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CULTURA RELIGIOSA
Introdução
A disciplina “Cultura Religiosa” apresenta o conteúdo das diversas
tradições religiosas a partir de um olhar cauteloso e crítico, incentivando
reflexões que possam ajudar na compreensão da estruturação das religiões.
Problematização
Percebe-se que a diversidade religiosa não é algo novo no Brasil. Existem
pessoas de tradições diferentes e, atualmente na sala de aula, observamos
alunos provenientes de uma tradição específica mantendo alguns hábitos,
costumes e práticas de sua religião. Isso, muitas vezes, pode criar certo
constrangimento entre os alunos.
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Fonte: <http://www.antropofocus.com.br/blog/jairo/tag/muculmana/>
Fonte: <http://saudenegra.blogspot.com.br/2010_01_01_archive.html>
Fonte: <http://harekrishnacaruaru.webnode.com.br/o-que-e-o-movimento-
hare-krishna/>
Fonte: <http://prlinaldojunior.blogspot.com.br/2010/09/o-deserto-tem-
provisao-de-deus.html>
A tradição Tamil, uma das mais antigas da Índia, contempla esse processo das
relações humanas com o meio ambiente, que poderá ser o ponto de partida para
nossa abordagem. De acordo com essa tradição, toda a Terra encontrava-se
dividida em cinco regiões: montanha, floresta, campos férteis, costa e deserto
árido. Cada tipo de terreno sustentava fauna e flora características, assim como
modos de vida e de sobrevivência próprios.
A terra fértil, por outro lado, oferece plena abundância de vegetação, água
e comida. A tendência é de fixação geográfica e os seres humanos possuem
mais tranquilidade e paz. A vegetação permanente e a produção agrícola
possibilitaram a construção de um universo religioso em que o divino é
concebido como imanente e próximo, exigindo dos homens uma relação
harmônica. O tempo é cíclico, o Sol é masculino e a Lua é feminina. A morte não
é definitiva, pois o retorno é possibilitado pela crença na reencarnação – a
abundância da terra atrai o retorno.
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O modo de sobrevivência nas regiões montanhosas dependia dos rebanhos (gado
ou ovelhas) nas estepes e/ou do cultivo de algumas árvores frutíferas. Essas
regiões privilegiam o aspecto romântico nas relações humanas – o Sol e a Lua,
brilhando soberanos e ocultando-se entre as montanhas, assemelham-se aos
amantes em jogos eróticos.
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Sugiro que você visite diversos tipos de regiões geográficas, como terra fértil,
deserto, montanhas, floresta e litoral. Essas visitas podem ser realizadas por meio
de alguns livros de Geografia, História ou através dos diversos sites sobre o
assunto. Ao observar essas regiões, reflita sobre como é a geografia dos lugares
que deram origem às diversas tradições religiosas.
A experiência da solidão
Uma das primeiras percepções da condição humana é a da solidão.
Nascemos sozinhos, crescemos na multidão (e, ainda assim, sozinhos),
adoecemos, envelhecemos e morremos sozinhos. Como nos lembra o Budismo,
ninguém pode substituir a doença, a velhice e a morte de cada um. Citando a
obra “The politics of experience” de R. D. Laing (1967), Kapferer afirma que:
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indivíduos vivenciam sua experiência pessoal e ela é refletida na cultura. Desse
modo, paradoxalmente, percebe-se que:
Fonte: <http://fmlima.blogspot.com.br/2010/07/solidao-e-solitarios.html>
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A experiência da dualidade ou do conflito
O ser humano não é uma ilha. Para que haja uma convivência harmônica
entre os seres humanos são estabelecidas regras, que podem ser de dois tipos:
sociais ou individuais. As regras sociais são baseadas nos conceitos de
obrigações e proibições. O surgimento da dualidade ou conflito está ligado à
quebra dessas regras, sejam individuais ou coletivas.
Fonte: <http://portuguesbrasileiro.istockphoto.com/stock-photo-3098073-
sullen-couple-sitting-on-couch.php>
Essa dualidade também pode ser vista na análise proposta por Hertz no
início do século XX (1909), quando ele investigou as diferentes características
dos lados direito e esquerdo do cérebro e seu significado nas diversas culturas.
O argumento de Hertz era de que os lados direito e esquerdo poderiam ser
associados de forma consistente com o sagrado e o profano. A preeminência da
mão direita indica que ela é usada para os ritos e as execuções das tarefas
puras. As tarefas impuras são deixadas para a mão esquerda, que também é
associada aos atos de lidar com os demônios, feitiçaria e magia. Nas religiões
afro-brasileiras, por exemplo, as entidades de caráter moral ambíguo,
superficialmente associadas ao mal, são chamadas “da esquerda”.
Essa busca dos meios apropriados indica que o indivíduo está pronto
para iniciar um processo de reparação para estabelecer a paz e harmonizar-se
com a experiência da dualidade. Esse conflito experimentado constantemente na
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vida cotidiana é visto como o principal bloqueio para se chegar a uma união com
o divino. O Hinduísmo enfatiza que a dualidade é resultado de maya, a
ignorância, e pode ser superada com o conhecimento correto ou o serviço
devocional; o Taoísmo ensina que o conflito surge devido à falta de equilíbrio
entre os elementos opostos (Yin e Yang). O Budismo, por sua vez, aponta o
desejo como causador do conflito; o Islã, a infidelidade.
Leia o poema “Solidão”, de Fátima Irene Pinto, para refletir sobre a condição
humana. Disponível em:
<http://pensador.uol.com.br/frase/MTcxNjU1/>
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A existência do nômade nessa região é penosa e solitária e está
severamente subordinada ao destino. Portanto, procura incessantemente a
proteção do Divino que se encontra no céu azul e se estende sobre ele para
poder enfrentar o terrível deserto que está aos seus pés.
Nesse caso, alguém tem que falar e outro tem que ouvir. Falar e ouvir – a
intersubjetividade –, aliás, são coisas de grande valor em um meio no qual os
indivíduos possuem poucos vizinhos e um grande número de inimigos em
potencial.
Reencarnação e ressurreição
Outro elemento importante, quando se fala sobre semelhanças, se refere
aos conceitos de ressurreição e reencarnação. O deserto promove o medo do
desconhecido e o sofrimento diário no processo de transumância. O
desenvolvimento da ideia de três arcanjos, Gabriel, Miguel e Rafael, aparece no
contexto desértico. O anjo Gabriel oferece a consolação, dando as boas notícias
e elaborando a esperança de vida; o anjo Miguel oferece a proteção perante o
inimigo encontrado nos deslocamentos; e o anjo Rafael é símbolo da cura.
Aparentemente, Rafael era um “Elemental”, ou divindade primitiva associada aos
cactos, planta típica do deserto no qual se encontram as serpentes venenosas e
as picadas eram comuns. O remédio imediato para essas picadas era seccionar
o cacto e aplicar o suco no lugar afetado. Esse ser, mais tarde, foi anexado ao
panteão dos anjos protetores.
Entreviste seus familiares e amigos para saber quais são as suas crenças sobre a
vida após a morte.
A base da religião sobre a qual ela chama Deus não é a mesma. O nome
de Deus talvez seja, com frequência, indicativo da região linguística em que a
religião se originou. Mas o nome não aponta a natureza atribuída a Deus, a
finalidade da salvação que se vislumbra e o caminho proposto para que se atinja
a finalidade. É esse o material normal da religião.
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religião. É o caso, por exemplo, dos nomes Rama e Krishna. Não são simples
nomes e evocam uma história.
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As religiões são encaradas como sendo paralelas umas às outras. É uma
visão que também pode estar baseada em perspectivas antropológicas.
Cada grupo cultural possui sua religião. Os mitos e rituais talvez possam
variar de cultura para cultura, mas preenchem a mesma função em todas elas.
Eis uma visão atraente. As religiões são caminhos paralelos. Uma não deve
interferir na outra. Cada uma tem que crescer e desenvolver-se de modo próprio.
Uma religião não julga a outra. Todas são tolerantes. O sincretismo é evitado.
Todavia, essa visão não é satisfatória. Ela não é verdadeira em relação à
história, na qual podemos encontrar diálogos religiosos sinceros, benefícios e
influências mútuas.
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1. Tendo em vista a abordagem da geografia e sua influência na
construção do conteúdo religioso, analise as alternativas a seguir e assinale
a correta:
b) A região geográfica não tem nenhuma relação com a vida humana, pois
a geografia é uma coisa e a religião é outra.
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REFERÊNCIAS
AMALADOSS, M. Rumo à plenitude: em busca de uma espiritualidade
integral. São Paulo: Edições Loyola, 1997.
ECK, D. Darsan: seeing the divine image in India. New York: Columbia
University Press, 1985.
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