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RIBEIRO; COSTA; SANTA ROSA (2014)

SOFTWARES PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA A RESPEITO DE PESQUISAS BRASILEIRAS

Iramara Lima Ribeiro


Doutoranda e Mestra em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), com Especialização em Vigilância Sanitária e graduação em Nutrição,
possui experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Educação, Formação e
Processo de Trabalho em Saúde. E-mail: iramararibeiro@hotmail.com
Iris do Céu Clara Costa
Pós-doutora em Psicologia Social pela Universidade Aberta de Lisboa, doutora em
Odontologia Preventiva e Social, Mestre em Odontologia Social, é Professora Associada
III da UFRN, atuando principalmente nos temas de Saúde Ocupacional, Processo de
Trabalho e Educação em Saúde. E-mail: iris_odontoufrn@yahoo.com.br
José Guilherme da Silva Santa Rosa
Doutor em Educação em Ciências e Saúde pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,
com mestrado em Design, especialização em Computação Gráfica e Multimídia e
graduação em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, é Professor Adjunto II da UFRN,
possui experiências nas áreas de Ergonomia Funcional, Usabilidade, Interação Humano
Computador e Programação Visual. E-mail: jguilhermesantarosa@gmail.com

RESUMO
A população brasileira vem enfrentando modificações nos padrões de morbimortalidade,
podendo as tecnologias auxiliar na organização dos serviços e prestação do cuidado. Esta
revisão integrativa teve por objetivo analisar as contribuições do desenvolvimento de
softwares no Brasil para a organização e a integração das ações e dos serviços de saúde.
Foram analisados 17 materiais entre 2008 e 2013, sendo a maioria dos autores do Sudeste
brasileiro, sinalizando uma quase hegemonia desta região. Quanto à finalidade principal,
47% destinava-se a organização dos serviços, 29,4% ao diagnóstico e 23,6% ao
monitoramento, prevenção e tratamento de doenças. Todos eles possuíam relação com a
vigilância em saúde e nenhum abordava a promoção da saúde. Os usuários finais eram em
maior parte profissionais da saúde (70,6%). Apesar de positiva a presença de softwares
para organização dos serviços e diagnóstico, a carência de estudos quanto ao
monitoramento, tratamento e prevenção de doenças, com ausência daqueles para a
promoção da saúde, evidencia uma valorização de estudos voltados para a doença quando
se poderia trabalhar também no sentido de evitar causas preveníveis. As proposições dos
softwares podem trazer benefícios, mas aponta-se a necessidade de ampliar as opções de
uso quanto à finalidade e aos usuários.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde, Software, Serviços de Saúde, Organização dos Serviços.

Revista Brasileira de Inovação Tecnológica em Saúde, On-Line, Desde 2010. 46


RIBEIRO; COSTA; SANTA ROSA (2014)

SOFTWARE FOR HEALTH SERVICES: NA INTEGRATIVE REVIEW


ABOUT BRAZILIAN RESEARCH

ABSTRACT
The Brazilian population is facing changes in patterns of morbidity and mortality, and
technologies may assist in the organization of services and healthcare. The aim of this
integrative review was to analyze the contributions of software development in Brazil for
the organization and integration of actions and health services. Seventeen materials were
analyzed between 2008 and 2013, with most authors of Southeastern Brazil, signaling an
almost hegemony of this region. Concerning the main purpose, 47% intended to
organization of services, 29.4% to diagnosis and 23.6% to monitoring, prevention and
treatment of diseases. They all possessed relation with health surveillance and neither of
them with health promotion. The mainly end users were health professionals (70.6%).
Despite the positive presence of software for organization of services and diagnosis, the
need for studies on the monitoring, treatment and prevention of diseases, with the absence
of those for health promotion, shows a valorization of studies on the disease when it could
work also in order to avoid preventable causes. The propositions of software can bring
benefits, but there are a need to expand the usage options as to the purpose and users.

KEY WORDS: Health, Software, Health Services, Organization of Services.

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RIBEIRO; COSTA; SANTA ROSA (2014)

SOFTWARES PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA A RESPEITO DE PESQUISAS BRASILEIRAS

INTRODUÇÃO
Os padrões de morbimortalidade vêm se modificando na população brasileira, estando
como principais causas de óbito e internamentos, as doenças crônico-degenerativas, os
acidentes e as diversas formas de violência, além de doenças como a cólera e o dengue
ressurgidas recentemente e a persistência de problemas como a desnutrição, cujo
tratamento envolve recursos tecnológicos, onerando o sistema de saúde (BARRETO E
CARMO, 2007).

Nesta perspectiva, o uso de novas tecnologias tem ganhado espaço na área da saúde,
estendendo-se desde a organização dos serviços até a prestação do cuidado e devendo para
tal, estar atrelado às dinâmicas de interação social. Percebe-se que os dias atuais estão
marcados pelo uso de instrumentos tecnológicos avançados que para além de serem
técnicos, prolongam as capacidades do corpo humano e destinam-se a aumentá-las na
relação do corpo com o mundo (SCHWONKE et al., 2011), destacando-se como
tecnologias no âmbito da atenção à saúde os medicamentos, equipamentos, procedimentos
técnicos, sistemas organizacionais, educacionais e de suporte, programas e protocolos
assistenciais (LORENZETTI et al., 2012). Além disso, um dos avanços tecnológicos que
vem tomando destaque no âmbito da saúde é o uso da informática mediante softwares.

As atividades de informática em saúde auxiliam os profissionais no processo de tomadas


de decisões e prestação do cuidado em saúde (SANTOS, 2012), além de possuírem o papel
de tornar as ações e situações da saúde populacional transparentes, a exemplo dos Sistemas
de Informações em Saúde. Desse modo, devem estar sintonizadas com a legislação que
rege o Sistema Único de Saúde.

Considerando que a informática apresenta-se como o instrumento a serviço da sociedade, o


objetivo deste artigo foi realizar uma revisão integrativa sobre as publicações relativas ao
desenvolvimento de softwares no Brasil na ótica das proposições do Decreto n° 7508 de 28
de junho de 2011 para a organização e a integração das ações e dos serviços de saúde,
segundo o qual deverá contemplar: a oferta de ações e serviços de vigilância em saúde,
promoção, proteção e recuperação da saúde em âmbito regional e inter-regional (BRASIL,
2011).

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa que segundo Mendes, Silveira e Galvão (2008), é um
método que permite uma compreensão ampla do tema de interesse porque admite a
inclusão simultânea de pesquisa experimental e quase-experimental e toma como base a
Prática Baseada em Evidências, de modo que mediante a análise crítica de estudos
relevantes, os seus resultados sejam utilizados na prática clínica. Ressalta-se que o método
adotado para esta revisão segue as etapas recomendadas por estes autores, partindo do tema
e da seguinte questão norteadora: As pesquisas brasileiras de desenvolvimento de
softwares na área da saúde têm enfocado as proposições do Decreto nº 7.508 quanto à
organização e a integração das ações e dos serviços de saúde? Na etapa seguinte foram
definidos os modos de seleção dos materiais.

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Como critérios de inclusão foram selecionadas publicações entre 2008 e 2013, nos idiomas
inglês, português e espanhol, tendo o Brasil como país de origem, relacionadas ao
desenvolvimento, validação e/ou teste de softwares, focados na área da saúde, excluindo-se
aquelas que abordassem softwares com finalidades educacionais para estudante e
profissionais da área da saúde, uma vez que o foco do nosso estudo é a prática nos serviços
(organização e integração das ações). As bases de dados para a busca de publicações
foram: MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS
(Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific
Electronic Library Online) e ACM Digital Library (Association for Computing Machinery
Digital Library), com coleta de dados entre os dias 01 e 03 de dezembro de 2013.

As palavras-chave e operadores boleanos que serviram de busca foram: Software and


(desenvolvimento or validação or teste) and saúde, ressaltando-se que sendo as bases
LILACS e MEDLINE da área da saúde, esta última palavra não foi utilizada no campo de
pesquisa.

Na terceira etapa foram definidas as informações a serem extraídas dos estudos


selecionados, a saber: a instituição da qual faziam parte os autores; a finalidade principal;
quem é o usuário e; a proposta do software. Seguiu-se uma quarta etapa de avaliação dos
estudos e quais as suas conclusões. Ressalta-se aqui que a nossa intenção não é de analisar
as adequações metodológicas dos estudos, interpretando resultados, e sim, na quinta etapa,
apontar em qual direção o desenvolvimento de softwares está caminhando. Ainda assim,
foi elaborada a tabela 1 em que o leitor poderá ter um panorama geral das publicações, a
partir de uma análise sintética dos apontamentos dos autores. Na sexta etapa apresenta-se a
revisão/síntese do conhecimento, conforme resultados e discussão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As palavras-chave remeteram a 155 resultados nas bases SciELO (68), ACM Library (47)
e LILACS (41), com ausência na MEDLINE. Após a leitura cuidadosa dos resumos,
considerando os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados cinco artigos de
periódico científico no SciELO, cinco resultados na ACM Digital Library (4 artigos de
anais de eventos científicos e 1 artigo de periódico científico) e nove artigos no LILACS,
totalizando 10 publicações constituidoras da amostra final desta revisão, cujos dados
principais estão disponíveis nas tabelas 1, 2 e 3. Caso o leitor deseje uma leitura detalhada
do material selecionado, encontrará as citações nas referências ao fim do artigo.

PERFIL DOS ESTUDOS SELECIONADOS

Relativo aos anos de publicação, 52,9% estava entre 2008 e 2010 e 47,1% entre 2011 e
2013.

Na Figura 1 pode ser visto que a maioria dos estudos (12) pertencia a autores vinculados a
instituições da região sudeste, sobretudo ao estado de São Paulo, seguida da região
Nordeste (4), Sul (2) e Centro Oeste (1). Nenhum estudo estava vinculado à região Norte.
Os valores ultrapassam 17, uma vez que em dois casos, para um mesmo estudo existiam
autores de unidades federativas diferentes (um estudo vinculado ao mesmo tempo aos
estados de São Paulo e Paraná e outro estudo ao de Pernambuco, São Paulo e Paraná).

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Quanto existia mais de um autor em um mesmo estudo para um mesmo estado, foi
contabilizado apenas o valor um.

Apesar do pequeno quantitativo de estudos analisados e da não realização de cálculos per


capita, os achados podem sinalizar a região sudeste, uma das mais favorecidas
socioeconomicamente no Brasil, como quase hegemônica quanto se trata de publicações a
respeito de softwares com foco na prática dos serviços e, por conseguinte, da construção
dos mesmos. Já a região Norte, de menor poder aquisitivo, apresentou-se com ausência de
autores no material selecionado, reproduzindo de certo modo, as desigualdades regionais
presentes no Brasil. Apesar de a região Nordeste apresentar-se com o valor quatro, é
preciso ressaltar que, de modo geral, são as capitais dessas regiões as que mais detêm o
acesso a bens e serviços de saúde em detrimentos das cidades interioranas.

Figura 1: Distribuição dos estudos, segundo unidade da federação a que os autores


estavam vinculados. Natal/RN, 2014.

RELAÇÃO COM A ORGANIZAÇÃO E A INTEGRAÇÃO DAS AÇÕES E DOS


SERVIÇOS

No que concerne à finalidade principal dos softwares nos estudos selecionados


(tabela 2), observa-se que a maioria destinava-se a organização dos serviços (47%, três dos
quais relacionados à melhoria da comunicação entre profissionais e profissionais-usuários,
quatro ao armazenamento de dados de pacientes e um ao dimensionamento de
profissionais, vide tabela 1 para detalhamento das propostas dos softwares). Em seguida

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houve destaque para a finalidade de diagnóstico (29,4%, quatro dos quais a respeito de
imagens de diagnóstico e um da análise da situação de saúde de trabalhadores mediante o
seu monitoramento). Contudo, houve pequeno percentual (23,6% na soma geral) no
tocante: ao monitoramento (Software de preenchimento autoadministrado sobre
alimentação por escolares; Sistema de vigilância da população de Aedes Aegypiti), à
prevenção de doenças (Jogo de entretenimento a respeito de educação em saúde, acoplado
a uma esteira ergométrica), e ao tratamento (Jogo com sessões de terapia familiar,
mediante perguntas e repostas).
Esclarece-se que a finalidade principal aqui citada diz respeito à finalidade última
do software explicitada pelos autores. Desse modo, um software com finalidade principal
de monitoramento, por exemplo, pode também está relacionado à organização.

TABELA 1: Material selecionado nas bases de dados consultadas. Natal/RN, 2014.


Continua...
N TÍTULO AUTOR (ES) ANO PROPOSTA
Protocolo eletrônico de coleta de
dados clínicos da microcirurgia OLIVEIRA, M. M.
1 2009 Criar base de dados clínicos.
endoscópica transanal (TEM): et al.
desenvolvimento e aplicação
Regulação médica em emergência Agilizar os encaminhamentos de
ADOLFI JÚNIOR,
2 pela plataforma web: um estudo 2010 pacientes, segundo gravidade de
M. S. et al.
piloto. caso.
Avaliação de um Serviço de Comunicação entre médicos e
DINIZ, J. R. B. et
3 Gerenciamento de Sessão para 2008 disponibilidade de prontuários
al.
Ambientes de Medicina Ubíqua. em qualquer hora e lugar.
Acessar o histórico médico do
Using Machine Learning Classifiers
paciente e inserir novas
to Assist Healthcare-Related POLLETTINI, J.T.
4 2012 informações, recomendando-se
Decisions: Classification of et al.
níveis de vigilância na prestação
Electronic Patient Records
do cuidado.
Dimensionamento informatizado de
Promover o dimensionamento de
profissionais de enfermagem: PEREIRA, I. M. et
5 2011 profissionais de instituições
avaliação de um software. al.
hospitalares.
Recuperar automaticamente os
dados de um sistema de
informações hospitalares pré-
Avaliação de relatório eletrônico de ZAMPER, R. P. C.
6 2010 existente (identificação,
anestesia. et al.
avaliação
pré-operatória e resultados de
exames laboratoriais).
Validação do prontuário eletrônico do
Melhorar a comunicação entre os
paciente em uma instituição de ensino BRAGA, R. D. et
7 2013 profissionais em ambientes
superior em saúde: relato da al.
hospitalares.
experiência no módulo Anamnese.
O papel da interação centrada ao ANDRADE, R.; Realizar o registro dos
8 usuário para suporte à colaboração em VIVACQUA, A. S.; 2012 prontuários em um sistema
uma unidade de emergência médica. GARCIA, A. C. B. eletrônico
Desenvolvimento e avaliação da
usabilidade de um recordatório de 24 Permitir o preenchimento
RUGGERI, B. F.
9 horas estruturado e computadorizado 2011 autoadministrado do
F.
para acompanhamento do consumo Recordatório por escolares.
alimentar de escolares.

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TABELA 1: Material selecionado nas bases de dados consultadas. Natal/RN, 2014.


Conclusão.
N TÍTULO AUTOR (ES) ANO PROPOSTA
An entomological surveillance system Estimar as populações de
REGIS, L. et al.
10 based on open spatial information for 2009 mosquitos a partir da contagem
participative dengue control de ovos de ovitrampas.
Praticante de atividade física
iFitPro: tecnologia interativa para a interagir com um jogo sobre
11 SILVA, A. G. et al. 2008
prática de atividades físicas alimentação em uma máquina
ergométrica.
A inovação tecnológica como
BAPTISTA, P. C.
ferramenta para monitoramento da Captar os agravos a partir da
12 P. et al. 2011
saúde dos trabalhadores de notificação do sistema.
enfermagem
Processamento de estruturas FLÓREZ Diminuir ruídos em imagens,
13 tridimensionais de Medicina Nuclear PACHECO, E.; 2013 por meio de filtros e ferramenta
na modalidade PET FURUIE, S. S. de segmentação.
Avaliação computacional de enfisema
Reunir ferramentas de
pulmonar em TC: comparação entre FELIX, J. H. S. et
14 2009 segmentação do parênquima
um sistema desenvolvido localmente e al.
pulmonar.
um sistema de uso livre.
Software livre e de código aberto para Viabilizar software de domínio
HADLICH, M. S.
15 avaliação de imagens de 2012 público para avaliação de
et al.
angiotomografia de coronárias. exames de angiotomografia.
Postural assessment software
FERREIRA, E. A. Auxiliar a avaliação da postura
16 (PAS/SAPO): validation and 2010
G. et al. a partir de fotos digitalizadas.
reliabiliy.
Uso de Senso Comum pelo Terapeuta ROSAS
Auxiliar sessões de terapia com
17 em Jogos Computacionais para VILLENA, J. M.; 2009
uso do senso comum
Promover a Aproximação da Família ANACLETO, J. C.

TABELA 2: Classificação dos achados segundo finalidade principal do software.


Natal/RN, 2014.
FINALIDADE N % RELAÇÃO DA SAÚDE COM O DECRETO Nº 7.508
2011 (Vigilância, Promoção, Proteção e Recuperação)
Organização dos serviços 8 47,0 Vigilância (controle)
Diagnóstico 5 29,4 Vigilância (controle)
Monitoramento 2 11,8 Proteção / Vigilância (prevenção)
Prevenção de doenças 1 5,9 Vigilância (controle)
Tratamento 1 5,9 Recuperação / Vigilância (proteção)
TOTAL 17

Em relação ao número maior de proposições de softwares relacionados à organização dos


serviços, sobretudo quanto ao armazenamento de dados de usuários, salienta-se a
importância da informação em saúde no o reconhecimento da situação de grupos sociais
específicos (DUARTE; TEDESCO; PARCIANELLO, 2012) para que sejam analisadas,
gerenciadas e tomadas decisões mais coerentes com as necessidades e capacidades dos
prestadores de cuidado (SANTOS et al., 2012) e com a tecnologia proporcionado a
agilidade necessária aos sistemas de saúde (OLIVEIRA, 2012).

Observa-se que tais softwares destinados à organização restringiam-se aos locais de


trabalho dos profissionais de saúde. Assim, na ausência de determinado profissional, o
acesso às informações dos usuários do serviço torna-se limitada, quando a tecnologia atual
pode favorecer a comunicação entre pessoas mesmo à distância. A literatura aponta que

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uma das desvantagens no uso de softwares é a ineficiência na troca de dados em qualquer


hora e em qualquer lugar (TORRES; CAMPOS, 2014). Nesta revisão, apenas um estudo
apresentava esta proposta.

A presença de software para fins de diagnóstico também foi vista positivamente,


considerando que este quando não realizado corretamente, culmina em risco a vida, além
de desperdícios de recursos nos serviços. A maioria era referente ao uso de software para
diagnóstico por imagem de boa qualidade, campo que tem avançado no Brasil e que
permite precisão em procedimento e qualidade em exames por imagens (SALES;
OLIVEIRA; SPIRANDELLI et al., 2012). Salienta-se, contudo que imagens por si só
correspondem a pouco, requerendo profissionais capacitados para a sua interpretação, além
de avaliação clínico-ambulatorial com escuta qualificada do usuário para elevar a precisão
do diagnóstico.

Foi visto de modo negativo um menor quantitativo de estudos de monitoramento,


prevenção e tratamento de doenças, além da ausência de qualquer um relativo à promoção
da saúde. Além disso, em nossa revisão houve apenas um estudo abordando a educação em
saúde (estudo 11, prevenção, tabela 1). Tal escassez corrobora a revisão de Santos et al.
(2012) para a área de fonoaudiologia em que houve ausência de estudos que utilizassem
softwares nas áreas educacional e de saúde coletiva. Os estudos 10 e 11 a prevenção de
doenças, sendo o de n° 10 voltado para a vigilância em saúde, inovando por criar um
software brasileiro de acesso livre para dados geoespaciais. De fato, Cavicchioli Neto et al.
(2014), ao discutirem sobre o uso de ferramentas computacionais em geoprocessamento
escrevem sobre a dificuldade de encontrar aquelas que levem em consideração as
dinâmicas sociais e os ecossistemas em doenças específicas, uma vez que os softwares
envolvem patentes e pessoal especializado.

Correlacionando-se a finalidade dos estudos com o decreto n°7.508/2011, positivamente,


todos apresentavam relação com a vigilância em saúde (tabela 1), caracterizada pelo o
artigo 2° da Portaria nº 1.378, de 09 de julho de 2013 (BRASIL, 2013, p.48) como um
“processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise e disseminação de dados
sobre eventos relacionados à saúde (...) para a proteção da saúde da população, a prevenção
e controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção da saúde”. Proteção
aqui entendida como controlar possíveis riscos à saúde presentes no modo como a
sociedade se organiza (BARBOSA; COSTA, 2010). Portanto, este conceito de vigilância
engloba claramente a organização e a integração das ações e dos serviços de saúde
presentes no Decreto, isto é, os softwares nos materiais analisados abordando a vigilância
poderiam englobar também a promoção e proteção da saúde, além da recuperação,
encontrada em um estudo.

Porém, apesar dos estudos contemplarem a vigilância em saúde, houve ausência de


softwares de promoção da saúde, o que pode ser compreendido quanto analisamos a quem
os mesmos se destinam. Quanto aos usuários finais dos softwares (tabela 3), sete estudos
destinavam-se aos profissionais da saúde, dois a populações-chave (escolares e praticantes
de atividade física), um ao público em geral, um a profissionais e graduandos e outro a
profissionais e usuários do serviço. Cinco estudos não explicitavam claramente nos estudos
quem seriam os usuários, contudo na leitura dos mesmos fica compreendido que o uso era
para profissionais. Portanto, percebe-se a “massividade” dos estudos quanto a destinar
softwares aos profissionais (12 - 70,6%), em uma quase supressão da população em geral.

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Tal achado é atribuído ao fato da escassez nos trabalhos analisados de softwares nos quais
os usuários dos serviços de saúde possam participar como atores principais (prevenção e
tratamento), com ausência daqueles destinados à promoção da saúde. Softwares que
trabalham nesta perspectiva se encaminham para o cuidado centrado no usuário, modelo
que segundo Martins et al. (2011) requer a adoção de meios para que o cidadão possa se
expressar e transformar a realidade por ele vivida, onde ambos, sociedade e Estado
apresentam deveres e direitos, sendo a falta de participação da população atribuída não
somente à falta de infraestrutura e recursos, mas também à uma falta de cultura cívica de
participação e ausência de interesse político para tal.

TABELA 3: Classificação dos estudos segundo usuário final do software. Natal/RN,


2014.
USUÁRIO N %
Profissionais da saúde 7 41,2
Sem identificação explícita do usuário 5 29,4
Populações-chave 2 11,8
Profissionais e graduandos 1 5,9
Profissionais e usuários dos serviços 1 5,9
Qualquer pessoa 1 5,9
TOTAL 17

Ressalta-se o ponto de vista de Honorato (2014) de que as áreas transdisciplinares


costumam entender o universo virtual como meio de acesso ou contato com os sujeitos e
não como campo de interação com estes, quando a integração entre saúde pública com a
cibercultura deveria ser uma via de aplicação de interagir apara promover políticas
públicas, intervenções e pesquisas em saúde pública.

CONCLUSÕES

Nos estudos analisados foi visto um direcionamento de publicações voltadas à construção,


validação ou teste de softwares para a região Sudeste, sobretudo para o estado de São
Paulo. Tal achado pode indicar concentração do uso de tecnologias computacionais para tal
região quando o ideal seria a disponibilidade das mesmas em todas as regiões do Brasil.

Nas publicações analisadas, a maior parte dos softwares se encaminhava para conduzir a
organização dos serviços e facilitar ou aperfeiçoar o diagnóstico de doenças. Considerando
o potencial dos recursos computacionais quanto à possibilidade da projeção de softwares
destinados a variados objetivos, esta revisão encontrou carência de estudos quando se
tratava do monitoramento da situação de saúde/doença, ao tratamento e a prevenção de
doenças.

A ausência de softwares para a promoção da saúde aqui encontrada segue um antigo


“gargalo” nos serviços de saúde, onde as ações de promoção que poderiam evitar ou
diminuir as estatísticas de acometimento de doenças são pouco vislumbradas no meio
acadêmico, culminando em uma valorização de estudos voltados para a doença os quais
possuem grande valor, mas que necessitam estarem atrelados a práticas que evitem a
superlotação dos serviços por causas preveníveis a exemplo de boa parte das doenças
crônico-degenerativas que afligem a população mundial contemporânea.

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Os estudos relacionam-se às especificações analisadas do Decreto n° 7508/2011, sobretudo


no que tange à vigilância em saúde, demonstrando sintonia com a legislação vigente no
Brasil, com foco nos profissionais como usuários finais. A escassez encontrada de foco na
população geral como usuária distancia-se da perspectiva da coparticipação desta no
cuidado e nas ações voltadas para a sua saúde, em uma posição de passividade no uso de
softwares.

Conclui-se que as proposições dos softwares podem trazer benefícios para a organização e
integração das ações e dos serviços de saúde. Contudo, considerando as variadas
possibilidades de uso que a tecnologia pode proporcionar, os estudos analisados apontam a
necessidade de ampliar o leque de opções quanto a finalidade e aos usuários.

Apesar do pequeno número de estudos analisados, esta revisão pode contribuir para que
pesquisadores da área cogitem novas vias de destino para os softwares na área da saúde.

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Revista Brasileira de Inovação Tecnológica em Saúde, On-Line, Desde 2010. 56

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