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Capitulo Alienagdo e ideologia a m Monroe, atriz transformada em icone, tem sua imagem reproduzida @ exaustéo, neste trabalho de Andy Warhol. Diante do a0 e da busca de afirmasao da individualidade nos resta indagar: “Come educar para além da mistificagao?”. A cultura pode ser contaminada por modos perversos que a desviam do pro- cesso de humanizacGo. Estes sGo a alie- nagGo e a ideologia, cujos riscos refletem nas defini¢ées dos objetivos de uma edu- ca¢do focada na emancipa¢éo humana. © trabalho — entendido no amplo sen- tido de atividade pratica e tedrica — € uma condigéo para a instauragao do mundo da cultura, mas, se as relacdes de poder néo forem democraticas, persiste acultura da dominagao, com nitidos pre- jvizos para a equitativa reparticéo dos bens sociais, sobretudo da educagéio. 1. O trabalho como préxis Vimos no capitulo anterior que as dife- rengas entre o ser humano e 0 animal nao so apenas de grau, porque o animal per- manece inserido de modo harménico na natureza, enquanto o ser humano € capaz de transformé-la, tornando possivel a cul- tura. A essa transformagio denominamos trabalho, entendido no sentido amplo de tra- balho material e intelectual. O trabalho é a aco transformadora dirigida por finali- dades conscientes. Nesse sentido, o castor, quando constréi um dique, ou o joao-de- -barro, sua casinha, nao est&o de fato “tra- 75 balhando”, pois esses atos nao sio delibe- rados, intencionais, nem movidos por fina- lidades conscientes, mas sim determinados pelo instinto e idénticos na espécie. Para 0 humano, ao contrario, 0 contato com a na- tureza s6 € possivel quando mediado pelo trabalho. Para designar a atividade humana dis- tinta da agao animal, costuma-se usar a pa- lavra praxis, conceito que se identifica com a nogao de pratica propriamente dita, mas significa a unio indissoliivel da teoria e da pratica, porque nao existe anterioridade nem superioridade entre uma e outra, mas sim reciprocidade. Ou seja, como praxis, qualquer ago humana é sempre carregada de teoria (explicagdes, justificativas, inten- Ges, previsbes etc.). Também toda teoria, como expresso intelectual de aces huma- as jd realizadas ou por realizar, é fecunda- da pela pratica. Convém ainda entender a praxis no seu contexto social, pois as agdes se realizam entre pessoas e grupos. Talvez o leitor se pergunte se & assim mesmo que funciona o trabalho na socie- dade em que vivemos, pois percebe, a0 contrario, que algumas profissées sio pre- dominantemente tedricas, enquanto outras se reduzem a formas rudimentares de tra- balho manual. Mais ainda, a relago que estabelecemos entre cultura, trabalho ¢ liberdade soa estranha, uma vez que, com certeza, no é essa a realidade que costu- mamos identificar na historia da humani- dade ou no dia a dia de cada um. Alias, a concepgao de trabalho sempre esteve ligada a uma visio negativa, que im- plica obrigacao ¢ constrangimento. Na Bi- blia, Adao e Eva vivem felizes até que sao expulsos do Paraiso. Adao 6, assim, “con- denado” ao trabalho com 0 Tosto”, cabendo a Eva, por su; balho” do parto, Analisando a etimol batho, descobrimos na 76 “suor do seu la vez, © “tra- logia da palavra tra- origem 0 vocabulo latino tipaliare, do substantivo tripalium, que designava um aparelho de tortura formadg Por trés paus ao qual eram atados og con, denados e que também servia para mante presos os animais dificeis de ferrat. Assim, vemos na propria etimologia da palavra g associacao do trabalho com tortura, soft. mento, pena, labuta. E apenas aparente, no entanto, a contra: digdo entre o que foi dito anteriormente ¢ 4 realidade dos fatos. O trabalho é, sim, con. digo de liberdade, mas desde que 0 traba. Ihador nio seja explorado, situacio em que deixa de buscar a satisfacaio de suas neces. sidades para realizar aquelas que lhe foram impostas por outros. Quando isso ocorre, trabalho torna-se inadequado — e até um empecilho — a humanizacdo: trata-se do trabalho alienado. 2. A alienagdo na sociedade industrial E 0 que é alienagao? O verbo alienar vem do latim alienare, “afastar, distanciar, sepa- rar”. Alienus significa “que pertence a outro, alheio, estranho”. Alienar, portanto, é tor nar alheio, é transferir para outrem o que éseu, Quando em uma sociedade existem segmentos dominantes que exploram 0 trabalho humano — como nos regimes de escravidao, de serviddo — ou ainda se, para sobreviver, © individuo precisa vender sua forca de trabalho em troca de um salario aviltante, estamos diante de situagdes de perda da posse daquilo que ele produz. O Produto do trabalho encontra-se separado, alienado de quem produziu. Coma perda da posse do Produto, 0 préprio individuo nao mais se pertence: nao escolhe o horé- Mio, o ritmo de trabalho, nem decide sobre © valor do salario; nao projeta o que sera feito, comandado de fora por forcas estra- has a ele. Devido a alienac&o do produto, © proprio individuo também se torna alie- Filosofia da ediicacdo nado, deixando de ser 0 centro ou a refee réncia de si mesmo. Veremos, a seguir, como a alienagio se manifesta na sociedade industrializada e, mais recentemente, na chamada sociedade pés-moderna, ¢ também como tudo isso re- percute no projeto de uma educagio preo- cupada com a formaco para o trabalho e para a cidadania, A alienag&o tornou-se mais critica com o desenvolvimento do sistema capitalista, partir do nascimento das fabricas, nos sécu- los XVII e XVIII. Os trabalhadores sofre- ram uma mudanga radical em relacio aos habitos adquiridos nas manufaturas, nas quais a atividade era até entio predomi- nantemente doméstica. Com 0 surgimento das fabricas — em que os trabalhadores se agrupavam em grandes galpées ¢ se sub- metiam a um ritmo de trabalho cada vez mais intenso —, acentuou-se a dicotomia concepgao-execugao do trabalho, ou seja, © processo de separagio entre aqueles que concebem, criam, inventam o que vai ser produzido e aqueles que so obrigados a simples execugio do trabalho. Como desenvolvimento do sistema fabril, 0 processo parcelado de produsio foi inten- sificado no inicio do século XX, quando o norte-americano Henry Ford introduziu a novidade da linha de montagem na indiis- tria automobilistica. A expresso teérica do processo de trabalho parcelado foi levada a efeito por Frederick Taylor (1856-1915), que estabeleceu os parametros do método cientifico de racionalizagio da producao, conhecido, dai em diante, como taylorismo. Esse sistema, que visa a aumentar a produ- tividade e economizar tempo, suprimindo gestos desnecessdrios € comportamentos supérfluos no interior do processo produti- vo, foi implantado com sucesso ¢ logo extra polou os dominios da fabrica, atingindo as demais empresas, os esportes, a medicina, a escola ¢ até a atividade da dona de casa. O taylorismo apresenta-se como um tipo de racionalizacao do trabalho, porque per- mite melhor previsio e controle de todas as fases de producio, Para tanto, 0 setor de planejamento se desenvolveu, tendo em vis- ta os diversos passos da execugao do traba- Iho. Da necessidade de planejamento resul- tou intensa burocratizagao: os burocratas sio especialistas na administragao de coi- sas e de pessoas, atividade que, supde-se, € exercida com objetividade e racionalidade. No entanto, essa imagem de neutralidade ¢ eficacia da organizagao, como se ela tivesse por base um saber desinteressado e simples- mente competente, é iluséria, Na verdade, a burocracia resulta numa técnica social de dominagio. Vejamos por qué. Nao é facil submeter 0 operario a um trabalho rotineiro, irreflexi- vo, repetitivo, reduzido a gestos estereotipa- dos. E de esperar que, se 0 sentido de uma agio nao é compreendido e se o produto de um trabalho nao reverte para quem o executou, seja bem dificil conseguir 0 em- penho de uma pessoa em qualquer tarefa. Para contornar a dificuldade, 0 taylorismo substituin a coago visivel, tipica da violén- cia direta de um feitor de escravos ou de um, contramestre de fabrica, por exemplo, por técnicas mais sutis de dominagao, que tor- nam o operario décil e submisso: as ordens de servigo vindas do setor de planejamento sio impessoalizadas, diluidas na organiza- cao burocratica, e nao mais com a face de um chefe que oprime. Com isso, a relagao entre ditigentes € dirigidos deixa de ser di- reta, ¢ sim intermediada por ordens inter- nas vindas de diversos setores, A eficiéncia torna-se um dos principais critérios dos negécios, estimulando-se a competigao por niveis cada vez maiores de produgao por intermédio de prémios, gra- tificagbes e promogoes. Isso gera a “caga” aos postos mais elevados, o que, por um lado, dificulta a solidariedade entre os em- Alienacdo e ideologia 77

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