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Título
Efeitos da Vida
Olhos nos Olhos
Autor
Kennexiz Xavier
Projecto Gráfico
Daniel Oliveira
Revisão
Sónia Oliveira
Impressão
M. Barbosa & Filhos
ISBN
978-989-97897-4-6
Depósito Legal
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios em-
pregados: electrónicos, mecânicos, fotográficos ou quaisquer outros, sem o consentimento prévio e
por escrito da editora e do autor.
Kennexiz Xavier
Efeitos da Vida
Olhos nos Olhos
Edições
Índice
9 Agradecimentos
10 Nota do Autor
12 Prefácio
15 Capítulo I
33 Capítulo II
39 Capítulo III
59 Capítulo IV
65 Capítulo V
83 Capítulo VI
89 Capítulo VII
93 Capítulo VIII
101 Capítulo IX
109 Capítulo X
121 Capítulo XI
131 Capítulo XII
141 Capítulo XIII
145 Capítulo XIV
159 Capítulo XV
169 Capítulo XVI
175 Capítulo XVII
187 Capítulo XVIII
199 Capítulo XIX
205 Capítulo XX
211 Capítulo XXI
217 Capítulo XXII
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À minha esposa:
Irina Lisandra das Neves Lino Xavier
Pelo seu grande amor e por ter cuidado de mim nas horas
que mais precisei
Kennexiz Xavier 7
Agradecimentos
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Nota do Autor
10 Efeitos da Vida
todos estes exemplos que aclaram a organização e as relações
entre o homem, o nada, o espirito, a alma, a mente e a ordem
social. Outrossim, agouro que dificilmente me perdoarão o par-
tido que ousei tomar – O de ser materialista confesso em alguns
capítulos. Chocando de frente com toda a masmorra da vida,
com tudo aquilo que desperta, hoje, a admiração dos homens,
é óbvio, que só posso esperar para gerir a censura universal; e
não é por ter sido honrado pela aprovação de alguns sábios que
devo contar com a aceitação da conceção do vulgo: espero que
respeitem a minha opinião, também o meu partido está tomado.
Não me preocupo em agradar nem aos belos espíritos, nem à
gente da moda, nem às almas purificadas. Em todos os tempos,
haverá homens feitos para serem subjugados pelas opiniões do
seu século, da sua tradição, do seu costume, da sua cultura, do
seu país e da sua sociedade. Isso faz-me, hoje, o espírito forte
e o escritor amante da sabedoria que, pela mesma razão, não
passasse de um fanático do tempo da Fé. É preciso não escre-
ver para tais leitores, quando se quer viver além de seu século.
Ofereço este livro a todos os que não economizam esforços,
a todos os que descarregam energias físicas e neurais para fa-
zer do planeta Terra o melhor lugar para viver e reconstituir o
Paraíso miticamente perdido. E aos agentes que aceitaram ser
nessa vida o escudo da consciência que abre as portadas para
as tendências e os altares das constelações astrais e siderais na
formação do homem racional, intelectual e espiritual.
Kennexiz Xavier
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Prefácio
12 Efeitos da Vida
mos saciar a inteligência pelo alimento da verdade e leituras de
bons livros.
Entretanto, para unir-se é preciso conhecer-se; para conhecer
é preciso saber, para saber é preciso aprender para aprender é
preciso entender.
Convém recolher livros para leituras enquanto é cedo e tens
visão, porque tarde de mais podes perder a visão e... jamais voltar
a ler. E perdes assim a verdade, o alimento próprio da inteligência.
“O mundo é um livro; o vulgo lê as palavras, apenas o sábio
pode dar a tradução” (Bacon)
“Da determinação que tens tomado não tornes por detrás, pois
é fraqueza desistir-se da coisa começada” (Camões).
Estes conselhos, que soam os bons sensos, dados dos falecidos
Rev. Bacon e Luís de Camões poeta maior Lusitano, contêm uma
sabedoria nascida da experiência. À primeira vista, pode parecer
que «um escritor; Poeta não contenha mais do que uma quanti-
dade de informações antiquadas, porém, aqueles que no entan-
to, sabem onde e como procurar, a massa proibitiva da matéria
não é uma barreira entre rochas, fortalezas, e entre o indivíduo
e a vida real, mas sim, é uma ponte para se chegar a uma apre-
ciação mais rica dela.
É quando perguntamos: “O que o escritor quis dizer? Porque
disse isto? Porque expressou assim? O que subjaz àquela obser-
vação? “
Então começamos a ver as coisas com uma nova luz, direção
refulgente.
Um escritor não é uma coletânea de sermões pré-dirigidos. É
mais, e muitas vezes mais um empreendimento coletivo de abrir
pedreira para construir. É enquanto, através de um nítido sabido
da consciência que se vai ilustrar no meio da quantidade de con-
sequências e experiências de dados em contraste e se procura
construir algo com ela, que os dados assumem vida.
Esta é a argúcia que norteia o escritor desta obra literária, ex-
por em livros os contrastes do nosso modus vivendi hodierno; e
Kennexiz Xavier 13
com o mesmo assumir a vida e fazer arrepender-se dos atos ma-
lévolos os homens atrozes e ignaros; outrossim para dignificar
a sua própria arte (literária) e o seu desenvolvimento cultural,
artístico e científico.
Apresenta-se este livro no seu sujeito título (EFEITOS DA VI-
DA) sem ínfimas inspirações pretende-se com esta obra literária
atenuar as duras e iniludíveis realidades que constituem a nossa
vivência atual; fundamentando-se em toda a história da civiliza-
ção humana.
Os temas contidos no livro são de noções da civilização atual
com um quê de fábula, lenda, ficção e ciência em que se defrontam
todos os contrastes – Riquezas e pobrezas, opulência e miséria,
cultura e barbárie, inteligência e estupidez, amor e ódio, altruís-
mo e egoísmo, paz e guerra, virtude e imoralidade, esperança e
desespero, ateísmo e teísmo.
Os objetivos fundamentais são três coisas, que o homem, seja
ele quem for, ou viva onde viver pede e diremos mesmo exige
constantemente:
– A paz, o Pão e a liberdade.
Pode-se dizer que o escritor tem como estilos literários para a in-
terpretação das suas inspirações e mensagens fundamentalmente:
– Contos poemáticos e prosaicos, crónicas, romance, poemas
abertos e fechados – Podem ser dramáticos e rimáticos – Satí-
ricos e trovadorescas.
O objetivo deste livro é o de descobrir as coisas de todas estas
calamidades que nos envolvem, que nos cercam; aliás, equidis-
tantes, que parecem apostados a tomar conta do homem da
humanidade, em todas as suas atividades e manifestações.
14 Efeitos da Vida
Capítulo I
Desespero e Tristeza
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deprimido e triste.
Porquê?
– Meus colegas passam a maior parte do tempo em aulas
a sorrirem-me desdenhosos, pois a minha vestimenta era, da-
queles que todos conhecem, de gente pobre e humilde. Meu
relacionamento no clube foi sempre assim, viver na pele dos
efeitos do bullying que é uma subcategoria do comportamento
agressivo que flui em espaços sociais ou em grupos sociais; mas
de um tipo particularmente pernicioso, uma vez que é dirigido,
com frequência e repetidas vezes, a uma vítima que se encon-
tra incapaz de se defender a si própria eficazmente. A pessoa
vítima de tal ato bárbaro pode estar em desvantagem etária,
censitário, ou só entre muitos, ser mais nova, menos forte, ou
simplesmente ser menos auto confiante. As pessoas agressivas
exploram esta oportunidade para infligir dano, obtendo quer
gratificação psicológica, quer estatuto no seu grupo de pares
ou, por vezes, obtendo mesmo ganhos financeiros diretos ex-
torquindo dinheiro ou objetos aos outros”, eu passava todos os
dias, sob este efeito macabro da vida, sob este subtipo de vio-
lência escolar; que se traduz num conjunto de comportamentos
agressivos, intencionais e repetitivos, levados a cabo por um ou
mais alunos contra outro.
As agressões a que eu era obrigado a submeter-me todos os
dias eram inerentes a ofensas morais, chibatadas psicológicas
como insultos, piadas, gozações, apelidos cruéis, ridiculariza-
ções, entre outros. Sofri deveras, uma forma de pressão social
que me acarretou muitos traumas na vida; enquanto aluno que
diariamente conviveu com esta realidade, fez com que, muitas
das vezes, condicionasse o meu quotidiano às solicitações dos
meus agressores. Mas como homem, e jurado profundamente
com firmeza em atingir um certo patamar, acima de tudo estava
motivado na certeza de alcançar uma mobilidade social e atingir
o ápice da mais alta realização humana, isto é, alcançar a felici-
dade, deixei de ser nada, pois que, ignorei os efeitos ignóveis da
16 Efeitos da Vida
vida e tentei não me deixar influenciar pelo bullying. Mas, o mais
agravante é que por vezes estes meus agressores, apresentavam
um ligeiro absentismo escolar e, portanto; não assistiam às aulas
porque não se concentravam de tanto me sorrirem e lacrimeja-
vam de desdém porque as minhas vestes os arrepiavam; e briga-
vam comigo por causa de coisas muito mínimas todos os dias.
Em resultado disso a minha memória passou a encher-se de
factos e recordações tristes, por causa de tanta injúria e perversão
adquiri pensamentos negativos, raciocínio enviesado e conflitos
comportamentais.
Apesar das minhas aspirações, das minhas tendências e objeti-
vos, fui forçado a ter um considerável insucesso escolar, a deixar
de frequentar o clube e consequentemente abandonar a escola.
Com isto, esqueci-me na totalidade de tudo que era necessá-
rio para viver a vida, já não suportava esperar para prosperar;
desvairado passava o tempo a dormir sob um embondeiro no
Mercado Popular da Boa Vista, o vulgo Rock Santeiro, abando-
nei meus pais, procurava o meu mantimento diário na lixeira,
comia pedra como pão e misturava com lágrimas a minha be-
bida, sentia-me feliz quando encontrava qualquer coisa morta
porque servia-me de melhor manjar.
Vivi assim durante todo o ano e, tarde depois, quando me des-
pertei do comportamento irracional e dos conflitos psicológicos,
fui a casa dos meus pais, ao bater o portão, veio abrir um dos
meus antigos vizinhos que ao ver-me sentiu-se vencido, encheu-
-se de ira contra mim e cuspiu-me na cara dizendo:
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do meu funeral, e dizia, não pode haver Deus, porque se houvesse,
não poderia permitir tanta asfixia e tanta iniquidade, tanto ódio
e tanta malvadez, tanto tédio e tanto sofrimento. Ali indaguei
que a vida não é nada mais do que uma corrida para morte, é
um jogo de grande asneira onde as tranças da alma se embara-
çam nos pentes da sepultura; é uma viagem sem objetivo, sem
sentido e cheia de miragens e sobressaltos.
E no entanto, lembrei-me dos velhos ditados que dizem:
“Se te ferem as pedras do caminho sorri... porque caminhas.“
“Quem não ignora factos que lhe parecem de ma-catadura ati-
ra o seu futuro na sepultura.” Entendi porque não fiz jorrar fios
de lágrimas sobre o meu frontispício, porque entendo, que foi
por meu desmazelo, e a morte dos meus pais agora está sobre
minha culpa porque se ignorasse as injúrias do clube, talvez isto
não tivesse sucedido, os meus pais não morreriam de certeza.
Sem destino para concretizar, projetos para traçar e conseguir
o pão da vida, como forma de sobrevivência levei a maior parte
da vida em bares jogando batotas com os amigos, praticando
incessantemente jogos de azar, tornei-me um autêntico alcoóla-
tra, deitei para longe de mim aquilo que almejava ser, e a maior
parte da responsabilidade e o bom, e certo caminho de penetrar
a porta da felicidade que é a mais alta realização humana; perdi
os valores morais da bem – aventurança. Já não me sentia de
acordo com o hinduísmo, que acredita na bem-aventurança infi-
nita considerada como um dos principais aspetos da divindade.
Mas, quando fazia cada esquina dos bairros e kimbos do meu
ego murados de ambientes frenéticos, de crenças, de religiões
e tabus, eu enxergava que o homem está tentando, inconscien-
temente, alcançar seu Ser divino – que é essa bem-aventurança
infinita. Concebia que não importa o quanto se consiga prazer
ou dinheiro, sempre se quer mais, discernia que a satisfação não
pode ser encontrada através deles. Ficava consciente de que a
felicidade proveniente do prazer e do dinheiro é finita, e final-
mente, a busca da felicidade através de meios externos e finitos,
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não leva a lugar algum.
Mas apesar disso tudo, o meu desespero e tristeza era certeiro,
mesmo tomando um ou outro atalho, seguindo outro percurso,
era sempre certo o itinerário da minha desgraça e, porém, esse
conhecimento não me inspirara a mudar de direção e buscar,
conscientemente, a fonte da bem-aventurança infinita dentro
de mim. Já não me inspirara a crença de que quando a pessoa
chega a essa fonte perene de bem-aventurança infinita, todos
os seus desejos e vontades desaparecem. Que Ela tem então a
experiência de Deus – a divindade que tudo permeia – dentro e
fora de mim. Agora, é injusto para mim, quando se diz que Deus
enquanto essência de tudo e de todos os seres, ama a todos, até
mesmo seus inimigos, porque não vê inimigos em ninguém. Que
a sua bem-aventurança transcende todo o sofrimento, o medo e
a tristeza. – Não é verdade; essa loquaz, essa retórica afirmação, é
traiçoeira e sofista, porque este Deus fez-se meu inimigo, fez-me
como preza aos seus dentes canibais e está devorando-me vivo.
Certo dia quando vinha a caminho do casino, deparei-me com
duas raparigas que vinham da escola, todas elas de branco, equi-
libraram-me a psique, vivificaram o meu consentimento mori-
bundo, deram-me vida, deixando-me surpreendido por alguns
segundos. Olvidei a vida e não sabia o que era azar. As miúdas
olharam para mim a bom olhar, e talvez me tivessem reconhe-
cido, porque me tinham visto num dos bares onde eu fizera as
minhas bobagens e loucuras, logo saudaram-me:
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1- Gula consiste em comer além do necessário e a toda a hora;
2-Avareza, é a falta de generosidade para compartilhar bens
materiais;
3- Inveja, é desejar os atributos, status, posse e habilidades de
outra pessoa, também se resume em ganância, egoísmo e con-
cupiscência;
4- Ira, é a junção dos sentimentos de raiva, ódio e rancor;
5- Soberba, é caracterizado pela falta de humildade de uma
pessoa, alguém que se acha autossuficiente;
6- Luxúria, é o apego aos prazeres carnais;
7- Preguiça, é a aversão a qualquer tipo de trabalho ou esforço.
Beatriz:
– Alberto K., nós estamos a estudar, mas, não temos emprego
nem sequer uma profissão. Por isso queríamos que nos ajudasses.
Alberto K.:
– Isto é muito enigmático! Não se entende... nem posso en-
tender! Vejam que não tenho família, não tenho nada, não sou
nada e como posso ajudar-vos? – Também não tenho profissão
nenhuma! Sou um estúrdio, um homem sem destino feliz. Em
que posso servi-las? Não valho nada! Sou um zero à esquerda,
absolutamente um zé-ninguém, fui gerado do nada, sou um na-
da no sentido fiel da palavra.
Beatriz:
– Está calmo! O caso é muito simples; não é preciso estudos,
nem formação, nem diploma académico, mas sim beleza e mui-
to sweg. E tu não te desanimes porque o estudo não faz sentido
sem profissão ou dinheiro. Porém, nós somos belas, não é?
Alberto K.:
– Estás perdida miúda!... Não, não há profissão sem estudo e
analfabeto com beleza; está provado que a instrução e a edu-
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cação são as âncoras mestras de nossas liberdades, promovem
os valores da ordem social, são as fontes imediatas das normas
morais, religiosas, do trato social e jurídicas, consolidam a paz,
solidariedade, cooperação, a tolerância e aceitação da diversi-
dade...Vocês não batem bem, vocês são dementes e ignorantes
também!...
Cátia ofendida:
– Mas, o rapaz quer abusar de nós, não é?
– E tu também, Beatriz diga quê, quê ... é o que nos importa e
não faças cerimónia com este palhaço desgraçado.
Beatriz, abertamente:
– Ouve, nós estamos fartas de depender dos nossos pais, que-
remos ter dinheiro, e neste caso como te conhecemos, e te vimos
a trabalhar no casino da deusa “Lilith $ Samael”; sendo assim,
achamos viável que a sua relação connosco pode ser útil. Vais
levar-nos para lá e nós tornamo-nos meretrizes para espremer
os milhões destes velhacos e ricos que têm cérebro de barata,
que têm os neurónios em guerra tal qual meninos na flor da
adolescência, com o juízo atropelado na cabeça.
Alberto K :
– Ah ah, ah!... isto não custa. É só fazermos um pacto baseado
num contrato; dividimos o dinheiro e seremos uma equipa... eu
faço o que querem ainda agora. Estamos?
Cátia:
– Não há de quê! Mas o problema é que nós somos virgens e
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não sabemos nada em relação a sexo, glamour, luxúria, estética!...
Os nossos pais nunca quiseram falar de sexualidade connosco,
porque dizem ser disparate. Dizei-nos, é verdade que falar de
sexo e órgãos genitais é disparate?
Alberto K.:
– Não, nunca o foi, os vossos pais querem impedir-vos de pro-
var as coisas boas da vida... Falar de sexualidade e órgãos genitais
não é crime, pecado nem imoral, antes pelo contrário, falar de
sexualidade, fazer sexo é o ato mais divino que existe.
– Eu vos ensino como se faz. Está combinado, somos agora
uma equipa denominada Galera da emulação.
Beatriz:
– Então nosso amo, quando é que faremos a nossa primeira
ação? Este rapaz veio a calhar! Estou comovida e muito passada...
somos a partir de agora figuras públicas, donzelas e super-donas
do casino ‘LILITH $ SAMAEL’, somos as próprias, as meretrizes do
terceiro milénio que vão deixar babados estes velhacos barrigudos
que passam a vida no gabinete a assistir vídeos pornográficos,
que amam a pedofilia como os padres iludidos por Jesus Cristo
e que se excitam por essa nossas bundonas frescas de virginda-
de. Cátia, qual é o kota que não adora ninfetinhas, que resiste
penetrar a bucetinha cheia de molho?
Alberto K:
– É já no próximo sábado, minha Cátia fofa. Vamos nessa!
22 Efeitos da Vida
A vida começa a mudar, tudo vai melhorar. Eu néscio e ignoran-
te pensava que Deus olhou para mim e era uma mudança para
a felicidade. Elas perguntaram-me, ou seja, pediram informações
de como se usar, e eu ensinei-as de uma forma vil e desonesta
conforme se pratica nas tais casas de prostituição.
Levei-as porém, numa tarde de domingo a uma pensão “era um
funeral para elas” onde levaram o tempo todo da vida, e acabaram
por viver lá a vida. Conforme o combinado eu estava engajado na
área de batotas, jogos de azar e num grupo de bandidos denomi-
nado a Máfia do terror e, elas na área da pornografia; davam-me
dinheiro em todos os fins-de-semana, engravidavam e provoca-
vam o aborto, isto é, todos os meses do ano matavam o feto. En-
tretanto, naquele tempo a vida era como que se estivéssemos no
paraíso prometido por Jesus Cristo, numa menção feita na Bíblia,
pois tínhamos tudo o que necessitávamos, o mundo curvava-
-se aos nossos pés como a terra é humilde ao sol, os semáforos
da miséria acendiam sempre depois de nós. Dávamos festanças
todos os santos dias, fomos alcoólatras na certeza, também de-
pendentes e viciados no sexo, e as miúdas, quando a família as
aconselhava, mandavam-nas emudecer e... convidavam a Máfia
do Terror para as percutir e humilhá-las. Tornaram-se crónicas,
prostituíam-se nas praças, nas casas noturnas, assim como nas
escolas; e conquistavam professores e envolviam-se sexualmen-
te em troca de certificados de habilitações literárias. Mas numa
reviravolta, onde o feitiço não funciona, a aflição do sol vira-se
ajoelhado às portas da sepultura, manifestou-se então o funeral
das miúdas... oito anos depois as raparigas que eram sensuais,
ninfas do rio Nilo, de pele macia e gordinhas, tornaram-se secas
e esbranquiçadas, pois que, a dor e a miséria macaqueava o seu
estilo asno e desenvolvia-se nas suas tangas e lingeries cor-de-rosa
e de muito custo valor. Todavia, o grupo que se chamava Galera
da Emulação as pessoas de sobrancerias denominaram-na galera
do auto inumação, porque auto vergastavam-se e destituíam as
suas longas vidas a si próprias e andavam sob e sobre as cidades
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à procura e em busca do destino funesto.
Acirradas, escarnecidas e escarnadas pela dor e miséria, foram
obrigadas ao arrependimento, mas já era tarde de mais. – Seis
meses depois Beatriz aconselhou a sua companheira a deixar a
vida imoral, sem ética, louca e terrível que descobriram perdida
e funesta; e fez-me lembrar um ditado que diz, “nada mais peri-
goso do que a lógica quando tem o falso e o engano por ante-
cedente”; e outro mais simples e vulgar que diz previne-te antes
que te arrependas e, porque ninguém sabe o momento que o
salteador vem assaltar a sua casa.
Como amigas íntimas, já cheias de dor, entenderam-se e em
poucos dias casaram e, no mesmo pouco, foram escorraçadas
pelos maridos porque descobriram que estavam contaminadas
com o vírus da SIDA, asma, sífilis, herpes, gonorreia, hepatite
entre outras doenças contagiosas. No momento de pranto e
dor, na emulação agora da morte porque já estava consumada
a batalha da vida, sem ver outra saída, as raparigas pediram-me
para ajudá-las, porque comíamos juntos e sempre já dei a minha
maior atenção a elas. Mas, manifestei-me indiferente defronte
das suas famílias, com o terror de me maltratarem, sem querer
neguei que fôssemos companheiros fiéis de lutas e vitórias. De
repente lembrei-me dos ditos que dizem:
“Ama o teu vizinho mas não derrubes o quintal; não se per-
suada, ter amigo fiel, porque na pena de morte o teu amigo te
negará.”
“Quem não dá a educação sexual à filha... está sujeito a ar-
ruiná-la.”
“Não aceites induzir-te ao mal porque o indutor perante os
teus problemas não estará presente.” As meninas coitadas, lá se
foram; as miúdas de vírus contagiosos pereceram; pouco tempo
a vida gozaram; muito tempo a vida não viveram.
Eu fiquei num mundo obscurecido e misterioso com vontade
de morrer também e jamais querer viver.
“Nada está realmente para ser você”, dizia para mim mesmo.
24 Efeitos da Vida
O mundo só quer aproveitar-se dos males que eu pratico, mas,
acredito no destino. E não tem de quê.
Entretanto, acredito que quando uma pessoa não aceita o
sistema da vida hodierna, mas não consegue foragir dele, aca-
ba tornando-se numa vítima para o julgamento e sentença dos
que não têm olhos para ver. Dizem que o correto é fazer parte
dele. Mas isto é uma forma de fazer com que o sistema continue
funcionando – dizendo que você precisa de casas luxuosas, di-
versos carros, formação acima da média; e então você será uma
pessoa de sucesso. E isto frustra quase todas as pessoas. Inclusive,
foi nesta pele que eu vivi por muito tempo, homem que acaba
criando uma personalidade mais gananciosa e então começou a
ter atividades desonestas com a ilusão de que se fizer desta for-
ma será independente, libertar-se-á das vicissitudes da natureza;
mas fez tudo em busca de algo que não existe, que nunca tem
fim. Não existe fim nos pecados capitais, na gula, na avareza, na
soberba, na luxúria, na preguiça, na ira e na inveja; eles são insa-
tisfações, sempre!... Este sistema influência qualquer pessoa, não
só a sentir muita dor, como também a tornar-se triste e frustrada,
cria estelionatários, prostitutas, corruptos e até ladrões de rua.
Nesta má vida que eu vivi, a vida ensinou-me que uma socie-
dade que não busca mais o bom costume, que não deseja apenas
viver em harmonia e livre de necessidades; uma sociedade que
deseja apenas o luxo... É esta a sociedade em que vivemos hoje.
E isto existe basicamente porque as pessoas em frenéticos
desesperos e tristezas como eu; estão cada vez mais orgulho-
sas e vaidosas. Todos os dias saem para buscar uma ilusão; não
enxergam a simplicidade como um meio de vida saudável e de
sucesso. Abandonam a razão para o esquecimento, a ignorância
e a superstição.
Nesta hora, creio outrossim, que o supérfluo é sinal de poder e
riqueza. Ora, é ótimo ter a liberdade de conseguir o que se quer,
na hora que desejar, mas qual é o sentido de perder toda a sua
vida, para usufruir de prazeres que são momentâneos; que fazem
Kennexiz Xavier 25
parte da vida ociosa. A pessoa que busca apenas aquilo que a faz
feliz, sem mais nem menos, acaba tendo o tempo preenchido com
o que lhe é conveniente. Com o que o completa. Quem busca o
luxo, tem sempre em frente de si uma batalha sem sentido, en-
riquecida de miragem e sobressaltos, uma batalha perdida. Nin-
guém pode vencer uma batalha que não tem fim, uma batalha
intransponível, que jamais vai acabar. Porque quanto mais você
tem, mais energia gasta, mais noites perde, mais tempo precisa
para cuidar de suas propriedades e, portanto, morrer lentamen-
te. Quando se tem mais dinheiro, mais tempo você precisa para
cuidar da sua vaidade, da sua aparência ou estética... Que é uma
mera fachada, não passa de uma piada e uma escravidão infernal.
Agora pretendo fitar os meus olhos naqueles interesses que
deixei por causa dos metais e da vida barata; penso numa ativi-
dade que me faz sorrir e alcançar a mais alta realização humana
inerente à felicidade. Estou em pleno gozo das potencialidades
mentais, deveras, acredito que não é o Ter que dá o Ser, confor-
me muitas pessoas com pensamento enviesado creem; mas sim,
é o Ser que dá o Ter, também creio que esquecera que o status
profissional não é relativo ao status social e afetivo, pois muitos
podem respeitar o seu cargo, mas não respeitam você. As pesso-
as em geral trocam o amor pelo dinheiro; esquecem-se de serem
pessoas melhores: melhores em casa, com os filhos e no traba-
lho. Umas frases antigas, que estão cada vez mais esquecidas são:
“Não julgue o livro pela capa”; “As barbas não fazem o filósofo”;
“Eu respeito o homem pelos seus atos e não pelo tamanho do
seu diploma”. Infelizmente poucos ousam dizer isso. Quem tra-
balha apenas pelo dinheiro não se entrega de corpo e alma. Usar
o seu corpo e sua mente por dinheiro, pode ser considerado uma
prostituição. Uma prostituta que age pelo instinto e gosta de ser
o que é, pode ser considerada mais honesta do que um milioná-
rio infeliz e avarento, do que um profissional diplomado sem o
carácter adequado. Daqui adiante farei o que eu quero fazer – o
que me faz feliz – isso é ser verdadeiro, porque é o meu eu ver-
26 Efeitos da Vida
dadeiro que está pedindo, e só isso é real.
E porque as pessoas buscam a gula, a avareza, a soberba, a
luxúria, a preguiça, a ira e a inveja? Existe algo que o ego ado-
ra... Ele ama a vaidade. A vaidade não é um mal, ela é ótima na
verdade quando se baseia na razão. Os humanos cuidaram do
corpo e da mente através de eras, porque dessa forma podiam
caçar melhor e conquistar sempre os melhores parceiros para
poderem ter filhos mais fortes e mais espertos. Assim podiam
se orgulhar de uma família sempre próspera e nobre. A vaidade
baseada na razão faz parte da resiliência da seleção natural, da
sobrevivência das espécies; tentar mostrar ao mundo que pode
melhorar o ambiente em que vive, que pode ser mais do que
um animal que trabalha. Fazer filhos e alimentar-se, faz parte da
vaidade, faz parte da vontade de ser melhor, de crescer; mostrar
o seu corpo de forma sedutora, sem vulgaridade, faz parte do
ser humano desde o início dos tempos. Porém com o tempo, as
pessoas começaram a passar dos limites; acreditam realmente
que pessoas que possuem carros grandes ou casas gigantescas
são mais interessantes do que belos corpos e mentes sábias.
Começaram a pensar que a vaidade é egoísta, e que uma pes-
soa pode ser mais interessante do que uma raça. Diferente dos
antigos que buscavam sempre uma raça superior, através da
mente e do corpo; nunca se esquecendo das doutrinas para con-
quistar a alma superior. Mas hoje as pessoas criam ídolos, elas
não se importam mais com a busca de uma raça superior, todos
juntos, com o mesmo interesse. Não, hoje as pessoas buscam
ser indivíduos melhores do que seus parentes, seus próximos. A
humanidade é uma família, que literalmente tem os seus irmãos
matando-se uns aos outros para conquistar ilusões. Hoje vejo
homens e mulheres tendo filhos com pessoas fracas ou cheias
de distúrbios por causa do luxo e iludidos pelos desejos. Vejo
mulheres humilhando-se para terem poder querendo igualdade
de género que jamais alcançarão. Seus filhos nascem doentes,
não só física e mentalmente, como também moralmente. Os
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filhos não serão mais inteligentes simplesmente porque convi-
vem com os pecados capitais, pelo contrário, o que vemos por
aí são pessoas simples tornando-se grandes pessoas, enquanto
o pecado capital está fazendo com que as pessoas esqueçam
a sua natureza e a sua responsabilidade com a evolução social,
cultural, psicológica e tecnológica. A nobreza nunca criou tan-
tos idiotas e esquizofrénicos como hoje em dia. Na verdade, não
existe mais nobreza; existem apenas ricos e pobres, bárbaros e
vítimas. Mas a vaidade é isso, tem os dois lados. Corpos lindos,
pessoas inteligentes e momentos divertidos; isso já bastaria para
criar ambientes melhores e acima de tudo um mundo melhor. E
esse caminho é contra o luxo e o egoísmo, essa loucura comple-
tamente desnecessária. Decerto entendo isso, não há nenhuma
necessidade em ter o que não tem utilidade essencial.
A internet provou com seus blogs e redes sociais como o fa-
cebook, o twitter (chilros), o instagram, o Google, etc.; o que
muitos já suspeitavam: as pessoas são completamente fanáticas
por elas mesmas, são extremamente egocêntricas. Elas fazem de
tudo para se mostrarem mais atrativas, ou que fazem parte de
uma determinada classe. Antes da internet as pessoas apenas
falavam sobre vaidade; as pessoas sempre foram vaidosas, mas
era diferente, não existia o ato de se expor ao extremo; de usar
lingeries em público, de exibir o corpo nu ou em trajes demarca-
dos, apenas os artistas faziam isto, mas isto apenas para sobre-
viverem no mundo do entretenimento, não porque gostavam.
As pessoas sempre lutaram pela privacidade, não gostavam de
ter as suas vidas invadidas.
O rótulo que antes era explícito apenas nas empresas, também
se tornou num meio pessoal para se tirar vantagens. As mulheres
agora despem-se, andam meia nuas na rua para impressionarem
porque acham que vestidas decentemente não são belas nem
têm estética. Tudo se tornou marketing. Inclusive, a rede social
que qualquer pessoa usa, o correio eletrónico que qualquer um
acessa, tudo, mas tudo está cheio de publicidade e informações
28 Efeitos da Vida
anti sociais. O que as pessoas compartilham em seus leviatãs di-
gitais, não passa de marketing pessoal. Todos querem mostrar o
que pensam, o que são e o que têm. As empresas querem mos-
trar o seu produto e as pessoas querem mostrar que são atrati-
vas. Posso concluir que quase tudo gira em torno da atração, de
tornar algo atrativo, e o caminho que as pessoas encontraram
inconscientemente é a publicidade. Se você não mostra, ninguém
se interessa e quanto mais pessoas te enxergam e sentem atra-
ção, mais retorno você tem. A internet tornou-se numa grande
vitrina de leviatãs.
O problema é que a indústria percebendo a vaidade das pes-
soas, passou a usar este meio para impor as suas futilidades; ela
domina e manipula todas as vontades das pessoas que querem
ser alguém. Pelas experiências próprias que tenho da má vida
que vivi... eu acho isto incrivelmente intrigante. Pode-se dizer que
eles conseguiram de certa forma, e ninguém percebe. Criaram
o luxo para as massas, os partidos da esquerda, os sistemas de-
mocráticos e capitalistas. As pessoas não querem mais apenas
qualidade, como em outras épocas; elas querem marcas, emble-
mas e nada pode ser falso. Pode ser de ótima qualidade, mas por
incrível que pareça, um emblema vale mais do que tudo isto. O
preço é mais importante do que o produto. Tem que vir de uma
marca de luxo, caso contrário não tem valor. Se uma pulseira é
vendida no mercado de rua, não tem valor, não presta. Mas se
estiver sendo comercializado por uma grande marca, mesmo
sendo idêntica, seu valor tem um salto de pelo menos mil por
cento. Que tipo de idiota aceita isto?
Mesmo que seja produzido na mesma fábrica, o produto deve
ser consumido em uma loja oficial para que tenha mais valor;
para que o monopólio continue a dominar o mercado e o go-
verno retire a sua grande parte, e então, eles lhe dizem que é o
certo, que é assim que se faz. Porque assim você pode continuar
a trabalhar honestamente para alimentar este sistema corrupto.
Como a futilidade é tola; é incrível saber que todos têm o mes-
Kennexiz Xavier 29
mo cérebro, até eu também passei por essa cegueira de valores
conspurcados. Talvez não tenham a mesma visão agora; mas,
a cegueira realmente é cruel. Quando você não compra um
produto “original de fábrica”, todos te reprimem de certa for-
ma. Isto é exatamente o que o governo quer, quer que todos o
ajudem para te poder influenciar a te sentires errado, para que
penses que estás a fazer um mal à sociedade, tirando empregos
e sonegando impostos; mas qual é a peça que não é original de
fábrica? Tudo foi e sempre será produzido numa fábrica; além
disso, todos sabem que as grandes empresas têm no seu quadro
de funcionários escravos e imigrantes ilegais, indiretamente, mas
têm, e que poucos ou nenhum emprego a mais é formado na
região onde atuam. Quase tudo é terceirizado nos dias de hoje;
a mesma fábrica que produz estes produtos de luxo, também
distribui os produtos falsificados ou de marcas desconhecidas
no mercado. São todos culpados por este sistema, inclusive vo-
cê. Não seja tolo!
Saia desse lixo chamado luxo. Vista-se bem, mostre-se atrativo
se isto lhe fizer bem, mas não se engane... Qualidade não é um
motivo para que existam preços altos.
Então, tendo em conta os danos que a luxúria, o raciocínio en-
viesado, a ganância, o egoísmo, que dizimou friamente as minhas
amigas; abri o olho, tomei uma determinação, e, mais uma vez
meti a mão na consciência, lembrei-me da minha self, pensei no
meu velho compromisso – o de fazer acontecer um destino ho-
nesto e trabalhador. Bati às portas de um senhor machucho onde
me empreguei como doméstico. Limpava o pó da casa, lavava os
pratos e o chão, banhava as crianças, lavava a roupa de todos, in-
clusive de outros empregados que asseguravam a outra área da
mansão; e dormia junto ao galinheiro. Ganhava minimamente
um dinheiro, que em 1992 tive o privilégio de ingressar no ensino
médio na Província do Huambo e fui promovido chefe da UNEA.
Mas mesmo ainda assim, a iniquidade não deixava de me tra-
quejar, todos colegas que sabiam e tinham dados da minha so-
30 Efeitos da Vida
brevivência escarneciam e sussurravam entre eles aos ouvidos:
– Este não pode ser chefe aqui! – Quem disse que um domés-
tico quando sai à rua tem de ser respeitado?
– Não pode, esse aí é um desgraçado, que está sujeito a dormir
à fome caso não lave os pratos e não for maltratado...
Kennexiz Xavier 31
Capítulo II
O Começo de uma Mudança
Kennexiz Xavier 33
da pobreza da guerra, que não tinham o controlo médico medi-
camentoso. Além disso, recebia também pacientes como clientes
para investir o então referido centro de saúde. Durante dois anos
fui reconhecido pelo Governo. Fui empregado na função pública e
promoveram-me como Diretor do Hospital Municipal da província
de Nova Lisboa. Comecei a trabalhar e a servir a sociedade do modo
que queria, para orientar-me a usar os dons que eu tinha na vida.
O soldado:
– Julguei que aqui fosse a cirurgia. Mas... preciso fazer um diag-
nóstico.
O soldado:
– Se for documentos sim. Mas se for dinheiro, tenho muito pouco.
34 Efeitos da Vida
Dr. Alberto K.:
– Isso não tem importância – Devem-vos a pátria, vocês são he-
róis... e merecem tudo de graça.
O soldado assustado:
– Eu não pedi de graça! Pago; mas, tenho pouco dinheiro.
O soldado:
– Muito agradecido, senhor doutor. Eis aqui a minha documen-
tação.
Dr. Alberto K .:
– Eu também não conheço, cresci só por crescer. Talvez possa-
mos viver juntos, somos irmãos e única família real que resta, faço
parte da tua verdadeira raiz.
Kennexiz Xavier 35
resistiu a viver porque era doente de asma, morreu no momento
nas mãos de seu irmão de síncope.
E eu?
Achando que ainda não fiz nada, mas, atingi a meta; e só dizia
para mim mesmo:
– Estás fazendo um bocado senhor. Já está bom!
36 Efeitos da Vida
insinuei-os também a aprender a ser e estar, esperar para prosperar.
Porém, isto foi o meu principal dote e sofri por causa da impiedade
dos homens e, se pequei só foi para sobreviver nessas circunstân-
cias da vida, pois que nunca houve e não haverá humano perfeito,
digno de tudo que se alimenta e precisa de vestimentas, que não
seja pecaminoso. E se os efeitos da vida têm sido muito pesados,
amargos e catastróficos para mim, é tudo culpa minha, só logro
o que plantei. Por isso estou em pleno acordo com o hinduísmo
que crê veementemente que Deus não é responsável pelo prazer
e dor de Suas criaturas. São as criaturas que são responsáveis pelo
próprio desfrute e sofrimento, e sofrem ou desfrutam graças às
consequências dos seus próprios atos ruins ou bons – De acordo
com o hinduísmo, Deus é Karmaphaladātā – o doador dos frutos
das ações. Ele é o derradeiro distribuidor da justiça e nunca falha
na aplicação da equidade e isonomia, garante que todos recebam
os seus próprios Karmaphalas, e não uma outra pessoa. Cada pes-
soa deve merecer aquilo que lhe é devido. E todos são iguais à lei.
Aprendi com a própria experiência, que durante um período
médio de vida, a gente pratica inumeráveis ações, e igualmente
incontáveis são os efeitos dessas ações. Nem todos os efeitos das
ações retornam imediatamente à pessoa, embora alguns o façam.
Por exemplo, se uma pessoa planta uma macieira em seu jardim,
em alguns anos ela poderá colher os frutos, mas se essa pessoa co-
loca a mão no fogo, isso terá um efeito imediato, a sua mão ficará
queimada.
Foi mais um sol, em volubilidades circunstanciais e tempestuo-
sas da minha vida que se curva às portas do dilúvio, onde Deus e
o Diabo se beijam em memórias ao funeral das minhas alegrias.
Kennexiz Xavier 37
Capítulo III
Olhos em Olhos
Kennexiz Xavier 39
– Vistorio que a vida é o fator do progresso científico, económi-
co, produtivo... etc.
– “Cedo cumpra... ou morra”, pois queremos uma sociedade
saudável, isto é, erradicar a grande inflação de doenças. Esta é uma
das suas piores ditaduras, matar doentes estúrdios e graves que não
têm cartão visto do consultório médico. Certo dia aproximando-se
dele, a sua esposa Kali perguntou:
– Porquê matar?
Dr. Alberto K .:
– Amo os meus pacientes; e de que maneira. Mas, ai de quem
não me consultar, porque eu... acabo-o.
Kali:
– Meu amo... Não sabes que acabar com doentes é pecado e
perversidade...
Dr. Alberto K .:
– A divindade que não me condene...
– Estamos para acabar com a doença, previsto que o homem
que não procura controlar a sua doença ou saúde é um suicida, que
plasma a doença na sociedade, considerando-se saudável e enfim
seropositivo. Aliás, as Sagradas Escrituras no Antigo Testamento di-
zem que para acabar com o mal é preciso praticar o mal, e o vulgo
guerrilheiro diz “é melhor fazer guerra para acabar com a guerra”.
– Não têm escolha, temos de seguir em frente e tentar fazer o
melhor possível pela próxima geração. Está tudo tão ultrajante que
não podemos deixar as coisas bem para a próxima geração, o que
podemos fazer é eliminar o máximo possível de coisas más, antes
de partirmos.
Kali:
– Quando é assim meu bem, passariam porta por porta, e não
40 Efeitos da Vida
seria a porta a passar a porta do médico, esta ação superar-vos-ia,
em vez de ser um assassino; pois que quem quer o bem busca com
as suas forças próprias e nunca cansa, é escravo dos seus sentimentos
e não há ninguém que luta por ele. Aliás, as Escrituras Sagradas no
Novo Testamento dizem, convém praticar o bem para acabar com o
mal e se eu fosse o teu guerrilheiro teria que dizer é melhor terminar
a guerra, preservar a paz e julgar os culpados, isto é que é justiça...
Kali:
– Tendes a vossa razão. Mas acabar com doentes gravíssimos não
é bom... é malvadez. Lembra-te meu amor, que a saúde é direito
natural e não questão de economia, política ou normas jurídicas.
Kali:
– Tens feito de certeza um bocado. Mas sem princípios cristãos,
aceita que a tua maneira de cura não se baseia em Cristo Jesus... És
a encarnação do próprio Satanás meu amo.
Kennexiz Xavier 41
Dr. Alberto K .:
– Vou mudar e apegar-me ao novo testamento de Cristo Jesus
quando a crise e as pandemias forem extintas da terra. Desde já,
Jesus Cristo não faz milagres, ele é apenas uma alucinação e criatu-
ra dos iludidos pela fé.
Kali:
– Aceito. Porque isto significa pensar diferente que nem sempre
é incoerente... O dom é a nítida base e fundamental de toda sabe-
doria adquirida, meu amado doutor. Por isso não há igual como és.
42 Efeitos da Vida
distinto sempre serás, porque não alcançará o seu nível intelectual
e, o dom faltará na pessoa que macaquear a sua sabedoria. Amo-
te, mas, amo-te mesmo meu marido.
Ela de súbito vestiu-se para abrir ao marido, mas, não estava nin-
guém na porta, apenas a lua iluminava o seu luar na fresta da porta
coisa que acelerou as suas emoções e delírios Kamasutra. Os lábios
lambiam os dedos, chupava o mamilo e coçava-se sensualmente
no canal entre a vulva e o útero, a dizer:
– Ai, ai! – Que veemência e saudades!... Que excitação... excita-
ção... excitação!...
Kennexiz Xavier 43
a secreção salivar.
Kali:
– Chorei por causa deste amor que não tem limites, é um ferro
estuante a ser domado. Amo-te sem saber e ninguém me julga
por favor. Fica calado, não fales nada, deixa eu te amar meu amor.
Ocorreu a noite toda assim... beijo por beijo, sonho por sonho,
44 Efeitos da Vida
olhos em olhos, amor por amor, paixão por paixão e carinho pró
amor é uma gama de baque.
Kali:
– Meu amor, é hoje unanimemente aceite que o ser humano se
configura como pessoa, especialmente nos primeiros anos da sua
vida, no seio da própria família. A família tem um lugar insubsti-
tuível e inalienável na formação, instrução e educação ou, se con-
siderarmos, na lapidação da personalidade humana. A família é a
comunidade na qual desde a infância se pode assimilar os valores
morais, cívicos, jurídicos, religiosos, do trato social e usar correta-
mente a liberdade nas relações com os grupos sociais. A vida em
família é a iniciação para a vida em sociedade, ou seja; é a família
que desde pequeno traça o destino do seu menino, (...) quero com
isso dizer que sempre quis que fizéssemos uma festa de floresta
com os nossos filhos e um verdadeiro acampamento romântico
para nós. O que achas dessa ideia meu amor?
Kennexiz Xavier 45
– É uma ideia genial, minha princesa amada. Esta é uma ideia
deveras psicopedagógica, você tem um carácter de uma professo-
ra brilhante e uma mãe fascinante...Este é o meu infantil espirito
utópico, meu fadário, meu dever enquanto marido e pai, por isso
sou proletário, porque não cresci no seio de uma família. Se não
morrer cedo, farei-me bola, alegria, exercícios físicos, música, poesia,
ciência e sabedoria deles.
Kali:
– Então, onde e quando poderemos acampar?
Kali:
– Farias o melhor, meu bem.
Seth:
– Uau! – Minha querida mamãe, isto é que é criar um projeto co-
mum de vida familiar, pois para a estabilidade da família não basta
a atração sentimental entre o pai e a mãe, porém, é necessário que
46 Efeitos da Vida
os pais sejam os reais governadores das suas casas e transmitam
os valores quando os vivem e deem testemunho deles de maneira
natural...Fico feliz, mas, muito feliz mamãe, com o sucesso e concre-
tização deste acampamento familiar, pois que, os pais que obrigam
seus filhos, a serem felizes, instruídos e educados e eles não o fazem,
esses pais não inculcam nos seus filhos uma correta escola de valo-
res. Graças, os meus pais são fascinantes e brilhantes!
Kali:
– Meu ilustre filho, teu pai e tua mãe, sempre almejaram ter uma
família estruturada, coesa e sólida no amor fraternal. E, por isso
meu filho, gostaria que estes valores que são precisos nas relações
sociais, vocês levassem em linha de conta: a dignidade, a honesti-
dade, a responsabilidade, o bem, a fidelidade, a justiça, a paciência,
a gratidão, a solidariedade, a compaixão, piedade, e o servir etc. E
como é urgente e importante transformar o mundo, partindo de
famílias unidas, felizes e bem estruturadas que eduquem os filhos
através dos principais valores, que reconheçam o valor da vida e
afrontem confiadamente o futuro. Meu filho, o teu pai e a tua ma-
mãe ao planificar estes acampamentos familiares chamam-vos a
educarem-se nos valores humanos.
Kennexiz Xavier 47
Seth:
– Mamã, compra uma cruz celta e o anel que o combina deve
compactar-se no pentagrama e no centro deste a rosa a germinar
em forma de eros.
Kali:
– Meu filho, eu não entendi quase nada. O que é isso que me
estás a sugerir filho?
Seth:
– Para melhor compreensão, venha, vê e eu explico-te o signifi-
cado oculto destes símbolos porque investiguei na net e nas obras
de DAN BROWN:
Cruz Celta
48 Efeitos da Vida
garantidas para quem trabalha com afinco e dedicação. Por isso,
a cruz celta também concede força de vontade e disposição. A di-
vindade relacionada a esse talismã é Lug, o Senhor da Criação na
mitologia celta.
Pentagrama
Kennexiz Xavier 49
Eros representa a sensualidade, atração física, a concupiscência
carnal e humana e a parte consciente do amor que uma pessoa
sente por outra. É o amor que se liga de forma mais clara à atração
física, e frequentemente compele as pessoas a manterem com apego
e afinco um relacionamento amoroso continuado. Nesse sentido
outrossim é sinónimo de sensualidade que leva à atracão física e
depois às relações sexuais até atingir as celestes núpcias orgásticas.
Por acaso a mamã percebeu?- insinuou o filho.
50 Efeitos da Vida
quando viu a nudez do corpo dourado da esposa que apresentava
um rosto dócil e de legitimidade amorável a descansar num dor-
mente sono de anjinho, meia enrolada nos lençóis sobre a cama
esplêndida como um céu em lareira de lua cheia e com todas as
constelações das estrelas; o marido trémulo de excitação lamu-
riante tocou na sua imaculada esposa, ambos veementes e loucos
em núpcias começaram a chupar-se enquanto intercalavam os
beijos com as ideias divergentes relativamente ao amor, a estru-
turação das famílias, aos mitos, às crenças e ao acampamento ou
festim turístico almejado...
Kali:
– Meu amor, o ser humano não é exclusivamente um ser vivo
que só vive, ele também convive. E este é um ponto de parti-
da fundamental da mais alta realização humana, que durante
algum tempo ficou esquecido dentro dos núcleos das novas
famílias. Mas, se nós voltarmos o pensamento à interpretação,
alargarmos um pouco esta análise e observação, vamos chagar
a uma premissa em que não é só por necessidades materiais que
as pessoas convivem. Assim, por exemplo, um fator basilar, é a
necessidade afetiva. Todos querem amar, todos desejam serem
amados, e em grande parte os problemas contemporâneos, de
violência, de desajuste da infância e da juventude, são devidos as
carências afetivas por parte da família e da sociedade em geral.
Kennexiz Xavier 51
– Certo! A família é a base do desenvolvimento harmonioso e
equilibrado de qualquer sociedade. Por isso eu submeto-me a minha
família. -Meu ilustre e venerado marido a quem me submeto e não
reivindico nada como Lilith no Talmude descrita como a primeira
mulher de Adão. Eu sou a fêmea que Deus resolveu criar tal qual Eva,
moldada exatamente como as exigências da sociedade patriarcal.
A mulher feita a partir de um fragmento de ti; não brigo contigo,
não reivindico igualdade em relação a ti, não deixo-te “fervendo
de cólera”. Não quero liberdade de agir, de escolher e decidir, não
quero os mesmos direitos do homem, não quero obter status igual
a ti, não me rebelo e, jamais estarei decidida a não me submeter a
ti meu amo, amo-te sem igual, nunca resolverei abandonar-te. To-
das as vezes que quisermos fazer sexo, mostrar-me-ei conformada
e amada em ter de ficar por baixo de ti, suportando o peso de seu
corpo. E sentir-me-ei desejada, venerada e querida “Por deitar-me
em baixo de ti! Por abrir-me sob teu corpo! Por ser dominada por
ti! Contudo, (eu fui criada da tua carne e do teu sangue) eu fui feita
de carne e não de pó como você e, por ter saído de ti sob os teus
braços sou uma das tuas costelas, carne da tua carne e osso dos
teus ossos, devo ser protegida e amada por ti.” Não vamos inver-
ter as posições, por amar-te tanto assim, estou consciente de que
existe uma “ordem” que não pode ser transgredida. Enquanto tua
esposa devo submeter-se a ti meu amor, pois esta é a condição do
equilíbrio preestabelecido: Yin e Yang, Eletrões e Potrões, Enxofre
e Mercúrio, Macho e Fêmea.
– Minha esposa amada! -Consentiu Alberto K – És o modelo fe-
minino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão.
A mulher submissa e voltada ao lar!... Se tu me abandonares, sentirei
uma dor que dói demais, sentirei o fim de todas as coisas boas. E,
os nossos filhos sofrerão também.
Kali:
– Morrerei aqui ao teu lado, a te amar com muito amor – Meu
amor, tudo já está preparado para a realização do nosso acampa-
52 Efeitos da Vida
mento familiar. E resta-me saber se tens novas ideias?
Kali:
– És dócil demais, meu esposo amado!...Farias o maior, querido
meu, meu príncipe encantado. És um senhor de palavra e nunca
infringis os teus ditos e ideais, sempre és você mesmo, não quebras
nenhum compromisso, atingis o ápice do trato social com tanta
assiduidade e pontualidade...Obrigada, quero mais beijar os beijos
da tua boca e lamber a tua língua que tem mel e leite.
Chegado o dia, partiram todos cheios de alegria com um senti-
mento e espírito da mais alta realização humana- a felicidade cum-
prida, um beijando deste e o outro daquele lado as crianças até ao
local do lazer. Montaram duas tendas grandes, uma dos pais e ou-
tra das crianças; as tendas eram luxuosas com uma cor inspirada
ao arco-íris, esculpida como as pirâmides de Faraó no baixo Nilo,
pareciam-se deveras, com uma câmara de relíquias, artefactos, es-
peciarias e ouro do Egito, os cantos das tendas apontavam para o
norte onde o sistema solar esplendia o solo da floresta com toda
a primazia dos seus asteróides e as constelações do firmamento,
enquanto se amavam, brincavam sem cessar, comiam, bebiam e
mergulhavam na lagoa com bolos, vinhos, champanhe e gasosas
na boca; a brisa do dia felicitava-os no olhar azul das águas da lagoa.
Kennexiz Xavier 53
E Seth a dar graças à família que tem disse:
– Muito obrigado papai, assim posso orgulhar-me da minha fa-
mília sempre próspera e nobre. E, estou aprendendo dos meus pais
que a vaidade “básica” faz parte da sobrevivência das espécies; ten-
tar mostrar ao mundo que podemos melhorar o ambiente em que
vivemos, que podemos ser mais do que um animal que trabalha,
faz-nos autênticos seres políticos, sociais e humanos. Fazer filhos,
alimentar-se e conviver, faz parte da vaidade, faz parte da vontade
de ser melhor, de crescer; mostrar o seu corpo de forma sedutora,
sem vulgaridade, faz parte do ser humano desde o início dos tempos.
– Já dissera que sempre sonhei fazer-te assim tão feliz meu amo-
respondeu Kali – Agora fecha os olhos e verás mais uma outra coisa
54 Efeitos da Vida
outrossim diferente que nunca fiz por ti.
Kennexiz Xavier 55
sentir que sou tua, que sem ti não posso viver, possua-me todinha
porque estou no auge do prazer...
56 Efeitos da Vida
O acampamento decorria numa magia fraternal, todos se leva-
vam um atrás do outro e corriam na floresta. A princípio tentando
correr e se alcançar, mas então diminuindo a velocidade e escolhen-
do procrastinar. Era extraordinário para quem assistia o casal a vagar
por aquele campo de fragrâncias de árvores pulsantes, exuberan-
tes e flores que tremiam, era fascinante para qualquer marido que
contemplava a beleza feminina da sua esposa que fechava os seus
olhos contra a névoa deslumbrante, que refletia e brilhava e fazia
tudo mais brilhante.
Os filhos do casal prometiam que levariam mais um momento
a apreciar a sugestiva floresta. Mas, penosamente, assim tão cedo,
eles voltariam e se encontrariam em casa. E foi mesmo isto que su-
cedeu, quando eles, finalmente foram procurar além da euforia e
da magia da natureza quente, branca, brilhante, esplêndida, linda e
requintada de névoa, foi em tempo para ter um rápido deslumbre
deles sorrindo e acenando e cruzando uma ponte, meros segun-
dos antes de eles sumirem do centro turístico e chegarem a casa.
Kennexiz Xavier 57
ção e educação dos filhos, no entanto, o casal procurava exercer na
vida dos seus filhos a mais bela e nobre arte – de ser pai e professor,
como Augusto Curi diz, “Há um mundo a ser descoberto dentro de
cada criança e de cada jovem. Só não consegue descobri-lo quem
está encarcerado dentro do seu próprio mundo. Educar é realizar
a mais bela e complexa arte da inteligência. Educar é acreditar na
vida, mesmo que derramemos lágrimas. Educar é ter esperança no
futuro, mesmo que os jovens nos decepcionem no presente. Educar
é semear com sabedoria e colher com paciência. Educar é ser um
garimpeiro que procura os tesouros do coração.”
O Dr. Alberto K. beijou a mulher e anunciou que estão a fazer
alguma coisa para a estruturação da sua família. Ela acenou a ca-
beça seguido de um sorriso vislumbre. Com o tempo nós vamos
ensinar tudo aos nossos filhos, eu prometo. – Assentiu Kali. Mas
Kali, você precisa saber o que isso realmente significa em prole das
crianças. Você nunca vai estar com sua família caída no chão, cho-
rando, gritando, xingando, implorando, ouvindo promessas, que
eu sabia que nunca poderia manter. Você nunca vai cruzar aquela
miséria que eu passei na infância. Você precisa saber apenas no que
você está se metendo, principalmente no que está fazendo quanto
a estruturação da sua família – Ele segurou o queixo da esposa e
olha nos seus olhos:
– Se a eternidade começa hoje, então essa é a maneira como
eu vou viver. Por este dia, e apenas este dia. Sabendo que Kali se-
rá meu anjo da guarda e estará sempre ao meu lado. Quero dizer,
sempre. Certo?
58 Efeitos da Vida
Capítulo IV
O Enigma
Kennexiz Xavier 59
dedos de unhas compridas apontados para o peito um do outro,
então, reconhecendo-se, dobraram os punhos sob a manga do
sebastro e começaram a andar apressados na mesma direção.
– Novidades? – Perguntou o mais alto dos quatros.
60 Efeitos da Vida
principal causa para que muitos fenômenos sejam considerados
sobrenaturais.
Kennexiz Xavier 61
Aproximou-se dele, Kali e perguntou: – Meu amor, meu do-
ce, minha candura, porque vem chegando a estas horas e sem
o carro?
62 Efeitos da Vida
O Dr. Alberto K. tinha até este tempo, 40 quarenta anos de
idade, enquanto Kali sua esposa tinha trinta e cinco anos de ida-
de; deixou a mulher viúva com quatro filhos que formavam dois
casais que se chamavam:
– O primogénito Seth Matadi K., de onze anos de idade; o se-
gundo Mandume Yetu K. de nove anos de idade; o terceiro Sa-
lomé Cassilda K. de seis anos de idade e o último Jelciara Cláudia
K. de quatro anos de idade. A sua fiel companheira e esposa era
Heloísa Muzinga Kali que desesperadamente pranteava o mo-
mento funesto, enigmático e cheio de infelicidade.
Kennexiz Xavier 63
Capítulo V
O Funeral
Kennexiz Xavier 65
exemplar, com sentimento de unidade, um homem com um
intelecto sem igual, com experiência direta de união, com co-
nhecimento transcendente, compaixão e amor por tudo o que
vivia, com compaixão desligada ou amor incondicional por tudo,
o que o levava ao mais alto nível de consciência e júbilo. – Acres-
centou o padre Asael. – Todavia, temos conhecimento de que é
pelo seu carácter carismático que foi invejado e acabou por ser
enfeitiçado, por uma longa e terrível doença, porém, morreu sem
dar as ultimas considerações à sua prestimosa família, como ele
dissera: A minha doença é terrível e distinta de qualquer doença
humana, por isso fico só, antes que se propague na sociedade.
A separação foi hipnótica e miraculosa, havia por todo lado
nas almas presentes no momento do funeral, choro convulsivo.
Inesperadamente todos se sentiam zangados, deprimidos, tristes
e muito infelizes à tamanha provocação que este tempo perpe-
trou. Os dois pequenos de idade um pouco avançada e a mãe
na altura do funeral abraçaram-se à urna e não queriam apartar-
-se dela; entretanto, Kali sentia sensações a tilintar, tal qual um
camião carregado, sentia incessantes rodopios de formigueiros
e arrepios no couro cabeludo e/ou na medula espinal. Sentia
sensação de vibração energética no topo da cabeça, como se a
energia jorrasse em chuveiro. Sentia pressão na coroa, como se
alguém estivesse a pressionar um dedo contra o centro da cabe-
ça, sentia uma pressão mais generalizada, como se a cabeça esti-
vesse dentro dum aparelho muito suave. Estava com um ataque
de pânico, esquizofrénica e com transtorno cérebro-encefálico.
Estava muito alucinada e comovida com milhares de lágrimas a
rolarem-se-lhe no frontispício e como torrentes do caudal cheio
do rio Cunene desaguavam na cabeça dos filhos que ela abraçava
com apego e luto; apertou a mão dos dois filhos que assistiam as
exéquias fúnebres do pai, beijou-os expressivamente, visto que,
eram eles que afinal lhe deviam a sua prosperidade. E afastou-se
sem olhar para atrás e aconselhou-se a si mesma:
Concentre-se no seu coração e oiça o seu próprio discernimen-
66 Efeitos da Vida
to. Se sentir desconforto, peça ao seu Eu Superior para aumentar
ou diminuir a temperatura. A sua visão está a mudar de várias
maneiras; está a conhecer novas formas de ver. Seja paciente.
Aconteça o que acontecer, não se assuste. Visões nebulosas po-
dem ser aliviadas desviando o olhar.
Mulher, mais uma vez, não tem nada a temer! Aconselho-te
mais uma vez mulher: Renda-se. Deixe ir. Oiça. Os seus ouvidos
estão a ajustar-se a novas frequências.
– Agora que o meu pai se foi embora, implora por nós a Deus,
para que não nos dê por presas aos seus dentes como pássaro no
laço dos passarinheiros e não nos pondes fora do seu coração, a
nós filhos e à nossa mãe, pois não? – Pediu Seth.
Kennexiz Xavier 67
Kali choramingava com absoluta desesperança, depressão,
tristeza, exaustão, baixa energia e cepticismo; vivia nestes tem-
pos atormentados e o seu cérebro monologava por perguntas
tais como: O que somos nós? O que existe? O que acontece após
a morte? Foi exactamente assim que ocorreu o funeral, até ela
cair de síncope, porém, todos os presentes saíram do cemité-
rio a caminho da casa aonde decorria o velório. Posto em casa,
embalsamavam o corpo de Kali que continuava desmaiada, as
palmas das suas mãos quentes e pegajosas pressionadas com
força contra a sua própria bochecha enquanto a ponta do anel
de crânio dela deixava uma mancha na própria pele. E embora
os seus olhos estivessem cobertos e fechados, ela sabia que o
cabelo preto tingido dela estava repartido no meio, o turban-
te preto de vinil estava sendo usado sobre uma gola olímpica e
meio hasteado como uma bandeira homenageante (mantendo-
-se em conformidade com a política de vestimenta funerária), a
sua saia de cetin preta novinha já tem uma cinta perto da bai-
nha, e os olhos dela parecem dourados mas isso é só porque ela
está usando lentes de contacto; faziam-se esforços para ver se
ela recuperava, mas, mesmo assim, continuava agoniada e en-
quanto sobre efeito G ouvia a multidão comovida a descrever
a particularidade e brio profissional do malogrado. E um ancião
que ali esteve pediu que encobrissem Kali e dentro do cobertor
pusessem fogo com gindungo para ela recuperar e foi então que
não tardou e começou a estar boa. Olhou para todos e acabou
logo por adormecer porque estava a anoitecer e a tarde esteve
dentro da caligem, enquanto Seth mitigava os irmãos que todos
outrossim acabaram de adormecer.
Durante o profundo sono que Kali esteve submetida e sonhava
que andava por um deserto enegrecido e no fim das olheiras en-
xergava uma incrível cruz de ferro fundido, pintada a vermelho
aonde ouvia as vozes dos filhos a chamarem-na:
68 Efeitos da Vida
Preocupada e amedrontada girava-se com presteza a olhar
nos quatros cantos do deserto a indagar subjetivamente o que
sucederia às crianças e de seguida viu um monte e dunas que
se rolava com velocidade à sua volta a bramir:
Kennexiz Xavier 69
certos bloqueios. Ela não se acomoda em procurar o significado
da mensagem. Então Kali desertou do espírito amorável, deixou
de pensar nos filhos e deitou-se no monte e nas dunas que a cha-
mavam. Entretanto, Kali despertou do sono com o mesmo grito
de chamada...Olhou no seu relógio mickey, eram 23h 56 minu-
tos e 4 segundos; levantou-se da cama e começou a orar, depois
da oração foi ao quarto das crianças e dormiu ao lado delas. Ao
amanhecer, olhou para as crianças sob o efeito G, isto é; fenôme-
no Lazaro ou Experiência Quase-Morte (EQM), beijou-os a cho-
ramingar e a citar o nome de cada uma com a voz rouca, áspera,
como se ela fumasse dois maços de cigarro por noite, embora
ela só tenha tentado fumar um maço uma vez. Assim que Kali
saudou as pessoas que anoitaram no óbito, dirigiu-se à câmara
do padre Asael e narrou-lhe todo o sonho conforme o sucedido.
O padre Asael atentamente sem desviar os olhos e a sua atenção
dela, investigou o caso, interpretou o sonho com muito cuidado
e sabedoria e, no entanto; discerniu sem fazer nenhuma revela-
ção que Kali irá casar, terá uma grande briga e divergência com
os filhos, separar-se-á deles e causará muito sofrimento a Seth e
este terá uma vida mística até se tornar príncipe e o padre irá ser
assassinado por facciosismo político num futuro breve de tem-
po. Consequentemente deu um fraterno abraço sofrido a Kali
deixando cair um fio de lágrimas dos seus olhos e fê-lo rolar na
face. E como revelação disse apenas:
70 Efeitos da Vida
– Vocês estão bem?
Kennexiz Xavier 71
E o padre Asael continuou dizendo:
– Meus amores, vocês bem conhecem o funcionamento de
uma máquina, o enxame das abelhas, a união que elas têm no
fabrico do favo de mel, conhecem os dentes e a língua, cada um
dos quais tem o seu nome e a sua função, mas unidos no moi-
nho dos alimentos e na fala. Sejam assim também vocês aliados
pois sereis uma força invencível, uma barreira intransponível,
fortaleza digital e um rochedo divino.
– Muito obrigado avô padre. – Agradeceu o menino Yetu que
escutava atentamente o conselho. – Agora poderei guiar-me e
ser dono do meu próprio nariz. Obrigado, mas, muito obrigado
mesmo por ter aceitado ficar conosco.
72 Efeitos da Vida
– Acabe de falar!- Interrompeu o padre Asael. – Tens medo
de quê?
– ... De tudo, tudo que o avô padre falou mete-me muito medo,
tenho uma grande aversão a desamparar-me dos meus irmãos;
porque sozinha num lar o meu marido vai triturar-me facilmente.
Salomé a sorrir a bom rir, virou-se para a sua irmã dizendo: -Ya-
ra, ouve também tu, minha irmãzinha e, ouça mesmo maninha,
uma vez que somos poucos são horas de armar defesas para que
não haja no universo força com mais força capaz de nos derrubar.
O padre Asael continuava a falar em parábolas e revelações,
Kennexiz Xavier 73
fazia perícopes e narrações para o diário dos meninos; que ra-
biscavam outrossim todas as informações no Ipod do seu he-
misfério esquerdo visto que as suas habilidades físicas, o seu sa-
ber intuitivo, os seus sentimentos e compaixão, a sua forma de
sentir o corpo, a sua visão, a sua expressão, todos emanam do
lado direito do cérebro. Para que esta parte do cérebro se de-
senvolva melhor, o lado esquerdo do cérebro deve «abrandar».
Normalmente, a capacidade do hemisfério esquerdo de ordenar,
organizar, estruturar, alinhar, analisar, rever, precisar, concentrar,
resolver problemas, e aprender matemática, domina o nosso me-
nos valorizado cérebro direito. Daqui resulta: o lapso de memória,
colocação de palavras na sequência errada, falta de habilidade
ou falta de vontade de ler durante muito tempo, falta de con-
centração, esquecer-se do que ia dizer, impaciência com formas
lineares de comunicação (áudio ou escrita), dispersão, perca de
interesse em investigar ou em informação complexa; sentimen-
to de ser bombardeado com palavras, conversas e informação.
Relutância em escrever. Por vezes sente-se «obtuso» e não tem
interesse em analisar, viver discussões intelectuais ou investigar.
Por outro lado, pode sentir-se inclinado ao que tem significa-
do: vídeos, revistas com fotografias, trabalhos artísticos, filmes,
música, escultura, pintura, estar com pessoas, dançar, jardinar,
andar a pé, e outras formas de esforço muscular. Pode procurar
informação espiritual, ou até ficção científica.
Portanto, os meninos enquanto ouviam o padre Asael a dis-
sertar toda a masmorra dos efeitos da vida permitiam que o seu
coração e o lado direito cerebral lhes orientem os fatores cogni-
tivos, permitindo com isto que o cérebro esquerdo seja ativado
apropriadamente para ajudar o cérebro direito. Eles estão bem
equilibrados cognitivamente, usando ambos os hemisférios com
maestria a perscrutar gnosticamente a alocução do padre Asael
que falava sem parar:
74 Efeitos da Vida
duo. Portanto para estarem de bem com a vida, só depende de
cada um de vocês, são a fonte de todas as emoções e a qualquer
momento podem criá-las e modificá-las. Vocês podem sentir-se
bem o tempo todo só por compreenderem que estão vivos, que
entre milhões de espermatozoides vocês foram os que chegaram
ao óvulo, sendo, assim já nascestes vencedores. Não esperem
nada de ninguém. Façam a vossa parte e dai o vosso exemplo.
Lembro apenas que no Cosmo inteiro reina a paz, que, lá no fun-
do sua alma experimenta esta verdade. Só o motivo de estarem
vivos é mais do que suficiente para estarem de bem com a vida,
pois o compromisso com ela deve ser renovado regularmente.
É o primeiro passo para viverem com alegria e sabedoria. De-
finam suas vidas e trabalhem por elas. Trabalho é uma forma
de amor. Se vocês não trabalham, a abundância não fluirá nas
vossas vidas. As metas não são atingidas sem esforços. Mas será
que vosso objetivo está bem traçado? Será que foi bem esco-
lhido? Questionem-se, examinem o vosso nível de consciência.
Definam ou redefinam claramente as vossas metas e depois
trabalhem em função delas. Lembro-vos: quanto mais nobre
for a tua meta menos correrá o risco de se dececionar, porque
estarão livres das ilusões de esperarem recompensas. Uma das
maiores alegrias que o ser humano conhece é a alegria do dever
cumprido. Tenham confiança em vocês e no vosso futuro. Um
arqueiro quando aprende a manejar o arco descobre que as su-
as flechas atingem o alvo e isto inclui direcionamento, retidão
e impetuosidade. Usem agora a armadura da retidão de cará-
ter. Usem a força invisível da sua vontade. Usem agora a vossa
maior arma – a vossa ligação com o sobrenatural por meio de
uma tomada de consciência perante os efeitos da vida. “Fazei
vós mesmos uma luz. Confiai em vós mesmos: Não dependais de
mais ninguém. Fazei de meus ensinamentos a vossa luz: Confiai
neles; não dependais de nenhum outro ensinamento. “Considerai
o vosso corpo, pensai em sua impureza; sabendo que a dor e o
prazer são causa de sofrimento.
Kennexiz Xavier 75
A esperança consciente unida aos vossos esforços no melhor
transforma campos áridos em terras férteis, livrar-se-ão da desinser-
ção da razão, pois só invejarão os outros se não tiverem confiança
em vocês mesmos. Quando há autoconfiança, a atitude diante os
efeitos da vida é positiva, mas toda gula, toda avareza, toda sober-
ba, toda luxúria, preguiça, toda ira, toda maldade, toda inveja é
provisória. Permanente mesmo é a nossa conexão com a razão, a
justiça, a paz, o amor e a decência.
Por isso lembrem-se meus filhos amados: é melhor não se habituar
a dizer o que não é realidade. Viver em sintonia com os elemen-
tos divinos e a sua doutrina é viver com integridade. Deve haver
harmonia entre ação, pensamento e sentimentos, pois íntegros
viverão em paz. Vedes, o luxo conspurcou a mente dos nobres e
os ricos agora só se queixam do que não têm e usa com arrogân-
cia o que têm. O homem que se guia pela razão não se alterará
nos momentos difíceis nem fáceis dos consequentes efeitos da vi-
da. Será sereno, perscrutador. Conheçam-vos contra a autoilusão.
Busquem o vosso autoconhecimento, distorçam-vos da fantasia,
do fanatismo, mas sem se afiliarem ao niilismo. Desenverguem-se,
é de menino que se traça o destino.
Respirem agora, aprendam a respirar, é preciso inalar o oxigé-
nio; respirar é uma das chaves para se sentir melhor. Reparem, um
indivíduo que trilha os caminhos da conscientização tem a sua
ação sempre percetível, porque ele é capaz de inspirar nos outros
a ação correta.
Vedes, nunca será cedo ou tarde para serem bons, puros e for-
tes pois esta é a vossa essência... Vosso pai o foi com brio e profis-
sionalismo.
... Outrossim vocês conhecem meus filhos, o roncar do camião
carregado com grandes toneladas, de peso pesado, a choramingar
na estrada esburacada com descidas e subidas; conhecem o moto-
rista cansado, que não pára de acelerar mesmo com os obstáculos
da estrada, mas, sorri a bom rir porque caminha para chegar ao des-
tino, descarregar a mercadoria e receber o usufruto do seu salário.
76 Efeitos da Vida
Ainda conhecem, o ânimo da mulher gestante, carregada de
responsabilidade maternal, que suporta os efeitos da gravidez
durante nove meses, que às vezes corre o risco de morrer du-
rante o aborto ou o parto, portanto, torna-se felizarda ao dar à
luz o seu filho aguardado com tanta espectativa. Apesar deste
sacrifício todo, ela não se arrepende, volta a engravidar porque os
filhos são a razão da sua existência e a mais alta realização huma-
na de participar na criação do universo. Entretanto, sedes jovens
que ignoram as falhas e os erros da vida e os efeitos infortúnios
que a vida nos proporciona, sedes jovens que se alimentam de
esperança, pois, todas as situações na vida são temporárias e o
próprio tempo é um volante.
Kennexiz Xavier 77
na vida espiritual, livre dos males capitais, livre do ter que não é de
nenhum modo sinónimo do ser, assim como a música que nasce
quando a corda geme no violão, na certeza feliz que um dia não
mais se morrerá; e em ondas de vibrações e o ser estará de olhos
abertos, mesmo que se negue a ver.
78 Efeitos da Vida
Seth que esteve sentado do lado direito do padre, ficou muito
estupefacto com a irónica despedida, levantou-se e dirigiu-se ao
padre e, sussurrou-lhe aos ouvidos: Não!...não...não!... Posso morrer
também e os meus irmãos ficarão sozinhos; por favor, não se vá.
Kennexiz Xavier 79
tigo. Caros filhos, o meu fim está se aproximando, a nossa des-
pedida é iminente, mas não vos lamenteis. A vida está sempre
mudando; ninguém pode escapar da dissolução do corpo. Esta
transitoriedade, vou mostrar-vos agora, com a minha própria
morte, com o meu corpo caindo em pedaços como um carro
apodrecido. Não vos lamenteis inutilmente, mas maravilhai-vos
com o princípio da transitoriedade e dele aprendei a vacuidade
da vida humana. Não alimenteis vãos desejos de que as coisas
mutáveis se tornem imutáveis.
O demónio das paixões mundanas está sempre a procurar
ludibriar a vossa mente. Se uma víbora morar em vosso quarto,
não podereis ter um sono tranquilo, se não a expulsardes.
Deveis romper os liames das paixões mundanas e expulsá-las,
assim como expulsais a víbora. Deveis, indubitavelmente, pro-
teger o vosso coração. E não choreis, ponde esta parábola na
memória e concentrem as suas mentes no momento presente
e nos tempos advenientes:
– Num pomar tinha uma árvore comprida, ramalhete e muito
velha, que já não produzia frutos, mas impedia o crescimento
dos arbustos viçosos que germinavam; no entanto, reparou o
camponês firmemente e pensou, vou cortar a árvore velha que
faz sombras às mais pequenas e que as impede de crescerem.
Cortou-a e acabou de secar e as pequenas cresceram sorriden-
tes e viçosas agradecendo ao camponês por cortar a árvore que
lhes fazia sombra e impedia o seu crescimento.
80 Efeitos da Vida
sol que nasce beijando a lua, apenas, um governa o seu tempo
e o outro no seu tempo – Explicou o padre Asael – Lembre-se
outrossim que, há três ocasiões de perigo em que um filho não
pode salvar os pais e, nem os pais podem salvar o filho: num
grande incêndio, numa inundação e num assalto. Mas, mesmo
nestas perigosas e angustiantes ocasiões, há oportunidades para
se ajudarem uns aos outros.
Entretanto, há três ocasiões em que é impossível a um pai ou
a uma mãe salvar o filho e o filho salvar os pais. Estas três oca-
siões são: o tempo da doença, o tempo de ficar velho e o mo-
mento da morte.
Como pode um filho ocupar o lugar da mãe ou do pai que
está envelhecendo? Como pode uma mãe ou pai adoecer em
lugar de seu filho? Como pode um ajudar ao outro, quando a
morte se aproxima? Não importa o quanto possam amar-se um
ao outro, nem quão íntimos possam ser, nenhum pode ajudar o
outro em tais ocasiões.
– Passem bem!
Kennexiz Xavier 81
82 Efeitos da Vida
Capítulo VI
Lenços de Consolo
Kennexiz Xavier 83
miséria, por isso eles sempre triunfam – Aconselhou a mulher
idosa. Kali, nós vencemos apenas as agruras da morte porque
nos conformamos com os seus efeitos, e portanto, nesse instante
sabemos que o autoconhecimento é ação pura, em plena evi-
dência que na terra nada se tem ou se é. A morte não é o que
se vê, ela é o que se crê. É a passagem, passo a passo, a quaresma
a caminho de um encontro íntimo com a razão pura em Jeru-
salém. Terra prometida das promessas cumpridas desse espaço
sideral. – Aferiu Alcione prima de Kali.
– Então, cada tijolo daquilo que quisermos construir terá de
ser colocado por nossas próprias mãos, mais do que nós mesmas
ninguém nos pode enxugar as lágrimas; a morte tanto quanto a
infelicidade é um aspeto da realidade, aqueles que são insensíveis
a uma ainda não encontraram lenços de consolo para uma nem
para a outra – continuou Alcione.
Porém, Kali ouvia silenciosamente sem retribuir nenhuma pa-
lavra, lacrimejava apenas incessantemente.
As crianças aproximaram-se do lugar onde a mãe estava sen-
tada deprimida, beijaram-na e ultrapassaram direitinho aos seus
quartos dormitório. Porém, Seth não se conteve a dormir, quan-
do viu a mãe em apuros e amuada mesmo a ser descarregada
dos mais sábios conselhos e lenços de consolo, também se pre-
ocupava ainda com os irmãos que não tinham tomado o jantar.
84 Efeitos da Vida
passagem para a vida espiritual, é a melhor maneira de ser feliz, é
o lenço de consolo que jamais se viu desde o firmamento até aos
nossos dias. Porém, chorando incessantemente ou desanimada,
o papá já não ressuscitará; as lágrimas apesar de ressarcirem o
espectro do papai, e nos mitigarem o stress, não salva ninguém
nem dá vida aos mortos. Convém pensar em nós e... tornarmos
águas passadas a morte do papai.
Kennexiz Xavier 85
ensão do futuro. Nas horas difíceis estarei com você e com os
meus irmãos. Serei uma companhia sincera e mostrar-te-ei os
teus erros e felicitá-la-ei pelos acertos. Nossos laços de amizade
se fortalecem no tempo.
– Seth meu filho, pude notar que és um filho excelente e um
irmão brilhante – Disse Kali. Mas, lembra meu filho, que mor-
rer é muito fácil; basta viver que é muito difícil. Ser feliz é lindo;
basta saber sofrer! Portanto, meu marido foi um amor, que eu
nunca esquecerei, porque o amor igual ao dele nunca mais en-
contrarei- continuou falando Kali.
86 Efeitos da Vida
Alcione:
Conheci uma vez, uma árvore de tamanho meio exagerado, a
qual abrigava muitos pássaros.
Mas um certo dia apareceram umas pragas para destruir a
árvore. Os pássaros reuniram-se e disseram:
– Não podemos deixar que as pragas destruam a nossa árvo-
re. Onde vamos encontrar outro abrigo, o fruto para comermos?
Então um grande pássaro que havia entre eles disse:
– Vocês tomem conta da árvore e eu vou procurar ajuda. Pro-
curou, procurou até que encontrou um borrifador que desinfestou
aquele espaço e acabou de vez com as pragas, dando de volta a
vida da árvore...
Kennexiz Xavier 87
– Tia Alcione, são belas, cheias de ética e moral as tuas ane-
dotas – Elogiaram em uníssono os meninos.
88 Efeitos da Vida
Capítulo VII
Patrimónios
Kennexiz Xavier 89
Hummer 2, dois Audi, um lexus v8, dois Prados v8 e a Clínica.
No entanto, este património mal chega para mim quanto mais
para quatro filhos?
90 Efeitos da Vida
encontram a sua alma. É pela razão do meu marido ser quem
era e por poder olhar-se ao espelho e ver que a sua alma ainda
estava lá. Não a tinha vendido ao sistema, ela estava com ele,
ele podia senti-la.
– Parece-me óbvio Kali, que o governo não está aqui para fazer
justiça e por isso de nada nos vales pedir clemência. Não impor-
ta o que o governo faça ou diga, isto não é um País, é uma flo-
resta desprovida de tribunais de justiça, neste Estado não se faz
justiça, e mesmo agora se um membro do executivo vier aqui,
não nos conseguirá olhar nos olhos, por isso façam eles o que
entenderem e deem-nos a pena que quiserem dar; que usurpam
a casa... A nossa vida não está nas suas mãos, está nas mãos de
Deus – Garantiu o padre.
Kennexiz Xavier 91
um grupo de sábios e maestros. Todavia, conseguem guiar-se –
Determinou o padre Asael.
92 Efeitos da Vida
Capítulo VIII
A Revolução
Kennexiz Xavier 93
guns que o fazem já com algum radicalismo, onde incluímos os
gangsters, os anarquistas e os sofridos e martirizados revus, os
grupos de pressão, os partidos da oposição não somos os peri-
gosos. Perigosos são os que nutrem ódios e andam calados ou
até bajulam; são os vendidos que não se enxergam no espelho
porque venderam a sua alma às elites; a viver bem, de uma forma
ou outra vocês vão desistir. Agora somos uma ameaça só porque
vos lembramos de coisas que querem que esqueçam. Estaremos
aqui até que nos matem – Disse Mariato no fórum dos gangsters.
Pela sua nobreza, maestria política e experiência social; o padre
Asael foi convidado pelo seu homólogo Osíris xis, Juiz supremo
do tribunal constitucional, para assistir e examinar ao julgamen-
to do chefe do executivo Kinich Ahau. Onde ele se manifestou
como um grande patriota, autêntico cidadão e revolucionário;
ao conduzir a liberdade do povo.
Eram 8h00 da manhã quando o telefone do padre Asael tocava
sonolento sobre a banca da cabeceira da sua cama.
94 Efeitos da Vida
adquirida; crimes hediondos e violentos tal como definidos na
presente Constituição.
Kennexiz Xavier 95
ram a prisão “Paraíso Leviatã”. Foram maltratados barbaramente
os presos e quase que estavam perto de apanhar o presidente
Kinich Ahau que eles procuravam para o martirizarem. Mas, os
guardas da prisão intervieram com emergência contra o assalto
e conseguiram salvar o presidente. Eles chegaram na altura cer-
ta. Mas, mais um pouco de demora, teriam encontrado o chefe
do executivo morto por “gangsters, vingadores da meia-noite e
famosos revus” porque já estava a ser alvejado na cara por in-
termédio do buraco da fresta da porta.
Na hora exatamente marcada para o julgamento, todos os in-
tervenientes do tribunal supremo e constitucional, aguardavam
pela chegada do Padre Asael; que estava a demorar a chegar. Nes-
te exato momento, o réu monologava intimamente: – O que eu
fiz não merece clemência do povo. Agora entendo que, um chefe
de Estado que provocasse o ódio e o desprezo dos cidadãos e
cujo governo não pudesse se manter senão pelas vexações, pela
pilhagem, pelo confisco e pela miséria Estatal, deveria descer do
trono e depor o poder supremo.
96 Efeitos da Vida
pudessem viver comodamente ao abrigo das violências e dos ul-
trajes sociais; o dever mais sagrado do Presidente da República
é velar pela felicidade do povo antes de velar pela sua própria
felicidade; como um pastor fiel, deve dedicar-se a seu rebanho,
e conduzi-lo às pastagens mais férteis.
E por conseguinte estendeu-lhe a mão num gesto de saudação,
fê-lo sentar-se ao seu lado e apresentou-lhe o processo-crime
contra o mandatário da nação.
O padre Asael leu atenciosamente os autos do processo, in-
quiriu que a querela e a instrução processual seguiram os trâmi-
tes legais dos termos da presente constituição como se rabisca:
A iniciativa dos processos fora devidamente fundamentada e
competira à Assembleia Nacional; a querela inicial foi apresen-
tada por um terço dos Deputados em efetividade de funções;
a deliberação foi aprovada pela maioria de 2/3 dos Deputados
em efetividade de funções, sendo que após isso, foi remetida a
respetiva comunicação ou petição de procedimento ao Tribunal
Supremo e ao Tribunal Constitucional, conforme o caso.
Kennexiz Xavier 97
– O sofrimento da população é de bandidos a bandidos, não
de Presidente da República ao povo. Agora estou sabendo quem
desemprega os cidadãos, quem faz guerra, demole as casas do
povo, despeja a população das suas humildes residências, orienta
os seus bajuladores a maltratar o cidadão; não é o chefe do exe-
cutivo, mas sim, são as elites do controle social, feitos gangsters
que formam grupos de rixas nas prisões. Encerrem-me já este
truque mesquinho, de processos crimes contra o Presidente da
República Kinich Ahau, porém, todos são bandidos legalizados
pela lei que vocês mesmo criaram para controlar os mais fra-
cos. Aqui não há tribunal que faça justiça, tal juiz é bandido;
os militares, a polícia, os bombeiros são uma elite de bandidos
legalizados. Gostaria que as elites se voltassem para si próprios,
considerassem o que eles são diante do que existe à sua volta;
que se encarassem como um ser extraviado neste pequeno setor
do Estado, e que da pequena cela onde se acham presos, do ter-
ritório, aprendam a avaliar em seu valor exato a população e as
massas, os reinos, os cidadãos, as cidades e eles próprios. Quem
é o chefe de Estado diante do Povo? -O padre Asael, vendo que
o caso não acabava, despediu com um aceno o réu parasita, e
mudou prudentemente o curso do depoimento. Logo depois
levantou-se da mesa para dar audiência aos juízes do tribunal
supremo, e despediu todos os confrades.
98 Efeitos da Vida
malditos processos crimes contra a decência, o pudor, o amor,
a fraternidade, e a liberdade dos direitos humanos. Está prova-
do; nós todos somos bandidos, somos uma elite de bandidos, o
tribunal das elites não faz justiça, é uma casa que não passa de
um casino de prostituição. Uau!... Que Mundo de bruxas que não
pode vencer o mal com o bem!... – Culminou o Juiz.
Assim, rasgou-se o véu que separava as elites e as massas. Com
ou sem as intimidações de ouvido, enquanto a população vivia
sob a tirania, não deixava de se pronunciar sobre a necessidade
das elites devolverem o poder do Estado ao Povo de todas as ra-
ças, culturas, costumes, etnias e regiões. Com o processo-crime
instaurado contra o chefe de Estado Kinich Ahau e a intervenção
do padre Asael, o regime acabou mal, naufragou por água abaixo,
por causa dessa ideia sofista de que as elites são superiores às
massas devido a fatores, culturais, geográficos, à sua coloração
de pele ou a seus hábitos e costumes.
Vejam só! – Fizeram-nos muito mal...
Kennexiz Xavier 99
Capítulo IX
Colóquios
– Avô padre faz muito tempo que não te vejo. Por isso, estou
perplexa, desvairada, inepta, quer dizer; sem ti, tudo ame-me o
medo – Falou Salomé.
Seth: – Acho que falas com acerto, avô padre. Afirmo, que ja-
mais se deve proceder contra a justiça.
Yetu: – Avô padre, isto que dizeis não é verdade. É pura menti-
ra...Oxalá soubesses que não sou criança a quem mentires. Diga
sim ou não, não me venha com parvalhões de palavreados.
Padre Asael: – Não tem de quê, por isso existo. Meu filho sossega.
– Juiz... mas, meu juiz, não seja renitente. Saia fora daqui, desa-
pareça deste Estado malevolente praguejado de gentes parvas.
Que te fique bem claro que se te raptarem de novo, não te irão
algemar mais nos braços, mas sim no pescoço; vão cortar-te a
garganta com baionetas. Não abuse da sorte, fuja agora mesmo.
Não quero viver mais em desaforos nem pegar o teu sangue. Saia
daqui por favor, admita abandonar-nos. – Disse Seth.
UMA SÓ NAÇÃO
– O que quer dizer com isto velhaco?- Vocês vão sorrir a bom
rir comigo e a multidão vai chorar... Também já deve estar louco
– Já vos elucidei que ele não se vingará por mim. Mas por ele
mesmo e pela sociedade adveniente. Todavia, vingar-se-á para
exigir das elites uma sociedade mais humana e fraterna. Promo-
ver a verdade e exterminar a mentira, a corrupção, o estelionato,
os crimes hediondos nos Estados. Tenho muita pena e dó dos
nossos políticos e das elites... extremamente pré-digeridos que
sempre sofreram de Esquizofrenia, Ataque de pânico, identidade
dissociativa e Transtorno cérebro-encefálico. Que pensam que
quando morrem o Estado morre com eles; e portanto, esque-
cem que quando o chefe de Estado morre o Estado continua!
– Retorquiu o padre Asael.
Ah!
Até mesmo os tais saldados sabem, de nada
São apenas usurpadores iletrados
Com vida outrossim amarfanhada
– É só assim, de muito longe! Será que este longe não tem no-
me? – Questionou Yetu.
– Esta vida afinal é assim!? Tem muitas cenas para contar... neste
momento fatal, de pranto, dor e luto que eu me esquecera com-
pletamente de ti, mas te amava ainda, perdoa-me pai. Os enganos
e desilusões, os delírios e emoções, a realidade que não consegui
enxergar e conceber, a idolatria, a superstição, a crença em seres
superiores, que me fizeram perderem o tempo de viver livre e feliz,
o ódio e o desamor que tive com a vida, o desespero e tristeza que
tive por pensar erroneamente que morreras naquele genocídio
de 1992; desculpa-me meu pai, foram os efeitos da vida que me
cegaram, que me deixaram traumático, transtornado, depressi-
vo, estressado, melancólico e moribundo. Entretanto, nunca me
esquecera que o senhor me amava muito, eu também sempre te
amei e para sempre te amarei. Sim pai, se te amo tanto assim foi
você mesmo que me ensinou. Descansem em paz meus amores
no seio eterno da ciência – Rezava Jefferson a olhar para o céu
com uma maré negra cheia de lágrimas nos olhos.
Era uma vez, numa terra longínqua que ficava no espaço orien-
tal duma região chamada Éden, algures na Babilónia, atual Iraque,
sitiada entre a nascente de quatro famosíssimos rios da Ásia,
entre eles o rio Eufrates e o rio Tigre e os pseudo rios, Pisom e
Giom; onde se disseminavam mentes iludidas, de criacionistas,
artistas e poetas transtornados, cérebro-encefálicos que produ-
ziam perícopes e narrativas inconsistentes. Estes antropoteístas
fabricavam um país utópico e imaginavam um cenário que, se
tivesse acontecido, denunciaria um Deus irresponsável, maldoso
e de um masoquismo ecológico inadmissível do ponto de vista
moral e jurídico. Eles, idealizavam alucinantemente um jardim
paradisíaco. Onde não havia perturbações nem os efeitos da vi-
da agitada de uma cidade frenética e grande. Ela é paradisíaca,
enorme, sideral e a paz impera eternamente. Melhor ainda, nesse
lugar a mente humana está vedada de preocupações, estresse,
depressão e perturbações; o corpo vive para sempre sem dor,
pranto, lágrimas, doenças, alergia e morte. Sua psique está livre
de sentidos absurdos, funciona perfeitamente, absorvendo tudo
ao seu redor. Entretanto, nesse lugar o homem não pensa apenas
nem é simplesmente racional, mas, é a própria sabedoria; pensa
melhor e controla as emoções e delírios.
Neste lugar, o ser humano olvida todas as atrocidades terrá-
queas, os seus olhos espairecem e deleitam-se com o esplendor
– Não, não posso crer que nesta hora da morte os nossos pais
voltaram ao seu solo; nem tampouco me conter que neste dia,
pereceram os seus pensamentos; que já não falam, não sentem
nem pensam nada – Queixava-se Seth.
– Tu queres dizer que Adão não sabia ler nem escrever? Ques-
tionou Seth.
– Não seja malvado Zé-Povinho! Você bem sabe que não passou
pela minha cabeça a tendência de magoá-lo – Disse Kali.
Ao dizer isso, Zé-Povinho disse: – Kali, você pode arrepender-se
se ousar e atrever-se a chamar-me doido. E que fique bem paten-
te o adágio; os homens não se medem aos palmos, uma pessoa
de aparência absurda pode com certeza ser muito importante.
Entretanto, o homem que desprezas pode vir a ser teu marido,
padrasto ou pai. Cuidado!
Tão logo Zé-Povinho terminou de dizer as suas máximas, Kali
levantou-se calmamente da mesa e saiu da sala amuada e extre-
mamente passada de si mesma. Todavia, Zé-Povinho, mesmo
assim, não queria deixar a senhora ir-se embora azoada consigo;
mostrou-se muito mais deleitado, cheio de apreço e amabilida-
O amor não é nada mais do que uma corrida veemente dos pra-
zeres, dos hormônios, das testosteronas curvados à concupiscência.
Kennexiz Xavier
– Oi, Zé-Povinho!
– Sim! Ela a tem; mas não em teu proveito! Em tua boca sa-
tânica, ela já se mostra fraca... Os teus ouvidos e a tua consci-
ência estão fechados, assim como os teus olhos. – Retorquiu
Kali. – Tu vives nas trevas... Não poderias nunca ferir-me nem
tão pouco encontrar-se em minhas fintas, ou a quem quer que
viva em plena luz.
– Seth, está calado mas é! Que tens tu contra mim, meu filho,
que estás tão colérico; e os teus fúteis beiços, não... não poupam
proferir aberrações e palavras ultrajantes? Que queres tu insinu-
ar? – Retorquiu Kali. – Não é justo que me fales assim. Cuidado
com essa boca esquadra!
– Cai fora! Ó Inferno!...Eu não sei o que fazer com eles. E o mais
agravante, é que eles prometeram infernizar e acabar a mal com
o nosso enlace matrimonial – Resmungou Kali.
– Eia! Não se fala mais nisso. Vou acusá-los do crime mais vio-
lento. Agora mesmo vou prender Seth e aquele tal de Jefferson
– Disse Zé-Povinho.
Dito e feito. Eram 8 horas e meia da noite; quando Seth e Jeffer-
son estavam em contas com o tribunal. Os noivos alegres e em
terapia de amor quebravam taças de whisky auto desejando-se:
– Felicidade para nós!... Que dure para sempre este nosso en-
lace matrimonial.
– Não é por isso que estou ligando. Vamos ter que adiar o
nosso casamento.
– Mil desculpas. Vou ter que viajar, pois tenho que estar no
conselho de ministros hoje. Mas volto amanhã. Podemos casar
amanhã de manhã bem cedo e ainda daremos mais tempo para
a orquestra e o conservador se arrumarem.
– Onde será que ele está? Por que não ligou ainda?
Aos poucos, a água quente foi ficando morna, depois fria, e
ela estava a preparar-se para sair do banho quando o telefone
deu sinal de vida.
Levantou-se com pressa, espalhando água pelo chão enquanto
agarrava o aparelho que havia deixado sobre o lavabo.
– Que tens tu, Heloísa Kali, que estás tão desalentada? – Ques-
tionou Zé-Povinho.
– Mas, por que meios queres ser perdoada e realizar essa purifi-
cação? De que mancha se trata? Se a senhora é a própria arquiteta
de suas desgraças – Replicou Seth – Mesmo que eu tenha medo
de te condenar; o que me fizeste, não te vou perdoar nunca mãe.