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CURITIBA
2007
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CURITIBA
2007
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RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................05
1 SOCIEDADE, CULTURA E PRODUÇÃO CULTURAL NO BRASIL.................07
1.1 O que é sociedade..........................................................................................07
1.2 O que é cultura................................................................................................10
1.3 Sociedade e cultura no Brasil ......................................................................13
2 SOCIEDADE DE CONSUMO E O MERCADO CULTURAL..............................17
2.1 Identidade Cultural.........................................................................................17
2.1.1 A identidade cultural na pós-modernidade...............................................17
2.1.2 O impacto da globalização na identidade cultural...................................19
2.2 O mercado cultural.........................................................................................21
2.2.1 A indústria cultural......................................................................................21
2.2.2 Cultura superior, cultura média e cultura de massa................................23
2.2.3 Funções da masscult .................................................................................24
3 PESQUISA DE CAMPO......................................................................................27
3.1 Delineamento da pesquisa de campo..........................................................27
3.2 Apresentação, análise e interpretação dos fatos........................................29
3.2.1 Entrevista com Laís Mann..........................................................................29
3.2.2 Entrevista com Eduardo Baggio................................................................31
3.2.3 Entrevista com Luiz Roberto Meira...........................................................35
3.2.4 Comparação entre as respostas................................................................39
3.3 Considerações finais......................................................................................41
CONCLUSÃO.........................................................................................................43
REFERÊNCIAS......................................................................................................45
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS...........................................................................46
APÊNDICES...........................................................................................................47
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INTRODUÇÃO
Toynbee (1976) afirma que os seres humanos são animais sociais, sendo
seus ancestrais os responsáveis pela sua formação, uma vez que se estes não
tivessem sido membros de uma sociedade, não teriam se tornado humanos. Seus
descendentes não sobreviveriam se a sociedade fosse exterminada; portanto, em
conseqüência das suas necessidades naturais e econômicas, eles se fazem seres
sociais. Até mesmo os indivíduos que fogem aos padrões das regras sociais são
considerados membros da sociedade; essa marginalização, dependendo do seu
grau de discordância dos comportamentos permitidos, pode vir a torná-los membros
parasitas, sem que percam a possibilidade de um dia virem a fundar novas
sociedades. Fernandes (1973, apud CARDOSO e IANNI, 1973, p.26) também
possui essa mesma visão em relação à estrutura social humana, afirmando que a
humanidade vive em um ambiente domesticado por si mesma, pelos homens.
Segundo Firth (1973, apud CARDOSO e IANNI, 1973, p.35), a estrutura social
se apresenta como a base das relações humanas, ou seja, a maneira como a
sociedade é dividida é conseqüência da maneira como as pessoas se relacionam
entre si.
Elkin (1968) acredita que a sociedade pode ser vista sob vários pontos de
vista, apresentando aspectos distintos entre estes. O autor divide a sociedade em
seis perspectivas distintas. A primeira diz respeito às normas e valores, sendo as
normas referentes aos padrões de comportamento comuns aos membros da
sociedade. Já os valores se referem aos conceitos, às idéias que se julgam certas
ou erradas.
A perspectiva seguinte se refere à posição e ao papel. A posição corresponde
à localização do indivíduo na divisão social, e o papel nas atitudes previstas das
pessoas ao ocuparem determinada posição na sociedade.
A próxima baseia-se nas instituições, as quais possuem normas, posições e
direcionamentos próprios:
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Santos (2003) também acredita que não é possível definir cultura com um
único conceito. Todos esses estudos resultaram e ainda resultam em diversas
definições do que realmente seria a cultura. De um modo geral, pode-se dizer que a
cultura busca entender os meios que levam os seres humanos aos seus modos de
convivência e às suas expectativas em relação ao futuro. Na citação a seguir o autor
define as diferenças de conceituação em relação à cultura:
Cultura pode por um lado referir-se à alta cultura, à cultura dominante, e por
outro a qualquer cultura. No primeiro caso, cultura surge em oposição à
barbárie; cultura é então a própria marca da civilização. Ou ainda, a alta
cultura surge como marca das camadas dominantes da população de uma
sociedade; se opõe à falta de domínio da língua escrita, ou à falta de acesso
a ciência, à arte e à religião daquelas camadas dominantes. No segundo
caso, pode-se falar de cultura a respeito de qualquer povo, nação, grupo ou
sociedade humana. Consideram-se como cultura todas as maneiras de
existência humana. (SANTOS, 2003, p.35)
A cultura superior é aclamada por ser erudita, pura, por ser difícil de digeri-la
e por estar numa posição privilegiada perante a crítica. A cultura média é
chamada de midcult, seria uma cópia infiel e completamente referenciada da
cultura superior, sendo assim um tipo de cultura falsificada, fakecult. Já a
cultura inferior é chamada masscult, a cultura de massa, que está bem
distante da elitização da cultura superior e não tenta imita-la como a cultura
média, pois está bem distante da estética, além disso, sua função é
popularesca. (COELHO, 1987, p.13)
Contudo deve sempre ter a consciência de que cultura define-se como algo
que interage dinamicamente em reflexo a diversos aspectos, não podendo ser
caracterizada de uma única forma. Como exemplifica a citação a seguir:
Desse modo, o indivíduo busca no seu passado a origem de sua cultura, a fim
de se fortalecer no presente; para que dessa forma não seja engolido pelo sistema,
o de sobrevivência dos mais fortes.
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grupos são muito unidos quando o assunto é manipular a população para manter
a sociedade brasileira como está sem resolver seus problemas históricos como a
pobreza, a enorme desigualdade entre ricos e pobres e a falta de educação do
povo.” (SANTOS, 2006, p.3).
Santos (2006) ainda afirma que essas emissoras preocupam-se em inserir em
sua programação a veiculação de programas voltados ao consumismo e a futilidade.
Desse modo, a população brasileira apresenta sua filosofia de vida baseada no
conceito de que para se tornar alguém importante deve-se possuir um enorme
contingente de bens materiais; o autor conclui a afirmação citando a seguinte frase
individualista: “Ter vale mais do que ser”. (SANTOS, 2006, p.3).
Finaliza o assunto ao afirmar que os canais de televisão como também as
emissoras de rádio, são constituídos por concessões públicas pertencentes ao
Governo Federal e que desse modo o Governo apresenta a possibilidade de veto e
de cassação as concessões que apresentam a veiculação de programas
incentivadores à sexualidade e ao consumismo, ou seja, aos programas que não
apresentam programação educativa e cultural direcionados ao crescimento social.
Porém o autor afirma que esse é um fato inexistente no contexto brasileiro de
comunicação.
3 PESQUISA DE CAMPO
bastante alto pelo ingresso. Afirma ainda que o público de qualidade em Curitiba
é bastante restrito.
Quanto à qualidade das produções culturais locais a jornalista afirma que são
ótimas, e que não são melhores em conseqüência da falta de apoio proporcionada
pelos órgãos incentivadores e propagadores. Afirma ainda que: “Se nós temos um
evento importante em qualquer área, são chamados profissionais de fora, ou no
máximo os nossos que brilham lá fora.” (MANN, 2007, APÊNDICE A).
Ao comentar sobre a evolução do mercado cultural curitibano ao longo dos
anos em que atua no mercado, afirma que em sua opinião o mercado de arte em
Curitiba apresentou baixíssima evolução ao longo de trinta anos em que está
inserida no mercado. Afirma que no presente momento do mercado cultural local o
que ocorre é que a classe artística está dividida. Desenvolve a idéia dizendo que o
artista que permanece em Curitiba é o responsável pela formação de identidade
cultural local, é que esse apresenta coragem em relação ao fato de ser mais cômodo
se deslocar de sua cidade natal e ir a procura de sucesso em um mercado maior.
Fecha a entrevista com a seguinte afirmação: “Em minha opinião, o respeito ao
artista local é o fator de maior importância para que possamos nos pretender uma
cidade de primeiro mundo”. (MANN, 2007, APÊNDICE A).
A produção cultural carioca, a gente sabe mais ou menos que tem uma
definição, uma identidade; a gaúcha, a pernambucana e tal... E Curitiba não
tem sua identidade. Mas eu acho que isso por um lado é um fator muito
positivo. Acho que é uma cidade que está muito aberta; guardadas as
proporções eu acho que São Paulo é um pouco assim também, São Paulo
também não tem muita identidade. Mas tem uma diversidade muito grande.
(BAGGIO, 2007, APÊNDICE B)
O Brasil é formado por uma distância muito grande entre o grande sucesso
profissional em relação aos níveis de sobrevivência artística. Em Curitiba se
encontram atores que não são reconhecidos nacionalmente, atores que não
recebem valores estratosféricos como atores nacionais. Mas há muitos
anos há mais de dez anos, têm-se atores entre dois a seis anos que
recebem mais de dois mil reais por mês durante sua carreira. E isso não é
encontrado em vários centros como Rio - São Paulo, artistas de várias
áreas, em áreas de teatro que tem mais de dez anos de atuação e que não
conseguem perfazer seus mil reais por mês. (MEIRA, 2007, APÊNDICE C)
dinâmicos com relação ao público. Justifica ao dizer que a carência dos artistas
em relação ao aspecto empreendedor acaba por fazer com que a comunicação
entendida como plano de mídia seja ineficaz. Conclui que isso ocorre devida à falta
de consciência de que o artista precisa contratar profissionais especializados nessas
áreas, porém com o alto custo desse tipo de campanha o artista opta por deslocar
esse dinheiro para outras áreas dentro do próprio espetáculo.
Já em relação à qualidade das produções afirma que esse fato se deve ao
fato de que o artista não realiza plano de carreira. Finaliza fazendo a seguinte
afirmação: “Em qualquer outra profissão o profissional investe mais naquilo que já
conhece e no que sabe irá dar certo. E o artista é assim: dá certo ele quer tentar
uma coisa diferente.” (MEIRA, 2007). Afirma também que desse modo o artista está
sempre inserido em áreas previamente desconhecidas, para as quais não possui a
devida experiência para que ocorra certeza de bons resultados.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural. 9 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
109p.
NUNES, Benedito. Introdução à filosofia da arte. 3 ed. São Paulo: Ática, 1991.
128p.
SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2003. 89p.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
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PAIVA, Cláudio Cardoso de. Raízes e antenas do Brasil. 1999. Disponível em <http
://www.bocc.ubi.pt/pag/cardoso-claudio-raizes-antena-Brasil.pdf>. Acesso em: 30
abr. 2007.
APÊNDICE
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APÊNDICE A
Que visão você apresenta em relação ao mercado de produção cultural em Curitiba? É eficiente e de
acordo com as críticas nacionais de que Curitiba é uma cidade que apresenta produções de
qualidade; ou essa afirmação se restringe apenas ao Festival de Teatro de Curitiba?
Minha visão em relação à produção cultural em Curitiba se divide em duas partes:
Produção local e Produção nacional:
- A produção local não existe praticamente, pois os artistas não contam com apoios de patrocínios e
tão pouco com o apoio da mídia que preferem apoiar espetáculos globais que dão um retorno de
público garantido, a investir no "produto local", alavancando assim o incentivo e o conhecimento do
público com o artista local. Os teatros não oferecem as mesmas condições técnicas, até porque o
custo inviabilizaria ainda mais a produção.
- Quanto à produção nacional, nossa cidade ainda continua mesmo não sendo verdadeira, com a
fama de cidade laboratório, isso é coisa do passado. Mas a fama nos garante bons espetáculos
nacionais, inclusive com grandes estréias. Em relação ao festival de teatro, é claro que esse evento
nos coloca em destaque nacional, não posso fazer críticas, pois não assisto aos espetáculos.
Acredita que o mercado curitibano apresenta boas produções que acabam sendo prejudicadas pela
desvalorização cultural da própria população curitibana?
Acredito sim que nós temos excelentes produções teatrais e musicais que poderiam fazer muito
sucesso se não fôssemos tão autofágicos. Inclusive Curitiba possui uma das melhores escolas de
teatro do Brasil, haja vista que nossos artistas que saem daqui se sobressaem no cenário nacional,
em sua maioria. A população não conhece o artista curitibano e por isso não prestigia. O que precisa
haver é um reconhecimento de mídia, de produção, de exposição, e então, o público virá.
Na sua opinião o que falta para que as produções culturais locais apresentem maior êxito?
Produção, produção, produção...
Quais as maiores dificuldades quanto à projeção de novos artistas para o público em geral?
Aquilo que já falei apoio cultural, divulgação, patrocínio.
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Quanto à qualidade das produções culturais locais o que você tem a dizer?
São ótimas, só não são melhores porque não há apoio. Se nós temos um evento importante em
qualquer área, são chamados profissionais de fora, ou no máximo os nossos que brilham lá fora.
Os sites de relacionamento especializados em música, como por exemplo o my space, são úteis na
divulgação de artistas que estão fora da mídia?
Com toda certeza, todos os meios que divulgam são válidos.
Como a Laís Mann cantora, atriz e apresentadora avalia os prós e contras diante a realização e
propagação de seu trabalho em produções culturais locais. E como a Laís Mann jornalista e radialista,
avalia o trabalho de produtores culturais locais?
Eu trabalho a 30 anos em Curitiba, faço um trabalho de manutenção do meu nome a duras penas.
Sou um nome respeitado, mas não consigo sobreviver de arte. Nem pensar. Acho que os produtores
locais devem acreditar mais no seu trabalho e ousar mais, criar mais, vender mais a idéia da arte
local.
Gostaria que você comentasse sobre a evolução do mercado cultural curitibano ao longo dos anos
em você atua no mercado.
Sendo bastante sincera, acho que evoluiu muito pouco em 30 anos. À exceção de poucos artistas o
que vemos é uma classe dividida. O que temos que pensar é que o artista que permanece em sua
cidade é o que dá a ela identidade cultural. Permanecer na cidade é um ato de coragem, pois o mais
fácil é sair e procurar se dar bem num mercado maior. Em minha opinião, o respeito ao artista local é
o fator de maior importância para que possamos nos pretender uma cidade de primeiro mundo.
Questionário da entrevista:
1. Que visão você apresenta em relação ao mercado de produção cultural em Curitiba? É eficiente e
de acordo com as críticas nacionais de que Curitiba é uma cidade que apresenta produções de
qualidade; ou essa afirmação se restringe apenas ao Festival de Teatro de Curitiba?
2. Acredita que o mercado curitibano apresenta boas produções que acabam sendo prejudicadas pela
desvalorização cultural da própria população curitibana?
3. Como avalia e classifica o público curitibano?! Conservador, crítico, receptivo a novidades?
4. Em sua opinião o que falta para que as produções culturais locais apresentem maior êxito?
5. Quais as maiores dificuldades quanto a projeção de novos artistas para o público em geral?
6. Quanto à qualidade das produções culturais locais o que você tem a dizer?
7. Os sites de relacionamento especializados em música como por exemplo o my space, são úteis na
divulgação de artistas que estão fora da mídia?
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8. Como a Laís Mann cantora, atriz e apresentadora, avalia os prós e contras diante a realização
e propagação de seu trabalho em produções culturais locais. E como a Laís Mann jornalista e
radialista, avalia o trabalho de produtores culturais locais?
9. Gostaria que você comentasse sobre a evolução do mercado cultural curitibano ao longo dos anos
em você atua no mercado.
APÊNDICE B
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Que visão você tem sobre a produção cultural curitibana de um modo geral?
De um modo geral? Nossa que complexo! Eu acho que a produção cultural curitibana é ampla,
diversa e em geral pouco conhecida.
Você acha que tem um pouco haver, comparando Paraná com Rio Grande do Sul. Com a RBS e com
a RPC. Com o investimento e com o incentivo que a RBS dá?
Eu acho que é muito pouco. Muito, muito pouco. Acho que agente pode olhar historicamente, eu
lembro de um professor, que também foi professor da Cristina Lemos, o Décio Pinhatári. Foi professor
do nosso mestrado, eu era da turma dela. Falando sobre como é relativamente fácil você observar
que a expansão cultural no sentido tanto de quantidade quanto no de qualidade e visualização dessa
qualidade está vinculada ao desenvolvimento econômico e ao posicionamento político. Acho que
nesses dois sentidos se agente vai comparar hoje, Curitiba com Porto Alegre, pra ficar nas capitais,
agente tem duas cidades que hoje, elas têm o mesmo tamanho e população, Curitiba hoje está um
pouquinho maior, e mais ou menos a mesma economia, o mesmo PIB dessas cidades. Muito
próximas, elas são muito semelhantes. Mas Curitiba chegou nesse ponto, principalmente no ponto
econômico, de igualdade com Porto Alegre, há poucos anos; mais ou menos cinco anos, de cinco a
dez anos. Porto Alegre antes, durante muito tempo foi uma cidade economicamente mais importante
e principalmente politicamente melhor estruturada e representada. Eu não diria que é uma política
melhor. Isso é outra coisa. Nem são políticos melhores. Mas quantos presidentes da república foram
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paranaenses? Nenhum. E quantos gaúchos? Se você somar os anos dos presidentes gaúchos
vai passar de vinte anos. Hoje em dia se você pega grandes expoentes, senadores, agente
consegue listar três senadores e deputados, agente consegue listar três, quatro, cinco, seis dos mais
importantes gaúchos. Paranaenses, poucos. Então agente tem pouca presença política e o nosso
desenvolvimento econômico foi mais tardio. Então acho que isso é uma coisa que demora pra
aparecer, pra se transformar em algo rapidamente. E tem o elemento de história cultural, agente não
tem essa identidade cultural tão clara. Como eu falei, eu acho que bom por um lado e ruim por outro.
Você pode pegar isso em outros países, você vai ver... Pra pegar grandes cidades: Barcelona é uma
cidade extremamente, que tem uma identidade cultural muito forte. Uma grande cidade com uma
produção cultural muito forte. Mas aí você vai ver assim Nova York, é uma cidade que não tem assim
uma coisa clara, é uma mistura. Então cada um acaba puxando por um lado assim, para um viés.
Mesma coisa que se você pegar Milão e Roma, na Itália: Roma é super característica, Milão é super
cosmopolita. Então, acho que é só uma questão de tempo, não é nada muito grave. E não acredito
que a RBS versus RPC tenha alguma diferença, faça alguma diferença fundamental. Só de uma área
específica que acaba sendo uma diferença mais importante que é justamente na minha área de
cinema. Assim sim, mas no geral, como agente está falando no geral aí acho que não.
Não sei se tem muita diferença entre o Eduardo Baggio professor, estudando. E você produzindo as
coisas. Como você avalia como documentarista a avaliação que você tem do mercado e como agente
produtor. Quais as suas dificuldades que você encontra e as facilidades?
Entre essa coisa de estar dando aula e produzindo?
Mas o quê que você pode dizer em relação a você, que também é professor, que estuda bastante, faz
pesquisas; com os seus colegas, produtores que não tem essa visão de fora que você tem? Quais
são as dificuldades que eles encontram mais?
Eu acho que na visão dessas outras pessoas que não tem esse trabalho acadêmico, pra elas não há,
elas não vem problema nenhum. Eu também não vejo problema.
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Eu só acho que é uma vantagem estar vinculado ao meio acadêmico, porque é um meio onde
você reflete pesquisa, discute se informa. Lê muito mais do que as pessoas que estão todo dia
apenas produzindo. Mas isso não é absolutamente uma regra. Enfim tem muita gente ou pelos
menos algumas pessoas que eu conheço, produzindo, que não tem um vínculo acadêmico, mas que
são pessoas que lêem muito, que estudam que refletem que discutem. Então. Mas é um canal, uma
forma de fazer isso no ambiente acadêmico. E de resto acho que cada vez mais tanto um lado como
o outro tem suas opiniões extremamente cristalizadas. Vou chamar de entre aspas assim: “o mercado
vê a academia como algo fadonho, chato, empoeirado, velho e sem sentido. E a academia vê o
mercado como algo destruidor, massificante e empobrecedor da cultura em geral.” E eu acho que na
verdade os dois estão enganados assim. Ou eles estão certos, mas sobre, uma parte da academia é:
lenta e empoeirada; e uma parte do mercado é realmente empobrecedor, massificante, muito passa
por cima das coisas. Mas é uma parte de cada um, não é um todo nem um de um nem de outro.
Desde o início da sua carreira até os dias de hoje, que mudanças você pode ver assim na área de
produção cultural local?
Nossa! Eu acho que é difícil falar só da nossa época assim que eu vivi, mas pelo o que eu conheço
das outras décadas, de outros momentos da história da produção cultural curitibana, agente passou
por uma, passa agora por uma grande revolução. Eu acho que agente está no momento, como eu já
falei pra você, algumas coisas que já mudaram na nossa cidade, no nosso estado, vão ter uma
repercussão positiva aos poucos. Que é muito mais demorado para aparecer na produção cultural.
Mais especificamente na área de cinema, que é o que eu posso falar melhor, eu acho muito
destacado absolutamente e sem exagero o termo revolucionário mesmo, à mudança no perfil de
ensino. Quando eu fiz faculdade agente tinha uma, eu fiz jornalismo, comunicação social jornalismo;
não existia uma graduação de cinema, não existia uma pós-graduação de cinema. Eu na minha
faculdade tinha uma disciplina de cinema, quase não existiam cursos livres, eram muito poucos. Hoje
agente tem Curitiba assim, uma graduação específica de cinema, três pós-graduações específicas de
cinema e áudio-visual, vários cursos livres sendo alguns de longa duração, como já teve da Academia
Internacional, agora tem no Centro Europeu que vão até dois anos, vários cursos modulares. Então a
educação, o ensino de cinema mudou muito. E agente passou por uma revolução, quer queira quer
não, de acessibilidade. Porque, às vezes eu falo pros meus alunos que devem ter mais ou menos a
sua idade, que não é tão diferente da minha. Você tem vinte e um e eu tenho trinta. Não é tanta coisa
assim. Mas eu fui passar meu primeiro e-mail quando eu tava no segundo ano da faculdade. Isso
parece, quando agente fala desse jeito, cinqüenta anos. Não nove anos de diferença. Ver filme na
internet, isso não foi nem no segundo ano da faculdade, levou um tempo até ter uma, melhorar a
tecnologia e tal. Então hoje agente consegue assistir filmes de diretores de toda a parte do mundo, ler
textos, a Cris também deve confirmar se você falar com ela: há uma dificuldade na área de
bibliografia na área de cinema, ainda é ainda tem pouco, mas aumentou muito a publicação e
principalmente facilitou o acesso. Hoje você não depende apenas do que está publicado no Brasil.
Você vai ver artigos, textos, livros inteiros em alguns casos, que estão em outro lado do mundo e tal.
Continua a barreira da língua mas você tem que ter domínio daquela língua mas em geral inglês já
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ajuda muito. Então eu acho que nesse sentido é muito diferente, eu não sou daqueles assim
adoradores das, acreditar que a revolução digital vai democratizar tudo, não é isso. Mas nesse
sentido de acesso sem dúvida, imagine na música, que é a área da Cristina, por exemplo, imagine o
que você pode ter de contato musical hoje e como era pra vinte anos atrás antes de CD você
conseguir um LP. Então acho que isso ajuda muito, muito. Tem alguns cineclubes em Curitiba,
especialmente o cineclube subterrâneo que é na Federal, eles fazem sessões de filmes maravilhosos,
de filmes que não têm lançamento no Brasil. Eles baixam tudo da internet. Então é uma coisa assim
que eu acho bem bacana. Muda muito sabe. Realmente muda muito. Sem contar que nessa área
específica o nosso acesso a tecnologias de produção. Se você for pensar assim, coloque vinte anos
atrás 1987 você não tinha como conseguir uma câmera de vídeo pra gravar a não ser as profissionais
mesmo caras, nem VHS agente tinha acesso aqui no Brasil. Não é tanto tempo atrás. Depois, vieram
as câmeras VHS, mas edição por exemplo, uma coisa só a partir de 94, 93 que você começou a fazer
em computador. E que esses computadores passaram a ser caseiros, foi em 97, 98. Hoje em dia
talvez você tenha um software de edição na sua casa. Não sei, mas várias pessoas têm. Eu quando
estava terminando a faculdade em 98, veja que triste, mas engraçado. Tinha um amigo meu que
continua trabalhando comigo até hoje: o Adriano Justino que faz documentários também. Uma das
coisas que agente mais penso naquele ano foi: Nossa! (Agente fazia na Federal, tinha uma ilha de
edição daquelas lineares de VHS.) Que droga agente vai se formar e agente vai perder o acesso à
ilha de edições. Agente tinha acesso porque era aluno, ia deixar de ser aluno não ia mais ter acesso
pra fazer a nossos vídeos e tal. Então eu acho que essas coisas são muito legais, mas não... Ao
mesmo tempo não dá pra se deslumbrar. Não é isso que forma um bom produtor cultural, um bom
profissional isso só dá a possibilidade. Sem inteligência, criatividade, trabalho e especialmente sem
de repertório, assim sem lê vê, então não vai ser bom. Mas pelo menos tem a chance de. Que eu
acho que um tempo atrás essa chance era muito menor. Ainda é. Claro que também tem que lembrar
que esse acesso que eu estou falando fácil é pra uma classe média e tal, agente sabe que no Brasil
continua ainda a maior parte sem acesso. Mas pelo menos uma parte da população já tem.
Que eles vão, falando um termo bem popular: “dar conta do recado”?
Eu acredito que sim, em alguns casos. Têm de todos os tipos. Eu acho que a área de comunicação,
você está quase se formando assim, ela tem hoje em dia um dos problemas que agente tem,
publicidade, por exemplo, que eu dou aula no Unicenp na disciplina de cinema pra publicidade.
Publicidade tem em Curitiba senão me engano se contar a região metropolitana são dezesseis
cursos. Se você for contar os formandos vai ter algo em torno de mil, mil e duzentos formandos.
Vagas têm o dobro. Então quer dizer, existe um mercado pra mil e duzentos, mil e cem, mil que seja,
publicitários por ano, em Curitiba? Não. Sem dúvida que não tem. Então foi uma das áreas que mais
aumentou o número de cursos, junto com administração também tem em qualquer lugar. É um
mercado mais restrito. Que o de administração por exemplo. Então o quê que esses alunos vão fazer
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exatamente? Eu acho que isso a faculdade tem que pensar, os professores precisam pensar e os
alunos precisam pensar. Se agente pensar só num modelo antigo assim, você está se formando
em publicidade, necessariamente você vai trabalhar com agência, necessariamente você vai fazer ou
criação, ou atendimento ou mídia ou produção gráfica e tal. Está errado. Está no caminho errado.
Porque isso vai ser só para um pequeno grupo que vai entrar nisso. Agente tem que pensar mais em
comunicação como uma visão mais ampla como acontece em outros países, acho que bons
exemplos assim da idéia que se tem de comunicação em alguns países da Europa, na Austrália
também, onde você tem uma visão muito mais aberta que envolve produção cultural e que envolve
comunicação corporativa, institucional, comunicação dirigida. Aqui eu tenho a impressão, você é
aluna me corrija se eu estiver errado, que os alunos ainda têm uma visão muito restrita ao modelo
agência ou quando no caso de jornalismo, ao modelo de veículo, de redação de jornal. E eu acho que
tem coisas que não podem ser vistas como segunda opção. Então assim, se eu não conseguir se eu
fracassar para ir para agência eu vou.... Não, isso são coisas que em minha opinião pelo menos, tem
coisas até mais legais para serem feitas. Mais legais claro que dependem do gosto, mas eu digo tão
legais quanto, tão boas quanto, que vão remunerar tão bem quanto. Ou tão mal quanto. Ou num
mesmo nível. E que tem que se pensar de uma maneira mais abrangente. Especialmente, aí que é a
minha área, especialmente a relação com a produção cultural acho que é a área da Cris também.
Mas outras coisas também existem. Claro que a gente consegue pensar melhor dentro dessa nossa
área. E aí tem espaço, tem até bastante espaço, a gente tem até falta de profissionais e tal.
do que está sendo explorado e talvez espero, torço pra que continue crescendo e pra que
continue melhorando.
Você não acha que isso não acontece por causa da população curitibana ser um pouco conservadora
e tradicional?
Não. Acho que não. Até porque se a gente for acreditar nesse esteriótipo de ser conservadora. Não
tanto de ser conservadora, mas naquele esteriótipo de que é fechado. Então nada melhor do que se
fazer coisas no computador, o cara vai lá e fica fazendo coisas no mundinho dele. Eu não acredito
nesse esteriótipo, mas se eu acreditasse seria um motivo a mais para achar que esse é um bom
caminho essas mídias com foco específico, criação de modelos de produção cultural mais
específicos. Acho que a gente tem várias áreas, também um problema de cristalização dos modelos.
Modelo da indústria fonográfica todo mundo sabe que é problemático. Uma das coisas muito legais
nessa liberação na internet da indústria cinematográfica, a distribuição, as corporações... A gente
sabe que não é legal, acho que todo mundo sabe muito, mas ninguém consegue mudar muito. Acho
que o paralelo aí com as gravadoras. Então tem esses problemas. Mas eles têm que ser contornados.
Acho que a gente tem que pensar neles de duas formas: uma é ver o que é bom pra nossa sociedade
e o se não for bom, como eu acredito que não é bom o modelo da indústria fonográfica e nem o
modelo de distribuição cinematográfica, a gente tem que tentar mudar., em questão de leis e tal. E o
nosso país não é nada bom pra isso, porque os lobs políticos são fortes, político econômicos. Mas
também ao mesmo tempo você também não pode só ficar esperando que mude ou tentando mudar,
você tem que aproveitar os caminhos outros paralelos, buscar soluções. Aquela velha história que é
um pouco triste ou talvez bastantes, exemplos meus e talvez não, com certeza de outras pessoas
aqui de Curitiba. Na área de cinema principalmente, têm filmes que eu consegui exibir em canais da
Europa, meu que eu não consegui exibir no Brasil. Claro que isso é muito ruim, é péssimo. Mas eu
também não posso ficar assim: “ai não vou tentar essa alternativa porque tem que ser no Brasil.”
Estou tentando no Brasil, mas se não dá o que eu vou conseguindo fora é um caminho, é legal é
ótimo.
Você acha que falta apoio do governo, incentivo? Ou se tem esse apoio e incentivo o quê que se
podia ser feito para melhorar?
Acho que quando a gente fala de apoio e de incentivo vem muito aquela idéia de lei de incentivo que
já existe, que eu acho que é até uma coisa necessária mas um pouco paternalista, torna o sistema de
produção cultural um pouco dependente, parece que é tudo meio que de favor. Eu acho que o que a
gente precisaria realmente seriam leis muito melhores. Se você tivesse uma boa regulamentação do
mercado cultural, nossa regulamentação de TV no Brasil, por exemplo, é sem nojeira do Butão e de
países assim absolutistas. É muito ruim e pouca gente nota isso, mas a nossa lei de rádio e difusão
no Brasil, restringe o aumento de produção independente, restringe a pluralidade, por isso que a
gente tem esse modelo quase de um canal ou dois ou três. Que são os que realmente são assistidos.
As regras e leis pra distribuição cinematográficas são super complicadas também. Elas acabam
direcionando pra apenas as grandes empresas. Então e isso sabe. Eu não gosto muito daquela idéia
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de que o governo tem que dar dinheiro para gente financiar e vender e não precisar vender e
bancar. Essa eu acho que é o pior caminho. Porque daí nem os realizadores e produtores
culturais se mexem pra buscar uma viabilidade do seu trabalho porque já vai estar garantida mesmo,
e nem esse trabalho ganha inserção porque daí você acaba não exibindo está pago e não exibe ou
está pago e só exibe ali na esquina e pronto. Então o melhor caminho é que na verdade é que a
gente tenha oportunidade caminho tenha a possibilidade de trabalhar e daí trabalhar se virar e tal.
Então tem várias coisas que deveriam mudar muitas, especialmente questões legais de
regulamentações e coisas assim. Visão estratégica.
E como que você vê fazendo comparações de produções do eixo Rio – São Paulo que têm âmbito
nacional e de produções curitibanas?
Geral também?!
Geral também.
É claro que eu tenho que fazer, sobre tudo o que eu estou dizendo assim meu maior foco é sobre a
produção áudio-visual, então as vezes eu estou falando e tem coisas que não valem pra teatro e nem
artes plásticas, eu não sei bem, apesar de acompanhar um pouco. Então eu acho que a gente tem
primeiro uma diferença muito importante que é aquela diferença assim: a famosa reprodutibilidade
técnica, talvez você tenha lido aquele texto do Benjamin que todo mundo que faz comunicação acaba
lendo, uma obra de arte na época de reprodutibilidade técnica. Que pode ser reproduzido. Teatro,
dança não pode ser reproduzido, artes plásticas em geral reproduzido também não mas pode até ser
deslocado. Então eu acho que teatro, por exemplo, nunca vai ter estabelecido. Pode ter momentos
piores momentos melhores, pode ter coisas boas, coisas ruins. Mas tem o teatro curitibano, acho que
até que é uma área bem respaldada e tal. Claro, teatro você não faz cópia, não faz cópia da peça e
distribui, não existe essa reprodutibilidade. Agora uma música um filme você faz cópia e distribui. Aí a
coisa é um pouco mais complicada, porque há uma tendência de vir coisas de fora pra serem
exibidas aqui, pra serem consumidas aqui, músicas, filmes, revista, livros e tal; livros deixando um
pouquinho de lado de lado porque acho que tem uma coisa diferente. Mas então nessas áreas tem
um complicador maior, há uma tendência de que seja colocado o que está, o que está pago, o que
vem de fora, do Rio e de São Paulo onde a gente tem as grandes gravadoras, as cabeças de rede
dos canais de TV, onde a gente tem indústria de distribuição cinematográfica. Então nesses casos eu
acho que tem ser pensado um pouco diferente. Mas aí eu te pergunto assim: será que a população
curitibana não tem interesse ou paranaense, não tem interesse de ver coisas feitas aqui, desde que
de qualidade lógico, eu acho que tem. Precisa é conseguir melhorar um pouco esses canais de
exibição.
Você acha que os veículos de produção locais dão preferência para os nacionais?
Eles seguem, os veículos de comunicação são empresas, têm fins lucrativos, eles estão em um país
onde eles vão ter que seguir a demanda desse país e a legislação desse país. O quê que você
muda? Você não muda o fato de que eles vão querer ter lucro, porque isso é absolutamente legítimo,
é uma empresa e ela vai tem que gerar lucro e isso é um objetivo seu. Isso também não muda a
demanda que isso é o que a população o que as pessoas têm interesse. Talvez isso até mude
melhorando a educação e tal, isso é uma coisa a longuíssimo prazo. Daí é um outro papo. Mas o que
você muda é essa legislação que está aí no meio. Então se você criar... Não digo nem em barrar, é só
criar mecanismos facilitadores para a divulgação da produção local, esses canais de televisão, essas
rádios, eles vão se interessar. Crie maneiras. E isso às vezes é uma ilusão nossa. Isso existe nos
EUA. EUA tem uma legislação, por exemplo, para a televisão aberta que obriga que 50% da produção
áudio-visual exibida em televisões de sinal aberto, sejam produções independentes. A gente não tem
nada nesse sentido. Então na Holanda é 100%, o cara que tem uma concessão de TV ele é proibido
de produzir, ele tem que só organizar a grade e comprar a programação de independentes. E são
países que são tidos assim, EUA principalmente, a o país de política liberal, então as coisas são...
Não. Em certas áreas eles sabem que tem que haver certa regulamentação. E na nossa é ao
contrário, é tudo pra dificultar. É aqui pra você conseguir usar um canal de UHF existe uma série de,
principalmente três limitações técnicas que é bem enfadonho ficar falando, mais é de freqüência, de
potência, de como o tipo de antena que usa, porque praticamente inviabiliza o canal UHF, por isso
que eles existem como existe o canal 21, como existe a MTV gerada em Curitiba em UHF, como
existe a Exclusiva em Curitiba. E se você ligar a televisão agora na minha casa não pega. Pega pelo
cabo, mas pela antena não pega. E depende de onde você mora, tem uma restrição muito grande.
E em empresas e em instituições?
Na verdade assim, a criação das leis de incentivo condicionou um caminho pra você chegar às
empresas, é via lei de incentivo, pois você tem a carga de insensão de impostos. Então isso é o lado
negativo. Hoje não existe mais empresa que apóia simplesmente, que acredita em uma produção
cultural. Não, ela quer a carga de insensão de impostos, porque ela sabe que existe isso, lei
municipal, lei estadual, duas ou três leis federais, então ta eu quero uma insensão de impostos. Tudo
bem é um caminho, daí você tem que fazer por lei de incentivo.
Questionário da entrevista:
6. Acredita que o apoio dado pelo governo e por empresas se “faz” de maneira eficaz? O que você
pensa que pode ser feito para que haja um melhor proveito, tanto por parte das instituições quanto
pelos produtores culturais?
7. Como professor, como você avalia o desempenho de seus alunos, futuros agentes produtores?
Acredita que essa nova geração provocará mudanças no mercado?
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APÊNDICE C
Acredita que o mercado curitibano apresenta boas produções que acabam sendo prejudicadas
pela desvalorização cultural da própria população curitibana?
Eu acho que têm dois fatores ai. Uma é a avaliação da qualidade da produção. E a outra é a
valorização, ou melhor, reconhecimento da comunidade. Então com relação a qualidade das
produções também tem vários fatores. Eu acho que antes da qualidade devemos considerar a
quantidade. Então a quantidadede valores valores investidos e quantidades de produções, é bastante
levada a nível nacional dentro de Curitiba. Curitba é uma das cidades que mais produz, financiado e
apoiado. Eu costumo dizer que isso provoca a criação de uma classe média artística, que nós não
temos no resto do Brasil. O resto do Brasil é formado por uma distancia muito grande entre o grande
sucesso profissional e níveis de sobrevivência artística. Ou seja, você está muito abaixo de uma linha
de subsistência. Curitiba tem uma classe média. Que em Curitiba você tem atores que não são
reconhecidos nacionais, você tem atores que não recebem valores estratosféricos como atores
nacionais, mas a muitos anos há mais de dez anos, nós temos atores entre dois a seis anos que
recebem mais de dois mil reais por mês durante sua carreira. E você não encontra isso em vários
centros como Rio - São Paulo, você pega aí artistas de várias áreas, em áreas de teatro e de várias
áreas que tem mais de dez anos de atuação e que não conseguem perfazer seus mil reais por mês.
Então nós não temos esse problema. Nós temos um mercado bastante competitivo, mas a gente tem
profissionais de arte num patamar classe média digamos assim. O outro fator, com relação a
reconhecimento eu acho que a relação com a qualidade da produção com o reconhecimento, ela é
muito delicada. Então assim, ela não é fácil de se fazer. Porque você tem bons espetáculos que dão
ou não público, você tem sucessos de público, ou reconhecimento de mídia, que não
necessariamente significam bons espetáculos. Então assim, eu não posso te fazer essa relação entre
a qualidade e se as pessoas vão ou não. A questão das pessoas irem ou falarem do espetáculo está
ligada diretamente a dois papeis, duas virtudes que a produção de algum espetáculo ou de artista ou
de um grupo de artistas tem com relação: aos seus contatos e seus investimentos na área publicitária
e com relação aos seus contatos e aos seus investimentos, se é que existem num tipo de capital
social que é o seu contato com formadores de opinião. Essas duas coisas também entre si não se
ligam. Então, ou seja, eu tenho uma boa campanha de marketing e não tenho contatos com bons
jornalistas eu posso lotar o teatro e a Gazeta do Povo falou mal. Uma coisa não interfere na outra. Eu
posso não ter feito campanha de marketing nenhum, mas eu tenho bons contatos com formadores de
opinião, jornalistas dão boas matérias e tal e não significa que meu teatro vai lotar. Nós temos
profissionalmente esses dois valores, que dizer a tua imagem e a tua bilheteria. E essas coisas
também estão internamente dissociáveis. Podem estar juntas, podem estar separadas, podem
trabalhar independentes.
E o quê que você prefere quando você produz, quando você cria?
Eu prefiro bilheteria. Não me importo muito com críticas porque a gente já experimentou várias
situações, e a gente sabe... Eu tenho um tipo de espetáculo que ele é mais pra grandes platéias. E
exatamente porque a gente está fora de centros mais complexos de arte, a gente tem uma imprensa
que gosta muito do produto alternativo. Então ela prefere valorizar o alternativo e se você tem uma
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boa produção uma grande produção com uma boa campanha de mídia e de marketing, eles
normalmente enxergam com certo olhar blasé. Assim tipo: Ah! Eles já estão criados, eles já estão
maduros, então não precisam da gente. Então, os jornalistas se colocam num papel que eu acho que
tinha que amadurecer. Faço uma crítica bem brusca aos jornalistas. Por conta disso. Porque eles
acham que o papel deles é criticar produções de grupos constituídos por pessoas já estabelecidas e
tem que ajudar produções de péssima qualidade, mas de grupos e artistas alternativos. Se colocam
num papel meio década de setenta. Não avançaram. A maioria são várias exceções.
costumam fazer suas estréias num processo coletivo, a gente tem grupos que escolhem estrear
fora, e às vezes escolhem Curitiba. Mas isso já não significa nem nunca significou muita coisa.
Porque a bem da verdade cada mercado é um mercado cada cidade tem o seu tipo de publico e
talvez quando as pessoas falam de Curitiba é porque sim elas sabem que aqui nos temos uma
quantidade muito grande de boas produções a nível nacional fora do eixo. Então Curitiba é uma
cidade importante sim quando você quer testar seus espetáculos que você vive no Rio e em São
Paulo, então você vem pra cá porque o público é mais crítico. Então assim, você está no interior com
um publico mais critico. Então é importante pra você passar por uma cidade dessas antes de estrear
em uma capital maior. Agora tem grupos que ensaiam e estréiam no Rio e em São Paulo, sem
problema nenhum. Não vem para Curitiba porque é uma cidade teste. A bem da verdade ela pode ser
considerada uma cidade crítica.
Então a respeito dos custos serem mais baixos aqui do em São Paulo?
Não também. Porque o custo daqui, do teatro talvez e da publicidade pode até ser mais barato, mas o
custo da locomoção acaba deixando. Isso em qualquer lugar do mundo você sair com um espetáculo
é mais caro do que fazer na própria cidade. Você só sai com possibilidade de ganho. Então você só
sai em temporada. Agora se você está estreando e se são os primeiros, esse custo não interfere em
nada. Até porque você tem que pagar diária, alimentação dos artistas. A bem da verdade eles vinham
na década de setenta por uma questão histórica, porque os governos financiavam essas estréias
aqui. E isso acabou ficando na cultura popular de cidade teste. A bem da verdade ela é uma cidade
crítica e a bem da verdade nos temos o maior evento de teatro do país, que é o Festival de Teatro,
mas temos outras áreas. Nós temos um grande evento na área de música, também que é a oficina de
música. Então Curitiba tem, eu gosto de considerar que ela tem essa consistência se comparada com
outras cidades. Mas pra frente quando a gente for falar se eu acho que isso é suficiente ai a gente vai
considerar outras coisas.
O que falta para que as produções culturais locais apresentem maior êxito?
Eu acho que falta empreendedorismo dos responsáveis pela produção, eu acho que falta um pouco
de visão de mercado. Porque os artistas sempre se acostumaram a fazer obras que estivessem
relacionadas ao que ele quer, na sua carreira. No que ele quer fazer nesse momento. Isso não tem
problema nenhum, é que esse é um dos fatores pra você escolher uma estratégia, um espetáculo,
seja música, seja teatro, seja dança, seja livro. E o que nos falta um pouco é a transformação dessa
idéia num potencial de produção. Ou seja, você pode realizar pesquisas sobre que tipo de trabalho
você tratar, porque eu posso falar sobre dez coisas. Minha gaveta tem quinze projetos, então qual
seria o próximo e quando ele vai se tornar o projeto de verdade. Você tem que fazer alguns
investimentos, em algumas fazes de produção, que são fazes de pra você identificar melhor seu
público, articular com ele, fazer coletas de informações, troca de informações. Mas isso, eu acho que
é um movimento interno dos artistas. Então não é você chegar e dizer para o artista, seja mais
empreendedor. A bem da verdade você tem artistas com esse perfil ou não, alguns que estão
desenvolvendo esse perfil, outros que estão deixando de ser empreendedores. Eu acho que é um
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movimento natural das coisas. Hoje existe muito mais público, existe muito mais atividades. Nós
por enquanto estamos naquela, numa outra linha, que é a multiplicação da quantidade, de
apresentações. Qualidade ela vem mais lentamente, mas é o movimento natural. Primeiro a gente faz
mais, depois a gente faz melhor.
Em relação ao incentivo, você acredita que a cultura recebe incentivo e apoios suficientes dos órgãos
públicos?
Suficiente, não. Eu acho até que não é só valor que você tem que considerar. Eu acho que tem que
considerar como que você divide, qual a estratégia utilizada, como que você articula com os artistas,
como que você verifica a aplicação desses incentivos e qual é o compromisso que você tem no final
desse processo pra você refazer. Então é um sistema complexo. Acho que a maior crítica que eu faço
é com relação às fases desse processo de incentivo e não com relação ao incentivo propriamente
dito. Nós já passamos da fase de questionar se existe ou não incentivo. Sabe por quê? Porque faz
dezesseis anos que nós temos uma lei municipal que dá em média de dois a quatro milhões por ano.
Nos últimos dez anos nós ultrapassamos a faixa de setenta milhões de reais investidos todo ano.
Então não dá pra dizer que não tem incentivo. O que você tem é um incentivo que precisa de um
detalhamento para que ele seja mais eficaz, você precisa de um diálogo entre artistas e órgãos
incentivadores para que você detalhe as fases dessa relação, e você precisa aperfeiçoamento, dessa
palavra incentivo. Ela precisa significar um amadurecimento dessa relação. Essa relação já existe, ela
existe de uma forma descomunal, quatro milhões não é pouca coisa. E nos últimos anos existe uma
melhoria visível. Hoje nós temos, há um ano atrás nos não tínhamos, nós temos um fundo municipal
que financia projetos sem mecanismos de mecenato, e esse fundo, por exemplo, aqui em Curitiba na
Fundação Cultural foi responsável por mais de vinte editais em seis meses. Das oito áreas. Então
assim, é muito dinâmico. O que a gente pode questionar é: é adequado, não é adequado? Mas aí
você já está falando de política cultural. São eles quem decide, a gente pode articular e se eles
vierem nos perguntar a gente pode conversar. Mas o suficiente, eu acho que suficiente não é a
palavra adequada, eu acho assim você tem que perguntar se é eficaz. Existe incentivo em Curitiba?
Sim. Ele é eficaz? Não. Ele poderia ser mais eficaz. Uma quantidade maior de incentivo com maior
eficácia poderia dar mais resultados. Mas de qualquer forma a gente vai estar sempre que estar
perguntando: Qual é o resultado pretendido? Qual é a estratégia, o detalhamento dessa estratégia?
Aonde que nós vamos chegar. Então assim, é coisa que não dá pra ser respondida com uma simples
frase de não é suficiente, como se isso fosse desculpar todas as outras questões que a gente
levantou: qualidade, platéia, financiamento, dialogo entre órgão financiador e produtor. Você veja, a
questão é muito complexa. Não dá pra você resumir com uma frase bombástica e uma matéria
jornalística. Você tem que se debruçar sobre isso. Então assim, é simples dizer: compare-nos com o
resto dos outros municípios, fora do eixo Rio - São Paulo, você vai ter ótimas surpresas. Agora,
quando a gente cresce, a gente amadurece. Então, eu não vou ficar chorando as pitangas e continuar
com um discurso de uma época que a gente não tinha nem um centavo. Faz mais de dez anos que a
gente tem mais de cinco, quatro milhões. Por ano. Mais de quatrocentas produções por ano em todas
as áreas? Então, não é adequado você dizer que falta incentivo.
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E entre si também?
Então são duas questões. Então você tem os artistas entre si hoje; por conta desses valores
incentivados nos últimos dez anos, o aspecto hoje é diferente do que foi a dez ou vinte anos atrás.
Então, antigamente você tinha, a vinte anos atrás você tinha, vários artistas que queriam estar
produzindo e não tinham condições. Profissionais habilitados com experiência, ou sem experiência,
qualquer um, não tinham condições. Então existia uma certa animosidade entre os artistas. Porque
obviamente entrava um e quinze ficavam de fora. Hoje você tem um aspecto mais cooperativo, das
instituições constituídas, do Sindicato, dos artistas organizados, dos artistas independentes, artistas
com diferenças estéticas hoje, estão mais tranqüilos. Porque mal ou bem, eles estão conseguindo dar
vazão a sua criatividade com produções, cada uma do seu tipo. Eu acho que poderia ser melhor. Eu
acho que ainda falta, fóruns de debate, que hoje você tem uma possibilidade eletrônica de fazer
esses fóruns. Então você entra, eu hoje participo de fóruns fora do Brasil pela internet. Então você
discute questões estéticas, questões técnicas, questões de estratégias de divulgação ou outras
estratégias. Então hoje com, e acho até que com os nossos artistas locais existe, com o fato da
internet, uma conectividade maior. Então eles se comunicam mais. Mas isso poderia sinceramente
melhorar e ser mais, influenciar mais a criação. O que eu acho que qualquer que seja a comunicação
entre os artistas, o artista ainda se fecha na sua equipe criativa só, para produzir aquela proposta.
Então não existe uma comunicabilidade de propostas. Os artistas até que se conversam. As suas
propostas não se conversam. E dai a questão com o publico, eu acho que existem hoje muitos
mecanismos. Você está falando daí de estratégia de marketing, eu acho que existem muitas
iniciativas. Nós não estamos na vanguarda dos grandes planos de mídia. Até por causa dos custos.
Mas a gente poderia ser criativo o suficiente e fazer grandes propostas de mídia dissociadas do
custo. Nós somos artistas, a gente poderia criar isso. A gente podia estar fazendo cases
interessantes. Mas como não existe este aspecto empreendedor dentro dos grupos acaba sendo a
tradicional filipetinha distribuída nos lugares de maior freqüência, coloca cartaz que hoje já é até
quase politicamente incorreto você colocar cartaz, você acaba deixando aquele macinho de filipeta,
um anunciozinho no jornal, raramente um outdoor. Ou seja, é muito fraca a comunicação entendida
como plano de mídia.
Você acha que isso é relacionado com a tradição que Curitiba tem assim?
Isso é relacionado com a falta da consciência de que o artista precisa contratar profissionais nessas
áreas. Um. Dois: com o alto custo desse tipo de campanha. Então o artista prefere deslocar esse
dinheiro pra outras coisas dentro do próprio espetáculo. Mas daí ele poderia usar a sua criatividade
com cases, ou então. Existe pouca conectividade, porque que um grupo profissional de teatro não
chega em uma universidade e pede pra um grupo de estudantes de comunicação, faz um case. Então
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existe você sabe, essa falta de criatividade do próprio artista que seria o máximo de criatividade
com relação a suas campanhas, campanhas bem tradicionais.
Quais as maiores dificuldades quanto a projeção de novos artistas para o público em geral?
As tradicionais. Aperfeiçoamento técnico e estético, investimento em iniciantes, empreendedorismo,
de saber que a obra de arte é o empreendimento profissional, ele exige financiamento, exige estudo
de mercado e você pode falhar. E apesar da gente ser uma área beneficiada por incentivos, uma
falha mesmo que de um projeto incentivado pode provocar, não digo nem que o patrocinador não vá
patrocinar de novo, a própria equipe se recente e ai você tem que estruturar uma equipe, partir para
uma outra proposta, fazer uma outra tentativa. O iniciante ainda ele está, no caminho de fazer com a
incerteza do produto final. Então são os problemas tradicionais de qualquer área. Acho até que
iniciante em artes tem até mais espaço do que iniciante em qualquer outra área. E exige muito menos
investimento. Um aluno recém formado dum curso de músicas ou artes cênicas, precisa de muito
menos investimentos do que o recém formado na área de odonto, pra montar seu primeiro projeto ou
trabalho. Então são problemas tradicionais.
Quanto à qualidade dos produtores culturais locais o que você tem a dizer?
Eu acho que essa frase podia ser melhorada. Eu não sei se posso julgar a qualidade dos produtores,
eu não sei se os produtores têm qualidade. A qualidade das produções eu posso julgar. Então a
qualidade das produções, ela está ligada ao plano de carreira. Eu acho que artista não faz plano de
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carreira. Acho que essa é a falha, ele faz muito ao gosto de o quê é que ele vai fazer. E como
artista, nós temos um vício, se ele é bom ou ruim não sei, que é sempre procurar fazer algo
diferente do que ele fez. Aí ele é diferente do que qualquer outra profissão. Em qualquer outra
profissão você investe mais naquilo que você já sabe e naquilo que dá certo. E o artista é assim: dá
certo ele quer tentar uma coisa diferente. Então é um outro caminho. Talvez você devesse considerar
outros fatores como a permanência em mercado de um artista, ou então você deveria fazer uma
pesquisa especificamente para descobrir como que o artista cria
Questionário da entrevista:
4. Essa afirmação não se dá devido aos baixos custos de produção quando comparados com os
custos de produções realizadas em São Paulo, por exemplo?
5. Em sua opinião o que falta para que as produções culturais locais apresentem maior êxito?
6. Acredita que a cultura recebe incentivos e apoios suficientes dos órgãos públicos?
7. Quais os aspectos positivos quanto à comunicação dos artistas curitibanos?
8. Quais as maiores dificuldades quanto à projeção de novos artistas para o público em geral?
9. Quanto à qualidade dos produtores culturais locais o que você tem a dizer?