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Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo
2011; 56(1):36-9
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Silva CSHA, Lucas SFLM, Nakatsu E, Moricz M, Silva RA, Pacheco Jr. AM, De Campos T. Adenocarcinoma de pâncreas em paciente jovem: relato de caso.
Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo. 2011; 56(1): 36-9.
entes com adenocarcinoma de pâncreas têm ou terão III – tumor local extenso ou invasão linfática regional
pelo menos um parente de primeiro ou de segundo extensa; Estádio IV – tumor localmente avançado ou
grau acometido(6). Esta predisposição genética também presença de metástases à distância.
está relacionada a casos de pancreatite autoimune, O prognóstico do câncer de pâncreas é reservado
melanoma múltiplo atípico familiar, mutação do com sobrevida média de 8-12 meses para doença
p16 e 25 e síndrome de Peutz-Jeghers(7). O tabagismo localmente avançada e até seis meses na doença me-
é outro fator bem documentado, mostrando que o tastática, independentemente da terapia de escolha. A
risco para desenvolver câncer de pâncreas se eleva pancreatectomia é o único tratamento com potencial
à medida que o número de cigarros consumidos au- de cura, porém apenas cerca de 20% dos pacientes
menta(8), assim como a cessação deste hábito diminui diagnosticados são candidatos a cirurgia, com uma
o risco(9). Além disso, mostra-se forte correlação entre a mortalidade de 1-4% em centros de referência da do-
obesidade e risco aumentado de desenvolvimento do ença. O tratamento clínico indicado é a quimioterapia,
tumor(10). Ainda está em investigação sua associação mas o mesmo tem resposta variável e um padrão de
com dieta(11), consumo de álcool, alguns medicamen- resistência bastante preocupante. A droga atual de
tos – aspirina e antiinflamatórios não hormonais(12) –, primeira linha é a gemcitabina sozinha ou em com-
diabetes mellitus(13), infecção por Helicobacter pylori(14) binação com outros quimioterápicos – por exemplo,
e pancreatite crônica. o erlotinibe(19).
O câncer de pâncreas está localmente avançado
ou metastático em 90% dos casos no momento do Relato de caso
diagnóstico, o que leva a um prognóstico reservado e
a uma alta mortalidade(15). Os locais de invasão mais Paciente do sexo feminino, 32 anos, solteira, natu-
comuns são duodeno, veia porta e vasos mesentéricos ral e procedente de Piripiri, Piauí, apresentava queixa
superiores, podendo atingir também nervos periféri- de icterícia há três meses em consulta de rotina, na
cos, baço, adrenais, coluna vertebral, cólon transverso qual foi aventada a hipótese de hepatite e solicitado
e estômago. Linfonodos peripancreáticos regionais são encaminhamento da paciente para a infectologia com
frequentes focos de metástases(15). sorologias. Em consulta da infectologia foi descartada
O quadro clínico dessa afecção costuma ser ines- a hipótese de hepatite e solicitada ultrassonografia
pecífico, sendo que na maioria dos casos o paciente se (USG) abdominal total que evidenciou dilatação das
mantém assintomático até atingir estágios avançados vias biliares intra e extra-hepáticas, ducto colédoco
de doença. As principais manifestações observadas ectasiado (1,8cm), vesícula biliar hidrópica com bile
são dor no andar superior do abdome que irradia espessa, sem evidências de cálculos em seu interior e
para dorso (“em faixa”), perda peso e icterícia obs- ectasia do ducto pancreático principal (5,9mm).
trutiva. Na lesão da cabeça do pâncreas é comum Frente ao resultado da USG a paciente foi interna-
existir esteatorréia, perda ponderal, icterícia e Sinal de da em serviço de Teresina para investigação diagnósti-
Curvoisier-Terrier enquanto que no corpo e na cauda, ca, tendo sido realizados tomografia computadorizada
há maior ocorrência de perda de peso e dor(16). Exames (TC) abdominal e ressonância nuclear magnética
laboratoriais podem demonstrar valores aumentados (RNM) abdominal. A TC apresentou pequeno aumento
de bilirrubina sérica e de atividade da fosfatase alca- volumétrico da cabeça pancreática com impregnação
lina. O marcador tumoral CA 19-9 é o mais utilizado heterogênea pelo meio de contraste, sugerindo dege-
para as neoplasias pancreáticas, com importância no neração cística/necrose, moderada dilatação das vias
seguimento e prognóstico, porém não deve ser utili- biliares intra e extra-hepáticas, dilatação do ducto
zado para rastreamento populacional(17). Wirsung (figura 1) e vesícula biliar distendida (figura
O principal exame de imagem adjuvante ao diag- 2). A RNM sugeriu processo infiltrativo pancreático
nóstico é a tomografia computadorizada helicoidal de natureza indeterminada, associado a pequenos
com visualização da lesão e delimitação do avanço da focos císticos de permeio, dilatação moderada das vias
doença (local e metástases). A ultra-sonografia, a to- biliares intra e extra-hepáticas e do ducto pancreático
mografia computadorizada e a ressonância magnética principal. Recebeu então alta com encaminhamento
abdominal são ineficazes para a detecção de tumores para São Paulo para tratamento específico.
menores que 1-2 cm. A ecoendocoscopia é método pre- Durante todo o período a paciente apresentou icte-
ciso na identificação de lesões menores que 3,0 cm(18). rícia progressiva e na época da internação em Teresina
Em relação ao estadiamento, utiliza-se o sistema já apresentava colúria, acolia fecal e prurido difuso.
TNM (tumor-node-metastasis), o qual é dividido em Além disso, referia febre baixa (não aferida), calafrios,
quatro estádios: Estádio 0 – carcinoma in situ; Estádio inapetência e emagrecimento de 2 kg em dois meses.
I – invasão local inicial; Estádio II – tumor primário Apresentava antecedentes pessoais de hepatite A
limitado ou invasão linfática regional mínima; Estádio (IgG+) e tabagismo (4anos/maço), negava etilismo,
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Silva CSHA, Lucas SFLM, Nakatsu E, Moricz M, Silva RA, Pacheco Jr. AM, De Campos T. Adenocarcinoma de pâncreas em paciente jovem: relato de caso.
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Tabela 1
Exames laboratoriais de entrada.
Amilase 76 U/L
Bilirrubina total 19,3 mg/dL
Bilirrubina direta 10,5 mg/dL
Bilirrubina indireta 8,8 mg/dL
Fosfatase Alcalina 691 U/L
Gamaglutamil transferase 316 U/L
AST 168 U/L
ALT 289 U/L
CA 19-9 < 35 U/mL
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