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HISTÓRIA DO ESTADO DE

RONDÔNIA
APOSTILAS OPÇÃO

portugueses para oeste, para assegurar a exploração das


riquezas ocultas da floresta. Para tanto, foi organizada uma
grande expedição, decisiva para a conquista portuguesa da
Amazônia. Coube ao capitão Pedro Teixeira, em 1637, o
comando da expedição composta por cerca de duas mil
pessoas, sendo a grande maioria índios. Apesar das
dificuldades enfrentadas, ela conseguiu estabelecer marcos de
ocupação territorial portuguesa ao longo do rio. Além da
proteção contra outros europeus, os fortes também serviam
1. As bases da ocupação colonial para estabelecer núcleos de povoamento a partir dos quais
da Amazônia; 2. As políticas do pudesse ser estabelecida a colonização. Na Amazônia, os
principais recursos explorados pelos portugueses foram a
Estado português para as regiões mão-de-obra indígena e as drogas do sertão, especiarias de
dos vales do Guaporé e Madeira; alto preço no mercado europeu.
3. A questão das fronteiras entre
Escravidão Indígena
América Portuguesa e o império De uma área com uma multiplicidade de povos ameríndios
hispânico e a criação da Capitania que seguiam seu desenvolvimento próprio, a Amazônia havia
de Mato Grosso; 4. A economia se tornado, em menos de dois séculos, território anexo ao
reino português. Além de serem capturados pelos soldados
colonial nos vales do Guaporé e portugueses, os índios amazônicos passaram a sofrer a ação
Madeira: mineração, drogas do dos missionários de diversas ordens religiosas que se
sertão, o escravismo, o dedicavam a convertê-los à fé cristã – boa parte da ação
jesuítica dizia respeito à produção de riquezas com o emprego
contrabando e as rotas fluviais; da mão-de-obra indígena. Os diversos povos amazônicos
resistiram o quanto puderam, mas a “avalanche” europeia
trazia muitíssimas armas desconhecidas. Os europeus
Colonização da Amazônia 1 trouxeram doenças contra as quais os índios não possuíam
resistência. Sarampo, gripe, tuberculose e outras
Chegada dos Europeus: primeiras explorações: A enfermidades rapidamente se alastraram entre os grupos
terceira fase2 da ocupação humana da Amazônia corresponde indígenas da região, dizimando aldeias inteiras diante de pajés
ao povoamento europeu da região. O lendário e mítico, rico que não sabiam como curar aquelas moléstias desconhecidas.
reino do Eldorado. Inicialmente, as duas superpotências da Logo de início ficou claro que nem mesmo toda a
época, Portugal e Espanha, obedeciam à divisão territorial tecnologia europeia seria capaz de superar as dificuldades
estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, com as bênçãos da apresentadas pelo povoamento da Amazônia. As enormes
Igreja Católica. Por esse acordo, grande parte do que hoje distâncias, a selva impenetrável, perigos de diferentes
conhecemos como Amazônia brasileira pertencia aos naturezas perturbavam quem quer que tivesse coragem de ali
espanhóis. Somente no final da primeira metade do século XVI, entrar. As doenças da selva ganhavam fama, as condições
no entanto, os espanhóis deram início ao reconhecimento da climáticas se revelavam extremas para os europeus e o imenso
região. A primeira expedição europeia ao grande rio que corta esforço necessário para a extração das riquezas ocultas na
a região foi realizada entre 1540 e 1542 pelo destemido floresta tornaram a Amazônia um lugar indomável,
navegador espanhol Francisco de Orellana. O escrivão dessa indecifrável, impiedosamente selvagem no imaginário do
expedição, Gaspar de Carvajal, fez os primeiros registros colonizador. Um “inferno verde”. Passou a predominar por
escritos sobre a floresta amazônica e sua diversidade de toda a Amazônia o uso de uma língua geral, de origem Tupi,
ambientes e culturas. Apesar de seu caráter pioneiro, a que auxiliava na incorporação dos índios à empresa colonial. A
expedição de Orellana não deixou outros frutos que fossem mestiçagem foi estimulada dando origem à população cabocla,
duradouros. A região voltou a pertencer exclusivamente aos tão marcante nas terras amazônicas. Calcula-se que, em 1740,
cerca de 5 milhões de índios (segundo uma das estimativas havia cerca de 50 mil índios vivendo em aldeias formadas por
existentes) que ali habitavam e que também haviam sido jesuítas e franciscanos. O inevitável resultado do processo de
motivo da admiração nos relatos de Carvajal, tal sua escravidão, imposto pelo colonizador ou por meio da ação dos
quantidade e organização. Muitas décadas se passariam antes jesuítas, foi a redução maciça da população indígena
que novas investidas à região fossem realizadas. amazônica.

Colonização Portuguesa: Apesar de os espanhóis terem Os Africanos: Pela dificuldade de aprisionamento e pela
seus direitos garantidos pelo Tratado de Tordesilhas, não se vulnerabilidade às doenças, os índios não se adaptavam a
interessaram por povoar a Amazônia. Por sua vez, os muitas atividades econômicas necessárias ao colonialismo. A
portugueses não vacilaram em tomar a iniciativa de seu efetivo partir da segunda metade do século XVIII, assim como em
controle. A Amazônia já começava a sofrer ameaças de invasão outras regiões da colônia, a carência da mão-de-obra foi
de ingleses, franceses e holandeses. A expulsão dos franceses suprida, ou pelo menos amenizada, com a chegada dos negros
do Maranhão, que ali tentaram estabelecer a França Equinocial trazidos da África na condição de escravos. No Baixo
alertou os portugueses para a importância da defesa da região. Amazonas, os negros foram empregados nas construções, cada
Assim, coube a Francisco Caldeira Castelo Branco fundar, em vez mais numerosas, nas plantações de cacau, na agricultura
1616, na foz do rio Amazonas, o Forte do Presépio que, além de subsistência e na pecuária. Mas também, como no Nordeste,
de proteger possíveis invasões estrangeiras por via fluvial, deu o negro incorporou-se ao ambiente das casas senhoriais e nas
origem à atual cidade de Belém e serviu como base para o atividades domésticas. Poucos subiam o Amazonas. A
povoamento da Amazônia. Era necessário alargar os domínios colonização portuguesa que os transportava ainda se
concentrava nas proximidades da foz do rio. Assim, a presença

1 Texto adaptado de “História da Ocupação da Amazônia” 2“Terceira fase” pois entende-se que as primeiras fases foram representadas por
grupos nômades e posteriormente tribos sedentárias milhares de anos atrás.
Ambos não são pedidos no edital.

História do Estado de Rondônia 1


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dos negros na população amazônica ficou concentrada no Pará somente após o final do século XIX a região recebeu atenção
e no Amapá. Os escravos negros que conseguiam fugir se externa com o ciclo da borracha. Em 1943 foi constituído o
embrenhavam pela floresta e criavam pequenas comunidades então território de Guaporé na região e já nas décadas de 1960
conhecidas como quilombos. incentivos fiscais do governo federal aceleram a migração
aumentando em até oito vezes a população local.
Amazônia Portuguesa No final do século XVI, europeus de origem holandesa,
O estabelecimento do Tratado de Madri e o início da inglesa e francesa navegaram pelos rios da Amazônia,
administração de Marquês de Pombal em Portugal, ambos tentando fixar núcleos de povoamento e colonização. Em 1559,
ocorridos em 1750, marcaram uma nova fase na qual a os holandeses estabeleceram fortificações no encontro das
Amazônia brasileira foi, em linhas gerais, definida. Vale águas do Xingu com o Amazonas. Os fortes de Orange e Nassau
lembrar que, nessa época, o conhecimento que se possuía do serviam de base para o contato e comércio com indígenas, bem
interior do continente americano ainda era muito impreciso. O como para que se desse início de plantio de cana-de-açúcar e
Mapa das Cortes, elaborado a pedido do rei de Portugal, serviu tabaco. Em 1610, o inglês Thomas Roe fundou núcleos de
de base para as negociações do Tratado de Madri e possuía colonização próximos à foz do Amazonas. Por volta de 1620, já
forte distorção do curso dos rios que cortam as terras a oeste se encontravam núcleos holandeses na ilha de Porcos, ingleses
do Brasil. Essas distorções eram propositais, puxando o entre os rios Jari e Paru, holandeses nos rios Gurupá e Xingu e
traçado dos rios para leste, diminuindo artificialmente a área franceses no Maranhão. Tal situação motivou a intervenção
pretendida pelos portugueses – e cumpriram perfeitamente o dos portugueses que, entre 1612-1615, lutaram contra a
objetivo de desorientar os negociadores espanhóis. Não menos presença francesa no Maranhão.
importante do que o Tratado de Madri para a inauguração de Vitorioso sobre os franceses, Francisco Caldeira Castelo de
uma nova fase da história amazônica foi a administração Branco (em 1619) fundou, na baía de Guajará, em 12 de janeiro
empreendida pelo Marquês de Pombal. Tão logo subiu ao de 1616, o forte do Presépio, a partir do qual surgiu a cidade
poder, ainda em 1750, Pombal pretendia tirar Portugal da de Sant Maria de Belém do Grão-Pará. Portugal, então sob o
situação de atraso que experimentava frente às demais domínio da União Ibérica (1580-1640), atuou decisivamente
potências europeias e da dependência da Inglaterra, país do na expulsão dos demais europeus do vale do Amazonas,
qual recebia proteção contra a França e a Espanha. cabendo especial destaque a atuação de Pedro Teixeira, que
Pombal criou a Companhia Geral do Comércio do Grão- consolidou a presença portuguesa na região. A partir de uma
Pará e Maranhão que deveria oferecer preços atraentes para busca tão áspera, mas com obstinada fixação na ideia de
as mercadorias ali produzidas a serem consumidas na Europa, grandes tesouros, as metrópoles ibéricas, agora unidas sob a
tais como cacau, canela, cravo, algodão e arroz. Começou dominação da Espanha, iniciam um grande esforço para
também a introduzir na Amazônia a mão-de-obra escrava de manter a integridade de suas posses territoriais. As ameaças
origem africana. Em 1759, Pombal determinou a expulsão dos estrangeiras constituíram-se em importante motivo para que
jesuítas de Portugal e seus domínios, com o confisco de todos se ampliassem os esforços colonizadores. No entanto, a
os seus bens. Os missionários, e em especial a Companhia de Espanha estava por demais envolvida com as colônias andinas,
Jesus, eram acusados de tentar criar um estado próprio dentro platinas e mexicanas. Caberia ao Estado Português a tarefa de
do reino português. Pombal pretendia também consolidar o resguardar, em benefício da União Ibérica, o vale do Amazonas.
domínio português nas fronteiras do Norte e do Sul do Brasil Pelo Tratado de Tordesilhas quase todo o conjunto da atual
através da integração dos índios à civilização portuguesa. Essa região norte do Brasil ficava sob o domínio espanhol. No
jogada política garantiria o aumento das terras portuguesas de entanto, a partir de meados do século XVII, os portugueses
acordo com o Tratado de Madri. Por isso, proibiu a escravidão fixaram aí sua presença.
indígena, transformou aldeias amazônicas em vilas sob Com a criação do Estado do Maranhão e Grão-Pará em
administração civil e implantou uma legislação que estimulava 1624 pelo rei Felipe IV (1605-1665), monarca da Espanha
o casamento entre brancos e índios. Consolidava-se assim a entre 1621 e 1665 que governou também Portugal entre 1621
presença portuguesa no imenso território que hoje constitui o e 1640 durante o período da União Ibérica, foram lançadas as
Brasil. bases da conquista e povoamento da costa e do extremo norte
pelos luso-brasileiros. Tendo em vista o aprofundamento da
Amazônia Brasileira ocupação, a Coroa constitui algumas capitanias na região como
Na metade do século XIX, findo o período das “drogas do Cametá, Gurupará e Cabo do Norte. Em léguas de terras e
sertão” e iniciada uma ocupação mais sistemática da costas, contava-se, por volta de 1637, a presença de 1400 a
Amazônia, temos uma nova base cultural estabelecida. A 1500 homens brancos na região. Em seu relato (Novo
fronteira do território da Amazônia brasileira permaneceria descobrimento do grande rio Amazonas), o padre Cristóbal
móvel até o início do século XX, quando os contornos políticos Acuña (1597-1675), cronista da viagem de Pedro Teixeira, fala
do Brasil seriam definidos com a conquista dos territórios do dos grandes núcleos de colonizadores existentes na região:
Amapá e de Roraima, ao Norte, e do Acre, no extremo Oeste. Belém, onde existia um grande castelo para sua defesa;
Estes extremos, especialmente as regiões dos altos rios, na Cametá: decadente e que em décadas passadas fora famosa por
parte mais ocidental da floresta, permaneciam como área de seus muitos moradores; Curupatuba e o forte do Desterro
refúgio dos primeiros habitantes, os povos indígenas mais localizado na foz do rio Genipapo, com 30 soldados e algumas
arredios que não foram incorporados aos empreendimentos peças de artilharia.
colonialistas, nem de Portugal nem da Espanha. Esta Amazônia A necessidade de imprimir à Amazonas os símbolos da
profunda retinha suas riquezas em segredo e realimentava o colonização ibérica possibilitaram a expedição de Pedro
mito do “inferno verde”. Teixeira. As autoridades hispânicas em Quito e Lima, no
entanto, não se sentiam tranquilas com essa aventura
Tratados e acordos portuguesa por uma tão vasta e rica região até então
A colonização em Rondônia foi um processo iniciado no unicamente reservada à Espanha. A frágil aliança entre as duas
século XVII, no qual colonizadores portugueses e espanhóis potências estava próxima de seu fim. Mesmo com a União
percorreram a região pelo rio Madeira e Rio Guaporé. Ibérica, Portugal e Espanha mantiveram-se sempre como
Expedições seguintes de Raposo Tavares em 1647 e Francisco nações distintas. Nesse momento (1638), embora pelo Tratado
Melo Palheta 1722 ajudaram a consolidar o até em tão de Tordesilhas a Amazônia fosse espanhola, os portugueses
território português. Outras missões subsequentes tinham o expulsaram os estrangeiros que haviam se instalado com
objetivo de localizar ouro, mas não obtiveram sucesso e sucesso em terras coloniais espanholas. Os relatos, tanto dos

História do Estado de Rondônia 2


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cronistas Rojas e Acuña, quanto os do próprio Pedro Teixeira coloniais, que só se desenvolvem no final do século XIX com o
deixaram clara a necessidade de se iniciar imediatamente o surto da exploração da borracha.
aproveitamento colonial da região, inserindo-a no contexto de
uma economia mercantilista, uma vez que suas terras eram Colonização do Vale do Guaporé3
férteis, ricas em recursos minerais, caça, pesca e estavam Ainda no século XVI representantes da coroa portuguesa
densamente povoadas por indígenas que, a partir de um se aventuraram pelas brenhas amazônicas, tendo, passado
trabalho missionário, poderiam vir a ser eficientes vassalos de pelos vales do Madeira-Guaporé-Mamoré. Na realidade se
Sua Majestade. pensava em utilizar essa região como ponte de passagem e
Estabelecidos os marcos da posse portuguesa no ligação entre as colônias do Sul e as do extremo Norte. Uma
Amazonas por Pedro Teixeira, a exploração e ocupação ligação extremamente arriscada e difícil de ser realizada.
continuou pelos séculos XVII e XVIII, cabendo aos missionários Um dos primeiros passos de Portugal para assegurar sua
jesuítas, mercedários, carmelitas e franciscanos a função de posse sobre a região do Guaporé foi a ocupação desses vales,
catequese, pacificação e fixação do indígena em aldeamento. A de onde extraia ouro e as drogas do sertão. Essa ocupação se
atuação dessas ordens e congregações religiosas foi regida deu pela ação dos bandeirantes que, ao mesmo tempo,
pelo Regimento das Missões, datado de 1686. Esse explorava e ocupava. Além disso, a ocupação se realizou pela
instrumento jurídico buscava estabelecer as bases de uma presença militar o que pode ser comprovado pelas inúmeras
atuação catequética harmonizada com o processo colonizador, construções fortificadas.
fixando o caráter interdependente das duas atuações. Era necessária, entretanto uma ocupação estável, para
Reinando em Portugal Dom Pedro II (1667-1706), a atuação assegurar a posse. Somente as expedições aprisionando
dos missionários foi extremamente favorecida. indígenas e colhendo as drogas do sertão não assegurava a
Pela Carta Régia de 19 de março de 1693, o território da presença colonizadora e definitiva. Ale disso, não cessava a
Amazônia foi dividido entre as diversas instituições religiosas constância dos conflitos, tanto com os índios como com os
que atuavam na região. Coube aos jesuítas a catequese no castelhanos, que também estavam ocupando a região de oeste
distrito sul do rio Amazonas até os limites com as colônias para leste.
espanholas, incluindo-se o Vale do Guaporé; ainda atuariam no Foi com vistas nessa presença constante que, ainda antes
vale do rio Negro e em todo o trecho entre o Urubu e o Negro. da assinatura do Tratado de Madri, d. Antônio Rolim de Moura
Essas determinações foram alteradas pela Carta Régia de 29 recebeu a incumbência de povoar a região do Guaporé. Nessa
de novembro de 1694, que reformava a anterior e estabelecia ocasião foi criada a capitania de Mato Grosso e Rolim de Moura
como área de catequese dos carmelitas o rio Negro, coordenou a estruturação da capital daquela província, às
entregando o Urubu aos mercedários e a margem esquerda do margens do Guaporé. E cidade, Vila Bela da Santíssima
Amazonas até o Urubu aos religiosos da Piedade e de Santo Trindade, além de assegurar a presença portuguesa, seria um
Antônio. ponto de coleta de impostos sobre a mineração.
Os primeiros colonizadores portugueses começam a Em 1734, quando da descoberta de ouro nas proximidades
percorrer o atual estado de Rondônia no século XVII. Na região do Guaporé a produção do Mato Grosso já estava em declínio.
da foz do Rio Amazonas havia intensa atuação de Para melhor explorar os novos locais o governo da capitania
contrabandistas, holandeses, ingleses e franceses, que de São Paulo promoveu uma "guerra justa" conta os índios a
tentavam fundar núcleos de colonização. Na ocasião, os fim de conseguir escravos para a mineração. Essa empreitada,
portugueses viram nas especiarias amazônicas – denominadas como outras tantas, dizimou alguns grupos indígenas.
drogas do sertão -, como cravo, canela, castanha-do-pará, Vale a pena destacar que nessa época a tecnologia de
cacau, urucum, plantas medicinais e outras, um meio de mineração era muito rudimentar o que fazia cada faisqueira ou
compensar as perdas no comércio com as Índias. Por isso, lavra possuir uma vida útil muito curta, o que, por sua vez,
resolveram colonizar a região. A primeira expedição a explorar provocava um processo migratório constante, em busca de
a região dos rios Guaporé, Mamoré e Madeira foi a comandada novos veios auríferos. Também é preciso destacar que os
por Antônio Raposo Tavares, que partiu de são Paulo em 1647. trabalhos nas lavras e faisqueiras era extremamente insalubre.
A expedição comandada por Francisco de Melo Palheta partiu Mesmo assim os "campos d'oro" como era conhecido o vale do
de Belém, no Pará, em 1723, com a intenção de marcar Guaporé sobreviveu, em virtude da abundância de minério;
presença na região do Mamoré e Guaporé, chegando às mas não prosperou, pois a abundância era aparente. Não se
missões jesuítas espanholas, às quais alertou que não ergueram cidades ao redor da febre do ouro guaporeano. E a
ultrapassassem os rios Guaporé e Mamoré. febre passou logo. Entretanto no final do século XVII o vale do
Após a viagem de Francisco Palheta à região guaporeana, o Guaporé foi sendo abandonado: pelos mineradores que
vice-rei do Peru forneceu armas de fogo aos índios mojos. procuravam regiões mais ricas, pela falta de investimento,
Indígenas das províncias de Mojos e Chiquitos desciam até as visto ser improdutiva e também pelos governadores Gerais
margens do Rio Madeira em busca de cacau e drogas do sertão. que passavam a maior parte de seu tempo em Cuiabá. No vale
Por volta de 1728, o padre Jesuíta João Sampaio funda nas permaneciam apenas os negros libertos, entregues à própria
proximidades da primeira cachoeira do Madeira a aldeia de sorte. E com isso estava sendo decretada a sorte da região: o
Santo Antônio. Ainda no início do século XVIII, os jesuítas abandono.
espanhóis fundaram as missões de São Miguel e São Simão, na Nesses anos dos séculos XVII e XVIII, a agricultura era
margem esquerda do Rio Guaporé. Além disso, o avanço apenas de subsistência. Raramente se explorava algum
espanhol sobre os rios Guaporé, Mamoré e Madeira excedente e quando havia o mesmo era levado para o Pará ou
representava uma ameaça às pretensões dominiais contrabandeado para a região castelhana, do outro lado do rio.
portuguesas sobre o Vale Amazônico. A fundação de mais duas A terra era fértil, mas a extração de ouro era mais promissora
missões jesuíticas hispânicas na margem do Guaporé era uma e de rentabilidade maior e mais imediata.
ameaça às minas de ouro em Cuiabá. Somente no século O mesmo vale para a Pecuária. Havia demanda por carne,
seguinte, com a descoberta e a exploração de ouro em Goiás e mas não havia interesse em criar concorrentes para os
Mato Grosso, aumenta o interesse pela região. Em 1776, a produtores do sul. As poucas cabeças de gado que entrou na
construção do Forte Príncipe da Beira, às margens do rio região vieram de São Paulo ou do contrabando espanhol. Havia
Guaporé, estimula a implantação dos primeiros núcleos possibilidade de se expandir os engenhos, mas nem isso

3 NERI P. CARNEIRO. A colonização do Vale do Guaporé. Disponível em: <


http://webartigos.com/artigos/a-colonizacao-do-vale-do-guapore/5116>

História do Estado de Rondônia 3


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prosperou. O fato é que no vale do Guaporé havia falta de libertados por Cáceres que lhes ordenou fundarem a aldeia de
gente, de comida, de gado e de minerais valiosos. Só sobrava Carlota.
escravidão e penúria. Entre as principais causas de decadência do vale do
O abastecimento da região, inicialmente era feito através Guaporé podem ser mencionadas: insalubridade, decadência
de caravanas paulistas. Com a descoberta da possibilidade da do ouro, dificuldade de acesso e permanência, hostilidade
rota fluvial, o abastecimento passou a ser feito a partir de índia. Além disso nas primeiras décadas do século XIX a capital
Belém, pelos rios Amazonas, Madeira, Mamoré, Guaporé. Mas foi transferida para Cuiabá, onde os capitães generais já
isso só depois de 1754, quando foi franqueada a navegação. passavam a maior parte do tempo, permanecendo Vila Bela
Nessa época os rios que serviam de rota para o contrabando abandonada, como herança aos negros que ali ficaram
passaram a servir de caminho de integração e rota de abandonados.
colhimento de impostos. Entretanto essa forma de
abastecimento não barateou o custo das mercadorias. Mesmo
com a criação da Companhia de Comércio do Grão Pará e 5. Colonização e povoamento no
Maranhão o abastecimento continuou insuficiente, caro e
mantendo o endividamento dos mineradores, ampliando o vale do Madeira e do Guaporé nos
ciclo da escravidão: passavam a ser escravos, além do negro e séculos XIX e XX; 6. O advento da
do índio, o colono branco que dependia desses meios e vias de exploração seringueira e a
transporte.
O vale do Guaporé, principalmente a partir do séc. XVIII questão das fronteiras; 7. As
transformou-se em uma espécie de abrigo de indesejáveis e diversas etapas da construção da
depósito dos proscritos do sistema. Prisão sem paredes ou Ferrovia MadeiraMamoré; 8. A
grades, onde os desclassificados poderiam ser úteis para o
poder. Brancos endividados e criminosos viriam a ser a elite Comissão Rondon e a instalação
dos colonizadores do vale. Em contrapartida o conjunto de das linhas telegráficas; 9. A
anônimos era formado por indigentes de outras áreas, criação dos Territórios Federais
prevalecendo a população negra e mestiça. Muitos romances
poderiam ser escritos contando as sagas e epopeias de quantos do Guaporé e de Rondônia; 10. Os
se aventuraram, desbravaram e morreram nas brenhas novos surtos de povoamento e a
amazônicas e de Rondônia. ampliação do extrativismo
A política dos governadores da província do Mato Grosso
permitia que brancos, mamelucos e mestiços, mais claros mineral; 11. A implantação do
conseguissem o prestígio que seria impossível em outras Estado de Rondônia; 12. Os
regiões. A sociedade poderia ser assim descrita: a elite branca, projetos de colonização estatais e
formada pelos governadores e seus auxiliares, os ricos
proprietários e os comerciantes; as camadas médias era privados; 13. A instalação da
formada pelos pequenos e médios comerciantes e alguns ex- rodovia federal BR-364.
escravos já donos de lavras, homens pobres e livres,
mineradores e agricultores e homens que compunham as
expedições dos sertanistas. Por fim os escravos negros em
menor número e índios. Como a maioria da população era O Primeiro Ciclo da Borracha (1850-1912)4
constituída de homens era comum e elevado o índice de
violência. A Hevea Bralisiensis (nome Científico da seringueira) já
As péssimas condições sanitárias mais o ambiente natural era conhecida e utilizada pelas civilizações da América Pré-
ocasionavam um elevado número de doenças, fazendo com Colombiana, como forma de pagamento de tributos ao
que a morte acompanhasse o dia-a-dia das pessoas. As monarca reinante e para cerimônias religiosas. Na Amazônia,
principais causas de doenças eram: malária, corruções, febres os índios Omáguas e Cambebas utilizavam o látex para fazer
catarrais, pneumonia, diarreia, tuberculose, febre amarela, tifo bolas e outros utensílios para o seu dia a dia. Coube a Charles
e cólera. E quase todas mortais, por falta de acesso a Marie de La Condamine e François Fresneau chamar a atenção
tratamento. dos cientistas e industriais para as potencialidades contidas na
Os escravos eram usados em diferentes atividades: nas borracha. Dela, podia ser feito, borrachas de apagar, bolas,
faisqueiras, nas lavras e sesmarias. Nas grandes propriedades sapatos, luvas cirúrgicas, etc.
eram controlados pelos feitores – em geral de origem negra – Precisamente no ano de 1839, Charles Goodyear descobriu
mas entre os pequenos proprietários havia uma relação mais o processo de Vulcanização que consistia em misturar enxofre
próxima, mas nem por isso menos sujeita a revoltas, fugas e com borracha a uma temperatura elevada (140º /150º)
insurreições. Também havia os "pretos Del Rey" propriedade durante certo número de horas, Com esse processo, as
da coroa, que estavam a serviço do governador, para a propriedades da borracha não se alteravam pelo frio, calor,
edificação de obras públicas. Esses escravos podem ser vistos solventes comuns ou óleos, Thomas Hancock, foi o primeiro a
como verdadeiros equipamentos de serviço público, eram executar com sucesso um projeto de manufatura de borracha
poucos e os governadores se obrigavam a alugar mais escravos em larga escala. Em 1833 surgiu a primeira indústria
junto aos proprietários. Em 1752 Rolim de Moura criou a americana de borracha, a Roxbury Índia Rubber Factory,
Companhia dos Homens Pretos e Mulatos. posteriormente outras fábricas se instalaram na Europa. Com
Suas condições de vida não sendo boas os escravos do vale o processo de vulcanização, as primeiras fábricas de
do Guaporé tendiam a se revoltar individual e coletivamente. beneficiamento de borracha e com a indústria automobilística
Durante a segunda metade do século XVII eram comuns as surgindo nos Estados Unidos (Henry Ford- carros Ford T-20)
fugas de escravos, formando quilombos, com um destaque possibilitou o crescimento da produção de borracha nos
para o de Quariterê (do Piolho) que existiu de 1752 a 1795, seringais amazônicos. A região amazônica era uma área
ano em que foi destruído. Os escravos aprisionados pela privilegiada por ter diversos seringais.
bandeira de Francisco Melo Palheta acabaram sendo

4 Texto adaptado de Eduardo de Araújo Carneiro.

História do Estado de Rondônia 4


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Apesar desse surto econômico favorável para a Amazônia "O sertanejo emigrante realiza ali, uma anomalia, sobre a
brasileira, havia um sério problema para a extração do látex, a qual nunca é demasiado insistir: é o homem que trabalha para
falta de mão-de-obra, o que foi solucionado com a chegada à escravizar-se". Euclides da Cunha.
região de nordestinos (Arigós) que vieram fugindo da seca de
1877 e, com o sonho de enriquecer e voltar para o nordeste. A Sociedade (Seringalista X Seringueiro)
grande maioria cometeu um ledo engano, pois encontraram
uma série de dificuldades como: Impaludismo (Malária), Seringal: unidade produtiva de borracha. Local onde se
índios e, sobretudo, a exploração dos seringalistas, o que travavam as relações sociais de produção.
impossibilitou a concretização deste sonho. Em relação ao
número de nordestinos que vieram para a Amazônia Barracão: sede administrativa e comercial do seringal. Era
brasileira, há uma divergência entre os diversos historiadores onde o seringalista morava.
amazônicos. Alguns chegam a escrever que vieram 300.000
nordestinos e outros, 150.000 nordestinos nesse ciclo. Colocação: era a área do seringal onde a borracha era
A exploração dos seringalistas sobre o seringueiro é produzida. Nesta área, localizava a casa do seringueiro e as
evidente neste período. Os seringalistas compravam das Casas "estradas" de seringa. Um seringal possuía várias colocações.
Aviadoras, sediadas em Belém do Pará e Manaus os
mantimentos para os seringais e, pagavam a essas casas, com Varadouro: pequenas estradas que ligam o barracão às
a produção de borracha feita pelos seringueiros, que, por sua colocações; as colocações entre si; um seringal a outro e os
vez, trabalhavam exaustivamente nos seringais para poder seringais às sedes municipais. Através desses trechos
pagar sua dívida contraída nos barracões dos seringais. Os passavam os comboios que deixavam mercadorias para os
seringueiros dificilmente tinham lucro, porque eram seringueiros e traziam pelas de borracha para o barracão.
enganados pelo gerente ou pelo seringalista, esse sim, obtinha
lucro e gastava o dinheiro em Belém do Pará, Manaus ou Gaiola: navio que transportava nordestino de Belém ou de
Europa. Os seringais amazônicos ficavam às margens de rios Manaus aos seringais acreanos.
como: Madeira, Jaci-Paraná, Abunã, Juruá, Purus, Tapajós,
Mamoré, Guaporé, Jamary, etc. Brabo: Novato no seringal que necessitava aprender as
técnicas de corte e se aclimatar à vida amazônica.
Economia
Seringalista (coronel de barranco): dono do seringal,
- Por causa da crescente demanda internacional por recebiam financiamento das Casas Aviadoras.
borracha, a partir da segunda metade do século XIX, em 1877,
os seringalistas com a ajuda financeira das Casas Aviadoras de Seringueiro: O produtor direto da borracha, quem extraia
Manaus e Belém, fizeram um grande recrutamento de o látex da seringueira e formavam as pelas de borracha.
nordestinos para a extração da borracha nos Vales do Juruá e
Purus. Gerente: "braço-direito" do seringalista, inspecionava
todas as atividades do seringal.
- De 1877 até 1911, houve um aumento considerável na
produção da borracha que, devido às primitivas técnicas de Guarda-livros: responsável por toda a escrituração no
extração empregada, estava associado ao aumento do barracão, ou seja, registrava tudo o que entrava e saía.
emprego de mão-de-obra.
Caixeiro: Coordenava os armazéns de viveres e dos
- O Acre chegou a ser o 3° maior contribuinte tributário da depósitos de borracha.
União. A borracha chegou a representar 25% da exportação do
Brasil. Comboieiros: responsáveis de levar as mercadorias para
os seringueiros e trazer a borracha ao seringalista.
- Como o emprego da mão-de-obra foi direcionado à
extração do látex, houve escassez de gêneros agrícolas, que Mateiro: identificava as áreas da floresta que continha o
passaram a ser fornecidos pelas Casas Aviadoras. maior número de seringueiras.

Sistema de Aviamento Toqueiro: Abriam as "estradas".

- Cadeia de fornecimento de mercadorias a crédito, cujo Caçadores: abastecia o seringalista com carne de caça.
objetivo era a exportação da borracha para a Europa e EUA. No
1° Surto, não sofreu regulamentações por parte do governo Meeiro: seringueiro que trabalhava para outro
federal. AVIAR = fornecer mercadoria a alguém em troca de seringueiro, não se vinculando ao seringalista.
outro produto.
Regatão: negociantes fluviais que vendiam mercadorias
- O Escambo era usual nas relações de troca - as aos seringueiros a um preço mais baixo que os do barracão.
negociações eram efetuadas, em sua maioria, sem a
intermediação do dinheiro. Adjunto: Ajuda mútua entre os seringueiros no processo
produtivo.
- Era baseado no endividamento prévio e contínuo do
seringueiro com o patrão, a começar pelo fornecimento das - Havia alta taxa de mortalidade no seringal: doenças,
passagens. picadas de cobra e parca alimentação.

- Antes mesmo de produzir a borracha, o patrão lhe - Os seringueiros eram, em sua maioria, analfabetos;
fornecia todo o material logístico necessários à produção da
borracha e à sobrevivência do seringueiro. Portanto, já - Predominância esmagadora do sexo masculino.
começava a trabalhar endividado. Nessas condições, era quase
impossível o seringueiro se libertar do patrão.

História do Estado de Rondônia 5


APOSTILAS OPÇÃO

- A agricultura era proibida, o seringueiro não podia Sudeste Asiático área que produzia borracha e, os aliados
dispensar tempo em outra atividade que não fosse o corte da ficam sem esse importante produto para a sua indústria. Os
seringa. Era obrigado a comprar do barracão. Estados Unidos que entraram na guerra em decorrência do
ataque japonês a base americana de Pearl Harbour no Havaí,
Crise (1913) necessitava da borracha para a sua indústria. O presidente dos
Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt e o presidente do
- Em 1876, sementes de seringa foram colhidas da Brasil Getúlio Dorneles Vargas, assinaram os Acordos de
Amazônia e levadas a Inglaterra por Henry Wichham. Washington (1942), pelo qual o Brasil comprometia-se a
reativar os seringais amazônicos, através de uma operação
- As sementes foram tratadas e plantadas na Malásia, conjunta com os EUA. O Brasil entrou com os seringais, mão-
colônia inglesa. de-obra e 58% de capital para a criação do Banco de Crédito
da Borracha. Os EUA entraram com 42% de capital para o
- A produção na Malásia foi organizada de forma racional, Banco de Crédito da Borracha e, forneciam meios para a
empregando modernas técnicas, possibilitando um aumento produção, transporte e escoamento.
produtivo com custos baixos.
Inicialmente, os norte-americanos investiram 5 milhões de
- A borracha inglesa chegava ao mercado internacional a dólares para serem aplicados pelo Instituto Agronômico do
um preço mais baixo do que a produzida no Acre. A empresa Norte, nas pesquisas científicas para a melhoria e fomento da
gumífera brasileira não resistiu à concorrência Inglesa. produção e mais 5 milhões de dólares para o saneamento a ser
feito pela Fundação Rockfeller. Esses acordos proporcionaram
- Em 1913, a borracha cultivada no Oriente (48.000 à região, a montagem de um esquema logístico institucional do
toneladas) superava a produção amazônica (39.560t). Era o qual participou ativamente o governo brasileiro com o apoio
fim do monopólio brasileiro da borracha. norte-americano, abrindo-se muitas frentes operacionais e
estratégicas na área. Os objetivos no entanto, de um e de outro
- Com a crise da borracha amazônica, surgiu no Acre uma governo, eram em certo ponto conflitante, os norte-
economia baseada na produção de vários produtos agrícolas americanos tinham seus interesses marcado pela urgência e
como mandioca, arroz, feijão e milho. pelo prazo curto, enquanto o governo brasileiro tinha o
interesse voltado para o permanente e o duradouro desejo de
- Castanha, madeira e o Óleo de copaíba passaram a ser os manter na Amazônia uma política de desenvolvimento. Com o
produtos mais exportados da região. apoio financeiro dos EUA, o governo brasileiro montou uma
infraestrutura que possibilitou aos seringais uma expressiva
- As normas rígidas do Barracão se tornaram mais flexíveis. produção. A infraestrutura criada foi a seguinte:
O seringueiro passou a plantar e a negociar livremente com o
regatão. - SEMTA (Serviço de Encaminhamento de Trabalhadores
para a Amazônia) e CAETA (Comissão Administrativa de
- Vários seringais foram fechados e muitos seringueiros Encaminhamento de Trabalhadores para a Amazônia) com o
tiveram a chance de voltar para o nordeste. objetivo de recrutar, encaminhar e colocar trabalhadores,
principalmente nordestinos, nos seringais, sob a supervisão do
- Houve uma estagnação demográfica; Departamento Nacional de Imigração.

- Em muitos seringais, houve um regresso a economia de - SAVA (Superintendência de Abastecimento da Vale


subsistência. Amazônico) que fazia o abastecimento direto dos seringais
com gêneros de primeira necessidade.
Consequências
- RRC (Rubber Reserve Company) que passou a
- Povoamento da Amazônia. posteriormente a denominar-se RDC (Rubber Development
Company) encarregada de transporte de passageiros e de
- Genocídio indígena provocado pelas "correrias", ou seja, suprimentos através da SAVA.
expedições com o objetivo de expulsar os nativos de suas
terras. - SESP (Serviço Especial de Saúde Pública): foi criado para
promover o melhoramento urbano, o combate à Malária e o
- Povoamento do Acre pelos nordestinos; saneamento.

- Morte de centenas de nordestinos, vítimas dos males do Banco da Borracha - 1942: Que realizava operações de
"inferno verde". crédito, fomento à produção e financiamento aos seringalistas.
O Banco exercia o monopólio da compra e venda da borracha.
- Revolução Acreana e a consequente anexação do Acre ao
Brasil (1889-1903); Criação de Territórios: Território do Guaporé (hoje
Rondônia), Rio Branco (hoje Roraima) e Amapá, em 1943,
- Desenvolvimento econômico das cidades de Manaus e iniciando-se assim o processo de reorganização do espaço
Belém; político amazônico. O movimento migratório da Batalha da
Borracha, que se desenvolveu no decorrer dos anos de 1941 e
- Desenvolvimento dos transportes fluviais na região início de 1943, adquiriu um novo colorido com a chegada a
amazônica; partir de 1943 e durante os anos de 1944/1945, de novos
contingentes humanos, os nordestinos que ficaram sendo
O Segundo Ciclo da Borracha (1942 - 1945 2ª Guerra conhecidos como soldados da borracha. A diferença entre
Mundial) essas duas correntes de migrantes era flagrante, enquanto a
primeira se constituía na sua maioria de cearenses que se
Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o Japão, aliado deslocavam do interior. A partir de 1943 até 1945, provinha
da Alemanha e da Itália (países do Eixo) conquista e ocupa o dos centros urbanos, geralmente composta de homens

História do Estado de Rondônia 6


APOSTILAS OPÇÃO

solteiros ou desgarrados de sua parentela, muito deles degradação e o acirramento das relações sociais em toda a
desempregados ou sem profissão definida, vinham para a região.
Amazônia pelo simples sabor da aventura e para fugir à
convocação para a FEB (Força Expedicionária Brasileira) que Projetos Integrados de Colonização de Rondônia
lutava na Itália. Com o término da Guerra em 1945, foram
liberadas as plantações de borracha da região asiática, O processo de ocupação humana de Rondônia ligado ao
cessando o interesse norte-americano pela borracha Ciclo da Agricultura, foi executado pelo INCRA, inicialmente,
produzida na Amazônia, que passou a acumular em estoques através dos Projetos Integrados de Colonização, PIC, e dos
crescentes, já que o mercado interno não tinha capacidade de Projetos de Assentamento Dirigido, PAD, estrategicamente
absorver toda a produção. A tentativa de produzir borracha criados para cumprir a política destinada à ocupação da
ainda permaneceu até os idos de 1960. A partir desta data, Amazônia rondoniense. Nesse contexto, o governo federal
paulatinamente a produção de borracha cai, ocasionando o fim implantou o primeiro Projeto Integrado de Colonização no
desse ciclo. Território Federal de Rondônia: O PIC Ouro Preto, em 19 de
junho de 1970. Esse projeto constituiu-se no principal
Segundo Ciclo da Borracha- Numero de Migrantes responsável pelo surgimento de Ouro Preto d'Oeste como
Nordestinos núcleo habitacional, e para o desenvolvimento da então Vila de
Rondônia, hoje Ji-Paraná. Implantado em terras férteis, na
Ano Homens Mulheres Total região central de Rondônia, às margens da BR-364, o PIC Ouro
1941 13.910 8.267 22.177 Preto, alvo de divulgação oficial em todo o País,
1942 17.928 9.023 26.951 principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, atraiu
1943 24.399 9.419 33.818 o mais intenso fluxo migratório dirigido a Rondônia em todos
1944 27.139 10.287 37.426 os tempos. A explosão demográfica provocada pela ocupação
1945 21.807 9.959 31.766 humana, das terras rondonienses, vinculada ao ciclo da
Total 105.183 46.955 152.138 agricultura, além de agricultores, constituiu-se de técnicos,
Fonte: Benchimol, Samuel.Amazônia: um pouco antes-além depois. comerciantes e profissionais liberais de todas as áreas, em
busca de melhores condições de vida. Esses novos povoadores
Ditadura Militar fixaram-se nos núcleos surgidos nas cercanias das estações
O início deste período, em meados de 1960, trouxe novas e telegráficas da Comissão Rondon, e expandiram suas áreas
profundas modificações para a Amazônia. Os militares, urbanas.
amparados por um suposto perigo eminente de
internacionalização, iniciaram um período marcado pela Estrada de ferro Madeira-Mamoré, Cândido Rondon e
implantação de grandes projetos que, segundo se dizia, a integração nacional.
visavam desenvolver economicamente o Norte do país.
“Integrar para não entregar”. Esse era o discurso oficial do O declínio do Ouro na região do Guaporé provocou um
governo militar, estimulando um novo movimento de êxodo populacional de graves proporções do final do século
ocupação da Amazônia a partir de grandes projetos XIX. Sua maior povoação, Vila Bela da Santíssima Trindade de
mineradores, madeireiros e agropecuários. Para tanto, em Mato Grosso, perdeu a maioria de seus habitantes e a condição
1965, o presidente Castelo Branco anunciou a Operação de capital da capitania de Mato Grosso, haja vista a sede do
Amazônia e, em 1968, criou a Sudam (Superintendência para governo haver sido transferida para Cuiabá. Entretanto, na
o Desenvolvimento da Amazônia) com amplos poderes para segunda metade do século XIX, outra atividade econômica
distribuir incentivos fiscais e autorizar créditos para começou a despontar na Amazônia: a produção de borracha
investimentos na indústria e na agricultura. O objetivo silvestre em larga escala. Surgia o Ciclo da Borracha que atraiu
principal era criar polos de desenvolvimento espalhados por milhares de trabalhadores oriundos do Nordeste brasileiro,
toda a bacia amazônica, expandindo a fronteira pioneira. notadamente dos Estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do
Norte e Pernambuco, tangidos pela grande seca de 1877, que
O período do “milagre econômico” acelerou ainda mais a flagelou aquela região, e pelo avanço das grandes usinas
velocidade dos investimentos em infraestrutura. Teve início a açucareiras.
construção da rodovia Transamazônica, que deveria integrar A situação econômica, demográfica e política da Amazônia
todo o sul da Amazônia ao cortá-la no sentido Leste-Oeste, rondoniense começavam a se modificar em decorrência da
assegurando, pelo menos em teoria, o controle brasileiro da entrada de dois novos personagens: os seringueiros e os
região. A expansão da fronteira pioneira na Amazônia seringalistas. As terras rondonienses passaram então a ser
aconteceu simultaneamente em diversas frentes, com a povoadas pela ação dos seringueiros, que penetravam na
abertura de várias estradas e grandes projetos de colonização. floresta através dos rios Madeira, Jamary, Machado, Guaporé e
Com esse discurso o presidente Emílio Médici prometeu Mamoré, em busca de látex, a matéria-prima da borracha
resolver o problema do Nordeste, oferecendo terras nativa. O Brasil destacava-se como o maior produtor de
amazônicas. Estabeleceu então o PIN (Plano de Integração borracha silvestre do mundo. Nesse contexto, a área geográfica
Nacional) segundo o qual deveriam ser reservados 100 km de que forma o Estado de Rondônia respondia por considerável
cada lado da estrada para o assentamento prioritário de parcela dessa atividade econômica.
nordestinos. Porém, não era somente o Brasil que produzia borracha em
Ao mesmo tempo, a Sudam começou a aprovar grandes larga escala na Amazônia. A Bolívia também despontava como
projetos agropecuários e o Incra (Instituto Nacional de grande produtor e se ressentia da necessidade de escoar seu
Colonização e Reforma Agrária) aumentou o índice de produto, cuja maior concentração ficava no Oriente boliviano,
distribuição de terras para os fazendeiros. Isso fez com que a isolado do restante daquele país. Foi exatamente em função da
taxa de desmatamento subisse assustadoramente. Apesar dos carência de um porto onde pudesse escoar sua produção de
amplos financiamentos concedidos na época – que abrangiam látex, que o governo boliviano criou, em 1846, uma comissão
a mineração na serra dos Carajás, a construção de de estudos destinada a viabilizar uma rota fluvial através do
hidrelétricas, a implantação do polo tecnológico e industrial da rio Mamoré, ou do Madeira, a fim de permitir ao país acesso ao
Zona Franca de Manaus e a construção de rodovias – o oceano Atlântico.
resultado mais evidente da nova política desenvolvimentista
não foi a prosperidade econômica da Amazônia, mas a

História do Estado de Rondônia 7


APOSTILAS OPÇÃO

Esses estudos resultaram em dois projetos apresentados vez na história da estrada de ferro Madeira-Mamoré em que
ao governo boliviano. O primeiro, visava a construção de houve a participação de uma empresa inglesa em sua
canais nos trechos encachoeirados do Madeira, o rio escolhido construção. Após o fracasso da Public Works Construction
pela comissão de estudos. O segundo, de 1861, previa a Company, o coronel George Earl Church contratou, em 17 de
construção de uma ferrovia da margem direita do rio Mamoré setembro de 1873, a empreiteira norte-americana Dorsey and
até a fronteira das províncias de Mato Grosso e do Amazonas. Caldwell, que chegou em Manaus em 1874. No entanto, essa
O governo boliviano entendeu ser mais viável a execução empresa não se instalou na região. Informados das imensas
do primeiro projeto, que contemplava uma rota fluvial pelo rio dificuldades estruturais do local e das graves condições
Madeira, com a canalização de seus trechos encachoeirados. sanitárias do povoado de Santo Antônio, os diretores da
No dia 27 de agosto de 1868 a Bolívia concedeu ao engenheiro- Dorsey and Caldwell decidiram retornar aos Estados Unidos e
militar norte-americano, coronel George Earl Church, transferiram o contrato para a empreiteira inglesa Reed
autorização para que fosse constituída, sob sua direção, uma Brothers and Company, que apenas pretendia especular e
empresa de navegação entre os rios Mamoré e Madeira. receber possíveis indenizações contratuais.
O coronel George Earl Church fudou então a National Com o apoio do imperador D. Pedro II, o coronel Geroge
Bolivian Navigation Company, com a finalidade de explorar o Earl Church contratou, em 25 de outubro de 1877, a empresa
transporte de passageiros em ambos os rios e construir os norte-americana P.T Collins, da Filadélfia, com larga
canais necessários nas cachoeiras do Madeira. Entretanto, ao experiência no ramo de construção de ferrovias. A 19 de
buscar financiamento junto aos bancos da Inglaterra, deparou- fevereiro de 1878, a P.T Collins instalou seu canteiro de obras
se com a resistência dos financistas londrinos, que preferiam na localidade de Santo Antônio do Rio Madeira. Apesar de
apoiar a construção da estrada de ferro, prevista no segundo enfrentar problemas semelhantes ao da empreiteira que a
projeto boliviano. Essa decisão dos banqueiros ingleses foi antecedeu, a P.T. Collins deu um novo impulso às obras da
baseada, principalmente, no fato de a Inglaterra ser, na época, ferrovia. Primeira empreiteira norte-americana a realizar uma
o maior produtor de vagões e locomotivas do mundo, além de grande obra dos Estados Unidos da América, essa empresa
controlar toda a importação de borracha da Amazônia. Nesse trouxe para a região a primeira locomotiva e contratou os
sentido, a construção de uma ferrovia daria aos ingleses primeiros operários brasileiros para as obras da ferrovia,
excelente oportunidade de ampliar sua influência política e cerca de quinhentos cearenses, que chegaram ao canteiro de
econômica na região. obras em outubro de 1878. A despeito de todos os esforços
Em função do trajeto da estrada de ferro ser totalmente em para cumprir seu contrato, a P.T. Collins não resistiu aos
território brasileiro, tornava-se necessário que o Brasil desse graves problemas que teve de enfrentar. Com o crédito
autorização para que as obras fossem iniciadas. Isto ocorreu cortado, envolvida em pesadas dívidas, revoltas e fugas de
no dia 20 de abril de 1870, através do Tratado de Amizade, operários, doenças regionais e ataques de índios, viu-se
Limites, Navegação, Comércio e Extradição, firmado entre o forçada a encerrar suas atividades na região.
governo brasileiro e a República da Bolívia, em La Paz. Por esse Por outro lado, os insistentes acionistas da empresa
tratado, o Brasil exigiu que a razão social da empresa National National Bolivian Navigation Company conseguiram na justiça
Bolivian Navigation Company fosse mudada para The Madeira inglesa sentença favorável ao embargo das obras da ferrovia.
and Mamoré Railway Company. Em consequência, no dia 1º de O proprietário da empresa, Mr. Philips Thomas Collins, em
março de 1871, foi constituída a empresa The Madeira and razão das graves dificuldades financeiras e operacionais,
Mamoré Raiway Company Ltda., sob a presidência do Coronel instalou-se na região para dirigir os trabalhos pessoalmente.
George Earl Church, que levantou, junto aos banqueiros Entretanto, foi flechado pelos índios Caripunas e ficou
ingleses, um financiamento, com aval do governo boliviano, gravemente ferido. Em seguida, a empresa abandonou as
para a construção da ferrovia. Por exigência desses obras, e, posteriormente, entrou em concordata, devido aos
banqueiros, o coronel George Earl Cchurch contratou a enormes prejuízos e às diversas ações judiciais que teve de
empreiteira Public Works Construction Company, de Londres, defender nas justiças inglesa e norte-americana. Após todos
por 600 mil libras esterlinas. Essa empresa instalou seu esses fracassos, o governo imperial brasileiro cancelou a
canteiro de obras na localidade de Santo Antônio, em 06 de permissão concedida ao coronel George Earl Church.
julho de 1872, e deu início à primeira fase de construção da Mas, em 15 de maio de1882, se restabeleceram os estudos
estrada de ferro Madeira-Mamoré. para a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré. Em 25
Para facilitar o acesso à localidade de Santo Antônio do Rio de novembro do mesmo ano, foi criada uma comissão de
Madeira o governo imperial brasileiro, sob pressão da estudos chefiada pelo engenheiro sueco, naturalizado
Inglaterra e dos Estados Unidos da América, baixou o decreto- brasileiro, Carlos Morsing, com a finalidade de projetar uma
lei nº 5.024, de 15 de janeiro de 1873, que permitia aos navios nova rota para a ferrovia. A Comissão Morsing, como ficou
mercantes, de todas as nações, subirem o rio Madeira e nacionalmente conhecida, instalou-se em Santo Antônio do Rio
atracarem no porto conhecido como “Porto dos Vapores”, para Madeira em 10 de janeiro de 1883. Dois meses depois,
embarque e desembarque de cargas destinadas ou retornou ao Rio de Janeiro com o resultado de 112 quilômetros
procedentes da Bolívia. Em seguida, instalou um posto da de trecho explorado e a recomendação técnica para que fosse
alfândega brasileira para a arrecadação de tributos originados alterada a localização da estação inicial da ferrovia.
das importações e exportações. Mas, os serviços da Public Apesar de ter permanecido somente dois meses na região,
Works Construction Company duraram apenas um ano. Em 09 a Comissão Morsing sofreu pesadas baixas, entre as quais as
de julho de 1873 a empresa rompeu o contrato, pressionada mortes dos engenheiros Pedro Leitão da Cunha, Alfredo Índio
por enormes prejuízos, pelas dificuldades estruturais do local do Brasil e Silva, E Thomas Pinto Cerqueira, vítimas de doenças
onde deveria ser instalada a estação inicial da ferrovia, pelos regionais. Outra comissão foi criada sob a chefia do engenheiro
violentos ataques dos índios Caripunas aos trechos em obra, e austríaco Júlio Pinkas. Entretanto o resultado dos seus estudos
pelas doenças regionais que mataram dezenas de foram colocados sob suspeita pelo governo brasileiro. O
trabalhadores. Para piorar a situação, os acionistas da extinta governo boliviano foi obrigado a arquivar seu ambicionado
National Bolivian Navigation Company, inconformados com a projeto de construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré, que,
construção da ferrovia, moveram diversas ações na justiça nesta primeira fase, teve como saldo diversos contratos
inglesa, pelo embargamento das obras. rompidos, vários técnicos e operários mortos e inúmeros
Essas adversidades levaram a Public Works Construction processos nas justiças americana, inglesa e brasileira.
Company a abandonar máquinas e equipamentos e deixar a
região, definitivamente, em janeiro de 1874. Essa foi a única

História do Estado de Rondônia 8


APOSTILAS OPÇÃO

A Guerra do Acre tornavam-se mais frequentes e acirrados. No entanto, foi


somente quando o presidente da Bolívia, general José Manuel
O espaço físico que constitui o Estado do Acre, era, até o Pando, organizou, sob seu comando, uma poderosa expedição
início deste século, considerado uma zona não descoberta, um militar para combater os brasileiros do Acre, que o presidente
território contestado pelos governos boliviano e brasileiro. do Brasil, Rodrigues Alves, ordenou que tropas do Exército e
Por sua vez, o Brasil utilizava aquela região como um grande da Armada Naval, acantonadas no Estado de Mato Grosso,
presídio a céu aberto, para onde enviava prisioneiros políticos avançassem para a região em defesa dos seringueiros
e criminosos comuns. Entretanto, rico em seringueiras, o Acre acreanos. O enfrentamento de tropas regulares do Brasil e da
recebeu na segunda metade do século XIX, milhares de Bolívia gerou a Guerra do Acre.
nordestinos em busca de trabalho em seus seringais. As tropas brasileiras, formadas por dois regimentos de
Prisioneiros, exilados políticos e trabalhadores nordestinos infantaria, um de artilharia e uma divisão naval, ajudaram
misturavam-se nos seringais do Acre, fundavam povoações, Plácido de Castro a derrotar o último reduto boliviano no Acre,
avançavam e se estabeleciam em pleno território boliviano. Puerto Alonso, hoje Porto Acre. Ao alvorecer do dia 24 de
Isto, naturalmente, desagradava ao governo daquele país que janeiro de 1903, às margens do rio Acre, tremulou vitoriosa a
invocou velhos tratados, de duvidosa interpretação, e resolveu bandeira acreana. O acre era do Brasil. Em consequência, no
tomar posse definitiva do Acre. Fundou a vila de Puerto dia 17 de novembro de 1903, na cidade de Petrópolis, à rua
Alonso, em 03 de janeiro de 1889, e instalou postos da Westphalia, nº 05, no Rio de Janeiro, a repúblicas do Brasil e
alfândega para arrecadar tributos originados da da Bolívia firmaram o Tratado de Petrópolis, através do qual o
comercialização de borracha silvestre. Essa atitude causou Brasil ficou de posse do Acre, assumindo o compromisso de
revolta entre os quase sessenta mil brasileiros que pagar uma indenização de dois milhões de libras esterlinas ao
trabalhavam nos seringais acreanos. Liderados pelo governo boliviano e mais 114 mil ao Bolivian Syndicate.
seringalista José Carvalho, do Amazonas, os seringueiros O tratado de Petrópolis, aprovado pelo Congresso
rebelaram-se e expulsaram as autoridades bolivianas, em 03 brasileiro em 12 de abril de 1904, também obrigou o Brasil a
de maio de 1889. realizar o antigo projeto do governo boliviano de construir a
Mas, foi um espanhol chamado Luiz Galvez Rodrigues de estrada de ferro Madeira-Mamoré. A Bolívia, aproveitando-se
Aurias quem liderou outra rebelião, de maior alcance político, do momento político, colocou na pauta de negociações seu
proclamou a independência e instalou o que ele chamou de ambicionado projeto. Em contrapartida, reconheceu a
República do Acre, no local conhecido como Seringal Volta da prioridade de chegada dos primeiros brasileiros à região e
Empresa, em 14 de julho de1889. Galvez, o “Imperador do Acre renunciou a todos os direitos sobre as terras do Acre.
“, como auto proclamava-se, contava com o apoio político do O Tratado de Petrópolis proporcionou o surgimento no
governador do Amazonas, Ramalho Junior. Entretanto, a Brasil, do primeiro Território Federal: o Acre, em 1903. Com o
República do Acre durou apenas oito meses. O governo crescimento da produção de látex, a região acreana produziu
brasileiro, signatário do Tratado de Ayacucho, de 23 de março 47 mil toneladas de borracha silvestre, somente em 1910, o
de 1867, reconheceu o direito de posse da Bolívia, prendeu que representou cerca de sessenta por cento de toda a
Luiz Galvez Rodrigues de Aurias e devolveu o Acre ao governo produção amazônica.
boliviano.
Todavia, a situação continuava insustentável. O clima de A Ferrovia Madeira-Mamoré fica pronta
animosidade persistia e aumentava a cada dia. Em 11 de julho
de 1901, o governo boliviano decidiu arrendar o Acre a um O Tratado de Petrópolis, firmado pelos governos brasileiro
grupo de capitalistas americanos, ingleses e alemães, formado e boliviano em 17 de novembro de 1903, definiu a situação
pelas empresas Conway and Withridge, United States Rubber política, administrativa e geográfica do Acre e obrigou o Brasil
Company, e Export Lumber. Esse consórcio constituiu o a construir a ferrovia Madeira-Mamoré, em terras
temível Bolivian Syndicate que recebeu da Bolívia autorização pertencentes ao estado do Mato Grosso. Sua estação inicial
para colonizar a região, explorar o látex e formar sua própria deveria localizar-se na vila de Santo Antônio do Rio Madeira,
milícia, com direito de utilizar a força para atender seus última fronteira do Mato Grosso com o Amazonas, e a estação
interesses. Ou seja. Obteve plenos poderes para assumir o terminal na localidade de Porto Esperidião Marques, às
controle econômico e exercer a autoridade civil nas terras do margens do rio Mamoré. Portanto, quarenta e dois anos depois
Acre. Os seringueiros brasileiros, a maior parte formada por das primeiras tentativas, a Bolívia finalmente iria conquistar
nordestinos, não aceitaram aquela situação. Estimulados por seu caminho para o Oceano Atlântico, via rio Madeira.
grandes seringalistas e apoiados pelos governadores do Para cumprir as determinações do Tratado de Petrópolis o
Amazonas e do Pará, deram início, no dia 06 de agosto de 1902, governo brasileiro realizou a licitação das obras da ferrovia,
a uma rebelião armada: a Revolta do Acre. Os seringalistas cujo edital foi publicado em 12 de maio de 1905. Aberta
entregaram a chefia do movimento rebelde ao gaúcho José somente a empresários brasileiros, a concorrência teve dois
Plácido de Castro, ex-major do Exército, rebaixado a cabo por participantes, os engenheiros Raimundo Pereira da Silva e
haver participado da Revolução Federalista do Rio Grande do Joaquim Catramby. Contemplado, soube-se que Joaquim
Sul, ao lado dos Magaratos. Plácido de Castro tinha, na época, Catramby concorreu com intuitos meramente especulativos,
29 anos de idade e estava auto exilado há três anos no Acre, na qualidade de testa-de-ferro do poderoso magnata norte-
trabalhando como seringueiro. americano Percival Farquhar, a quem transferiu o contrato tão
A Revolta por ele liderada, financiada por seringalistas e logo recebeu a homologação da concorrência.
por dois governadores de Estado, fortalecia-se a cada dia, na O objetivo de Percival Farquhar era controlar todo o
medida em que recebia armamentos, munições, alimentos, sistema ferroviário da América Latina. Por isso, ele constituiu
além de apoio político e popular. Em todo o país ocorreram a EMPRESA Madeira-Mamoré Railway Company, na qual
manifestações em favor da anexação do Acre ao Brasil. A investiu, inicialmente, onze milhões de dólares, financiados
imprensa do Rio de Janeiro e de São Paulo exigia do governo pelo Bank of Scotland, e contratou os serviços do grupo de
brasileiro imediata providências em defesa dos acreanos. Por empreiteiras Robert May e ªB. Jeckyll. A esse grupo associou-
seu lado, o governo brasileiro procurava solucionar o impasse se posteriormente o empreiteiro John Randolph. Desta forma
pela via diplomática, tendo à frente das negociações o constituiu-se a empresa May, Jeckyll & Rondolph que, em
diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio 1906, instalou seu canteiro de obras na localidade de Santo
Branco. Mas, todas as tentativas eram inócuas e os combates Antônio do Rio Madeira.
entre brasileiros e os combates entre brasileiros e bolivianos

História do Estado de Rondônia 9


APOSTILAS OPÇÃO

A empreiteira May, Jeckyll & Rondolph enfrentou sérias Em pouco tempo, centenas de índios foram mortos
dificuldades operacionais, devido à localização geográfica do eletrocutados, o que provocou um verdadeiro genocídio.
povoado de Santo Antônio e de suas péssimas condições No dia 30 de abril de 1912, a May, Jeckyll e Randolph
sanitárias, ao trecho encachoeirado do rio Madeira e às entregou a estação terminal Mamoré, localizada no porto
doenças regionais, como a malária e o beribéri, que mataram mato-grossense de Esperidião Marques, onde está situada a
centenas de operários em pouco tempo. Por tudo isto, a cidade de Guajará-Mirim. Entre entusiasmados discursos das
direção da empresa decidiu modificar o cronograma da autoridades presentes que saudavam o término da construção
ferrovia, mesmo ferindo cláusulas contratuais, haja vista as dos 364 quilômetros de via férrea, um prego de ouro foi
condições gerais da localidade de Santo Antônio do Rio simbolicamente batido no último dormente. A ferrovia
Madeira inviabilizarem completamente a execução e a Madeira-Mamoré foi inaugurada no dia 1º de agosto de 1912.
administração da obra. A soma de dificuldades que acompanhou toda a construção da
Autorizada por Percival Farquhar e pelo governo ferrovia Madeira-Mamoré deu-lhe um aspecto
brasileiro, a May, Jeckyll & Randolph transferiu, em 19 de abril exageradamente catastrófico, no Brasil e no exterior. Por tudo
de 1907, suas instalações para o porto amazônico situado sete o que ocorreu, a Madeira-Mamoré recebeu várias
quilômetros da jusante da cachoeira de Santo Antônio, no local denominações que procuravam identificá-la muito mais com
conhecido como Porto Velho, onde implantou o centro seus graves problemas do que com seus posteriores benefícios
administrativo, construiu o cais, residências para técnicos, e sociais, políticos e econômicos. Entre os diversos epítetos que
deu início, em junho do mesmo ano, a construção da estação recebeu, estão: “Estrada dos Trilhos de Ouro”, “Ferrovia do
inicial da ferrovia Madeira-Mamoré. Com essa atitude, foram Diabo”, “Ferrovia de Deus”, e “Ferrovia da Morte”, que
alterados o cronograma inicial da ferrovia em sete serviram para ligar sua construção aos seus dramas. Dizia-se
quilômetros, sua rota e, sobretudo, a localização de sua estação também que cada um dos seus dormentes representa uma
inicial, antes prevista para ser construída em terras vida, para avaliar de forma exagerada o número de
pertencentes ao estado de Mato Grosso, passava então a trabalhadores mortos durante suas obras.
situar-se em terras do Amazonas. Através do decreto-lei nº Entre 1920 e 1922, a ferrovia Madeira-Mamoré sofreu uma
6.775, de 28 de novembro de 1907, o governo brasileiro modificação de rota. Nesse período foi construída uma
autorizou à empresa The Madeira-Mamoré Railway Company variante entre os quilômetros 237 e 242, no setor Penha
Ltda., a funcionar no Brasil. Colorada, devido à proximidade do barranco do rio Madeira e
É muito difícil avaliar as dificuldades enfrentadas pela ao perigo que isto causava. Essa nova rota acrescentou 2.485
empresa May, Jeckyll & Randolph para executar este grandioso metros à extensão da ferrovia, que passou a ter os 366.485
empreendimento em condições tão adversas para técnicos e metros atuais.
operários. A construção da ferrovia Madeira-Mamoré bateu o Considerada maldita desde a primeira fase de sua
recorde mundial de acidentes de trabalho, e teve centenas de construção, a Madeira-Mamoré manteve esse estigma mesmo
homens mortos ou desaparecidos na imensidão da floresta e após ter sido festivamente inaugurada. A conclusão de suas
nas viagens para a região. No ano de 1908, a May, Jeckyll & obras praticamente coincidiu com o fim do Ciclo da Borracha
Randolph contratou operários espanhóis dispensados das na Amazônica, e quase nada mais havia para ser transportado
construções ferroviárias que o grupo realizava em Cuba. No para Manaus e Belém. Na verdade, a Madeira-Mamoré não
entanto, de um total de trezentos e cinquenta homens, atingiu os objetivos para os quais fora construído. Vários
somente setenta e cinco chegaram a Porto Velho. O restante fatores contribuíram para isso. A Bolívia, maior interessada,
desistiu no Porto de Belém, em razão das notícias sobre as não ligou por rodovias o Departamento (estado) do Beni,
doenças regionais que ceifavam a vida dos operários e dos principalmente a cidade de Guaramirim, com os centros mais
constantes ataques dos índios Caripunas aos trechos em obras. importantes do país, como Santa Cruz de La Sierra e La Paz, o
Realmente era muito grave a questão de saúde na região. Em que deixou a estação terminal Mamoré completamente
apenas três meses de trabalho já existiam inúmeros operários isolada. Além disso, outras duas ferrovias foram construídas
doentes, o que levou à empresa a construir, entre os povoados na Cordilheira dos Andes: a La Paz / Arica, em 1913, e a
de Porto Velho e de Santo Antônio, o Hospital da Candelária, Tupiza/Buenos Aires, em 1915, e o Canal do Panamá também
que chegou a ter onze médicos. Mas, nem eles resistiram. Três já estava em pleno funcionamento. Tudo isto facilitava o
morreram e dois ficaram inválidos. acesso da Bolívia ao Oceano pacífico, e tornava desnecessário
Em 1909, os médicos do hospital da Candelária, todos investir na antiga rota do Oceano Atlântico, via rio madeira.
norte-americanos, declararam-se sem condições de combater Conforme previsto no contrato de construção, o controle
as doenças regionais, por desconhecerem os tipos de males da ferrovia, assim como a exploração do transporte de carga e
que afetavam os operários da Madeira-Mamoré. Por isto, passageiros, ficou por conta da empresa norte-americana The
solicitam que a empresa contratasse os serviços do médico Madeira-Mamoré Railway Company. O governo brasileiro
sanitarista brasileiro Oswaldo Cruz. Aos 37 anos de idade, o Dr. concedeu a administração da ferrovia a essa empresa por um
Oswaldo Cruz chegou a Porto Velho no dia 09 de julho de 1910, prazo de sessenta anos, a contar de 1º de julho de 1912, de
acompanhado por seu médico particular, Dr. Belizário Pena. acordo com o contrato de arrendamento firmado nos termos
Após profundos estudos sobre a região, o grande sanitarista do decreto-lei nº 7.344, de 25 de fevereiro de 1909.
concluiu que as doenças regionais, como a malária e o beribéri, A Madeira-Mamoré finalmente ficou pronta. Nela
eram conhecidas e tinham tratamento. trabalharam cerca de vinte e dois mil operários, recrutados em
Em seu relatório, afirmou que o lento progresso das obras portos de vinte e cinco países, e até em prisões. Eram
da ferrovia, que avançava apenas cerca de cento e noventa portugueses, espanhóis, italianos, russos, cubanos, mexicanos,
metros por semana, não era provocado por essas doenças e porto-riquenhos, libaneses, sírios, índios norte-americanos,
sim pelas péssimas condições de vida e trabalho a que eram nordestinos brasileiros, antilhanos, granadenses,
submetidos os operários da Madeira-Mamoré. Outro problema tobaguenses, barbadianos, noruegueses, poloneses, chineses e
de saúde que afetava os operários eram os “demônios”, um indianos. Estigmatizada, polêmica, criticada no Brasil e no
tipo desconhecido de loucura que os atacava sistematicamente exterior, com má fama e sem ter atingido seus objetivos, a
nos trechos em obra e provocava terríveis alucinações. Para estrada de ferro Madeira-Mamoré tornou-se, paradoxalmente,
combater os índios Caripunas, que, além de flechar os fundamental para a formação econômica, social, geográfica e
operários também arrancavam os trilhos e dormentes da política de Rondônia, por ter estimulado a fixação do primeiro
ferrovia à noite, a direção da empresa mandava a segurança povoamento urbano desta região.
eletrificar os trilhos ao final de cada jornada diária de trabalho.

História do Estado de Rondônia 10


APOSTILAS OPÇÃO

Ao longo do seu trecho surgiram núcleos habitacionais de serrarias e explorava o comércio de madeira. A partir de
como Porto Velho, Jaci-Paraná, Vila Murtinho, Mutum-Paraná, então, gerou-se um problema de graves proporções.
Abunã, e Guajará-Mirim. Destes, os que mais se desenvolveram A Southern Brazil Lumber & Colonization, subsidária da
foram Porto Velho, onde ficou sua estação inicial, e Guajará- Brazil Railway Company, também de propriedade de
Mirim, sede de sua estação terminal. Durante muitos anos a Farquhar, utilizou em exército de jagunços e expulsou os
maior reta ferroviária do mundo ficava no trecho Mutum- posseiros da região para, mais tarde, vender as terras a
Paraná / Abunã, como cinquenta e um quilômetros de colonos portugueses e alemães. Além disso, essa empresa
extensão. contratou milhares de homens no Rio de Janeiro e em
Pernambuco, para trabalharem nas obras da ferrovia São
O Magnata que perdeu um Império - Percival Farquhar Paulo / Rio Grande do Sul e na exploração da madeira. No final
das obras, demitiu oito mil operários e não os reconduziu aos
Filho de pais milionários, o norte-americano Percival seus Estados de origem. Formou-se assim, uma massa de
Farquhar nasceu na Pensilvânia, dia 19 de outubro de 1864. desempregados, humilhados e arruinados que reacenderam a
Engenheiro civil, formado pela Universidade de Yale, EUA, velha questão do Contestado, uma briga de limites entre Santa
desfrutava de grande prestígio em Wall Street, na Bolsa de Catarina e o Paraná, iniciada em 1747, de caráter religioso, que
Valores de Nova York. Foi graças a esse prestígio que se tornou haja sido ganha pacificamente por Santa Catarina, em 1904.
vice-presidente da Atlantic Coast Elétrica Railway Company e Percival Farquhar, na ânsia de dominar tudo, foi um dos
da Staten Island Eletric Railway, que controlavam o serviço e principais responsáveis pela reativação da guerra civil do
bondes na cidade de Nova York. Ao raiar do século XX, Percival Contestado, que custou ao Brasil três mil contos de réis, uma
Farquhar já era diretor da Companhia de Eletricidade de Cuba verdadeira fortuna na época, cinco anos de luta e vinte mil
e vice-presidente da Guatemala Railway, e lançou-se à homens mortos.
construção de seu grande sonho: controlar todo o sistema Visando ampliar seus domínios nas terras rondonienses e
ferroviário da América-Latina. A partir de 1904, começou a dinamizar as ações da empresa The Madeira-Mamoré Railway
construir seu império brasileiro, quando, ainda sem conhecer Company, ele comprou dois grandes seringais: o Seringal Júlio
o Brasil, comprou a Rio de Janeiro Light & Power Company e Muller State, que se estendia do rio Mutum-Paraná até
as concessões da Societé Anonyme du Gaz. Guajará-Mirim, e o Seringal Guaporé Rubber State, cuja área
No ano seguinte, comprou, na Alemanha, a Brasilianische abrangia de Guajará-Mirim à localidade de Príncipe da Beira.
Elektriztatsgesellshft, empresa que deu origem à Companhia Também comprou em 1912, a Fazenda do Descalvado com
Telefônica Brasileira. Em 1905, organizou a Bahia Tramway cem mil reses, no sertão dos Parecis, adquirida do sindicato
Ligth & Power Companhy e obteve a concessão das obras do belga “Produtis Cibilis”.
porto de Belém do Pará. No ano seguinte, ganhou a licitação É inegável que ele desfrutava de imenso prestígio no Brasil.
para a construção da estrada de ferro São Paulo / Rio Grande Em reconhecimento por seus serviços, o governo brasileiro
do Sul, comprou vinte e sete por cento das ações da ferrovia concedeu-lhe sessenta mil quilômetros quadrados de terras no
Mogiana e trinta e oito por cento das da Paulista, ambas em São extremo norte do país. Nada menos que todas as terras
Paulo. Em seguida, constituiu as empresas Companhia de formadoras do Amapá. Mas, o azar de Percival Farquhar foi a
Navegação do Amazonas, Amazon Development Company, e bolsa de valores de Nova York. Em 1913, por dificuldades
Amazon Land & Colonization Company. financeiras ou ambição, não se sabe ao certo, ele jogou todos
Em 1907 fundou a empresa The Madeira-Mamoré Railway os seus títulos e perdeu tudo. Ficou arruinado, mas não se
Company e adquiriu do brasileiro Joaquim Catramby, os afastou do Brasil. Seis anos depois, fundou a Itabira Iron Ore
direitos de construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, Company e, como última investida, criou a Acesita. No dia 04
na qual aplicou, inicialmente, onze milhões de dólares. de agosto de 1953, o ex-dono da Madeira-Mamoré,
Empreendedor decidido, o “Último Titã”, como era responsável pelo surgimento de Porto Velho como núcleo
chamado pela imprensa norte-americana, além de comandar a habitacional, faleceu em Nova York, aos 89 anos de idade, após
épica construção da ferrovia Madeira-Mamoré foi o uma cirurgia mal sucedida no cérebro, na simples condição de
responsável pelo surgimento da cidade de Porto Velho, na diretor assalariado de suas ex-empresas, que fundou e perdeu
madeira em que, naquele ano autorizou à empreiteira May, em Wall Street.
Jeckyll & Randolph a transferir a estação inicial da estrada de
ferro Madeira-Mamoré, do povoado de Santo Antônio, A Comissão Rondon
pertencente ao mato Grosso, para o local situado a sete
quilômetros cachoeira abaixo, em terras do Amazonas. Com Paralelamente à construção da ferrovia Madeira-Mamoré
essa decisão, ele não apenas alterou a rota e a distância dos e a ocupação da região do Alto Madeira, uma outra ação
pontos extremos da ferrovia, como proporcionou o política contribuiu para aumentar a densidade demográfica
surgimento de Porto Velho como núcleo habitacional. Para das terras que constituem o Estado de Telegráficas
isto, contratou, em Belém, mais de uma centena de Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, seção
trabalhadores para o desmatamento da área onde seriam Cuiabá/Santo Antônio do Rio Madeira, com ramal em Guajará-
implantados o centro administrativo, a estação inicial da Mirim. Criada pelo presidente da República, Afonso Pena, essa
ferrovia, as oficinas e as casas para técnicos e operários. Em Comissão tinha por finalidade implantar linhas e estações
1908, ordenou que fossem traçadas ruas e avenidas com a telegráficas nos sertões mato-grossenses. Seus pontos
finalidade de organizar a cidade que ele imaginava surgir. No extremos ficavam em Cuiabá e na Vila de Santo Antônio do Rio
entanto, o criador de Porto Velho jamais esteve na região. Madeira, localizada à margem direita do rio Madeira, à sete
Baseava-se exclusivamente em Belém, de onde comandava seu quilômetros da fronteira do Estado do Mato Grosso com o do
império amazônico. Amazonas. O comando de tão importante missão foi entregue
Percival Farquhar continuou ampliando seus domínios no ao militar e sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon,
Brasil. Em 1911, fundou a Southern Brazil Lumber & oficial do Exército e engenheiro-militar, de quem a Comissão
Colonization, com o objetivo de explorar madeira em larga herdou o próprio nome. Ficou nacionalmente conhecida como
escala no Paraná. Para construir a estrada de ferro São Paulo / Comissão Rondon.
Rio Grande do Sul, recebeu do governo federal uma faixa de Além de implantar as linhas telegráficas, a Comissão
terra de trinta quilômetros de largura, equivalente a 180 mil Rondon exerceu outras importantes funções nos sertões mato-
hectares, que atravessava quatro Estados, São Paulo, Santa grossenses, como o reconhecimento de fronteiras, inclusive
Catarina, Paraná e Rio Grandes do Sul, onde instalou dezenas entre os seringais da região, as determinações geográficas, o

História do Estado de Rondônia 11


APOSTILAS OPÇÃO

estudo e a pesquisa de riquezas minerais, do solo, do clima, das No dia 1º de janeiro de 1915, em solenidade na Câmara
florestas, dos rios conhecidos e dos que foram descobertos. O Municipal de Santo Antônio do Rio Madeira, o então major
estudo do meio-ambiente e do ecossistema também fazia parte Cândido Mariano da Silva Rondon inaugurou a Linha
de suas ações. Entre 1908 e 1915, a Comissão catalogou 350 Telegráfica Estratégica Cuiabá / Santo Antônio, com ramal em
espécies de árvores e colecionou 752 tipos de animais e Guajará-Mirim. A missão estava cumprida. Naquele dia,
insetos. Rondon recebeu uma comitiva da associação comercial da Vila
Outra proposta da Comissão Rondon era estimular a de Santo Antônio, que lhe entregou um cartão de ouro,
ocupação humana da região, definitivamente, a partir de suas simbolizando a gratidão dos munícipes. Em 1916, Rondon
estações telegráficas e da construção de trechos de estradas inaugurava a Estação Telegráfica de Ariquemes, na região que
que lhe davam acesso. Formada basicamente por militares e os seringueiros denominavam “Papagaio”, às margens do rio
civis indicados pelo governo ou escolhidos por seu próprio Jamary. Os objetivos da Comissão Rondon foram alcançados.
chefe, a Comissão Rondon também recebia prisioneiros As linhas telegráficas foram implantadas e o processo de
políticos e criminosos comuns, desterrados para o Amazonas ocupação humana da região ganhou um novo modelo, a partir
ou Acre. Estes, eram requisitados nos navios ou já vinham das estações telegráficas que geraram em suas cercanias
previamente destinados para realizar os serviços mais importantes aglomerados urbanos. Ao longo do tempo, a
pesados. Portanto, era comum ocorrerem motins, deserções e maioria desses núcleos foram transformados em vilas, cidades
sabotagens. Esses casos eram severamente punidos com e em grandes municípios como Vilhena, Pimenta Bueno,
castigos físicos, muitas vezes aplicados pelo próprio Rondon. Presidente Hermes, (hoje Presidente Médici). Presidente Pena,
O principal objetivo da Comissão Rondon era o de ligar, (hoje Ji-Paraná), Jarú, e Ariquemes.
pelo fio telegráfico, os territórios do Amazonas e do Mato O povoamento inicial ao redor das estações telegráficas era
Grosso, completando o trecho Cuiabá / Rio de Janeiro. Para feito através dos picadões de quarenta metros, abertos para
cumprir sua missão, Cândido Mariano da Silva Rondon que em seu eixo fossem plantados os postes que sustentavam
penetrou nos sertões dos Parecis com destino ao vale do os fios telegráficos. Assim, a Comissão Rondon constituiu-se
Madeira, no início de 1907. No dia 1º de agosto daquele ano, em uma nova via de comunicação terrestre, na medida em que
alcançou o vale do Juruena. No dia 7 de setembro de 1908 foi modificou as trilhas primitivas então existentes. A esta nova
inaugurado o destacamento central de Juruena, sob o comando via de acesso os seringueiros chamavam “O Fiel de Rondon”,
do tenente Joaquim Ferreira da Silva. Em 12 de outubro de posto que, passaram a orientar-se pelos picadões, pelos postes,
1911, era inaugurada a Estação Telegráfica de Vilhena, cuja e, sobretudo, pelos fios telegráficos que chamavam de “As
denominação foi uma homenagem de Rondon ao seu ex-chefe, Línguas de Mariano”, em virtude do grande desbravadores
Álvaro Coutinho de Melo e Vilhena, maranhense, engenheiro- preferir ser tratado pelo seu segundo nome, Mariano.
chefe da Organização da Carta Telegráfica Pública. A partir de Coube ao etnólogo Roquette Pinto, legionário da Comissão
então, formou-se uma coincidência histórica: no mesmo Rondon, o entendimento da função política dos picadões
período em que na região do Alto Madeira ocorria a épica abertos pela comissão chefiada por Cândido Mariano da Silva
construção da ferrovia Madeira Mamoré e Porto Velho surgia Rondon, ao designa-los “A Estrada de Rondon” ou
como núcleo habitacional, uma outra epopeia tinha início nos simplesmente “Rondônia”, que se construiu a partir de 1932, a
sertões do Parecis que deu origem ao povoamento da região rodovia BR-364, a estrada de Rondon. Mas, a Comissão Rondon
onde se ergueria a cidade de Vilhena. teve sérias complicações de ordem política. Foi severamente
A Comissão Rondon empreendeu várias expedições. A que criticada e perseguida pelo governo revolucionário de Getúlio
se dirigiu a Santo Antônio do Rio Madeira, conhecida como Vargas, a partir de 1930, que culminou com a prisão do general
Seção Norte, ficou constituída por quarenta e dois homens, Rondon e a quase destruição das estações e linhas telegráficas.
comandada pelo próprio Rondon e tinha os seguintes chefes: O governo Vargas transformou a estrutura das estações
Dr. Alípio Miranda Ribeiro, geólogo; Dr. Joaquim Augusto telegráficas da Comissão Rondon, setor Cuiabá / Santo Antônio
Tanajura, médico; tenentes João Salustiano Lira, astrônomo; do Rio Madeira, no 3º Distrito Telegráfico de Mato Grosso, sob
Emanuel Silva do Amarantes e Alencarliense Fernandes Costa, a chefia do capitão Aluízio Pinheiro Ferreira.
topógrafos, além de Antônio Pirineus de Souza, chefe de
comboio. Todas as atividades da Comissão Rondon eram O Marechal Rondon5
documentadas pelos fotógrafos Luiz Leduc e Benjamim
Rondon e pelo cinegrafista Luiz Thomas Reis. Posteriormente, Cândido Mariano da Silva, nasceu na sesmaria do Morro
formou-se uma segunda expedição para o mesmo percurso, na Redondo, localidade de Mimoso, arredores de Cuiabá, MT, no
qual foram incluídos o farmacêutico Canavários e o tenente dia 05 de maio de 1865. Aos 16 anos de idade era professor
Antônio Vilhena. Em 13 de junho de 1913 a Comissão Rondon primário. Órfão de pai, foi adotado por um tio, de quem
inaugurou a Estação Telegráfica do Jamary. No ano seguinte incorporou o nome Rondon, aos 25 anos de idade. Formou-se
era inaugurada a Estação Provisória de Santo Antônio do Rio oficial do Exército e engenheiro-militar, diplomado em
Madeira. matemática e ciências físicas e naturais na Escola Militar do
Para instalar os postes, os fios telegráficos e as estações, a Rio Vermelho, no Rio de Janeiro. Como 2º tenente participou
Comissão Rondon levou, somente no ano de 1914, sete meses da proclamação da República, ao lado do Marechal Deodoro da
e nove dias para percorrem o trecho Vilhena / Vila de Santo Fonseca. Em 1890 retornou a Cuiabá e, por indicação do
Antônio. Foram 1.297 quilômetros por terra e 1.138 por via tenente-coronel Benjamin Constante, foi nomeado ajudante-
fluvial, em canoas. Destes, 713 pelo rio Ji-Paraná, 135 pelo Jaru, de-ordem do tenente-coronel Antônio Ernesto Gomes
e 290 pelo Jacy-Paraná. Acrescentem-se ainda duzentos Carneiro, chefe da Comissão Construtora das Linhas
quilômetros percorridos nas variações estudadas. No total Telegráficas Estratégicas de Goiás ao Mato Grosso.
foram 2.635 quilômetros explorados em terras dos sertões No ano de 1900, no posto de major, Rondon assumiu a
mato-grossenses. Entre abril e dezembro de 1914 foram chefia desta Comissão em substituição a Gomes Carneiro,
construídos 372.235 metros de linha telegráfica e inauguradas destacado para comandar as tropas federativas que lutavam
as estações de Jaru, Pimenta Bueno, Presidente Hermes e no Rio Grande do Sul, onde veio a falecer. Nesse cargo, que
Presidente Pena. exerceu até 1906, Rondon instalou 11.800 quilômetros de
linhas telegráficas. Em 1907, o presidente da República,

5 Texto adaptado de Pioneiros. Ocupação Humana e Trajetória Política de


Rondônia - Francisco Matias (1998).

História do Estado de Rondônia 12


APOSTILAS OPÇÃO

Afonso Pena, em reconhecimento aos seus serviços, nomeou-o patente de Marechal, o topo da carreira militar na época. Foi o
chefe da Comissão Construtora das Linhas Telegráficas Congresso Nacional que outorgou-lhe essa patente no dia 05
Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas, com a missão de de maio de 1955, quando completou 90 anos de idade, em
ligar a Bacia do Prata à do Amazonas. Essa comissão ficou reconhecimento por seus serviços prestados ao País. O
internacionalmente conhecida por Comissão Rondon. Marechal Rondon, “o homem que tinha na sola dos pés o mais
Para implantar a linha telegráfica, seção Cuiabá / Santo longo caminho já percorrido”, faleceu no dia 19 de janeiro de
Antônio do Rio Madeira, com ramal em Guajará-mirim, a 1958, no Rio de Janeiro, aos 93 anos de idade, onde foi
primeira expedição da Comissão Rondon chegou ao sertão dos enterrado com honras de chefe de Estado. Seu nome está
Parecis em 07 de setembro de 1907, fixou acampamento às escrito em letras de ouro maciço na Sociedade de Geografia de
margens do rio Juruena e implantou a primeira estação Nova York, EUA, como desbravador e herói dos sertões mato-
telegráfica. No ano seguinte, Rondon organizou sua segunda grossenses, ao lado de outros grandes exploradores mundiais.
expedição. Em 1908, com a terceira, alcançou o vale do
Madeira. No dia 25 de dezembro daquele ano, já estava na Vila Território federal de Guaporé e a criação do estado de
de Santo Antônio do Rio Madeira, ponto final da sua missão. Rondônia.
Por volta de 1916, o mato Grosso e parte do Amazonas
estavam ligados ao restante do país por linhas telegráficas. O Território Federal do Guaporé é a denominação antiga
Foram 2.270 quilômetros de linhas e vinte e oito estações do Estado de Rondônia, dada quando do desmembramento
telegráficas implantadas. Militar e sertanista, Cândido Mariano deste do Estado do Amazonas de do Estado do Mato Grosso,
da Silva Rondon realizou um trabalho de vinte anos, cujos ocorrido em 13 de setembro de 1943. O nome antigo era uma
resultados incluem um levantamento de cinquenta mil referência ao Rio Guaporé, que divide o Brasil da Bolívia.
quilômetros, duzentas novas coordenadas geográficas, doze Conforme o Decreto-lei nº 5812/54, que o criou, seus
rios descobertos, além de minas de ouro, diamante e limites foram assim estabelecidos:
manganês. Suas expedições penetraram em várias direções, - a Noroeste, pelo rio Ituxí até à sua foz no rio Purús e por
cerca de 1.500 km nos sertões mato-grossenses, que incidem este descendo até à foz do rio Mucuim;
a maior parte das terras formadoras do Estado de Rondônia, e - a Nordeste, Leste e Sueste, o rio Curuim, da sua foz no rio
1.800 km no Amazonas. Purús até o paralelo que passa pela nascente do Igarapé Cuniã,
Descendente dos índios Terenas, Guanás e Bororos, continua pelo referido paralelo até alcançar a cabeceira do
Rondon considerava desumana a exploração do trabalho Igarapé Cuniã, descendo por este até a sua confluência com o
indígena por particulares. Tanto quanto possível, procurou rio Madeira, e por este abaixo até à foz do rio Gi-Paranã (ou
evitar a utilização de índios no trabalho de implantação da Machado) subindo até à foz do rio Comemoração ou Floriano
rede telegráfica. Tinha como lema em relação aos povos prossegue subindo por êste até à sua, nascente, daí segue pelo
indígenas, “morrer se preciso for, matar nunca”. Por tudo isto, divisor de águas do planalto de Vilhena, contornando-o até à
fundou em 1910, o Serviço de Proteção aos Índios e nascente do rio Cabixi e descendo pelo mesmo até à foz no rio
Localização dos Trabalhadores Nacionais, SPI, do qual foi o Guaporé;
primeiro diretor. Os índios o chamavam de “O Grande Chefe”. - ao Sul, Sudoeste e Oeste pelos limites com a República da
Sempre à altura da confiança indígena, implantou, em 1952, o Bolívia, desde a confluência do rio Cabixí no rio Guaporé, até o
Parque Nacional do Xingu. A Comissão Rondon, além de limite entre o Território do Acre e o Estado do Amazonas, por
implantar as linhas e estações telegráficas, realizou cuja linha limítrofe continua até encontrar a margem direita
importantes pesquisas geográficas e científicas, estudando a do rio Ituxí, ou Iquirí.
fauna, a flora, o solo e o subsolo dos sertões mato-grossenses.
Entre suas descobertas, destacam-se as legendárias Minas de Em 1944 houve um reordenamento territorial. Um dos
Urucumacuã, no sertão dos Parecis. seus municípios à época, Lábrea, e toda a região a que este
Mas Rondon foi mais além. Em 1913 acompanhou o ex- pertence e suas adjacências foi transferida para o Estado do
presidente dos Estados Unidos da América, Theodore Amazonas. A Lei Ordinária nº 2731, de 17 de fevereiro de
Roosevelt, em sua expedição à Amazônia, que teve seu ponto 1956, muda a denominação do Território Federal do Guaporé
alto no mapeamento do rio da Dúvida, afluente do rio madeira, para Território Federal de Rondônia, em homenagem ao
hoje denominado rio Roosevelt. Acusado de punir fisicamente sertanista Marechal Cândido Rondon (1865-1958).
os membros insubmissos de suas expedições foi submetido a
um Conselho de Guerra que terminou por absolvê-lo. Lei nº 2.731, de 17 de Fevereiro de 1956
Em 1924, aos 59 anos de idade, foi promovido a general-
de-brigada. Em 1927, assumiu o cargo de Inspetor de Muda a denominação do Território Federal do Guaporé
Fronteiras. Mas, foi duramente perseguido pelo governo para Território Federal de Rondônia.
Vargas por não haver apoiado a revolução de 1930. Positivista,
Rondon não admita golpes contra governos constituídos e O Presidente da República: Faço saber que o Congresso
Manteve-se fiel ao presidente deposto, Washington Luiz. Em Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
consequência, o governo provisório o destituiu dos cargos de
chefe da Comissão Estratégica do Mato Grosso ao Amazonas, Art. 1º É mudada a denominação de Território Federal do
da Inspetoria-geral de Fronteiras, do 3º Distrito Telegráfico de Guaporé para Território Federal de Rondônia.
Mato Grosso, e o prendeu. Libertado, ingressou na reserva, na
patente de general-de-divisão, após 47 anos de serviços. Art. 2º Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Militar de carreira brilhante, numa época conturbada
politicamente, só esteve em combate durante a revolução Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário.
tenentista de 1924, quando comandou as tropas federais,
derrotadas pela estratégia dos revolucionários. Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de 1956; 135º da
Na vida civil, ingressou no Itamaraty sob o comando do Independência e 68º da República.
chanceler José Maria Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio JUSCELINO KUBITSCHEK
Branco. Como diplomata, sua mais importante atuação foi Nereu Ramos
como mediador entre o Peru e a Colômbia na questão de porto
de Letícia, em 1934, aos 70 anos de idade. Mas o velho
bandeirante amargava uma frustação: não ter alcançado a

História do Estado de Rondônia 13


APOSTILAS OPÇÃO

Implantação do Estado de Rondônia6 mapas levados pelo governador, ordenou ao DNER –


Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – a imediata
O Estado de Rondônia foi criado através da lei execução dos trabalhos. A meta era inaugurar a rodovia no
complementar 041, de 22 de dezembro de 1981, aprovada final do mesmo ano.
pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da No dia 04 de janeiro já haviam sido distribuídos os trechos
República João Baptista de Oliveira Figueiredo. Seu primeiro pelas companhias: Nacional, Viatécnica, Sérgio Marques de
governador foi o coronel do Exército Jorge Teixeira de Oliveira, Souza, Cib. CC., Camargo Corrêa, Triângulo Mineiro e CC. BE.,
nomeado no dia 29 de dezembro de 1981, pelo presidente da até o local denominado Alto Paraguai, no estado do Mato
República João Baptista de Oliveira Figueiredo. A instalação do Grosso, onde estava assentada uma companhia do Exército.
Estado (posse do governador e secretariado) ocorreu no dia O presidente Kubistcheck tinha por norma avançar no
04 de janeiro de 1982. tempo, já que seu mandato estava chegando ao fim, por isso ao
No ano de sua criação o Estado de Rondônia estava encontrar o primeiro obstáculo no transporte das máquinas
constituído por 13 municípios (Porto Velho, a capital, Guajará- entre o Rio de Janeiro e Porto Velho, mandou descarregar o
Mirim, Ariquemes, Jaru, Ouro Preto do Oeste, Ji-Paraná, navio Rio Tubarão, que estava designado para viagem ao
Presidente Médici, Cacoal, Espigão do Oeste, Pimenta Bueno, Oriente Médio, e ordenou que nele fossem transportadas as
Vilhena, Colorado do Oeste e Costa Marques). máquinas das companhias empreiteiras.
Área Geográfica: 238.512,8 km2, representando 6,19% da No dia 03 de janeiro de 1961, chegava à Porto Velho a
região Norte e 2,80% do País. primeira leva de construtores da BR-29 para realizar em 9
É o 3º Estado em extensão territorial da região Norte. No meses e 14 dias a desmatação e terraplanagem, permitindo em
contexto nacional, constitui-se o 15º em extensão territorial e época de verão realizar em 30 horas uma viagem de Cuiabá à
o 23º em termos populacionais. Porto Velho.

Instalação da rodovia federal BR-3647 A pavimentação


Quando Rondônia alcançou sua autonomia,
Em 1944, uma comissão chefiada pelo engenheiro Yêdo transformando-se em Estado, apenas o trecho
Laza organizou um plano rodoviário e incluiu nele uma ligação Ariquemes/Porto Velho, com 192 quilômetros, era asfaltado.
rodoviária entre o Acre e as regiões do Centro Sul do País. Tal Destes, 48 ainda em barro, onde estava a reserva para a
ligação recebeu o nome de “rodovia acreana” e a designação de represa de Samuel. Os trabalhos ali foram executados pelo 5º
BR-029, cruzando as cidades de Cuiabá, Porto Velho, Rio BEC, mas toda a rodovia já estava sofrendo reparos.
Branco e Cruzeiro do Sul, até a fronteira com o Peru, fazendo a Ao chegar à Porto Velho para tomar posse como
conexão com a rodovia Pan-Americana. governador do Território, Jorge Teixeira de Oliveira
No dia 13 de janeiro de 1945, o então governador do estabeleceu metas de trabalho, entre elas a pavimentação da
Território do Guaporé, Aluízio Ferreira, criou a 2ª Companhia BR-364. Como nenhum outro governador havia conseguido
Independente, que tinha a missão de construir a rodovia no atingir o objetivo, imediatamente os opositores fizeram correr
rastro da linha telegráfica de Rondon que ligaria Porto Velho à uma onda de boatos para que Teixeira caísse em descrédito.
Vilhena. Jorge Teixeira não se deixou abater pelas críticas da
A construção de uma estrada ligando Mato Grosso à oposição. Depois de várias viagens e contatos com autoridades
Rondônia era necessária para o povoamento e colonização da ligadas ao Território, conseguiu que fossem assinados, pelo
área. Os sertões e a floresta virgem seriam vencidos para que ministro Eliseu Resende, na presença do então presidente João
os tesouros da região pudessem ser escoados. Baptista Figueiredo, 19 contratos para a pavimentação da BR-
Sob o comando do capitão engenheiro Ênio Pinheiro, 364, rodovia Cuiabá-Porto Velho, no trecho que vai de Cáceres,
chegou em 09 de julho do mesmo ano o primeiro grupo de no Mato Grosso, a Ariquemes, numa extensão de 1.040
homens para construir a estrada. Dois anos mais tarde, a quilômetros.
companhia dava por encerrada as atividades, com apenas 55 De importância decisiva não só para o abastecimento de
quilômetros explorados e o desaparecimento de um de seus Porto Velho e do Território, mas também para o surto de
homens mais ilustres, o tenente Fernando Gomes de Oliveira. desenvolvimento da agricultura e da criação de gado, foi a
A BR-029 foi obra do governo de Juscelino Kubitschek, abertura da BR-364, que ocasionou um grande movimento
num grande esforço para tirar a Amazônia do isolamento. migratório com destino à região. Na década de 70 do século XX,
“Demonstrou o Sr. Kubitschek perfeita compreensão do em decorrência do alto tráfego (migração e transporte de
problema da falta de ligação da mais rica região do País com o madeiras), as condições da BR-364 eram deploráveis.
resto do território nacional” – disse na época o governador Por incumbência do governo militar, em 1966 o 5º
Paulo Leal. batalhão de engenharia e construção assumiu as obras de
Foram grandes as dificuldades encontradas pelas firmas manutenção e conclusão da rodovia.
empreiteiras contratadas. Durante muito tempo a estrada era
apenas um “rasgão” mal acabado nas selvas de Rondônia. Ao 5º batalhão deve-se também a construção do trecho da
Verdadeiras trilhas de lama e pinguelas, onde só os pioneiros BR 425, ligando Porto Velho e Guajará-Mirim, que veio
se atreviam passar. O percurso de Vilhena à Porto Velho substituir a EFMM, desativada em 1972.
chegava a ser feito em 12 dias, como relata o escritor Amizael
Gomes da Silva em “No Rastro dos Pioneiros”. Questões

O recomeço 01. (História e Geografia de Rondônia/Cesgranrio/TJ-


Durante uma reunião de governadores com o Presidente RO/Economista) A abertura do eixo viário BR-364 trouxe
da República, nos primeiros dias de fevereiro de 1960, o então para Rondônia um aumento em seu crescimento populacional,
governador do Território, Paulo Leal, demonstrou a colocando um fim ao isolamento rodoviário do Estado em
necessidade de reiniciar a construção da BR-029. Juscelino relação às demais regiões do país. Entretanto, a partir de 1980,
Kubitschek, empolgado com uma série de recortes de jornais e

6 (2013, 09). Historia de rondonia. TrabalhosFeitos.com. Disponível em: http://rondoniaemsala.blogspot.com.br/2012/03/br-364-rodovia-rasga-


http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Historia-De-Rondonia/32490058.html floresta.html>
7 ARRUDA. SÔNIA. BR-364. A rodovia rasga a floresta. História e Geografia de

Rondônia. Disponível em: <

História do Estado de Rondônia 14


APOSTILAS OPÇÃO

(A) os problemas provenientes do caos urbano pelo afluxo influenciaram a alteração na matriz energética brasileira, cuja
da população desempregada de Brasília, Cuiabá e Goiânia principal característica é o estímulo ao transporte de cargas
cresceram. via rede fluvial.
(B) os garimpeiros, através da extração de cassiterita,
estimularam a presença de grupos multinacionais que 04. O início da exploração da borracha amazônica foi
preservaram antigos núcleos coloniais. próspero, mas a bonança durou pouco. Em 1912, a produção
(C) a estrada, ao contrário do previsto, representou para os atingia o pico de 42 mil toneladas. A borracha representava
trabalhadores locais uma via de saída para as grandes capitais 40% de todas as exportações nacionais. Em um segundo
do Sudeste. momento, entre 1942 e 1945, a borracha teve uma sobrevida
(D) a colonização foi acelerada com a vinda de migrantes que não foi com a mesma pujança do início do século, e logo
nordestinos como mão-de-obra para os seringais da voltou a perder em expressão no cenário econômico nacional.
Amazônia. Nas duas fases mais expressivas da produção, um fator
(E) a concentração fundiária expulsou os pequenos apontado abaixo pode ser considerado como responsável pelo
agricultores das melhores terras, situadas nas proximidades declínio da borracha brasileira:
das vias de circulação, provocando, assim, zonas de tensão. (A) falta de crédito à extração e ao beneficiamento do látex.
(B) precariedade da mão de obra usada pelos seringueiros.
02. (História e Geografia de Rondônia/Cesgranrio/TJ- (C) dificuldade para escoar a produção até o porto de
RO/Economista) As tentativas de construção da Estrada de Belém.
Ferro Madeira – Mamoré foram muitas durante o século XIX, (D) concorrência da borracha produzida pelos asiáticos.
porém somente com a assinatura do Tratado de Petrópolis, em (E) população indígena dificultava o acesso aos seringais.
1903, a obra foi finalmente incrementada. Em 1912, concluía-
se a ferrovia cuja saga da construção havia se iniciado em 05. (TCE-RO - Técnico em Informática – Cesgranrio) A
1872. Sobre a saga da construção, assinale a afirmativa região do atual Estado de Rondônia passou a integrar
correta. oficialmente a colônia portuguesa na América somente em
(A) Os ataques indígenas aos acampamentos e as doenças 1750, quando foi firmado o Tratado de Madri, cuja base para
tropicais que dizimavam os trabalhadores somaram-se à determinações acerca de territórios foi o princípio do uti
dificuldade de transpor as regiões de mata fechada e rios possidetis, segundo o qual:
encachoeirados. (A) a aquisição dos territórios reivindicados só pode ser
(B) O capital utilizado foi exclusivamente nacional, o que realizada através da compra.
explica os diversos períodos de paralisação da obra pela (B) as terras situadas às margens dos rios Guaporé e
dificuldade de investimento, consequência de períodos Mamoré passam a pertencer aos proprietários das minas de
críticos da economia nacional. Potosí.
(C) A construção da Estrada de Ferro Madeira – Mamoré (C) os territórios anteriormente ocupados pelos
interrompeu o processo de integração regional em curso na espanhóis ficam protegidos por expedições marítimas e
época, já que deslocou para a obra contingentes militares terrestres.
empenhados no desbravamento da Amazônia. (D) os territórios devem pertencer a quem realmente os
(D) A Bolívia dificultou a obra criando obstáculos diversos, ocupa.
desde o simples não-cumprimento dos trâmites legais até a (E) todos os acidentes geográficos devem alterar sua
ocupação militar do Acre, em 1899. denominação, se mudarem os proprietários dos respectivos
(E) A maior parte da mão-de-obra utilizada na construção territórios.
da ferrovia constituiu-se de indígenas apresados, provocando
extermínio da população nativa ao longo do trajeto da 06. (SESAU-RO - Técnico em Enfermagem - Funcab) A
ferrovia. construção da ferrovia Madeira-Mamoré, situada no Estado de
Rondônia, beneficiou o Brasil e outro país da América do Sul.
03. (História e Geografia de Rondônia/Cesgranrio/TJ- Este país é:
RO/Economista) As discussões em torno das obras da (A) Bolívia;
hidrelétrica de Santo Antônio – a primeira do complexo (B) Peru;
hidroviário e hidrelétrico no Rio Madeira, em Rondônia, (C) Chile;
permitem refletir sobre a necessidade de crescimento (D) Paraguai;
econômico e os danos que isso pode provocar ao meio (E) Argentina.
ambiente. Sobre estes fatos, é correto afirmar que
(A) os danos que este projeto provoca ao meio ambiente 07. (SESAU-RO - Assistente Administrativo – Funcab)
podem levar a uma intervenção norte-americana na região, A construção da ferrovia Madeira-Mamoré, onde hoje é o
sob o argumento de desrespeito ao Protocolo de Kioto. Estado de Rondônia, resultou de um acordo feito entre Brasil
(B) os maiores danos que o projeto causará serão e Bolívia em 1903. Esse acordo ficou conhecido como o
relacionados aos monumentos que constituem o patrimônio Tratado:
histórico, já que a aldeia de Santo Antonio foi a primeira do (A) de Guaporé;
atual Estado de Rondônia. (B) da Amizade;
(C) a construção de eclusas e barragens necessárias ao (C) de Navegação;
projeto implicará maior dimensão dos impactos ambientais, (D) Amazônico;
dos problemas sociais e do desmatamento na Amazônia, (E) de Petrópolis.
apesar da grande malha hidrográfica e da necessidade de
modernização econômica da Amazônia Ocidental. 08. (MP-RO - Oficial de Diligências – Cesgranrio) A
(D) a implantação de projetos desse porte na rede migração para Rondônia, a partir da década de 70, foi
hidrográfica da Amazônia ocidental facilitará o escoamento e resultado de um grande êxodo rural ocorrido no centro-sul do
o transporte de produtos agropecuários da região, contendo o país ocasionado pelos fatores abaixo relacionados, EXCETO
avanço da fronteira agrícola e os conflitos fundiários em um. Assinale-o.
direção a Rondônia.
(E) a presença de elevado potencial hidrelétrico e a recente
demanda urbano-industrial da Amazônia Ocidental

História do Estado de Rondônia 15


APOSTILAS OPÇÃO

(A) Evasão dos trabalhadores rurais, a partir da


introdução das leis trabalhistas no campo.
(B) Ênfase na agricultura comercial com a mecanização
das lavouras.
(C) Substituição da produção agrícola tradicional, como
a do café, pela plantação de soja.
(D) Expansão do capitalismo no campo e especialização
da produção.
(E) Reativação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

09. Desde o período colonial, a ocupação e a colonização da


região dos vales dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé foram
focos de preocupação dos governos brasileiros porque essa
área:

(A) representava importante polo de atividade mercantil,


vinculado à formação de lavouras e exportação de cacau.
(B) representava importante via de rota comercial e seu
controle garantia a posse territorial e a integridade de
fronteira.
(C) foi dominada por missões jesuíticas que passaram a
constituir um "Estado religioso dentro do Estado".
(D) estava sujeita às frequentes inundações da Bacia
Amazônica, que destruíam qualquer tentativa de ocupação da
região.
(E) viabilizou o apresamento de indígenas para trabalhar
nos seringais da Amazônia Ocidental.

10. (DER-RO – Procurador-Autárquico – FUNCAB)


Muitos consideram a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré como
precursora da rodovia BR-364. O início da sua construção está
vinculado ao Tratado de Petrópolis que resolveu as disputas
territoriais entre o Brasil e a Bolívia, ficando a construção da
ferrovia como contrapartida para concretizar uma aspiração
boliviana no que diz respeito ao problema de:
(A) realizar a ligação ao Pacífico.
(B) integração ao Centro-Oeste.
(C) acessibilidade ao rio Amazonas.
(D) escoamento de sua produção mineral.
(E) ocupar a fronteira como Peru.

Respostas

01.E / 02. A / 03. C / 04. D / 05. D / 06. A / 07. E / 08. E


/ 09. B / 10. C

Anotações

História do Estado de Rondônia 16

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