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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ


CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

DIANA DO AMARAL DEZORDI

A INSERÇÃO DA CULTURA LOCAL CURITIBANA


COMO BEM DE CONSUMO CULTURAL

CURITIBA
2007
2

DIANA DO AMARAL DEZORDI

A INSERÇÃO DA CULTURA LOCAL CURITIBANA


COMO BEM DE CONSUMO CULTURAL

Monografia apresentada à disciplina de


Pesquisa em Comunicação - Produção de
Monografia como requisito parcial à
conclusão do curso de Comunicação
Social – Habilitação em Publicidade e
Propaganda, setor de Ciências Jurídicas e
Sociais da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná.
Orientador (a): Prof.ª Cristina Lemos

CURITIBA
2007
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RESUMO

Este trabalho monográfico apresenta como tema de pesquisa a inserção da cultura


local curitibana como bem de consumo cultural. O objetivo geral foi identificar quais
os fatores motivadores e desmotivadores do consumo da produção cultural local, por
parte dos próprios curitibanos. Na fundamentação teórica foram abordados os
temas: sociedade, cultura e produção cultural no Brasil, assim como as definições de
sociedade e cultura, além de um breve panorama sobre sociedade e cultura no
Brasil. Também foram comentados os temas sociedade de consumo e mercado
cultural, abrangendo a identidade cultural. Além do levantamento bibliográfico, foi
realizada uma pesquisa de campo com aplicação do método de pesquisa qualitativa.
Nessa pesquisa foram elaborados três modelos de formulários de entrevista, os
quais foram aplicados em três entrevistas distintas, realizadas em Curitiba, com
profissionais renomados no mercado da produção cultural local. Concluiu-se, que
Curitiba é uma cidade que não apresenta uma definição concreta em relação à sua
identidade cultural. Desse modo, ocorre a desvalorização da produção cultural local
por parte dos próprios curitibanos.

PALAVRAS-CHAVE: cultura, identidade cultural, mercado cultural, Curitiba.


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................05
1 SOCIEDADE, CULTURA E PRODUÇÃO CULTURAL NO BRASIL.................07
1.1 O que é sociedade..........................................................................................07
1.2 O que é cultura................................................................................................10
1.3 Sociedade e cultura no Brasil ......................................................................13
2 SOCIEDADE DE CONSUMO E O MERCADO CULTURAL..............................17
2.1 Identidade Cultural.........................................................................................17
2.1.1 A identidade cultural na pós-modernidade...............................................17
2.1.2 O impacto da globalização na identidade cultural...................................19
2.2 O mercado cultural.........................................................................................21
2.2.1 A indústria cultural......................................................................................21
2.2.2 Cultura superior, cultura média e cultura de massa................................23
2.2.3 Funções da masscult .................................................................................24
3 PESQUISA DE CAMPO......................................................................................27
3.1 Delineamento da pesquisa de campo..........................................................27
3.2 Apresentação, análise e interpretação dos fatos........................................29
3.2.1 Entrevista com Laís Mann..........................................................................29
3.2.2 Entrevista com Eduardo Baggio................................................................31
3.2.3 Entrevista com Luiz Roberto Meira...........................................................35
3.2.4 Comparação entre as respostas................................................................39
3.3 Considerações finais......................................................................................41
CONCLUSÃO.........................................................................................................43
REFERÊNCIAS......................................................................................................45
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS...........................................................................46
APÊNDICES...........................................................................................................47
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INTRODUÇÃO

Atualmente, a cidade de Curitiba se transformou em ponto de parada


obrigatória nas rotas de eventos culturais nacionais; dentre esses pode-se citar
shows de Chico Buarque de Holanda, Maria Bethânia e peças teatrais com artistas
globais. Além disso, o sucesso do Festival de Teatro de Curitiba já é amplamente
reconhecido por todo o país, atraindo peças, artistas, jornalistas, entre outras
pessoas de todo o Brasil voltadas à produção cultural. Deste modo, tem-se a
Inserção da Cultura Local Curitibana como bem de consumo cultural, tema de
estudo desta monografia.
O trabalho apresenta como linha de pesquisa de estudo: Comunicação,
Educação e Cultura e busca conhecer o perfil de consumo cultural do público
curitibano por meio da identificação dos fatores motivadores e desmotivadores do
consumo da produção cultural local. Também objetiva comprovar a hipótese de que
quanto maior a divulgação publicitária de alguma produção cultural local, maior será
o número de seus consumidores. Nesse sentido, acredita-se que, na medida em que
a produção cultural local proporcione aos seus consumidores um tipo de status
social, de alguma forma terá aceitação privilegiada pelo público curitibano.
Pressupõe-se também que as produções culturais locais mais tradicionais são mais
bem aceitas pelo público curitibano, devido ao seu perfil conservador.
Deste modo, é provável que o fomento da produção cultural só ocorra devido ao
âmbito nacional que possui, ou seja, o consumidor cultural curitibano, em sua
maioria, valoriza com maior ênfase a produção cultural de âmbito nacional, nem
sempre conferindo a devida importância às produções culturais locais, ou seja,
àquilo que é produzido em sua cidade natal.
A pesquisa de campo realizada para verificação e comprovação das hipóteses,
objetiva a geração de conhecimentos novos úteis para o tema, portanto terá
natureza aplicada. A sua abordagem será feita por meio de análise quantitativa dos
dados. Serão realizadas entrevistas com profissionais de renome local e nacional,
sendo desse modo, o trabalho de pesquisa desse estudo, classificado como
pesquisa qualitativa. Seus objetivos visam à construção de novas hipóteses assim
como maior familiaridade com o problema levantado, sendo deste modo classificada
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como exploratória. Na fundamentação teórica do trabalho, serão consultados


materiais já publicados referentes ao assunto.
Espera-se que esse trabalho de pesquisa encontre respostas a este
fenômeno e também proponha soluções voltadas à melhoria da valorização
da produção cultural local curitibana.
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1 SOCIEDADE, CULTURA E PRODUÇÃO CULTURAL NO BRASIL

1.1 O que é sociedade

Toynbee (1976) afirma que os seres humanos são animais sociais, sendo
seus ancestrais os responsáveis pela sua formação, uma vez que se estes não
tivessem sido membros de uma sociedade, não teriam se tornado humanos. Seus
descendentes não sobreviveriam se a sociedade fosse exterminada; portanto, em
conseqüência das suas necessidades naturais e econômicas, eles se fazem seres
sociais. Até mesmo os indivíduos que fogem aos padrões das regras sociais são
considerados membros da sociedade; essa marginalização, dependendo do seu
grau de discordância dos comportamentos permitidos, pode vir a torná-los membros
parasitas, sem que percam a possibilidade de um dia virem a fundar novas
sociedades. Fernandes (1973, apud CARDOSO e IANNI, 1973, p.26) também
possui essa mesma visão em relação à estrutura social humana, afirmando que a
humanidade vive em um ambiente domesticado por si mesma, pelos homens.
Segundo Firth (1973, apud CARDOSO e IANNI, 1973, p.35), a estrutura social
se apresenta como a base das relações humanas, ou seja, a maneira como a
sociedade é dividida é conseqüência da maneira como as pessoas se relacionam
entre si.
Elkin (1968) acredita que a sociedade pode ser vista sob vários pontos de
vista, apresentando aspectos distintos entre estes. O autor divide a sociedade em
seis perspectivas distintas. A primeira diz respeito às normas e valores, sendo as
normas referentes aos padrões de comportamento comuns aos membros da
sociedade. Já os valores se referem aos conceitos, às idéias que se julgam certas
ou erradas.
A perspectiva seguinte se refere à posição e ao papel. A posição corresponde
à localização do indivíduo na divisão social, e o papel nas atitudes previstas das
pessoas ao ocuparem determinada posição na sociedade.
A próxima baseia-se nas instituições, as quais possuem normas, posições e
direcionamentos próprios:
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Uma das instituições é a escola, cuja função primordial é transmitir, de


modo mais ou menos formal, uma grande parte das tradições
intelectuais duma sociedade. Dentro da escola há normas relacionadas com
comparecimento, esportes, cursos, festejos de feriados e relações
padronizadas de posições entre alunos, professores, diretor e inspetores.
(ELKIN, 1968, p.19)

Apesar da rotatividade de pessoas dentro dessa instituição, a escola continua


a funcionar durante um extenso período de tempo, socializando diversas gerações.
A quarta perspectiva se relaciona às subdivisões culturais e grupais, dentro da
sociedade como um todo, sendo a classe social uma das mais importantes
subdivisões: “Os indivíduos em nossa sociedade variam na quantidade de fortuna,
prestígio e poder que possuem e associadas a estas divisões, encontram-se
diferenças de valores e modos de vida. Categorizações de classe social poderão
participar de todos esses elementos.” (ELKIN, 1968, p.19).
A penúltima perspectiva focaliza-se no grupo étnico: “Assim encontramos
italianos, gregos, judeus, mexicanos, anglo-saxões e franco-canadenses, que se
distinguem dos outros por seus nomes, sua língua, comidas tradicionais, rituais de
festas, ocupações, folclores, padrões de educação dos filhos e lealdades.” (ELKIN,
1968, p.20).
E, por fim, a sexta e última perspectiva, diz respeito à mudança social; ao fato
da sociedade apresentar mudanças ao longo dos anos, como por exemplo, o
desenvolvimento de novos profissionais, novos cargos empresariais, a mudança na
educação infantil. Ou seja, a sociedade na qual um adulto vive hoje, não é a mesma
em que viveu quando era criança.
Firth (1973, apud CARDOSO e IANNI, 1973, p.36) afirma que a estrutura
social possui uma noção diferente da citada anteriormente, a qual diz respeito às
expectativas comportamentais que as pessoas possuem umas em relação às outras;
ou seja, os membros inseridos em uma mesma sociedade se comportam de acordo
com o papel que possuem: “O conceito de estrutura social é um recurso analítico
que serve para compreender como os homens se comportam socialmente.” (FIRTH,
1973, apud CARDOSO e IANNI, 1973, p.36). Desse modo, a sociedade pode
funcionar adequadamente e apresentar o que o autor chama de “estrutura coerente”,
na qual seus membros sabem o que esperar tanto das pessoas quanto da estrutura
social em que vivem. Elkin (1968) também possui pensamento semelhante ao
afirmar que: “A sociedade tem uma consistência padronizada, de forma a tornar
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possível antever dentro de limites, como as pessoas se comportarão, pensarão e


sentirão.” (ELKIN, 1968, p. 18).
Porém, é importante salientar que esses padrões de ideais e de normas
tendem a ser modificados pelas atitudes dos indivíduos, como conseqüência de
outras influências. (FIRTH, 1973, apud CARDOSO e IANNI, 1973, p.36).
O autor ainda cita um exemplo de mudança de comportamento influenciada
pelo modo de vida de determinada sociedade, em relação ao seu ambiente
geográfico e estrutural:

As relações sociais de importância crucial para o comportamento dos


membros da sociedade, constituem a essência do conceito de estrutura, de
tal sorte que, se estas relações não operassem, a sociedade não existiria
sob essa forma. Quando o historiador da vida econômica descreve a
estrutura social da Inglaterra rural do século XVII lida, por exemplo, com as
relações dos diferentes grupos sociais entre si, destes com as terras
comunais. Estas relações eram fundamentais para a sociedade deste
tempo. Como o sistema de terra comum mudou para o de propriedade
privada, consequentemente estas mudanças afetaram os vários grupos. O
pequeno proprietário e o lavrador, por exemplo, emigraram para uma cidade
industrial ou tornaram-se muito mais diferentes que antes. (FIRTH, 1973,
apud CARDOSO e IANNI, 1973, p.36)

Desse modo, o cidadão antes ambientalizado ao modo de vida no campo, tem


que se adequar às normas e padrões sociais da vida urbana. E assim a sociedade
rural apresenta uma grande alteração estrutural.
Santos (2003) afirma que as sociedades contemporâneas e a sociedade
brasileira apresentam uma característica em comum: a vasta diversidade interna.
Essa se faz presente devido ao fato da população se posicionar de diferentes formas
perante o processo de produção econômica. Algumas pessoas têm o papel de
proprietárias de empresas, fazendas, fábricas; e outras de trabalhadores dessas
instituições: “Essas classes sociais têm formas de viver diferentes, enfrentam
problemas diferentes na sua vida social.” (SANTOS, 2003, p.51). Com isso, as
realidades sociais enfrentadas entre os trabalhadores rurais e operários dos setores
industriais, diferem tanto na renda financeira, no estilo de vida, quanto no acesso à
Igreja, escola, hospitais e áreas de lazer.
Contudo, o autor ainda acredita que a diferenciação entre as classes sociais
não se apresenta tão clara na vida cotidiana dessas pessoas, quanto nas
diferenciações específicas, citadas anteriormente. Isso se deve ao fato do registro
nas grandes metrópoles de uma enorme variedade de camadas sociais distintas,
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intermediárias, apresentando limites sem muita precisão; as quais fazem parte


da conhecida classe média. Dessa forma essa diferenciação também se aplica à
diversidade regional de um mesmo país.

1.2 O que é cultura

Cultura provém do latim colere, que significa cultivar. Segundo Muylaert


(1995, p.17): “Cultura é o conjunto de conhecimentos que uma geração passa para a
outra, o que evita que a humanidade tenha de estar recomeçando sempre.”.
De acordo com Santos (2003), a preocupação em definir o conceito de cultura
se desenvolveu por volta do século XVIII na Europa, mais precisamente na
Alemanha. Em vista de essa nação apresentar-se em diversas unidades políticas,
fez-se presente a busca de uma única identidade alemã. Até então a cultura era
vista como uma preocupação referente à interpretação da história humana, de seus
costumes, da evolução dos homens em relação a seus recursos materiais. Contudo,
a partir do século XIX e com a expansão européia pelo mundo, por meio de suas
conquistas territoriais, surgiram preocupações sobre o início da humanidade. Com
isso as definições pararam de ser impostas pela igreja para serem buscadas
cientificamente pelo homem. Deste modo, a cultura surge com o intuito de distinguir
nações humanas umas das outras, como também para separar e diferenciar o ser
humano dos animais irracionais. Laraia (2000) apresenta a mesma opinião referente
à cultura como diferenciação do animal racional do irracional, ao citar o antropólogo
americano Alfred Kroeber (1876 – 1960) diz que: “... graças à cultura a humanidade
distanciou-se do mundo animal. Mais do que isto, o homem passou a ser
considerado um ser que está acima de suas limitações humanas.” (KROEBER apud
LARAIA, 2000, p.37).
O autor afirma que, desde então, a preocupação referente ao estudo da
cultura humana vem se fazendo presente em questões frequentemente discutidas e
estudadas pela humanidade. À medida que as relações entre os povos se
intensificaram, esse estudo voltou-se tanto para a sociedade contemporânea quanto
para a sociedade já vivida.
11

Santos (2003) também acredita que não é possível definir cultura com um
único conceito. Todos esses estudos resultaram e ainda resultam em diversas
definições do que realmente seria a cultura. De um modo geral, pode-se dizer que a
cultura busca entender os meios que levam os seres humanos aos seus modos de
convivência e às suas expectativas em relação ao futuro. Na citação a seguir o autor
define as diferenças de conceituação em relação à cultura:

Cultura pode por um lado referir-se à alta cultura, à cultura dominante, e por
outro a qualquer cultura. No primeiro caso, cultura surge em oposição à
barbárie; cultura é então a própria marca da civilização. Ou ainda, a alta
cultura surge como marca das camadas dominantes da população de uma
sociedade; se opõe à falta de domínio da língua escrita, ou à falta de acesso
a ciência, à arte e à religião daquelas camadas dominantes. No segundo
caso, pode-se falar de cultura a respeito de qualquer povo, nação, grupo ou
sociedade humana. Consideram-se como cultura todas as maneiras de
existência humana. (SANTOS, 2003, p.35)

O autor ainda afirma que existem vários registros históricos referentes às


modificações sofridas pelas culturas, muitas vezes motivadas por conflitos internos
e/ou por sua diversidade de existência, de realidades distintas e variadas. A cultura
muitas vezes é ligada à formação escolar de um indivíduo, ao seu grau de instrução;
em outros casos relaciona-se cultura ao teatro, música, escultura, pintura, ou seja,
às manifestações da arte como um todo. Ainda pode-se entender como cultura as
crenças populares, a vestimenta de um povo, sua comida, idioma, festividades,
tradições. A cultura também diz respeito ao rádio, à televisão, ao cinema, dentre
outros meios de comunicação atuais.
Contudo, de acordo com Botelho (2001) a cultura apresenta duas concepções
principais: a antropológica e a sociológica. Segundo Laraia (2000), os primeiros
registros de uma primeira definição de cultura formulada sob o ponto de vista
antropológico datam do ano de 1871, no livro Primitive Culture escrito por E. Tylor.
Laraia parafraseia Tylor afirmando que: “... a cultura pode ser objeto de um estudo
sistemático, pois se trata de um fenômeno natural que possui causas e
regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma análise capazes de proporcionar
a formulação de leis sobre o processo cultural e a evolução.” (p.30).
Botelho (2001) afirma que a cultura, sob o ponto de vista antropológico, é
conceituada por meio da relação social dos homens, que desenvolvem a construção
dos seus ideais e valores, seus modos de pensar, agir e sentir. Com isso, esses
indivíduos vivem em mundos sensoriais relativos a particularidades de cada um;
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determinadas de acordo com variáveis relativas à formação regional de cada


indivíduo, a suas concepções religiosas, profissionais, sexuais, intelectuais, etc.:
“Desse modo, a cultura fornece aos indivíduos aquilo que é chamado por Michel de
Certeau, de “equilíbrios simbólicos”, contratos de compatibilidade e compromissos
mais ou menos temporários.” (BOTELHO, 2001, p.74).
Por sua vez, Santos (2003) define a cultura sob o ponto de vista sociológico,
como referente mais aos aspectos sociais do que aos ideais de dada população: “A
primeira dessas concepções preocupa-se com todos os aspectos de uma realidade
social. Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência social de
um povo ou nação, ou então de grupos no interior de uma sociedade.” (SANTOS,
2003, p.24). Desse modo, pode-se falar de culturas distintas, referentes a diferentes
povos, nações, porém focalizando ambas as características, ou seja, estudam-se
diferentes culturas por meio dos mesmos aspectos, distinguindo seus costumes, e
tradições. Já no outro caso, a cultura é focalizada em conceitos referentes às
crenças, conhecimentos, idéias, conceitos, ao modo de vida particular de cada
nação ou povoado. Ou seja, neste caso tem-se a caracterização de aspectos
específicos de cada um, de sua literatura, filosofia, conhecimento científico, artístico,
dentre outros fatores como linhas de pensamento, visões individualistas, maneiras
de se relacionar com a natureza, religiões, alimentação; englobando a chamada
cultura alternativa.
De acordo com Coelho (1987) a cultura, sob o aspecto sociológico, divide-se
em superior, média e inferior:

A cultura superior é aclamada por ser erudita, pura, por ser difícil de digeri-la
e por estar numa posição privilegiada perante a crítica. A cultura média é
chamada de midcult, seria uma cópia infiel e completamente referenciada da
cultura superior, sendo assim um tipo de cultura falsificada, fakecult. Já a
cultura inferior é chamada masscult, a cultura de massa, que está bem
distante da elitização da cultura superior e não tenta imita-la como a cultura
média, pois está bem distante da estética, além disso, sua função é
popularesca. (COELHO, 1987, p.13)

Contudo deve sempre ter a consciência de que cultura define-se como algo
que interage dinamicamente em reflexo a diversos aspectos, não podendo ser
caracterizada de uma única forma. Como exemplifica a citação a seguir:

Cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não


diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções, como por
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exemplo, se poderia dizer da arte. Não é apenas uma parte da vida


social como, por exemplo, se poderia falar de religião. Não se pode dizer
que cultura seja algo independente da vida social, algo que nada tenha a ver
com a realidade onde existe. Entendida dessa forma, cultura diz respeito a
todos os aspectos da vida social, e não se pode dizer que ela exista em
alguns contextos e não em outros. Cultura é uma construção histórica, seja
como concepção, seja como dimensão do processo social. (SANTOS, 2003,
p.44)

Desse modo, a cultura contribui para a compreensão das sociedades e dos


fatores que levam as suas mudanças e transformações.

1.3 Sociedade e Cultura no Brasil

Segundo Linton (1973, apud CARDOSO e IANNI, 1973, p. 98), a cultura é


vista como o modo de vida em uma sociedade. Compreendendo diversos fatores
referentes ao comportamento, muitos deles em comum. Teoricamente pode-se dizer
que a maior parte das pessoas, em uma sociedade, apresentará a mesma reação
diante a determinada situação. E aqueles que não apresentam atitude semelhante
serão taxados de “esquisitos”, fugindo aos padrões sociais. Deste modo, a cultura se
apresenta como um conjunto organizado desses padrões.
O autor afirma ainda que as pessoas inseridas em uma mesma sociedade
têm a cultura como um manual prático de vida social, indispensável em todos os
momentos de vida. Sem a cultura não haveria padrões de convivência social entre
as pessoas. Em vista da previsão comportamental dos membros de uma mesma
sociedade, faz-se possível toda a organização social vigente em nossas vidas; como
por exemplo, as relações entre as pessoas, os papéis cabíveis a cada uma delas,
patrão X empregado, pais X filhos, marido X mulher, proporcionando a todos essa
segurança, baseada na pressão e punição daqueles que não se encaixam a tais
normas e padrões. Desse modo o autor afirma que: “A existência de padrões
culturais é necessária tanto para o funcionamento de qualquer sociedade, como
para sua conservação. A estrutura, isto é, o sistema de organização de uma
sociedade é, em si, um aspecto da cultura.” (LINTON apud CARDOSO e IANNI,
1973, p.99).
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Santos (2003, p.18) afirma que a sociedade brasileira, repleta de classes


e grupos sociais apresenta características regionais distintas umas das outras.
Aponta também o fato da população ter sido colonizada por civilizações distintas,
uma vez que todos esses fatores são refletidos no plano cultural nacional.
Ainda segundo o autor, o Brasil apresenta realidades culturais que muitas
vezes são vistas como culturas estranhas umas das outras. Como por exemplo, os
grupos indígenas, as sociedades urbanas e as rurais, pessoas no interior das
grandes cidades vivendo com características peculiares. Todas essas maneiras de
viver têm suas especificidades, suas características internas e distintas, seu modo
de ver a realidade produzida e seu modo de agir sobre ela.
Desse modo, Santos (2003) afirma que para que se entenda melhor o Brasil,
deve-se salientar a diversidade cultural intrínseca à sociedade brasileira.
Diversidade esta relacionada com os modos de vida de cada grupo, com as
maneiras de atuação diante da vida social. Podendo ainda ser estudadas suas
razões de existência, afim de que, dessa forma, ao entender as razões de ser de
determinadas pessoas ou de grupos sociais, os preconceitos e pré-julgamentos se
façam inexistentes.
De acordo com Laraia (2000), as diferenças geográficas condicionam as
diferenças do ambiente físico e assim determinam a diversidade cultural. Assim, o
autor parafraseia John Locke, afirmando que:

Finalmente, com referência a John Locke, gostaríamos de citar o


antropólogo americano Marvin Harris (1969) que expressa bem as
implicações da obra de Locke para a época: “Nenhuma ordem social é
baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa
mudança no comportamento.” (LARAIA, 2003, p.26)

Desse modo, o determinismo geográfico ressalta que as diferenças do


ambiente geográfico determinam a diversidade cultural. Essas correntes teóricas,
referentes ao determinismo geográfico, se desenvolveram por geógrafos, ao final do
século XIX e no início do século XX. Em 1915, Huntington formula uma relação entre
os grandes centros urbanos e suas latitudes, levando em consideração o clima como
um grande fator para o desenvolvimento do processo.
Porém, durante a década de vinte, renomados antropólogos, dentre eles
Boas, Wissler e Kroeber, concluíram que há certa limitação na influência geográfica
em relação aos fatores culturais. Uma vez que a existência de uma grande
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diversidade cultural inserida em ambientes físicos semelhantes se faz possível.


Como por exemplo, podem-se citar os grupos indígenas localizados no Parque
Nacional do Xingu. Os Kamayurá, Kalapalo e Teumai, tidos como os legítimos
xinguanos, preferem a pesca e a caça de aves aos mamíferos de grande porte, uma
vez que a caça desses animais se faz impossibilitada por razões culturais. Já os
Kayabi, localizados na região Norte do parque, têm a caça de grandes mamíferos
como sua principal fonte de alimentação. (LARAIA, 2000, p.24).
Contudo, ao longo dos anos esses estudos referentes à determinação cultural
ocasionada pelos fatores geográficos, foram deixados de lado dando abertura para
outro aspecto de análise cultural: Paiva (1999) realiza um panorama brasileiro dos
anos 60 até a década de 90. Na década de 60 o Brasil apresenta uma prática
cultural jovem e engajada nas transformações sociais geradas pela busca ideológica
de uma cultura nacional e popular. Em seguida, nos anos 70, a produção cultural
alternativa se faz presente no Brasil através do jornalismo, da literatura, das
estéticas culturais contrárias às impostas pelo Estado sob os moldes do regime
militar. Desse modo, esse período apresenta a expansão dos meios de comunicação
e da cultura de massa. E por fim, nos anos 80/90 ocorre uma rejeição em relação
aos conceitos estabelecidos e definidos nas décadas passadas.
O autor explica que, a interpretação relacionada à sociedade e cultura no
Brasil, nos anos 60, buscou uma explicação referente aos problemas do país, como
por exemplo: as maneiras de existência do poder econômico, político e cultural nos
moldes do “imperialismo norte-americano” e também dos modos de controle e
dominação feitos internamente pelo Estado e pelas chamadas “classes dominantes”.
Por sua vez, nos anos 70 há uma formalização estrutural referente aos estudos dos
grandes sistemas e seus conceitos, como por exemplo, ideologia, Estado, história e
classes sociais. No entanto nas décadas de 80/90 ocorre uma crítica social
constante, baseada nos conceitos anteriormente definidos de noções de consciência
social, alienação e engajamento social da arte.
Desse modo o autor afirma que:

O desenvolvimento do país, os novos estilos das relações sociais (inclusive


os modos de integração e exclusão), a globalização e a nova desordem das
tribos urbanas conduziram as interpretações da sociedade e da cultura
rumo a outras perspectivas, entre as quais, um olhar mais detido sobre o
imaginário coletivo, como uma maneira de compreender as imagens, mitos
e símbolos que reafirmam os laços entre os atores sociais. (CARDOSO de
PAIVA, 1999, p.2)
16

Desse modo, os pesquisadores buscam propor um novo enfoque sobre as


culturas do cotidiano.
Paiva parafraseia Afonso Romano de Santana afirmando que: “O Brasil é um
enigma. É próprio de um enigma provocar interpretações polissêmicas e
contraditórias. Todo enigma verdadeiro é, ao mesmo tempo ficção e realidade.”
(SANTANA apud PAIVA, 1999, p.1).

2 SOCIEDADE DE CONSUMO E O MERCADO CULTURAL

2.1 Identidade Cultural

2.1.1 A identidade cultural na pós-modernidade


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Segundo Hall (1998), as sociedades modernas do final do século XX sofreram


uma transformação decorrente da mudança estrutural. Este fato consequentemente
afeta as categorias de classificação social: étnicas, sexuais, nacionais, etc.; as quais
anteriormente haviam estabelecido concretas localizações aos indivíduos sociais.
Desse modo, essas transformações mudam as identidades pessoais dos indivíduos,
destruindo a noção individual de sujeitos integrados. Todo o processo recorrente a
perda de “sentido em si” é chamado de descentração ou deslocamento do sujeito.
Contudo, essa perda tanto pessoal quanto no mundo cultural e social, constitui a
chamada “crise de identidade”. Parafraseando Kobena Mercer o autor afirma que:
“A identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que
se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da
incerteza.” (MERCER apud HALL, 1990, p.9).
Como afirma Silva (2002), o homem na pós-modernidade busca uma maneira
de se identificar dentro da sociedade em que vive. Porém, em vista das inúmeras
transformações que sua identidade apresentou ao longo de sua vida, cada vez se
faz mais difícil definir essa identificação tão desejada. O autor afirma ainda que:
“Hoje, o homem é um ser com uma identidade híbrida e vive sob o signo da pós-
modernidade.” (SILVA, 2002, p.7).
Desse modo, afim de melhor compreender o conceito de identidade, Hall
(1998) diferencia três identidades referentes a distintos indivíduos sociais: o sujeito
do iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. O primeiro sujeito é
baseado na concepção de indivíduo centrado, repleto de consciência, ação e razão.
Apresentava o centro social do eu na identidade de uma pessoa. Esta concepção é
classificada como “individualista”.
Por sua vez, a identidade do sujeito sociológico diz respeito à reflexão da
complexidade do mundo moderno e também à consciência de que o centro social do
indivíduo é formado na integração com outras pessoas de importância, as quais
transmitiam a ele os valores, sentidos e a cultura dos mundos em que habitavam.
Nessa concepção, a identidade preenche a lacuna entre o “interior” e o “exterior”.
Realiza-se dessa forma, a integração do indivíduo à sociedade em que vive.
18

Contudo, a mudança atual ocorre justamente nesse aspecto anteriormente


concretizado e estabilizado, entre o indivíduo e a sua posição dentro da sociedade.
O autor completa essa teoria afirmando que:

O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e


estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas
de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas.
Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens
sociais “lá fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as
“necessidades” objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como
resultado de mudanças estruturais e institucionais. (HALL, 1998, p.12)

Desse modo, o atual processo de identificação, torna-se provisório, variável e


problemático.
Contudo, é nesse contexto que surge a identidade do sujeito pós-moderno, o
qual não apresenta uma única identidade fixa, padronizada ou até mesmo
permanente. A identidade é transformada e formada constantemente em relação à
representação do indivíduo inserido na sociedade. Ou seja, o homem possui
identidades distintas em diferentes momentos, as quais o fazem um ser inconstante,
que perde sua coerência perante atitudes diversas. Porém essa inconstância se
apresenta em conseqüência do sistema social atualmente em vigor, como o autor
cita a seguir:

A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma


fantasia. Ao invés disso, na medida em que os sistemas de significação e
representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma
multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis, com
cada uma das quais poderíamos nos identificar – ao menos
temporariamente. (HALL, 1998, p.13)

Desse modo, segundo o autor, essa identidade unificada desde o nascimento


até a morte, citada anteriormente, é estabelecida na construção de um “eu” cômodo
em relação à vida, como uma pessoa sem atitude alguma perante a sociedade. Com
isso é classificada como utópica, ou seja, estabelecida dessa maneira a identidade
se torna incomum e incoerente perante aos sujeitos inseridos na sociedade atual, a
qual impossibilita a construção e estabelecimento de uma única e exclusiva
identidade, imutável e indestrutível.

2.1.2 O impacto da globalização na identidade cultural


19

De acordo com Silva (2002) o homem pós-moderno perde a referência da sua


identidade cultural com o avanço da globalização. E esse novo modo de vida
apresenta como característica fundamental a ausência de barreiras culturais e
sociais. Dessa forma, o homem se vê inserido em um contexto repleto de diversas
culturas, no qual a sua própria cultura é desfigurada em relação à coletividade de
identidades inseridas no sistema em vigência.
Contudo, Hall (1998) afirma que as sociedades modernas são, por essência,
sociedades de mudança constante, veloz e permanente. E dessa forma distinguem-
se das sociedades tradicionais. O autor parafraseia Anthony Giddens, afirmando
que:

Nas sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos são


valorizados porque contêm e perpetuam a experiência de gerações. A
tradição é um meio de lidar com o tempo e o espaço, inserindo qualquer
atividade ou experiência particular na continuidade do passado, presente e
futuro, os quais, por sua vez, são estruturados por práticas sociais
recorrentes. (GIDDENS apud HALL, 1998, p.14)

Desse modo, em contrapartida, a modernidade não é conceituada unicamente


como a experiência de vivência na agitada e rápida vida atual; mas sim na reflexão
da vida como um todo. Ou seja, a modernidade filtra as informações recebidas,
referentes à cultura e sociedade e transforma-nas ao seu contexto atual.
Porém, Silva (2002) afirma que não há uma data exata na qual possa se ter
como o início da pós-modernidade, mas sim todo o contexto de um período inserido
na humanidade. Desse modo, Silva parafraseia Tetu ao afirmar que:

A pós-modernidade não é um estilo de época a ser estudado como o


romantismo, realismo, simbolismo..., que têm uma lista de características,
não é isso. Há toda uma condição, pós-moderna, que corresponde a uma
sociedade pós-industrial, que marca um momento pós-utópico, que não tem
sentido na projeção de um futuro, da utopia, pois o tempo privilegiado não
será o futuro, mas o presente. (TETU apud SILVA, 2002, p.11)

Desse modo, o indivíduo busca no seu passado a origem de sua cultura, a fim
de se fortalecer no presente; para que dessa forma não seja engolido pelo sistema,
o de sobrevivência dos mais fortes.
20

Contudo, é nesse contexto que ocorre a perda de referência cultural do


indivíduo, o qual muitas vezes não sabe nem aonde nem como se situar em
determinado momento. Em conseqüência da crescente globalização, é cada vez
mais freqüente essa ocorrência de perdas de identidade, em vista da transformação
do indivíduo em apenas mais um dentre tantos outros milhões. Desse modo, o
homem busca o equilíbrio e a definição do seu eu interior e exterior. Procura saber
quem ele realmente é, e em qual sociedade se insere nesse contexto de interação.
Desse modo, não é possível afirmar concretamente qual é a identidade de um
povo ou de uma nação, em vista da constante mudança sofrida por todas as regiões
mundiais. Porém não é possível afirmar que essa não o possua: “Pois os símbolos
mesmo que inconscientes são reforçados pela indústria cultural, para uma
sociedade de massa, que os usa para conseguir conquistar novos consumidores
para os seus produtos.” (SILVA, 2002, p.11)
No entanto, observa-se que, para que a cultura global seja absorvida por
determinada população ou nação, em primeiro lugar ela precisa do respaldo local
para que isso ocorra. Com isso deve-se destacar o fato considerado como o grande
dilema da sociedade atual: até que ponto o indivíduo está se deixando influenciar
pelas outras culturas, e até que ponto a sua cultura está sendo deturpada pelas
diversas identidades propagadas pela indústria cultural.
Desse modo, essa crise é vista como conseqüência da vida do homem em
uma sociedade que aniquila a todo instante suas referências sociais e culturais, a
qual desenvolve dessa maneira a necessidade de criação de novos valores: “O
homem pós-moderno produto de uma internacionalização das relações econômicas
está inserido em um amplo processo fragmentário, na qual ele não consegue mais
sentir-se representado no ambiente no em que ele está inserido.“ (SILVA, 2002,
p.12). Com isso, em busca dessa representação o indivíduo volta-se a si mesmo a
fim de encontrar o seu eu interior, o que consequentemente valoriza a sua região de
nascimento, ou seja, revaloriza o local.
Porém, o autor afirma que esses fatores desestruturadores da identidade não
resultam de uma atitude premeditada pelos homens detentores do poder da
sociedade contemporânea. Ela ocorre em conseqüência de qualquer processo em
vigor, seja ele o de globalização ou transnacionalização, da sociedade e/ou
economia. Está diretamente ligada à informação, ao conhecimento, e também a
21

busca inconsciente de proteger-se da globalização, ao mesmo tempo em que


procura dominar esse processo.

2.2 O mercado cultural

2.2.1 A indústria cultural

De acordo com Coelho (1987), não se pode falar de indústria cultural em um


contexto anterior ao da Revolução Industrial do século XVIII, uma vez que a indústria
cultural, os meios de comunicação de massa e a cultura de massa surgiram como
conseqüência da industrialização. É através da industrialização que o modo de
produção e a forma do trabalho humano são modificados, e desse modo surge a
indústria cultural e a cultura de massa. Assim como nos princípios previamente
estabelecidos estes também apresentam o freqüente uso das máquinas e a
submissão do trabalho humano frente à acelerada velocidade de produção das
máquinas, a divisão do trabalho e a exploração do trabalhador. Contudo é
importante salientar nesse quadro a existência de uma economia de mercado,
baseada no consumo de bens, na qual na segunda metade do século XIX se faz
necessário o surgimento de uma sociedade de consumo.
Desse modo, a sociedade capitalista liberal é caracterizada, apresentando
ainda a crescente oposição de classes na qual se inicia o surgimento da cultura de
massa. Nessa sociedade a reificação e a alienação são características marcantes
que merecem destaque. A primeira diz respeito à “coisificação”, ou seja, a maior
importância de avaliação presente nessa sociedade se refere à coisa, ao bem, ao
produto, a propriedade; uma vez que até o próprio homem é transformado em coisa.
Contudo esse ser humano “coisificado” tende à alienação trabalhista, trocado pelo
valor que lhe é pago referente à dura jornada de trabalho; trocado pelo produto que
produz, mas que não pode comprar; alienado à própria vida que não pode usufruir
em vista da falta de tempo livre que lhe é disponibilizado pelas indústrias.
Segundo Nunes (1991) o artista plástico que ao longo da história conquistou a
liberdade de criação e de expressão, desvinculando-se da Igreja e depois da
22

imposição da nobreza dentre os séculos XVI e XVIII, passou, no século XIX, a


vivenciar a anulação conseqüente da economia capitalista, a qual o forçou a produzir
para o mercado e de acordo com as normas da concorrência, referentes tanto aos
produtos industriais quanto às obras de arte, transformadas em meras mercadorias.
De acordo com Coelho (1987), nesse contexto a cultura também se
transforma em coisa, perde sua identidade como instrumento de crítica e
conhecimento para se tornar um produto como outro qualquer. Uma cultura fadada à
morte, não mais utilizada pelo indivíduo ou pelo grupo que a produziu, mas sim
como valor em dinheiro trocado por quem a produz.
É esse o quadro da caracterização da indústria cultural, o qual apresenta
como base a revolução industrial, o capitalismo liberal, a economia de mercado e a
sociedade de consumo. Desse modo, se faz presente o surgimento da cultura de
massa; através da era da eletricidade e da eletrônica, nas quais a penetração dos
meios de comunicação se torna cada vez mais intensa. Contudo, o auge da cultura
de massa se faz no século XX, quando o capitalismo agora caracterizado mais como
de organização do que liberal, desenvolve os requisitos necessários para que a
sociedade de consumo seja realmente estabelecida através dos veículos de
comunicação mais propriamente a televisão. No entanto, essa sociedade de
consumo se concretiza mais intensamente nos países do Primeiro Mundo (EUA,
Alemanha, Inglaterra, etc.) do que nos do Segundo (os países socialistas) e Terceiro
(os subdesenvolvidos). Desse modo, baseado nos moldes das sociedades do
Primeiro Mundo, o consumo norteia a organização da sociedade nos países
socialistas e também nos subdesenvolvidos.

2.2.2 Cultura superior, cultura média e cultura de massa

Coelho (1987) afirma que para a definição de indústria cultural ser


completamente descrita é necessária a conceituação de cultura superior e cultura de
massa e também a focalização referente a oposição entre elas.
O autor parafraseia MacDonald, ao relatar a existência de três perspectivas
de manifestações culturais: a superior, a média e a de massa. Por cultura superior
entendem-se todos os produtos aceitos pela crítica erudita, como por exemplo, as
23

pinturas do Renascimento e as composições de Beethoven. Por sua vez a


cultura média, também denominada midcult, refere-se aos valores da pequena
burguesia. Seus produtos podem ser exemplificados pelas obras de Mozart
reproduzidas em ritmo de discotecas e também pelas pinturas de artistas
desconhecidos, vendidas em feiras de rua.
No entanto, a cultura de massa, caracterizada como uma cultura “inferior”,
não apresenta facilidade em exemplificar seus produtos típicos. Ocorrem várias
dúvidas referentes à cultura propagada pelos meios de comunicação de massa
(rádio, televisão e cinema) e a comparação com a produzida pelo teatro ou pela
literatura. Uma vez que esta deveria ser comparada com a cultura proveniente da
moda e dos costumes referentes à alimentação. Também ocorre confusão ao
caracterizar algumas histórias em quadrinhos. Como por exemplo, o caso das
histórias em quadrinhos, que dependendo de seus contextos não são caracterizadas
como de cultura de massa.
Contudo, essa dificuldade também se faz presente ao relacionar as classes
sociais às três perspectivas culturais. No caso de um simples trabalhador, que
consome basicamente a cultura de massa, se satisfazer com Beethoven em uma
apresentação direcionada ao grande público. Ou até mesmo o caso de um
renomado profissional se interessar por um programa de televisão típico da
masscult. Uma vez que esses fatos comprovam que as formas culturais não são
completamente determinadas pelas classes sociais. Desse modo, deve-se atentar
para o fato de que nos registros históricos a passagem de um produto cultural de
uma perspectiva inferior para outra superior se faz em apenas questão de tempo. “É
o caso do jazz, que saiu dos bordéis e favelas negras para as platéias brancas dos
teatros municipais da vida.” (COELHO, 1987, p.18).
Desse modo, não há facilidade em distinguir a midcult de masscult. A
primeira pode ser classificada como a cultura do indivíduo recém burguês, ou até
mesmo do “novo-rico” e “novo-culto”. Sob esse aspecto a midcult apresenta quatro
diferenciações em relação à cultura de massa:

a) por tomar emprestado procedimentos da cultura superior, desbastando-


os, facilitando-os; b) por usar esses procedimentos, quando eles já são
notórios, já foram “consumidos”; c) por rearranjá-los, visando à provocação
de efeitos fáceis; d) por vendê-los como cultura superior e, por conseguinte,
tentar convencer o consumidor de que teve uma experiência com a
verdadeira cultura, num processo que o tranqüiliza e que substitui, em sua
24

mente, outras inquietações e indagações que possa ter. (COELHO,


1987, p.20)

Porém, essa perspectiva é apenas a categorização feita por pessoas


pertencentes à classe dominante, as quais estão inseridas no ciclo de influência
social dominante, que por mais bem intencionadas que estejam podem apresentar
tendência a não discernir completamente as diferenças.

2.2.3 Funções da masscult

De acordo com Coelho (1987) a cultura de massa aliena o indivíduo, força-o a


perder ou então a anular a construção de sua imagem perante a sociedade. Pode-se
dizer que a cultura tem função “narcotizante” e aliena os homens através do
divertimento. É desse modo que a cultura de massa proporciona ao indivíduo à fuga
da realidade, mascara a realidade existente ou então a deturpa. Contudo, ela
também enfatiza as normas sociais, repetindo-as frequentemente. E é desse modo
que promove nos indivíduos a conformidade social.
A indústria cultural fabrica produtos única e exclusivamente para serem
trocados por dinheiro: promove, dessa maneira, a deturpação e degradação do
gosto da população, faz produtos simplificados para assim obter uma atitude
inerente à ação; ao invés de ser prestativa é manipuladora.
Porém a indústria cultural também apresenta defesa: ao afirmar que ela não
aliena à população na medida em que suas produções beneficiam o
desenvolvimento do homem. Como por exemplo, pode-se citar o fato das crianças
atualmente dominarem precocemente a linguagem, em vista da televisão. Também
se pode citar a moda, que promove a longo prazo, mudanças positivas no
comportamento moral e ético dos indivíduos.
O autor parafraseia Engels, afirmando que o excesso de informação se
transforma em formação dos indivíduos; ou seja, a quantidade de informações faz
com que haja perda na qualidade de informação. Ou ainda, a indústria cultural desse
modo pode vir a realizar a unificação das nacionalidades e também das classes
sociais.
25

Entretanto, a preocupação a ser considerada mais importante não seria a


de se lamentar perante as circunstâncias e desta forma não tomar atitude alguma
perante a melhoria da situação a que se encontra o devido momento presente; mas
sim a de relatar sobre o que se pode fazer em relação ao que já existe ao que
parece superficialmente irreversível. Ou seja, ao invés de se preocupar se a
indústria cultural é benéfica ou maléfica, o importante a ser feito é modificar essa
visão e assim partir do pressuposto de que baseado na realidade existente o que se
pode fazer para torná-la melhor.
O autor propõe a mudança na denominação de cultura de massa para cultura
industrial ou industrializada. Pois desse modo, evitar-se-ia a degradação de que tudo
que é da massa é identificado como ruim; e também em vista da classificação “de
massa” não possuir uma concreta definição do que realmente corresponde à massa;
em alguns momentos são todas as pessoas, em outros é o povo excluindo-se a
classe dominante, e dessa forma essa falta de conceituação acaba de ser
erroneamente denominada.
Desse modo, tem-se a denominação de que não existe cultura de massa,
pelo fato de “massa” ser um termo sem concreta definição, considerado inexistente.
E dessa maneira essa denominação realmente se faz inexistente uma vez que ela
não é da massa, pois não é fabricada pela massa. Em todo o caso, volta-se para
que o melhor a ser feito em primeiro lugar é a mudança na denominação desse
termo para cultura industrial ou industrializada.
Contudo de acordo com Santos (2006) atualmente a mídia brasileira,
(revistas/jornais, rádios e canais de televisão) é manipulada e controlada por seis
grandes empresas nacionais: Rede Globo, SBT, Folha de São Paulo, Bandeirantes,
Estado de São Paulo e Rede RBS. O autor afirma ainda que a TV Cultura que como
o próprio nome descreve é uma emissora que apresenta grande qualidade em seus
programas veiculados, mas que não possui audiência nacional. Uma vez que
segundo o autor, a população brasileira concede preferência aos programas que
apresentam baixa qualidade de programação e que possuem o apelo à sexualidade
e ao consumismo.
Desse modo Santos (2006) conclui que esses grandes grupos de mídia
manipulam a população para que assim a sociedade brasileira permaneça neste
patamar alienado. Ou seja, a mídia brasileira não possui o interesse em modificar o
quadro econômico histórico brasileiro. Desenvolve a idéia na seguinte citação: “Tais
26

grupos são muito unidos quando o assunto é manipular a população para manter
a sociedade brasileira como está sem resolver seus problemas históricos como a
pobreza, a enorme desigualdade entre ricos e pobres e a falta de educação do
povo.” (SANTOS, 2006, p.3).
Santos (2006) ainda afirma que essas emissoras preocupam-se em inserir em
sua programação a veiculação de programas voltados ao consumismo e a futilidade.
Desse modo, a população brasileira apresenta sua filosofia de vida baseada no
conceito de que para se tornar alguém importante deve-se possuir um enorme
contingente de bens materiais; o autor conclui a afirmação citando a seguinte frase
individualista: “Ter vale mais do que ser”. (SANTOS, 2006, p.3).
Finaliza o assunto ao afirmar que os canais de televisão como também as
emissoras de rádio, são constituídos por concessões públicas pertencentes ao
Governo Federal e que desse modo o Governo apresenta a possibilidade de veto e
de cassação as concessões que apresentam a veiculação de programas
incentivadores à sexualidade e ao consumismo, ou seja, aos programas que não
apresentam programação educativa e cultural direcionados ao crescimento social.
Porém o autor afirma que esse é um fato inexistente no contexto brasileiro de
comunicação.

3 PESQUISA DE CAMPO

3.1 Delineamento da pesquisa de campo

O objetivo geral desta pesquisa é conhecer o perfil de consumo cultural do


público curitibano por meio da identificação dos fatores motivadores e
desmotivadores do consumo da produção cultural local, com base na análise teórica
e na opinião de profissionais da área. Foram realizadas três entrevistas com
profissionais renomados no mercado de produção cultural local: um documentarista,
uma jornalista e um produtor cultural.
A pesquisa é de natureza aplicada, pois objetiva gerar conhecimentos para
aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos. É também
27

exploratória, uma vez que busca proporcionar conhecimento sobre o problema


levantado, com o objetivo de torná-lo conhecido e também de gerar hipóteses
explicativas. E por fim, pode ser classificada como pesquisa qualitativa, pois não
requer o uso de métodos estatísticos para a análise de seus dados, e sim de
métodos de análise subjetiva e interpretativa da pesquisa.
A amostra da pesquisa é classificada como não-probabilística, uma vez que
não possui fundamentação matemática ou estatística e também por sua análise
depender somente dos critérios do pesquisador (SILVA, 2005, p.122). Como critério
de seleção, a amostra se apresenta como de tipicidade, pois de acordo com Silva
(2005, p.127) os entrevistados serão selecionados de um subgrupo da população,
do qual já se possui informações relevantes ao estudo. Neste caso são pessoas que
estão inseridas na área de produção cultural local curitibana, sejam como
produtoras, pesquisadoras ou críticas. Deste modo, será entrevistado um
profissional de cada área de atuação referente à produção cultural curitibana.
Em relação ao método da coleta de dados, foram realizadas entrevistas em
profundidade: “É um método flexível de obtenção de informações qualitativas sobre
um projeto. Este método requer um bom planejamento prévio e habilidade do
entrevistador para seguir um roteiro de questionário, com possibilidades de introduzir
variações que se fizerem necessárias durante sua aplicação.” (BARBOSA, 1999,
p.2). De acordo com Duarte (2005), esse método se apresenta como técnica
qualitativa que busca explorar um dado assunto a partir de informações,
experiências e percepções dos informantes entrevistados: “A entrevista em
profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em pressupostos
definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de
uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer.” (DUARTE,
2005, p.62).
A entrevista é classificada como semi-aberta, uma vez que apresentará um
roteiro por meio de questões previamente estabelecidas. O autor parafraseia
Triviños (1990, p.146) ao afirmar que esse método: “parte de certos
questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à
pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de
novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do
informante.” (TRIVIÑOS apud DUARTE, 2005, p.66). Com relação às questões
formuladas, estas possuem sua origem no problema em questão e buscam abranger
28

a amplitude do tema pesquisado. Desse modo, cada pergunta se apresenta da


maneira mais aberta possível. Com isso o roteiro da pesquisa não apresentará
muitas questões, pois a cada pergunta poderão ser feitas outras mais específicas de
acordo com o andamento das respostas dadas pelo entrevistado e também de
acordo com o seu conhecimento sobre o tema. Assim, é possível estabelecer
resultados comparativos das entrevistas de acordo com a abrangência ao tema feito
por cada entrevistado. (DUARTE, 2005)
O procedimento de análise dos dados será realizado qualitativamente. Os
questionários aplicados serão diferentes para cada entrevista. Apresentarão
questões relacionadas umas com as outras, respeitando os limites e as diferenças
de áreas de atuação para cada profissional. Ou seja, os questionários apresentarão
questões semelhantes quando relacionadas à produção cultural de um modo geral,
e questões distintas quando essas se relacionarem a assuntos mais específicos a
cada área profissional de cada um dos entrevistados. Desse modo haverá um
questionário para o documentarista, outro para a jornalista e outro para o produtor
cultural.
Após a realização das entrevistas foi feita uma análise comparativa entre as
respostas dadas por cada um dos entrevistados e também foi realizada comparação
com a fundamentação teórica dos dados citados anteriormente no trabalho. Desse
modo foi possível estabelecer uma conclusão sobre como ocorre a formação da
produção cultural local curitibana sob os aspectos de produção, crítica e análise;
como ocorre sua absorção por parte da população local; se ela realmente
estabelece preferências às produções originárias de outras regiões ou se isso
acontece em vista de uma falha de comunicação dos próprios profissionais da arte e
de órgãos incentivadores.

3.2 Apresentação, análise e interpretação dos fatos

3.2.1 Entrevista com Laís Mann


29

A entrevistada Laís Mann (2007, APÊNDICE A) é além de jornalista,


radialista, atriz, cantora e apresentadora de televisão. Iniciou seu trabalho no rádio
em 1968 e alguns anos depois passou a apresentar telejornais da TV Paranaense. A
respeito da sua experiência profissional afirma que: “Eu trabalho há 30 anos em
Curitiba, faço um trabalho de manutenção do meu nome a duras penas. Sou um
nome respeitado, mas não consigo sobreviver de arte. Nem pensar. Acho que os
produtores locais devem acreditar mais no seu trabalho e ousar mais, criar mais,
vender mais a idéia da arte local.” (MANN, 2007, APÊNDICE A).
Em entrevista concedida para este trabalho via e-mail ela afirma ter duas
visões em relação à produção cultural curitibana. A primeira diz respeito à produção
local e a segunda à produção nacional. De acordo com a jornalista a produção
cultural local praticamente não existe, devido ao fato de os artistas não possuírem
apoio de patrocínios e também apoio de mídia. Acredita que isso ocorre em vista dos
órgãos financiadores e propagadores de produção cultural local darem preferência a
espetáculos “globais”, pois estes apresentam retorno de público garantido.
Em relação à produção nacional, acredita que Curitiba não representa papel
de cidade laboratório, “isso é coisa do passado”. (MANN, 2007, APÊNDICE A).
Afirma ainda que essa fama garante à cidade de Curitiba a vinda e estréia de bons
espetáculos nacionais. Cita também o fato do Festival de Teatro de Curitiba colocar
a cidade em destaque nacional, porém como não assiste aos espetáculos, não pode
fazer críticas concretas.
Acredita que a produção cultural local apresenta excelentes produções
teatrais e musicais. Afirma ainda que a cidade possui uma das melhores escolas de
teatro do Brasil e atenta para o fato de que a maioria dos artistas locais que se
desloca para o mercado nacional apresenta grande destaque e prestígio. Completa
dizendo que: “A população não conhece o artista curitibano e por isso não o
prestigia. O que precisa haver é um reconhecimento de mídia, de produção, de
exposição, e então, o público virá.” (MANN, 2007, APÊNDICE A).
Sob o aspecto de avaliação do público curitibano, classifica-o como
conservador, ignorante e inseguro. Faz essa afirmação devido aos critérios de
escolha do público curitibano serem baseados na aparição de determinados
espetáculos na Rede Globo. Acredita também que deste modo mesmo o espetáculo
sendo de má qualidade o público local irá assisti-lo, além de pagar um preço
30

bastante alto pelo ingresso. Afirma ainda que o público de qualidade em Curitiba
é bastante restrito.
Quanto à qualidade das produções culturais locais a jornalista afirma que são
ótimas, e que não são melhores em conseqüência da falta de apoio proporcionada
pelos órgãos incentivadores e propagadores. Afirma ainda que: “Se nós temos um
evento importante em qualquer área, são chamados profissionais de fora, ou no
máximo os nossos que brilham lá fora.” (MANN, 2007, APÊNDICE A).
Ao comentar sobre a evolução do mercado cultural curitibano ao longo dos
anos em que atua no mercado, afirma que em sua opinião o mercado de arte em
Curitiba apresentou baixíssima evolução ao longo de trinta anos em que está
inserida no mercado. Afirma que no presente momento do mercado cultural local o
que ocorre é que a classe artística está dividida. Desenvolve a idéia dizendo que o
artista que permanece em Curitiba é o responsável pela formação de identidade
cultural local, é que esse apresenta coragem em relação ao fato de ser mais cômodo
se deslocar de sua cidade natal e ir a procura de sucesso em um mercado maior.
Fecha a entrevista com a seguinte afirmação: “Em minha opinião, o respeito ao
artista local é o fator de maior importância para que possamos nos pretender uma
cidade de primeiro mundo”. (MANN, 2007, APÊNDICE A).

3.2.2 Entrevista com Eduardo Baggio

Eduardo Baggio é um profissional de renome regional, nacional e


internacional. Documentarista de destaque, já apresentou veiculação e exibição de
seus trabalhos em Nova York e em diversos países da Europa. É graduado em
Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná e mestre em Comunicação pela
UTP-PR. Atualmente, além de seu trabalho como documentarista e produtor de
cinema, ministra aulas de cinema em diversas faculdades e cursos em Curitiba. A
respeito de sua experiência profissional afirma que:

Eu estudei bastante, gosto muito da área acadêmica, faço pesquisa,


apresento em congresso, mas eu adoro produzir, eu adoro fazer filme e
então eu não consigo me decidir só por um ou só por outro. E acho que até
tem sido muito bom pra eu estar nos dois. Um auxilia muito o outro. Nem
fecha muito sua visão naquela só de mercado e nem ao mesmo tempo
perde esse contato prático que pra aula em alguns casos, não em todos, é
muito importante. (BAGGIO, 2007, APÊNDICE B)
31

Em entrevista concedida ele afirma que em sua opinião a produção


cultural curitibana é ampla, diversa e em geral pouco conhecida pelos próprios
curitibanos. Acredita que isso ocorre devido a problemas de inserção. Porém
defende que esse é um problema a ser resolvido pela própria classe artística, por se
tratar de uma questão de tempo e por dizer respeito ao conhecimento por parte dos
artistas em saberem trabalhar a produção cultural diante do público. Defende a idéia
de que Curitiba é uma cidade extremamente cosmopolita em vista de que diversas
pessoas de Curitiba que realizam ótimos trabalhos que estão publicados em outros
lugares do mundo, ao em vez de se concentrarem a produzir em sua própria cidade,
preferem buscar o sucesso e o renome nacional e muitas vezes internacional em
mercados maiores. Acredita também que esse fato se torna muito negativo em
relação à identidade cultural curitibana. Justifica essa afirmação dizendo que tal fato
acarreta uma falta de identidade local. Afirma ainda a respeito de Curitiba carecer de
uma definição e identificação de sua identidade, assim como é vista e identificada
em outras cidades citadas pelo próprio a seguir:

A produção cultural carioca, a gente sabe mais ou menos que tem uma
definição, uma identidade; a gaúcha, a pernambucana e tal... E Curitiba não
tem sua identidade. Mas eu acho que isso por um lado é um fator muito
positivo. Acho que é uma cidade que está muito aberta; guardadas as
proporções eu acho que São Paulo é um pouco assim também, São Paulo
também não tem muita identidade. Mas tem uma diversidade muito grande.
(BAGGIO, 2007, APÊNDICE B)

Em relação aos fatores responsáveis pela formação de uma identidade


cultural concreta, Baggio cita seu professor de mestrado Décio Pignatari ao afirmar
que a expansão cultural, assim como a identificação de uma identidade
característica em determinada região, está vinculada ao desenvolvimento econômico
e ao posicionamento político possuído por essa região. Compara as capitais Curitiba
e Porto Alegre, no sentido da definição de identidade em relação à estrutura
econômica e política de cada uma. Desenvolve a idéia afirmando que ambas as
cidades apresentam o mesmo tamanho e o mesmo número de habitantes além do
PIB dessas cidades ser muito semelhante. Descreve que Curitiba chegou a esse
patamar, principalmente no campo econômico, de igualdade com Porto Alegre, há
poucos anos. Afirma que durante muito tempo Porto Alegre foi uma cidade
economicamente mais importante e principalmente politicamente melhor estruturada
e representada. E atenta para o fato de que além de a região paranaense apresentar
32

pouca presença política possui o seu desenvolvimento econômico estabelecido


alguns anos depois do de Porto Alegre. De acordo com Baggio (2007, APÊNDICE B)
esse fator ocorre ao longo dos anos, de modo gradativo. Exemplifica esse fato
internacionalmente, fazendo citação a: “Barcelona é uma grande cidade que possui
uma identidade cultural muito forte, com uma produção cultural muito forte. Já Nova
Yorque é uma cidade que não apresenta uma clareza cultural, é uma mistura. Assim
como Milão e Roma, na Itália. Roma é extremamente característica, e Milão
cosmopolita.” (BAGGIO, 2007, APÊNDICE B).
Ao fazer um panorama sobre a produção e sobre o mercado cultural local,
desde o início da sua carreira até os dias de hoje, afirma que atualmente a história
da produção cultural curitibana presencia uma revolução e também uma mudança
na maneira de ensino. Cita que ao contrário dos dias atuais, antigamente em
Curitiba não existiam graduações em cinema, em cursos e em especializações, os
quais existem nos dias de hoje, o que desse modo segundo Baggio (2007,
APÊNDICE B) acarretou em mudança no sistema de ensino de cinema. Descreve
ainda que além da questão da acessibilidade, o surgimento da internet ocasionou e
ainda ocasiona um grande número de acessos de diversas produções feitas em
qualquer lugar do globo. Conclui que desse modo esses recursos não formam um
bom profissional, apenas indicam uma possibilidade de eles serem bons. Acredita
também que atualmente, em vista do mercado encontrar-se saturado, os
profissionais de comunicação deveriam pensar de uma outra forma, a qual
exemplifica na citação: “Acho que bons exemplos assim da idéia que se tem de
comunicação em alguns países da Europa, na Austrália também, onde você tem
uma visão muito mais aberta que envolve produção cultural e que envolve
comunicação corporativa, institucional, comunicação dirigida.” (BAGGIO, 2007,
APÊNDICE B).
Ele acredita também que o mercado carece de produtores culturais, de
pessoas que se dediquem a pensar nas áreas que ainda não foram exploradas.
Atualmente, afirma Baggio (2007, APÊNDICE B) os sites de divulgação cultural
existentes em Curitiba não trabalham adequadamente com várias mídias em
projetos de vídeo e de áudio. Conclui que o que falta aos profissionais é
empreendorismo, uma vez que com a possibilidade de direcionar a comunicação a
várias áreas ocorre a possibilidade em atingir diversos grupos e pessoas. Esse fato
resulta segundo o entrevistado em facilidade de produção, portanto torna-se mais
33

fácil a construção de trabalhos de qualidade. Identifica que os canais de televisão


no Brasil não dão devidos espaços às produções independentes, à criação e ao
desenvolvimento de boas matérias e que esse quadro poderia ser modificado. Toma
como exemplo a Holanda, que possui cerca de quarenta canais de televisão abertos.
Afirma que existe, em Curitiba, espaço tecnológico e também espaço econômico
maior do que está sendo explorado.
Baggio (2007, APÊNDICE B) não acredita que esses fatores aconteçam
devido ao jeito de ser do curitibano estereotipado como fechado. Acredita que em
várias áreas há um problema de cristalização dos modelos e afirma que com a
liberação na internet da indústria cinematográfica a distribuição proporciona que
filmes produzidos no Brasil sejam veiculados em canais da Europa, por exemplo.
Ao falar sobre apoio e incentivo afirma que lei de incentivo é necessária,
porém extremamente paternalista, pois torna o sistema de produção cultural um
pouco dependente. Acredita que o que se precisaria realmente seriam de leis
melhores. Por meio de uma boa regulamentação do mercado cultural, a
regulamentação de TV no Brasil não restringiria mais o aumento de produção
independente, a pluralidade. Acredita que as regras e leis para distribuição
cinematográficas são bastante complicadas, pois direcionam para apenas as
grandes empresas. Ele não gosta da idéia de que o governo deva dar dinheiro para
os produtores financiarem seus trabalhos e acredita ser esse o pior caminho, uma
vez que dessa forma os realizadores e produtores culturais não se esforçam para
buscar uma viabilidade do seu trabalho porque já estarão com ela garantida.
Acredita que o melhor caminho a ser tomado são mudanças em questões legais de
regulamentações e visões estratégicas.
Baggio também acha que há uma diferença importante entre as diversas
áreas artísticas em relação à reprodutibilidade técnica, pois há uma tendência de
preferência pelos materiais produzidos fora da região local, em especial do Rio e de
São Paulo, onde se encontram as grandes gravadoras, as cabeças de rede dos
canais de TV, onde ocorre a indústria de distribuição cinematográfica. Acredita que a
população curitibana possui interesse sim em ver trabalhos produzidos localmente,
porém os canais de exibição não possibilitam esse espaço aos trabalhos locais.
Ele acredita que ocorre uma falha na comunicação, que os veículos de
comunicação por serem empresas, têm fins lucrativos e de acordo com esse
contexto, irão seguir a demanda e a legislação do país. Simplifica afirmando que
34

basta ocorrer a criação de mecanismos facilitadores para a divulgação da


produção local, que os canais irão se interessar. Como, por exemplo, nos EUA, onde
se tem uma legislação para a televisão aberta, a qual obriga que cinqüenta por certo
da produção áudio-visual exibida em televisões de sinal aberto, sejam produções
independentes. Na Holanda também ocorre isso, o profissional que possui uma
concessão de TV é proibido de produzir, apenas deve organizar a grade e comprar a
programação de independentes. E em relação ao Brasil afirma que esses
mecanismos ao invés de serem facilitadores são dificultadores, como mostra na
citação a seguir:

É aqui pra se conseguir usar um canal de UHF existe uma série de


limitações técnicas: é de freqüência, do tipo de antena que se usa, porque
praticamente inviabiliza o canal UHF, por isso que eles existem como existe
o canal 21, como existe a MTV gerada em Curitiba em UHF, como existe a
Exclusiva em Curitiba. E se ligar a televisão agora na minha casa não pega.
Pega pelo cabo, mas pela antena não pega. E depende da região da
cidade, há uma restrição muito grande. (BAGGIO, 2007, APÊNDICE B)
Em relação aos lugares em que busca recursos para produzir seus materiais,
Baggio (2007, APÊNDICE B) afirma que em trabalhos menores utiliza até recursos
próprios, porém em alguns dos documentários maiores precisa de financiamento.
Afirma que a criação das leis de incentivo condicionou um caminho pra se chegar a
elas, pois há a carga de insenção de impostos. Acredita que as empresas não se
preocupam em propagar a cultura, mais sim em obter a insenção de impostos,
exemplifica na citação a seguir:

As empresas não apóiam simplesmente um trabalho porque acreditam em


uma produção cultural. Elas simplesmente querem a carga de insenção de
impostos. O que dificulta e muito o trabalho dos artistas, uma vez que esse
processo para obtenção de recursos, é muito lento e dispendioso, levando
muitas vezes até doze meses para a liberação da verba. (BAGGIO, 2007,
APÊNDICE B)

Conclui que com isso a vontade de produzir determinado material já não é a


mesma vontade que se tinha no início do processo, ou seja, o trabalho começa de
uma maneira desgastada.

3.2.3 Entrevista com Luiz Roberto Meira


35

Luiz Roberto Meira é formado em Artes Cênicas pela PUC-PR, atua


profissionalmente como professor de teatro, ator profissional, diretor e produtor
teatral. Acredita que a produção cultural curitibana amadureceu durante alguns anos
atrás; enxerga certa evolução desde quando começou a trabalhar como artista e
como produtor em 1988 até os dias de hoje. Acredita ser este um contexto complexo
de fatores, dentre eles: comprometimento dos artistas, qualidade dos trabalhos
apresentados e por último cita o fator de comprometimento dos artistas com suas
carreiras e com o seu futuro. Acredita que muitos artistas se satisfazem com suas
carreiras, e que esse fato é prejudicial para o artista e também para a própria
produção cultural. Finaliza a idéia fazendo a seguinte afirmação: “Eu costumo dizer
que você nunca pára, ou você vai pra frente ou você vai pra trás. Parar é ir para trás.
Ou seja, comodismo faz com que a produção deteriore.” (MEIRA, 2007, APÊNDICE
C).
Em relação à desvalorização das produções locais ocasionada pela própria
população curitibana, afirma que nesse caso há a ocorrência de dois fatores. O
primeiro diz respeito à avaliação da qualidade da produção. E o segundo a
valorização e reconhecimento pela comunidade. Descreve os fatores afirmando que
o primeiro fator apresenta outros fatores, porém o principal deles diz respeito à
quantidade; a quantidade de valores investidos e quantidade de produções
reconhecidas a nível nacional dentro de Curitiba. Afirma que a capital paranaense
em termos de financiamento e apoio é uma cidade com forte produção, o que
segundo Meira (2007) provoca a criação de uma classe média artística, que não se
tem no resto do país. Desenvolve a idéia afirmando que:

O Brasil é formado por uma distância muito grande entre o grande sucesso
profissional em relação aos níveis de sobrevivência artística. Em Curitiba se
encontram atores que não são reconhecidos nacionalmente, atores que não
recebem valores estratosféricos como atores nacionais. Mas há muitos
anos há mais de dez anos, têm-se atores entre dois a seis anos que
recebem mais de dois mil reais por mês durante sua carreira. E isso não é
encontrado em vários centros como Rio - São Paulo, artistas de várias
áreas, em áreas de teatro que tem mais de dez anos de atuação e que não
conseguem perfazer seus mil reais por mês. (MEIRA, 2007, APÊNDICE C)

Desse modo, afirma que Curitiba é um mercado bastante competitivo que


apresenta profissionais de arte num patamar de classe média. Com relação ao fator
de reconhecimento, Meira (2007) acredita ser muito delicada a relação entre a
qualidade da produção com o reconhecimento, uma vez que não acredita ser
36

possível fazer a relação entre a qualidade e reconhecimento do público. Em


relação à questão de reconhecimento, ou seja, das pessoas irem ou falarem a
respeito do espetáculo, de acordo com Meira (2007) está relacionada diretamente a
dois papeis que a produção de determinado espetáculo apresenta em relação a
seus contatos e investimentos na área publicitária e com relação a seus contatos e
investimentos com formadores de opinião. Porém afirma que esses dois fatores não
interferem um no outro. Desenvolve a idéia afirmando que: “determinado show
apresenta uma boa campanha de marketing, mas não possui contatos com bons
jornalistas. Nesse caso, pode ocorrer da Gazeta do Povo falar mal do espetáculo,
mas esse ter a venda total de ingressos.” Conclui a afirmação dizendo que um fator
não interfere no outro.
Afirma que a sua opinião a respeito de Curitiba estar fora de centros mais
complexos de arte é a de que a imprensa local aprecia demasiadamente o produto
alternativo. Desse modo segundo Meira (2007) alguns espetáculos que apresentam
grandes produções e boas campanhas de mídia e de marketing são discriminados
pela imprensa por já possuírem recursos próprios. Afirma ainda que os jornalistas se
colocam em uma posição imatura; “eles acham que o papel deles é criticar
produções de grupos constituídos por pessoas já estabelecidas (MEIRA, 2007,
APÊNDICE C).” Comenta que as pessoas que lêem jornal reconhecem a ocorrência
desse problema. Contudo, argumenta que o jornal consegue levar uma quantidade
de pessoas aos espetáculos, porém apenas as leva, não as comove. Acredita que
sempre há comoção de platéia verdadeira, chamada de público espontâneo, ou seja,
é aquele que escolhe o que quer. Meira (2007) cita Gabriel Garcia Márquez ao
afirmar que: “Os profissionais de mídia não entenderam que jornalismo é uma das
áreas da literatura.” (MEIRA, 2007). Conclui ainda que a literatura é sempre
interpretativa e que o papel de lotar e de levar as pessoas aos espetáculos é o da
publicidade, não o do jornalismo, ele é apenas literatura.
A respeito da denominação de Curitiba como cidade teste, Meira (2007)
acredita que essa é uma idéia ultrapassada como se pode concluir na seguinte
citação: “Isso foi criado na década de sessenta e setenta, quando os governos
estaduais investiam em companhias de fora para vir para Curitiba. Isso ai já se
perdeu é uma idéia que está situada dentro da história de Curitiba.” (MEIRA, 2007).
Acredita que o que ocorre atualmente é o fato de que em vista da cidade apresentar
boas produções locais e de possuir festivais consagrados nacionalmente como o
37

Festival de Teatro de Curitiba, muitas pessoas levam seus espetáculos à cidade


por ela apresentar potencial de produção e de críticas consistentes, ou seja, Curitiba
é vista como uma cidade crítica.
Meira (2007) acredita que o que falta para que as produções locais alcancem
maior êxito em suas realizações é o empreendedorismo por parte dos responsáveis
pela produção. Afirma que os artistas desenvolvem trabalhos que estão relacionados
ao que querem em sua carreira em um dado momento, sendo que, de acordo com o
entrevistado, falta a transformação dessa idéia em um potencial de produção.
Exemplifica ao afirma que se podem realizar pesquisas sobre o tipo de trabalho para
identificar melhor seu público e realizar coleta de informações. Finaliza o
desenvolvimento da idéia afirmando que: “Qualidade ela vem mais lentamente, mas
é o movimento natural. Primeiro a gente faz mais, depois a gente faz melhor.”
(MEIRA, 2007).
Em relação ao incentivo, afirma que a cultura não recebe incentivos e apoio
suficientes dos órgãos públicos. Acredita que os fatores a serem considerados em
relação à distribuição desses recursos são as estratégias utilizadas, a maneira que é
feita a articulação com os artistas, como se verifica a aplicação desses incentivos e
qual é o compromisso que se tem no final desse processo. A maior crítica que Meira
(2007) faz é com relação às fases desse processo de incentivo e não com relação
ao incentivo propriamente dito. Justifica a afirmação ao dizer que: “há mais de
quinze anos que Curitiba possui uma lei municipal que dá em média de dois a quatro
milhões de reais por ano. Então não dá pra dizer que não tem incentivo. O que
existe é um incentivo que precisa de um detalhamento para que seja mais eficaz.”
Também afirma que precisa haver diálogo entre artistas e órgãos incentivadores
para que as fases dessa relação sejam detalhadas. Descreve que atualmente o
fundo municipal financia projetos sem mecanismos de mecenato e que em Curitiba
na Fundação Cultural esse foi responsável por mais de vinte editais em seis meses.
Finaliza a questão afirmando, que a solução seria quantidade maior de incentivo
com maior eficácia.
Em relação à comunicação entre artistas e com o público em geral Meira
(2007) afirma que hoje há um aspecto mais cooperativo entre as instituições
constituídas do Sindicato com os artistas independentes. Porém, crê que o artista se
limita à sua equipe criativa para realizar a produção de um determinado trabalho.
Acredita que a solução seria a criação de planos de comunicação melhores, mais
38

dinâmicos com relação ao público. Justifica ao dizer que a carência dos artistas
em relação ao aspecto empreendedor acaba por fazer com que a comunicação
entendida como plano de mídia seja ineficaz. Conclui que isso ocorre devida à falta
de consciência de que o artista precisa contratar profissionais especializados nessas
áreas, porém com o alto custo desse tipo de campanha o artista opta por deslocar
esse dinheiro para outras áreas dentro do próprio espetáculo.
Já em relação à qualidade das produções afirma que esse fato se deve ao
fato de que o artista não realiza plano de carreira. Finaliza fazendo a seguinte
afirmação: “Em qualquer outra profissão o profissional investe mais naquilo que já
conhece e no que sabe irá dar certo. E o artista é assim: dá certo ele quer tentar
uma coisa diferente.” (MEIRA, 2007). Afirma também que desse modo o artista está
sempre inserido em áreas previamente desconhecidas, para as quais não possui a
devida experiência para que ocorra certeza de bons resultados.

3.2.4 Comparação entre as respostas

Os entrevistados ao falarem a respeito de suas carreiras profissionais


afirmaram que não possuem uma única visão de mercado. De acordo com Mann
(2007) não é possível sobreviver somente como profissional de arte no mercado
local; sendo que deste modo optou em ter outras profissões além da de artista local;
é, além de jornalista, radialista e apresentadora de programas de televisão. Já
Baggio (2007) atua profissionalmente como documentarista e professor acadêmico,
além de ter sua carreira como produtor e diretor de cinema. Afirma ainda que esse
fator é benéfico em relação à sua visão profissional, por possuir respaldos teóricos e
também por vivenciar outra área profissional que lhe proporciona uma visão mais
ampla do mercado em relação à sua carreira como produtor cultural local.
A respeito da visão geral que apresentam sobre a produção cultural local
acreditam que em geral é desvalorizada pelo público local, devido a problemas de
inserção e devido à preferência dos veículos de comunicação em transmitir
trabalhos originários do mercado nacional, mais precisamente do eixo Rio – São
Paulo. Mann (2007) afirma que em vista dos artistas locais não possuírem apoio e
patrocínios a produção cultural oriunda de Curitiba se faz praticamente inexistente.
39

No entanto, Baggio (2007) acredita que a produção cultural local é ampla,


diversa e pouco conhecida por parte do público curitibano em geral. Justifica essa
afirmação ao dizer que a maioria dos profissionais locais não se preocupa em
estabelecer sua carreira em Curitiba, mas sim em outros mercados maiores os quais
lhe proporcionam maior facilidade em relação a seu reconhecimento profissional.
Desse modo acredita que Curitiba se transforma em uma cidade cosmopolita, a qual
não possui uma identidade cultural concreta de fácil identificação, mas sim de uma
mistura de identidades nas quais não se faz possível identificar um único perfil
cultural.
Em relação aos pontos negativos encontrados nos profissionais inseridos no
mercado de produção cultural, tanto Baggio (2007) quanto Meira (2007) afirmam que
os profissionais carecem de uma visão empreendedora em relação ao mercado e às
possibilidades em se obter bons resultados. Meira (2007) acredita que os artistas
não realizam planos de carreira que vão além de chegarem a um patamar estático,
ou seja, de acordo com o entrevistado os profissionais se satisfazem com a sua
carreira e não procuram ampliar horizontes. Também descreve que ao invés dos
profissionais de arte realizarem propostas de trabalhos que lhes sejam pertinentes
em relação à sua experiência profissional, estão à procura de realização de
trabalhos distintos dos quais já haviam realizado anteriormente. O que
consequentemente ocasiona na ocorrência de falhas em vista da falta de
conhecimento naquele determinado assunto. Ainda sob a opinião de Meira (2007),
os artistas não possuem a consciência de que para que se alcance sucesso na
divulgação de seus trabalhos se faz necessária a contratação de profissionais
especializados em publicidade, os quais irão realizar bons planejamentos
estratégicos de mídia e também a argumentação adequada com relação ao seu
público-alvo, fazendo com que desse modo, o público seja atingido e motivado a ir
assistir tal espetáculo.
Porém, Meira (2007) também acredita que a imprensa local realiza um
trabalho inadequado, pois desvaloriza espetáculos de qualidade justamente por
esses possuírem bons trabalhos de marketing e de mídia, justificando a ocorrência
desse fato em vistas destas produções já possuírem sua comunicação bem
estruturada. Desse modo, finaliza afirmando que os jornalistas locais se preocupam
em valorizar espetáculos alternativos os quais não possuem qualidade suficiente tal
qual é afirmada pelos veículos jornalísticos.
40

A respeito dos incentivos disponibilizados pelos órgãos e instituições


ocorre que os entrevistados se contradizem. Mann (2007) afirma que os órgãos
financiadores estabelecem preferência aos trabalhos realizados no mercado de
âmbito nacional, pois de acordo com a jornalista esses apresentam certeza de que
essa verba investida terá o retorno esperado. Contudo, Meira (2007) contradiz essa
posição ao afirmar que atualmente se tem um alto valor disponibilizado pelo governo
municipal, porém a falha ocorre nos processos de distribuição desses recursos.
Acredita que se faz necessário o detalhamento desse incentivo em relação aos
artistas e aos órgãos incentivadores, para que desse modo se obtenha a eficácia
esperada em relação à propagação da cultura local por parte dos produtores e
financiadores culturais. No entanto, Baggio (2007) afirma que a lei de incentivo se
faz necessária, porém se constitui em um recurso extremamente paternalista ao
tornar o sistema de produção cultural dependente. Finaliza ao afirmar que a solução
desta questão está na melhoria dos aspectos legais desses trâmites e também no
melhor desenvolvimento estratégico de distribuição dos recursos.

3.3 Considerações finais

Os dados da pesquisa possibilitaram concluir que um dos principais motivos


pelo qual não se dá a devida valorização da produção cultural local curitibana é o de
que a capital paranaense não possui a sua identidade cultural concretamente
estabelecida. Esse fato ocorre em conseqüência de Curitiba se apresentar como
uma cidade que apresenta qualidade em suas produções, mas não a devida
inserção de seus trabalhos nos veículos de comunicação locais. Esses veículos, por
serem constituídos de empresas, as quais visam somente o lucro e a boa imagem
perante seus consumidores, estabelecem preferência em veicular trabalhos
originários de grandes espetáculos. Ou seja, os veículos de comunicação local
preferem veicular trabalhos vindos de grandes mercados que possuem âmbito
nacional, em vista dessas produções possibilitarem a certeza de que os resultados
obtidos estarão de acordo com as expectativas.
Desse modo, ocorre a “fuga” dos profissionais locais aos grandes mercados,
pois esses possibilitam certa facilidade em relação ao mercado local, em se obter
41

sucesso e reconhecimento profissional. Consequentemente, dessa maneira, não


ocorre a devida formação da identidade cultural local. Curitiba é reconhecida como
uma cidade cosmopolita, a qual, assim como Nova Yorque, apresenta uma mistura
cultural em relação à sua identidade. Ou seja, não se pode afirmar que a identidade
cultural de Curitiba possui determinadas características, uma vez que ela não se
apresenta dessa forma, mas sim como resultado de uma mistura de trabalhos e de
profissionais os quais muitas vezes não acreditam nem valorizam o mercado local.
Desse modo, também se percebe, por meio dos resultados obtidos na
pesquisa, que os profissionais inseridos no mercado de produção local não possuem
característica empreendedora em relação às próprias produções e às suas carreiras.
Os profissionais não realizam o planejamento de suas carreiras e muitas vezes se
satisfazem com o seu desempenho profissional medíocre. Com isso, não se dá o
devido avanço profissional esperado para que o mercado cresça, mas sim o
regresso e o declínio da qualidade das produções culturais locais. Também falta aos
produtores locais a conscientização de que para que se tenha um bom planejamento
de marketing e uma boa estratégia de mídia, se faz necessária a contratação de
profissionais graduados e especializados em publicidade.
Por fim, em relação aos incentivos disponibilizados por parte de instituições o
que se percebe é que esses recursos se fazem ineficazes em relação à distribuição.
Ou seja, os órgãos públicos investem grandes quantias em produções culturais
locais, porém suas fases de distribuição dificultam o desenvolvimento dos projetos,
uma vez que se tornam extremamente burocráticos e paternalistas, pois tornam o
mercado de produção cultural dependente desses recursos.
42

CONCLUSÃO

Demonstrou-se, por meio deste trabalho monográfico, que a produção cultural


curitibana é extremamente desvalorizada tanto pela população regional quanto pela
imprensa local. Isso se dá devido ao fato da grande maioria de artistas locais se
deslocarem para os grandes centros em busca da facilidade de colocação
profissional, se comparada ao mercado local. Com esse fator, ocorre que a cidade
de Curitiba carece de identificação cultural, sendo desse modo considerada como
uma cidade cosmopolita. Ou seja, Curitiba apresenta uma identidade cultural
indefinida, repleta de diversidade cultural, em vista de não haver a sua formação
concretamente estabelecida.
Em vista desse fato, a população local busca a construção de sua identidade
em outros mercados, sejam eles nacionais ou até mesmo internacionais. Ocorre que
o público local não possui o devido acesso aos trabalhos produzidos localmente,
mas sim aos produzidos nacionalmente e também internacionalmente. O que
consequentemente provoca a formação de sua identidade baseada nessas regiões
distintas da sua própria. Contudo percebe-se que o que ocorre não é o desinteresse
por parte dos curitibanos em relação às produções locais, mas sim a
indisponibilidade do devido conhecimento desses trabalhos.
Desse modo os profissionais inseridos no mercado da produção cultural local,
para que consigam alcançar seus objetivos econômicos, são obrigados a procurar
uma segunda opção profissional; seja como jornalista, professor acadêmico,
apresentador de programas de televisão, escritor ou como documentarista. Enfim, se
faz necessário o ganho financeiro além do ganho como profissional de arte. Dessa
maneira ocorre que a própria produção cultural é também desmotivada por si
mesma, uma vez que os profissionais não possuem motivação financeira muito
menos a mercadológica, ou seja, não produzem com expectativa de se obter um
43

ganho financeiro ou então o reconhecimento. O que torna da produção cultural


curitibana, em sua grande maioria, um hobby artístico.
Acredita-se que os profissionais carecem de um espírito empreendedor, o
qual lhes proporcionaria uma ampla e clara visão do mercado sob seus diversos
aspectos. Atualmente os produtores culturais não possuem a consciência de que é
preciso haver a contratação de profissionais especializados em publicidade, para
que desse modo se tenha um bom planejamento de marketing e uma estratégia de
mídia eficaz. Isso teoricamente resultaria na devida interação com o público-alvo
pretendido, fazendo com que este seja motivado a ir assistir ao espetáculo em
questão.
No entanto, os profissionais de mídia também necessitam de uma mudança
em sua visão mercadológica. É preciso haver maior abertura de veiculação em
relação às produções locais. Deve-se valorizar o material que é produzido
localmente, senão melhores condições de inserções que as proporcionadas aos
trabalhos que apresentam produções nacionais. Falta a conscientização por parte
tanto das empresas patrocinadoras quanto por parte da mídia local, de que se deve
valorizar o local, pois é ele o formador e também o propagador dessa região para o
resto do país e do mundo.
Percebe-se, portanto, a importância do estudo de definição dos conceitos
definidos nesse trabalho a respeito de sociedade e cultura. Sendo esses dois fatores
os principais em relação ao bom desenvolvimento e entendimento sobre o que seria
a identidade cultural de um determinado local e também a respeito dos fatores de
formação dessa identidade. Assim como se faz extremamente importante a
realização do estudo teórico sobre o mercado cultural, aprofundando seu trabalho
em relação à indústria cultural, aos impactos da globalização sofridos por esse
mercado e também por essa sociedade. Dessa maneira, foi possível analisar,
acompanhar e compreender o mercado de produção cultural local, primeiramente
por meio de leitura teórica e em seguida pela comprovação prática de fatores
estudados previamente.
Como forma de ampliar o conhecimento a respeito dos assuntos abordados
neste trabalho monográfico, sugere-se a realização de novas pesquisas a respeito
da valorização de identidade cultural local, assim como de formação e identificação
dessa identidade, para que desse modo a cultura local possua o seu devido e
merecido reconhecimento.
44
45

REFERÊNCIAS

CARDOSO e IANNI, Fernando Henrique e Octavio. O homem e a Sociedade:


leituras básicas de sociologia geral. 8 ed. São Paulo: Nacional, 1973. 317p.

COELHO, Teixeira. O que é indústria cultural. 9 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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ELKIN, Frederick. A criança e a sociedade. Rio de Janeiro: Bloch, 1968. 151p.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 2 ed. Rio de Janeiro:


DP&A, 1998. 102p.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 13 ed. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. 116p.

MUYLAERT, Roberto. Marketing Cultural & Comunicação Dirigida. São Paulo:


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Curitiba: Ibpex, 2005. 263p.

TOYNBEE, Arnold Joseph. A sociedade do futuro. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar,


1976. 169p.

REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
46

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METODOLOGIA/cuidado%20coleta%20dados.pdf>. Acesso em: 9 jun. 2007.

BOTELHO, Isaura. Dimensões da cultura e políticas públicas. 2001. Disponível


em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392001000200
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PAIVA, Cláudio Cardoso de. Raízes e antenas do Brasil. 1999. Disponível em <http
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SANTOS, Daniel. A Mídia Brasileira. 2006. Disponível em <http://www. opensador.


net/Aula%204%20-%20A%20M%EDdia%20Brasileira.pdf> Acesso em: 15 jun. 2007.

SILVA, Sérgio Salustiano da. Identidades culturais na pós-modernidade. Um


estudo da cultura de massa através do grupo Casaca. 2002. Disponível em:
<http://www.bocc.ubi.pt/pag/silva-sergio-salustiano-identidades-culturais.html>.
Acesso em: 30 abr. 2007.
47

APÊNDICE
48

APÊNDICE A

Entrevista com Laís Mann

Que visão você apresenta em relação ao mercado de produção cultural em Curitiba? É eficiente e de
acordo com as críticas nacionais de que Curitiba é uma cidade que apresenta produções de
qualidade; ou essa afirmação se restringe apenas ao Festival de Teatro de Curitiba?
Minha visão em relação à produção cultural em Curitiba se divide em duas partes:
Produção local e Produção nacional:
- A produção local não existe praticamente, pois os artistas não contam com apoios de patrocínios e
tão pouco com o apoio da mídia que preferem apoiar espetáculos globais que dão um retorno de
público garantido, a investir no "produto local", alavancando assim o incentivo e o conhecimento do
público com o artista local. Os teatros não oferecem as mesmas condições técnicas, até porque o
custo inviabilizaria ainda mais a produção.
- Quanto à produção nacional, nossa cidade ainda continua mesmo não sendo verdadeira, com a
fama de cidade laboratório, isso é coisa do passado. Mas a fama nos garante bons espetáculos
nacionais, inclusive com grandes estréias. Em relação ao festival de teatro, é claro que esse evento
nos coloca em destaque nacional, não posso fazer críticas, pois não assisto aos espetáculos.

Acredita que o mercado curitibano apresenta boas produções que acabam sendo prejudicadas pela
desvalorização cultural da própria população curitibana?
Acredito sim que nós temos excelentes produções teatrais e musicais que poderiam fazer muito
sucesso se não fôssemos tão autofágicos. Inclusive Curitiba possui uma das melhores escolas de
teatro do Brasil, haja vista que nossos artistas que saem daqui se sobressaem no cenário nacional,
em sua maioria. A população não conhece o artista curitibano e por isso não prestigia. O que precisa
haver é um reconhecimento de mídia, de produção, de exposição, e então, o público virá.

Como avalia e classifica o público curitibano?! Conservador, crítico, receptivo a novidades?


O público curitibano é conservador, ignorante e inseguro. Precisa que alguém diga que tal espetáculo
é bom, precisa sair na Globo, e então pode ser até um espetáculo de má qualidade que ele vai ver...e
paga caro.O público de boa qualidade é bastante restrito.

Na sua opinião o que falta para que as produções culturais locais apresentem maior êxito?
Produção, produção, produção...

Quais as maiores dificuldades quanto à projeção de novos artistas para o público em geral?
Aquilo que já falei apoio cultural, divulgação, patrocínio.
49

Quanto à qualidade das produções culturais locais o que você tem a dizer?
São ótimas, só não são melhores porque não há apoio. Se nós temos um evento importante em
qualquer área, são chamados profissionais de fora, ou no máximo os nossos que brilham lá fora.

Os sites de relacionamento especializados em música, como por exemplo o my space, são úteis na
divulgação de artistas que estão fora da mídia?
Com toda certeza, todos os meios que divulgam são válidos.

Como a Laís Mann cantora, atriz e apresentadora avalia os prós e contras diante a realização e
propagação de seu trabalho em produções culturais locais. E como a Laís Mann jornalista e radialista,
avalia o trabalho de produtores culturais locais?
Eu trabalho a 30 anos em Curitiba, faço um trabalho de manutenção do meu nome a duras penas.
Sou um nome respeitado, mas não consigo sobreviver de arte. Nem pensar. Acho que os produtores
locais devem acreditar mais no seu trabalho e ousar mais, criar mais, vender mais a idéia da arte
local.

Gostaria que você comentasse sobre a evolução do mercado cultural curitibano ao longo dos anos
em você atua no mercado.
Sendo bastante sincera, acho que evoluiu muito pouco em 30 anos. À exceção de poucos artistas o
que vemos é uma classe dividida. O que temos que pensar é que o artista que permanece em sua
cidade é o que dá a ela identidade cultural. Permanecer na cidade é um ato de coragem, pois o mais
fácil é sair e procurar se dar bem num mercado maior. Em minha opinião, o respeito ao artista local é
o fator de maior importância para que possamos nos pretender uma cidade de primeiro mundo.

Questionário da entrevista:

1. Que visão você apresenta em relação ao mercado de produção cultural em Curitiba? É eficiente e
de acordo com as críticas nacionais de que Curitiba é uma cidade que apresenta produções de
qualidade; ou essa afirmação se restringe apenas ao Festival de Teatro de Curitiba?
2. Acredita que o mercado curitibano apresenta boas produções que acabam sendo prejudicadas pela
desvalorização cultural da própria população curitibana?
3. Como avalia e classifica o público curitibano?! Conservador, crítico, receptivo a novidades?
4. Em sua opinião o que falta para que as produções culturais locais apresentem maior êxito?
5. Quais as maiores dificuldades quanto a projeção de novos artistas para o público em geral?
6. Quanto à qualidade das produções culturais locais o que você tem a dizer?
7. Os sites de relacionamento especializados em música como por exemplo o my space, são úteis na
divulgação de artistas que estão fora da mídia?
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8. Como a Laís Mann cantora, atriz e apresentadora, avalia os prós e contras diante a realização
e propagação de seu trabalho em produções culturais locais. E como a Laís Mann jornalista e
radialista, avalia o trabalho de produtores culturais locais?
9. Gostaria que você comentasse sobre a evolução do mercado cultural curitibano ao longo dos anos
em você atua no mercado.

APÊNDICE B
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Entrevista com Eduardo Baggio

Que visão você tem sobre a produção cultural curitibana de um modo geral?
De um modo geral? Nossa que complexo! Eu acho que a produção cultural curitibana é ampla,
diversa e em geral pouco conhecida.

Pouco conhecida. Até pelos próprios curitibanos?


Pelos próprios curitibanos. Mas fora de Curitiba também. Eu acho que agente tem ainda, em algumas
áreas é melhor, mas em várias áreas agente tem um problema de inserção. Mas o que eu acho que e
um problema que a própria classe, vamos dizer assim, tem que trabalhar. Não algo que eu acha que
é alguma entidade maléfica que nos oprime, não é isso. É um pouco uma questão de tempo, um
pouco de saber trabalhar a produção cultural diante de público. Pra conseguir melhor inserção local e
nacional. Que às vezes agente sofre um pouco por não ter.... Acho que Curitiba é uma cidade muito,
muito, muito, cosmopolita agente tem pessoas daqui muito legais que fazem trabalhos maravilhosos,
que estão espalhados pelo mundo. Então agente tem uma... Isso é muito bom por um lado, mas por
outro acarreta uma falta de identidade. Essas pessoas não produzem num mesmo momento, com
características em comum, mas com características muito diversas. Então você não tem assim
aquelas grandes bandeiras: a produção cultural carioca, agente sabe mais ou menos que uma
definição, uma identidade; a gaúcha, a pernambucana e tal... E Curitiba não tem sua identidade. Mas
eu acho que isso por um lado é um fator muito positivo. Acho que é uma cidade que está muito
aberta; guardadas as proporções eu acho que São Paulo é um pouco assim também, São Paulo
também não tem muita identidade. Mas tem uma diversidade muito grande.

Você acha que tem um pouco haver, comparando Paraná com Rio Grande do Sul. Com a RBS e com
a RPC. Com o investimento e com o incentivo que a RBS dá?
Eu acho que é muito pouco. Muito, muito pouco. Acho que agente pode olhar historicamente, eu
lembro de um professor, que também foi professor da Cristina Lemos, o Décio Pinhatári. Foi professor
do nosso mestrado, eu era da turma dela. Falando sobre como é relativamente fácil você observar
que a expansão cultural no sentido tanto de quantidade quanto no de qualidade e visualização dessa
qualidade está vinculada ao desenvolvimento econômico e ao posicionamento político. Acho que
nesses dois sentidos se agente vai comparar hoje, Curitiba com Porto Alegre, pra ficar nas capitais,
agente tem duas cidades que hoje, elas têm o mesmo tamanho e população, Curitiba hoje está um
pouquinho maior, e mais ou menos a mesma economia, o mesmo PIB dessas cidades. Muito
próximas, elas são muito semelhantes. Mas Curitiba chegou nesse ponto, principalmente no ponto
econômico, de igualdade com Porto Alegre, há poucos anos; mais ou menos cinco anos, de cinco a
dez anos. Porto Alegre antes, durante muito tempo foi uma cidade economicamente mais importante
e principalmente politicamente melhor estruturada e representada. Eu não diria que é uma política
melhor. Isso é outra coisa. Nem são políticos melhores. Mas quantos presidentes da república foram
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paranaenses? Nenhum. E quantos gaúchos? Se você somar os anos dos presidentes gaúchos
vai passar de vinte anos. Hoje em dia se você pega grandes expoentes, senadores, agente
consegue listar três senadores e deputados, agente consegue listar três, quatro, cinco, seis dos mais
importantes gaúchos. Paranaenses, poucos. Então agente tem pouca presença política e o nosso
desenvolvimento econômico foi mais tardio. Então acho que isso é uma coisa que demora pra
aparecer, pra se transformar em algo rapidamente. E tem o elemento de história cultural, agente não
tem essa identidade cultural tão clara. Como eu falei, eu acho que bom por um lado e ruim por outro.
Você pode pegar isso em outros países, você vai ver... Pra pegar grandes cidades: Barcelona é uma
cidade extremamente, que tem uma identidade cultural muito forte. Uma grande cidade com uma
produção cultural muito forte. Mas aí você vai ver assim Nova York, é uma cidade que não tem assim
uma coisa clara, é uma mistura. Então cada um acaba puxando por um lado assim, para um viés.
Mesma coisa que se você pegar Milão e Roma, na Itália: Roma é super característica, Milão é super
cosmopolita. Então, acho que é só uma questão de tempo, não é nada muito grave. E não acredito
que a RBS versus RPC tenha alguma diferença, faça alguma diferença fundamental. Só de uma área
específica que acaba sendo uma diferença mais importante que é justamente na minha área de
cinema. Assim sim, mas no geral, como agente está falando no geral aí acho que não.
Não sei se tem muita diferença entre o Eduardo Baggio professor, estudando. E você produzindo as
coisas. Como você avalia como documentarista a avaliação que você tem do mercado e como agente
produtor. Quais as suas dificuldades que você encontra e as facilidades?
Entre essa coisa de estar dando aula e produzindo?

Isso. Diferentes pontos de vista?


É uma coisa meio esquizofrênica assim. E eu seu que a Cris também tem isso. Porque ela também
está nesse mesmo dilema. É um dilema de tempo, eu pra mim pelo menos. Porque eu não consigo.
Já pensei muito sobre isso. Eu estudei bastante, gosto muito da área acadêmica, faço pesquisa,
apresento em congresso, mas eu adoro produzir, eu adoro fazer filme e então eu não consigo me
decidir só por um ou só por outro. E acho que até tem sido muito bom pra eu estar nos dois. Um
auxilia muito o outro. Nem fecha muito sua visão naquela só de mercado e nem ao mesmo tempo
perde esse contato prático que pra aula em alguns casos, não em todos, é muito importante. E aí tem
que administrar o tempo. Tem que tentar fazer as duas coisas. Por isso que hoje em dia eu dou
menos aulas do que eu já cheguei a dar pra tentar ter um pouquinho mais de tempo pra essa
atividade de produção. Então pra tentar levar duas coisas. Mas acabam sendo coisas bem diferentes.
As posturas que você tem que ter são bem diferentes. Então uma coisa influencia na outra, com
certeza.

Mas o quê que você pode dizer em relação a você, que também é professor, que estuda bastante, faz
pesquisas; com os seus colegas, produtores que não tem essa visão de fora que você tem? Quais
são as dificuldades que eles encontram mais?
Eu acho que na visão dessas outras pessoas que não tem esse trabalho acadêmico, pra elas não há,
elas não vem problema nenhum. Eu também não vejo problema.
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Eu só acho que é uma vantagem estar vinculado ao meio acadêmico, porque é um meio onde
você reflete pesquisa, discute se informa. Lê muito mais do que as pessoas que estão todo dia
apenas produzindo. Mas isso não é absolutamente uma regra. Enfim tem muita gente ou pelos
menos algumas pessoas que eu conheço, produzindo, que não tem um vínculo acadêmico, mas que
são pessoas que lêem muito, que estudam que refletem que discutem. Então. Mas é um canal, uma
forma de fazer isso no ambiente acadêmico. E de resto acho que cada vez mais tanto um lado como
o outro tem suas opiniões extremamente cristalizadas. Vou chamar de entre aspas assim: “o mercado
vê a academia como algo fadonho, chato, empoeirado, velho e sem sentido. E a academia vê o
mercado como algo destruidor, massificante e empobrecedor da cultura em geral.” E eu acho que na
verdade os dois estão enganados assim. Ou eles estão certos, mas sobre, uma parte da academia é:
lenta e empoeirada; e uma parte do mercado é realmente empobrecedor, massificante, muito passa
por cima das coisas. Mas é uma parte de cada um, não é um todo nem um de um nem de outro.

Desde o início da sua carreira até os dias de hoje, que mudanças você pode ver assim na área de
produção cultural local?
Nossa! Eu acho que é difícil falar só da nossa época assim que eu vivi, mas pelo o que eu conheço
das outras décadas, de outros momentos da história da produção cultural curitibana, agente passou
por uma, passa agora por uma grande revolução. Eu acho que agente está no momento, como eu já
falei pra você, algumas coisas que já mudaram na nossa cidade, no nosso estado, vão ter uma
repercussão positiva aos poucos. Que é muito mais demorado para aparecer na produção cultural.
Mais especificamente na área de cinema, que é o que eu posso falar melhor, eu acho muito
destacado absolutamente e sem exagero o termo revolucionário mesmo, à mudança no perfil de
ensino. Quando eu fiz faculdade agente tinha uma, eu fiz jornalismo, comunicação social jornalismo;
não existia uma graduação de cinema, não existia uma pós-graduação de cinema. Eu na minha
faculdade tinha uma disciplina de cinema, quase não existiam cursos livres, eram muito poucos. Hoje
agente tem Curitiba assim, uma graduação específica de cinema, três pós-graduações específicas de
cinema e áudio-visual, vários cursos livres sendo alguns de longa duração, como já teve da Academia
Internacional, agora tem no Centro Europeu que vão até dois anos, vários cursos modulares. Então a
educação, o ensino de cinema mudou muito. E agente passou por uma revolução, quer queira quer
não, de acessibilidade. Porque, às vezes eu falo pros meus alunos que devem ter mais ou menos a
sua idade, que não é tão diferente da minha. Você tem vinte e um e eu tenho trinta. Não é tanta coisa
assim. Mas eu fui passar meu primeiro e-mail quando eu tava no segundo ano da faculdade. Isso
parece, quando agente fala desse jeito, cinqüenta anos. Não nove anos de diferença. Ver filme na
internet, isso não foi nem no segundo ano da faculdade, levou um tempo até ter uma, melhorar a
tecnologia e tal. Então hoje agente consegue assistir filmes de diretores de toda a parte do mundo, ler
textos, a Cris também deve confirmar se você falar com ela: há uma dificuldade na área de
bibliografia na área de cinema, ainda é ainda tem pouco, mas aumentou muito a publicação e
principalmente facilitou o acesso. Hoje você não depende apenas do que está publicado no Brasil.
Você vai ver artigos, textos, livros inteiros em alguns casos, que estão em outro lado do mundo e tal.
Continua a barreira da língua mas você tem que ter domínio daquela língua mas em geral inglês já
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ajuda muito. Então eu acho que nesse sentido é muito diferente, eu não sou daqueles assim
adoradores das, acreditar que a revolução digital vai democratizar tudo, não é isso. Mas nesse
sentido de acesso sem dúvida, imagine na música, que é a área da Cristina, por exemplo, imagine o
que você pode ter de contato musical hoje e como era pra vinte anos atrás antes de CD você
conseguir um LP. Então acho que isso ajuda muito, muito. Tem alguns cineclubes em Curitiba,
especialmente o cineclube subterrâneo que é na Federal, eles fazem sessões de filmes maravilhosos,
de filmes que não têm lançamento no Brasil. Eles baixam tudo da internet. Então é uma coisa assim
que eu acho bem bacana. Muda muito sabe. Realmente muda muito. Sem contar que nessa área
específica o nosso acesso a tecnologias de produção. Se você for pensar assim, coloque vinte anos
atrás 1987 você não tinha como conseguir uma câmera de vídeo pra gravar a não ser as profissionais
mesmo caras, nem VHS agente tinha acesso aqui no Brasil. Não é tanto tempo atrás. Depois, vieram
as câmeras VHS, mas edição por exemplo, uma coisa só a partir de 94, 93 que você começou a fazer
em computador. E que esses computadores passaram a ser caseiros, foi em 97, 98. Hoje em dia
talvez você tenha um software de edição na sua casa. Não sei, mas várias pessoas têm. Eu quando
estava terminando a faculdade em 98, veja que triste, mas engraçado. Tinha um amigo meu que
continua trabalhando comigo até hoje: o Adriano Justino que faz documentários também. Uma das
coisas que agente mais penso naquele ano foi: Nossa! (Agente fazia na Federal, tinha uma ilha de
edição daquelas lineares de VHS.) Que droga agente vai se formar e agente vai perder o acesso à
ilha de edições. Agente tinha acesso porque era aluno, ia deixar de ser aluno não ia mais ter acesso
pra fazer a nossos vídeos e tal. Então eu acho que essas coisas são muito legais, mas não... Ao
mesmo tempo não dá pra se deslumbrar. Não é isso que forma um bom produtor cultural, um bom
profissional isso só dá a possibilidade. Sem inteligência, criatividade, trabalho e especialmente sem
de repertório, assim sem lê vê, então não vai ser bom. Mas pelo menos tem a chance de. Que eu
acho que um tempo atrás essa chance era muito menor. Ainda é. Claro que também tem que lembrar
que esse acesso que eu estou falando fácil é pra uma classe média e tal, agente sabe que no Brasil
continua ainda a maior parte sem acesso. Mas pelo menos uma parte da população já tem.

E você acredita no desempenho dos seus alunos?


Como assim?

Que eles vão, falando um termo bem popular: “dar conta do recado”?
Eu acredito que sim, em alguns casos. Têm de todos os tipos. Eu acho que a área de comunicação,
você está quase se formando assim, ela tem hoje em dia um dos problemas que agente tem,
publicidade, por exemplo, que eu dou aula no Unicenp na disciplina de cinema pra publicidade.
Publicidade tem em Curitiba senão me engano se contar a região metropolitana são dezesseis
cursos. Se você for contar os formandos vai ter algo em torno de mil, mil e duzentos formandos.
Vagas têm o dobro. Então quer dizer, existe um mercado pra mil e duzentos, mil e cem, mil que seja,
publicitários por ano, em Curitiba? Não. Sem dúvida que não tem. Então foi uma das áreas que mais
aumentou o número de cursos, junto com administração também tem em qualquer lugar. É um
mercado mais restrito. Que o de administração por exemplo. Então o quê que esses alunos vão fazer
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exatamente? Eu acho que isso a faculdade tem que pensar, os professores precisam pensar e os
alunos precisam pensar. Se agente pensar só num modelo antigo assim, você está se formando
em publicidade, necessariamente você vai trabalhar com agência, necessariamente você vai fazer ou
criação, ou atendimento ou mídia ou produção gráfica e tal. Está errado. Está no caminho errado.
Porque isso vai ser só para um pequeno grupo que vai entrar nisso. Agente tem que pensar mais em
comunicação como uma visão mais ampla como acontece em outros países, acho que bons
exemplos assim da idéia que se tem de comunicação em alguns países da Europa, na Austrália
também, onde você tem uma visão muito mais aberta que envolve produção cultural e que envolve
comunicação corporativa, institucional, comunicação dirigida. Aqui eu tenho a impressão, você é
aluna me corrija se eu estiver errado, que os alunos ainda têm uma visão muito restrita ao modelo
agência ou quando no caso de jornalismo, ao modelo de veículo, de redação de jornal. E eu acho que
tem coisas que não podem ser vistas como segunda opção. Então assim, se eu não conseguir se eu
fracassar para ir para agência eu vou.... Não, isso são coisas que em minha opinião pelo menos, tem
coisas até mais legais para serem feitas. Mais legais claro que dependem do gosto, mas eu digo tão
legais quanto, tão boas quanto, que vão remunerar tão bem quanto. Ou tão mal quanto. Ou num
mesmo nível. E que tem que se pensar de uma maneira mais abrangente. Especialmente, aí que é a
minha área, especialmente a relação com a produção cultural acho que é a área da Cris também.
Mas outras coisas também existem. Claro que a gente consegue pensar melhor dentro dessa nossa
área. E aí tem espaço, tem até bastante espaço, a gente tem até falta de profissionais e tal.

Falta de produtores culturais?


Produtores culturais, de pessoas que se dediquem a pensar nos caminhos que estão abertos, ou pelo
menos em abertura. Vamos pensar assim por exemplo: você conhece, a gente estava falando em
pessoas conhecidas, num site de divulgação cultural, a gente tem alguns aqui em Curitiba. Você
conhece algum que trabalhe bem com as várias mídias, que misture um bom projeto de vídeo, de
áudio? Toda essa possibilidade que é grande, que as vezes até as pessoas exageram na internet.
Mas que ela existe, tem algum? Não. É uma cidade com quase dois milhões de habitantes. Então
talvez esteja faltando um pouco de empreendedorismo. A palavra que as pessoas adoram. Que está
em moda. Então eu não sei é empreendedorismo ou se é risco. Sei lá! Se a gente for olhar pra outros
países, outras cidades, a gente tem boas referências. Não é uma coisa de copiar, mas boas
referências. Você vê coisas que são feitas... A comunicação, a vantagem da área da comunicação no
meu entender que já tem essa expansão enorme de profissionais saindo. Há uma expansão uma
facilidade hoje em dia muito grande para você atingir grupos, pessoas, esses interesses mais
específicos. Hoje em dia você pode direcionar a comunicação em muitos sentidos. Muito mais fácil
você produzir, portanto torna-se mais fácil você fazer uma coisa boa para aquele... Tem coisas
legais... Televisão, a gente tem quantos canais de TV aberta em Curitiba? Se você conta VHF são
seis mais UHF, aqui em Curitiba depende do bairro têm três ou quatro que pegam. Mas depende do
bairro nem pega. Mas mais ou menos vai dar dez e olhe lá. Se você for ver assim, num país que eu
lembro mais ou menos de cabeça: a Holanda tem cerca de quarenta canais de televisão abertos. Não
estou falando de cabo nem... Então existe espaço tecnológico com certeza. Espaço econômico, maior
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do que está sendo explorado e talvez espero, torço pra que continue crescendo e pra que
continue melhorando.

Você não acha que isso não acontece por causa da população curitibana ser um pouco conservadora
e tradicional?
Não. Acho que não. Até porque se a gente for acreditar nesse esteriótipo de ser conservadora. Não
tanto de ser conservadora, mas naquele esteriótipo de que é fechado. Então nada melhor do que se
fazer coisas no computador, o cara vai lá e fica fazendo coisas no mundinho dele. Eu não acredito
nesse esteriótipo, mas se eu acreditasse seria um motivo a mais para achar que esse é um bom
caminho essas mídias com foco específico, criação de modelos de produção cultural mais
específicos. Acho que a gente tem várias áreas, também um problema de cristalização dos modelos.
Modelo da indústria fonográfica todo mundo sabe que é problemático. Uma das coisas muito legais
nessa liberação na internet da indústria cinematográfica, a distribuição, as corporações... A gente
sabe que não é legal, acho que todo mundo sabe muito, mas ninguém consegue mudar muito. Acho
que o paralelo aí com as gravadoras. Então tem esses problemas. Mas eles têm que ser contornados.
Acho que a gente tem que pensar neles de duas formas: uma é ver o que é bom pra nossa sociedade
e o se não for bom, como eu acredito que não é bom o modelo da indústria fonográfica e nem o
modelo de distribuição cinematográfica, a gente tem que tentar mudar., em questão de leis e tal. E o
nosso país não é nada bom pra isso, porque os lobs políticos são fortes, político econômicos. Mas
também ao mesmo tempo você também não pode só ficar esperando que mude ou tentando mudar,
você tem que aproveitar os caminhos outros paralelos, buscar soluções. Aquela velha história que é
um pouco triste ou talvez bastantes, exemplos meus e talvez não, com certeza de outras pessoas
aqui de Curitiba. Na área de cinema principalmente, têm filmes que eu consegui exibir em canais da
Europa, meu que eu não consegui exibir no Brasil. Claro que isso é muito ruim, é péssimo. Mas eu
também não posso ficar assim: “ai não vou tentar essa alternativa porque tem que ser no Brasil.”
Estou tentando no Brasil, mas se não dá o que eu vou conseguindo fora é um caminho, é legal é
ótimo.

Você acha que falta apoio do governo, incentivo? Ou se tem esse apoio e incentivo o quê que se
podia ser feito para melhorar?
Acho que quando a gente fala de apoio e de incentivo vem muito aquela idéia de lei de incentivo que
já existe, que eu acho que é até uma coisa necessária mas um pouco paternalista, torna o sistema de
produção cultural um pouco dependente, parece que é tudo meio que de favor. Eu acho que o que a
gente precisaria realmente seriam leis muito melhores. Se você tivesse uma boa regulamentação do
mercado cultural, nossa regulamentação de TV no Brasil, por exemplo, é sem nojeira do Butão e de
países assim absolutistas. É muito ruim e pouca gente nota isso, mas a nossa lei de rádio e difusão
no Brasil, restringe o aumento de produção independente, restringe a pluralidade, por isso que a
gente tem esse modelo quase de um canal ou dois ou três. Que são os que realmente são assistidos.
As regras e leis pra distribuição cinematográficas são super complicadas também. Elas acabam
direcionando pra apenas as grandes empresas. Então e isso sabe. Eu não gosto muito daquela idéia
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de que o governo tem que dar dinheiro para gente financiar e vender e não precisar vender e
bancar. Essa eu acho que é o pior caminho. Porque daí nem os realizadores e produtores
culturais se mexem pra buscar uma viabilidade do seu trabalho porque já vai estar garantida mesmo,
e nem esse trabalho ganha inserção porque daí você acaba não exibindo está pago e não exibe ou
está pago e só exibe ali na esquina e pronto. Então o melhor caminho é que na verdade é que a
gente tenha oportunidade caminho tenha a possibilidade de trabalhar e daí trabalhar se virar e tal.
Então tem várias coisas que deveriam mudar muitas, especialmente questões legais de
regulamentações e coisas assim. Visão estratégica.

E como que você vê fazendo comparações de produções do eixo Rio – São Paulo que têm âmbito
nacional e de produções curitibanas?
Geral também?!

Geral também.
É claro que eu tenho que fazer, sobre tudo o que eu estou dizendo assim meu maior foco é sobre a
produção áudio-visual, então as vezes eu estou falando e tem coisas que não valem pra teatro e nem
artes plásticas, eu não sei bem, apesar de acompanhar um pouco. Então eu acho que a gente tem
primeiro uma diferença muito importante que é aquela diferença assim: a famosa reprodutibilidade
técnica, talvez você tenha lido aquele texto do Benjamin que todo mundo que faz comunicação acaba
lendo, uma obra de arte na época de reprodutibilidade técnica. Que pode ser reproduzido. Teatro,
dança não pode ser reproduzido, artes plásticas em geral reproduzido também não mas pode até ser
deslocado. Então eu acho que teatro, por exemplo, nunca vai ter estabelecido. Pode ter momentos
piores momentos melhores, pode ter coisas boas, coisas ruins. Mas tem o teatro curitibano, acho que
até que é uma área bem respaldada e tal. Claro, teatro você não faz cópia, não faz cópia da peça e
distribui, não existe essa reprodutibilidade. Agora uma música um filme você faz cópia e distribui. Aí a
coisa é um pouco mais complicada, porque há uma tendência de vir coisas de fora pra serem
exibidas aqui, pra serem consumidas aqui, músicas, filmes, revista, livros e tal; livros deixando um
pouquinho de lado de lado porque acho que tem uma coisa diferente. Mas então nessas áreas tem
um complicador maior, há uma tendência de que seja colocado o que está, o que está pago, o que
vem de fora, do Rio e de São Paulo onde a gente tem as grandes gravadoras, as cabeças de rede
dos canais de TV, onde a gente tem indústria de distribuição cinematográfica. Então nesses casos eu
acho que tem ser pensado um pouco diferente. Mas aí eu te pergunto assim: será que a população
curitibana não tem interesse ou paranaense, não tem interesse de ver coisas feitas aqui, desde que
de qualidade lógico, eu acho que tem. Precisa é conseguir melhorar um pouco esses canais de
exibição.

É uma falha na comunicação?


É. É. Conseguir colocar músicas daqui. Acho que música eu até consigo ouvir músicas curitibanas e
paranaenses em algumas estações é lógico. Mas produção áudio-visual pouquíssimas muito difícil
assim.
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Você acha que os veículos de produção locais dão preferência para os nacionais?
Eles seguem, os veículos de comunicação são empresas, têm fins lucrativos, eles estão em um país
onde eles vão ter que seguir a demanda desse país e a legislação desse país. O quê que você
muda? Você não muda o fato de que eles vão querer ter lucro, porque isso é absolutamente legítimo,
é uma empresa e ela vai tem que gerar lucro e isso é um objetivo seu. Isso também não muda a
demanda que isso é o que a população o que as pessoas têm interesse. Talvez isso até mude
melhorando a educação e tal, isso é uma coisa a longuíssimo prazo. Daí é um outro papo. Mas o que
você muda é essa legislação que está aí no meio. Então se você criar... Não digo nem em barrar, é só
criar mecanismos facilitadores para a divulgação da produção local, esses canais de televisão, essas
rádios, eles vão se interessar. Crie maneiras. E isso às vezes é uma ilusão nossa. Isso existe nos
EUA. EUA tem uma legislação, por exemplo, para a televisão aberta que obriga que 50% da produção
áudio-visual exibida em televisões de sinal aberto, sejam produções independentes. A gente não tem
nada nesse sentido. Então na Holanda é 100%, o cara que tem uma concessão de TV ele é proibido
de produzir, ele tem que só organizar a grade e comprar a programação de independentes. E são
países que são tidos assim, EUA principalmente, a o país de política liberal, então as coisas são...
Não. Em certas áreas eles sabem que tem que haver certa regulamentação. E na nossa é ao
contrário, é tudo pra dificultar. É aqui pra você conseguir usar um canal de UHF existe uma série de,
principalmente três limitações técnicas que é bem enfadonho ficar falando, mais é de freqüência, de
potência, de como o tipo de antena que usa, porque praticamente inviabiliza o canal UHF, por isso
que eles existem como existe o canal 21, como existe a MTV gerada em Curitiba em UHF, como
existe a Exclusiva em Curitiba. E se você ligar a televisão agora na minha casa não pega. Pega pelo
cabo, mas pela antena não pega. E depende de onde você mora, tem uma restrição muito grande.

E em relação aos materiais que você produziu quais foram os espectadores?


É bastante variado. Tem coisas, por exemplo, que eu produzi para a TV Cultura então já destinado
pra lá, então passou nacionalmente e é o público da TV Cultura assim. Restrito em parte, porque
você vai ver às vezes deu um ou dois por cento de audiência. Mas dois por cento de audiência
abrangendo setenta por cento do Brasil, não sei quanto que dá em pessoas mas já é um bom
desempenho. E ai tem um curta meu especificamente que mais fez sucesso, passou em muitos
festivais, passou na TV Cultura duas vezes e esse rodou, foi para uma exposição, que acho que
foram onze ou doze países. Ficou em Nova York em exibição, depois ficou em Roma e ai em três
países da América do Sul, América Central, pra Itália e pra Roma... Eu não sei... Mas então é assim, é
claro que é um circuito fora das vezes que ele foi exibido no Zoom na Cultura que é um programa de
curta metragem. Ai esses países todos foi tudo em galerias, aí é um público bem diferente do público
de TV. Então, enfim, mas eu não tenho nem idéia de quantas pessoas... Ai tem outros também assim
que, tem outro que passou em dois países mais Brasil. Mais também nessa coisa mais artística mais
galeria, não em televisão. É muito difícil passar em sala de cinema. Tem um documentário que foi pra
dois países na Europa também, que esse passou muito na Educativa, acho que até repetiu de mais,
mas aí local não na Cultura. Então tem um pouco de tudo assim. Tem coisas bem variadas.
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E aonde que você busca recursos pra produzir?


Vários das coisas menores mais simples até recursos próprios. E algumas dos documentários
maiores ai tem que ter financiamento, já fiz concurso da TV Cultura.

E em empresas e em instituições?
Na verdade assim, a criação das leis de incentivo condicionou um caminho pra você chegar às
empresas, é via lei de incentivo, pois você tem a carga de insensão de impostos. Então isso é o lado
negativo. Hoje não existe mais empresa que apóia simplesmente, que acredita em uma produção
cultural. Não, ela quer a carga de insensão de impostos, porque ela sabe que existe isso, lei
municipal, lei estadual, duas ou três leis federais, então ta eu quero uma insensão de impostos. Tudo
bem é um caminho, daí você tem que fazer por lei de incentivo.

Questionário da entrevista:

1. Que visão você tem da produção cultural curitibana, de um modo geral?


2. Como documentarista, como avalia o mercado de produção cultural local?
3. Agora como diretor, produtor de cinema, como agente produtor de produção cultural curitibana e
em contato com o mercado nacional, como você avalia o mercado, os produtores e a própria
produção cultural local?
4. Desde o início da sua carreira até hoje, que mudanças ocorreram no cenário da produção cultural
local?
5. Que avaliação você faz do público curitibano?

6. Acredita que o apoio dado pelo governo e por empresas se “faz” de maneira eficaz? O que você
pensa que pode ser feito para que haja um melhor proveito, tanto por parte das instituições quanto
pelos produtores culturais?
7. Como professor, como você avalia o desempenho de seus alunos, futuros agentes produtores?
Acredita que essa nova geração provocará mudanças no mercado?
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APÊNDICE C

Entrevista com Luiz Roberto Meira

O que você pensa a respeito da produção cultural em Curitiba?


Eu penso que ela está mais madura do que já foi, enxergo uma evolução de quando eu comecei a
trabalhar como artista e como produtor em 88 até agora, uma evolução clara. Obviamente, é um
contexto complexo de fatores; mas eu sou uma pessoa muito positiva, então eu acho que já está
melhor do que foi e acredito que o futuro reserva mais melhorias. Isso depende: do comprometimento
dos artistas, depende da qualidade do que é apresentado e depende do comprometimento desses
artistas com suas carreiras e seu futuro. E isso vai implicar nos outros dois primeiros fatores. O que
eu acho que um dos perigos é a satisfação. Ou seja, o artista chegar a um patamar em que ele já
está satisfeito. Eu costumo dizer que você nunca pára, ou você vai pra frente ou você vai pra trás.
Parar é ir para trás. Ou seja, comodismo faz com a produção deteriore.
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Acredita que o mercado curitibano apresenta boas produções que acabam sendo prejudicadas
pela desvalorização cultural da própria população curitibana?
Eu acho que têm dois fatores ai. Uma é a avaliação da qualidade da produção. E a outra é a
valorização, ou melhor, reconhecimento da comunidade. Então com relação a qualidade das
produções também tem vários fatores. Eu acho que antes da qualidade devemos considerar a
quantidade. Então a quantidadede valores valores investidos e quantidades de produções, é bastante
levada a nível nacional dentro de Curitiba. Curitba é uma das cidades que mais produz, financiado e
apoiado. Eu costumo dizer que isso provoca a criação de uma classe média artística, que nós não
temos no resto do Brasil. O resto do Brasil é formado por uma distancia muito grande entre o grande
sucesso profissional e níveis de sobrevivência artística. Ou seja, você está muito abaixo de uma linha
de subsistência. Curitiba tem uma classe média. Que em Curitiba você tem atores que não são
reconhecidos nacionais, você tem atores que não recebem valores estratosféricos como atores
nacionais, mas a muitos anos há mais de dez anos, nós temos atores entre dois a seis anos que
recebem mais de dois mil reais por mês durante sua carreira. E você não encontra isso em vários
centros como Rio - São Paulo, você pega aí artistas de várias áreas, em áreas de teatro e de várias
áreas que tem mais de dez anos de atuação e que não conseguem perfazer seus mil reais por mês.
Então nós não temos esse problema. Nós temos um mercado bastante competitivo, mas a gente tem
profissionais de arte num patamar classe média digamos assim. O outro fator, com relação a
reconhecimento eu acho que a relação com a qualidade da produção com o reconhecimento, ela é
muito delicada. Então assim, ela não é fácil de se fazer. Porque você tem bons espetáculos que dão
ou não público, você tem sucessos de público, ou reconhecimento de mídia, que não
necessariamente significam bons espetáculos. Então assim, eu não posso te fazer essa relação entre
a qualidade e se as pessoas vão ou não. A questão das pessoas irem ou falarem do espetáculo está
ligada diretamente a dois papeis, duas virtudes que a produção de algum espetáculo ou de artista ou
de um grupo de artistas tem com relação: aos seus contatos e seus investimentos na área publicitária
e com relação aos seus contatos e aos seus investimentos, se é que existem num tipo de capital
social que é o seu contato com formadores de opinião. Essas duas coisas também entre si não se
ligam. Então, ou seja, eu tenho uma boa campanha de marketing e não tenho contatos com bons
jornalistas eu posso lotar o teatro e a Gazeta do Povo falou mal. Uma coisa não interfere na outra. Eu
posso não ter feito campanha de marketing nenhum, mas eu tenho bons contatos com formadores de
opinião, jornalistas dão boas matérias e tal e não significa que meu teatro vai lotar. Nós temos
profissionalmente esses dois valores, que dizer a tua imagem e a tua bilheteria. E essas coisas
também estão internamente dissociáveis. Podem estar juntas, podem estar separadas, podem
trabalhar independentes.

E o quê que você prefere quando você produz, quando você cria?
Eu prefiro bilheteria. Não me importo muito com críticas porque a gente já experimentou várias
situações, e a gente sabe... Eu tenho um tipo de espetáculo que ele é mais pra grandes platéias. E
exatamente porque a gente está fora de centros mais complexos de arte, a gente tem uma imprensa
que gosta muito do produto alternativo. Então ela prefere valorizar o alternativo e se você tem uma
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boa produção uma grande produção com uma boa campanha de mídia e de marketing, eles
normalmente enxergam com certo olhar blasé. Assim tipo: Ah! Eles já estão criados, eles já estão
maduros, então não precisam da gente. Então, os jornalistas se colocam num papel que eu acho que
tinha que amadurecer. Faço uma crítica bem brusca aos jornalistas. Por conta disso. Porque eles
acham que o papel deles é criticar produções de grupos constituídos por pessoas já estabelecidas e
tem que ajudar produções de péssima qualidade, mas de grupos e artistas alternativos. Se colocam
num papel meio década de setenta. Não avançaram. A maioria são várias exceções.

Pois é. É uma perda para todos?


Não eu não sei. As pessoas que lêem jornal sabem disso. As pessoas sabem que você chega e
procura espetáculo no Guairão e no Guairinha, e a Gazeta não falou nada, eles vão desconfiar que
alguma coisa no jornal está errada. Agora, existe sim, obviamente o jornal consegue levar uma
quantidade de pessoas. Mas ele só leva, ele não comove. Então assim, uma pessoa que viu que o
espetáculo é bom, na Gazeta, chega lá e é ruim, ele acha que o teatro de uma forma geral é ruim. E
que as pessoas estavam equivocadas. Uma pessoa que não leu a Gazeta foi e achou o espetáculo
bom ela conta para outras vinte e cinco pessoas que vão assistir. E estas se verem a matéria da
Gazeta vão falar assim, não eu assisti e é bom! Não é o que está escrito aqui. Então sempre a
comoção de platéia verdadeira, que a gente chama de público espontâneo, ou seja, é aquele que
escolhe o que quer. Quando você vai escolher alguma coisa, você usa uma série de fatores, o jornal
ocupa uns dez por cento nesse papel. Você vai numa peça porque um amigo convidou não é porque
a matéria no jornal diz que ela é boa ou ruim. As vezes o amigo também não sabe. Vocês só acham
que é adequado naquele sábado irem assistir. Vocês vão assitir. Você não vai procurar uma matéria
pra ver se é bom. Filme a mesma coisa. Você escuta falar. Então acho que os jornalistas se colocam
nesse papel porque acham que tem o poder tão grande e não tem. Nenhum, quase nada. Eles são...
Uma vez eu ouvi o Gabriel Garcia Márquez falar uma frase maravilhosa que é assim: “Os
profissionais de mídia não entenderam que jornalismo é uma das áreas da literatura..’ e portanto o
que ele faz é o texto e nesse texto tem vários estilos: crônica, crítica,.. mas ele está escrevendo pra
ele mesmo. Ele está fazendo a sua produção cultural. Então o jornalista se coloca em um papel
assim, de dar sua própria produção, falar sobre o outro e daí ele tem essa confusão com a realidade.
A gente vai entra numa outra ciara de o que é ou não a realidade o que é reportagem o que é matéria
o que é criação. E é sempre interpretativo. A letra, a literatura é sempre interpretativa. Então assim ,
se fosse assim, seria ótimo então eu não compraria publicidade eu anunciaria com jornalistas faria
reportagens, as reportagens lotariam. O papel de você lotar e levar as pessoas é a publicidade, o
jornalismo ele é literatura.

O que você acha a respeito da denominação de Curitiba como cidade teste?


Isso ai já foi feito uma série de analises sobre. Isso foi criado na década de sessenta e setenta,
quando os governos estaduais investiam em companhias de fora para vr para Curitiba. Isso ai já se
perdeu isso ai é uma idéia que esta situada dentro da historia de Curitiba, mas já se perdeu. O que
acontece e que a gente tem grandes eventos nacionais: a gente tem o Festival de Teatro onde grupos
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costumam fazer suas estréias num processo coletivo, a gente tem grupos que escolhem estrear
fora, e às vezes escolhem Curitiba. Mas isso já não significa nem nunca significou muita coisa.
Porque a bem da verdade cada mercado é um mercado cada cidade tem o seu tipo de publico e
talvez quando as pessoas falam de Curitiba é porque sim elas sabem que aqui nos temos uma
quantidade muito grande de boas produções a nível nacional fora do eixo. Então Curitiba é uma
cidade importante sim quando você quer testar seus espetáculos que você vive no Rio e em São
Paulo, então você vem pra cá porque o público é mais crítico. Então assim, você está no interior com
um publico mais critico. Então é importante pra você passar por uma cidade dessas antes de estrear
em uma capital maior. Agora tem grupos que ensaiam e estréiam no Rio e em São Paulo, sem
problema nenhum. Não vem para Curitiba porque é uma cidade teste. A bem da verdade ela pode ser
considerada uma cidade crítica.

Então a respeito dos custos serem mais baixos aqui do em São Paulo?
Não também. Porque o custo daqui, do teatro talvez e da publicidade pode até ser mais barato, mas o
custo da locomoção acaba deixando. Isso em qualquer lugar do mundo você sair com um espetáculo
é mais caro do que fazer na própria cidade. Você só sai com possibilidade de ganho. Então você só
sai em temporada. Agora se você está estreando e se são os primeiros, esse custo não interfere em
nada. Até porque você tem que pagar diária, alimentação dos artistas. A bem da verdade eles vinham
na década de setenta por uma questão histórica, porque os governos financiavam essas estréias
aqui. E isso acabou ficando na cultura popular de cidade teste. A bem da verdade ela é uma cidade
crítica e a bem da verdade nos temos o maior evento de teatro do país, que é o Festival de Teatro,
mas temos outras áreas. Nós temos um grande evento na área de música, também que é a oficina de
música. Então Curitiba tem, eu gosto de considerar que ela tem essa consistência se comparada com
outras cidades. Mas pra frente quando a gente for falar se eu acho que isso é suficiente ai a gente vai
considerar outras coisas.

O que falta para que as produções culturais locais apresentem maior êxito?
Eu acho que falta empreendedorismo dos responsáveis pela produção, eu acho que falta um pouco
de visão de mercado. Porque os artistas sempre se acostumaram a fazer obras que estivessem
relacionadas ao que ele quer, na sua carreira. No que ele quer fazer nesse momento. Isso não tem
problema nenhum, é que esse é um dos fatores pra você escolher uma estratégia, um espetáculo,
seja música, seja teatro, seja dança, seja livro. E o que nos falta um pouco é a transformação dessa
idéia num potencial de produção. Ou seja, você pode realizar pesquisas sobre que tipo de trabalho
você tratar, porque eu posso falar sobre dez coisas. Minha gaveta tem quinze projetos, então qual
seria o próximo e quando ele vai se tornar o projeto de verdade. Você tem que fazer alguns
investimentos, em algumas fazes de produção, que são fazes de pra você identificar melhor seu
público, articular com ele, fazer coletas de informações, troca de informações. Mas isso, eu acho que
é um movimento interno dos artistas. Então não é você chegar e dizer para o artista, seja mais
empreendedor. A bem da verdade você tem artistas com esse perfil ou não, alguns que estão
desenvolvendo esse perfil, outros que estão deixando de ser empreendedores. Eu acho que é um
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movimento natural das coisas. Hoje existe muito mais público, existe muito mais atividades. Nós
por enquanto estamos naquela, numa outra linha, que é a multiplicação da quantidade, de
apresentações. Qualidade ela vem mais lentamente, mas é o movimento natural. Primeiro a gente faz
mais, depois a gente faz melhor.

Em relação ao incentivo, você acredita que a cultura recebe incentivo e apoios suficientes dos órgãos
públicos?
Suficiente, não. Eu acho até que não é só valor que você tem que considerar. Eu acho que tem que
considerar como que você divide, qual a estratégia utilizada, como que você articula com os artistas,
como que você verifica a aplicação desses incentivos e qual é o compromisso que você tem no final
desse processo pra você refazer. Então é um sistema complexo. Acho que a maior crítica que eu faço
é com relação às fases desse processo de incentivo e não com relação ao incentivo propriamente
dito. Nós já passamos da fase de questionar se existe ou não incentivo. Sabe por quê? Porque faz
dezesseis anos que nós temos uma lei municipal que dá em média de dois a quatro milhões por ano.
Nos últimos dez anos nós ultrapassamos a faixa de setenta milhões de reais investidos todo ano.
Então não dá pra dizer que não tem incentivo. O que você tem é um incentivo que precisa de um
detalhamento para que ele seja mais eficaz, você precisa de um diálogo entre artistas e órgãos
incentivadores para que você detalhe as fases dessa relação, e você precisa aperfeiçoamento, dessa
palavra incentivo. Ela precisa significar um amadurecimento dessa relação. Essa relação já existe, ela
existe de uma forma descomunal, quatro milhões não é pouca coisa. E nos últimos anos existe uma
melhoria visível. Hoje nós temos, há um ano atrás nos não tínhamos, nós temos um fundo municipal
que financia projetos sem mecanismos de mecenato, e esse fundo, por exemplo, aqui em Curitiba na
Fundação Cultural foi responsável por mais de vinte editais em seis meses. Das oito áreas. Então
assim, é muito dinâmico. O que a gente pode questionar é: é adequado, não é adequado? Mas aí
você já está falando de política cultural. São eles quem decide, a gente pode articular e se eles
vierem nos perguntar a gente pode conversar. Mas o suficiente, eu acho que suficiente não é a
palavra adequada, eu acho assim você tem que perguntar se é eficaz. Existe incentivo em Curitiba?
Sim. Ele é eficaz? Não. Ele poderia ser mais eficaz. Uma quantidade maior de incentivo com maior
eficácia poderia dar mais resultados. Mas de qualquer forma a gente vai estar sempre que estar
perguntando: Qual é o resultado pretendido? Qual é a estratégia, o detalhamento dessa estratégia?
Aonde que nós vamos chegar. Então assim, é coisa que não dá pra ser respondida com uma simples
frase de não é suficiente, como se isso fosse desculpar todas as outras questões que a gente
levantou: qualidade, platéia, financiamento, dialogo entre órgão financiador e produtor. Você veja, a
questão é muito complexa. Não dá pra você resumir com uma frase bombástica e uma matéria
jornalística. Você tem que se debruçar sobre isso. Então assim, é simples dizer: compare-nos com o
resto dos outros municípios, fora do eixo Rio - São Paulo, você vai ter ótimas surpresas. Agora,
quando a gente cresce, a gente amadurece. Então, eu não vou ficar chorando as pitangas e continuar
com um discurso de uma época que a gente não tinha nem um centavo. Faz mais de dez anos que a
gente tem mais de cinco, quatro milhões. Por ano. Mais de quatrocentas produções por ano em todas
as áreas? Então, não é adequado você dizer que falta incentivo.
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Aspectos positivos quanto à comunicação dos artistas curitibanos?


Positivos quanto à comunicação, deixa eu perguntar pra você com relação a forma como eles se
comunicam com a sociedade, divulgação dos seus espetáculos e tal?

E entre si também?
Então são duas questões. Então você tem os artistas entre si hoje; por conta desses valores
incentivados nos últimos dez anos, o aspecto hoje é diferente do que foi a dez ou vinte anos atrás.
Então, antigamente você tinha, a vinte anos atrás você tinha, vários artistas que queriam estar
produzindo e não tinham condições. Profissionais habilitados com experiência, ou sem experiência,
qualquer um, não tinham condições. Então existia uma certa animosidade entre os artistas. Porque
obviamente entrava um e quinze ficavam de fora. Hoje você tem um aspecto mais cooperativo, das
instituições constituídas, do Sindicato, dos artistas organizados, dos artistas independentes, artistas
com diferenças estéticas hoje, estão mais tranqüilos. Porque mal ou bem, eles estão conseguindo dar
vazão a sua criatividade com produções, cada uma do seu tipo. Eu acho que poderia ser melhor. Eu
acho que ainda falta, fóruns de debate, que hoje você tem uma possibilidade eletrônica de fazer
esses fóruns. Então você entra, eu hoje participo de fóruns fora do Brasil pela internet. Então você
discute questões estéticas, questões técnicas, questões de estratégias de divulgação ou outras
estratégias. Então hoje com, e acho até que com os nossos artistas locais existe, com o fato da
internet, uma conectividade maior. Então eles se comunicam mais. Mas isso poderia sinceramente
melhorar e ser mais, influenciar mais a criação. O que eu acho que qualquer que seja a comunicação
entre os artistas, o artista ainda se fecha na sua equipe criativa só, para produzir aquela proposta.
Então não existe uma comunicabilidade de propostas. Os artistas até que se conversam. As suas
propostas não se conversam. E dai a questão com o publico, eu acho que existem hoje muitos
mecanismos. Você está falando daí de estratégia de marketing, eu acho que existem muitas
iniciativas. Nós não estamos na vanguarda dos grandes planos de mídia. Até por causa dos custos.
Mas a gente poderia ser criativo o suficiente e fazer grandes propostas de mídia dissociadas do
custo. Nós somos artistas, a gente poderia criar isso. A gente podia estar fazendo cases
interessantes. Mas como não existe este aspecto empreendedor dentro dos grupos acaba sendo a
tradicional filipetinha distribuída nos lugares de maior freqüência, coloca cartaz que hoje já é até
quase politicamente incorreto você colocar cartaz, você acaba deixando aquele macinho de filipeta,
um anunciozinho no jornal, raramente um outdoor. Ou seja, é muito fraca a comunicação entendida
como plano de mídia.

Você acha que isso é relacionado com a tradição que Curitiba tem assim?
Isso é relacionado com a falta da consciência de que o artista precisa contratar profissionais nessas
áreas. Um. Dois: com o alto custo desse tipo de campanha. Então o artista prefere deslocar esse
dinheiro pra outras coisas dentro do próprio espetáculo. Mas daí ele poderia usar a sua criatividade
com cases, ou então. Existe pouca conectividade, porque que um grupo profissional de teatro não
chega em uma universidade e pede pra um grupo de estudantes de comunicação, faz um case. Então
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existe você sabe, essa falta de criatividade do próprio artista que seria o máximo de criatividade
com relação a suas campanhas, campanhas bem tradicionais.

E a respeito de um artista ir assistir outro artista, isso acontece ou não?


Olha eu acho que acontece na medida de que o trabalho que ele vai assistir interessa a sua ao seu
momento na carreira e ao seu momento como artista. A gente tem que entender que dificilmente o
artista consome o produto cultural como o público consome. Então acaba se restringindo a: vou ver
trabalho de colegas, vou ver trabalhos de colegas técnicos ou artistas que fazem algo que vai
interessar num próximo trabalho meu, ou seja, é quase que uma coleta, dentro do processo de
pesquisa. E eu vou ver para me divertir. Raramente você se diverte na área específica em que você
atua. Então assim, eu vou me divertir assistindo cinema, quando sou ator de teatro. O pessoal de
dança as vezes vai se divertir assistindo ao teatro. Mas existe um certo, como você conhece os
bastidores, você é muito mais cruel para analisar um produto. Você analisa de outra forma do que o
público comum, que vai só se divertir e está com um grau de exigência menor. Tecnicamente falando.
Então você acaba assistindo aqueles que são seus semelhantes ou aqueles que você tem uma
opinião que é um bom trabalho. E isso acaba cortando oitenta por cento do consumo do produto
artístico pelo próprio artista, porque quando ele não está, ele está muito pouco tempo se divertindo
também, porque o artista se diverte fazendo o próprio trabalho. Então sobra muito pouco tempo,
então eu acho que a discussão ai é qual é o lazer do artista? Ele não consome a arte como o publico
comum que tem uma profissão formal, ele consome diferente. Então esse consumo diferente acaba
não permitindo que ele use as estratégias mais tradicionais. As vezes artista faz lazer viajando, indo
pra chácara.

Quais as maiores dificuldades quanto a projeção de novos artistas para o público em geral?
As tradicionais. Aperfeiçoamento técnico e estético, investimento em iniciantes, empreendedorismo,
de saber que a obra de arte é o empreendimento profissional, ele exige financiamento, exige estudo
de mercado e você pode falhar. E apesar da gente ser uma área beneficiada por incentivos, uma
falha mesmo que de um projeto incentivado pode provocar, não digo nem que o patrocinador não vá
patrocinar de novo, a própria equipe se recente e ai você tem que estruturar uma equipe, partir para
uma outra proposta, fazer uma outra tentativa. O iniciante ainda ele está, no caminho de fazer com a
incerteza do produto final. Então são os problemas tradicionais de qualquer área. Acho até que
iniciante em artes tem até mais espaço do que iniciante em qualquer outra área. E exige muito menos
investimento. Um aluno recém formado dum curso de músicas ou artes cênicas, precisa de muito
menos investimentos do que o recém formado na área de odonto, pra montar seu primeiro projeto ou
trabalho. Então são problemas tradicionais.

Quanto à qualidade dos produtores culturais locais o que você tem a dizer?
Eu acho que essa frase podia ser melhorada. Eu não sei se posso julgar a qualidade dos produtores,
eu não sei se os produtores têm qualidade. A qualidade das produções eu posso julgar. Então a
qualidade das produções, ela está ligada ao plano de carreira. Eu acho que artista não faz plano de
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carreira. Acho que essa é a falha, ele faz muito ao gosto de o quê é que ele vai fazer. E como
artista, nós temos um vício, se ele é bom ou ruim não sei, que é sempre procurar fazer algo
diferente do que ele fez. Aí ele é diferente do que qualquer outra profissão. Em qualquer outra
profissão você investe mais naquilo que você já sabe e naquilo que dá certo. E o artista é assim: dá
certo ele quer tentar uma coisa diferente. Então é um outro caminho. Talvez você devesse considerar
outros fatores como a permanência em mercado de um artista, ou então você deveria fazer uma
pesquisa especificamente para descobrir como que o artista cria

Questionário da entrevista:

1. O que você pensa a respeito da produção cultural curitibana?


2. Acredita que o mercado curitibano apresenta boas produções que acabam sendo prejudicadas pela
desvalorização cultural da própria população curitibana?
3. Acredita ser valida a denominação de Curitiba como cidade teste, deu certo aqui dá certo em
qualquer lugar?

4. Essa afirmação não se dá devido aos baixos custos de produção quando comparados com os
custos de produções realizadas em São Paulo, por exemplo?
5. Em sua opinião o que falta para que as produções culturais locais apresentem maior êxito?
6. Acredita que a cultura recebe incentivos e apoios suficientes dos órgãos públicos?
7. Quais os aspectos positivos quanto à comunicação dos artistas curitibanos?
8. Quais as maiores dificuldades quanto à projeção de novos artistas para o público em geral?
9. Quanto à qualidade dos produtores culturais locais o que você tem a dizer?

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