambientais que as
lsto é, provavelmer.te, urna reac;ao contra a teoria da or­ subunidades enfrentam.
ganizac;ao que reflete o darwinismo social. 3. As restric;óes da política interna sao até mais impor­
Os partidários da teoria das trocas também adotaram tantes. Quandb as organizac;óes alteram suas estrutu­
a perspectiva de adaptac;ao (Levine e White, 1961), e é ras, o equilíbrio político é alterado. Quando urna gama

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de recursos é fixada, a mudan<;a estrutural quase sem­ si<;ao de informa<;ao sobre ambientes relevantes é cus­
pre envolve redistribui<;ao de recursos através das tosa, particularmente em situa<;óes turbulentas em que
subunidades. Tal redistribui<;ao desorganiza o sistema a informa<;ao é mais essencial. Além disso, o tipo de
predominante de troca entre as subunidades (ou líde­ especialistas empregados pela organiza<;ao restringe
res de subunidades). Entao, ao menos algumas irao tanto a natureza da informa<;ao provável de ser obtida
resistir a qualquer proposta de reorganiza<;ao. Além (veja Granovetter, 1973) quanto o tipo de informa<;ao
disso, os benefícios da reorganiza<;ao estrutural pode­ especializada capaz de ser processada e utilizada.
rao ser tanto generalizados (projetados para beneficiar 3. Restrí<;ó~s de legitimidade também emanam do ambien­
a organiza<;ao como um todo) quanto de longo prazo. te. Qualquer forma de legitimidade que urna organiza­
Qualquer resPQsta política negativa tenderá a gerar <;ao tenha sido capaz de gerar constitui um recurso ao
custos a curto prazo que sao suficientemente altos até manipular o ambiente. Ao ponto que a adapta<;ao (por
o ponto em que os líderes organizacionais irao abrir exemplo, eliminando a instru<;ao universitária nas ins­
mao da reorganiza<;ao planejada (para urna discussao titui<;oes públicas) viola as exigencias da legitimidade,
mais ampla sobre como a política interna da economia acarretando custos consideráveis. Portanto, conside­
das organiza<;oes impede a mudan<;a ou adapta<;ao, veja ra<;óes sobre a legitimidade externa tendem a limitar a
Downs [1967] e Zald [1970]). adapta<;ao.
4. Finahnente, as organiza<;oes enfrentam restrí<;6es ge­ 4. Finalmente, existe o problema da racionalidade coleti­
radas por sua própria história. Urna vez que os padroes va. Um dos temas mais difíceis na economia contem­
de procedimento e distribui<;ao de tarefas e a autorida­ porilnea diz respeito ao equilíbrio geral. Se alguém quer
de se tornaram tópico de contratos normativos, os cus­ encontrar urna estratégia mais eficiente para um com­
tos de mudan<;a aumentaram enormemente. Contra­ prador ou vendedor individual em um mercado com­
tos normativos restringem o processo de adapta<;ao ao petitivo, nao precisa necessaríamente compreender que
menos de duas formas. Primeiro, fornecem urna justi­ exista um equilíbrio geral assim que todos os jogado­
ficativa e um príncípio organizador para aqueles ele­ res comecem a negociar. De um· modo mais geral, é
mentos que desejam resistir ao processo de reorgani­ difícil estabelecer que urna estratégia que seja racional
za<;ao (isto é, podem resistir em termos de um princí­ para urna única tomada de decisao seja também racio­
pio compartilhado). Segundo, os contratos normativos nal quando adotada para um grande número de deci­
impedem as graves considera<;6es de diversas rea<;oes s6es. Muitas solu<;óes para esse problema tem sido pro­
alternativas. Por exemplo, poucas universidades oríen­ postas na teoría do mercado competitivo, mas nao sa­
tadas apesquisa consideram seriamente o fato de adap­ bemos de nenhum tratamento para as organiza<;6es de
tar-se adiminui<;ao de matrículas eliminando a fun<;ao um modo geral. Até que tal tratamento seja estabeleci­
ensino. Manter essa op<;ao seria desafiar as normas da do, nao deveríamos presumir que a<;oes que serviram
organiza<;ao centraP a adapta<;ao de urna organiza<;ao a uma determinada
mudan<;a ambiental possam ser adotadas por outras
As pressoes externas concernentes a inércia parecem organiza<;6es concorrentes que possuem urna estraté­
ser, ao menos, igualmente fortes. Estas incluem pelo gia semelhante.
menos os seguintes fatores:
1. As barreiras fiscais e legais para entrar e sair dos mer­ Muitas dessas pressóes inerciais podem ser acomoda­
cados (amplamente definidos) sao numerosas. As dis­ das dentro da estrutura de adapta<;uC' isto é, pode-se
cussoes sobre o comportamento organizacional modificar e limitar a perspectiva a fim de considerar es­
enfatizam, de modo característico, as barreiras a en­ colhas dentro do conjunto de restri<;6es alternativas. Po­
trada (por exemplo, posi<;oes de monopólio licencia­ rém, assim o fazendo, limita-se enormemente o objetivo
das pelo Estado). As barreiras de saída sao igualmente da investiga<;ao. Argumentamos que, para lidar com as
interessantes. Existe um número crescente de casos em várias press6es inerciais, a perspectiva de adapta<;ao deve
que as decis6es políticas impedem as empresas de aban­ ser suplementada com a orienta<;ao de sele<;ao.
donarem certas atividades. Todas essas restri<;6es so­ Primeiramente, consideramos dois amplos aspectos
bre a entrada e a saída limitam a amplitude das possi­ que sao preliminares para o modelo ecológico. O pri­
bilidades de adapta<;ao. meiro diz respeito as unidades apropriadas de análise.
2. As restri<;6es internas sob a disponibilidade da infor­ Análises típids da rela<;ao das organiza<;6es com os am­
ma<;ao sao equivalentes as restri<;6es externas. A aqui­ bientes tem como ponto de vista uma única organiza<;ao

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MICllAH T. HANNAN •JOHN FREEMAN

defrontando-se com um ambiente. Argumentamos para tres níveis discutidos para a ecologia geral, com a orga­
um enfoque explícito sobre as popula~oes das organiza­ niza~ao individual tomando o lugar do organismo indi­
~oes. O segundo aspecto refere-se a aplicabilidade de vidual. A complexidade acrescentada surge porque as
modelos da ecologia populacional ao estudo da organi­ organiza~óes estao mais perto de se decomporem em
za~ao social humana. Nossa proposta substantiva se ini­ partes constituintes do que estao os organismos. É pos­
cia com a afirma~ao clássica de Hawley (1950, 1968) sível a membros individuais e subunidades se moverem
sobre a ecologia humana. Procuramos estender a obra de organiza~ao em organiza~ao de um modo sem parale­
de Hawley de duas maneiras: usando modelos de com­ los em urna organiza~ao nao-humana.
peti~ao explícita para especificar o processo de produ­ Exemplos da teoria e pesquisa que tratam dos efeitos
~ao do isomorfismo entre a estrutura organizacional e as dos ambientes sobre as organiza~óes sao encontrados em
demandas ambientais, e usando a teoria do nicho para todos os cinco níveis. Por exemplo, a conhecida análise
estender o problema para ambientes dinamicos. Argu­ de Crozier (1964) sobre os efeitos da cultura na burocra­
mentamos que a perspectiva de Hawley, modificada e cia focalizam os materiais culturais que os membros tra­
estendida desse modo, sirva como ponto inicial útil para zem para as organiza~óes. Na outra extremidade do
as teorias da ecologia populacional das organiza~oes. contínuum, encontramos análises dos "campos organiza­
cionais" (Turk, 1970; Aldrich e Reiss, 1976). Contudo, o
enfoque mais comum é sobre "a" organiza~ao e o "seu"
PENSANDO ORGANIZA~OES COMO POPULA~OES ambiente. De fato, essa escolha é tao difundida que pare­
AO RELACIONAR ORGANIZAqAO EAMBIENTE ce ser urna compreensao tácita de que as organiza~óes
individuais sao as unidades apropriadas para o estudo
Pouca aten~ao tem sido dada na literatura das organiza­ das rela~óes organiza~ao-ambiente.
~oes para assuntos referentes a unidades apropriadas de Defendemos para que seja feito um desenvolvimento
análise (Freeman, 1975). De fato, a escolha da unidade é paralelo da teoria e pesquisa em nível de popula~ao (e,
tratada de modo tao casual que sugere nao se tratar de em última análise, de comunidade). Por causa das dife­
um problema. Suspeitamos que o oposto seja verdadei­ ren~as de opiniao sobre os níveis de análise, "popula­
ro: que a escolha da unidade envolva problemas sutis e ~ao" tem, ao menos, dois referenciais. Tratamentos con­
tenha conseqüencias de longo alcance para a atividade vencionais da ecologia humana sugerem que as popula­
de pesquisa. Por exemplo, neste caso, determina qual das ~óes relevantes ao estudo das rela~óes organiza~ao-am­
literaturas ecológicas pode ser usada como suporte para biente sao aque1es agregados de membros anexados a
o estudo das rela~oes entre ambiente e organiza~ao. organiza~ao ou, talvez, servidos pela organiza~ao. Nesse
A compara~ao do problema da escolha da unidade que sentido, a organiza~ao é vista como análoga a comunida­
o analista organizacional enfrenta com aque1e que o de: possui seus meios coletivos de adaptar-se as situa­
bioecologista enfrenta é elucidativa. Para simplificar ao ~óes ambientais. O caráter de unidade de urna popula.
máximo, urna análise ecológica é conduzida em tres ní­ ~ao assim definido depende do resultado final comum.
veis: individual, populacional e comunitário. Os eventos Todos os membros compartilham, de certo modo, as con·
em um nível qua~e sempre tem conseqüencias em ou­ seqüencias do sucesso e do fracasso organizacionais.
tros níveis. Apesar dessa interdependencia, os eventos Usamos o termo popula~ao em um segundo sentido:
populacionais nao podem ser reduzidos a eventos indi­ para referir-se mais aos agregados das organiza~óes do
viduais porque os indivíduos nao refletem plenamente a que aos membros. As popula~óes de organiza~óes devem
diversidade genética da popula~ao. Adicionalmente, os ser semelhantes em alguns aspectos, isto é, devem ter
eventos comunitários nao podem ser simplesmente re­ algum caráter de unidade. Infelizmente, identificar urna
duzidos a eventos populacionais. Ambos empregam a popula~ao de organiza~óes nao é questao simples. Aabor­
perspectiva de popula~ao que nao é apropriada em nível dagem ecológica sugere que se tenha um enfoque no re­
individual. sultado final comum em rela~ao as varia~óes ambientais.
A situa~ao enfrentada pelo analista organizacional é Urna vez que todas as organiza~óes sao distintas, duas
mais complexa. Ao invés de tres níveis de análise, ele nao sao afetadas identicamente por qualquer choque
depara com cinco: (1) membros, (2) subunidades, (3) exógeno. No entanto, podemos identificar classes de or­
organizac;:oes individuais, (4) populac;:oes de organizac;:oes ganizac;:óes que sao relativamente hornogeneas em ter­
e (5) comunidades (populac;:oes) de organizac;:oes. Os mos de vulnet,abilidade ambiental. Note que as popula­
níveis 3-5 podem ser vistos como correspondentes aos c;oes de interesse podem mudar um pouco segundo a in­

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RAE·CLÁSSICOS •ECOlOGIA POPULACIONAl DAS ORGANIZA~OES

vestigal;ao, dependendo da preocupal;ao do analista. As mais provável que encontraremos tais diferenl;as no pri­
populal;oes das organizal;oes referidas nao sao objetos meiro e terceiro pontos listados anteriormente: estrutu­
de natureza imutável, mas abstral;oes úteis para propósi­ ra formal e ordem normativa. O último deles oferece, de
tos teóricos. modo particular, possibilidades intrigantes. Sempre que
Se tivermos de seguir as indical;oes dos biólogos de a história de urna organizal;ao, sua política e sua estrutu­
populal;oes, devemos identificar um análogo a nOl;ao de ra social sao convertidas em reivindical;oes normativas
espécie do biólogo. Várias espécies sao definidas, em últi­ (por exemplo, profissionalizal;ao e autoridade colegial),
ma análise, em termos de estrutura genética. Como Monod pode-se usar essas reivindical;oes para identificar formas
(1971) indica, é útil pensar no conteúdo genético de cada e definir populal;oes para a pesquisa.
espécie como uma.matriz. Essa matriz contém as regras Tendo definído a forma organizacional, podemos for­
para transformar energia em estrutura. Conseqüentemen­ necer urna definil;ao ma,is precisa de urna poPUlal;aO de
te, todas as capacidades adaptativas de urna espécie estao organizal;oes. Assim como o analista organizacional deve
resumidas na matriz. Se quisermos identificar urna espé­ escolher urna unidade de análise, do mesmo modo deve
cie análoga para as organizal;oes, devemos procurar por escolher um sistema para o estudo. Sistemas relevantes
tais matrizes. Elas consistirao de regras ou procedimentos para o estudo das relal;oes organizal;ao-ambiente sao,
para obter estímulos e agir sob eles a fim de produzir um geralmente, definidos pela geografia, pelas fronteiras
resultado ou urna resposta organizacional. políticas, pelo mercado ou considetal;oes de produtos etc.
O tipo de matriz identificada depende de preocupa­ Dada urna definil;aO para sistemas, a populal;ao de orga­
l;oes substantivas. Por exemplo, Marschak e Radner nizal;óes consiste de todas as organizal;óes dentro de urna
(1972) empregam o termo "forma organizacional"4 para fronteira particular que tém urna forma comum, isto é, a
caracterizar os elementos-chave da matriz como vistos populac;ao é a forma a medida que ela existe ou é com­
dentro de urna estrutura de tomada de decisao. Para eles, preendida dentro de um sistema específico.
a matriz ou forma tem duas fun¡;oes: urna fun¡;ao de in­ Ambos os usos do termo populal;ao (e as teorias eco­
formal;ao que descreve as regras usadas na obtenl;ao, lógicas expressas dessa maneira) mostram-se provavel­
processamento e transmissao de informa¡;oes sobre os mente benéficos ao estudo da estrutura organizacional.
estados dos ambientes externos; e urna funl;ao de ativi­ A primeira visao, mais comum, sugere que a estrutura
dade que declara as regras usadas na a¡;ao sobre a infor­ organizacional deveria ser vista como resultado de um
mal;ao recebida de tal forma a produzir urna resposta processo coletivo adaptativo. De acordo com essa visao,
organizacional. Até o ponto que se possam identificar estrutura e mudanl;a deveriam depender da adaptabili­
classes de organiza¡;oes que se diferenciam em relal;ao a dade das subunidades e do acesso diferencial das
essas duas fun¡;oes, podem-se estabelecer classes ou for­ subunidades aos recursos ambientais. A segunda visao
mas de organiza¡;ao. ignora as atividades adaptativas dos elementos dentro da
Urna vez que a nossa preocupa¡;ao vai além da tomada organizac;ao, exceto quando estas constituem a estrutura
de decisao, contudo, achamos a definil;ao das formas de organizacional. Essa focaliza a organizac;ao como urna
Marschak e Radner muito limitada. De fato, nao há urna unidade em adaptac;ao. Certamente ambas as perspecti­
razao para limitar a priori a variedade de regras ou fun­ vas sao necessárias. Entretanto, neste artigo estamos pre­
l;oes que possam definir matrizes relevantes. Portanto, para ocupados somente com a segunda.
nós urna forma organizacional é urna matriz para urna a¡;íio Finalmente, gostaríamos de identificar as proprieda­
organizacional, para transformar insumos em produtos des das populac;óes de mais interesse aos ecólogos
finais. Amatriz pode ser deduzida, geralmente, de modos populacionais. A principal preocupac;ao a esse respeito
um pouco diferentes, examinando qualquer um dos se­ foi expressa claramente por Elton (1927): "Ao resolver
guintes pontos: (l) a estrutura formal da organizal;ao no problemas ecológicos, estamos interessados no que os
sentido restrito - tabelas de organizal;ao, regras escritas animais fazem como um todo, enquanto animais vivos,
de opera¡;ao etc.; (2) os padroes de atividades dentro da nao como animais mortos ou como partes de animais.
organiza¡;ao - o que na verdade é feito por alguém; ou (3) Ternos que estudar as circunstancias sob as quais eles
a ordem normativa - os modos de organizar que sao defi­ fazem aquelas coisas, e, o mais importante, os fatores
nidos como corretos e apropriados tanto pelos membros limitantes que os impedem de fazer certas outras, Ao re­
quantos pelos setores relevantes do ambiente. solver essas questoes, é possível descobrir as razoes da
Para completar a analogia com as espécies devemos 'distribuil;:ao e". dos números dos animais na natureza'''.
procurar diferen~as qualitativas entre as formas. Parece Hutchinson (959), no subtítulo de seu famoso ensaio

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MICHAEL T. HANNAN •JOHN FREEMAN

Homage to Santa Rosalía, expressou o ponto principal to a mobilidade entre as formas (adaptac;:ao extrema). A
ainda de modo mais sucinto: "Por que existem tantos adequac;:ao seria entao definida como a probabilidade pela
tipos de animais?" Levando em conta as indicac;:oes des­ qual urna dada forma de organizac;:ao persistiria em um
ses distintos ecólogos, sugerimos que urna ecologia po­ ceno ambiente. Continuamos a pensar que tal aborda­
pulacional das organizac;:oes deveria procurar compreen­ gem tem valor, mas acreditamos, agora, que é prematuro
der as distribuic;:oes das organizac;:oes através das condi­ combinar os processos de adaptac;:ao e selec;:ao. Aprimei­
c;:oes ambientais e as limitac;:oes das estruturas organiza­ ra ordem de negócios é estudar processos de selec;:ao para
cionais nos diferentes ambientes, e procurar, de modo aquelas situac;:oes nas quais pressoes inerciais sao tao
mais geral, responder a seguinte pergunta: por que exis­ suficientemente fortes que a mobilidade entre as formas
tem tantos tipos de organizac;:oes? é improvável.
Além do mais, vale notar que a capacidade de adap­
tar-se está sujeita a evoluc;:ao ou a selec;:ao sistemática.
DESCONTINUIDADES NA ANÁLlSE ECOLÓGICA Como argumentamos em seguida, as organizac;:oes de­
senvolvem a capacidade de adaptar-se a um custo de bai­
A utilizac;:ao de modelos da ecologia no estudo das orga­ xar os níveis de desempenho em ambientes estáveis. Se
nizac;:oes apresenta muitos desafios analíticos envolven­ tais formas organizacionais adaptáveis sobreviverao ou
do diferenc;:as entre as organizac;:oes humanas e as nao­ nao (isto é, resistirao ase1ec;:ao) depende da natureza do
humanas em relac;:ao a seus componentes essenciais. Va­ ambiente e da situac;:ao de competic;:ao. Portanto, um pon­
mos considerar, primeiramente, a transmissao nao-ge­ to de vista da selec;:ao trata altos níveis de adaptabilidade
nética. Análises biológicas sao enormemente simplifica­ como resultados evolucionários particulares.
~ pelo fato de que a maioria das informac;:oes úteis re­ Há um segundo sentido em que a ecologia humana
lacionadas a adaptac;:ao ao ambiente (cuja informac;:ao parece diferenciar-se da bioecologia. Blau e Scott (1962)
chamamos de estrutura) é transmitida geneticamente. Os apontam que, adiferenc;:a da situac;:ao usual biológica, as
processos genéticos sao quase tao invariáveis que a con­ organizac;:oes individuais (e populac;:oes de organizac;:oes)
tinuidade na estrutura é urna regra. Um número peque­ tem um potencial para expandir-se quase sem limites. A
no de imperfeic;:oes gera mudanc;:as estruturais que, se capacidade de expansao dos elementos primitivos é um
aceitas pelo ambiente, serao transmitidas com quase ne­ problema por causa do nosso enfoque na distribuic;:ao
nhuma invariancia. A extrema invariancia estrutural das das formas orgaIüzacionais sobre os ambientes. Urna dada
espécies simplifica enormemente o problema de delimi­ forma (por exemplo, a burocracia formal) pode expan­
tac;:ao e identificac;:ao das populac;:oes. Mais importante, a dir-se por meio de algum sistema, mercado ou atividade,
adaptabilidade da estrutura pode ser identificada clara­ ou porque urna burocracia cresce ou porque muitas bu­
mente com taxas reprodutivas líquidas. Quando urna rocracias sao fundadas. Ambos os processos gerarao um
populac;:ao, com dadas propriedades, aumenta sua taxa aumento na prevalencia da atividade burocrática organi­
reprodutiva líquida após urna mudanc;:a ambiental, esta zacional. Urna aplicac;:ao literal da teoria da ecologia po­
segue aquilo para qual está sendo selecionada. É por isso pulacional ao problema da mudanc;:a organizacional en­
que os biólogos modernos tem estreitado a definic;:ao da volveria simplesmente contar números relativos nas po­
adequac;:ao da taxa reprodutiva líquida da populac;:ao. pulac;:oes. Tal procedimento pode deixar de lado um fe­
Tudo indica que a organizac;:ao social humana refiete nomeno de interesse central ao analista organizacional.
um grau maior de aprendizado ou adaptac;:ao. Como re­ Winter (1964), ao discutir o problema analítico aqui le­
sultado, é mais difícil definir a adequac;:ao de um modo vantado, sugere urna distinc;:ao entre sobrevivencia, que
mais preciso. Sob ao menos algumas condic;:oes, as orga­ descreve o destino da organizac;:ao individual, e viabili­
nizac;:oes podem sofrer tal mudanc;:a extrema que muda dade, que descreve a "porc;:ao de mercado" de urna dada
de urna forma para outra. Como conseqüencia, urna adap­ forma organizacional.
tac;:ao extrema pode aumentar as mudanc;:as observadas a Encontramos, ao menos, muito mérito em urna outra
tal ponto que imitem a selec;:ao. Isso é particularmente perspectiva sobre o problema do tamanho. Muitos teóri­
problemático quando as várias formas organizacionais cos tem afirmado que a mudanc;:a estrutural acompanha
sao similares em muitas dimensoes. o crescimento; em outras palavras, urna única organiza­
Defendemos em um artigo anterior (Hannan e c;:ao nao pode crescer indefinidamente e ainda manter a
Freeman, 1974) urna medida composta de adequac;:ao que sua forma original. Por exemplo, um rato nao poderia
inclua tanto a selec;:ao (perda real das organizac;:oes) quan­ possive1mente manter a mesma proporc;:ao do peso cor­

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poral em rela<;ao a estrutura óssea ao crescer tanto quan­ "[unidades de organiza<;ao 1 devem submeter-se aos ter­
to urna casa. Ele nem se pareceria com um rato nem ope­ mos-padroes da comunica<;ao e aos procedimentos-pa­
raria fisiologicamente como um. Boulding (1953) e Haire droes em conseqüencia dos quais eles desenvolvem ar­
(1959) argumentam que o mesmo é verdadeiro para as ranjos internos parecidos dentro dos limites impostos por
organiza<;oes. Caplow (1957), considerando o trabalho seus respectivos tamanhos" (Hawley, 1968, p. 338).
de Graicunas (1933) e outros, argumenta que a habilida­ Enquanto a proposi<;ao parece ser completamente
de de cada membro de urna organiza<;ao de continuar plausível segundo urna perspectiva ecológica, esta nao
tendo intera<;oes face a face com os outros membros di­ trata de m'uitas considera<;oes interessantes. Existem, ao
minui com o número de participantes da organiza<;ao. menos, dois particulares em que a formula<;ao do iso­
lsto cria urna mudan<;a na natureza das intera<;oes a tal morfismo deve ser modificada e estendida para dar urna
ponto que elas assumem um estilo mais impessoal e for­ resposta satisfatória a pergunta feita. A primeira modifi­
mal. Blau e muitos autores tem argumentado a favor de ca<;ao diz respeito ao mecanismo ou mecanismos respon­
efeitos causais similares do tamanho sobre a estrutura sáveis pelo equilíbrio. A esse respeito, o princípio do iso­
(Blau e Scott, 1962, p. 223-42; Blau e Schoenherr, 1971; morfismo deve ser suplementado por um critério de se­
Blau, 1972). Se for verdadeiro que a forma organizacio­ le<;ao e urna teoria de competi<;ao. A segunda modifica­
nal muda com o tamanho, os mecanismos de sele<;ao <;ao mostra que o princípio do isomorfismo nao trata do
podem, de fato, operar com rela<;ao a distribui<;ao de ta­ problema da adapta<;ao ótima para ambientes que estaD
manho. Quando grandes organiza<;oes predominam, pode sofrendo mudan<;as nem reconhece que as popula<;oes
ser útil ver isso como um caso especial de sele<;ii.o, no de organiza<;oes freqüentemente enfrentam ambientes
qual o movimento da "forma menor" para a "forma maior" múltiplos que impoem algumas demandas inconsisten­
é teoricamente indistinguível da dissolu<;ao ("morte") das tes. Urna compreensao das restri<;oes sobre as formas
organiza<;oes pequenas e sua substitui<;ao por ("nasci­ organizacionais parece requerer urna modelagem múlti­
mento" de) grandes organiza<;oes. pla e dinamica dos ambientes. Naturalmente, nao pode­
Em resumo, ternos identificado muitos desafios. O pri­ mos estender completamente o princípio de Hawley. Ten­
meiro diz respeito as duas fontes de mudan~a: sele<;ao e tamos somente esbo<;ar os principais pontos e sugerir
. aprendizado adaptativo. Percebemos que a literatura das conota<;oes particulares.
organiza<;oes tem dado excessiva enfase asegunda em de­
trimento da primeira. Sabe-se muito mais sobre as práti­
cas de tomada de decisao, previsao e outras do que sobre a TEORIA DA COMPETI~AO
sele<;ao nas popula<;oes das organiza<;oes. O segundo de­
safio envolve a distin<;ao entre sele<;ao e viabilidade: Se tal A primeira das amplia<;oes necessárias é urna especifi­
distin<;ao é necessária depende dos resultados da pesquisa ca<;ao do processo de otimiza<;ao responsável pelo iso­
sobre o tamanho que está atualmente sendo perseguido morfismo.]á discutimos dois mecanismos: a sele<;ao e o
por muitos pesquisadores de organiza<;oes. aprendizado adaptativo. O isomorfismo pode ocorrer ou
porque as formas nao-ótimas nao sao selecionadas em
urna comunidade de organiza<;oes ou porque aqueles que
oPRINCipIO DE ISOMORFISMO tomam as decisoes organizacionais aprendem respostas
ótimas e ajustam o comportamento organizacional de
Na melhor formula~ao desenvolvida sobre os princípios conseqüencia. Continuamos a focalizar o primeiro des­
da ecologia humana, Hawley (1968) responde a questao ses processos: a sele<;ao.
de por que existem muitos tipos de organiza<;oes. Segun­ A considera<;ao da otimiza<;ao levanta duas questóes:
do Hawley, a diversidade das formas organizacionais é quem está otimizando e o que está sendo otimizado?
isomórfica a diversidade dos ambientes. Em cada confi­ Geralmente se pensa que, como na teoria da firma, aque­
gura<;ao ambiental distinguível encontramos, em equilí­ les que tomam as decisoes organizacionais otimizam o
brio, somente aquela forma organizacional otimamente lucro sobre os conjuntos de a<;óes organizacionais. A
adaptada as demandas do ambiente. Cada unidade expe­ partir de urna perspectiva da ecologia populacional, é o
rimenta restri<;oes que a for<;am a se assemelhar as ou­ ambiente que otimiza. 5 Se as organiza<;oes individuais
tras unidades com o mesmo conjunto de restri<;oes. A estaD ou nao se adaptando de forma consciente, o ambi­
explica~ao de Hawley enfatiza os padróes de comunica­ ente selecion'a as combina~óes ótimas das organiza~oes.
~ao e os complementos estruturais daqueles padróes: Portanto, se há urna racionalidade envolvida, ela é a "ra­

76 • RAE • VOL 45 • :-;'3


MICHAEL T. HANNAN •JOHN FREEMAN

cionalidade" da selel;ao natural. A racionalidade organi­ O primeiro passo na construl;ao de um modelo ecológi- ­
zacional e a racionalidade ambiental podem coincidir na co de competíl;ao é declarar a natureza do processo de cres­
instancia das empresas nos mercados em competíl;ao. cimento populacional. No mínimo desejamos que o mode­
Nesse caso, o comportamento ótimo de cada empresa é lo incorpore a idéia de que os recursos disponíveis a qual­
maximizar o lucro, e a regra utilizada pelo ambiente (nes­ quer momento para cada forma de organizal;ao sejam finitos
se caso o mercado) é selecionar os maximizadores do e fixos. Isto corresponde anOl;ao de Hawley sobre o fome­
lucro. Fríedman (1953) faz uso dessa observal;ao para cimento limitado e aafirmal;ao de Stinchcombe (1965) de
propor a justificativa da teoría da firma em termos dos que as com~nidades humanas tem limitadas "capacidades
princípios da evolul;ao. Contudo, Winter (1964) argu­ de organizal;ao". Desejamos também incorporar a visao de
mentou de modo convincente que a situal;ao real é mui­ que a taxa na qual as unidades sao adicionadas as popula­
to mais complicada do que esta e que é mais incomum l;óes de organizal;oes depende de quanto da capacidade fixa
para a racionalidade individual e ambiental ou a racio­ já tenha sido esgotado. Quanto maior a capacidade nao
nalidade de mercado levar aos mesmos pontos de ótimo. utilizada em um ambiente, mais rápida deveria ser a taxa
Quando as duas racionalidades nao coincidem, nos vol­ de crescimento das populal;óes das organizal;oes. -Mas a
tamos ao comportamento otimizador do ambiente. taxa a que as populal;oes de organizal;óes podem se ex­
O enfoque na selel;ao provoca urna enfase na competí­ pandir em capacidades nao utilizadas variam.com as for­
-~ao. As formas organizacionais, aparentemente, nao con­ mas de organizal;ao. Portanto, existem duas consideral;oes
seguem florescer em certas circunstancias ambientais por­ ecológicas distintas: a capacidade de o ambiente apoiar as
que outras formas competem com essas pelos recursos formas de organizal;ao e a taxa de crescimento (ou dimi·
essenciais. Somente se os recursos que sustentam as orga­ nuil;ao) quando o apoio ambiental muda.
nizal;oes sao finitos e as populal;óes tem urna capacidade A fim de expressar o modelo de maneira formal, é útil
de expansao ilimitada, a competíl;ao deve acontecer. comel;ar com a funl;ao de controle que Hummon, Doreian
Hawley (1950, p. 201-3), seguindo Durkhein (1947), e Teuter (1975) usam para adicionar consideral;oes di­
entre outros, dá urna grande enfase a competil;ao como namicas a teoria de Blau sobre o tamanho e a diferencia­
urna determinante dos padroes da organizal;ao social. A l;ao. O modelo de controle afirma que a taxa de mudanl;a
característica distintiva do seu modelo está na enfase no tamanho de qualquer unidade (aqui urna populal;ao
sobre a natureza indireta do processo: "A al;ao de todos de organizal;oes) varia proporcionalmente com a dife­
sobre a oferta comum gera urna relal;ao recíproca entre renl;a entre o t~manho existente, X, e o nivel de equili­
cada unidade e todas as demais somente se o que urna brio do tamanho, X*, permitido naquele ambiente. En­
receber reduzir a quantidade que os outros podem obter. tao urna possivel represental;ao seria
Caso isso nao ocorra, ou seja, se as unidades nao se afe­
tarem ao restringirem urna oferta limitada comum, nao dX =J(X* - X) =r(X* - X) (1)
dt
existe competíl;ao" (Hawley, 1950, p. 202). No modelo
de Hawley, os processos de competíl;ao envolvem tipica­ Em (1), x* e r representam respectivamente o fome­
mente quatro estágios: (1) a demanda de recursos exce­ cimento .limitado ou a capacidade ambiental e a habili­
de a oferta; (2) os competidores se tomam mais pareci­ dade estrutural de as populal;oes das organizal;oes res­
dos enquanto as condil;oes-padrao de competil;ao pro­ ponderem as mudanl;as ambientais.
duzem urna resposta uniforme; (3) a selel;ao elimina os Urna forma particular do modelo de crescimento ge­
competidores mais fracos; e (4) os competidores depos­ ral em (1) embasa a maioria dos trabalhos de ecologia
tos se diferenciam ou territorial ou funcionalmente, pro­ populacional sobre a competíl;ao. Este é o modelo do
duzindo urna divisao do trabalho mais complexa. crescimento logístico (para crescimento per capita):
É surpreendente notar que há quase nenhuma confian­
l;a nos mecanismos competitivos no último trabalho de dX¡ =r X ( k¡ - X¡ ) (2)
dt ¡ ¡ k¡
Hawley. Particularmente, como notado anteriormente, a
razao elementar dada ao principio de isomorfismo usa onde X¡ denota o tamanho da populal;ao, k¡ é a capaci­
urna lógica de adaptal;ao. Propomos equilibrar o trata­ dade de o ambiente dar apoio a X¡ (este parametro é ge­
mento adicionando um foco expllcito sobre a competi­ ralmente chamado de capacidade de condul;ao) e r¡ é a
l;ao como um mecanismo de produl;ao de isomorfismo. 6 assim chamada taxa de aumento da populal;ao ou taxa
Dessa forma, podemos trazer um fico conjunto de mo­ na qual a popu4t<;ao cresce quando está muito abaixo da
delos formais para apoiar e conduzir o problema. capacidade de condul;ao.

jULJSET. 2005 • RAE • 77


RAE-CLÁSSICOS • ECOLOGIA POPULACIONAL DAS ORGANlZACOES

Como indicamos anteriormente, tanto k como f sao l;oes com coeficientes próximos a unidade) podem coe­
parametros ecológicos de importancia fundamental. Nos­ xistir somente sob urna razao k/ k¡ muito precisa. Como
sa pesquisa comel;ou a comparar várias formas de orga­ resultado, quando a n =a 12 =1, o equilíbrio de duas po­
nizal;oes estimando parametros de modelos como (2) para pulal;oes nao pode ser estável; qualquer choque exógeno
cada forma de organizal;ao. Até o momento ternos sido resultará na eliminal;ao de urna das populal;oes. Esse re­
bem-sucedidos com relal;ao as características estruturais sultado confirma a generalidade do amplamente citado
das organizal;oes, tais como a complexidade da ativida­ "princípio da exclusao competitiva" (Gause, 1934).7 De
de central para as varial;oes em f e k (Nielsen e Hannan, acordo coro esse princípio, duas populal;oes nao podem
1977; Freeman e Brittain, 1977). Esse trabalho, bem como ocupar continuamente o mesmo espal;o. Diz-se que duas
o de Hummon et al. (1975), nos dá a seguranl;a de que o populal;oes ocupam o mesmo espal;O na medida em que
modelo em (1) e/ou em (2) oferece urna boa aproxima­ dependem de recursos ambientais identicos. Se eles sao
l;ao do crescimento das populal;oes de organizal;oes. . identicos, entao a adil;ao de um elemento a X2 tem as
Até neste ponto ternos presumido que os limites do mesmas conseqüencias no crescimento de Xl e vice-ver­
crescimento refletem a natureza finita do ambiente (por sa; em outras palavras, os coeficientes de competil;ao sao
exemplo, a riqueza da comunidade e a combinal;ao das unitários. A conclusao é de que, quanto maior a similari­
habilidades ocupacionais). É o momento de reintroduzir dade dos dois competidores de recursos limitados, me­
a é"bmpetil;ao. De acordo com Hawley, a competil;ao en­ nor a probabilidade de que um único ambiente possa
tra indiretamente quando os competidores diminuem a manter os dois em equilíbrio.
oferta que é fixa. Podemos modelar isso seguindo a Se duas populal;oes de organizal;oes mantidas por re­
oriental;ao dos bioecólogos e estendendo o modelo de cursos ambientais identicos diferem em alguma caracte­
crescimento logístico. Por exemplo, consideremos urna rística organizacional, aquela populal;ao com caracterís­
segunda populal;ao de organizal;oes cujo tamanho é de­ tica menos ajustada as contingencias do ambiente ten­
notado por Xl' As duas populal;oes competirao se a adi­ derá a ser eliminada. O equilíbrio estável irá conter, en­
l;ao das unidades de urna ou outra diminui a taxa de cres­ tao, somente urna populal;ao que poderá ser considera­
cimento da outra. Isto será o caso quando ambas as po­ da isomórfica ao ambiente.
pulal;oes sao mantidas pelos mesmos tipos de recursos. A fim de ver as implícal;oes do modelo para a diversi­
Entao o modelo apropriado está representado pelo se­ dade organizacional, estenderemos o sistema de Lokta­
guinte sistema de equal;oes de crescimento (conhecido Volterra para incluir M competidores:
como equal;oes de Lokta-Volterra para populal;oes em
competil;ao) : ~¡ =r¡X¡(k¡-Xj-Ial)lk¡ (i=I, ... ,M). (5)

dX l
dt
=f¡ X1 (k¡ - X¡ - a 12 X2
k¡ ) (3)
O sistema geral (5) tem um equilibrio de comunidade:

(i = 1, .,. , M). (6)


dX 2
=r 2X2
( k
2- X2~2 a 2¡X I )

Estas equal;oes podem ser expressas na forma


dt
matricial:
Os coeficientes a¡2 e a 21 , chamados de coeficientes de
(7)
competil;ao, denotam a magnitude do efeito dos aumen­
tos em urna populal;ao sobre o crescimento da outra. onde x e k sao (M X 1) vetores coluna e A é a matriz
Nessa simples formulal;ao, a única conseqüencia da com­ da comunidade:
petil;ao é de diminuir a capacidade de condul;ao do am­
biente para urna populal;ao de organizal;oes.
A análise de (3) produz resultados qualitativos inte­ (8)
ressantes. Nao é difícil mostrar que um equilíbrio está­
vel de duas populal;oes existe para o sistema em (3) so­
mente se cujos elementos sao os coeficientes de competil;ao.
A chamada teoria da estrutura da comunidade envol­
(4) ve a análise do equilibrio comportamental do sistema de
equal;ao (7) na perspectiva dos postulados dos proces­
Portanto, populac;oes muito parecidas (isto é, popula­ sos de competic;ao. 8 Os resultados, no entanto, expres-

78 • RAE • VOL +5 • :\'3


MICHAEl T. HANNAN •JOHN FREEMAN

sos em termos de diversidade das espécies, sao muito cadas em toda a extensao das organiza<;óes em amplas
gerais. Em particular, pode-se mostrar que, quando o áreas de atividades, sem dúvida elas alteram o tamanho
crescimento na popula<;ao é limitado somente pelo dis­ das distribui<;oes das organiza<;oes. Mais freqüentemen­
ponibilidade de recurso, o número de recursos distintos te elas selecionam as organiza<;oes menores. Mas nao é
poe um limite superior na diversidade do sistema. 9 Ainda difícil imaginar situa<;oes nas quais organiza<;óes de mé­
de um modo mais geral, o limite superior na diversidade é dio porte - mais precisamente, aquelas com um nível
igual ao número de recursos distintos mais o número de médio de complexidade - seriam mais adversamente afe­
restri<;oes adicionais sobre o crescimento (Levin, 1970). tadas. Além de alterar o tamanho das distribui<;óes, tais
É difícil aplicar diretamente um ou outro resultado a regula<;oes indubitavelmente afetam a diversidade dos
fim de calcular o limite superior na diversidade mesmo arranjos organizacionais de outras maneiras. Aqui pode­
em um contexto nao-humano. A dificuldade principal é ria ser analisado o impacto da a<;ao do Estado sobre a
a de identificar restri<;óes distintas. Um grande número diversidade dos sistemas de contabilidade dentro das in­
de trabalhos empíricos é exigido se julgarmos como duas dústrias, currículos dentro das universidades, estruturas
restri<;óes distintas devem ser a fim de termos conseqüen­ departamentais dentro de hospitais etc. Em cada caso
cias distintas para os equilíbrios da comunidade. Os teo­ seria essencial determinar se a nova restri<;ao imposta
remas, contudo, implicam resultados qualitativos úteis. substituiu as restri<;óes de nível mais inferior; assim sen­
Se quisermos identificar mudan<;as"a:mbientais que acres­ do, a diversidade deveria diminuir ou, caso a restri<;ao
centem restri<;oes ao sistema ou as eliminem, podemos tenha se acumulado, a diversidade organizacional pro­
concluir que o limite superior da diversidade foi aumen­ vavelmente aumentaria.
tado ou diminuído. Para indicar a riqueza da teoria da competi<;ao sim­
Esse amplo resultado qualitativo tem um número po­ ples, propomos discutir brevemente um outro tipo de
tencial de aplica<;oes a problemas de pesquisa de interes­ teste empírico. Notamos acima que a pesquisa sobre a
se. Por exemplo, a expansao dos mercados e os mecanis­ regula<;ao podia preocupar-se com os impactos sobre as
mos do controle de estado por meio de sistemas sociais distribui<;óes das organiza<;oes por tamanho. O modelo
tendem a conseqüentemente eliminar ou reduzir o nú­ clássico das distribui<;oes do tamanho das organiza<;óes
mero de restri<;oes que sao idiossincráticas para os ambien­ (Simon e Bonini, 1958) propoe o seguinte processo sim­
tes locais. Da perspectiva do sistema maior, a expansao ples. Diversas organiza<;óes iniciam com o mesmo tama­
do centro económico e político, tenderia a substituir al­ nho. AIgumas delas sao capazes de elaborar ou tomar
gumas restri<;óes locais por outras mais uniformes. 50­ emprestadas algumas técnicas úteis ou mesmo inova<;ao
mente se os ambientes locais forem heterogeneos no co­ organizacional que as permitem crescer. Durante um
me<;o, a expansao do centro deveria reduzir o número de período de tempo especificado, o processo se repete com
restri<;óes sobre a organiza<;ao em todo o sistema. a mesma fra<;ao produzindo a inova<;ao requerida para
A teoria discutida implica, por um lado, que a mu­ obter um tamanho maior. No final, tal processo de cres­
dan<;a na estrutura de restri<;ao deveria diminuir a diver­ cimento produz a distribui<;ao logarítmica que caracteri­
sidade organizacional por meio da elimina<;ao de algu­ za tantas distribui<;oes de tamanho.
mas popula<;óes. lO Pode-se imaginar, por outro lado; que A teoria da competi<;ao sugere um refinamento desse
em alguns ambientes locais a combina<;ao de restri<;óes modelo clássico. Como foi afirmado anteriormente, se
locais inalteradas e um novo sistema maior possa aumen­ as grandes mudan<;as no tamanho organizacional sao
tar o número total de restri<;óes no sistema local. Naque­ acompanhadas por mudan<;as estruturais (mudan<;as na
le caso, a diversidade organizacional naqueles ambien­ forma), as organiza<;oes de tamanhos muito diferentes
tes locais deveria aumentar. Tal aumento resultaria na na mesma área de atividade tenderao a exibir diferentes
cria<;ao ou ado<;ao de novas formas organizacionais. formas. Como urna conseqüencia dessas diferen<;as es­
A crescente importancia do papel do estado na truturais, elas tendenio a depender dos diferentes con­
regula<;ao da a<;ao económica e social prove numerosas juntos de recursos ambientais (e restri<;oes), isto é, den­
oportunidades para analisar o impacto das mudan<;as em tro de qualquer área de atividade, padroes de uso de re­
estruturas de restri<;oes sobre a diversidade das formas cursos tenderao a ser especializados para segmentos da
organizacionais. Deve-se considerar o impacto das leis distribui<;ao de tamanho. Sendo esse o caso, as organiza­
de licenciamento, salário mínimo, saúde, legisla<;ao de <;oes competirao mais intensamente com organiza<;óes de
seguran<;a, a<;ao afirmativa e outros regulamentos sobre tamanho similares. Além disso, a competi<;ao entre pares
a a<;ao organizacional. Quando tais regula<;oes sao apli­ de organiza<;óes dentro de urna atividade será urna fun-

J'."USET 2005 • RAE • 79


RAE-CLÁSSICOS •ECOLOGIA POPULACIONAL DAS ORGANIZA~OES

c;:ao decrescente da distancia separando-as em gradiente desenvolver urna estrutura geral que nao esteja otima­
de tamanho. Por exemplo, pequenos bancos locais com­ mente adaptada a qualquer configurac;:ao ambiental úni­
petem mais com pequenos bancos, menos com bancos ca, mas ótima em relac;:ao ao conjunto total das configu­
regionais de média escala e dificilmente com bancos in­ rac;:oes. Em outras palavras, deveríamos encontrar orga­
ternacionais. Sob essas condic;:oes, alterac;:oes significati­ nizac;:6es especializadas em ambientes estáveis e instá­
vas na distribuic;:ao de tamanho indicam selec;:ao a favor e veis, e organizac;:6es generalistas em ambientes instáveis
contra certas formas organizacionais proximamente as­ e incertos. Se esta proposic;:ao simples é verdadeira ou
sociadas com relac;:ao ao tamanho. nao para 'organizac;:6es sociais, somente a pesquisa
Agora, vamos retornar ao modelo clássico. Quando empírica poderá dizer. Contudo, urna variedade de mo­
organizac;:oes de gr¡mde porte emergem, elas apresentam delos de ecologia populacional sugere que isto seja mui­
urna ameac;:a competitiva as organizac;:oes de médio por­ to simplista. Nao podemos esperar em um artigo desen­
te, mas dificilmente para aquelas de pequeno porte. De volver completamente os argumentos envolvidos. Em vez
fato, o avanc;:o das grandes organizac;:oes pode aumentar disso, indicamos as linhas principais de desenvolvimento
as chances de sobrevivencia daquelas pequenas de um com relac;:ao a urna perspectiva mais evocativa desenvolvi­
modo nao previsto pelo modelo clássico. Quando as gran­ da por Levins (1962, 1968): a teoria da largura do nicho.
des organizac;:oes entram, aquelas de distribuic;:ao de ta­ O conceito de "nicho", inicialmente emprestado dos
manho intermediário sao pegas pela armadilha. Qualquer -biólogos nos primórdios das ciencias sociais, tem um
que seja a estratégia adotada para lutar contra o desafio papel importante na teoria ecológica. Este nao é o lugar
em relac;:ao as formas maiores, elas sao mais vulneráveis para discutir os múltiplos usos do conceito (veja
na competic;:ao com as pequenas organizac;:oes e vice-ver­ Whittaker e Levin, 1976). O modelo a seguir usa a for­
sa, ou seja, ao menos em um ambiente estável os dois mulac;:ao de Hutchinson (1957). Desse ponto de vista, o
fins da distribuic;:ao de tamanho deveriam competir com (realizado) nicho de urna populac;:ao é definido como aque­
o meio (veja a seguir). Portanto, em urna análise longi­ la área no espac;:o restrito (o espac;:o cujas dimens6es sao
tudinal de distribuic;:6es de tamanho organizacional de­ os níveis de recursos etc.) no qual a populac;:ao compete
veríamos esperar ver o número de organizac;:6es de mé­ com todas as outras populac;:6es. Entao, o nicho consiste
dio porte diminuir sobre a entrada de organizac;:oes mai­ de todas aquelas combinac;:6es de níveis de recursos para
ores. Também esperaríamos a sorte das pequenas orga­ os quais a populac;:ao pode sobreviver e se reproduzir.
nizac;:oes melhorar assim que seus competidores fossem Cada populac;:ao ocupa um nicho distinto. Para o pre­
retirados do ambiente. Esse raciocínio se mantém geral­ sente propósito é suficiente considerar casos em que pa­
mente para a competic;:ao ao longo de um único gradien­ res de populac;:6es diferem com relac;:ao a urna única di­
te: aquelas intermediárias serao eliminadas em ambien­ mensao ambiental, E, e sao similares com relac;:ao a todas
tes estáveis (MacArthur, 1972, p. 43-6). as outras. Entao as posic;:6es competitivas relativas, po­
dem ser simplesmente resumidas como na Figura 1. Con­
forme representado nesta figura, urna populac;:ao, A, ocupa
AnORIA DO NICHO um nicho muito amplo, embora a outra, B, tenha con­
centrado a sua aptidao denotada por W, em urna faixa
o princípio de isomorfismo implica que as organizac;:6es muito estreita de variac;:ao ambiental. Essa distinc;:ao, ge­
sociais em equilíbrio exibirao características estruturais ralmente referida como generalismo versus especialismo,
que sao especializadas para salientar características do é crucial para a ecologia biológica e para a ecologia po­
recurso ambiental. Contanto que o ambiente seja estável pulacional de organizac;:oes.
e certo, esta proposic;:ao nao apresentará dificuldades. Mas Na essencia, a distinc;:ao entre especialismo e gene­
este se manterá quando o ambiente sofrer mudanc;:as pre­ ralismo se refere ao fato de urna populac;:ao de organi­
vistas ou imprevistas entre as tantas configurac;:oes alter­ zac;:6es prosperar porque maximiza sua explorac;:ao do
nativas? Embora os problemas levantados na tentativa ambiente e aceita o risco de ter aquela mudanc;:a am­
de responder a essa pergunta sejam complexos, faze-Io é biental ou porque aceita um nível mais baixo de ex­
crucial para desenvolver modelos adequados de rela¡;:oes plorac;:ao em troca de maior seguranc;:a. Se o equilíbrio
ambiente-organizac;:ao. da distribuic;:ao das formas organizacionais é ou nao
A intuic;:ao sugere que o isomorfismo assegura urna dominado pelo especialista depende, como veremos, dos
boa aproxima¡;:ao somente em ambientes estáveis. Em se conjuntos da 'aptidao e configura¡;:ao e das proprieda­
tratando de ambientes instáveis, as organiza¡;:6es deveriam des do ambiente.

"Ü • RAE • VOL -+5 • '<'3


MICHAEL T. HANNAN •JOHN FREEMAN

Parte da eficiencia resultante da especializar;ao é pro­ ganizar;ao, empregando pessoal especializado com habi­
veniente de baixos requisitos pela excessiva capacidade. lidades que excedam os requisitos de rotina de seus tra­
Dada urna incerteza, a maioria das organizar;oes mantém balhos. Essa é urna das razoes importantes para usar pro­
urna capacidade odosa para assegurar a confiabilidade fissionais em organizar;oes. Profissionais usam mais re­
na sua atuar;ao. Em um ambiente que muda rapidamen­ cursos nao somente porque eles tendem a ser mais bem
te, a definir;ao de capacidade ociosa também mudará fre­ pagos, mas também porque as organizar;oes devem per­
qüentemente. O que é usado hoje pode tornar-se exces­ mitir-Ihes mais liberdades de ar;ao (inc1uindo a liberda­
soamanha, e o que é excesso hoje pode ser crucial ama­ de para responder a grupos de referencia externos). As
nha. As organizar;oes que operam em ambientes em que organizar;oes, por sua vez, tornam-se mais flexíveis em­
a transir;ao de estado para estado é 'menos freqüente te­ pregando profissionais. Eles aumentam a sua capacida­
rao (em equilfbrio) de manter a capacidade ociosa em de de lidar com urna variável ambiental e as contingen­
um dado modelo de distribuir;ao por períodos de tempo cias que esta produz. Por exemplo, os hospitais e seus
mais longos. Enquanto aqueles encarregados de avaliar pacientes freqüentemente empregam obstetras e pedia­
a atuar;ao serao tentados a ver tais distribuir;oes como tras nas suas salas de parto, mesmo se um parto normal
desperdir;adoras, elas podem ser essenciais para a sobrevi­ pode ser feito igualmente bem, e talvez até melhor, por
vencia. Thompson (1967) afirmou que as organizar;oes parteiras. As habilidades do médico representam a capa­
distribuem recursos para as unidades encarregadas com a cidade ociosa para assegurar urna atuar;ao 'C'onfiável no
funr;ao de separar a tecnologia central da perturbar;ao caso de o parto nao ocorrer normalmente. Geralmente, o
ambientalmente induzida. Entao, por exemplo, firmas de pediatra examina o bebe imediatamente após o nasci­
manufatura podem reter ou empregar funcionários legais mento para ver se existe qualquer anormalidade que re­
mesmo quando eles nao estejam enfrentando litigio. queira ar;ao imediata. Se a mae tem seqüelas perigosas ao
A importancia da capacidade ociosa nao está comple­ dar a luz, e a crianr;a também precisa de atenr;ao, a pre­
tamente ligada ao problema de quanto será mantido. Ele senr;a do pediatra ,assegura que o obstetra nao terá que
também envolve a maneira como ela é usada. As organí­ escolher entre um deles para dividir a sua atenr;ao.
zar;óes podem assegurar atuar;oes confiáveis criando uni­ A capacidade ociosa pode também ser alocada ao de­
dades especializadas, como Thompson (1967) sugere, ou senvolvimento e manutenr;ao dos sistemas processuais.
elas podem alocar capacidade ociosa para partes da or­ Quando o grau de certeza de um dado estado ambiental

Figura 1• Fun~oes de aptldao (nichos) para especialistas e generalistas..

Aptidao

(w)

m E n

JUL /SET. 200j • RAE, 8l


RAE-CLÁSSICOS' ECOLOGIA POPULACIONAl DAS ORGANIZACOES

é alto, as operal;oes organizacionais deveriam ser roti­ cal;ao - mudando o nosso enfoque para os generalistas
neiras, e a coordenal;ao pode ser feita por regras formali­ individuais - é que agentes externos freqúentemente con­
zadas e o investimento de recursos no treinamento de fundirao capacidade ociosa com desperdício.
oficiais para seguirem esses procedimentos formalizados. Podemos investigar a evolul;ao da largura do nicho se
De fato, se o ambiente estivesse mudando (p =1), todos assumirmos que as áreas abaixo da curva de adaptal;ao
os participantes seriam habilitados de forma legal, e os sao iguais e que os especialistas diferenciam-se dos
procedimentos seriam perfeitamente mudados, nao ha­ generalistas no modo em que distribuem a quantidade
veria necessidade de qualquer estrutura de controle, fixa de ada'ptal;ao sobre os resultados ambientais. Os es­
exceto para monitorar o comportamento. Contudo, quan­ pecialistas competem com os generalistas em urna varia­
do a certeza diminui, as operal;oes organizacionais sao l;ao de resultados para os quais eles tem se especializado
menos rotineiras. Nessas condil;oes, maior distribuil;ao (por causa do nível fixo de hipótese de adaptal;ao). En­
de recursos para desenvolver e manter os sistemas pro­ quanto a varial;ao ambiental permanece dentro daquele
cessuais é contraprodutivo e as formas organizacionais intervalo (o intervalo [m,n] na Figura 1), os generalistas
ótimas distribuirao os recursos para sistemas menos for­ nao tem nenhuma vantagem adaptativa e nao seraó sele­
malizados, capazes de dar resposta mais inovadora (por cionados. Alternativamente, se o ambiente está apenas
exemplo, comites e grupos). Nesse caso, a capacidade ocasionalmente dentro do intervalo, os especialistas se
ociosa é representada pelo tempo aumentado que tais sairao pior que os generalistas. Esses breves comentários
estruturas empregam para tomar decisoes e pelo incre­ deixam clara a importancia da varial;ao ambiental para a
mento dos custos de coordenal;ao. evolul;ao da largura do nicho.
O ponto é que as populal;oes de formas organizacio­ Para simplificar, consideremos um ambiente que pode
nais serao selecionadas ou eliminadas dependendo da empregar somente dois estados e em cada período de­
quantidade de capacidade ociosa que mantem e como a cresce num estado um com a probabilidade p e no estado
alocam. Pode ser ou nao racional para urna organizal;ao dois com a probabilidade q =(1 - p). Assumamos ainda
particular adotar um padrao ou outro. O que pareceria que as varial;oes nos estados ambientais sao testes de
desnecessário para quem avaliasse o desempenho a um Bernoulli (independentes de período para período). Para
dado momento talvez fosse a diferenl;a entre a sobrevi­ essa situal;ao, Levins (1962, 1968) mostrou que a largu­
vencia e a falencia mais tarde. Do mesmo modo, as orga­ ra ótima de nicho depende de p e da "distancia" entre os
nizal;oes podem sobreviver porque os altos níveis de dois estados do ambiente.
profissionalizal;ao produzem coordenal;ao pelo ajuste Para ver isto, mudemos ligeiramente o enfoque. Como
mütuo apesar de urna aparencia um pouco caótica. Ou­ cada organizal;ao enfrenta dois ambientes, sua adequa­
tras, em que todas parecem saber precisamente o que l;ao dependerá de adequar-se aos dois ambientes. Pode­
alguém está fazendo a todo momento, podem fracassar. mos resumir o potencial adaptativo de cada organizal;ao
Em um dado conjunto de circunstancias ambientais, a representando estes pares de valores (adequal;ao no es­
pergunta ecológica fundamental é: quais as formas con­ tado 1 e no estado 2) em um novo espal;O cujos eixos sao
seguem sobreviver e quais as formas desaparecem? adequados a cada um dos estados, como na Figura 2.
Portanto o generalismo pode ser observado em urna Nessa represental;ao, cada ponto denota a adequal;ao de
popuhil;ao de organizal;oes, por sua dependencia de urna urna forma organizacional distinta. A nuvem de pontos é
ampla variedade de recursos simultaneamente ou pela designada "conjunto de adequal;ao". Presumimos que
manutenl;ao da capacidade ociosa a um dado momento. todas as adaptal;oes naturais possíveis estejam represen­
Essa capacidade ociosa permite que tais organizal;oes tadas no conjunto de adequal;ao.
mudem a fim de aproveitar os recursos que se tornam Nosso interesse está em determinar quais pontos no
mais prontamente disponíveis. As corporal;oes que ge­ conjunto de adequal;ao serao favorecidos pela selel;ao na­
ralmente mantem urna grande proporl;ao do seu tural. Note primeiro que todos os pontos no interior do
patrimonio total na forma fluida ("slack resources" em conjunto sao internos em termos de adequal;ao em pelo
termos da teoria da firma, Penrose, 1959; Cyert e March, menos algum ponto no limite do conjunto. Nesse sentido
1963) sao generalizantes. Em qualquer caso, o o limite, representado por urna linha continua, representa
generalismo é custoso. Sob circunstancias ambientais as possibilidades ótimas. Urna vez que a selel;ao natural
estáveis, os generalistas serao extremamente competidos maximiza a adequal;ao, esta deve escolher pontos sobre a
pelos especialistas. E a um dado ponto no tempo, urna linha divisória. Isto restringe nossa busca para encontrar
análise estática revelará a capacidade ociosa. Urna impli­ qual ou quais formas na linha divisória serao favorecidas.

82 • RAE • VOL. ~j • \J"3


MICHAEL T. HANNAN •JOHN FREEMAN

Quando a Figura 2b é desenhada, nenhuma forma or­ A fim de considerar a adaptac;:ao ótima meramente so­
ganizacional atua particularmente bem em ambos os esta­ brepomos a func;:ao adaptativa sobre o conjunto de
dos do ambiente: nenhuma forma apresenta altos níveis adequac;:ao e encontramos os pontos de tangencia da fun­
de adequac;:ao nos dois estados. Este será o caso quando os c;:ao adaptativa e das func;:oes de adequac;:ao. Os pontos de
dois estados estao "bem mais separados" no sentido que tangencia sao adaptac;:oes ótimas. As soluc;:oes para vári­
impoem sobre as organizac;:oes contingencias adaptativas os casos sao apresentadas na Figura 2. Se o ambiente é
muito diferentes. Em tais casos (veja Levins, 1968), o con­ completamente estável (isto é, p = 1), entao o especialis­
junto de adequac;:ao será cóncavo. Quando a distancia en­ mo é ótimo. Se o ambiente é maximamente incerto (isto
tre os estados é pequena, nao existe razao para que certas é, p = 0,5), o generalismo é ótimo no caso convexo (quan­
formas organizacionais nao possam atuar bem em ambos do as demandas dos diferentes ambientes nao sao muito
os ambientes. Em tais casos, o conjunto de adequac;:ao será desiguais), mas nao no caso cóncavo. De fato, como o
convexo, como na Figura 2a.
As func;:óes de adequac;:ao nas Figuras 2a e 2b descre­ Figura 2 - Adapta~ao ótima no ambiente de nuclea~ao fina; a,
vem situac;:oes adaptativas diferentes. O próximo passo é conjunto de adequa~ao convexa; b, conjunto de adequa~ao
modelar o processo de otimizac;:ao. Para tanto, introduzi­ concava.
remos mais urna distinc;:ao. Os ecologistas consideram útil
distinguir a variac;:ao ambiental espacial e temporal segun­
do a forma de nucleac;:ao. A variac;:ao ambiental é de
nucleac;:ao fina quando um elemento típico (organizac;:ao)
encontra muitas unidades ou réplicas. A partir de urna ,,
perspectiva temporal, a variac;:ao é de nucleac;:ao fina quan­ ,, P" 1.0
do durac;:oes típicas nos estados sao curtas em relac;:ao ao
tempo de vida das organizac;:oes. De outra forma, o ambien­ -,--------­
te é dito ser de nucleac;:ao rústica. A demanda por produ­
tos ou servic;:os é freqüentemente caracterizada pela varia­
c;:ao de nucleac;:ao fina, enquanto as mudanc;:as nas estrutu­
P" 0.5
ras legais sao mais tipicamente de nucleac;:ao rústica.
A diferenc;:a essencial entre os dois tipos de variac;:oes
ambientais é o custo das estratégias subótimas. O pro­
blema da adaptac;:ao ecológica pode ser considerado um
jogo de sorte no qual a populac;:ao escolhe urna estratégia
(especialismo ou generalismo) e entao o ambiente esco­ a
lhe um resultado (como por exemplo, jogando urna roo­
eda). Se o ambiente "aparece" em um estado favorável a
forma organizacional, ele prospera; caso contrário, ele
decresce. Contudo, se a variac;:ao é de nucleac;:ao fina (as
durac;:oes sao curtas), cada populac;:ao das organizac;:oes
experimenta muitos testes e o ambiente é experimenta­
do como urna média. Quando a variac;:ao é de nucleac;:ao
rústica, no entanto, o período de declínio derivado de p" 1.0
urna escolha errada pode exceder a capacidade organiza­
,,
cional para se sustentar em condic;:oes desfavoráveis. ,,
Para capturar essas diferenc;:as, Levins introduziu urna ,
func;:ao adaptativa para representar como a selec;:ao natu­
ral pesaria a adequac;:ao em cada estado em diferentes
"
, ,P =0.5
condic;:oes. Ao discutir a variac;:ao de nucleac;:ao fina, su­ ,,
gerimos que o ambiente fosse experimentado como urna
média. ll A func;:ao adaptativa apropriada, entao, simples­
mente pesa a adequac;:ao nos dois estados (WI e W2) se­
gundo a freqüencia de ocorrencia: A(W¡,W) = pWI + qWz. b

JUL~ET. Z005 • RAE • 33


RAE-CLÁSSICOS • ECOLOGIA POPULACIONAL DAS ORGANIZACOES

modelo é desenvolvido, o especialismo sempre tem su­ transmissao g~nética da estrutura "polimorfismo" ou
cesso no caso cóncavo. geneticamente mantida, a heterogeneidade da popula¡;ao
Primeiramente consideremos os casos nos quais o am­ será selecionada. Asugestao é de que as popula¡;oes com­
biente é estável (isto é, p = 1). Nao de maneira surpreen­ binem os tipos - diferenciando-se, por exemplo, pela cor,
dente, o especialismo é átimo. Os resultados para os am­ tipo sangüíneo etc. -, alguns dos quais sao especializa­
bientes instáveis divergem. Quando o conjunto de ade­ dos no estado 1 e outros no estado 2. Com tal combina­
qua¡;ao é convexo (isto é, as demandas de diferentes esta­ ¡;ao, ao mepos, urna por¡;ao da popula¡;ao sempre flores­
dos de ambientes sao similares eJou complementares), o cerá e manterá a diversidade genética que a permite con­
generalismo é ótimo. Mas quando as demandas ambien­ tinuar a florescer quando o ambiente muda de estado. O
tais diferem Ce o conjunto de adequa¡;ao é cóncavo), o conjunto de todas as popula¡;oes heterogeneas - como
especialismo é ótimo. Este nao é um resultado tao estra­ posto pelas propor¡;oes de especialistas para cada um dos
nho quanto parece. Quando o ambiente muda rapidamen­ dois ambientes - pode ser representado nos diagramas
te, o custo do generalismo é alto. Urna vez que as deman­ de adequa¡;ao como urna linha reta unindo os pontos mais
das nos diferentes estados sao desiguais, um considerável extremos com todas as combina¡;oes decrescendo sobre
gerenciamento estrutural é requerido dos generalistas. Mas esta linha.
como o ambiente muda rapidamente, estas organiza¡;oes A nuclea¡;ao rústica e a varia¡;ao da incerteza favore­
passarao a maioria do lempo empregando muita energia cem urna forma distinta de generalismo: o polimorfismo.
para ajustar a estrutura. Aparentemente é melhor, sob tais Nao ternos que procurar muito longe para encontrar um
condi¡;óes, adotar a estrutura especializada e conseguir resultado análogo. As organiza¡;oes podem se confederar
sobreviver em ambientes adversos. de tal modo que supra-organiza¡;oes consistam de con­
No caso de ambientes de nuclea¡;ao rústica é um tanto juntos heterogeneos de organiza¡;oes especialistas unem
mais complexo. Nossa compreensao intuitiva é que, urna recursos. Quando o ambiente é incerto e de nuclea¡;ao
vez que a dura¡;ao de um estado ambiental é longa, deve­ rústica e as subunidades sao de estabelecimento e elimi­
ria ser dado um peso maior para a adapta¡;ao inadequa­ na¡;ao difíceis, os custos de manuten¡;ao dessa estrutura
da. Isto é, os custos da adapta¡;ao inadequada pesam mais difícil sao mais do que compensados pelo fato de pelo
que qualquer vantagem adquirida pela escolha correta. menos urna parte da organiza¡;ao resultante ter um bom
Urna fun¡;ao adaptativa que apresenta esse resultado é o desempenho, independentemente das condi¡;oes ambien­
modelo linear-logaritmo de Levins: ACWI'W) =W¡ PW2 q. tais. Em termos do modelo sugerido anteriormente, nao
O método para encontrar as adapta¡;oes ótimas é o mes­ existem outras situa¡;oes em que organiza¡;oes federadas
mo. Os resultados encontram-se na Figura 3. Somente tenham urna vantagem competitiva. E até mesmo nesse
um caso difere do que encontramos para ambientes de caso, a única vez durante a qual elas tenham urna vanta­
nuclea¡;ao fina: a combina¡;ao da incerteza e da varia¡;ao gem é quando a varia¡;ao de nuclea¡;ao rústica é incerta.
de nuclea¡;ao rústica com conjuntos de adequa¡;ao cón­ Tal padrao de "empresa holding" pode ser observado
cavos. Vimos anteriormente que, quando tal varia¡;ao é nas universidades modernas. Matrículas e apoio a pes­
de nuclea¡;ao fina, é melhor especializar-se. No entanto, quisa crescem e diminuem ao longo do tempo, assim
quando a dura¡;ao dos estados ambientais é longa, os como o rendimento dos investimentos de doa¡;oes e a
custos dessa estratégia sao enormes. Longos períodos de beneficencia das legislaturas. Alguns desses recursos se­
nao-adapta¡;ao amea¡;arao a sobrevivencia da organiza­ guem ciclos previsíveis, enquanto outros nao. Mas é ex­
¡;ao. Além disso, o fato de que o ambiente muda menos tremamente caro construir e desmantelar unidades aca­
freqúentemente significa que as generalistas nao preci­ demicas. É custoso nao somente em termos de dinheiro,
sam gastar mais o seu tempo e energia alterando a estru­ mas também em consumo de energia devido ao conflito
tura. Assim, o generalismo é urna estratégia ótima nesse político. Conseqúentemente, as universidades estao sem­
caso, como podemos ver na Figura 3b. pre "taxando" as subunidades com ambientes abundan­
A combina¡;ao da varia¡;ao ambiental de nuclea¡;ao tes a subsidiarem aquelas menos favorecidas. É normal,
rústica e do conjunto de adequa¡;ao cóncava levanta urna por exemplo, que as universidades distribuam posil;oes
possibilidade adicional. A adaptal;ao ótima diante da in­ docentes de acordo com um plano geral prefixado,
certeza ambiental possui níveis suficientemente baixos subapoiando o rápido crescimento de departamentos e
de adequa¡;ao em ambos os casos. Parece claro que deva mantendo excesso de professores em outros. Esta expli­
existir urna solul;ao melhor. Levins discute esse caso em ca¡;ao parcial de estruturas incomodas que circundam os
profundidade e conclui que, para o caso biológico com a departamentos de artes, escolas profissionalizantes, la­

84 • RAE • VOL -+5 • N"3


i
,1
MICHAEL T. HANNAN . JOHN FREEMAN

i boratórios de pesquisa etc, é, ao menos, tao persuasiva está atualmente crescendo exponencialmente e novos
quanto as explical;6es que enfatizam a interdependencia resultados e modelos estao surgindo, Os produtos des­
1 intelectual entre as unidades, ses desenvolvimentos concedem aos estudiosos das or­
Muito mais pode ser dito a respeito das aplical;6es ganizal;6es um rico potencial para o estudo das rela­
1 da teoria do nicho as relal;6es organizal;ao-ambiente, l;6es organizal;ao-ambiente,
Ternos enfocado na simples versan destacando a influ­ Considere-se um exemplo, Na sua análise da adminis­
encia recíproca entre competil;ao e varial;ao ambiental tral;ao burocrática e profissional ou produl;ao, Stinchcombe
na determinal;ao da estrutura adaptativa ótima a fim de (1959) argumentou que a construl;ao de empresas nao
mostrar que o princípio do isomorfismo necessita de depende de funcionários burocraticamente organizados
urna expansao considerável para tratar das múltiplas devido as flutual;6es sazonais na demanda, Funcionários
conseqüencias ambientais e suas incertezas associadas, administrativos constituem um custo elevado que perma­
A literatura sobre ecologia a qual ternos nos referido nece aproximadamente constante ao langa do ano, Avan­
tagem de qualquer outra administral;ao profissional cus­
tosa (em termos de salários) é que a coordenal;ao do tra­
Figura 3 - Adaptacao ótima em ambientes de granulacao rús­ balho é efetuada por meio da confianl;a da socializal;ao
tica; a, conjunto de adaptacao convexa; b, conjunto de adap­
prior dos artesaos em relal;ao a organizal;ao. Posto que os
tacao cóncava.
níveis de emprego possam ser mais facilmente incremen­
tados ou diminuídos com a demanda sob o sistema ma­
nual, os custos administrativos sao mais facilmente alte­
"
" "p = 0.5 rados para irem ao encontro da demanda.
O recurso fundamental desse padrao é a varial;ao sa­
I " zonal na construl;ao. Em termos ecológicos, a demanda
/
/ ,," P = 1.0 ambiental é de nucleac;ao rústica. Além disso, os dois
. ---7------,,-­
estados definidos pela estal;ao sao bem diferentes, resul­
tando em urna curva de adequac;ao cóncava, As firmas
de construl;ao civil profissional sao provavelmente bem
ineficientes quando a demanda atinge o seu pico e quan­
do o tipo de habital;ao em construl;ao é padronizado. Em
tais situal;óes, esperaríamos essa forma de organizal;ao
para enfrentar a dura competil;ao de outras empresas.
Por exemplo, em regióes onde a construl;ao civil é me­
nos sazonal, casas modulares, casas móveis e pré-fabricadas
a sao mais prováveis de prosperarem e esperaríamos que
os negócios no ramo da construc;ao civil fossem altamente
burocratizados,
Urna outra varial;ao na demanda está para ser encon­
trada no ciclo de negócios. Enquanto as flutual;óes sazo­
nais sao estáveis (incerteza é baixa), as taxas de juros, as
" relal;6es de trabalho e os custos de materiais sao mais
" p = 1.0
----r-----­
" difíceis de predizer. As varial;6es desse tipo deveriam fa­
I vorecer um modo generalista de adaptac;ao. Ou seja, quan­
/ do os ambientes sao de nucleal;ao rústica - caracteriza­
/ " dos pelas curvas de adequal;ao cóncavas - e incertas, as
I " " populal;óes das organizal;óes terao mais probabilidade de
...... ' ... " p = 0.5

~f,i1Wi>." . . '
sobreviver se elas limitam as suas apostas procurando
urna variedade mais ampla de recursos básicos. Por essa
razao, achamos que as organizac;6es de construc;ao ad­
ministradas profissionalmente sao freqüentemente
empreiteiras gerais que nao sornente constroem casas,
b mas também se engajam em outros tipos de constru<;:ao

JL:L ¡SU 22ú1 • RAE· ,,5


RAE-cLÁSSICOS' ECOLOGIA POPULACIONAL DAS ORGANIZA~OES

(shoppíng centers, edifícios de escritórios). Igualmente, a respondencia de um para um entre os elementos da orga­
casa modular é mais barata e as unidades sao instaladas nizal;ao social e aquelas unidades que agem como inter­
em espal;o alugado. Conseqüentemente, as taxas de ju­ mediárias dos fluxos de recursos essenciais para o siste­
ros sao menos importantes. Urna vez que as organiza­ ma. Explica as varial;oes nas formas organizacionais em
l;oes que produzem esse tipo de habital;ao nao empre­ equilíbrio, porém qualquer isomorfismo observado pode
gam profissionais especializados, mas usam a mao-de­ levar de urna adaptal;ao intencional das organizal;oes a
obra mais barata que elas podem obter, as relal;oes de restril;oes comuns que elas enfrentam ou porque as orga­
trabalho sao menos problemáticas. Pode ser também que nizal;oes nlio-isomórficas sao excluídas. Certamente os dois
sua dependencia em diferentes tipos de matérias (por processos estao funcionando na maioria dos sistemas so­
exemplo, chapas _de alumínio) contribua para um nível ciais. Acreditamos que a literatura sobre as organizal;oes
de incerteza mais baixo. Com conseqüencia, esperaría­ tem enfatizado a primeira em detrimento da segunda.
mos que essa forma de organizal;ao fosse mais altamente Suspeitamos que urna pesquisa empírica cuidadosa re­
especializada em sua adaptal;ao (é claro que existem tam­ velará que para muitas classes de organizal;oes existem
bém fatores técnicos que podem contribuir para isso). pressoes de inércia muito fortes sobre a estrutura surgin­
As empresas de construl;ao organizadas em funl;ao de do tanto dos arranjos internos (por exemplo, políticas in­
oficios (pedreiros, marceneiros, pintores, encanadores etc.) ternas) quanto do ambiente (por exemplo, legitimal;ao
se adaptam rapidamente as mudanl;as-na demanda, e elas pública da atividade organizacional). Afirmar de outra for­
podem se adaptar a problemas diferentes da construl;ao ma é ignorar a maioria das características óbvias da vida
variando a mistura de habilidades representadas em sua organizacional. Igrejas em decadencia nao se tomam lojas
forl;a de trabalho. As empresas de construl;ao administra­ de varejo; nem empresas se transformam em igrejas. Mes­
das burocraticamente sao mais especializadas econseqüen­ mo dentro de amplas áreas de al;ao organizacional, tal como
temente sao eficientes somente quando a demanda é alta, a educal;ao superior e a atividade sindical, parecem ser
e sao muito ineficientes quando esta é baixa. Acreditamos obstáculos substanciais para urna mudanl;a estrutural fun­
também que elas tendem a ser mais especializadas com damental. É necessário pesquisar sobre este assunto. Po­
relal;ao ao tipo de construl;ao. As empresas organizadas rém, até que se evidencie o contrário continuaremos a
em funl;ao de ofícios sacrificam a exploral;ao eficiente de duvidar que as principais características do mundo das
seu nicho pela flexibilidade. As organizal;oes burocráticas organizal;oes se originam por meio da aprendizagem e da
escolhem a estratégia oposta. Essa formulal;ao é urna ex­ adapta~o. Dadas essas dúvidas, é importante explorar urna
tensao daquela de Stinchcombe e serve para mostrar que explical;ao evolucionária do princípio do isomorfismo, isto
este argumento é essencialmente ecológico. é, desejamos embutir o princípio de isomorfismo dentro
de urna estrutura de selel;ao explícita.
Com o intuito de adicionar processos de selel;ao,pro­
DlscussAo pomos urna teoria de competil;ao usando os modelos de
Lotka-Volterra. Esta teoria depende dos modelos de cres­
Nosso objetivo neste trabalho tem sido orientar em dire­ cimento que parecem apropriados para representar tan­
l;ao a urna teoria moderna da ecologia populacional para to o desenvolvimento organizacional quanto o crescimen­
o estudo das relal;oes organizal;ao-ambiente. Para nós, a to das populal;oes das organizal;oes. Trabalhos recentes
questao central é: por que existem muitos tipos de organi­ de bioecólogos sobre os sistemas de Lotka-Volterra pro­
zal;oes? Formular a pergunta dessa maneira abre a possi­ duzem proposil;oes que tem importancia imediata para
bilidade de aplicar urna rica variedade de modelos formais os estudos das relal;oes organizal;ao-ambiente. Esses re­
para a análise dos efeitos das varial;oes ambientais na es­ sultados se relacionam com os efeitos das mudanl;as no
trutura organizacional. número e na mescla das restril;oes sobre os sistemas com
Comel;amos com a formulal;ao clássica de Hawley da relal;ao a um limite superior da diversidade das formas
ecologia humana. Contudo, reconhecemos que a teoria de organizal;ao. Propomos que tais proposil;oes possam
ecológica tem progredido enormemente desde que os so­ ser testadas examinando o impacto das variedades da
ciólogos aplicaram sistematicamente as idéias da regulal;ao de estado tanto no tamanho das distribuil;oes
bioecologia a organizal;ao social. No entanto, a perspecti­ quanto na diversidade das formas organizacionais den­
va teórica de Hawley permanece um ponto de partida muito tro de áreas de atividade amplamente definidas (por
útil. Em particular, concentramo-nos no princípio de exemplo, assistencia médica, educal;ao superior e publi­
isomorfismo. Esse principio afirma que existe urna cor­ cac;:ao de jornal). Urna extensao mais importante do tra­

86 • RAE • VOL.,j • :-.1'3


MICHAEL T. HANNAN •JOHN FREEMAN

balho de Hawley introduz considera~oes dinamicas. O Afirmada dessa forma, a proposi~ao parece óbvia. Con­
problema fundamental aqui se relaciona com o significa­ tudo, quando se le a literatura sobre as rela~oes organiza­
do do isomorfismo em situa~oes em que o ambiente para ~ao-ambiente, nota-se que essa afirma~ao nao é tao óbvia.
oqual as unidades sao adaptadas está mudando e é in­ O mais importante, a proposi~ao segue de um modelo
certo. As organiza~oes "racionais" deveriam tentar de­ explícito simples que tem a capacidade de unificar a am­
senvolver rela~oes estruturais isomórficas especializadas pla variedade de proposi~oes relacionadas com as varia­
com um dos possíveis estados ambientais? Ou deveriam ~oes ambientais para a estrutura organizacional.
adotar urna estratégia mais maleável e instituir caracte­ Ternos id~ntificado alguns dos principais obstáculos
rísticas estruturais mais generalizadas? O princípio do de caráter conceitual e metodólógico aplicados aos mo­
isomorfismo nao aborda esses problemas. delos de ecologia populacional no estudo das rela~aes
Sugerimos que a aplica~ao concreta do generalismo organiza~ao-ambiente. Indicamos as diferen~as entre'or­
para organiza~oes sao a acumula~ao e a reten~ao das va­ ganiza~ao social humana e nao-humana em termos de
riedades da capacidade ociosa. Reter a flexibilidade da mecanismos de invariancia estrutural e mudan~a estru­
estrutura requerida para a adapta~ao a diferentes resul­ tural, associadas aos problemas da delimita~ao das po­
tados ambientais exige que algumas capacidades sejam pula~oes das organiza~oes, e as dificuldades em definir a
mantidas em reserva e nao comprometidas com a a~ao. adequa~ao para as popula~oes de unidades expansíveis.
As generalistas serao sempre superadas em termos de atua­ -Em cada caso ternos meramente delineado os problemas
~ao pelas especialistas que, com os mesmos níveis de re­ e proposto simplifica~oes a curto prazo que facilitariam
cursos, conseguem atingir seu ambiente ótimo. Conse­ a aplica~ao de modelos existentes. Claramente, cada tó­
qüentemente, em qualquer corte transversal, as genera­ pico merece um exame detalhado.
listas parecerao ineficientes porque a capacidade ociosa No momento, estamos frustrados tanto pela falta de
será freqüentemente considerada desperdício. No entan­ informa~ao empírica sobre as taxas de sele~ao nas popu­
to, o enfraquecimento organizacional é urna característi­ la~oes das organiza~oes como pelos problemas sem re­
ca difusa dos muitos tipos de organiza~oes. A questao solu~ao mencionados. As informa~oes dos censos sao
que surge é: que tipos de ambientes favorecem as gene­ apresentadas de maneira a tornar impossível o cálculo
ralistas? Responder a essa pergunta nos leva a um longo das taxas de falencia; e pouca pesquisa longitudinal so­
caminho em dire~ao a compreensao da dinamica das re­ bre as popula~oes das organiza~oes tem sido relatada.
la~oes organiza~ao-ambiente. Contudo, ternos alguma informa~ao sobre as taxas de
Come~amos dirigindo a questao em urna estrutura su­ sele~ao. Sabemos, por exemplo, que as taxas de falencia
gestiva de teoria do sistema de adequa~ao de Levin (1962, para pequenos negócios sao altas. Em estimativas recen­
1968). Esta é urna classe recente de teorias que relacio­ tes, mais de 8% dos pequenos negócios de empresas nos
nam a natureza da incerteza ambiental a níveis ótimos Estados Unidos vao a falencia a cada ano (Hollander,
de especialismo estrutural. Levins argumenta que, além 1967; Bolton 1971; veja também Churchill, 1955).
da incerteza, deve-se considerar a nuclea~ao do ambien­ Em parte, esta alta taxa de fracasso reflete o que
te ou a irregularidade dos resultados ambientais. A teo­ Stinchcombe (1965) chamou de Onus da novidade. Mui­
ria indica que 'o 'especialismo é sempre favorecido em tas novas organiza~oes tentam entrar em nichos q¡¡e já
ambientes estáveis ou certos. Isto nao é urna surpresa. foram preenchidos pelas organiza~oes que acumularam
Mas, ao contrário da visao amplamente apresentada na recursos sociais, econOmicos e políticos que as tornam
literatura das organiza~oes, a teoria também indica que difíceis de serem desalojadas. É importante determinar
o generalismo nao é sempre ótimo em ambientes incer­ se existe ou nao alguma desvantagem seletiva de insigni­
tos. Quando o ambiente muda de estado de modo incerto, ficancia, e nao de novidade.
colocando demandas muito diferentes sobre as organi­ Duvidamos que muitos leitores discutirao o fato de que
za~oes, e a dura~ao dos estados ambientais é relativa­ as taxas de fracasso sao altas para organiza~oes novas elou
mente curta para a vida da organiza~ao (a varia~ao é de pequenas. Contudo, grande parte da literatura sociológi­
nuclea~ao fina), as popula~oes das organiza~oes que se ca e quase toda a literatura crítica sobre as grandes organi­
especializam serao favorecidas em rela~ao aquelas que za~oes aceitam tacitamente a visao de que tais organiza­
se generalizam. Isto porque as organiza~oes que tentam ~6es nao estao sujeitas a fortes pressoes de sele~ao. En­
adaptar-se a cada resultado ambiental gastarao mais tem­ quanto ainda nao ternos informa~ao empírica para julgar
po para ajustar-se estruturalmente e muito pouco tempo essa hipótese, podemos tecer vários comentários a respei­
na a~ao organizacional direcionada a outros fins. too Primeiramente, nao discutimos aqui o fato de que as

JUL.~ET 2005 • RAE • 87


RAE-CLÁSSICOS •ECOLOGIA POPULACIONAL DAS ORGANIZA~OES

grandes organizar;oes, quer individual ou coletivamente, a autoridade é delegada parece provavelmente ter um im­
exw;am um forte domínio sobre a maioria das organiza­ pacto duradouro sobre a estrutura organizacional. Este é
r;oes que constituem os seus' ambientes. Mas isso nao re­ o período durante o qual urna organizar;ao torna-se me­
sulta da observar;ao de que tais organizar;oes que sao for­ nos urna extensao de urna ou poucas de domínio indivi­
tes em qualquer período de tempo serao fortes sempre em dual e mais urna organizar;ao per se com urna vida pró­
todos os períodos. Assim, é interessante saber quao in­ pria. Se as pressoes de seler;ao, a este ponto, sao tao inten­
crustadas estao as maiores e mais poderosas organizar;oes. sas quanto as evidencias descritas sugerem que estas se­
Consideremos, na Fortune 500, as maiores empresas in­ jam, os modelos de seler;ao se mostrarao úteis em explicar
dustriais de capital aberto nos Estados Unidos. Compara­ as variedades de formas entre a extensao total de organi­
mos as listas de 1955 e 1975 (ajustadas por mudanr;as de zar;6es.
nomes). Da lista de 1955, somente 268 (53,6%) consta­ O otimismo do parágrafo anterior deveria ser abranda­
vam ainda na lista de 1975. Cento e vinte e dois tinham do pela realizar;ao de que, quando examinamos asorgani­
desaparecido por meio de fusao de empresas, 109 deixa­ zar;oes maiores e mais dominantes, estamos geralmente
ram as "500" e 1 (firma especializada em ar;úcar cubano!) considerando somente um pequeno número de organiza­
faliu. O número - cujo crescimento relativo de vendas lhes r;oes. Quanto menor o número, menos úteis sao os mode­
causou urna queda da lista - é muito impressionante e, los que dependem do tipo de mecanismos aleatórios que
com isso, um grande número de empresas que se fundi­ fundamentam os modelos de ecologiapopulacional.
ram tinha aberto muitas janelas na lista. Portanto, vemos Em quarto lugar, devemos considerar o que um leitor
que, enquanto a falencia foi rara para as maiores firmas anónimo, tomado pelo espírito do nosso trabalho, cha­
industriais nos Estados Unidos em um período de 20 anos, mou de ar;oes antieugenicas do estado em salvar empresas
existia urna grande volatilidade com relar;ao a posir;ao nessa da falencia, tais como a Lockheed. Este é um caso dramá­
estrutura de pseudodomínio devido tanto as empresas que tico do modo pelo qual organizar;6es dominantes de gran­
se fundiram quanto a um decréscimo nas vendas. u de porte podem criar conex6es com outras organizar;6es
Em segundo lugar, a escolha da p~rspectiva de tempo é grandes e poderosas a fim de reduzir as pressoes de sele­
importante. Mesmo as organizar;oes maiores e mais pode­ r;ao. Se tais ar;6es sao efetivas, elas alteram o padrao de
rosas nao conseguem sobreviver por longos períod~s de seler;ao. Em nossa visao, a pressao de seler;ao é aumentada
tempo. Por exemplo, das mil firmas em negócios nos Es­ para um nível mais alto. Entao, ao invés de organizar;6es
tados Unidos durante a Revolur;ao, somente 13 sobrevive­ individuais fracassarem, redes inteiras fracassam. A con­
ram como autónomas e 7 como divisoes reconhecidas das seqüencia geral de um grande número de conexoes desse
firmas (Nation~ Business, 1976). Aparentemente precisa­ tipo é um aumento na instabilidade do sistema inteiro
mos de um maior tempo de perspectiva para estudar I
a (Simon, 1962 e 1973; May 1973), e, portanto, deveriamos
ecologia populacional das organizar;oes maiores e mais ver causar um aumento e quebrar ciclos de resultados or­
dominantes ganizacionais. Entao, modelos de seler;ao adquirem im­
Em terceiro lugar, estudar as pequenas organizar;6es nao portancia quando os sistemas das organizar;6es estao fir­
é urna má idéia. Aliteratura sociológica tem-se concentra­ memente unidos (veja Hannan, 1976).
do nas organizar;oes maiores por razoes de designo Mas, se Finalmente, alguns leitores dos nossos primeiros esbo­
as pressoes de inércia sobre certos aspectos da estrutura r;os tem tratado (alguns positivamente, outros nao) nos­
sao suficientemente fortes, a intensa seler;ao entre as pe­ sos argumentos como metafóricos. Esta nao era a nossa
quenas organizar;oes pode restringir enormemente a vari­ intenr;ao. Num sentido fundamental toda a atividade teó­
edade observável entre as grandes organizar;oes. Ao me­ rica envolve urna atividade metafórica (embora reconhe­
nos alguns elementos da estrutura mudam de tamanho cidamente o termo "analogia" seja mais próximo do que
(como discutido na ser;ao "Descontinuidades na análise "metáfora"). O uso de metáforas ou analogias entra na
ecológica") e a pressao em direr;ao da inércia nao deveria formular;ao de frases do tipo "se oo. entao". Por exemplo,
ser enfatizada demasiadamente. No entanto, observa-se certos modelos genéticos moleculares trar;am urna analo­
grande mérito nos estudos do ciclo de vida organizacional gia entre as superfícies do DNA e estruturas de cristais.
que nos dariam informar;oes de quais aspectos da estrutu­ Estas últimas tem estruturas geométricas que se compor­
ra sao bloqueados durante as fases do ciclo. Por exemplo, tam de forma bem simples e capazes de se submeterem a
conjetura-se que um período crítico é aquele durante o urna análise topológica (matemática). Ninguém discute o
qual a organizar;ao cresce além do controle de um único fato de que as proteínas do DNA sao cristais; mas até um
proprietário/gerente. Nesse momento, a maneira pela qual nível que suas superfícies tem certas propriedades pareci­

oB • RAE • VOL. ·fj • ~03


MICHAEL T. HANNAN . JOHN FREEMAN

das com as dos cristais, o modelo matemático usado para muitas aplica~6es concretas (sociológicas ou biológicas).
analisar cristais vai iluminar a compreensao sobre a estru­ Nosso propósito tem sido duplo. Primeiro, delineamos
tura genética. Esta é, como nós a entendemos, a estratégia algumas altera~6es na perspectiva requerida se as teorias
geral da constru~ao do modelo. da ecologia populacional tiverem que ser aplicadas ao es­
Por exemplo, temos usado resultados que dependem tudo das organiza~6es. Segundo, queremos estimular a
da aplica~ao de determinadas equa~6es diferenciais reabertura de linhas de comunica~ao entre a sociologia e a
logísticas, as equa~6es de Lotka-Volterra. Nenhuma po­ ecologia. É urna ironia que o diagnóstico feito por Hawley
pula~ao conhecida (de animais ou de organiza~6es) cres­ (1944, p. 399) há 30 anos continue válido ainda hoje: "Pro-'
ce exatamente da maneira especificada pelo modelo ma­ vavelmente a maioria das dificuldades que incomodam a
temático (e este fatQ tem feito com que numerosos natu­ ecologia humana podem ser delineadas a partir do isola­
ralistas argumentem que o modelo é biologicamente sem mento do sujeito da corrente dominante do pensamento
sentido). O que as equa~6es fazem é modelar o cresci­ ecológico."
mento da trajetória das popula~6es que existem sobre os
recursos finitos em um sistema fechado (onde o cresci­
mento da popula~ao na ausencia de competi~ao é logístico
e a presen~a de popula~6es em competi~ao diminui a ca­
NOTAS
pacidade de manuten~ao naquele sistema). Até o ponto 1 Esta pesquisa foi apoiada, em parte. por doa~oes da Funda~ao Nacional

em que as intera~6es das popula~6es de Paramecium de Ciencia (GS-32065) e pela Funda~ao Spencer. Comentarios que muito
aureilia e P. caudatum (o experimento de Gause) satisfa­ nos ajudaram foram feitos por Amos Hawley. Fran~ois Nielsen,John Meyer,
Marshal Meyer, JelTrey Pfeffer e Howard Aldrich.
zem as condi~6es do modelo, o modelo explica certas ca­
racterísticas-chave da dinamica populacional e a rela~ao 2 Existe um relacionamento sutil entre sele~ao e adapta~ao. Aprendizado
das varia~6es ambientais com a estrutura. Até o ponto em adaptativo para indivíduos consiste, geralmente, na sele~ao de respostas
que as intera~6es populacionais de burocracias do tipo comportamentais. Adapta~ao para urna popula~ao envolve a sele~ao entre
tipos de membros. De modo mais geral, os processos envolvendo sele~ao
racional-legal e popula~6es de burocracias do tipo
podem normalmente ser mudados em um nivel mais alto de análise como
patrimonial também satisfazem as condi~6es do modelo, processos de adapta~ao. Contudo, urna vez que a unidade de análise é
o modelo explica os mesmos fen6menos importantes. Nem escolhida, nao existe ambigúidade em distinguir sele~ao de adapta~ao. As
o protozoário nem as burocracias se comportam exata­ organiza~oes freqúentemente se adaptam ás condi~Oes ambientais traba­
lhando conjuntamente; e isto sugere um efeito de sistemas. Embora pou­
mente como o modelo determina. O modelo é uma abs­
cos teóricos neguem a existencia de tais sistemas, a grande maioria nao
tra~ao que levará acompreensao sempre que as condi~6es considera esses sistemas com um tema central de sua preocupac;ao. É impor­
determinadas forem aproximadas. tante notar que, do ponto de vista dos sociólogos, cujos interesses enfocam
Sustentamos durante todo o tempo a hipótese da con­ em um sistema social mais amplo, a sele~ao em favor de organiza~Oes com
um conjunto de propriedades desfavoráveis áquelas com outras é, geral­
tinuidade de natureza. Propomos que sempre que as con­
mente, um processo adaptativo. Sociedades e comunidades que consis­
di~6es determinadas se mantem, os modelos levam a com­ tem em parte de organiza~Oes formais adaptam-se parcialmente por meio
preens6es valiosas sem levar em considera~ao o fato de de processos que ajustam a combina~ao de tipos de organiza~Oes dentro
que as popula~6es estudadassao compostas de delas mesmas. Ao passo que urna teoria completa de organiza~ao e ambi­
ente teria que considerar tanto a adapta~ao como a sele~ao, reconhecendo
protozoários ou organiza~6es. Nao discutimos "metaforl­
que sao processos complementares, nosso propósito aqui é mostrar o que
camente", isto é, nao discutimos da seguinte forma: urna pode ser aprendido ao estudar somente a sele~ao (veja Aldrich e Pfeffer
regularidade empírica é encontrada para manter certos [1976] para urna revi~ao sintética de literatura focalizando essas diferen­
protozoários; porque hipotetizamos que as popula~6es das tes perspectivas).
organiza~6es sao como popula~6es de protozoários em
J A discussao de Meyer (1970) a respeito de urna licen~a de organiza~ao
pontos essenciais, propomos que as generaliza~6es deri­ fornece mais apoio ao fato de que esses acordos normativos chegaram
vadas destas últimas também serao válidas para organiza­ cedo em urna história da orgamza~ao que restringe grandemente o alcan­
~6es. Este é o tipo de raciocínio pelo qual proposi<;:6es bi­ ce de adapta~ao da organiza~ao em rela~ao ás restri~óes ambientais.
ológicas tem entrado muito freqúentemente em discus­
; O termo "forma organizacional" é usado amplamente na literatura socioló­
s6es sociológicas (por exemplo, a desenvolvida analogia gica (veja Stinchcombe, 1965).
do organismo de Spencer).
Ao invés de aplicar leis biológicas a organiza~ao social 5 Assume-se que, em aplica~óes biológicas, o poder (no sentido físico) é

humana, defendemos a aplica~ao das teorias da ecologia otimizado pela sele~ao natural, de acordo com a lei de Darwin-Lotka. Para
o caso da organiza~ao social humana é possível argumentar que a sele~ao
populacional. Como indicamos em vários pontos, essas otimiza a utihzal;ao'de um conjunto específico de recursos envolvidos nao
teorias sao bastante gerais e devem ser modificadas para somente restritos ao poder e ao tempo dos membros.

JUL./SET. 2005 • RAE • d9


RAE-CLÁSSICOS •ECOLOGIA POPULACIONAl DAS ORGANIZA~OES

6Incluimos em nosso modelo de competi~ao somente o primeiro e tercei­ CHURCHILL, B. C. Age and Life Expectancy of Business Firms. Survey 01
ro estágios de Hawley. Preferimos tratar a uniformidade de resposta e a Current Business, v.'35, p. 15-9, 1955.
diversidade da comunidade como conseqüencias das combina~Oes de cer­
tos processos competitivos e caracteristicas ambientais. CROZIER, M. The Bureaucratic Phenomenon. Chicago: University of Chica­
go Press, 1964.
7Este principio tem os valores mais sugestivos (veja MacArthur [1972, p.
43-6} para urna critica mais refinada das tentativas de derivar implica~óes CYERT, R. M.; MARCH, J. G. A Behavioral Theory 01 the Firm Englewood
quantitativas do principio de Gause; a maioriadessas criticas nilo se aplica Cliffs, N.].: Prentice-Hall, 1963.
as dedu~oes qualitativas que consideramos).
DOWNS, A. Imide Bureaucracy. Boston: Little, Brown, 1967.
BRestringimos nossa aten~ao ao caso em que todas as entradas de A sao
nilo-negativas. Entradas negativas silo apropriadas para as rela~oes preda­ DURKHEIM, E. The Division 01 Labor in Socie/y. Glencoe, III.: Free Press,
dor/presa (ou, de forma mais geral, hospedeiro/parasita). O resultado tipi­ 1947.
co para esse caso é o crescimento ciclico da popula~ilo.
ELTON, C. Animal Ecology. London: Sidgwick & Jackson, 1927.
9 Urna formula~ilo mais precisa do teorema é que existe um equilibrio
FREEMAN, j. The Unit Problem in Organizational Research. In: Annual
nilo-estável para um sistema de M competidores e N < M recursos
Meeting of the American Sociological Association. San Francisco, 1975.
(MacAnhur e Levins, 1964).
FREEMAN, j.; BRITTAIN, j. Union Merger Processes and Industrial
10 Para urna formula~ilo
mais abrangente deste assunto com referencia a
Environments. Industrial Relations, v. 16, n. 2, p. 173-85, 1977.
organiza~ilo étnica, veja Hannan (I975).

FRIEDMAN, M. Essays on Positive Economics. Chicago: University of Chi­


11Que a sele~ao dependa de resultados médios é somente urna hipótese.
cago Press, 1953.
Templeton e Rothman (I 974) argumentam que a sele~ilo depende nilo de
resultados médios, mas de um nivel minimo de adequa~ilo. Se os resulta­ GAUSE, G. E The StruggleIor Existence. Baltimore: Williams & Wilkins, 1934.
dos médios ou outrO critério guiam a sele~ao nas popula~oes das organi­
za~Oes é urna questilo abena. Seguimos Levins com o intuito de simplifi­ GRAICUNAS, V. A. Relationship in Organizations. Bulletin 01 the
car a exposi~ilo. International Management Institute, mar., p. 183-87, 1933.

12 Ao menos a partir de algumas perspectivas, as fusOes podem ser vistas GRANOVETTER, M. S. The Strength of Weak Ties. American joumal 01
como mudan~as na forma. Isto será quase cenamente o caso quando as Sociology, v. 78, n. 6, p. 1360-80, 1973.
organiza~oes fundidas tem estruturas muito diferentes. Esta informa~ilo
também indica urna fone vantagem seletiva para urna forma conglomera­ HAIRE, M. Biological Models and Empirical Histories of the Growth of
da de organiza~ilo industrial. Organizations. In: HAIRE, M. (Ed.). Modem OrganiZation Theory. NewYork:
Wiley, 1959. p. 272-306.

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90 ' RAE ' VOL.) • W3

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