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Monique Rodrigues.
Nesse interrogatório solitário, noto que as referências teóricas nas quais tenho me
pautado são tangentes aos meus pontos de questões. Para fim de melhor observação do tema
tratado, dividirei a escrita em: a família e a função paterna; a criança: de objeto a sujeito, a
violência familiar. A família e a função paterna.
"(...) a família surge inicialmente como um grupo natural de indivíduos unidos por uma dupla
relação biológica: a geração"(LACAN,p.7) . Mas como tudo na " espécie humana caracterizase por um
desenvolvimento singular das relações sociais (...) Seu progresso e desenvolvimento dependem de s
ua comunicação, que são, antes de tudo, obra coletiva e constituem a cultura"(LACAN,p.7).
progressão das relações interpessoais numa cultura familiar. Primeiro eram representações apenas
masculinas em ambientes externos ao lar, com transcorrer do tempo surgem as
mulheres, por fim as crianças. Sempre destacado a figura do patriarca em todos os séculos
descritos na referida obra. Ressaltava os valores religiosos nos séculos XV e XVI, em torno
do XVII esses valores não eram tão relevantes. Com o aparecimento dos gêneros nas imagens
ficou clara a diferença entre os sexos numa distribuição espacial das personagens femininas e
masculinas nas pinturas. Essa representação iconográfica e literária revelam as intimidades
travadas nas relações, antes do século XV as crianças eram destinadas a outras famílias para
serem educados, não o lugar de aprendiz o qual ocupavam não possuía a menor distinção entre os
servos. Aponto de serem subsumidos a significantes como "garçon, valet"(Àries, p.226).
As mães não aleitavam seus filhos, ficando a cargo de leite de vaca, ou das amas de
leite. Após a senda iconográfica Àries constata que para o sentimento interpessoal progredisse
em sentimento de família exigisse que as pessoas que compunham um determinado espaço
social o fechasse para o ambiente externo, criando uma "intimidade doméstica" (Ibid, p.238).
Esse desenvolvimento da vida em família para uma vida privada produziu muitas
modificações em seu "traços objetivos"(LACAN, p.8, ), como na função educadora dos pais
que não delegada a outra família, sim compartilhada com outra instituição que surgia como
fundamental: a escola. As tradições de herança também foram modificadas. Essa foi a cargo
da linhagem, posteriormente a primogenitura, já em meios ao século XVIII já era referente ao
Nome do pai. Esse retrato da família na Europa é necessário para localizarmos um processo presente
na comunidade portuguesa, mas que foi influenciado a partir do século XV pela migração de
africanos do norte, semitas. Conforme Freyre (p.66) Hollanda (p.53), os portugueses eram
europeus mestiços, por isso conseguiram com tamanha facilidade colonizar os trópicos. Essa
mistura étnica marca a moral portuguesa que foi amolecida na instituições e na cultura de
dureza germânica, isso permite em sua empreitada colonizadora utilize da miscigenação para
aumentar a massa populacional em suas regiões de conquista.
No processo colonizador do Brasil transparece percorrendo as linhas de Freyre um
paralelismo entre o progresso de sentimento de família e a forma de colonização, visto que no
auge da consolidação deste sentimento na Europa em XVI, Portugal emprega no Brasil um
"domínio quase que exclusivo da família rural ou semirural (p.).
Como se estruturou culturalmente a família no Brasil? Como observamos antes a
moral portuguesa não era dotada da mesma rigidez dos europeus do norte, ainda contamos com
as matrizes culturais do negros africanos e dos indígenas nativos da terra. Dessa
constituição híbrida temos como elemento central e de dominação tanto do espaço público
quanto do privado a herança européia do poder patriarcal.
Essa figura central do pai na constituição familiar abordada por Roudinesco em A
família em desordem, no qual percorre as diversas transformações na figura do Pai como pivô
da inserção da lei na dinâmica psíquica do sujeito. A princípio o pai interditor era um
exercício divino quem herdasse de representante dos seus valores na terra. Pondo este fato em
paralelo as pinturas analisadas por Àries, temos que no período o qual dataremos anteriores ao
XIV retratos apenas dos homens em atividades públicas. Com o progressivo declínio do poder
dos monarcas a partir do século XIV, com os avanços do capital e o surgimento que disputaria
o poder legítimo com o rei. O pai interditor ficou ameaçado, por haver um enfraquecimento
de sua representação como encarregado da transmissão da Lei, visto que representassem tal
fornecedor da Lei. Nesta época temos o advento do sujeito moderno num fundo de angústia
fundado na falha simbólica inaugurada na figura do pai.
Para resgatar esse lugar simbólico que ancora toda constituição do sujeito a teoria
freudiana sobre o complexo de édipo tenta restabelecer a lei da diferença que simbolicamente
mantinham o modelo familiar das sociedade precedentes fortemente associado a figura de Deus
pai encarnado no homem que chefia o lar. O qual estava desaparecendo com a
progressiva irrupção do feminino. Assim delegou ao inconsciente o detentor do regimento da "lei
da diferença: diferença entre as gerações, entre o sexo, entre pais e
filhos"(ROUDINESCO, p33,) pela imago paterna identificado no objeto individuo humano.
No transcorrer da obra Roudinesco assinala como os pós freudianos foram acentuando
a importância simbólica das funções materna e paterna à manutenção da ordem social tal qual
a cultura a estruturou. Como em Lacan apontase a ênfase no lugar do significante como
estruturante do inconsciente tal qual a linguagem, e como as fases do complexo que se
significam num a posteriori da experiência de interdição do incesto pela figura que consagra
o Nomedopai. Ou em Winnicot se " restabelecia de fato um equilíbrio entre os dois pólos do
materno e do parte no ao assinalar que o pai é "necessário para
dar a mãe um apoio moral, para sustentála em sua autoridade, para ser a encarnação da lei da
ordem que a mãe introduz mágica da criança"" (apud ROUDINESCO, p.52)
início sua mediação dia relação pais e filhos. Mas é marcante que toda a discussão travada nos
textos são a respeito de lares desfeitos pelos divórcios, sobre crianças infratoras. Nenhum
deles transcorre sobre as relações jurídicas e os pais que usam de castigos corporais para correção.
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