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O MOVIMENTO ZEITGEIST
UMA NOVA FORMA DE PENSAR
(PARTE 1)
2
Sumário
Prefácio...................................................................................................................3
1 Visão geral..........................................................................................................6
2 A Visão cientifica do mundo.............................................................................16
3 Buscando soluções...........................................................................................24
4 Lógica vs psicologia...........................................................................................29
5 A questão da unidade humana.........................................................................37
6 O argumento final: a natureza humana...........................................................44
7 Definindo saúde pública...................................................................................52
8 História da economia........................................................................................68
9 Eficiência de mercado vs eficiência técnica....................................................104
16/12/2014
3
Prefácio
"O resultado de qualquer pesquisa séria só pode ser o de fazer surgir duas perguntas
onde antes só havia uma."
- Thorstein Veblen -
Origem do nome:
Estrutura do Documento:
O texto a seguir foi preparado para ser o mais conciso e abrangente possível. Trata-
se de uma série de ensaios ordenados por assunto de maneira a embasar um
contexto mais amplo. Enquanto cada ensaio foi concebido para ser avaliado em seu
próprio mérito, o verdadeiro contexto consiste na forma como cada questão
trabalha para sustentar uma linha de pensamento mais ampla, no que diz respeito à
organização mais eficiente da sociedade humana. Aqueles que lerem estes ensaios
de forma linear notarão que existe uma boa quantidade de sobreposição de certas
ideias. Isso é proposital, pois tal repetição e ênfase é considerada útil, já que alguns
dos conceitos soarão muito estranhos para aqueles sem qualquer exposição prévia
aos mesmos.
Além disso, uma vez que só será possível manter a compreensão de cada assunto e
suas inter-relações através de uma grande exposição de detalhes, um grande
esforço foi feito para referenciar pesquisas de terceiros ao longo de cada ensaio,
através de notas de rodapé e anexos, permitindo ao leitor um acompanhamento
para um estudo mais aprofundado, conforme surgir o interesse.
O Organismo do Conhecimento:
Como acontece com qualquer pesquisa que é apresentada, estamos lidando com
compostos de dados gerados em série. A observação, sua avaliação, documentação
e integração com outros conhecimentos, existentes ou pendentes, é a maneira pela
4
Da mesma forma, essa continuidade também implica que não pode haver uma
"Origem" empírica das ideias. Do ponto de vista epistemológico, o conhecimento é
gerado, processado e expandido principalmente através da comunicação entre
nossa espécie. O indivíduo, com suas propensões e experiências de vida
inerentemente diferentes, atua como um filtro personalizado de processamento
pelo qual uma determinada ideia pode ser transformada. Coletivamente, nós,
indivíduos, estamos abrangidos naquilo que poderia ser chamado de uma "Mente
de Grupo", que é o processador social de ordem maior pelo qual os esforços
individuais idealmente se unem. O método tradicional de transferência de dados
através da literatura, da partilha de livros de geração para geração, tem sido um
caminho notável desta interação da Mente de Grupo, por exemplo [1].
Issac Newton talvez tenha declarado melhor essa realidade com sua frase: "Se vi
mais longe do que os outros, foi por estar de pé sobre os ombros de gigantes". [2]
Essa noção é trazida aqui a fim de focar o leitor na consideração crítica dos dados - e
não em uma suposta "fonte" - já que, na verdade, empiricamente falando, não
existe tal coisa. O reconhecimento de uma fonte só se faz relevante diante dos
padrões culturais, temporais e tradicionais, como nos créditos literários de um livro-
texto para referenciar uma futura pesquisa. Não há declaração mais errada do que
esta: "Esta é a minha ideia." Tais noções são subprodutos de uma cultura material
que tem sido reforçada através da busca de recompensas materiais, usualmente
através do dinheiro, em troca da ilusão de “propriedade” das suas criações. Muitas
vezes, uma associação com o ego se sobressai quando um indivíduo reivindica
prestígio sobre seu “crédito” por uma ideia ou invenção.
No entanto, isso não significa excluir a gratidão e o respeito por aquelas pessoas ou
instituições que demonstraram dedicação e perseverança em relação à expansão do
conhecimento em si, nem mesmo significa diminuir a importância necessária
daqueles que alcançaram um "status" de especialista, de “expert” em um campo
particular. As contribuições de pesquisadores, pensadores e engenheiros brilhantes,
como R. Buckminster Fuller, Jacque Fresco, Jeremy Rifkin, Ray Kurzweil, Robert
Sapolsky, Thorstein Veblen, Richard Wilkinson, James Gilligan, Carl Sagan, Nicola
Tesla, Stephen Hawking e muitos, muitos outros pesquisadores, do passado e do
presente, serão referenciadas e terão suas fontes indicadas neste texto, servindo
como parte de um mosaico maior que você está prestes ler. Expressamos uma
5
Entendido isso, "O Movimento Zeitgeist" não reivindica a criação de qualquer ideia
que promove e é melhor classificado como uma instituição de ativismo/ensino que
trabalha para amplificar um contexto onde as descobertas científicas
existentes/emergentes possam adequar-se como um imperativo social.
[2] The Correspondence of Isaac Newton, Volume 1, editado por HW Turnbull, 1959, P416
6
1. Visão Geral
- R. Buckminster Fuller -
Sobre
Embora o termo "ativismo" seja correto pelo significado exato do termo, o trabalho
de sensibilização do MZ não deve ser interpretado como o tradicional "protesto de
ativistas", tais como vemos historicamente. Em vez disso, o MZ se expressa através
de projetos educacionais e racionais direcionados, os quais não trabalham para
impor, ditar ou convencer cegamente - mas para pôr em ação uma linha de
pensamento que é, logicamente, auto-concretizável quando as considerações
causais da "sustentabilidade" [4] e "saúde pública"[5] são referenciadas a partir de
uma perspectiva científica.
Por exemplo, o modelo social atual, ao mesmo tempo que perpetua enormes níveis
de ineficiência econômica generalizada corrosiva, como será visto em ensaios
posteriores, também intrinsecamente beneficia um grupo econômico ou "classe" de
7
Esta "violência" invisível se estende aos Memes culturais [8], onde as tradições
sociais e sua psicologia podem, sem intenção maliciosa direta, resultar em
consequências prejudiciais a um ser humano. Por exemplo, há culturas religiosas no
mundo que optam por evitar qualquer forma de tratamento médico convencional.
[9] Enquanto muitos poderão argumentar os parâmetros morais ou éticos do que
significaria para tal cultura a morte de uma criança em decorrência de uma doença
comum, que poderia ter sido tratada se as ferramentas científicas modernas fossem
autorizadas, nós, por nossa vez, pelo menos concordaríamos que a morte dessa
criança, na verdade, foi causada não pela doença em si mesma, mas pela condição
social que não permitiu o correto emprego da solução.
O ponto essencial aqui é que quando damos um passo para trás e consideramos
entendimentos recentes de causalidade, que claramente têm produzido efeitos
prejudiciais sobre a condição humana, mas seguem intocáveis desnecessariamente
devido a tradições pré-existentes estabelecidas pela cultura, nós fatalmente somos
levados ao contexto de "direitos civis" e, portanto, sustentabilidade social.
Foco
Diagnosticar
O problema central hoje é que muitas vezes há o que poderia ser chamado de um
"quadro de referência truncado", onde a falta de visão e o erro diagnóstico de uma
determinada consequência persistem. Por exemplo, a solução tradicional atual para
a reforma do comportamento humano pela prática de muitos dos chamados
"crimes" é frequentemente o encarceramento punitivo. No entanto, em princípio,
9
isso não diz nada sobre a motivação mais profunda do "criminoso" e porque sua
psicologia o levou a tais atos.
Educar
Além disso, a educação não é apenas um imperativo para aqueles não familiarizados
com a Linha de Pensamento e Conjunto de Aplicações [14] relacionada ao MZ, mas
também para aqueles que já o apoiam. Assim como não existe uma "utopia", não há
um estado final de compreensão.
Criar
Exemplos desse trabalho são programas como o Global Institute Redesign [16], um
grupo digital de estudo e resolução de problemas (um "think tank"), que tenta
demonstrar como o cerne da infra-estrutura social poderia se desdobrar, baseado
em nosso estado tecnológico atual, combinando essa capacidade técnica com a
10
Vale a pena ressaltar que o MZ defende uma abordagem de "governança" que tem
pouca semelhança com a forma de governança atual ou com as anteriores, a qual se
origina de uma interligação multi-disciplinar de vários métodos comprovados de
otimização máxima, unificados por uma abordagem contra-balanceada de
"Sistemas" que é projetada para ser tão "adaptável" quanto possível às melhorias
emergentes ao longo do tempo. [17]
Como será discutido mais tarde, a única referência possível que poderia ser
considerada "mais completa" num dado momento é a que leva em conta a maior
observação interativa (Sistema) tangivelmente relevante. Essa é a natureza da
sinergia de causa e efeito que ressalta a base técnica de uma economia
verdadeiramente sustentável.
Hoje, existem vários termos, em diferentes círculos, que expressam a base lógica
geral de um Sistema Social mais cientificamente orientado, incluindo os títulos
"Economia Baseada em Recursos" ou "Economia da Lei Natural." Enquanto esses
títulos trazem referenciais históricos e um tanto arbitrários, o título "Economia
Baseada em Recursos / Lei Natural" (EBRLN) será utilizado aqui como o definidor do
conceito, uma vez que possui uma base semântica mais concreta. [18]
A Economia Baseada em Recursos / Lei Natural deve ser definida como: "Um
sistema sócio-econômico adaptável derivado ativamente das referências físicas
diretas relacionadas às leis científicas que regem a natureza".
Fuller, Thorstein Veblen, Jacque Fresco, Carl Sagan, HG Wells, Instituto Singularity e
muitos outros.
Linha de Pensamento
Da mesma forma, muitas dessas figuras ou grupos também têm trabalhado para
criar aplicações tecnológicas temporalmente avançadas, trabalhando para aplicar as
possibilidades atuais nessa linha de pensamento, a fim de permitir ganhos de
eficiências e de resolução de problemas, tais como "Sistemas de Cidade" de Jacque
Fresco [19] ou a Casa Dymaxion de R. Buckminster Fuller. [20]
Assim, o que nos resta é apenas a linha de pensamento em relação aos princípios
científicos de causa e efeito. O MZ é fiel a esta linha de pensamento, e não a figuras,
instituições ou avanços tecnológicos contemporâneos. Ao invés de seguir uma
pessoa ou projeto, o MZ segue o conceito científico de compreensão e, portanto,
atua de maneira descentralizada, holográfica e tendo essa linha de pensamento
como base ou influência para a ação.
Da Superstição à Ciência
Por exemplo, mesmo que hoje o pensamento religioso tradicional possa parecer
cada vez mais inadmissível a um número de pessoas maior do que nunca no
Ocidente, fato atribuído ao rápido crescimento da informação e acesso à mesma,
[21] as raízes do pensamento religioso podem ser atribuídas a períodos em que os
seres humanos conseguiam justificar a validade e precisão de tais crenças, dada a
limitada compreensão que tinham do seu ambiente nesses tempos primórdios.
12
Tais "instituições estabelecidas", como podem ser chamadas, muitas vezes desejam
se preservar por razões de ego, poder, renda ou meramente pelo conforto
psicológico. Este problema é, em muitos aspectos, o núcleo da nossa paralisia social.
[23] Dessa forma, é importante reconhecer este padrão de transição e perceber o
quão crítica é a vulnerabilidade quando se trata de sistemas de crenças. Sem falar
no fenômeno das "instituições estabelecidas", que são culturalmente programadas
para buscar a auto-preservação em vez de evoluir e mudar, o que pode ser muito
perigoso.
Da Tradição à Emergência
Portanto, enquanto o sistema social tradicional e seus valores não forem desafiados
e atualizados de acordo com o conhecimento atual, enquanto a maioria da
população humana não compreender a linha de pensamento tecnicamente
necessária para apoiar a sustentabilidade e saúde pública, como consequência do
rigor da investigação científica e sua validação, até que grande parte da bagagem de
falsas premissas, superstição, lealdades divididas e outros obstáculos culturais
socialmente insustentáveis e geradores de conflitos sejam superados - todas as
possibilidades que temos em mãos para melhoria de vida e soluções de problemas
permanecerão adormecidas.
Este entendimento comum se estende muito além do que muitos têm entendido no
passado. A simbiose da espécie humana e a relação sinérgica com o nosso lugar no
mundo confirma que não somos entidades isoladas, sob qualquer aspecto, e que o
novo despertar social deve apresentar um modelo social de trabalho derivado desta
lógica inerente, se esperamos sobreviver e prosperar em longo prazo. Podemos nos
alinhar ou podemos sofrer. Só depende de nós.
[4] O termo "Sustentabilidade", geralmente definido "como a capacidade de ser sustentado, suportado,
mantido, ou confirmado" (http://dictionary.reference.com/browse/sustainability) é muitas vezes hoje
comumente referenciado/ entendido dentro de um contexto de Ciências Ambientais. O contexto do MZ
estende mais longe, no entanto, incluindo a noção de Sustentabilidade Cultural ou Comportamental que
considera o mérito de sistemas de crenças em geral e suas consequências causais menos óbvias.
[5] O termo "saúde pública", geralmente definido como "a ciência e a prática de proteger e melhorar a
saúde de uma comunidade, através de medicina preventiva, educação em saúde, controle de doenças
transmissíveis, aplicação de medidas sanitárias e monitoramento de perigos
ambientais"(http://dictionary.reference.com/browse/public+health?s=t) é usado neste texto como base de
medida para considerar o bem-estar físico, psicológico e sociológico das pessoas das sociedades ao longo
do tempo. Isto é para ser considerado o barômetro final do sucesso ou falha de um sistema social aplicado.
[6] O termo "violência estrutural" é comumente atribuído a Johan Galtung, introduzido no artigo
"Violência, Paz e Investigação para a Paz" (Violence, Peace, and Peace Research; Journal of Peace Research,
vol. 6, No. 3, 1969, pp 167 -191). Trata-se de uma forma de violência onde alguma estrutura social ou
instituição social prejudica as pessoas, impedindo-as de satisfazer as suas necessidades básicas. O termo foi
expandido por outros pesquisadores, como o psiquiatra criminal Dr. James Gilligan, que faz a seguinte
distinção entre violência "comportamental" e "estrutural": "Os efeitos letais da violência estrutural operam
continuamente, ao invés de esporadicamente, enquanto os homicídios, suicídios... guerras e outras formas
de violência comportamental ocorrem um de cada vez. " (James Gilligan, Violence, GP Putnam, 1996, p192)
[8] Meme: an idea, behavior, style, or usage that spreads from person to person within a culture
(http://www.merriam-webster.com/dictionary/meme)
[9] http://uk.lifestyle.yahoo.com/religious-parents-causing-suffering-sick-kids-says-report-115021612.html
[10] Leitura recomendada: The Spirit Level de Richard Wilkinson e Kate Pickett, Pinguim, março de 2009
[11] Mais informações sobre este assunto serão apresentadas em uma sequência denominada "Buscando
Soluções".
[12] A relação entre o comportamento humano (neste contexto, comportamento de uma natureza
socialmente ofensiva, conforme determinado pelas leis da sociedade) e a influência do ambiente na
vida/educação de uma pessoa está agora fora de debate. Um termo relacionado a tomar nota é a natureza
"Bio-Psico-Social" do organismo humano.
[14] Os termos "Linha de Pensamento" e "Conjunto de Aplicação" serão usados frequentemente neste
texto uma vez que estão interligados. Por favor consulte a Lista de Vocabulário, Apêndice A, para
esclarecimentos.
[15] Por favor consulte a Lista de Vocabulário - Apêndice A para esclarecimento do termo. Mais será
discutido na Parte III.
15
[16] http://www.globalredesigninstitute.org
[17] Ver Parte III para saber mais sobre o assunto "Governo".
[18] O termo "Economia Baseada em Recursos" pode ser interpretado literalmente como "uma economia
baseada em recursos". Isso, historicamente, tem acarretado em uma confusão na qual as pessoas podem
argumentar que todas as "economias", por definição, são "baseadas" em "recursos". O termo também tem
uma forte associação com a organização denominada Projeto Vênus, que afirma ter originado o termo e a
ideia, buscando ao mesmo tempo registrar o termo como marca (http://tdr.uspto.gov/search.action?sn =
77829193). O Termo "Lei Natural / Economia Baseada em Recursos" é considerado mais completo aqui,
não só para evitar tal confusão associativa possível, mas também por causa da precisão mais semântica do
termo em si, LNEBR (NLRBE), uma vez que este faz referência mais claramente aos Sistema e Processos de
Leis Físicas Naturais, em vez de apenas aos recursos planetários.
[19] Jacque Fresco, "The Best That Money Can't Buy" (O Melhor que o Dinheiro Não Pode Comprar), Global
Cybervisions de 2002, Capítulo 15
[20] http://en.wikipedia.org/wiki/Dymaxion_house
[22] Um Prêmio Nobel para o que é conhecido como "Lobotomia" foi atribuído ao neurologista Português
Egas Moniz em 1949. Hoje, a lobotomia é considerada um procedimento bárbaro e ineficaz.
(Http://www.npr.org/templates/story/story.php?storyId=4794007)
[25] Ver Parte II, para mais informações sobre este assunto.
16
"Quase todos os grandes erros sistemáticos que iludiram os homens por milhares de
anos se basearam na experiência prática. Horóscopos, encantamentos, oráculos,
magia, feitiçaria, curandeirismo e médicos empíricos antes da medicina moderna,
todos foram fortemente estabelecidos aos olhos do público através dos séculos
devido a seus supostos êxitos práticos. O método científico foi concebido
precisamente com o fim de elucidar a natureza das coisas sob condições
cuidadosamente controladas e por critérios mais rigorosos do que aqueles presentes
nas situações criadas por problemas práticos."[26]
- Michael Polanyi -
simplesmente, não pode existir uma conclusão intelectual única ou estática sobre a
nossa percepção e conhecimento, exceto, paradoxalmente, quanto ao padrão
subjacente de incerteza dessas mudanças e adaptações em si mesmas.
Isso é parte do que poderia ser chamado de uma visão científica do mundo. Uma
coisa é isolar técnicas de avaliação científica para interesses específicos, como a
lógica que usamos para avaliar e testar a integridade estrutural de um projeto de
construção de uma casa, e outra, é quando a integridade universal desse tipo de
raciocínio está enraizada permitindo que relações de causa e efeito e métodos de
validação sejam aplicados a todos os aspectos de nossas vidas.
Albert Einstein disse uma vez: "Quanto mais a evolução espiritual da humanidade
avança, mais certo me parece que o caminho para a religiosidade genuína não passa
pelo medo da vida, pelo medo da morte e por uma fé cega, mas sim por uma luta
em busca de conhecimento racional". [27]
Enquanto cínicos da Ciência muitas vezes trabalham para reduzir a sua integridade
para outra forma de "fé religiosa", rebaixando sua precisão como "fria" ou "sem
espiritualidade", ou mesmo destacando as consequências da tecnologia aplicada ao
mal, como a criação da Bomba Atômica (que, na realidade, é uma indicação da
distorção dos valores humanos, ao invés dos da engenharia), não se pode ignorar o
poder incrível que essa abordagem (científica) proporcionou à raça humana com a
compreensão e aproveitamento da realidade. Nenhuma outra "ideologia" chega
perto de combinar os benefícios preditivos e utilitários que este método de
raciocínio tem proporcionado.
No entanto, isso não quer dizer que a negação cultural ativa desta relevância não
está ainda difundida no mundo de hoje. Por exemplo, quando se trata de Crença
Teísta, muitas vezes há uma tendência de divisão que deseja elevar o ser humano
acima de tais "meras mecânicas" da realidade física. A suposição implícita aqui é
que, geralmente, os seres humanos são mais "especiais" por alguma razão e, talvez,
existam forças, como uma intervenção de "Deus", que podem substituir as Leis
Naturais à vontade, tornando-as menos importantes do que, por exemplo, a
obediência contínua à vontade de Deus, etc.
Infelizmente, ainda existe uma grande vaidade humana na cultura que assume, sem
evidência comprovada, que os seres humanos estão separados de todos os outros
fenômenos e que nos considerarmos conectados ou até mesmo um produto de
forças naturais e científicas seria o mesmo que rebaixar a vida humana.
A Ciência está claramente preocupada com o amanhã e não possui nada de sagrado,
sempre pronta para corrigir falsas conclusões já estabelecidas quando uma nova
informação surge. Aceitar uma incerteza tão inerentemente - ainda que seja uma
abordagem extremamente viável e produtiva para a visão de mundo do dia-a-dia -
requer uma sensibilidade muito diferente - uma que incorpora a vulnerabilidade,
não a certeza.
Emergência
Simbiose
O termo "Sistemas Categóricos" [36] poderia ser usado aqui para descrever todos os
sistemas, aparentemente pequenos ou grandes, pois tais distinções linguísticas são
arbitrárias. Esses sistemas conhecidos e as palavras usadas para referenciá-los são
simplesmente conveniências humanas para a comunicação. O fato é que parece
haver um único sistema possível, organizado pela Lei da Natureza, o qual pode ser
20
legitimamente referenciado uma vez que todos os sistemas que hoje percebemos e
classificamos só podem ser subsistemas. Não podemos simplesmente encontrar um
sistema verdadeiramente fechado em qualquer lugar. Mesmo o "Sistema Terra",
que intuitivamente parece autônomo, com a Terra flutuando no vazio do espaço, é
totalmente dependente do Sol, da Lua e provavelmente de muitos e muitos outros
fatores simbióticos que nós sequer podemos, até agora, entender ou definir.
Crenças Sustentáveis
Isto nos leva para o nível de Pensamento e Compreensão propriamente ditos. Como
observado antes, o sistema de linguagem que usamos isola e organiza os elementos
do nosso mundo para uma compreensão geral. A própria linguagem é um sistema
baseado em distinções por categorias que associamos à nossa realidade percebida.
No entanto, por mais necessário tal modo de identificação e organização seja para a
mente humana, ele também implica uma falsa divisão.
Dado esse fundamento, é fácil especular sobre como temos crescido tão
acostumados a pensar e agir de maneira intrinsecamente divisiva e por que a
história da sociedade humana tem sido uma história de desequilíbrio e conflito. [39]
21
É nesse nível que tais Sistemas Físicos que discutimos ganham relevância frente aos
Sistemas de Crença/Pensamento. [40]
Como será discutido em outros ensaios relacionados com este texto, o Sistema
Social, sua Premissa Econômica ao longo de sua estrutura Legal & Política, tornou-se
em grande parte uma condição de "fé" na forma que está agora perpetuada. O
Sistema Monetário da economia, por exemplo, argumenta-se ser baseado em pouco
mais do que um conjunto de premissas agora ultrapassadas e cada vez mais
ineficientes, não diferente de como os primeiros seres humanos falsamente
assumiram que o mundo era plano, demônios causavam doenças, ou que as
constelações no céu eram construções fixadas, estáticas, bidimensionais,
semelhantes a tapeçarias. Há enormes paralelos que podem ser estabelecidos entre
a fé religiosa tradicional e as instituições culturais estabelecidas que assumimos
serem válidas e "normais" atualmente.
[27] Citado em: "All the Questions You Ever Wanted to Ask American Atheists", por Madalyn Murray O'Hair,
Amer Atheist Press, 1986
[28] Stanford University Behavioral Biology Professor, Dr. Robert Sapolsky é provavelmente mais notável
com seu uso do termo "MetaMagical". Seu trabalho é recomendado: http://benatlas.com/2009/12/robert-
sapolsky-on-metamagical-schizotypal-thinking/
[30] O termo Nova Era é geralmente definido como "um amplo movimento caracterizado por abordagens
alternativas para a cultura ocidental tradicional, com um interesse na espiritualidade, misticismo ..."
23
[31] Carl Sagan era famoso principalmente por corroborar com a definição de Fé como "Crença sem
Evidência".
[32] http://teacher.nsrl.rochester.edu:8080/phylabs/AppendixE/AppendixE.html
[33] http://dictionary.reference.com/browse/symbiotic
[34] O Termo "Externo" neste contexto é enquadrado como relação a um objeto percebido. O ponto de
maior abrangência aqui é que não existe tal coisa como "externo" ou "interno" no contexto de sistemas de
ordem maior.
[35] O "Sistema" é definido como: "um conjunto de coisas que trabalham juntas como partes de um
mecanismo ou de uma rede de interconexão." É interessante notar-se que, frente a importância deste
conceito como a relevância do "Sistema" ou "Teoria dos Sistemas", será um tema repetitivo com respeito
ao quadro de referência que realmente suporta verdadeira sustentabilidade humana em nosso habitat.
[36] Este Termo é uma variação sobre a noção mais comum de "Pensamento Categórico", que está fazendo
uma reflexão através da atribuição de pessoas ou coisas para as categorias e, em seguida, utilizando as
categorias como se representassem algo no mundo real.
[39] A Revolução Neolítica é um marcador notável para uma mudança dramática nas funções sociais e
relações humanas, à medida que a civilização passou de forrageamento e caça - vivendo em subserviência a
processos naturais - a uma profunda capacidade de controlar a agricultura para alimentação e de criar
ferramentas/máquinas para facilitar o trabalho humano. Poderia ser argumentado que a sociedade
humana não foi madura o suficiente para lidar com essa habilidade, e a perpetuação do medo e da escassez
levou à acumulação, privatização, agrupamentos em nações e outras tendências de divisão para a auto-
preservação de grupo em vários níveis.
[40] Para maior clareza filosófica, poderia ser argumentado que todos os resultados das percepções
humanas são projetados - até mesmo as próprias leis da natureza. No entanto, isto não altera a eficácia que
foi observada com respeito ao imenso controle e compreensão que temos através do método da ciência.
[41] A noção de "fim comum" ou "terreno comum" será repetida neste texto e é uma crítica consciente a
média das necessidades, intenções e consequências do ser humano. A premissa central da defesa do MZ é
que os seres humanos são mais parecidos do que diferentes conforme compartilhamos as mesmas
necessidades básicas quantificáveis e reações. Em muitos aspectos este é o atributo unificador que poderia
compreender o que é chamado de "Natureza Humana" e, como será mais descrito em ensaios posteriores,
os seres humanos, de fato, têm partilhado reações previsíveis e comuns às influências positivas e negativas,
tanto psicológicas quanto fisiológicas. Portanto, a inteligente organização humana de uma sociedade é
obrigada a levar isso em conta diretamente para o bem da saúde pública - algo que o atual sistema do
mercado monetário não faz.
[42] Como será prolífico neste texto, o termo "Técnico", enquanto praticamente sinônimo de "Científico", é
empregado para melhor expressar a natureza causal de todos os fenômenos existentes - incluindo até
mesmo o comportamento humano e a própria psicologia/sociologia. A premissa central de defesa do MZ é
que a resolução de problemas e a manifestação do potencial é uma avaliação "técnica" e esta abordagem, a
ser aplicada a todos os atributos sociais, está no centro do novo modelo social defendido.
24
3. Buscando Soluções
"Um novo tipo de pensamento é essencial para que a humanidade possa sobreviver
e se mover em direção à níveis mais elevados."[43]
- Albert Einstein -
Potencial e Resolução
Resolução de Problemas, por outro lado, é a superação de uma questão que tem
atualmente consequências prejudiciais reconhecidas e/ou limitações para um
determinado assunto. Um exemplo genérico seria a descoberta da cura para uma
doença debilitante existente, de modo que essa doença não cause mais danos.
No entanto, em uma visão ampla, há uma sobreposição clara entre essas duas
noções quando a natureza do desenvolvimento do conhecimento é levada em
conta. Por exemplo, um "aperfeiçoamento" de uma determinada condição, uma
prática que então torna-se normal e comum em uma cultura, pode também,
potencialmente, ser parte de um "problema" no mesmo contexto, o qual requer
resolução caso novas informações a respeito de sua ineficiência sejam encontradas
ou novos avanços a tornem obsoleta por comparação.
Este ponto aparentemente abstrato é criado para comunicar o simples fato de que
cada prática que consideramos normal hoje em dia tem incorporada em si uma
25
Isto também significa que as ferramentas reais utilizadas pela sociedade para uma
determinada finalidade são sempre transitórias. Não importa se é o meio de
transporte, as práticas médicas, produção de energia, o sistema social, etc [45].
Todas essas práticas são manifestações/resoluções em relação à necessidade e à
eficiência humanas, com base no estado transitório de entendimento que nós temos
/ tínhamos no momento da sua criação/evolução.
Assim como o Airbag foi desenvolvido anos atrás à medida que a evolução do
conhecimento se desenrolava, hoje existe tecnologia que permite que veículos
automatizados, sem motoristas, possam detectar não apenas cada elemento da rua
necessário para operar com precisão, como podem detectar uns aos outros,
tornando as colisões quase impossíveis. [51] Este é o estado atual de uma "solução"
como quando consideramos a causa raiz e a finalidade raiz, em geral.
No entanto, por mais avançada que a solução possa parecer, especialmente tendo
em conta os cerca de 1,2 milhões de pessoas que morrem desnecessariamente em
acidentes de automóvel a cada ano, [52] este exercício de pensamento ainda pode
ser incompleto se continuarmos a alargar o contexto em relação aos objetivos.
Claro que a aplicação deste tipo de solução de problemas está longe de ser limitada
a esses exemplos físicos. É a "política" a resposta para nossos infortúnios sociais?
Será que ela direciona para causas raízes pelo seu próprio "design"? Seria o dinheiro
e o sistema de mercado o método mais otimizado para o progresso sustentável, a
resolução de problemas e a manifestação do potencial econômico? O que o nosso
estado moderno da ciência e da tecnologia têm para contribuir no campo da
compreensão de causa e efeito no nível da sociedade?
Como outros ensaios indicarão mais tarde em grande detalhe, esses entendimentos
criam uma linha de pensamento natural e clara com relação a quão melhor o nosso
mundo poderia ser se nós simplesmente seguíssemos a lógica criada através do
Método Científico de pensamento para cumprir o nosso objetivo comum de
sustentabilidade humana. Os 1 bilhão de pessoas que passam fome no planeta não
estão fazendo isso por causa de alguma imutável consequência natural da nossa
realidade física. Há abundância de comida para todos. [54] É o sistema social, que
tem a sua própria lógica desatualizada e artificial, que perpetua essa atrocidade
social, juntamente com inúmeras outras.
Não há uma solução única - somente o raciocínio empírico da Lei Natural é que
alcança as soluções e finalidades.
28
[43] Em "Atomic Education Urged by Einstein", New York Times, 25 de maio de 1946
[44] Um exemplo moderno notável é a nova tecnologia de transporte, tal como transporte "Maglev", que
usa menos energia e move-se substancialmente mais rápido do que as companhias aéreas comerciais
http://www.et3.com/
[45] Novamente, esta realidade está incorporada pelo termo "conjunto de aplicativos" ao longo deste
texto.
[46] Sugestão de leitura: "Violence: Our Deadly Epidemic and Its Causes" (Violência: Nossa Epidemia Mortal
e suas Causas), Dr. James Gilligan, 1996
[47] O estudo 'Merva-Fowles ", realizado na Universidade de Utah na década de 1990, descobriu conexões
poderosas entre desemprego e crime. Eles basearam sua pesquisa em 30 grandes áreas metropolitanas,
com uma população total de mais de 80 milhões. Eles descobriram que um aumento de 1% na taxa de
desemprego resultou em: aumento de 6,7% no número de homicídios, um aumento de 3,4% nos crimes
violentos, um aumento de 2,4% em crimes contra a propriedade. Durante o período de 1990 a 1992, isso se
traduziu em: 1.459 homicídios adicionais; 62.607 crimes violentos adicionais; 223.500 crimes contra a
propriedade adicionais. [Merva & Fowles, Effects of Diminished Economic Opportunities on Social Stress,
Economic Policy Institute, 1992]
[48] Ver Anexo G, palestra de Ben McLeish : "Out of the Box: Prisons" (Fora da Caixa: Prisões)
[49] http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc1117770/
[50] Um estudo de 1996 da NHTSA encontrou o benefício de redução de mortalidade para todos os
motoristas numa estimativa de 11% quando eram utilizados "air bags".
http://www.nhtsa.gov/cars/rules/regrev/evaluate/808470.html
[53] Uma lenta mudança geral, mesmo na sociedade comercial moderna, de "propriedade" para "acesso"
está começando a ganhar apoio. http://gigaom.com/2011/11/10/airbnb-roadmap-2011/
[54] As principais organizações internacionais afirmaram estatisticamente que há comida suficiente para
todos e que a fome não é causada por falta de recursos. [http://www.wfp.org/hunger/causes]. Em
combinação com melhorias de eficiência que serão abordadas mais na Parte 3, a absoluta abundância
global de alimentos da mais alta qualidade de nutrientes também é possível hoje.
[55] Esse comentário não é para humilhar qualquer instituição social bem-intencionada a trabalhar para
ajudar dentro dos limites do método sócio-econômico atual. No entanto, como será descrito mais na Parte
2, o modelo social atual inerentemente restringe a uma vasta quantidade de possível prosperidade /
resolução de problemas, devido à sua própria concepção e instituições, portanto, ativistas e instituições
sociais que evitem essa realidade só podem estar trabalhando para ajudar a "remendar" problemas, não
corrigi-los, já que eles se originam do próprio sistema social. Um exemplo comum é o de organizações de
caridade que desejam fornecer alimento aos pobres. Essas organizações não estão geralmente abordando
por que essas pessoas são pobres para começar e, portanto, não estão realmente trabalhando para
resolver a raiz do(s) problema(s).
29
4. Lógica vs Psicologia
- Aristóteles -
Em uma obra clássica dos autores Cohen e Nagel, intitulada "An Introduction to
Logic and the Scientific Method" [Uma introdução à Lógica e ao Método Científico],
este ponto é abordado de forma pertinente no que diz respeito ao processo de
avaliação lógica e sua independência da psicologia humana.
"O peso da evidência não é por si só um evento temporal, mas uma relação de
implicação entre determinadas classes ou tipos de proposições... Claro, o
pensamento é necessário para apreender tais implicações... no entanto, ele não faz
da Física um ramo da Psicologia. A percepção de que a lógica não pode ser restrita a
fenômenos psicológicos nos ajudará a distinguir entre a nossa ciência e a nossa
retórica - concebendo esta última como a arte da persuasão ou de discutir de modo
a produzir a sensação de certeza. Nossas disposições emocionais dificultam a nossa
aceitação de certas proposições, não importa o quão forte seja a evidência em seu
30
favor. E uma vez que todas as provas dependem da aceitação de certas proposições
como verdadeiras, nenhuma proposição pode ser comprovada como verdadeira a
quem está suficientemente determinado a não acreditar." [59]
O termo "Bloqueio Mental" (Mind Lock) foi cunhado por alguns filósofos [60] no que
diz respeito a este fenômeno, definindo-o como "a condição em que a perspectiva
de alguém torna-se auto-referente, formando um circuito fechado de raciocínio".
Pressupostos aparentemente empíricos moldam e protegem a visão de mundo de
um indivíduo e qualquer coisa contrária vinda de fora pode ser "bloqueada", muitas
vezes mesmo inconscientemente. Esta reação pode ser comparada ao reflexo físico
comum de proteger-se de um objeto estranho em movimento em direção a si - só
que nessa circunstância o "reflexo" é defender suas crenças, e não seu corpo.
Embora frases como "pensar fora da caixa" possam ser uma retórica comum hoje
em dia na comunidade ativista, raramente os fundamentos da nossa maneira de
pensar e da integridade de nossas instituições mais estabelecidas são desafiados.
Eles são, na maioria das vezes, considerados "fatos óbvios" e assumidos como
inalteráveis.
Tais questões são raramente consideradas já que as pessoas tendem, mais uma vez,
a se adaptar à sua cultura, sem objeção, assumindo que é "do jeito que é". Tais
orientações estáticas são quase universalmente resultado da tradição cultural e,
como Cohen e Nagel apontam, é muito difícil comunicar uma ideia nova e
desafiadora para aqueles que estão "suficientemente determinados a não acreditar
nela."
Tais pressupostos tradicionais, tidos como empíricos, são provavelmente uma fonte
enraizada de retardo pessoal e social no mundo de hoje. Esse fenômeno,
juntamente com um sistema educacional que reforça constantemente tais noções
estabelecidas por meio de suas instituições de "academia", sela ainda mais esta
inibição cultural e agrava o obstáculo a uma mudança relevante. [61]
Embora o alcance dessa tendência seja amplo no que diz respeito ao debate, há aqui
duas falácias argumentativas comuns, dignas de nota, pois surgem constantemente
31
As referências defendidas pelo MZ para a tomada de decisão não são uma Filosofia
Moral [65] que, quando examinadas em sua raiz, são essencialmente o que foi a
manifestação filosófica Marxista.
32
O marxismo não é baseado nessa visão de mundo "calculada", mesmo que possam
haver algumas características inerentes de base científica. Por exemplo, a noção
marxista de uma "sociedade sem classes" servia para superar a "desumanidade",
originada do capitalismo, que era imposta sobre a classe trabalhadora ou
"proletariado".
A linha de pensamento do MZ, por outro lado, tem por fontes avanços em estudos
humanos. Acredita-se, por exemplo, que a estratificação social, que é inerente ao
modelo capitalista de mercado, é realmente uma forma de violência indireta contra
a grande maioria, tida como resultante de uma psicologia evolutiva que nós, seres
humanos, naturalmente possuímos [69]. Isso gera uma forma desnecessária de
sofrimento humano, em muitos níveis, o que é desestabilizador e, por
consequência, tecnicamente insustentável.
A lógica defendida pelo MZ, por outro lado, refere-se ao fato de que a prática da
posse universal e individual de mercadorias é ambientalmente ineficiente, um
desperdício e, por fim, insustentável como prática universal. Isso apoia um sistema
33
De qualquer forma, tais alegações "prima facie" são muito comuns e muito mais
poderia ser comentado. No entanto, não é o escopo desta seção discutir todas as
supostas conexões entre marxismo e a linha de pensamento defendida pelo MZ.
[71]
A Falácia do "Espantalho"
Esse tipo de argumento é sem validade testável com relação às ciências humanas e é
realmente uma suposição intuitiva proveniente do clima cultural atual, onde o
sistema econômico coage todos os seres humanos a papéis de trabalho de
sobrevivência (receita/lucro), muitas vezes independentemente de interesse pessoal
ou utilidade social, gerando uma distorção psicológica com relação ao que cria
motivação.
Nas palavras de Margaret Mead: "Se você olhar atentamente, verá que quase tudo o
que realmente importa para nós, tudo o que encarna o nosso mais profundo
compromisso com a maneira como a vida humana deve ser vivida e cuidada,
depende de alguma forma de voluntariado." [73]
Em uma pesquisa da opinião pública de 1992, mais de 50% dos adultos norte-
americanos (94 milhões de norte-americanos) se voluntariaram para causas sociais,
34
a uma média de 4,2 horas por semana, num total de 20,5 bilhões de horas por ano.
[74]
Finalmente, vale a pena reiterar que a batalha entre Lógica e Psicologia é realmente
um conflito central na arena da mudança social. Não existe nenhum contexto mais
pessoal e sensível do que a forma como organizamos a nossa vida em sociedade, e
um importante objetivo do MZ, em muitos aspectos, é encontrar técnicas que
possam educar o público quanto ao mérito desta linha de pensamento lógica e
mecanicista, superando a bagagem de confortos psicológicos desatualizados que
não possuem nenhum valor progressista viável no mundo moderno.
[56] Will Durant, A História da Filosofia: A Vida e Opiniões dos maiores filósofos do Mundo, 1926
[57] Sigmund Freud foi o primeiro a tornar famosa a ideia de Projeção Psicológica, definida como "um
mecanismo de defesa psicológico em que a pessoa inconscientemente nega seus próprios atributos,
pensamentos e emoções, que são atribuídos ao mundo exterior, geralmente para outras pessoas." No
entanto, o uso do termo é mais geral, nesse contexto, refletindo a simples noção de assumir a
compreensão de uma ideia baseada em uma relação falsa ou superficial de entendimentos anteriores -
geralmente em uma postura defensiva que rejeite sua validade.
[58] O termo "Patologia Cognitiva" é um conceito sugerido deste fenômeno. Uma característica comum é o
"raciocínio circular", onde a crença é justificada meramente ao se re-referenciar a própria crença. Por
exemplo, ao questionar um teísta porque ele acredita em Deus, uma resposta comum pode ser "Fé".
Perguntar por que ele tem "fé" muitas vezes resulta em uma resposta como "porque Deus recompensa
aqueles que têm fé". A orientação de causalidade é incompleta e auto-referente.
[59] Logic and The Scientific Method, Cohen e Nagel, Harcourt, 1934, p. 19
[60] Sugestão de leitura: The Cancer Stage of Capitalism, John McMurtry, Pluto Press, 1999, capítulo 1
[61] A crítica sobre "Academia" não deve ser confundida com a sua definição padrão, ou seja, uma
"comunidade de estudantes e docentes envolvidos no ensino superior e de pesquisa." O contexto aqui é a
natureza de inibição das "escolas" de pensamento que muitas vezes evoluem para criar um ego em si
mesmo, onde dados conflitantes são ignorados ou mesmo desmentidos. Além disso, há um risco comum a
este modo de pensamento onde a "teoria" e "tradição" sobrepõem, com muita frequência, a "experiência"
e "experimento", perpetuando conclusões falsas.
[62] Sugestão de leitura: Value Wars: The Global Market Versus the Life Economy: Moral Philosophy and
Humanity, John McMurtry, Pluto Press, 2002
[63] http://dictionary.reference.com/browse/prima+facie
[64] Escrito por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848, este texto é amplamente considerado como a
expressão ideológica definitiva do comunismo marxista. O "comunismo" é considerado a aplicação prática
do "marxismo". Texto online: http://www.marxists.org/archive/marx/works/1848/communist-
manifesto/index.htm
[65] Definido como "o ramo da filosofia que trata do argumento sobre o conteúdo da moralidade e da
discussão meta-ética sobre a natureza do julgamento moral, linguagem, raciocínio e valor."
[http://www.thefreedictionary.com/moral+philosophy]
36
[66] O argumento de que a ciência não é uma filosofia é certamente aberto à semântica e interpretação,
mas o ponto que está sendo feito aqui é que as noções de "certo e errado" e outras distinções "éticas"
comuns na filosofia assumem uma ótica diferente no contexto científico, pois têm mais a ver com a
utilidade e equilíbrio do que meros conceitos de "moralidade", como é classicamente definido. Do ponto de
vista da ciência, o comportamento humano é mais alinhado com a causalidade inerente descoberta no
mundo natural, validada por meio de testes, construção de inferência lógica e associações para justificar as
ações humanas como "apropriadas" para uma determinada finalidade. Novamente, isso é sempre ambíguo
em certo nível e, provavelmente, o contexto mais preciso da filosofia em relação à ciência é o de um
precursor da validação durante a investigação e experimentação.
[67] O termo "mundo físico" é muitas vezes usado para diferenciar entre os processos "mentais" da mente
humana ou fenômenos do tipo sociológicos, e o ambiente físico que existe fora dos processos cognitivos da
percepção humana. Na realidade não há nada fora do "mundo físico", como o conhecemos, já que não se
encontra nenhum exemplo concreto onde as relações causais são simplesmente anuladas.
[68] Retroalimentação (Feedback) do Meio Ambiente poderia ser entendida como o "mecanismo de
correção" da natureza no que se refere a decisões humanas. Um exemplo simples seria a produção
industrial de produtos químicos que produzem retroações negativas quando liberados no meio ambiente,
mostrando a incompatibilidade com as necessidades ambientais de suporte à vida - como foi o caso dos
CFC's e seu efeito sobre a Redução da Camada de Ozônio.
[69] Sugestão de leitura: The Spirit Level, Kate Pickett & Richard Wilkinson, Bloomsbury Press, 2011
[70] Este conceito será explorado mais na Parte 3, mas vale a pena notar que o tipo de "acesso" habilitado
pelo sistema social sugerido (LNEBR) não exclui relações jurídicas para garantir o uso dos bens. A ideia de
reduzir o atual sistema de propriedade para um de "acesso protegido", onde, por exemplo, uma câmera
obtida a partir de um centro de distribuição garante o aspecto lícito do seu aluguel para essa pessoa, não
deve ser confundido com a noção capitalista de propriedade, que é uma distinção universal e uma grande
fonte de ineficiência industrial e desequilíbrio.
[72] Provavelmente a melhor descrição disso é imaginar uma luta em que um dos adversários constrói um
homem feito de palha, ataca-o, em seguida, proclama vitória. Ao mesmo tempo, o verdadeiro oponente
continua intocado.
[73] "Have you noticed...", Vital Speeches of the Day, Robert Krikorian, 1985, p. 301
[74] Giving and Volunteering in the United States: Findings from a National Survey, Hodgkinson &
Weitzman, 1992, p. 2
[75] Sugestões de leitura: Drive: The Surprising Truth About What Motivates Us, Daniel Pink, Riverhead,
2011
- Thomas Paine -
Falsas Divisões
É lógico que qualquer espécie dependente do habitat em que vive deve alinhar suas
condutas com a ordem natural inerente ao mesmo, da melhor forma que a atual
compreensão permita. Qualquer outra inclinação é irracional e, por definição, só
poderá trazer problemas.
Valores
Não é à toa, de fato, dado este quadro e sua crescente miopia, que várias outras
divisões sociais, superficiais e nocivas, ainda são perpetradas - tais como raça,
religião, credo, classe ou preconceito xenófobo. Essa antiga bagagem de divisão
trazida dos estágios de medo da nossa evolução cultural, simplesmente, não tem
sentido dentro da realidade física. E agora serve apenas para impedir o progresso, a
segurança e a sustentabilidade.
Origens e Influência
Este reconhecido padrão é, de fato, tão difundido que muitos, hoje, atribuem a
propensão para o conflito e dominação a uma característica implacável de nossa
natureza humana, concluindo que o ser humano é simplesmente incapaz de operar
em um sistema social que não seja baseado neste quadro competitivo, e que
qualquer esforço nesse sentido criará uma vulnerabilidade a ser explorada por um
poder após o outro, expressando esse aparente traço dominante/competitivo. [82]
que é, visivelmente, uma possível reação de quase todos os seres humanos, haja
vista nossa necessidade de preservação e sobrevivência [85], seja provocada pela
influência social mais do que seja ela a fonte de tal reação. Quando nos
perguntamos como o exército nazista foi capaz de justificar moralmente suas ações
na Segunda Guerra Mundial, muitas vezes esquecemos a enorme campanha de
propaganda promovida por aquele regime, que trabalhou para explorar essa
vulnerabilidade essencialmente biológica. [86]
Não é do seu interesse pessoal proteger e cultivar o habitat que o sustenta? Não é
do seu interesse pessoal cuidar da sociedade como um todo, provendo a seus
membros, para que as consequências da privação, tais como o "crime", sejam
reduzidas tanto quanto possível para garantir a sua segurança? Será que não é
interesse pessoal considerar as consequências das guerras imperialistas que podem
produzir ódio xenofóbico/nacionalista feroz de um lado do planeta, apenas para,
digamos, uma mala-bomba explodir atrás de você em um restaurante como um ato
desesperado de "retribuição" e vingança?
Não é interesse pessoal garantir a todas as crianças das sociedades - não apenas as
suas - que tenham a melhor criação e educação para que o seu futuro e o futuro de
seus filhos possam existir em um mundo responsável, educado, e cada vez mais
produtivo? Não é do seu interesse pessoal certificar-se de que a indústria esteja tão
organizada, otimizada e cientificamente acurada quanto possível, de modo que não
41
produzamos tecnologia barata, inferior, que possa talvez causar um problema social,
no futuro, se falhar?
Guerras
suficiente - a própria estrutura precisa mudar para dar suporte a um tipo diferente
de interação entre esses "grupos" regionais, de forma que a perpétua "ameaça"
inerente entre os estados-nação seja removida.
[78] Um exemplo disso seria o viés econômico patriótico que muitas vezes influencia as ações da indústria
regional. Na realidade física, tecnicamente existe apenas uma economia quando se trabalha com os
recursos do planeta Terra e as Leis Naturais. A ideia de "Produzido nos EUA", por exemplo, gera uma
ineficiência técnica imediata, pois a produção adequada de mercadorias é um assunto mundial em todos os
níveis, inclusive o usufruto do conhecimento do mundo. Restringir intencionalmente o trabalho e a
utilização/aquisição de materiais somente apenas dentro dos limites das fronteiras de um determinado
país é economicamente contraproducente no verdadeiro sentido da palavra "economia".
[79] No campo da genética humana, "Eva mitocondrial" refere-se ao ancestral matrilinear comum mais
recente (MRCA - do inglês, Most Recent Common Ancestor) dos humanos modernos. Em outras palavras,
ela era a mulher mais recente de que todos os seres humanos vivos hoje descendem, do lado materno.
Somos uma família." Além disso, descobriu-se que todas as características de diferença de raça
(características faciais, cor da pele) estão ligadas às condições ambientais em que esses sub-grupos de
seres humanos viveram e evoluíram. Portanto, isto é uma falsa distinção como um meio para discriminação
superficial.
[80] Às vezes também chamada de Revolução Agrícola, que foi a primeira revolução historicamente
verificável do mundo na agricultura. Foi a transição em larga escala de muitas culturas humanas de um
estilo de vida de caça e coleta para um de agricultura e colonização que suportou uma população cada vez
maior e é a base para os padrões da sociedade moderna de hoje.
[81] Somente no século 20, estatísticos afirmam que o número de mortes humanas da guerra varia entre
180 e 220 milhões, com alguns contrariando esses números, alegando evidências que colocam esses
números 3 vezes maiores em muitos casos regionais:
[http://www.sciencedaily.com/releases/2008/06/080619194142.htm ]
[82] Um texto clássico que empregava esse medo básico era de Hayek, "O Caminho da Servidão". Neste
trabalho de Hayek o conceito de "Natureza Humana" tinha uma implicação muito clara, justificada
fundamentalmente pelas tendências históricas do totalitarismo, o qual ele sugeria estar relacionado às
economias colaborativas e planejadas.
[84] Foi comprovado que o Debate Natureza/Criação é uma falsa dualidade nos campos de estudo da
psicologia comportamental biológica-evolucionária. A realidade é a de uma interação contínua, com o peso
da relevância variando de caso a caso. No entanto, o que é relevante aqui é o estudo do "gradiente de
comportamento" do ser humano e exatamente quão adaptáveis e flexíveis somos. Sugestões de leitura:
Why Zebras Don't Get Ulcers, Robert Sapolsky, W. H. Freeman, 1998.
[85] Comumente denominada: "A resposta de luta ou fuga" (ou a resposta ao estresse agudo) e foi descrita
pela primeira vez pelo fisiologista americano Walter Bradford Cannon.
[86] "Porque, naturalmente, as pessoas não querem guerra. Por que um pobre coitado em uma fazenda vai
querer arriscar a sua vida em uma guerra quando o seu maior ganho é conseguir voltar inteiro para sua
fazenda? Naturalmente, as pessoas comuns não querem guerra, nem na Rússia, nem na Inglaterra, nem
mesmo na Alemanha. Isso é compreensível. Mas, afinal de contas, são os líderes do país que determinam a
política e é sempre uma simples questão de arrastar o povo, seja isso uma democracia, ditadura fascista,
parlamento ou ditadura comunista. Com voz ou sem voz, o povo sempre pode ficar à disposição dos líderes.
Isso é fácil. Tudo que você tem a fazer é dizer-lhes que estão sendo atacados e denunciar os pacifistas por
falta de patriotismo e expor o país ao perigo. Isso funciona da mesma forma em qualquer país ", Hermann
Göring [um dos principais membros do Partido Nazista; Em uma entrevista com Gilbert na cela prisional de
Göring durante o Tribunal de Crimes de Guerra de Nuremberg (18 de abril de 1946)].
[87] "Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas
da consideração que eles têm pelos próprios interesses. Apelamos não à humanidade, mas ao amor-
próprio, e nunca falamos de nossas necessidades, mas das vantagens que eles podem obter.
"- Adam Smith, A Riqueza das Nações, Uma Investigação Sobre a Natureza, Vol. 1
[88] Em 1917, o sociólogo Thorstein Veblen escreveu esta observação perspicaz com relação às mudanças
na sociedade e como elas refletem a premissa original da economia de mercado."As teorias padrão da
ciência econômica assumiram os direitos de propriedade e contrato como premissas axiomáticas e termos
finais de análise; e suas teorias são geralmente desenhadas de tal forma a se encaixarem às circunstâncias
da indústria artesanal e do pequeno comércio... Essas teorias... parecem convincentes, em geral, quando
aplicadas à situação econômica daquela época... É quando essas teorias padrões são aplicadas à situação
atual, que superou as condições de produção artesanal, que elas parecem inoperantes e aberrantes." [Uma
Investigação Sobre A Natureza Da Paz E Os Termos Da Sua Perpetuação] Ele também antecipou a ascensão
da "classe de investimento", na forma das atuais instituições financeiras não-produtoras, tais como bancos
e mercado de ações, que se tornaram mais lucrativas do que a própria produção de bens de verdade.
[89] Valor adaptativo é um termo biológico geralmente definido como "A probabilidade de que a
descendência de um indivíduo que possui uma característica específica não vai perecer." Neste contexto,
estamos ligando as ações humanas, socialmente, com a ideia de sobrevivência da espécie.
- A. Einstein -
Os benefícios desta abordagem não devem apenas ser levados em conta por seu
próprio mérito, mas também devem ser considerados em contraste com os
métodos tradicionais em voga e suas consequências. Assim será possível perceber
por comparação que os atuais métodos da sociedade não estão somente
grosseiramente ultrapassados e ineficientes - estão cada vez mais perigosos e
desumanos -, tornando ainda mais importante a necessidade de mudanças sociais
em larga escala. Não se trata de "Utopia" - mas sim de melhorias verdadeiramente
práticas.
É por isso que o modelo de uma economia monetária de mercado é muitas vezes
considerado naturalmente religioso nos materiais do MZ, pois seu mecanismo
causal é baseado em suposições praticamente supersticiosas sobre a condição
humana, havendo pouca correlação com os entendimentos científicos emergentes
sobre nós mesmos e sobre a rígida relação simbiótica/sinérgica entre o nosso
habitat e as leis naturais que o regem.
45
Tudo é Técnico
Construir uma máquina para realizar algum trabalho com o objetivo de otimizar o
desempenho, segurança e eficiência não é uma questão de opinião, assim como não
46
Infelizmente, nunca na história foi dada uma verdadeira chance a essa perspectiva e
hoje o nosso mundo ainda caminha de forma incongruente, tendo como principal
incentivo o lucro pessoal e a vantagem imediata, no lugar de métodos industriais
estratégicos, alinhamento ecológico, estabilidade social, preocupação com a saúde
pública e sustentabilidade geracional.
Tudo isso está sendo dito novamente pois o argumento da Natureza Humana
mantido contra essa abordagem é realmente o único argumento aparentemente
técnico que pode defender o antiquado sistema que temos hoje; é realmente o
único argumento que resta quando as pessoas interessadas em manter esse sistema
percebem que não há nada mais que elas possam argumentar logicamente e que
seja viável, dada a irracionalidade inerente a qualquer outra objeção ao sistema
social baseado na lei natural.
Irracionalmente Limitado?
Resumindo, este desafio pode ser posto em uma pergunta: "Seria a espécie humana
capaz de se adaptar e prosperar em um sistema tecnicamente planejado e
organizado, onde nossos valores e práticas sejam alinhados com as leis conhecidas
da natureza, ou estaríamos limitados por nossos genes, biologia e psicologia
evolucionista, podendo apenas operar da forma como conhecemos hoje?"
Então, antes de entrar em detalhes sobre este assunto, vale a pena notar que a
nossa própria definição de ser humano, na visão de longo e curto prazo, é baseada
47
Além disso, embora esteja claro que nós, seres humanos, ainda mantemos reações
"inatas" e previsíveis de sobrevivência pessoal, [100] também temos a capacidade
de evoluir os nossos comportamentos através do pensamento, consciência e
educação, [101] o que nos permite, de fato, controlar e superar essas reações e
impulsos primitivos, se as condições necessárias forem mantidas e reforçadas. Esta é
uma distinção muito importante e é, de muitas maneiras, o que separa a variedade
dos seres humanos dos outros primatas. [102]
Mudando As Condições
No entanto, o escopo dessa visão não é apenas tratar das várias pressões temporais
que podem desencadear esta ou aquela propensão específica - é sobre tratar de
todos os valores educacionais, religiosos/filosóficos, políticos, sociais e ideais
perpetuados e reforçados por essas pressões. Se fôssemos confrontados com uma
opção de adaptar a nossa sociedade de uma forma que possa comprovadamente
melhorar a saúde pública, nós simplesmente não o faríamos? Pensar que os seres
humanos em uma sociedade são simplesmente incompatíveis com métodos que
possam aumentar seu padrão de vida e de saúde é extremamente improvável.
Concluindo esta seção, afirmemos que a "Natureza Humana" é um dos temas mais
complexos se levarmos em conta suas minúcias. No entanto, a ampla consciência
sobre uma provável melhoria da saúde pública básica por meio de redução do
estresse, aumento da qualidade nutricional e estabilização da sociedade,
trabalhando em direção à abundância e simplicidade ao invés de conflitos e
complexidade, não é suscetível a muitos debates.
49
[93] Estes termos estão detalhados na Lista de Vocabulário - Apêndice A. A "Linha de Pensamento" tem a
ver com o raciocínio subjacente que leva às conclusões defendidas pelo MZ - enquanto o "Conjunto de
Aplicações" é simplesmente o estado atual da tecnologia. A diferença entre os dois é que o primeiro é
quase empírico, enquanto o segundo é transitório já que as ferramentas tecnológicas estão sempre em
mutação.
[94] Muito pode ser dito sobre o assunto de organização econômica e mecanismos de produção industrial,
e muito mais será descrito na Parte 3. No entanto, é necessário afirmar aqui que o "mecanismo de preços",
que é o catalisador fundamental do desdobramento do desenvolvimento econômico, é inerentemente
anárquico devido à falta de relações sistêmicas eficientes nas práticas macro-industriais. Produção,
distribuição e alocação de recursos não são de forma alguma "estratégicos" no sentido físico e técnico - a
única estratégia utilizada, definida como "eficiência" na economia de mercado, tem a ver com o lucro e
perda / custo do trabalho / despesa. Apenas parâmetros monetários que não possuem nenhuma
vinculação com a eficiência física.
[95] Isto foi confirmado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação e pelo
Programa Alimentar Mundial. Este site é recomendado para referência:
http://overpopulationisamyth.com/food-theres-lots-it#header-1
[96] http://www.news-medical.net/news/20090623/102-billion-starving-people-worldwide-UN-says.aspx
[97] A noção de "tábula rasa" tornou-se popular por Thomas Hobbes, mas pode ser encontrada nos escritos
de Aristóteles. Esta é a ideia de que, em suma, os indivíduos nascem sem orientação mental inata e que
tudo é aprendido. Atualmente, esse conceito tem sido bastante refutado devida à comprovada
"aprendizagem programada" e "psicologia evolutiva" inerentes aos seres humanos; entretanto, essa ideia
ainda tem persistido.
[98] A visão de que os seres humanos são substancialmente mais afetados pelos genes e pela Biologia do
que pelo condicionamento ambiental, no que diz respeito ao comportamento humano, ainda é um debate
acalorado, sem mencionar a frequente reação intuitiva de muitos em relação a certos padrões humanos. A
frase "É apenas a natureza humana" é muitas vezes expressa pelo leigo. Autores como Steven Pinker são
notáveis por promoverem o domínio da psicologia evolutiva sobre o condicionamento ambiental.
[99] Uma "adaptação", em biologia, é um traço com um papel funcional atual na história de vida de um
organismo, que é mantido e desenvolvido por meio da 'seleção natural'. Em suma, isso ocorre devido a
pressões sobre o organismo em um meio ambiente. Da mesma forma, "Epigenética" é um novo campo e
estuda as mudanças hereditárias na expressão gênica ou no fenótipo celular causadas por mecanismos
50
outros além das alterações na sequência de DNA. Em suma, é uma adaptação de curto prazo a nível de
"expressão" gênica, que também é influenciada pelo meio ambiente. E no que se refere a cultura, isso é
mais fácil de entender. Por exemplo, o idioma que você fala é uma adaptação ao grupo cultural existente,
assim como a religião que você pode ter aprendido e, portanto, muitos dos valores que você possui são um
resultado direto das condições culturais das quais você faz parte.
[100] O conceito de uma "Reação Instintiva" pode ser aqui aplicado. No entanto, a diferenciação do que é
ou não instintivo tornou-se cada vez mais ambígua no estudo do comportamento humano. Ainda assim,
está fundamentalmente claro que existem padrões muito específicos em comum na espécie humana,
especialmente no contexto de sobrevivência e influência do estresse. Diante do perigo, reações biológicas e
endócrinas muito comuns ocorrem quase que universalmente, e muitas vezes geram tendências
comportamentais também previsíveis em todas as outras espécies.
[101] O termo "plasticidade comportamental" pode ser aqui aplicado como uma extensão de
"neuroplasticidade", que se refere a mudanças ativas nas vias neurais e nas sinapses. Assim como o cérebro
era considerado um órgão estático, o comportamento humano - expressão da atividade cerebral -
claramente também sofre mudanças. Por mais complexos que assuntos como o "livre-arbítrio" e os
processos de decisão sejam para as ciências psicológicas, a natureza da mente humana demonstra,
claramente, adaptabilidade e vulnerabilidade às condições externas. Ao contrário de nossos ancestrais
primatas, nosso neocórtex avançado* parece ser um centro de pensamento consciente e, nas palavras do
Dr. Robert Sapolsky, neurocientista da Universidade de Stanford: "Em um certo nível, a natureza de nossa
natureza não será particularmente limitada por nossa natureza "[no filme Zeitgeist: Moving Forward, de
2011].
[102] * Mais informações sobre o neocórtex, uma área avançada do cérebro humano atribuída à
consciência podem ser encontradas aqui: http://www.nature.com/nrn/journal/v10/n10/abs/nrn2719.html
[103] Taxas de mutações no DNA variam de espécie para espécie e têm sido historicamente muito difíceis
de se estimar. Hoje, com Sequenciamento Direto, é possível isolar as mudanças exatas. Em um estudo
realizado em 2009, os DNAs de dois parentes masculinos distantes - separados por treze gerações - cujo
ancestral comum viveu há 200 anos atrás, foram sequenciados, encontrando apenas 12 diferenças entre
todas as "letras" de DNA analisadas. "Os dois cromossomos Y ainda eram idênticos em 10.149.073 das
10.149.085 letras examinadas. Das 12 diferenças... apenas quatro eram verdadeiras mutações ocorridas
naturalmente através das gerações. "[http://www.sciencedaily.com/releases/2009/08/090827123210.htm]
Em relação ao genoma humano, estima-se que pode passar por apenas algumas centenas de mudanças ao
longo de dezenas de milhares de anos.
[104] Um exemplo clássico é a "Fome do Inverno Holandês". Um estudo de rastreamento de pessoas que
sofreram desnutrição grave enquanto fetos durante a Segunda Guerra Mundial, constatou que em sua vida
adulta sofriam de várias síndromes metabólicas e problemas de metabolismo devido à "programação" que
ocorreu durante esse período no útero. Ref: Famine and Human development: The Dutch hunger winter of
1944-1945. New York, NY, EUA: Oxford University Press.
[105] Dr. Gabor Maté em sua obra "In the Realm of Hungry Ghosts" (North Atlantic Books, 2012) apresenta
uma enorme quantidade de pesquisas a respeito de como a "perda emocional" que ocorre em idades
jovens afeta o comportamento na vida adulta, mais especificamente a propensão para os vícios.
[106] A relevância da natureza da interação social é mais profunda do que se pensava. A correlação entre
os diversos fatores macro-sociais e problemas de saúde pública, tais como expectativa de vida, transtorno
mental, obesidade, doenças cardíacas, violência e muitas outras questões sociológicas, foram bem
resumidas no livro The Spirit Level, escrito por Richard Wilkinson e Kate Pickett, Penguin, março 2009.
51
[107] Um estudo singular de prematuros em incubadoras descobriu que, quando os estimulavam durante
esse tempo (ou mostrava-se "afeto" através do simples toque) a sua saúde fisiológica, em longo prazo, era
bastante melhorada em comparação com os que não eram tocados. Ref: Tactile/kinesthetic stimulation
effects on preterm neonates, Pediatrics. 1986
[108] Ref: The Structure of Genetic and Environmental Risk Factors for Common Psychiatric and Substance
Use Disorders in Men and Women, Arch Gen Psychiatry. 2003; 60
52
- Dostoyevsky -
Visão Geral
Qual é a verdadeira medida de sucesso para uma sociedade? O que é que nos faz
felizes, saudáveis, estáveis e equilibrados com o mundo ao nosso redor? Não seria o
nosso sucesso simplesmente a nossa habilidade de entendermos e nos adaptarmos
às realidades do nosso mundo para conseguirmos os melhores resultados possíveis
em qualquer circunstância? E se descobríssemos que a própria natureza do nosso
sistema social estaria, na verdade, reduzindo a nossa qualidade de vida em longo
prazo?
Uma vez que cada componente da Saúde Pública tem suas próprias características e
causalidade, é possível considerar abordagens alternativas para a resolução ou
melhoria de um determinado problema, que podem não estar sendo praticadas
atualmente, mas que claramente deveriam estar. A base da Linha de Pensamento
aqui expressa passa por uma análise dos atuais componentes de Saúde Pública para
entender o que está acontecendo ao longo do tempo e nas diferentes
circunstâncias, juntamente com uma avaliação caso a caso dos problemas e uma
consideração inferencial do que se poderia "consertar" ou "melhorar" na maior
escala possível.
Esta análise irá separar a questão da Saúde Pública em duas categorias gerais -
fisiológicas e psicológicas [114] - com cada categoria dividida em temas que
representam problemas dominantes em um percentual relevante da população em
geral.
O Fator Econômico
de uma região, como o fato de que o câncer é mais comum em sociedades de alta
renda, enquanto doenças diarreicas são mais comuns em sociedades de baixa
renda, dão uma visão de como o amplo contexto da posição socioeconômica pode
afetar a saúde pública.
Mahatma Gandhi uma vez disse: “A pobreza é a pior forma de violência”.[117] Seu
contexto se relacionava com as mortes desnecessárias causadas pela pobreza, no
sentido das limitações mais amplas que as severas restrições financeiras têm sobre a
saúde. Esta ideia foi mais tarde englobada em um termo chamado Violência
Estrutural [118], definida pelo Dr. James Gilligan como "... as taxas aumentadas de
morte e invalidez sofridas por aqueles que ocupam os degraus inferiores da
sociedade." Ele diferencia Violência Estrutural de Violência Comportamental, sendo
que na primeira o causador "opera continuamente, em vez de esporadicamente".
[119]
Favor notar que o termo "Violência" neste contexto não se limita à classificação
usual de danos físicos, tais como combate pessoal ou abuso físico. O contexto se
estende para incluir a opressão social, muitas vezes invisível, que, através das
características da cadeia de motivações inerentes ao nosso sistema social, leva ao
dano desnecessário de pessoas, tanto físico, psicológico ou ambos. Exemplos disso
podem variar do óbvio ao complexo na corrente de causa e efeito.
dependência de drogas. [122] Anos mais tarde, ainda sofrendo com a dor sentida
naqueles períodos iniciais, a criança, agora adulta, morre em uma overdose de
heroína. Pergunta: o que causou a overdose? A heroína? A influência da mãe? Ou a
circunstância econômica que a mãe se encontrava que não permitiu o equilíbrio e o
devido cuidado de seu filho? [123]
Claramente, não há utopia para a condição humana, e achar que podemos ajustar o
sistema socioeconômico para acabar com todos esses e outros macro e micro
problemas estruturais, 100% do tempo, é um absurdo. [124] No entanto, o que é
possível é uma melhoria drástica de tais questões de saúde pública, mudando a
natureza da condição socioeconômica da forma mais estratégica possível. Ao
prosseguirmos com a análise caso a caso dos principais transtornos mentais e físicos
do mundo, notamos que a verdadeira necessidade para a melhoria da saúde pública
repousa, quase que inteiramente, nesta premissa socioeconômica de causalidade
[125].
Segundo Gernot Kohler e Norman Alcock em seu trabalho de 1976, 'An Empirical
Table of Structural Violence', dramáticas 18 milhões de mortes estavam previstas
para ocorrer a cada ano devido à violência estrutural [126], e esse estudo foi
realizado há mais de 30 anos. Desde então, a diferença global entre ricos e pobres
mais do que duplicou, o que sugere que o número de mortes hoje seja muito maior.
De fato, a violência estrutural é o assassino mais mortal do planeta. O gráfico a
seguir mostra as taxas de morte de um grupo demográfico específico, revelando a
mais ampla correlação entre baixa renda e aumento da mortalidade.
Saúde Fisiológica
A OMS deixou claro em escala global que, geralmente, níveis socioeconômicos mais
baixos geram mais doenças do coração e, naturalmente, mais fatores de risco que
conduzem a elas. [135] Isto, por um lado, traça uma relação direta entre a situação
econômica e a ocorrência de doenças. Não há nenhuma evidência mostrando que as
diferenças genéticas entre grupos regionais possam ser responsáveis por essas
variações, e é óbvio que o baixo poder de compra leva as pessoas a estilos de vida
que incluem muitos desses fatores de risco.
de morte por doença cardíaca foi 40% maior para os homens pobres do que para os
mais ricos. [137]
Dado que a nossa tese original considera um elo entre o próprio sistema social e a
prevalência de doenças e seus fatores de risco associados, é preciso considerar a
relação direta entre estresse e poder de compra.
Começando com o último, que é mais simples, é óbvio que hábitos de saúde ruins
ocorrem em ambientes de baixa renda devido à falta de recursos financeiros para
uma melhor nutrição, [138] atenção médica [139] e educação. [140] Muitos dos
alimentos com alto teor de gordura e alto fator de risco de sódio, por exemplo, que
levam a doenças cardíacas, também são os alimentos mais baratos encontrados nas
lojas.
Vale notar que o nosso modelo socioeconômico produz bens com base na
capacidade de compra da demografia alvo. A decisão de produzir bens alimentícios
de baixa qualidade é tomada com base no lucro, e, como a grande maioria do
planeta é relativamente pobre, não é nenhuma surpresa que, a fim de atender a
esse mercado, a qualidade deva ser reduzida para permitir vendas competitivas. Em
outras palavras, há um mercado para cada classe social, e, naturalmente, quanto
mais baixa a classe, menor a qualidade. Essa realidade é um exemplo de uma ligação
direta entre o sistema social e a causa de doenças. Enquanto educar as pessoas
pobres sobre a diferença de qualidade nos produtos alimentares poderia ajudá-las a
tomar melhores decisões em relação à alimentação, as restrições financeiras
inerentes à sua condição poderiam facilmente tornar essa decisão difícil, se não
impossível, pois, mais uma vez, esses produtos são em média mais caros.
O Fator Estresse
Agora vamos analisar o papel do estresse. O estresse tem mais efeitos sobre a
doença cardíaca do que se pensava, e isso não tem a ver somente com o fato
estatístico de que as pessoas de baixa renda tem uma tendência a lidar melhor com
seus problemas por meio de hábitos como o fumo e a bebida, manifestando pressão
arterial elevada e, consequentemente, ignorando a sua saúde e bem-estar por causa
58
da luta constante por renda e sobrevivência. Embora esses fatores sejam evidentes,
e, novamente, encontram-se amarrados a uma estratificação inevitável encontrada
na Economia de Mercado Monetário, [141] a forma mais prejudicial de estresse vem
sob a forma de estresse psicossocial, ou seja, o estresse relativo à interação
psicológica com o ambiente social.
Esse padrão tem sido confirmado por muitos estudos ao longo dos anos, incluindo
uma profunda compilação de pesquisas organizada por Richard Wilkinson e Kate
Pickett. Em seu trabalho, "The Spirit Level - Why Equality is Better for Everyone",
eles usam como fonte centenas de estudos epidemiológicos sobre o assunto,
descrevendo como sociedades mais desiguais perpetuam uma vasta gama de
problemas de saúde pública, tanto fisiológicos quanto psicológicos.
Deixando de lado as doenças cardíacas, sabemos agora que alguns tipos de câncer,
doenças pulmonares crônicas, doenças gastrointestinais, dores nas costas,
obesidade, pressão alta, baixa expectativa de vida e muitos outros problemas
também estão ligados ao nível socioeconômico de modo geral, não tendo ele como
apenas um fator de risco singular. [144] Há um "gradiente social", que pode ser
assim chamado, dos níveis de saúde ao longo da sociedade, e a posição onde nos
encontramos em relação a outras pessoas tem um poderoso efeito psicossocial -
aqueles acima de nós têm, em média, uma saúde melhor, enquanto os abaixo de
nós têm níveis piores de saúde [145].
59
Uma comparação estatística entre a saúde pública de países com altos níveis de
desigualdade de renda (como os Estados Unidos) e os com níveis mais baixos do
mesmo índice (como o Japão) revela essas verdades de forma muito óbvia.[146]
No entanto, tais doenças geralmente consideradas “físicas” são apenas uma parte
da crise na saúde pública gerada pela desigualdade que, por sua vez, é apenas mais
uma consequência da estratificação direta e imutável, inerente ao nosso sistema
social global.
Saúde Psicológica
"Embora as pessoas com doença mental tenham, por vezes, alterações nos níveis de
certas substâncias químicas do cérebro, ninguém tem demonstrado que essas
alterações são a causa da depressão, no lugar de serem causadas pela
depressão...embora certa vulnerabilidade genética possa estar na base de algumas
doenças mentais, isso, por si só, não explica os enormes aumentos de doenças nas
últimas décadas - nossos genes não podem mudar tão rápido." [154]
Parece que o nosso status social relativo tem um efeito profundo em nosso bem-
estar mental e essa tendência também pode ser encontrada no que poderia ser
declarado como a psicologia evolutiva dos primatas semelhantes. Um estudo de
2002 realizado com macacos do gênero Macaca descobriu que aqueles que eram
subordinados, ou inferiores, em uma determinada hierarquia social, tinham menos
atividade de dopamina que os que eram dominantes, e que essa relação mudava
quando os grupos se arranjavam diferentemente. Em outras palavras, a biologia
tinha pouco a ver - somente o arranjo social foi responsável por reduzir ou elevar os
níveis de dopamina. Também foi descoberto que o macaco hierarquicamente
inferior usaria mais cocaína para compensar. Isso é revelador, pois os baixos níveis
de dopamina em primatas (incluindo os seres humanos) possuem uma correlação
direta com a depressão. [155]
Esse padrão tornou-se muito claro e, enquanto fatores diretos de estresse como a
segurança no emprego, dívidas e outros fatores econômicos, em grande parte
inerentes ao sistema social, desempenham um papel importante,[156] a relevância
do status socioeconômico propriamente dito ainda se faz preponderante.
Mesmo o status social ditado pelas relações de castas, em países como a Índia, pode
ter um efeito profundo sobre a confiança e o comportamento. "Um estudo realizado
em 2004 comparou a capacidade de resolução de problemas de 321 meninos
indianos de alta casta contra 321 de baixa casta. Os resultados demonstraram que,
quando a casta não era anunciada publicamente antes de começar a resolução de
problemas, ambos grupos atingiam resultados semelhantes. Na segunda rodada,
61
Por exemplo, o abuso infantil, tanto físico quanto emocional, aliado a níveis cada vez
mais intensos de estresse individual, tem uma correlação direta com atos
premeditados e impulsivos de violência. E enquanto os homens possuem uma
propensão estatisticamente maior para a violência, devido, em grande parte, às
características endocrinológicas que, embora não causem reações de violência,
podem aumentá-las sob a influência do estresse, [159] o ponto em comum, aqui, é a
influência do meio ambiente e da cultura.
Não se pode negar a relação dos hormônios ou até mesmo de possíveis propensões
genéticas [160], mas mostrar que a origem desse comportamento claramente não é
a nossa biologia, mas a condição sob a qual um ser humano vive e as experiências
que enfrenta. Outras hipóteses populares de causas, como o “instinto”, também são
muito abstratas e vagas para sustentar qualquer validade operacional. [161]
62
"Eu estou sugerindo que a única maneira de explicar as causas da violência, para
que possamos aprender a evitá-la, é aproximar a violência de um problema de
saúde pública e medicina preventiva, e de pensar na violência como um sintoma de
uma patologia que ameaça a vida, e que, como todas as formas de doenças, tem
uma etiologia ou causa, um patógeno." -Dr. James Gilligan [162]
No diagnóstico do Dr. Gilligan, ele deixa muito claro que a maior causa de
comportamento violento é a desigualdade social, destacando as consequências da
vergonha e humilhação, características emocionais daqueles que se envolvem em
violência. [163] Thomas Scheff, professor emérito de sociologia na Califórnia
afirmou que “a vergonha era a emoção social”.[164] Vergonha e humilhação podem
ser equiparados com os sentimentos de estupidez, inadequação, vergonha, loucura,
sentir-se exposto, insegurança, etc. - na sua origem, tudo é, em grande parte, social
ou comparativo.
Não é necessário dizer que, em uma sociedade global, não só com crescente
disparidade de renda, mas, inevitavelmente, disparidade de "auto-estima" - uma vez
que o status é apresentado como diretamente relacionado ao "sucesso" em nossos
empregos, tamanho de contas bancárias e assim por diante - não é nenhum mistério
que os sentimentos de inferioridade, vergonha e humilhação sejam parte
importante da cultura dos dias atuais. A consequência desses sentimentos tem
implicações muito graves para a saúde pública, como observado anteriormente,
incluindo a epidemia de violência comportamental que vemos hoje nas suas formas
variadas e complexas. Terrorismo, tiroteios em escolas e igrejas, e outros atos
extremos que simplesmente não existiam antes, revelam uma evolução na própria
violência. Dr. Gilligan conclui: "Se quisermos evitar a violência, então, a nossa
agenda deve ser a reforma política e econômica". [165]
Em Conclusão
Este ensaio tentou passar uma visão concisa das relações causais fundamentais em
saúde humana, nos níveis psicológico e fisiológico. Seu cerne é a forma como a
63
Embora seja muito claro como as relações econômicas diretas reduzem a saúde e o
bem-estar humano na forma de privação absoluta, como a incapacidade para obter
alimentos de qualidade, restrições de tempo em função do trabalho, as quais, por
sua vez, reduzem o apoio emocional e de desenvolvimento às crianças, e a perda na
qualidade da educação devido a problemas de financiamento regionais, aliado a
distúrbios específicos como o fato de que a maioria dos casamentos termina devido
a problemas financeiros,[166] a questão da privação relativa tem sido um foco
maior por ser também causa das mais absolutas privações.
Como será discutido nos ensaios seguintes, meros ajustes no atual sistema
socioeconômico não são suficientes, em longo prazo, para resolver esses problemas
de forma substancial. Os princípios mais fundamentais do nosso modelo atual estão
vinculados às orientações hierárquicas econômicas e competitivas, e trabalhar
verdadeiramente para remover esses atributos e suas consequências exige
transformar completamente todo o sistema social.
[110] A questão aqui diz respeito à forma como a sociedade moderna recompensa e reforça certos
comportamentos em detrimento de outros. Por exemplo, no mundo ocidental, mais recompensas
64
financeiras chegam a instituições financeiras não produtoras do que a verdadeiramente produtoras de bens
e serviços. Isso tem gerado um problema de incentivo que também inclui o desrespeito ambiental e o
desprezo à saúde pública em geral. Como será aludido mais adiante neste texto, a psicologia da economia
de mercado, na verdade, se opõe à sustentação da vida.
[111] Nos últimos anos, outras tentativas foram feitas para quantificar "felicidade" e o bem-estar, como a
Felicidade Interna Bruta (FIB) Indicador que faz mensuras através de pesquisas periódicas
http://www.grossnationalhappiness.com/
[113] "A Evolução da Medicina Social" (The Evolution of Social Medicine), Rudolph Virchow: Rosen G., do
Manual de Sociologia Médica, Prentice-Hall, 1972
[114] Fenômenos sociológicos serão agrupados aqui na categoria Psicológica por uma questão de
simplicidade, pois o resultado de uma condição sociológica são os estados psicológicos dos indivíduos
agregados.
[115] Bio-psico-social significa a interação de uma influência biológica, psicológica e sociológica sobre uma
determinada consequência. Por exemplo, a obesidade, superficialmente, refere-se a comer. Se uma pessoa
come demais, ela ganha peso. No entanto, há boas evidências (como será apresentado mais adiante neste
ensaio), atualmente, que mostram como a psicologia de uma pessoa pode ser levada a almejar o conforto
de consumir devido a fatores externos - como uma história emocional de privação ou má adaptação
corporal onde maus hábitos são formados e esperados. Essas últimas noções que influenciam a própria
psicologia são um resultado da condição sociológica.
[117] Citado em "Uma paz justa através de Transformação: Fundações culturais, econômicas e políticas
para a mudança" (tradução livre), a Associação Internacional da Paz, 1988 (A Just Peace through
Transformation: Cultural, Economic, and Political Foundations for Change, International Peace Association,
1988).
[118] Referência sugerida: An Empirical Table of Structural Violence, Gernot Kohler e Norman Alcock, 1976
http://jpr.sagepub.com/content/13/4/343.extract
[119] Violence, James Gilligan, Grosset / Putnam, New York, 1992, p. 192
[121] O termo perda emocional relaciona-se com um trauma emocional grave vivido, principalmente na
infância, com efeitos persistentes. Nas palavras do Dr. Gabor Maté "O maior dano causado pela
negligência, trauma ou perda emocional não é a dor imediata que infligem, mas as distorções de longo
prazo que eles induzem na forma como a criança em desenvolvimento continuará a interpretar o mundo e
sua própria situação." "In the Realm of Hungry Ghosts", North Atlantic Books, 2012, p. 512
[122] Como observado antes, o trabalho de Gabor Maté sobre o tema da dependência resultante da perda
emocional na infância e sentimentos de inseugrança é altamente recomendado. "In the Realm of Hungry
Ghosts", North Atlantic Books, 2012
[123] Recomenda-se o trabalho "Mental Illness and the Economy" (Doença Mental e a Economia, tradução
livre), por MH Brenner. Resumo: "Ao correlacionar extensos dados econômicos e institucionais do Estado
de Nova York no período 1841-1967, Harvey Brenner conclui que as instabilidades da economia nacional
65
são a fonte mais importante de flutuações nas admissões hospitalares por doença mental ou nas taxas de
admissão destas."
[125] Um estudo de referência no mesmo contexto básico é O Efeito de Fatores de Risco Conhecidos Sobre
o Excesso de Mortalidade entre Adultos Negros nos Estados Unidos, Journal of the American Medical
Association, 263 (6) :845-850, 1990. Esse estudo epidemiológico constatou que dois terços das mortes
afroamericanas, no contexto do estudo, só poderiam ser explicadas devido ao baixo status socioeconomico
e suas consequências diretas / indiretas.
[126] "An Empirical Table of Structural Violence" ("Uma tabela empírica da Violência Estrutural", tradução
livre), Gernot Kohler e Norman Alcock, 1976
[130] Tendências dos EUA para doenças cardíacas, câncer e derrame, PRB
http://www.prb.org/Articles/2002/USTrendsinHeartDiseaseCancerandStroke.aspx
[133] O Atlas de Doenças do Coração e Derrame, OMS e CDC, Parte 3, Carga Global de Doença Coronária
(The Atlas of Heart Disease and Stroke, WHO & CDC, Part 3, Global Burden of Coronary Heart Disease)
[134] Ibid.
[136] "Curso de vida, posição socieconômica e incidência de doença cardíaca coronariana", tradução livre
(Life-Course Socioeconomic Position and Incidence of Coronary Heart Disease), American Journal of
Epidemiology, 1 de abril de 2009. http://aje.oxfordjournals.org/content/early/2009/01/29/aje.kwn403
[137] Doença Cardíaca ligada à Pobreza (Heart Disease Tied to Poverty), New York Times, 1985
http://www.nytimes.com/1985/02/24/us/heart-disease-tied-to-poverty.html
[138] Citação do estudo "Americanos de baixa renda podem pagar uma dieta saudável?", tradução livre
("Can Low-Income Americans Afford a Healthy Diet?") "Muitos profissionais de nutrição acreditam que
todos os americanos, independentemente da renda, tenham acesso a uma alimentação nutritiva de grãos
integrais, carnes magras, legumes e frutas frescas. Na realidade, os preços dos alimentos representam uma
barreira significativa para muitos consumidores que estão tentando equilibrar uma boa alimentação com
preços acessíveis." http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2847733/
66
[139] Referência: Os custos médicos empurram milhões de pessoas para a pobreza em todo o mundo, OMS
(Medical costs push millions of people into poverty across the globe, WHO)
http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2005/pr65/en/index.html
[140] Referência: "Estudos afirmam que discrepâncias na educação entre ricos e pobres aumenta"
(Education Gap Grows Between Rich and Poor, Studies Say), New York Times 2012
[ http://www.nytimes.com/2012/02/10/education/education-gap-grows-between-rich-and-poor-studies-
show.html?pagewanted=all ]
[141] Estratificação de classes é uma parte imutável do modelo socioeconômico atual, devido tanto ao
sistema de incentivos que distribui renda desproporcionalmente, quanto ao favorecimento estratégico das
camadas superiores da hierarquia - como em 2007, os executivos chefes das maiores 365 empresas norte-
americanas receberam bem mais de 500 vezes o salário do trabalhador médio. Isso pode ser combinado
com práticas de política monetária macroeconômica que estruturalmente recompensam os ricos e punem
os pobres através do sistema de juros. (Os ricos recebem renda através de juros sem aplicarem
investimentos, enquanto os pobres, com falta de capital de investimento, tomam empréstimos para a
maior parte das suas grandes compras, pagando juros. Abstraindo, os pobres são obrigados a dar seu
dinheiro aos ricos por meio desse mecanismo.)
[142] Whitehall Study I & II, http://www.ucl.ac.uk/whitehallII/ Veja também: Epidemiologia da situação
socioeconômica e saúde (Epidemiology of socioeconomic status and health), M. Marmot
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10681885
[143] Ibid.
[144] Um qualificador aqui é que esse fenômeno se relaciona mais ainda às sociedades relativamente ricas,
de modo geral, do que a sociedades mais atingidas pela pobreza.
[145] Referência: "Determinantes Sociais da Saúde: Os fatos sólidos", tradução livre (Social Determinants of
Health: The Solid Facts), RG Wilkinson & M. Marmot, Organização Mundial da Saúde, 2006
[146] Um PDF com um resumo dos gráficos de linha de regressão extraídos da obra de R. Wilkinson e
Pickett K. pode ser encontrado aqui para referência:
http://www.tantor.com/Extras/B0505SpiritLevel/B0505SpiritLevelPDF1.pdf
[147] Referência: "O aumento dramático de ansiedade e depressão em crianças e adolescentes", tradução
livre (The Dramatic Rise of Anxiety and Depression in Children and Adolescents), Peter Gray, 2012
[148] Transtornos de Ansiedade estão em ascensão (Anxiety Disorders Are Sharply on the Rise), Timi
Gustafson RD [http://timigustafson.com/2011/anxiety-disorders-are-sharply-on-the-rise/]
[149] Tendências temporais em saúde mental infantil e adolescente (Time Trends in child and adolescent
mental health), Maughan, Collishaw, Goodman & Pickles, Journal of Child Psychology e Psiquiatria, 2004
[150] Buscando a fonte dos Transtornos de Ansiedade ( Sourcing the Anxiety Disorders Association of
America), Association of America, este artigo é um somatório de recomendar:
http://www.msnbc.msn.com/id/39335628/ns/health-mental_health/t/why-are-anxiety-disorders-among-
women-rise/#.UI9PRoUpzZg
[151] A depressão em ascensão nos estudantes universitários (Depression On The Rise In College Students),
NPR, 2011 [http://www.npr.org/2011/01/17/132934543/depression-on-the-rise-in-college-students]
67
[152] A idade da ansiedade? A era da ansiedade? Mudanças nas estatísticas de nascimento em relação à
ansiedade e neuroses (The age of anxiety? Birth cohort change in anxiety and neuroticism), JM Twenge,
Journal of Personality and Social Psychology, 2007
[153] Uso de antidepressivos em pessoas acima de 12 anos (Antidepressant Use in Persons Aged 12 and
Over) : Estados Unidos, 2005-2008, Laura A. Pratt, NCHS Out 2011
[http://www.cdc.gov/nchs/data/databriefs/db76.htm]
[154] The Spirit Level por Richard Wilkinson e Kate Pickett, Penguin, março de 2009, p. 65
[156] As taxas de suicídio explodem na esteira da recessão econômica (Suicide rates rocket in wake of
economic downturn recession), Nina Lakhani, The Independent, 15 de agosto de 2012
[157] Gráfico de The Spirit Level por Richard Wilkinson e Kate Pickett, Penguin, março de 2009, p. 67
[158] Sistemas de crenças e desigualdades duráveis (Belief Systems and Durable Inequalities), Policy
Research Working Paper, Waskington DC: Banco Mundial, 2004 | Gráfico de The Spirit Level por Richard
Wilkinson e Kate Pickett, Penguin, março de 2009, p. 113-114
[159] O hormônio testosterona tem sido comumente "culpado" pela agressão masculina. No entanto,
verificou-se que as diferenças inter-individuais dos níveis de testosterona não resultam em diferenças de
proporções entre os níveis de comportamento agressivo, quando foram realizados ensaios com a
população em geral. Verificou-se que, ao invés da testosterona causar níveis crescentes de agressão, ocorre
essencialmente o contrário. Veja "O problema com a testosterona", tradução livre (The Trouble with
testosterone), Robert M. Sapolsky, Simon & Schuster, 1997 p. 147-159
[160] Ver: "Violência - Um coquetel nocivo de genes e o ambiente", tradução livre (Violence—A noxious
cocktail of genes and the environment), Mariya Moosajee, JR Soc Med. 2003 Maio, 96 (5): 211-214 | Notas
de um estudo realizado na Nova Zelândia, onde uma aparente ligação genética encontrada para o
comportamento violento só se manifestaria se ocorresse uma grande quantidade de abuso na infância para
desencadear a expressão da propensão genética. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC539471/
[161] "Violência", tradução livre (Violence), James Gilligan, Grosset/Putnam, New York, 1992, p. 210-213
[162] Ibid, p. 92
[164] "Vergonha e conformidade: o sistema de defesa emocional", tradução livre (Shame and conformity:
the defense-emotion system), TJ Scheff, American Sociological Review, 1988, 53:395-406
[165] "Violência", tradução livre (Violence), James Gilligan, Grosset/Putnam, New York, 1992, p. 236
[166] "Brigas por dinheiro predizem taxas de divórcio" (Money Fights Predict Divorce Rates), Catherine
Rampell http://economix.blogs.nytimes.com/2009/12/07/money-fights-predict-divorce-rates/
68
8. História da Economia
- John McMurtry -
Visão global
A título preliminar, um ponto que irá ressurgir mais adiante neste ensaio, tem
havido uma dualidade normalmente observada na maior parte do pensamento
econômico moderno, onde o "Livre-Mercado Capitalista", ou seja, as ações "livres"
de produtores independentes, trabalhadores e comerciantes, que trabalham em
conjunto para comprar, vender e empregar, [168] devem ser contrastadas com o
"Estado", ou seja, um sistema unificado de poderes delegados que tem a capacidade
69
O Movimento Zeitgeist não toma nenhum desses lados, mesmo que muitos ouvintes
das propostas do MZ tenham uma reação instintiva de assumir a última associação
(estatismo) [169]. Tal como acontece com muitos sistemas de crença tradicionais,
defesas e perspectivas polarizadas são comuns, e pensar que não há outro quadro
possível de referência no que diz respeito à forma como um sistema econômico
pode ser desenvolvido e administrado, é fechar-se dogmaticamente a muitas
considerações relevantes e emergentes.
Temas subjacentes
feudalismo medieval, [179] até a opressão codificada dos mercadores através dos
monopólios estatais no Mercantilismo, [180] o tema da desigualdade tem sido
muito claro e consistente.
Essa realidade foi ainda mais agravada no século 18, onde a premissa "Socialmente
Darwinista" [185] de "trabalho-por-recompensa" reduziu cada vez mais o ser
humano a um objeto a ser definido e qualificado pela sua contribuição ao sistema
de trabalho. Se a pessoa média é incapaz de obter trabalho ou de se envolver com
sucesso na economia de mercado, não há nenhuma garantia real à sua própria
sobrevivência ou bem-estar, com exceção da "interferência" do "Estado" na forma
de auxílio. Nos dias de hoje, essa realidade se tornou bem controversa, pois o rótulo
de "socialismo" tem sido uma reação instintiva sempre que a política governamental
tenta fornecer ajuda direta para os cidadãos sem o uso do mecanismo de vendas
e/ou do mercado de trabalho.
Com o tempo, cidades mais complexas começaram a surgir, as quais foram bem
sucedidas na obtenção de independência dos senhores feudais, e sistemas cada vez
mais complexos de troca, crédito e lei foram surgindo, muitos dos quais espelhavam
aspectos básicos do capitalismo moderno. No sistema Feudal comum, o produtor
manual, geralmente, também era o vendedor para o comprador final. No entanto,
com a contínua evolução do mercado em torno desses novos centros urbanos, o
artesão começou a vender, com um desconto em grandes quantidades de produtos,
para comerciantes não-produtores que revenderiam em mercados distantes por
"lucro" - outra característica que se tornaria comum no Capitalismo de Mercado.
Adam Smith, que será discutido mais adiante neste ensaio, escreveu uma extensa
crítica ao mercantilismo em seu clássico texto de 1776, Uma Investigação sobre a
Natureza e Causas da Riqueza das Nações. [192] A partir dessa obra é que nasce,
teoricamente, a ideologia do capitalismo de "livre mercado", rejeitando aquilo que é
frequentemente chamado de capitalismo "Estatal", em termos modernos, em que o
Estado "interfere" na "liberdade" do mercado - uma característica central do
Mercantilismo. [193]
Definindo Capitalismo
Ele afirma: "Podemos dizer que o trabalho de seu corpo e a obra produzida por suas
mãos são propriedade sua. Sempre que ele tira um objeto do estado em que foi
fornecido pela natureza, mistura nisso o seu trabalho e a isso acrescenta algo que
lhe pertence; dessa forma o torna sua propriedade." [198] Essa declaração
(sinalizando apoio ao que viria mais tarde ser associado com a "Teoria de Valor-
Trabalho"), propõe a lógica de que desde que o trabalho é "propriedade" do
trabalhador (uma vez que ele é dono de si mesmo), toda a energia expendida pelo
seu trabalho transfere para o produto obtido o valor de propriedade.
Diante dessa declaração da natureza "comum" da terra e dos seus frutos a toda a
humanidade, antes do seu "cultivo" e apropriação, ele também deriva que os
proprietários são obrigados a não deteriorar nada ("Deus não criou nada para que
os homens desperdiçassem ou destruíssem." [200]) e devem deixar o suficiente para
os outros ("Essa apropriação de um pedaço de terra não era feita em detrimento de
75
nenhum outro homem, pois havia suficiente [e em boa qualidade] para todos...
"[201]).
No entanto, na Seção 36, é revelada uma realidade singular, cujas implicações Locke
provavelmente não previu e que, de muitas maneiras, anularia todos os argumentos
anteriores em defesa da propriedade privada. Ele afirma: "A 'coisa' que bloqueia
isso é a invenção do dinheiro, e o acordo tácito entre os homens de o atribuir valor;
isso tornou possível, com o consenso dos homens, acumular mais posses e ter
direito sobre elas." [203]
Finalmente, a condição "Deus não criou nada para que os homens desperdiçassem
ou destruíssem" [206] é anulada por uma nova associação de que o dinheiro, sendo
ouro ou prata, na época, simplesmente não se deteriora. "Assim foi estabelecido o
uso do dinheiro - alguma coisa duradoura que o homem podia guardar sem que se
deteriorasse e que, por consentimento mútuo, os homens utilizariam na troca por
coisas necessárias à vida, realmente úteis, mas perecíveis." [207]
Adam Smith
Como se sabe, em 1776, Smith publicou sua obra hoje mundialmente famosa Uma
Investigação sobre a Natureza e Causas da Riqueza das Nações. Entre outras
observações relevantes, ele parece ser o primeiro a reconhecer as três principais
categorias de renda da época - (a) lucros, (b) arrendamentos e (c) salários - e como
eles se relacionam com as principais classes sociais do período - (a) capitalistas, (b)
donos de terras e (c) trabalhadores. É interessante notar que o papel dos donos de
terras/arrendamentos, raramente discutido hoje nos tratados econômicos
modernos, foi um ponto de foco comum na época, pois os sistemas pré-industriais,
ainda em grande parte agrários, destacavam os donos de terras (que mais tarde, nas
atuais teorias de mercado, seriam dissolvidos em sua classificação como simples
proprietários).
A contribuição mais notável de Smith para a filosofia capitalista foi a sua noção de
que, apesar de os indivíduos poderem agir de forma mesquinha, egoísta, em seu
próprio benefício ou do grupo, ou classe, a que pertencem, e mesmo que o conflito,
tanto individual ou de classe, pareça ser o resultado dessas ações, há o que ele
convencionou chamar de uma "mão invisível", que garantiria um resultado social
positivo a partir dessas intenções individuais, egoístas e não-sociais. Esse conceito
foi apresentado em suas obras A Teoria dos Sentimentos Morais [210] e A Riqueza
das Nações.
Nessa última, ele afirma: "Portanto, já que cada indivíduo procura, na medida do
possível, empregar seu capital em fomentar a atividade nacional e dirigir de tal
maneira essa atividade para que seu produto tenha o máximo valor possível, cada
indivíduo necessariamente se esforça por aumentar ao máximo possível a renda
anual da sociedade. Na realidade, geralmente, ele não tenciona promover o
interesse público, nem sabe até que ponto o está promovendo. Ao preferir
fomentar a atividade do país e não de outros países, ele tem em vista apenas sua
própria segurança; e orientando sua atividade de tal maneira que sua produção
possa ser de valor maior, visa apenas seu próprio ganho e, nesse, como em muitos
outros casos, é levado como que por uma mão invisível a promover um objetivo que
não fazia parte de suas intenções. Aliás, nem sempre é pior para a sociedade que
esse objetivo não faça parte das intenções do indivíduo. Ao perseguir seu próprio
interesse, o indivíduo muitas vezes promove o interesse da sociedade muito mais
eficazmente do que quando tenciona realmente promovê-lo." [211]
77
Esse ideal quase religioso teve um efeito poderoso na era pós-Smith, dando uma
justificativa muito social para o comportamento, por natureza, anti-social e auto-
maximizante, comum à psicologia Capitalista. Essa filosofia básica estava para se
desenvolver, em parte, como a fundação da economia "Neoclássica" [212], ao final
do século XIX.
Smith, sabendo muito bem dos conflitos de classe inerentes ao capitalismo, passa a
discutir a natureza de como alguns homens ganham "... superioridade sobre a maior
parte de seus irmãos", [213] reforçando o que passou a ser considerado por outros
teóricos como uma "lei da natureza" sobre o poder humano e a subjugação. Sua
visão de propriedade estava em harmonia com John Locke, elaborando sobre a
forma como a própria sociedade se manifesta em torno dela. Ele afirmou: "O
governo civil, na medida em que é instituído para garantir a propriedade, de fato o é
para a defesa dos ricos contra os pobres, ou daqueles que têm alguma propriedade
contra os que não têm propriedade alguma." [214 ]
Ele afirma: "O trabalho foi o primeiro preço a ser pago por todas as coisas, a moeda
de troca original. Não foi por ouro ou por prata, mas pelo trabalho, que toda a
riqueza do mundo foi originalmente comprada, e seu valor, para aqueles que o
possuem, e que querem trocá-lo por algumas novas produções, é precisamente
igual à quantidade de trabalho que pode capacitá-los a comprar ou comandar".
[215] Muitos capítulos do Livro I de A Riqueza das Nações trabalham para explicar a
natureza de preços/valores de acordo com suas categorias de renda/classe de
"salários", "arrendamentos" e "lucros". No entanto, nota-se que sua lógica é
bastante circular, especialmente quando se percebe que as atribuições de preços se
originam simplesmente de outras atribuições, em uma cadeia sem um ponto de
partida real, a não ser a fraca distinção de trabalho empregado, que não tem, é
claro, nenhuma qualificação monetária estática ou intrínseca. Esse problema de
ambiguidade em ambas as teorias de valor dominantes, a de "trabalho" e a de
"utilidade", comuns à teoria de mercado Capitalista, será abordado em detalhes
mais adiante neste ensaio.
leis da justiça, é deixado perfeitamente livre para perseguir seus próprios interesses,
seu próprio caminho, e trazer tanto a sua indústria quanto seu capital para a
concorrência com os de qualquer outro homem, ou grupo de homens".[216] Esse
conceito, como será discutido mais tarde no ensaio "Distúrbio do Sistema de Valor",
é uma suposição bastante ingênua sobre o comportamento humano e, de fato, uma
contradição.
Malthus e Ricardo
O historiador Paul Mantoux, escrevendo sobre este período, comentou acerca de "o
poder absoluto e sem controle do capitalista. Durante esse período, a idade heroica
de grandes empreendimentos, isso era reconhecido, admitido e até mesmo
proclamado com franqueza brutal. Era assunto do próprio empregador, ele fazia
como escolhera e não considerava necessária qualquer outra justificativa de sua
conduta. Ele devia salários a seus empregados e, uma vez pagos, os homens não
teriam mais nenhuma reivindicação para com ele". [218] Foi no meio disso tudo que
Malthus e Ricardo contextualizaram seus pontos de vista econômicos e sociais.
Mais uma vez, como observado antes neste ensaio, a condição cultural teve muita
influência nas premissas do pensamento que orientaram as operações econômicas
até os dias atuais. Enquanto muitos podem, atualmente, descartar Malthus e essas
ideias claramente ultrapassadas, suas sementes criaram raízes profundas nas
doutrinas econômicas, valores e relações de classe ocorridas durante e depois de
seu tempo. Na verdade, variações de sua teoria populacional ainda são comumente
citadas, por aqueles com uma mentalidade mais "conservadora", em relação a
países economicamente menos desenvolvidos.
seria boa no geral ... [mas] a substituição de trabalho humano por maquinário é
frequentemente muito prejudicial para os interesses da classe de trabalhadores".
[230]
"Estamos sendo afligidos por uma nova doença que alguns leitores podem ainda não
ter ouvido o nome, mas ouvirão muito nos próximos anos - o desemprego
tecnológico. Quer dizer desemprego devido à descoberta de meios de economia da
aplicação do trabalho, superando a nossa capacidade de encontrar novas aplicações
para o mesmo. Mas isso é apenas uma fase temporária de desajuste. Em longo
prazo, tudo isso significa que a humanidade está solucionando seu problema
econômico". [232]
O assunto é trazido aqui como um destaque, porque ele será revisto na Parte III
deste texto, junto a um contexto de aplicação tecnológica aparentemente não
compreendido ou ignorado pelos principais teóricos da economia da história
moderna, que, mais uma vez, estão muitas vezes presos em uma estreita margem
de referência.
Como uma consideração final sobre Ricardo, também o creditam por sua
contribuição ao "livre-comércio" internacional, especificamente em sua Teoria da
Vantagem Comparativa e a perpetuação do etos básico sobre a "mão invisível" de
Adam Smith. Ricardo afirma: "Sob um sistema de comércio perfeitamente livre, cada
país naturalmente dedica seu capital e trabalho à aplicação mais benéfica para cada
um. Essa busca de vantagem individual é admiravelmente ligada ao bem universal
do todo. Ao estimular a indústria, recompensar a engenhosidade e utilizar mais
eficazmente as capacidades conferidas pela natureza, o trabalho é distribuído da
forma mais efetiva e econômica: ao passo que, através do aumento da produção em
massa, o benefício geral é difundido, e une-se, por um laço recíproco de interesses e
relações, a sociedade universal das nações do mundo civilizado". [233]
82
Como uma nota singela, em nenhum lugar nos escritos desses pensadores ou na
grande maioria das obras produzidas pelos teóricos posteriores em favor do
Capitalismo de "livre mercado", a real estrutura e processos de produção e de
distribuição são discutidos. Há uma desvinculação explícita entre "Indústria" e
"Negócios", o primeiro relacionando-se ao processo técnico/científico do verdadeiro
desdobramento econômico, e o último apenas referindo-se às dinâmicas codificadas
do mercado e à busca de lucro. Como será discutido mais adiante, um problema
central, inerente ao modo de produção capitalista, é como os avanços na
"abordagem industrial", que podem permitir um aumento da resolução de
problemas e promoção de prosperidade, foram bloqueados pelos dogmas
aparentemente imutáveis da "abordagem de negócios" tradicional. Esta última tem
regido as ações da primeira, em detrimento do seu potencial.
O crescimento dos "Bens de Capital" [234], no século XX, como a automação das
máquinas de trabalho, também apresenta desafios para o conceito bastante
simplificado de trabalho derivado das Teorias Laborais, já que, depois de um certo
ponto, o valor do trabalho inerente às máquinas de produção, que hoje já
funcionam para a produção de mais máquinas, com menor aplicação do esforço
83
humano ao longo do tempo, apresenta, nesse contexto, uma transferência cada vez
mais diluída de valor. Tem sido proposto por alguns economistas contemporâneos,
com base nos rápidos avanços nos campos da informação e ciências tecnológicas,
que o uso da automação industrial, aliado à "inteligência artificial", poderia muito
bem remover quase inteiramente os seres humanos da "força de trabalho"
tradicional. De repente, Capital se tornaria Trabalho, por assim dizer. [235]
Passa, então, a explicar como o "valor de troca" (preço) de qualquer bem ou serviço
depende inteiramente do seu "valor de uso" (utilidade). Ele afirma: "O valor que a
humanidade atribui aos objetos origina-se do uso que pode fazer deles...[À] aptidão
inerente ou capacidade de certas coisas em satisfazer as diversas necessidades da
humanidade, darei o nome utilidade... A utilidade das coisas é o trabalho-base do
seu valor, e seu valor constitui riqueza... Embora o preço seja a medida de valor das
coisas, e o seu valor a medida de sua utilidade, seria absurdo concluir que, ao elevar
o preço à força, a utilidade poderia ser aumentada. Valor de troca, ou preço, é um
índice da utilidade reconhecida de certa coisa. [237]
Por baixo dessas ideias sobre o comportamento humano, como acontece com a
maioria das teorias econômicas, estão, mais uma vez, valores e suposições
84
A Insurreição "Socialista"
operar de tal maneira que elimine de uma vez por todas o desejo de um homem em
se tornar mais rico, ou mais sábio, ou mais poderoso que os outros."[243] O anarco-
socialista francês Pierre Joseph Proudhon (1809-1865) é famoso por declarar que
"Propriedade é Furto" na sua obra O que é a Propriedade? Uma Investigação sobre
o Princípio do Direito e do Governo.
Karl Marx (1818-1883), ao lado de muitos outros, foi influenciado pelo trabalho de
Thompson e é provavelmente um dos mais conhecidos filósofos econômicos hoje.
Com seu nome frequentemente associado de forma depreciativa aos perigos das
atitudes do Comunismo Soviético, ou "totalitarismo", Marx também é
provavelmente o mais incompreendido de todos os economistas popularizados.
Embora mais famoso na mente do público geral por apresentar tratados sobre ideias
Socialistas-Comunistas, Marx, na verdade, passou a maior parte de seu tempo com o
assunto Capitalismo e suas operações. Sua contribuição para o compreensão do
capitalismo é mais ampla do que muitos imaginam, pois, hoje, muitos termos e
jargões econômicos comumente usados em conversas sobre o capitalismo, na
verdade, encontram raiz nos tratados literários de Marx. Sua perspectiva era, em
grande parte, histórica, e contava com conhecimentos bem detalhados sobre a
evolução do pensamento econômico. Devido ao tamanho imenso de seu trabalho,
apenas algumas questões influentes serão abordadas aqui.
88
"Embora um indivíduo 'A' sinta necessidade do produto de um indivíduo 'B', ele não
se apropria disto pela força ou vice versa, pelo contrário, reconhecem-se
reciprocamente como proprietários...Um não se apropria do que é do outro à força.
Cada um se despoja de sua propriedade de forma voluntária."[253]
Mais uma vez, como antes observado em relação ao tema recorrente das relações
humanas e os pressupostos de classe (ou negações), Marx enfatizou o que poderia
ser chamado de três ilusões principais: a ilusão de liberdade, de igualdade e de
harmonia social, reduzidas a uma associação extremamente limitada em torno da
ideia de "troca mutuamente benéfica", que seria o único relacionamento econômico
real pelo qual toda a sociedade deve ser avaliada.
Marx amplia ainda mais essa ideia fazendo uma reavaliação da "propriedade", que
era, nessa circunstância, essencialmente a base legal do próprio "capital",
permitindo a explícita expropriação coerciva do "trabalho excedente" (a parte do
trabalho que gera excedente), quando declara: "No início, os direitos de
propriedade nos pareceram ser baseados no próprio trabalho do homem. Pelo
menos, tal suposição era necessária uma vez que apenas proprietários de
commodities com direitos iguais poderiam se equiparar, e o único meio pelo qual
um homem poderia tornar-se proprietário de mercadorias alheias era através
alienação (desvinculação) de suas próprias commodities; e estas poderiam ser
substituídas apenas pelo trabalho. Agora, no entanto, a propriedade passou a ser o
direito, por parte do capitalista, de se apropriar do trabalho não remunerado
(trabalho excedente) de outras pessoas ou do seu produto, e a ser a impossibilidade,
por parte do trabalhador, de se apropriar do seu próprio produto. A separação feita
entre propriedade e trabalho tornou-se a consequência necessária de uma lei que
aparentemente teve origem com a identidade de ambos."[257]
Ele viu a produção e a própria indústria como um processo social em que as linhas
estavam acentuadamente turvas, pois envolvia invariavelmente a partilha de
conhecimentos (usufruto) e habilidades. De muitas maneiras, via essas
características categóricas do Capitalismo serem inerentes ao Capitalismo em si, e
não, representativas da realidade física, mas apenas um grande artifício. Descobriu
que a teoria Neoclássica dominante existiu, em parte, para ocultar a luta de classes
e a hostilidade, inerentes e fundamentais, para proteger ainda mais os interesses
dos que ele chamou de "Interesses Excusos" ou "Proprietários Ausentes"
(Capitalistas) [262].
Rejeitou a ideia de que a "propriedade privada" era um "direito natural", como foi
assumido por Locke, Smith e outros, muitas vezes fazendo piadas sobre o absurdo
do pensamento que leva os "Proprietários Ausentes" a reivindicar a "posse" de
mercadorias produzidas, na realidade, pelo trabalho do "trabalhador comum",
destacando o absurdo do princípio antigo de que a partir do trabalho advém a
propriedade.[263] Foi mais longe para expressar o inerente caráter social da
produção e como a verdadeira natureza da habilidade e da acumulação de
conhecimento anulavam completamente a suposição de direitos de propriedade em
si mesma, quando afirmou:
individual, a preconcepção dos direitos naturais ... reduz-se ao absurdo, mesmo sob
a lógica de suas próprias premissas." [264]
Tal como aconteceu com Marx, ele não viu outra maneira de distinguir as duas
principais classes da sociedade do que as separando entre aquelas que trabalham e
aquelas que exploram esse trabalho [265], tendo a parte lucrativa do capitalismo (o
"Negócio") completamente separada da produção em si ( "Indústria"). Ele faz uma
distinção clara entre Empresas e Indústria e refere-se à primeira como funcionando
como um veículo de "sabotagem" para a indústria. Ele viu uma completa
contradição entre a intenção ética da comunidade em geral em produzir
eficientemente e com bons serviços, e as leis de propriedade privada, que tinham o
poder de dirigir a indústria para a causa apenas do lucro, reduzindo sua eficiência e
intenção. O termo "sabotagem", nesse contexto, foi definido por Veblen como a
"retirada consciente de eficiência". [266]
Ele afirma: "A planta industrial está cada vez mais operando de forma ociosa ou
parcialmente ociosa, operando com sua capacidade produtiva de maneira cada vez
mais reduzida. Trabalhadores estão sendo demitidos... E enquanto essas pessoas
estão em grande necessidade de todos os tipos de bens e serviços que essas plantas
ociosas e operários ociosos estão aptos a produzir. Mas, por razões de conveniência
empresarial é impossível deixar essas plantas ociosas e operários ociosos
trabalharem - ou seja, por não haver lucro suficiente para os homens de negócios,
ou em outras palavras, por não haver renda suficiente para os interesses escusos".
[267]
Além disso, Veblen, ao contrário da grande maioria das pessoas nos dias atuais que
condenam os atos de "corrupção" por razões éticas, não viu nenhum dos problemas
de abuso e exploração como uma questão de "moralidade" ou "ética". Viu os
problemas como inerentes - construídos sobre a natureza do próprio Capitalismo.
Ele afirma: "Não é que esses capitães dos Grandes Negócios cujo dever é
administrar esta sabotagem mínima salutar na produção sejam maus. Não é que
eles pretendam encurtar a vida humana ou aumentar o desconforto humano,
maquinando um aumento de privação entre seus semelhantes... A questão não é
saber se esse tráfego com privações é humano, mas se é uma boa gestão
empresarial". [268]
No que diz respeito à natureza do governo, a visão de Veblen foi muito clara: o
governo, pela sua própria construção política, existia para proteger as estruturas de
ordem social e de classes existentes, reforçando as leis de propriedade privada e,
por extensão, reforçando a desproporcional classe dominante (no poder). "A
legislação, vigilância policial, a administração da justiça, os militares e o serviço
diplomático, todos estão principalmente preocupados com as relações de negócios,
93
interesses pecuniários, e eles têm uma preocupação pouco mais que casual com
outros interesses humanos", [269], afirmou.
cuja evolução para uma auto-referência intrincada à sua lógica interna justifica sua
própria existência e suas próprias normas.
Hoje em dia, não é o que dá corpo à ideologia capitalista em seus detalhes o mais
problemático, mas sim, o que ela omite, por extensão. Assim como religiões
primitivas viram o mundo como sendo plano e tiveram que ajustar sua retórica, uma
vez que foi comprovado ser redondo, pela ciência, a tradição da economia de
mercado é confrontada com desafios similares. Considerando a simplicidade das
abordagens agrárias e, por fim, primitivas para a produção industrial, houve pouca
conscientização ou uma necessária preocupação com as possíveis consequências
negativas ao longo do tempo, não só em nível do habitat (ecológico), mas também
em nível humano (saúde pública).
Da mesma forma, o sistema de mercado, com suas suposições muito antigas acerca
das possibilidades, também ignora (ou até mesmo confronta) os avanços poderosos
na ciência e tecnologia, que expressam capacidade para resolver problemas e criar
uma elevada prosperidade. De fato, como será explorado no ensaio "Eficiência de
Mercado vs. Eficiência Técnica", tais ações progressistas e de um reconhecimento da
harmonia em relação ao habitat e ao bem-estar humano revelam que Capitalismo
de "Livre Mercado", literalmente, não faculta essas soluções, já que em sua própria
mecânica padrão dispensa ou funciona contra tais possibilidades.
Hoje, a única real Teoria de Valor vigente é a que poderia ser chamada de
"Sequência Monetária de Valor". [275] O dinheiro tem assumido vida própria no que
diz respeito à reforçada psicologia de sua circulação. Não possui nenhum propósito
definido diretamente, apenas o de gerar mais dinheiro a partir de menos dinheiro
(investimento). Esse fenômeno de "dinheiro gerando dinheiro" não só criou um
distúrbio no sistema de valor, em que esse interesse em ganho monetário supera
tudo o mais, tornando secundárias e "externas" ao foco da economia as questões
ambientais e de saúde pública verdadeiramente relevantes, mas sua propensão
constante em "multiplicar" e "expandir" possui, realmente, um aspecto canceroso -
essa ideia de "crescimento" necessário, ao invés de um estado de equilíbrio
estacionário - e continua o seu efeito patológico em diferentes níveis.
Muito poderia ser dito sobre o sistema de dívida[276] e sobre como praticamente
todos os países do planeta Terra estão agora em dívida com eles mesmos, na
medida em que nós, a "espécie humana", na verdade não temos dinheiro suficiente
em circulação para nos pagar de volta o que tomamos emprestado do nada. A
necessidade de mais e mais "crédito" para abastecer o "mercado" é constante hoje
devido a esse desequilíbrio, o que significa que, como no câncer, estamos lidando
com a intenção de expansão e consumo infinitos. Isso simplesmente não funciona
em um planeta finito.
Além disso, o etos competitivo, orientado pela escassez inerente ao nosso modelo,
continua a perpetuar a luta de classes sectarista que mantém em guerra consigo
mesmo não só o mundo, através do imperialismo e do protecionismo, mas também
a população geral. Hoje, muitos andam por aí com medo uns dos outros, já que a
exploração e o abuso é o etos dominante recompensado. Todos os seres humanos
se adaptaram a essa cultura em que vemos uns aos outros, desnecessariamente,
como ameaças a nossa própria sobrevivência, em contextos "econômicos" cada vez
mais abstratos. Por exemplo, quando duas pessoas chegam a uma entrevista de
emprego em busca de sustento, não estão interessadas no bem-estar uma da outra,
já que apenas uma sairá empregada. Na verdade, a capacidade empática é uma
pressão negativa nesse sistema de vantagem, e é completamente não
recompensada pelo mecanismo financeiro.
[167] The Cancer Stage of Capitalism, John McMurtry, Pluto Press, 1999, p.viii
97
[168] Uma definição menos generalizada do "Livre-Mercado" é a seguinte: "Um sistema econômico em que
os preços e salários são determinados pela livre concorrência entre as empresas, sem regulamentação do
governo ou medo de monopólios" [http://dictionary.reference.com/browse/free+market]
[169] Como será descrito em ensaios posteriores, muitas vezes a falsa categorização do MZ de ser
"Estatista" está enraizada na sua oposição geral aos Princípios de Mercado, o que este acredita ser
insustentável e, muitas vezes contraproducente. Estatismo, que pode assumir várias formas, tais como
Comunista, Fascista ou Socialista, defende uma "autoridade central" para decidir como o processo
econômico/político deve se desdobrar, com pouca ou nenhuma influência relevante ocorrendo através da
população em geral. O MZ apoia um processo de tomada de decisão aberta, sob a imposição de leis básicas
de sustentabilidade e eficiência, comprovadas cientificamente .
[170] A noção de "Externalidade", qual será observada mais adiante neste ensaio, é um exemplo disto. A
maioria dos custos ambientais e sociais, sistêmicos para a abordagem de Mercado, juntamente com
discutível perda de eficiência e, consequentemente, prosperidade, são dispensados da equação teórica do
Mercado, entre muitas outras questões relevantes.
[171] O filósofo econômico John McMurtry afirmou de forma geral sobre esta questão: "Esta tendência
prevalece dos Racionalistas Continentais em diante. Leibniz, Spinoza, Descartes, Berkeley, Kant e Hegel, por
exemplo, mais ou menos inteiramente pressupunham o regime social da sua época e suas formas
constituintes como, de alguma forma, a expressão da Mente divina, que eles vêem apenas como seu dever
racional de aceitar ou de justificar. " The Cancer Stage of Capitalism, Pluto Press, 1999, p.7
[172] Aristóteles (384 aC-322 aC), enquanto creditado com vasta contribuição científica, lógica e filosófica,
também era a favor da escravidão, justificando a realidade com o que poderia ser alegado como viés, não
razão. Ele declarou: "Mas será que existe alguém assim destinado pela natureza para ser um escravo, e
para quem tal condição é conveniente e correta, ou melhor, não é toda a escravidão uma violação da
natureza? Não há dificuldade em responder a esta questão, no terreno da razão e da verdade. Por que
alguns devem governar e outros serem governados é algo, não só necessário, mas apropriado, a partir da
hora de seu nascimento, alguns estão marcados para a sujeição, outros para governar". Política, Livro I,
Capítulos III a VII
[173] O termo "Idade Média" geralmente refere-se ao período da história européia que durou do século V
ao século XV.
[174] Para um estudo detalhado do sistema econômico e da sociedade medieval, o trabalho seguinte é
sugerido: The Agrarian Life of the Middle Ages, JH Chapman e Eileen E. Powers, eds., 2d ed, The Cambridge
Economic History of Europe, vol. 1 London, Cambridge University Press, 1966
[175] Macroeconomics from the beginning: The General Theory, Ancient Markets, and the Rate of Interest,
David Warburton Paris, Recherches et Publications, 2003 p.49
[177] A distinção de "classes" em categorias específicas é sem significado exato, historicamente. O ponto
aqui é a presença permanente de uma classe claramente dominante, seja a nobreza antiga, por exemplo,
ou a oligarquia financeira moderna.
[178] Sugestão de leitura, The Historical Encyclopedia of World Slavery, Junius P. Rodriguez, Vol I, Seção E
98
[179] Sugestões de leitura: Mediaeval Feudalism, Carl Stephenson, Cornell University Press, 1956
[180] A History of Economic Theory and Method, Robert B. Ekelund, Robert F. Hebert, New York: McGraw-
Hill, 1975
[181] Sugestões de leitura: Defending Mother Earth: Native American Perspectives on Environmental
Justice, Jace Weaver, Orbis Books, 1996
[182] Para listar os problemas ecológicos agora enfrentados pela a humanidade, da desestabilização
climática, à poluição, ao esgotamento de recursos, a perda de biodiversidade e outras invariáveis ameaças
à saúde pública, seria muito extenso para detalhes aqui. Na visão do MZ, estas questões são em grande
parte resultado da premissa Capitalista e suas abordagens e valores aceitos.
[183] Os padrões de consumo da sociedade moderna têm mostrado uma natureza arbitrária com relação
ao "Querer Humano", assim como a poderosa mudança de valores que ocorreu no início do século 20 com
a aplicação de publicidade ocidental moderna. "Necessidades Humanas", no entanto, são necessidades
básicas, em grande parte compartilhadas por todos os seres humanos, que mantêm a saúde física e
psicológica.
[185] "Darwinismo Social" é uma ideologia muito geral que procura aplicar conceitos biológicos do
darwinismo ou de "sobrevivência do mais apto" para sociologia e política. O termo foi popularizado nos
Estados Unidos em 1944 pelo historiador Richard Hofstadter. A intuição deste conceito, no entanto,
aparece muito tempo antes da época de Darwin no pensamento filosófico.
[186] Sugestões de leitura: Mediaeval Feudalism, Carl Stephenson, Cornell University Press, 1956
[187] Sugestões de leitura: The Economy of Early Renaissance Europe, Harry A. Miskimin, Englewood Cliffs,
NJ: Prentice-Hall, 1969, p.20
[188] Sugestões de leitura: A Evolução do Capitalismo, Maurice H. Dobb, Guanabara, 1987, capítulo 4
[189] Enciclopédia de Economia, David R. Henderson e João C. das Neves, Principia, 2001 "mercantilismo"
[190] Um balanço positivo do comércio também é conhecido como um "superávit comercial" e consiste em
exportar mais do que é importado em valor monetário. Este ato por parte do Estado hoje é muitas vezes
chamado de "protecionismo".
[191] The Growth of Economic Thought, Henry William Spiegel, Duke University Press, 3 Ed, 1991, pp.93-
118.
[192] A Riqueza das Nações, Adam Smith, 1776, Livro IV: Dos Sistemas de Economia Política
[193] Murray Rothbard, economista de destaque da moderna "Escola Austríaca", resumiu a perspectiva e
crítica "Estatista": "O mercantilismo, que atingiu seu auge na Europa dos séculos XVII e XVIII, foi um sistema
de estatismo que empregava falácia econômica para construir uma estrutura de poder imperial do Estado,
bem como subsídio especial e privilégio monopolista para indivíduos ou grupos favorecidos pelo Estado.
Assim, o mercantilismo assegurava que as exportações deveriam ser incentivadas pelo governo e as
importações desencorajadas". [Mercantilism: A Lesson for Our Times?, Murray Rothbard, Freeman, 1963]
[194] Como será discutido no ensaio "Desordem do Sistema de Valores", esta é uma falsa dualidade e é
discutível em relação aos problemas subjacentes comumente atribuídos ao debate polarizado.
99
[195] A partir de agora, neste ensaio, usaremos o termo "Capitalismo" em sua forma cultural mais comum,
implicando o contexto teórico do "Livre-Mercado".
[196] Enquanto um "Capitalista" pode ser considerado uma pessoa a favor desta abordagem para a
economia, uma definição mais precisa denota "uma pessoa que tem capital, especialmente capital extenso,
investido em negócios de empresas." [Http://dictionary. reference.com/browse/capitalist]. Em outras
palavras, esta é uma pessoa que possui ou investe capital para um retorno ou lucro, mas mesmo assim não
tem a obrigação de contribuir para a produção efetiva ou trabalho de qualquer natureza.
[197] Um corolário disso são as várias "Escolhas Racionais" e "Teorias da Utilidade", comuns à teoria
microeconômica do Livre-Mercado, que tenta quantificar as ações humanas em torno de vários modelos
comportamentais. Mais sobre isso nos próximos ensaios.
[198] Segundo Tratado sobre o Governo Civil, John Locke, Capítulo V, Seção 27, 1689
[202] Locke declara: "A natureza fez bem ao estabelecer limites à propriedade privada através de limites
para o quanto os homens podem trabalhar e limites para o quanto eles precisam. O trabalho de nenhum
homem poderia domar ou apropriar-se de toda a terra; o prazer de nenhum homem poderia consumir mais
do que uma pequena parte, de modo que era impossível para qualquer homem, desta forma, infringir o
direito do outro, ou adquirir uma propriedade em detrimento de seu vizinho ... " [Segundo Tratado sobre o
Governo Civil, John Locke, Capítulo V, Seção 36, 1689]
[208] A Bolsa de Valores e o poder crescente dos investimentos e poderes financeiros ao redor do mundo
no século 21 refletem bem esta consequência. Parece que o simples ato de posse e comércio via dinheiro
por si só, sem a necessidade do cultivo de produtos e serviços humanos, tornou-se o setor mais lucrativo no
mundo de hoje.
[209] A Revolução Industrial ocorreu, de acordo com vários historiadores, a partir de cerca de 1760 a algo
entre 1820 e 1840, inicialmente na Europa. Foi essencialmente a transição/aplicação de processos de
fabricação novos, de base tecnológica.
[210] "Os ricos só selecionam do ¨bolo¨ o que é mais precioso e agradável. Eles consomem pouco mais que
os pobres, e apesar de seu egoísmo natural e rapacidade, embora busquem apenas sua própria
conveniência, embora o único fim que se propõe a partir do trabalho de todos os milhares que eles
empregam seja a satisfação de seu próprio desejos vãos e insaciáveis, eles dividem com os pobres o
produto de todas suas melhorias. Eles são movidos por uma mão invisível a fazer quase a mesma
distribuição das necessidades de vida, o que teria sido feito, fosse terra dividida em partes iguais entre
100
todos os seus habitantes, e, assim, sem querer, sem saber, avançar o interesse da sociedade e dispor meios
para a multiplicação da espécie". [A Teoria dos Sentimentos Morais, par. IV.I.10, 1790]
[212] Não existe uma definição estática de "Economia Neoclássica". No entanto, um resumo geral,
culturalmente comum, inclui o amplo interesse nos mercados não regulamentados, "livres", focando na
determinação dos preços, produtos e distribuição de renda em mercados através de oferta e demanda,
muitas vezes mediada através de uma hipotética maximização de utilidade por indivíduos com restrição
orçamentária e dos lucros das empresas com restrições de custo.
[214] Ibid.
[215] Ibid.
[217] Este poder dos interesses Capitalistas de se envolver e, em muitos aspectos, tornar-se o governo,
para servir a sua própria vantagem competitiva também será discutido no ensaio posterior: "Desordem do
Sistema de Valores"
[218] A Revolução Industrial, no Século XVIII, Paul Mantoux, trad. Sonia Rangel, São Paulo, Hucitec/Unesp.
[219] Ele afirma: "Nenhum possível sacrifício dos ricos, particularmente em dinheiro, poderia, por qualquer
tempo, prevenir a recorrência de angústia entre os membros inferiores da sociedade, quem quer que
fossem eles" [Ensaio sobre o Princípio da População, Thomas Malthus, 1798, Capítulo 5]
[220] Ele afirma: "Aparentou-se, que a partir das leis inevitáveis da nossa natureza alguns seres humanos
devam sofrer pela miséria. Estas são as pessoas infelizes que, na grande loteria da vida, têm tirado um
bilhete em branco ". [Ensaio sobre o Princípio da População, Thomas Malthus, 1798, capítulo 10]
[222] De sua 2ª edição do Ensaio sobre o Princípio da População, 1836, Principles of Political Economy, vol.
1, p.14. Nova York, Augustus M. Kelley, 1964.
[223] É de nenhuma valia que a Teoria Populacional Malthusiana é, na realidade, bastante imprecisa em
relação aos fatores relacionados ao crescimento populacional, baseado no conhecimento estatístico atual.
Além do efeito que a tecnologia tem desempenhado na expansão da capacidade de produção e eficiência,
de forma exponencial, particularmente no que diz respeito à produção de alimentos, a generalização de
que os padrões de vida mais elevados aumentam a população proporcionalmente não é suportado por
comparação regional. Países pobres, estatisticamente, hoje têm uma taxa de reprodução maior do que os
países ricos. A questão parece ser um fenômeno cultural, religioso e educacional, não uma "lei da natureza"
rígida como Malthus concluiu.
[224] Ref.: Abolição da Previdência: Uma Ideia se Torna uma Causa (Abolishment of Welfare: An Idea
Becomes a Cause) [http://www.nytimes.com/1994/04/22/us/abolishment-of-welfare-an-idea-becomes-a-
cause.html ]
[232] A partir do ensaio: Possibilidades econômicas para os nossos netos, John Maynard Keynes, 193
[233] Os Princípios de Economia Política e Tributação, David Ricardo, 1821, Dent Edition, 1962, p.81
[234] "Bens de Capital" são geralmente definidas como: Quaisquer ativos tangíveis que uma organização
utiliza para produzir bens ou serviços, tais como edifícios de escritórios, equipamentos e máquinas. Os bens
de consumo são o resultado final deste processo de produção.
[http://www.investopedia.com/terms/c/capitalgoods.asp#axzz2Gxg1RmR6]
[235] Sugestões de leitura: O Fim dos Empregos: O Contínuo Crescimento do Desemprego em Todo Mundo,
Jeremy Rifkin, M Books, 1996.
[238] Jeremy Bentham, um defensor notável do "Utilitarismo Clássico", declarou: "A natureza colocou a
humanidade sob o governo de dois mestres soberanos, dor e prazer. São só eles que devem apontar o que
devemos fazer ... Pelo princípio da utilidade entende-se, o princípio que aprova ou desaprova qualquer
ação, de acordo com a tendência que esta pareça ter para aumentar ou diminuir a felicidade da parte cujo
interesse está em questão: ou, o que é a mesma coisa em outras palavras, promover ou se opor a essa
felicidade. Eu digo que de toda ação que seja, e, portanto, não só de cada ação de um indivíduo em
particular, mas de todas as medidas do governo. " [Uma Introdução aos Princípios da Moral e Legislação,
Jeremy Bentham, 1789, Abril Cultural, 1979]
[239] An Outline of the Science of Political Economy, Nassau Senior, 1836, Londres, Allen and U., 1938, p.27
[240] Mais informações sobre esta questão serão discutidas no ensaio "Classicismo Estrutural".
[242] http://www.britannica.com/EBchecked/topic/551569/socialism
[243] The Defense of Gracchus Babeuf before the High Court of Vendôme, University of Massachusetts
Press, 1967, p.57
[244] An Inquiry into the Principles of the Distribution of Wealth Most Conducive to Human Happiness,
William Thompson, London, William S. Orr, 1850, p.17
[247] Ibid.
[252] Grundrisse, de Karl Marx, tr. Martin Nicolaus, Separata Vintage Books, New York, 1973 p.241
[255] Capital, Karl Marx, Foreign Languages reprint, Moscou, 1961, vol. 3, p.163
[259] “Why Economics Is Not an Evolutionary Science,” Place of Science in Modern Civilization and Other
Essays, Thorstein Veblen, pp.73-74.
[260] “The Limitations of Marginal Utility,” The Place of Science in Modern Civilization and Other Essays,
Thorstein Veblen, New York, Russell and Russell, 1961, p.241-242
[261] “Professor Clark’s Economics”, Place of Science in Modern Civilization, Thorstein Veblen, p.193
[262] Absentee Ownership and Business Enterprise in Recent Times, Thorstein Veblen, Augustus M. Kelley,
New York, 1964, p.407
[263] “The Beginnings of Ownership”, Essays in Our Changing Order, Thorstein Veblen, p.32.
[264] “The Beginnings of Ownership”, Essays in Our Changing Order, Thorstein Veblen, pp.33-34
[265] “The Instinct of Workmanship and the Irksomeness of Labor”, Essays in Our Changing Order,
Thorstein Veblen, pp. 188-190
[266] The Engineers and the Price System, Thorstein Veblen, New York, Augustus M. Kelley, 1965, p.1
[268] Absentee Ownership and Business Enterprise in Recent Times, Thorstein Veblen, New York, Augustus
M. Kelley, 1964, pp.220-221
[269] The Theory of Business Enterprise, Thorstein Veblen, New York, Augustus M. Kelley, 1965, p.269
103
[273] A Teoria da Classe Ociosa, Thorstein Veblen, New York, Augustus M. Kelley, 1965, pp.229-230
[274] Um exemplo simples disso é a quantidade de financiamento e emprego que foi gerada a partir do
tratamento contra o câncer. Se a cura para o câncer realmente surgisse, resultar-se-ia na redução destas
enormes instituições médicas. Isto significa que a resolução de problemas podem resultar na perda de
subsistência para muitos dos que trabalharam para atender esses problemas. Isto é criar um reforço
perverso para manter as coisas do mesmo jeito - evitar mudanças de forma geral.
[275] Esta frase foi apresentada por John McMurtry em sua obra The Cancer Stage of Capitalism, Pluto
Press, 1999
[276] A criação de dinheiro pela dívida, juntamente com a sua multiplicação através do sistema de
empréstimos de Reserva Fracionada, uma prática quase universal dos bancos centrais do mundo, continua
a buscar o crescimento infinito por seus próprios mecanismos.
[277] É importante ressaltar que "Disciplina de Mercado", ou a natureza corretiva do mercado, pela qual
todos negócios devem ser suscetíveis, hoje só se aplica às classes mais baixas. Como observado
historicamente pela retórica "Grande Demais Para Quebrar" e recentes (~ 2008) salvamentos bancários no
valor de mais de 20 trilhões de dólares, os setores ricos são protegidos pelo gesto do tão chamado
"Socialismo", e não Capitalismo.
104
"O aspecto sinergético da indústria, realizando cada vez mais trabalho com cada vez
menos investimento de tempo e de energia por cada unidade de desempenho...
nunca foi formalmente contabilizado como um ganho capital da sociedade
sedentária. A eficácia sinérgica de um processo industrial mundialmente integrado é
inerentemente muito maior do que o confinado efeito sinérgico de sistemas
soberanos operando separadamente. Logo, só uma renúncia mundial das soberanias
pode permitir a fundação de um alicerce de alto padrão para toda
humanidade.[276]"
- R. Buckminster Fuller -
Visão geral
Seja como for, este gesto subjacente de "liberdade", seja qual for sua implicação
subjetiva, gerou uma neurose ou confusão sobre o que significa para uma espécie
como a nossa sobreviver e prosperar no habitat - um habitat claramente regido por
leis naturais. O que descobrimos é que, no âmbito do nosso relacionamento com o
habitat, simplesmente não somos livres, e ter uma orientação predominante de
valores de uma suposta liberdade, a qual é então aplicada no modo como
deveríamos operar nossa economia global, tornou-se cada vez mais perigoso para a
sustentabilidade humana no planeta terra. [280]
105
Essa perspectiva científica, causal ou técnica das relações econômicas reduz todos
os fatores relevantes a um quadro de referência e a uma linha de pensamento
relacionados à nossa compreensão atual do mundo físico e suas dinâmicas tangíveis
naturais. Essa lógica considera a ciência do estudo humano, logo, mais uma vez, a
natureza em comum das necessidades humanas e da saúde pública, e combina estas
com as regras comprovadas do nosso habitat, com o qual estamos, sinérgica e
simbioticamente, conectados. Conjuntamente, um modelo racional de operação
econômica partindo "do zero" pode ser generalizado com pouquíssima necessidade
dos séculos de estabelecimento da teoria econômica tradicional. [284]
Isso não quer dizer que esses argumentos históricos não possuem valor no que diz
respeito à compreensão da evolução cultural, mas sim que, se uma visão de mundo
verdadeiramente científica é assumida em relação ao que "funciona" ou "não
funciona" na estratégia de eficiência que é exigida pelo jogo de xadrez da
sobrevivência humana, há pouca necessidade de uma abstração sobre a referência
106
histórica. Essa visão se situa no cerne da lógica reformista do MZ e será revista, mais
uma vez, na parte III deste texto.
No entanto, sem dúvida, esse mercado não produz nada de valor tangível ou de
suporte à vida. O mercado de ações e as instituições financeiras agora maciçamente
poderosas são completamente auxiliares à economia produtiva real. Enquanto
muitos argumentam que essas instituições de investimento facilitam os negócios e
os empregos pela aplicação de capitais, esse ato, mais uma vez, só é sistemicamente
relevante no sistema atual (eficiência de mercado) e totalmente irrelevante em
termos de produção real (eficiência técnica).
No entanto, a crescente revolução "mais com menos" [295] das ciências industriais
criou uma nova realidade, onde o avanço da tecnologia industrial reverteu o padrão
de "esforço material cumulativo" no que diz respeito à eficiência. A lógica de que
"mais trabalho, mais energia e mais recursos" produzirão resultados
proporcionalmente mais eficazes tem sido contestada. Em cada vez mais
circunstâncias a redução de energia, mão de obra e materiais para realizar
determinadas tarefas tem obtido êxito, dadas as nossas aplicações científicas e
técnicas modernas. [296]
Se, hipoteticamente, reduzirmos a nossa sociedade global a uma pequena ilha com
uma população, respectivamente, pequena e com tecnologia muito limitada em
comparação a dos dias de hoje, e descobrirmos que apenas um número x de itens
de sobrevivência e comida seriam possíveis pela regeneração natural da terra, seria
uma boa ideia empregar um sistema econômico que procura aumentar a utilização
de recursos e o volume de negócios na ilha o mais rápido possível pelo bem do
"crescimento"? Naturalmente, a ética do uso estratégico e da preservação se
desenvolveria como um ethos em tal condição. A ideia seria reduzir o desperdício ao
invés de acelerá-lo, o que, novamente, é a verdadeira definição de "economia" -
economizar.
uma redução da eficiência técnica ao longo do tempo pelo uso de materiais, meios e
projetos mais baratos.
Ao invés de permitir que a vida útil de um bem fosse determinada pela sua
capacidade natural, com a intenção lógica de uma lei natural de que ele existisse por
tanto tempo quanto possível, dados os recursos limitados de um planeta finito e um
interesse natural em economia de energia, materiais e recursos humanos, as
corporações decidiram que seria melhor criar sua própria "vida útil" para os bens,
inibindo, deliberadamente, eficiência. [300]
Na década de 1930, alguns até mesmo quiseram tornar obrigatório que todas as
indústrias, de forma legal, decidissem os ciclos de vida útil não pelo estado natural
da capacidade tecnológica, mas pela simples necessidade contínua de trabalho e
aumento do consumo. Na verdade, o exemplo histórico mais notável deste período
foi o cartel da lâmpada Phoebus, na década de 1930, onde, em um tempo em que as
lâmpadas eram capazes de durar até cerca de 25.000 horas, o cartel forçou todas as
empresas a restringir a vida útil das lâmpadas para menos de 1000 horas para
garantir compras repetidas. [301] Hoje, todos os principais fabricantes têm a
111
estratégia de limitar os ciclos de vida dos bens com base em modelos de marketing
de consumo cíclico, e o resultado não só gera um desperdício repreensível de
recursos finitos, mas também um desperdício constante de trabalho humano e de
energia. Fora da dinâmica da economia de mercado, é extremamente difícil
argumentar contra a necessidade de um desenho otimizado das mercadorias.
Infelizmente, a natureza da eficiência de mercado não permite por padrão tal
eficiência técnica.
Do ponto de vista da eficiência de mercado, essa é uma coisa boa; quanto mais
compras diretas de bens, melhor. Em geral, se 100 pessoas desejam dirigir um carro,
ter 100 pessoas comprando esses carros é mais "eficiente" para o mercado do que
se 100 pessoas compartilharem 20 carros em um sistema estrategicamente
projetado de acesso, permitindo uma utilização com base no tempo de uso real.
ponto de vista da eficiência de mercado, essa seria uma extrema inibição. Enquanto
ainda seria gerado lucro no modelo capitalista através do empréstimo de itens para
as pessoas com base em suas necessidades, esse seria enormemente
desproporcional quando comparado com o lucro / consumo em uma sociedade
baseada na propriedade pessoal e separada de cada bem.
Por outro lado, a eficiência técnica seria intensa. Não apenas menos recursos seriam
utilizados (e menos força de trabalho), uma vez que uma menor quantidade de cada
bem precisaria ser criada para satisfazer o tempo de uso dos cidadãos, mas também
a disponibilidade de tais bens poderia muito bem se estender a muitas pessoas que
de outra forma não teriam como pagar por eles, mas poderiam pagar uma taxa de
"aluguel" (aqui ainda supondo um sistema de mercado). A este respeito, a eficiência
técnica tem dois níveis - ambiental e social. Do ponto de vista ambiental, uma
redução drástica no uso de recursos; do ponto de vista social (todo o resto
permanecendo igual), um aumento na disponibilidade de acesso a certos bens
também ocorreria.
Esse desprezo pela importância da "eficiência proximal" por parte das indústrias,
sejam nacionais ou internacionais, é fonte de muito desperdício. Hoje em dia, a
produção industrial é quase inteiramente internacional, especialmente na era
tecnológica. O grau em que isso se faz necessário, do ponto de vista técnico, é
mínimo, na pior das hipóteses. Enquanto, historicamente, a produção agrícola tem
sido regional, dada a propensão de certas regiões para a produção de certos tipos
de bens, ou, talvez, pelo ambiente mais propício para outros cultivos, essa é uma
pequena produção em relação à grande maioria de bens industriais produzidos, sem
contar as diversas possibilidades tecnológicas atuais que permitem superar tais
necessidades regionais. [309]
Como será descrito com mais detalhes na parte III deste texto, há uma linha de
raciocínio tecnicamente eficiente em relação à proximidade quando se trata da
extração, produção, distribuição e eliminação ou reciclagem de resíduos. O
resultado ao final seria a preservação de enormes quantidades de recursos e energia
humana - preservação de uma capacidade que, de fato, poderia ser realocada no
caso de necessidade de desenvolver mais projetos, ao invés de descartada como
mero desperdício através do modelo de mercado atual. [310]
114
Como uma nota final sobre esse assunto de como a competição limita a eficiência
técnica da produção industrial, aumentando o desperdício - a realidade da
"multiplicidade" de bens é outro problema. Toda a produção de empresas
concorrentes entre si é normalmente orientada em torno de estatísticas históricas
sobre qual é sua "cota de mercado" e quantos bens elas podem, em média, vender
por região; paralelamente, o próprio fato de várias empresas, que trabalham no
mesmo gênero de produção de bens, produzirem produtos quase idênticos, com
apenas pequenas diferenças, só contribui para as fontes desnecessárias de
desperdício.
Como também será descrito na próxima subseção, a ideia de, por exemplo, várias
empresas de telefonia celular competirem por participação de mercado com simples
variações de projetos, consequentemente gerando ineficiências relativas nos
mesmos como estratégia para obter melhor custo-benefício, aliado à ausência geral
de compatibilidade entre os componentes em vista do benefício financeiro de
estabelecer padrões de marcas e compatibilidades de sistemas, cria uma outra
complexa rede de ineficiência. [311]
(b) A segunda questão aqui, como já dito, tem a ver com a forma como a
concorrência afeta a própria inovação ou desenvolvimento criativo. Conquanto
ainda exista hoje a suposição de que recompensas distintas pela contribuição de
alguém motiva outras pessoas a buscarem a mesma recompensa, o que também é
uma comum justificativa sobre a existência de "classes", estudos sociológicos
modernos apontam visões conflitantes. [312] A ideia de que os seres humanos são
motivados por uma necessidade inerente de "vencer" os outros, ganhando, por
exemplo, mais recompensas materiais e financeiras que os outros, não tem
justificativa confiável fora a visão intuitiva extraída da condição do mercado, por
115
No entanto, mais uma vez, o debate sociológico pode ser posto de lado, enquanto o
contexto é como a competição se relaciona diretamente com o mercado e a
eficiência técnica. Resumindo, o sistema competitivo procura sigilo quando se trata
de ideias de negócio, em geral universalmente, contra o fluxo de livre
conhecimento. O uso de patentes e direitos autorais ou "segredos comerciais" não
perpetua o avanço da inovação, como muitos defensores do mercado competitivo
assumem - mas o retarda.
certa medida pelo avanço de outros setores de atividade, como o moderno setor de
serviços. No entanto, essa suposição de que a inovação tecnológica gerará novas
formas de emprego em harmonia com os deslocados por ela, estabelecendo um
equilíbrio, é realmente pouco defensável se levarmos em conta a taxa de mudança
na inovação, juntamente com os interesses de redução de custos das empresas.
[316]
Assim como a eficiência de mercado não considera o que, em geral, realmente está
sendo comprado e vendido, desde que se mantenha o consumo cíclico a um ritmo
aceitável, os papéis de trabalho assumidos hoje na produção são igualmente
arbitrários do ponto de vista do mercado. Em tese, poderíamos imaginar um mundo
onde as pessoas estão sendo pagas para fazer o que poderia ser considerado
ocupações "inúteis", do ponto de vista de utilidade, gerando altos níveis de PIB
praticamente sem uma verdadeira contribuição social. De fato, mesmo hoje nós
poderíamos voltar atrás e perguntar a nós mesmos qual é o papel social de muitas
118
instituições, e talvez chegar à conclusão de que elas servem somente para manter o
dinheiro em movimento, não para criar ou realmente contribuir com qualquer coisa
tangível em benefício da sociedade.
Essas são questões filosóficas complexas, pois elas desafiam a ética tradicional
dominante e a própria natureza do que o "progresso", sob vários aspectos,
realmente significa. Por exemplo, vale a pena considerar o seguinte exercício de
pensamento. Imagine se revertêssemos nosso sistema social para o século 16, onde
muitas realidades tecnológicas modernas (século 21) eram inéditas.
"A oferta e a procura" é uma relação usual de mercado que expressa, em parte,
como o valor de um recurso ou bem é proporcional ao quanto dele existe ou está
disponível. Por exemplo, os diamantes são considerados quantitativamente mais
raros e, por conseguinte, de valor mais elevado do que a água, que pode ser
encontrada em abundância no planeta. Da mesma forma, certas criações humanas,
se criadas em pequenas quantidades, também estão sujeitas a essa dinâmica,
mesmo que a noção de raridade seja culturalmente subjetiva, como o fato de uma
única tela de um artista renomado chegar a valer em uma venda muitas e muitas
vezes o valor dos recursos reais empregados. [320]
Dívida, por exemplo, é uma forma de escassez imposta que coloca uma pessoa em
uma posição na qual deve submeter-se frequentemente a um trabalho que pode ser
de uma natureza mais "exploradora" - isto é, a recompensa (normalmente o salário)
120
Quanto mais em dívida as pessoas estiverem, mais provável é que elas se submetam
a trabalhos com baixos salários, dessa forma gerando mais lucro para os
empresários. Na verdade, a mesma lógica pode ser aplicada ao uso de
"sweatshops"[N.T.: "fábricas de transpiração/suadouro"] no terceiro mundo, não
regulados legalmente, que são frequentemente "explorados" por empresas
ocidentais. Excessivas horas de trabalho, juntamente com salários muito baixos são
comuns - ainda assim essas pessoas literalmente não têm escolha a não ser aceitar,
já que não existem outras opções de sobrevivência na sua região, muitas vezes
devido à dívida resultante de medidas de austeridade. [321]
Portanto, existe sempre mais dívida do que o dinheiro necessário para pagá-la. Além
disso, uma vez que os pobres são os maiores responsáveis pelos empréstimos,
geralmente feitos para casas, carros, etc, e os ricos mantêm um superávit financeiro,
esta pressão geral de endividamento tende a cair sobre as classes mais baixas,
agravando o problema inerentemente insuperável de estar endividado e, portanto,
com opções limitadas. Neste modelo, a falência, por exemplo, não é um resultado
de algumas más decisões financeiras - mas é uma consequência inevitável - como o
jogo da “dança das cadeiras”. [322]
Conclusão
Essa "eficiência" inerente ao capitalismo opera sem qualquer respeito pelos custos
sociais ou ambientais de seu processo, apenas para manter o consumo cíclico e o
lucro, e o mundo que você vê ao seu redor, cheio de desordem ecológica, privação
humana e instabilidade geral, social e ambiental, tem sido o resultado disso. Por
outro lado, a eficiência técnica, que se poderia caracterizar como um obstáculo para
a eficiência do mercado, procura manter o meio ambiente, a saúde humana e,
essencialmente, o equilíbrio do mundo natural. A redução de resíduos, a resolução
de problemas, e a manutenção do alinhamento com a lei natural; é a lógica do senso
comum encarnada.
122
Finalizando com uma nota à parte, há uma tendência emergente no século XXI, na
esteira de todos os crescentes e persistentes problemas ecológicos, que pretende
seguir a chamada "economia verde". Alguns têm até mesmo dividido esse ponto de
vista econômico em setores, incluindo aplicações para a energia renovável,
ecoedifícios, transporte limpo e outras categorias de foco [325]. Notar-se-á que
todas essas percepções e aplicações potenciais estão, em geral, alinhadas com a
perspectiva técnica ou científica discutida neste ensaio.
Infelizmente, por mais positiva que seja a intenção dessas novas organizações e
planejadores de negócios, a ineficiência inerente ao modelo econômico capitalista -
com toda a sua necessidade de certas formas de "eficiência" artificial para se manter
- imediatamente polui e limita profundamente todas essas tentativas, o que explica
porque tais abordagens técnicas eficientes ainda não foram realmente aplicadas. A
triste realidade é que, apesar de ser possível implementar algumas melhorias,
qualquer progresso será inerentemente limitado em um grau cada vez maior, já
que, conforme descrito, a base estrutural na qual o capitalismo de mercado
funciona é ativamente contrária às eficiências inerentes à visão das leis naturais. A
única solução lógica é repensar toda a estrutura existente, caso almejemos, em
longo prazo, uma verdadeira eficiência, prosperidade elevada e soluções de
problemas.