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1, 1307 (2014)
www.sbfisica.org.br
Uma breve discussão sobre os possı́veis estados ligados para uma classe
de potenciais singulares
(A brief discussion on the possible bound states for a class of singular potentials)
Investiga-se a equação de Schrödinger unidimensional com uma classe de potenciais V (|x|) que se anulam
no infinito e apresentam singularidade dominante na origem na forma α/|x|β (0 < β ≤ 2). A hermiticidade dos
operadores associados com quantidades fı́sicas observáveis é usada para determinar as condições de contorno
apropriadas. Dupla degenerescência e exclusão de soluções simétricas, consoante o valor de β, são discutidas.
Soluções explı́citas para o átomo de hidrogênio e o potencial de Kratzer são apresentadas.
Palavras-chave: potencial singular, degenerescência, átomo de hidrogênio unidimensional, potencial de Krat-
zer, colapso para o centro.
The one-dimensional Schrodinger equation for a class of potentials V (|x|) which vanish at infinity and present
dominant singularity at the origin in the form α/|x|β (0 < β ≤ 2) is investigated. The hermiticity of the ope-
rators related to observable physical quantities is used to determinate the proper boundary conditions. Double
degeneracy and exclusion of symmetric solutions, depending on the value of β, are discussed. Explicit solutions
for the hydrogen atom and the Kratzer potential are presented.
Keywords: singular potential, degeneracy, one-dimensional hydrogen atom, Kratzer potential, collapse to the
center.
vela um espectro não-degenerado se β < 2, e degene- e.g., Ref. [14]). Todas as quantidades fı́sicas observáveis
rado se β = 2. Revela-se também que somente auto- correspondem a operadores hermitianos. Para auto-
funções antissimétricas ocorrem no caso 1 ≤ β < 2, funções definidas no intervalo [x1 , x2 ], o operador O é
e que autofunções simétricas e antissimétricas ocorrem dito ser hermitiano se
no caso β < 1. A seguir investigamos as soluções para ∫ x2 ∫ x2
∗
V (|x|) com formas bem definidas. Começamos com dx (Oψ1 ) ψ2 = dx ψ1∗ (Oψ2 ) , (6)
o problema definido no semieixo, e depois de fatorar x1 x1
o comportamento da autofunção na origem e no infi-
onde
∫ x2 ψ1 ∗e ψ2 são duas autofunções quaisquer que fazem
nito, a equação de Schrödinger se transmuta em uma
dx ψ1 (Oψ2 ) < ∞. Em particular, as autofunções
equação diferencial hipergeométrica confluente para a x1 ∫x
classe de potencias de interesse. Demonstramos que devem ser quadrado-integráveis, viz. x12 dx |ψ|2 < ∞.
um conjunto infinito de estados ligados tem presença no Neste trabalho focalizamos nossa atenção nos esta-
caso do potencial singular atrativo do tipo 1/|x|, ainda dos ligados com potenciais que têm o comportamento
que o potencial seja fortemente atrativo. Também α
mostramos que no caso da adição de um termo sin- |x|β , |x| → 0
gular fracamente atrativo do tipo 1/x2 não há cabi- V (|x|) ∼ (7)
mento em se falar em colapso para a origem (como 0, |x| → ∞,
afirmado na Ref. [11]) ou inexistência de estado fun-
damental, e que há um conjunto infinito de estados li- com 0 < β ≤ 2, e consideramos autofunções definidas
gados. Dentro da classe de potenciais investigados neste no intervalo [0, ∞). Neste caso, a equação de Schrödin-
trabalho, demonstramos a inexistência de estados liga- ger é uma equação diferencial singular e a autofunção
dos com o potencial V (|x|) = α/x2 , e apresentamos a pode manifestar algum comportamento patológico. Tal
solução explı́cita dos estados ligados com o potencial sequela poderia
∫∞ comprometer a existência de integrais
V (|x|) = α1 /|x| + α2 /x2 , com α1 ̸= 0. do tipo 0 dx ψ1∗ (Oψ2 ), e assim comprometer a her-
miticidade dos operadores associados com as quanti-
dades fı́sicas observáveis. Por isto, o comportamento
2. Potenciais singulares na origem das soluções da Eq. (3) na vizinhança da origem exige
muita atenção. Visto que os estados ligados constituem
A equação de Schrödinger unidimensional independente uma classe de soluções da equação de Schrödinger que
do tempo para uma partı́cula de massa m sujeita a um representam um sistema localizado numa região finita
potencial externo V (x) é dada por do espaço, devemos procurar autofunções que se anulam
Hψ = Eψ, (1) à medida que |x| → ∞. ∫ ∞Também, neste caso podemos
normalizar ψ fazendo 0 dx |ψ|2 = 1.
onde H é o operador hamiltoniano Na vizinhança da origem a Eq. (3) passa a ter a
forma
~2 d2
H=− + V. (2)
2m dx2 d2 ψ 2mα
− 2 β ψ ≃ 0, (8)
Aqui, ψ (x) é a autofunção que descreve o estado es- dx2 ~ |x|
tacionário, E é a autoenergia, e ~ é a constante de e no semieixo positivo podemos escrever a solução geral
Planck reduzida (~ = h/(2π)). A equação de Schrödin- da Eq. (8) como
ger também pode ser escrita na forma
( ) A |x|s+ + B |x|s− , para s+ ̸= s−
d2 ψ 2mV ψ≃
− k 2
+ ψ = 0, (3)
dx2 ~2 C |x|1/2 + D |x|1/2 log |x|, para s+ = s− ,
com (9)
2mE onde A, B, C e D são constantes arbitrárias, e s± é
k2 = − . (4)
~2 solução da equação indicial
A quantidade
2 2mα
ρ = |ψ| (5) s± (s± − 1) − ≃ 0. (10)
~2 |x|β−2
é interpretada como sendo a densidade de probabili-
dade. Com condições de contorno apropriadas, o pro- A equação indicial resulta da consideração dos ter-
blema se reduz à determinação do par caracterı́stico mos de mais baixa ordem da expansão em séries de
(E, ψ) de uma equação do tipo Sturm-Liouville (veja, potências. Note que esta equação faz sentido somente
2 A origem é uma singularidade não-essencial (ou regular) se x2 V (|x|) for finita no limite |x| → 0. Caso contrário, a origem é uma
singularidade essencial (ou irregular). No caso de singularidade não-essencial, o teorema de Fuchs (veja, e.g. Ref. [14]) garante que a
solução geral da equação diferencial é a combinação linear de duas soluções linearmente independentes c1 S1 (x) + c2 S2 (x), onde S1 (x)
e S2 (x) são expressı́veis como séries de potências em torno da origem, ou c1 S1 (x) + c2 (S1 (x) log |x| + S2 (x)).
Uma breve discussão sobre os possı́veis estados ligados para uma classe de potenciais singulares 1307-3
acerca da degenerescência. Com esta finalidade, segui- A autofunção deve ser contı́nua na origem, do
mos os passos da Ref. [12]. Sejam ψ1 e ψ2 duas auto- contrário o valor esperado da energia cinética não seria
funções correspondentes à mesma energia. A equação finito. É assim porque
de Schrödinger (3) implica que ( )
d2 ψ d dψ dψ ∗ dψ
d 2 ψ2 d 2 ψ1 ψ∗ 2 = ψ∗ − , (22)
ψ1 − ψ2 = 0. (19) dx dx dx dx dx
dx 2 dx2
e uma descontinuidade de salto de ψ em x = 0 faria
Nesta circunstância, a integral da Eq. (19) resulta em dψ/dx ser proporcional à função delta de Dirac δ (x).
dψ2 dψ1 Portanto, a última parcela do lado direito da Eq. (22)
ψ1 − ψ2 = W (ψ1 , ψ2 ) = W0 = constante, contribuiria para o valor esperado da energia cinética
dx dx
(20) com uma parcela proporcional à
onde W (ψ1 , ψ2 ) designa o wronskiano de ψ1 e ψ2 . O ∫ +ε
comportamento assintótico de ψ1 e ψ2 faz W0 = 0, e lim dx δ 2 (x) = ∞. (23)
ε→0 −ε
assim o wronskiano é nulo em todo o semieixo, tendo
como consequência imediata a dependência linear en-
Note que a demanda por continuidade da autofunção
tre ψ1 e ψ2 . Conclui-se, então, que o espectro é não-
em x = 0 exclui a possibilidade de uma extensão antis-
degenerado. No entanto, tal conclusão é fidedigna so-
simétrica no caso de β < 1 e s = 0.
mente se a Eq. (19) for integrável. Na vizinhança da
A conexão entre dψ/dx à direita e dψ/dx à esquerda
origem, cada parcela do lado esquerdo de (19) é pro-
da origem pode ser avaliada pela integração da Eq. (3)
porcional a s (s − 1) |x|2s−2 , sendo integrável somente
numa pequena região em redor da origem, e para um
se s = 0 ou s > 1/2. Destarte, a adoção do bem-
potencial com o comportamento ditado pela Eq. (7)
afortunado critério de hermiticidade do operador asso-
pode ser sumarizada por
ciado com a energia potencial garante a inexistência de
x=+ε ∫ +ε
degenerescência ainda que os potenciais sejam singula- dψ 2mα ψ
lim = 2 lim dx . (24)
ε→0 dx
res. ~ ε−→0 −ε |x|β
x=−ε
Note que para o problema definido no semieixo mas
limitado por uma barreira infinita no semieixo comple- Adotando o valor principal de Cauchy3 como prescrição
mentar, a solução com s = 0 deve ser banida por causa lı́cita para atribuir significado à representação integral
da continuidade da autofunção em x = 0. cujo integrando é singular no interior da região de in-
tegração, pode-se concluir que a derivada primeira de
4. Solução em todo o eixo uma autofunção ı́mpar é sempre contı́nua. Entretanto,
a autofunção par requer atenção. Nesta última cir-
Com potenciais pares sob a troca de x por −x, as auto- cunstância, temos
funções em todo o eixo, com paridades bem definidas,
podem ser obtidas das autofunções definidas no semi- dψ dψ
− =
eixo por meio de extensões simétricas e antissimétricas. dx x=0+ dx x=0−
A autofunção definida para todo o eixo X pode ser es-
0, para β = 2 e α > 0, ou β < 2
crita como (26)
ψ (p) (x) = [θ (x) + p θ (−x)]ψ (|x|) , (21) ∞, para β = 2 e α < 0,
onde p = ±1 e θ (x) é a função degrau de Heaviside (1 resultando na exclusão das extensões simétricas dos ca-
para x > 0, e 0 para x < 0). Estas duas autofunções sos 1 ≤ β < 2, e β < 1 com s = 1.
linearmente independentes possuem a mesma energia, Um resumo das extensões possı́veis está transcrito
então, em princı́pio, existe uma dupla degenerescência. na Tabela 2.
Observe que, apesar da nulidade do wronskiano de ψ (+)
Tabela 2 - Possı́veis extensões simétricas e antissimétricas em
e ψ (−) , como pode ser inferido pelo comportamento as- função dos parâmetros do potencial.
sintótico, está claro que ψ (+) não pode ser expressa em
termos de ψ (−) , e vice-versa. Entretanto, temos de con- Extensões possı́veis
siderar as condições de conexão entre a autofunção, e β=2 par e ı́mpar
1≤β<2 ı́mpar
também sua derivada primeira, à direita e à esquerda β<1es=0 par
da origem. β<1es=1 ı́mpar
∫
3 Para f (x) singular na origem, pode-se atribuir um sentido proveitoso à representação integral +∞ dx f (x) por meio da receita
−∞
que se segue: (∫ −δ )
∫ +∞ ∫ +∞
P dx f (x) = lim dx f (x) + dx f (x) . (25)
−∞ δ→0 −∞ +δ
∫ +∞
Tal prescrição é conhecida como valor principal de Cauchy de −∞ dx f (x).
Uma breve discussão sobre os possı́veis estados ligados para uma classe de potenciais singulares 1307-5
A hermiticidade do operador associado com a ener- e c2 < 1, quando y → ∞. Isto é necessário para ga-
gia potencial, por causa da singularidade em x = 0, rantir que o expoente da exponencial na Eq. (27), viz.
depende da existência do valor principal de Cauchy −y/2 + c1 y c2 , se comporte como −y/2 quando y → ∞.
∫ +∞ (p̃p)
da integral −∞ dx Vñn . Obviamente, o valor princi- Veremos mais adiante que as equações obedecidas
pal de Cauchy poderia consentir um afrouxamento das por w para os problemas passı́veis de soluções analı́ticas
condições de contorno impostas sobre as autofunções. recaem em equações diferenciais hipergeométricas con-
Autofunções mais singulares que essas anteriormente fluentes (também chamada de equação de Kummer) [15]
definidas no semieixo seriam toleradas se na vizinhança
(p̃p) d 2 w (y) dw (y)
da origem os sinais de Vñn à direita e à esquerda da y 2
+ (b − y) − a w (y) = 0. (28)
dy dy
origem fossem diferentes para quaisquer p e p̃. Porém,
(p̃p)
temos Vñn (x < 0) = p̃p Vñn (x > 0), de modo que a Buscaremos soluções particulares da Eq. (28) que sa-
(p̃p) tisfaçam as condições de contorno apropriadas, esta-
integral de Vñn não seria finita ao se considerar duas
autofunções com a mesma paridade. Somos assim con- belecidas no final do parágrafo anterior. Afortunada-
duzidos a preservar a rigidez do critério de hermitici- mente, veremos também que tais soluções particulares
dade já estabelecido no problema definido no semieixo. requerem b > 1. A solução geral da Eq. (28) é dada
O critério de não-degenerescência estabelecido na por [15]
Seção 3 para o problema definido no semieixo torna-se
w (y) = C1 M (a, b, y) + C2 y 1−b M (a − b + 1, 2 − b, y),
um fiasco para o problema definido em todo o eixo no
(29)
caso em que β = 2. Por causa das condições de conexão
onde C1 e C2 são constantes arbitrárias, e M (a, b, y),
entre a autofunção e sua derivada primeira à direita e
também denotada por 1 F1 (a, b, y), é a função hiper-
à esquerda da origem, e também por causa da hermiti-
geométrica confluente (também chamada de função de
cidade do operador associado com a energia potencial,
Kummer) expressa pela série [15]
os estados ligados da equação de Schrödinger com um
∞
potencial que se comporta como a Eq. (7) apresentam Γ (b) ∑ Γ (a + j) y j
um espectro degenerado se β = 2, não-degenerado e M (a, b, y) = , (30)
Γ (a) j=0 Γ (b + j) j!
somente com autofunções ı́mpares se 1 ≤ β < 2, e não-
degenerado com autofunções pares (s = 0) e ı́mpares onde Γ (z) é a função gama. A função gama não tem
(s = 1) se β < 1. O espectro não-degenerado no caso raı́zes e seus polos são dados por z = −n, onde n é um
em que o potencial dominante na origem tem singu- inteiro não-negativo [15]. A função de Kummer con-
laridade 1/|x|β com β < 1 é habitual para sistemas verge para todo y, é regular na origem (M (a, b, 0) = 1)
unidimensionais. É curioso a ausência de autofunções e tem o comportamento assintótico prescrito por [15]
pares no caso em que o potencial dominante na origem
possui singularidade 1/|x|β com 1 ≤ β < 2. Outrossim, Γ (b) Γ (b) y a−b
M (a, b, y) ≃ e−iπa y −a + e y . (31)
é surpreendente que a degenerescência só apresente sua Γ (b − a) Γ (a)
assinatura no caso em que o potencial dominante na
Haja vista que b > 1, e estamos em busca de solução
origem tem singularidade 1/x2 .
regular na origem, devemos tomar C2 = 0 na Eq. (29).
A presença de ey na Eq. (31) estraga o bom com-
5. Dois modelos exemplares portamento assintótico da autofunção já ditado pela
Eq. (18). Esta situação pode ser remediada pela con-
Até o momento, temos excluı́do classes de potenciais sideração dos polos de Γ (a), e assim preceituar que
e classes de soluções, contudo, as classes de potenciais um comportamento aceitável para M (a, b, y) ocorre so-
e classes de soluções que sobejam carecem de modelos mente se a = −n, com n ∈ N. Neste caso, M (−n, b, y)
especı́ficos para a verificação da concretização de suas exibe o comportamento assintótico M (−n, b, y) ∼ y n ,
possibilidades. Nesta Seção, investigaremos as soluções e a série (30) é truncada em j = n de tal forma
para V (|x|) com formas bem definidas. que o polinômio de grau n resultante é proporcional
Para potenciais com os comportamentos ditados (b−1)
ao polinômio de Laguerre generalizado Ln (y) [15].
pela Eq. (7), o comportamento assintótico de ψ ex-
O polinômio de Laguerre generalizado é definido pela
presso pela Eq. (18) convida-nos a definir y = 2k|x| de
forma que a autofunção para todo y ∈ [0, ∞) pode ser fórmula
escrita como
dn ( b+n−1 −y )
L(b−1) (y) = y −(b+1) ey y e , b > 0,
ψ (y) = y s e−y/2 w (y) .
n
(27) dy n
(32)
Por causa do comportamento já prescrito para ψ, a e possui n zeros distintos. Quando b = 1 o polinômio de
função w deve convergir para uma constante não-nula Laguerre generalizado é denotado por Ln (y), e é cha-
quando y → 0, e não deve crescer mais rapidamente mado simplesmente de polinômio de Laguerre. Haja
do que exp (c1 y c2 ), onde c1 é uma constante arbitrária vista que nosso interesse recairá nos casos com b > 1,
1307-6 Pimentel e Castro
podemos assegurar que a autofunção do problema terá Para V (x) = −|α|/|x|, encontramos um conjunto infi-
a forma nito de estados ligados. Não há limite inferior imposto
sobre α, basta que α seja negativo.
ψ (y) = Nn y s e−y/2 L(b−1)
n (y) , (33)
com n nodos no intervalo (0, ∞). Nn é uma constante
de normalização. 5.2. V (x) = α1 /|x| + α2 /x2 , α1 ̸= 0
Vale a pena observar que o comportamento de w (y) Neste caso,
nos extremos do intervalo, consoante o que foi exposto
dw (y) ( mα1 )
no final do parágrafo que envolve a Eq.(27), garante a
d 2 w (y)
existência de sua transformada de Laplace (veja, e.g., y + (2s − y) − s+ 2 w (y) = 0,
dy 2 dy ~ k
Ref. [14]) ∫ ∞ (40)
F (σ) = dy e−σy w (y) , (34) e as soluções bem comportadas demandam
0
e assim a solução particular da Eq. (28) poderia ter mα1
−n=s+ . (41)
sido obtida pelo metódo da transformada de Laplace ~2 k
de w (y), em concordância com o que foi apregoado na
Ref. [16]. Necessariamente com α1 < 0, as soluções com s > 1/2
(2s−1)
(b > 1) são expressas em termos de Ln (y) por:
5.1. V (x) = α/|x|β
mα12
Neste caso, a substituição de ψ (y) dado pela Eq. (27) En = − 2
na Eq. (3) resulta que w (y) é solução da equação 2~2 (n + s)
[ ( )
(42)
d 2 w (y) dw (y) m|α1 |
y + (2s − y) − s − s (s − 1) y −1 + ψn (|x|) = Nn |x| exp − 2
s
|x| ×
dy 2 dy ~ (n + s)
] ( )
2mα β−2 1−β 2m|α1 |
(2k) y w (y) = 0. (35) L(2s−1) |x| .
~2 n
~2 (n + s)
Nota-se que a Eq. (35) se reduz a equações hiper-
geométricas caso β seja igual a 2 ou 1: Aqui,
d 2 w (y) dw (y) ( √ )
y + (2s − y) − s w (y) = 0, 1 8mα2
dy 2 dy s= 1+ 1+ , α2 > α c . (43)
2 ~2
para β = 2, (36)
e Para V (x) = −|α1 |/|x| + α2 /x2 , com α1 ̸= 0, encon-
d 2 w (y) dw (y) ( mα ) tramos um conjunto infinito de estados ligados com
y + (2 − y) − 1 + w (y) = 0, nenhum limite inferior imposto sobre α1 , basta que
dy 2 dy ~2 k
α1 < 0. Para α2 = 0, os resultados coincidem com
para β = 1. (37) aqueles encontrados na subseção anterior, como deve-
Encontramos que soluções bem comportadas requerem ria acontecer. Qualquer que seja α2 > αc , as soluções
são fisicamente aceitáveis, ainda que no intervalo αc <
s, para β = 2 α2 < 0 as autofunções possuam derivadas primeiras
−n= (38) singulares na origem. É mesmo assim, contanto que
1 + ~mα2k , para β = 1. o parâmetro α2 seja maior que αc , o par caracterı́stico
Daı́ podemos concluir que não há solução se β = 2, pois (En , ψn ) constitui uma solução permissı́vel do problema
s > 1/2. Entretanto, se β = 1 há soluções somente no proposto. Visto como função de α2 , ao passar por
caso em que α < 0, como esperado. Tais soluções, com α2 = 0, a forma do potencial sofre uma mudança
(1) drástica: passa de um poço sem fundo com singula-
b = 2, são expressas em termos de Ln (y) por
ridade negativa na origem quando αc < α2 ≤ 0 para
mα2 um poço com fundo com singularidade positiva na ori-
En = − 2 gem quando α2 > 0. As autofunções sempre satisfa-
2~2 (n + 1)
zem à condição homogênea de Dirichlet na origem. As
(39)
( ) derivadas primeiras das autofunções são infinitas na
m|α| origem se αc < α2 < 0. Para α2 ≥ 0, contudo, as de-
ψn (|x|) = Nn |x| exp − 2 |x| ×
~ (n + 1) rivadas primeiras são finitas, sendo nulas caso α2 > 0.
( )
2m|α| É instrutivo observar que esta transição de fase não se
(1)
Ln |x| .
~2 (n + 1) manifesta no espectro.
Uma breve discussão sobre os possı́veis estados ligados para uma classe de potenciais singulares 1307-7
• o espectro é negativo;
Figura 1 - Autofunção normalizada do estado fundamental de- • somente autofunções antissimétricas ocorrem no
finido no semieixo em função de ζ = |x|/λ, para α1 /(~c) = caso 1 ≤ β < 2;
−10. As linhas contı́nua espessa, pontilhada, tracejada, ponto-
tracejada e contı́nua delgada para os casos com mα2 /~2 igual a • autofunções simétricas e antissimétricas ocorrem
−0, 124999, −0, 1, 0, +0, 1 e 0, 3, respectivamente.
no caso β < 1.
1307-8 Pimentel e Castro
Em seguida, tratamos de modelos exatamente 561, 357 (1999); A.M. Essin and J.D. Griffiths, Am. J.
solúveis. Consideramos potenciais da forma V (|x|) = Phys. 74, 109 (2006).
α1 /|x| + α2 /x2 , e recorrendo ao conhecimento de [2] D.R.M. Pimentel and A.S. de Castro, Revista Brasi-
soluções de equações diferenciais hipergeométricas con- leira de Ensino de Fı́sica 35, 3303 (2013).
fluentes, demonstramos que inexistem soluções no caso [3] D. Xianxi, J. Dai and J. Dai, Phys. Rev. A 55, 2617
em que α1 = 0, e que há um número infinito de esta- (1997).
dos ligados no caso em que α1 < 0 e α2 > −~2 / (8m).
[4] H.N. Núñez-Yépes, A.L. Salas-Brito and D.A. Solis,
Em particular, reafirmamos as conclusões obtidas na
Phys. Rev. A 83, 064101 (2011); C.R. de Oliveira and
Ref. [3] referentes ao átomo de hidrogênio unidimensio- A.A. Verri, J. Math. Phys. 53 (2012) 052104.
nal definido em todo o eixo: todo o espectro tem energia
[5] H.N. Spector and J. Lee, Am. J. Phys. 53, 248 (1985);
finita e autofunções antissimétricas.
R.E. Moss, Am. J. Phys. 55, 397 (1987); C.-L. Ho and
Nossos resultados para o problema definido no semi-
V.R. Khalilov, Phys. Rev. D 63, 027701 (2001).
eixo podem ser generalizados para o problema( tridimen- )
sional por meio do acréscimo de l (l + 1) ~2 / 2mx2 ao [6] A.S. de Castro, Phys. Lett. A 338, 81 (2005); A.S. de
Castro, Ann. Phys. (N.Y.) 316, 414 (2005).
potencial e pela substituição de ψ (|x|) por |x|R (|x|),
onde l é o número quântico orbital e R (|x|) é a [7] N. Dombey, Phys. Lett. A 360, 62 (2006); A.S. de Cas-
função radial. Desta forma, α deve ser substituı́do tro, Phys. Lett. A 369, 380 (2007).
por α + l (l + 1) ~2 / (2m) se β = 2, e α2 por α2 + [8] G. Barton, J. Phys. A 40, 1011 (2007).
l (l + 1) ~2 / (2m) na Seção 5.1. Entretanto,
( ) deve-se ob- [9] A. Kratzer, Z. Phys. 3, 289 (1920); G. Van Hooydonk,
servar que a parcela l (l + 1) ~2 / 2mx2 representará a J. Mol. Struc. Theochem 109, 87 (1984); G. Van Ho-
singularidade dominante na origem se β < 2 e l ̸= 0, em oydonk, Eur. J. Inorg. Chem. 1999, 1617 (1999).
vez de α/|x|β . Além disto, a solução que não satisfaz à [10] H. Ulrich and P. Hess, Chem. Phys. 47, 481 (1980).
condição de Dirichlet homogênea na origem, essa com
[11] V.G. Bagrov and D.M. Gitman, Exact Solutions of Re-
s = 0 para β < 1, torna-se uma solução espúria para o
lativistic Wave Equations (Kluwer, Dordrecht, 1990).
caso tridimensional. Isto se dá porque a existência de
uma função radial com o comportamento na vizinhança [12] L.D. Landau and E.M. Lifshitz, Quantum Mechanics
da origem ditado por 1/|x| requeriria a presença de uma (Pergamon, New York, 1958); I.I. Gol’dman and V.D.
função delta de Dirac no potencial [17]. Krivchenkov, Problems in Quantum Mechanics (Per-
gamon, Londres, 1961); F. Constantinescu and E.
Magyari, Problems in Quantum Mechanics (Pergamon,
Agradecimentos Oxford, 1971); D. ter Haar, Problems in Quantum Me-
chanics (Pion, Londres, 1975); S. Flügge, Practical
Os autores são gratos à CAPES, ao CNPq e à FAPESP Quantum Mechanics (Springer-Verlag, Berlin, 1999).
pelo apoio financeiro. [13] A.S. de Castro, Phys. Lett. A 328, 289 (2004); L.K.
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