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Índice
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0,4% para 1,5% entre 1960 e 2001. Os indivíduos com 100 anos eram cerca de um milhar com
maior longevidade nas mulheres. “Assiste-se assim, ao fenómeno do envelhecimento da própria
população idosa” (INE, 2002: 11). A esperança média de vida aumentou, no mesmo período,
cerca de 11 anos para os homens e cerca de 13 para as mulheres. O declínio do índice de
dependência de jovens, que desceu de 59 em 1960 para 48 em 2001, implicará o declínio da
própria população em idade ativa nos próximos anos. Os últimos censos, realizados em 2011,
mostram que Portugal mantém a tendência de envelhecimento demográfico observada nos
últimos anos. Entre 2001 e 2011, a proporção de jovens (população dos 0 aos 14 anos de idade)
decresceu de 16,2% para 14,9% da população residente total. No mesmo período, a proporção
de indivíduos em idade ativa (população dos 15 aos 64 anos de idade) também se reduziu de
67,3% para 66,0%, verificando-se simultaneamente o aumento da percentagem de idosos
(população com 65 ou mais anos de idade) de 16,6% para 19,0% (INE, 2013: 10). As
preocupações crescentes que o fenómeno de envelhecimento revela levaram a que a
Assembleia Geral das Nações Unidas convocasse a II Assembleia Mundial sobre o
Envelhecimento, para 2002, no sentido de se equacionar um plano internacional para o
envelhecimento numa perspetiva estratégica de longo prazo.
A tarefa sociológica de análise de um problema social é a de recensear os espaços, os
tempos e os contextos em que foram elaboradas as políticas que o suportam, a que estão
associadas as características profissionais dos especialistas e as representações sociais
construídas em torno da sua especialização.
Os primeiros discursos de carácter científico sobre a velhice vêm da medicina e deram
lugar à emergência das disciplinas de gerontologia e geriatria em que predomina o modelo
patológico. Também no domínio da política social as pesquisas sobre a velhice têm incidido,
essencialmente, na perspetiva do grupo como problema social, encarado em função das suas
possibilidades e direitos providenciados. Assim, conjuntamente, a ciência médica e a política
vieram a categorizar as “pessoas de idade” como grupo dependente, separado e diferente do
resto da sociedade, ou seja, na perspetiva funcional do desvio. Neste contexto social, os valores
considerados na temática do envelhecimento, passam a derivar de uma análise sobre a
existência real que leva a pessoa a confrontar-se com a ambiguidade entre a ideia de
continuidade associada à vida e a ideia de rutura associada à morte que surge como o culminar
do processo de envelhecimento. Essa dualidade tem influência na preponderância assumida
pela dicotomia da relação entre dependência e autonomia. A análise da velhice é, assim,
orientada pela premissa enviesada do princípio de que as “pessoas de idade” têm debilidades
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que as tornam dependentes de terceiros. Anne-Marie Guillemard (1988) sublinha que o Estado,
quando dispõe de fraca margem de autonomia e manobra perante a ordem das relações
sociais, inflete o curso da sua ação a favor das forças sociais que têm a dominância na
sociedade.
O sistema de protecção social foi definido como universal e a redistribuição de benefícios
concretizada na prestação de serviços burocráticos despersonalizados. Esses benefícios são
“benevolentemente repressivos” e concebidos para dar resposta à crescente atomização da
vida social (Santos, 1999b). A relação estabelecida passa a ser entre os detentores de direitos e
os agentes socialmente mandatados para classificar as pessoas nas categorias jurídicas que lhes
correspondem. Como diz Sara Arber e Jay Ginn (1991), as “pessoas de idade” são vistas como
um grupo de pessoas “parasitas” do Estado. Como forma extrema desta imagem sucedeu a
relação de desequilíbrio entre trabalhadores e pensionistas em que os primeiros são vistos
como os únicos que produzem rendimento e pagam impostos para sustentar as reformas dos
pensionistas. Querer atribuir “uma” identidade às pessoas que a sociedade moderna categoriza
como “velhas” é violentar a sua inserção social, construída, reconstruída e protagonizada em
trajetórias individuais. As “pessoas de idade” devem ser olhadas pela sua diversidade. Estamos
perante o que Ruano-Borbalan (1998) designa por “o paradoxo da identidad”,
simultaneamente, idêntico e distinto.
Analisar a velhice das pessoas enquanto objeto de estudo implica perceber a sua
conceção e como ela se constituiu em problema social. A definição de problema social envolve
quatro dimensões associadas a um trabalho de reconhecimento, legitimação, pressão e
expressão (Lenoir, 1998). Ao problema social estão inerentes, também, formas de pressão
protagonizadas e legitimadas por grupos de interesses que se assumem como representantes
das pessoas que comungam um mesmo problema.
Geriatria
É a especialidade médica que trata de doença de idoso ou de doentes idosos, mas
também se preocupa em prolongar a vida com saúde. Ao longo da vida a capacidade funcional
vai reduzindo e na terceira idade é importante manter a independência e prevenir
incapacidades, assim garantindo uma boa qualidade de vida. O processo natural do
envelhecimento associado as doenças crónicas e a hábitos de vida inadequados são os
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responsáveis pela limitação do idoso. Nesta fase é importante focar sempre na prevenção, pois
até o idoso aparentemente saudável requer cuidados.
Objetivos da Geriatria:
- Manter a saúde em idades avançadas.
- Manter a funcionalidade.
- Prevenir doenças.
- Detetar e tratar precocemente as doenças.
- Manter o máximo grau de independência do idoso.
Gerontologia
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que esta especialidade não está ligada somente à
área da saúde, pelo contrário, está aberta a todas as áreas.
O profissional desta área está apto a contribuir para que o envelhecimento seja um
processo saudável, bem-sucedido, assistido e cuidado. Inclusive orientando a família e a
sociedade sobre como lidar com o seu idoso, fazendo intervenções e combatendo preconceitos.
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Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico
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Algumas teorias psicossociais tentam explicar o processo do envelhecimento e o impacto
social desse novo perfil populacional e a relação recíproca do impacto desta sociedade no idoso
pertencente a ela.
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Durante o primeiro ano de vida a criança é
substancialmente dependente das pessoas que
cuidam dela, requerendo cuidado quanto à
alimentação, higiene, locomoção, aprendizagem de
Confiança X Desconfiança palavras e seus significados, bem como
(até um ano de idade) estimulação para perceber que existe um mundo
em movimento ao seu redor. O amadurecimento
ocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir
que tem segurança e afeto, adquirindo confiança
nas pessoas e no mundo.
Neste período a criança passa a ter controle das
suas necessidades fisiológicas e responder por sua
higiene pessoal, o que lhe dá grande autonomia,
confiança e liberdade para tentar novas coisas sem
Autonomia X Vergonha e Dúvida medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou
(segundo e terceiro ano) ridicularizada desenvolverá vergonha e dúvida
quanto a sua capacidade de ser autónoma,
provocando uma volta ao estágio anterior, ou seja,
a dependência.
Durante este período a criança passa a perceber as
diferenças sexuais, os papéis desempenhados por
mulheres e homens na sua cultura (conflito
edipiano para Freud) entendendo de forma
Iniciativa X Culpa diferente o mundo que a cerca. Se a sua
(quarto e quinto ano) curiosidade “sexual” e intelectual, natural, for
reprimida e castigada poderá desenvolver
sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de
explorar novas situações ou de buscar novos
conhecimentos.
Construtividade X Inferioridade Neste período a criança está a frequentar a escola,
(dos 6 aos 11 anos) o que propicia o convívio com pessoas que não são
seus familiares, o que exigirá maior sociabilização,
trabalho em conjunto, cooperatividade, e outras
habilidades necessárias. Caso tenha dificuldades o
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próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a
inferioridade em vez da construtividade.
O quinto estágio ganha contornos diferentes
devido à crise psicossocial que nele acontece, ou
Identidade X Confusão de Papéis seja, Identidade Versus Confusão. Neste contexto o
(dos 12 aos 18 anos) termo crise não possui uma aceção dramática, por
tratar-se de algo pontual e localizado com pólos
positivos e negativos.
Buhler propôs que as pessoas desenvolvem através de sua vida útil, e que o
desenvolvimento idade (amadurecimento) é muito mais significativo do que psicologicamente
"idade mental" ou "quociente de inteligência". Segundo ela, é essencialmente saudável que as
pessoas enfrentem desafios de forma contínua ao longo da vida. Eles tentam integrar quatro tendências
básicas, que incluem:
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O início da idade adulta varia de um indivíduo para o outro e uma passagem adequada
para essa fase depende da resolução satisfatória das crises da infância e da adolescência. É um
período de grandes mudanças, no qual a pessoa adquire total maturidade e apresenta o
máximo do seu potencial para a satisfação pessoal. A pessoa deve ser capaz de mudar sempre
para atender às exigências das situações.
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- As pessoas precisam enfrentar perdas em muitas áreas (perdas de suas próprias
faculdades, perda de afetos) e a iminência de sua própria morte.
A meia-idade é uma fase do ciclo vital que se estende, aproximadamente, dos 40 aos 60
anos. A princípio, a meia-idade é um período caracterizado por um movimento interno da
pessoa para resumir e reavaliar a própria vida. Mesmo que esses “movimentos” não conduzam
a qualquer mudança efetiva. Essa auto-avaliação não se refere apenas à busca por metas, mas
também às satisfações interiores. Considerações em torno do que a pessoa conseguiu, e se
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essas conquistas estão de acordo com os sonhos e as ideias anteriormente alimentadas tornam-
se, então, ponto principal nessa etapa da vida.
As décadas que constituem a meia-idade podem vir a confirmar, ou não, os progressos
profissionais, a estabilização das relações afetivas de modo geral e especialmente a conjugal.
Similarmente, o indivíduo é levado a fazer considerações a respeito das conquistas impetradas
na esfera cívica e socioeconómica da vida.
Por tudo isso é que pode-se dizer que é a:
- Aceitação do corpo que envelhece;
- Aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal;
- Manutenção da intimidade;
- Reavaliação dos relacionamentos;
- Relacionamentos com os filhos: deixar ir, atingir igualdade, integrar novos membros;
- Relação com seus pais: inversão de papéis, morte e individuação;
- Exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor;
- Preparação para a velhice.
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urbano ou no meio rural, na faixa do mar ou na intelectualidade das profissões culturais, no seu país
de origem ou no estrangeiro, activo ou inactivo (Ministério da Saúde, 1998).
O envelhecimento diferencial envolve preferencialmente os órgãos efetores e resulta de
processos intrínsecos que se manifestam a nível dos órgãos, tecidos e células:
- Assim, a pele envelhece mais rapidamente que o fígado.
- As complicações vasculares afectarão o sistema cardíaco principalmente.
- A arteriosclerose acumulada por má alimentação, pelo stress e contaminação
bacteriana, poderá ocorrer mais cedo ou mais tarde, de acordo com hábitos prevalecentes e
resistência orgânica.
Seja qual for o mecanismo e o tempo de envelhecimento celular, este não atinge
simultaneamente todas as células e, consequentemente, todos os tecidos, órgãos e sistemas.
Cada sistema tem o seu tempo de envelhecimento, mas sem a interferência dos fatores
ambientais há alterações que se dão mais cedo e se tornam mais evidentes quando o
organismo é agredido pela doença.
Diz Ermida (1999), que a "diminuição de função renal em cerca de 50% aos 80 anos -
condiciona a farmacoterapia dos idosos", "as alterações orgânicas a nível das mucosas
digestivas, são determinante frequente de problemas nutricionais"; "as alterações a nível de
arquitectura dos ossos, a dismetabolia cálcica, propiciam fracturas frequentes"; a "diminuição
da água intracelular (perda de 10 a 15% aos 80 anos) torna o idoso extremamente sensível aos
desequilíbrios hidroelectrolíticos"; e o "aumento da massa gorda favorece a obesidade com
todo o seu cortejo de consequências".
A nível do sistema nervoso, existe fundamentalmente perda de neurónios substituídos por
tecido glial, a diminuição do débito sanguíneo, com consequente diminuição da extração da
glicose e do transporte do oxigénio e a diminuição de neuromodeladores que condicionam
processos mentais, alterações da memória, da atenção, da concentração, da inteligência e
pensamento.
Para além de tudo isto, temos ainda a considerar as diminuições orgânicas e funcionais,
que originam significativas alterações na forma e na composição corporal com o decorrer dos
anos. Talvez as condições mais relevantes a ter em consideração para a sobrevivência do idoso e
para a sua qualidade de vida sejam, no entanto, a diminuição da sua reserva fisiológica e a
consequente dificuldade na reposição do seu equilíbrio homeostático quando alterado.
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As modificações fisiológicas que se produzem no decurso do envelhecimento resultam de
interações complexas entre os vários fatores intrínsecos e extrínsecos e manifestam-se através
de mudanças estruturais e funcionais que se encontram sintetizadas no quadro 1.
A velhice e a sociedade
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Velhice é o último período da evolução natural da vida. Implica um conjunto de situações
-- biológicas e fisiológicas, mas também psicológicas, sociais, económicas e políticas -- que
compõem o quotidiano das pessoas que vivem nessa fase.
Desde o nascimento a vida desenvolve-se de tal forma que a idade cronológica passa a
definir-se pelo tempo que avança. E o tempo fica definido como uma sinonímia para uma
eternidade quantificada, ou seja, uma cota. Desta forma, o homem e o tempo influenciam-se
mutuamente, produzindo profundas mudanças nas subjetividades e diferentes representações
que lhe permitem lidar com a questão temporal (Goldfarb, 1998).
As limitações corporais e a consciência da temporalidade passam a ser problemáticas
fundamentais no processo do envelhecimento humano, e aparecem de forma reiterada no
discurso dos idosos, embora possam adquirir diferentes mudanças e intensidades dependendo
da sua situação social e da própria estrutura psíquica (Goldfarb, 1998). Corpo e tempo
entrecruzam-se no devir do envelhecimento, e como consequência disso, nascerão as diversas
velhices e suas consequentes múltiplas representações. Entretanto, se cada pessoa tem a sua
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velhice singular, as velhices passam a ser incontáveis e a definição do próprio termo torna-se
um impasse.
Afinal, uma pessoa é tão velha, tendo como referencial algum tipo de declínio
orgânico, ou são as maneiras pelas quais as outras pessoas passam a encará-las que as
confinam num reduto denominado Terceira Idade?
E quando uma pessoa se torna velha?
Há uma idade ou um intervalo específico para a Terceira Idade?
Não é preciso ir muito longe para constatar que o que se percebe, então, é a
impossibilidade de se estabelecer uma definição ampla e aceitável em relação ao
envelhecimento (Veras, 1994). Percebe-se actualmente que os nossos referenciais sobre a
terceira idade e tudo o que se supunha saber é insuficiente para definir o que se actualmente
concebe como terceira idade/envelhecimento/velhice.
A característica principal da velhice é o declínio, geralmente físico, que leva as alterações
sociais e psicológicas. Os teóricos classificam tal declínio de duas maneiras: a senescência e a
senilidade.
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negativos, são atribuídos a todos os indivíduos desse grupo. Assim, a palavra “velhot” descreve
os sentimentos ou preconceitos resultantes de micro-conceções e dos “mitos” acerca dos
idosos. Os preconceitos envolvem geralmente crenças, de que o envelhecimento torna as
pessoas senis, inativas, fracas e inúteis (Nogueira, 1996).
No “mundo civilizado” de hoje, a velhice é tida como uma doença incurável, como um
declínio inevitável, que está votado ao fracasso. Esta postura social atingiu tal dimensão, que
Louise Berger (1995) chega mesmo a afirmar, que abundam hoje “ideias feitas e preconceitos
relativamente à velhice”. Os “velhos” de hoje, os “gastos”, os “enrugados” cometeram a asneira
de envelhecer numa cultura que deifica a juventude.
De facto, as atitudes negativas face aos idosos existem em todos os níveis sociais:
intervenientes, beneficiários, governantes etc. Assim, perante esta diversidade de conceitos
somos levados a questionar o que se entende por mitos, estereótipos, crenças e atitudes?
No sentido de clarificar e uniformizar estas questões e baseados nos pressupostos
teóricos defendidos por Berger, 1995; Santos, 1995; Nogueira, 1996 e Dinis, 1997; Castro et al,
1999, passaremos a apresentar as seguintes conceptualizações.
Atitude é um conjunto de juízos que se desenvolvem a partir das nossas experiências e da
informação que possuímos das pessoas ou grupos. Pode ser favorável ou desfavorável, e
embora não seja uma intenção pode influenciar comportamentos.
Crença é um conjunto de informações sobre um assunto ou pessoas, determinante das
nossas intenções e comportamentos, formando-se a partir das informações que recebemos. Por
exemplo: a “ideia” de que todos os idosos são sensatos e dóceis e nunca se zangam.
Estereótipo é uma imagem mental muito simplificada de alguma categoria de pessoas,
instituições ou acontecimentos que é partilhada, nas suas características essenciais por um
grande número de pessoas (Castro, 1999); dito de outra forma é um “chavão”, uma opinião
feita, uma fórmula banal desprovida de qualquer originalidade, ou seja é uma “generalização” e
simplificação de crenças acerca de um grupo de pessoas ou de objectos, podendo ser de
natureza positiva ou negativa.
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Um estudo realizado na Université de Montreal por Champagne e Frennet (cit. por DINIS,
1997), permitiu identificar catorze estereótipos como os mais frequentes relativos aos idosos e
que passamos a descrever:
* Os idosos não são sociáveis e não gostam de se reunir;
* Divertem-se e gostam de rir;
* Temem o futuro;
* Gostam de jogar às cartas e outros jogos;
* Gostam de conversar e contar as suas recordações;
* Gostam do apoio dos filhos;
* São pessoas doentes que tomam muita medicação;
* Fazem raciocínios senis;
* Não se preocupam com a sua aparência;
* São muito religiosos e praticantes;
* São muito sensíveis e inseguros;
* Não se interessam pela sexualidade;
* São frágeis para fazer exercício físico;
* São na grande maioria pobres.
A análise destes resultados permite-nos observar que a maioria destes estereótipos está
ligada não a características específicas do envelhecimento, mas sim a traços da personalidade e
a fatores socioeconómicos. E, se por um lado, a formação de estereótipos simplifica a realidade,
por outro, hiper-simplificam-na, levando muitas vezes a uma ignorância acerca das
características, minimizando as diferenças individuais entre os membros de um determinado
grupo. É disso, exemplo, o estereótipo de que “todos os idosos são solitários”. Este, não tem em
consideração os idosos que têm uma vida social ativa. Ainda com base neste estereótipo, os idosos
ativos socialmente, são considerados, muitas vezes, como tendo um comportamento social atípico, pelo
que se enquadram numa exceção.
De facto, o mito é “uma construção do espírito que não se baseia na realidade” e por isso
constitui uma representação simbólica. Pode ser também um conjunto de expressões feitas ou
eufemismos, que mantemos relativamente aos idosos, por exemplo: “ela tem um ar jovem para
a idade”, “idade de ouro”, etc…
Numa análise mais profunda percebemos que os mitos escondem muitas vezes uma certa
hostilidade e quando utilizados em excesso, impedem o estabelecimento de contactos
verdadeiros com os idosos.
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O que importa realçar neste estudo acerca dos “mitos” e dos “estereótipos” é o facto de
estes estarem muitas vezes ligados ao desconhecimento do processo de envelhecimento, e
poderem influenciar a forma como os indivíduos interagem com a pessoa idosa.
Por outro lado são causa de enorme perturbação nos idosos, uma vez que negam o seu
processo de crescimento e os impedem de reconhecer as suas potencialidades, de procurar
soluções precisas para os seus problemas e de encontrar medidas adequadas.
O termo “terceira idade”, por exemplo, é um rótulo socioeconómico que permite muitas
vezes que o Homem entre nela pela porta da psicopatologia, que é a ciência que se ocupa da
relação perturbada (Gyll, 1998). Estas imagens mentais simplificadas e estereotipadas sobre os
idosos são usadas e compartilhadas atualmente em todos os níveis e grupos sociais.
Esta visão global e generalizada, que caracteriza os estereótipos gerontológicos pouco
críticos e frequentemente carentes de objetividade, distorce a realidade. Investigações diversas
sobre esta temática têm demonstrado que a distorção causada pelos estereótipos “cegam” os
indivíduos, impedindo-os de se precaverem das diferenças que existem entre os vários
membros, não lhe reconhecendo deste modo qualquer virtude, objeto ou qualidade.
Nesta perspetiva os estereótipos tornam-se inevitavelmente elementos impeditivos na
procura de soluções precisas e de medidas adequadas, tornando-se urgente o combate a estas
representações sociais gerontofóbicas e de caráter discriminatório, levando os cidadãos a
adotar medidas e comportamentos adequado face aos idosos.
Representações da morte
A velhice é uma etapa da evolução humana. Nascer, crescer, desenvolver e morrer são
processos naturais que fazem parte do ser humano. Entretanto, há outros fatores que
contribuem para a compreensão do homem e de sua existência.
A complexidade da existência humana pode ser vista por diversas vertentes, por diversos
olhares e saberes. É comum que algumas ciências, mantenham uma visão de homem
dicotomizada, uma visão que se afunila apenas naquela característica específica sem perceber o
indivíduo como um todo, como um ser integral, um ser que é sim biológico, mas também é um
ser psicológico, é um ser social.
A velhice, na história, sempre ocupou dois papéis antagónicos, ou representações sociais:
ou referia-se à imagem do fim, da morte, do mal e da perda, ou da sabedoria, do conhecimento
e do respeito. No entanto, trata-se de um facto natural da vida, tão certo quanto o fim, ao qual
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todos estamos “destinados”. Se, como dizem os matemáticos, a soma dos fatores não altera o
resultado do produto, assim também a meia-idade e a velhice, vividas por cada indivíduo, com
sua singularidade, são a premissa do fim que se aproxima e que é inevitável a todos – a morte.
“Esse estado primordial de desamparo desempenha um papel decisivo na estruturação do
psiquismo, que se constitui fundamentalmente na relação com o Outro, ou seja, o ser humano
só sobrevive porque o Outro o deseja. Essa é a origem da necessidade de ser amado e cuidado,
perpetuada no ser humano até sua morte”.
Envelhecer por si só já é um processo que implica em perdas que tornam o ser idoso
estigmatizado em total dependência e velada incompetência de decidir suas próprias coisas. O
amparo e olhar para esses idosos tornam-se essenciais. A velhice traz consigo, então, a
perspetiva de morte.
Foi sobretudo a partir da segunda metade do século XX que emergiu um novo fenómeno
nas sociedades desenvolvidas − o envelhecimento demográfico, ou seja, o aumento significativo
do número de pessoas idosas. Com isto, surgiu a necessidade, a nível internacional, de
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caracterizar o fenómeno, de repensar o papel e o valor da pessoa idosa, os seus direitos e as
responsabilidades do Estado e da sociedade para com este grupo específico da população.
Como disse Kofi Anam (2002): “A expansão do envelhecer não é um problema. É sim uma
das maiores conquistas da humanidade. O que é necessário é traçarem-se políticas ajustadas
para envelhecer são, autónomo, ativo e plenamente integrado. A não se fazerem reformas
radicais, teremos em mãos uma bomba relógio a explodir em qualquer altura”.
No final do século XX e início do século XXI a sociedade mundial depara-se com uma
configuração sócio-etária: o envelhecimento populacional. A ONU estipulou de 1975 – 2025
como a Era do Envelhecimento (50 anos). A velhice tem sempre acompanhado a humanidade
como uma etapa inevitável de decadência e declinação. A palavra velhice é carregada de
significados como inquietude, fragilidade, angústia. O envelhecimento é um processo que está
rodeado de muitas conceções falsas, temores, crenças e mitos. A imagem que se tem da velhice
mediante diversas fontes históricas, varia de cultura em cultura, de tempo em tempo e de lugar
em lugar. Esta imagem reafirma que não existe uma conceção única ou definitiva da velhice mas
sim conceções incertas, opostas e variadas através da história.
O pensamento científico que caracterizou os séculos XVI e XVII introduziu novas formas de
pensar que enfatizavam a observação, experimentação e verificação, podendo-se então,
descobrir as causas da velhice mediante um estudo sintomático. Ainda assim prevalecia a
ambivalência em relação à velhice.
Durante os séculos XVII e XVIII foram feitos muitos avanços no campo da fisiologia,
anatomia, patologia. As transformações que ocorreram na Europa nos séculos XVIII e XIX
refletiram numa mudança na população anciã. O número de pessoas em idade avançada
aumentou e os avanços da ciência permitiram descartar vários mitos acerca da velhice.
Contudo, a situação dos velhos não melhorou. O surgimento da Revolução Industrial e do
urbanismo foram derradeiros para os anciões que, sem poder trabalhar, foram reduzidos à
miséria.
No final do século XIX os avanços da medicina propiciaram a divisão de velhice e
enfermidade e nos finais do Século XX surgem a Gerontologia e a Geriatria como disciplinas
formais. O que se percebe são ciclos que ocorrem ao longo da história. Períodos em que os
idosos são valorizados são seguidos por crises entre jovens e velhos e posterior desvalorização
do ancião. Hoje, para uma parcela economicamente ativa da população idosa, existe um
movimento de valorização, pois esta população está impulsionando mercados como o de
turismo e serviços para a terceira idade.
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Os meios de comunicação, da forma como estão hoje inseridos em nossa vida, também
têm um papel importante na construção desta terceira idade. A televisão e o cinema,
particularmente, possuem um grande potencial para influenciar nos conceitos acerca da
velhice. As parcelas da população mais influenciáveis são as crianças e jovens. Estes meios
funcionam como um espelho da sociedade e contribuem para estabelecer ou validar modelos
de comportamento. Porém o número de pessoas idosas que aparecem nos programas ou filmes
não corresponde a realidade encontrada na sociedade. Neste caso a mensagem que pode estar
sendo passada é de que o velho não é importante. Os estereótipos negativos também são
muito explorados.
No início da década de 90 ocorreu uma leve mudança na visão negativa da velhice em
programas e filmes como “Assassinato por escrito”, “Cocoon” e “Conduzindo miss Daisy” e o
surgimento de idosos como mercado consumidor pode ainda alterar mais este quadro. A
imagem passada pelos meios de comunicação afeta também a auto-estima dos idosos. A
validação social é crucial para o desenvolvimento de todas as pessoas e os anciões não são
diferentes. É, então, necessária uma consciencialização da importância desses meios na
constituição da velhice. Assim podemos começar a mudar a visão que nossa sociedade possui
do que é ser velho hoje em dia.
O novo perfil do idoso, acrescido a um número cada vez maior de cidadãos da terceira
idade, forçosamente implica numa atenção mais dedicada a esta categoria; seja por parte do
governo, ou da sociedade, como um todo. Esse novo perfil, do idoso com vida ativa, social,
financeira, política e até amorosa, necessariamente altera as relações familiares e profissionais.
Essa nova atitude diante da vida e da sociedade implica também em alterações das políticas
económicas, sociais e de saúde, para oferecer uma vida digna, a esta categoria emergente, que
já deu sua contribuição ao longo de toda a vida.
Apesar do evidente crescimento da população idosa, e das transformações sociais dele
decorrentes, a discussão sobre o envelhecimento dá-se num contexto em que a diversidade de
conceitos para explicar quem é o idoso e como se caracteriza o processo de envelhecer, ainda
está longe de diminuir.
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É possível afirmar que o envelhecimento não é igual para todos, e, para além da idade,
depende das condições objetivas de vida em fases anteriores do ciclo vital, do acesso aos bens e
serviços, bem como da cobertura da rede de e atendimento social. Os estudos sobre a velhice e
o processo de envelhecimento abarcam as diversas possibilidades de pensar o lugar social
ocupado pelo idoso na realidade mundial. A velhice tem sido tratada como um mal necessário,
da qual a humanidade não tem como escapar. Por esse princípio, o idoso também é tratado
como um mal necessário, como alguém que já cumpriu a sua função social: já trabalhou, já
cuidou da família, já contribuiu para educação dos filhos, restando a eles, somente, esperar pela
finitude da vida. O que se observa é que, com o avanço das pesquisas na área da saúde, e o
acesso da população idosa aos diversos serviços, a população, de um modo geral, chega aos 60
anos com possibilidade de viver mais (e com qualidade de vida) do que vivia há 20 anos atrás.
Veras (2003, p.8), adverte que “muito antes do que se imagina, teremos indivíduos se aposentando
perto dos 60 anos de idade e iniciando um novo ciclo de vida que perdurará por mais de 30 ou 40 anos”.
A velhice apresenta múltiplas faces, e não pode ser analisada desvinculada dos aspetos
socioeconómicos e culturais, pois as suas características extrapolam as evidentes alterações
físicas e fisiológicas individuais.
“A população idosa constitui-se como um grupo bastante diferenciado, entre si e em
relação aos demais grupos etários, tanto do ponto de vista das condições sociais, quanto dos
aspectos demográficos e epidemiológicos. Qualquer que seja o enfoque escolhido para estudar
este grupo populacional, são bastante expressivos os diferenciais por género, idade, renda,
situação conjugal, educação, actividade económica, etc. ” (VERAS, 2003, p. 8-9).
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Por proteção social entende-se por um conjunto de ações que visam prevenir riscos,
reduzir impatos que podem causar malefícios à vida das pessoas e, consequentemente, à vida
em sociedade. A exclusão social ocorre quando num determinado grupo da sociedade é de
alguma forma excluído dos seus direitos, ou ainda, tem seu acesso negado por ausência de
informação, por estar fora do mercado de trabalho, entre outras coisas. A inclusão, portanto,
significa fazer parte, se sentir pertencente, ser compreendido na sua condição da vida e
humanidade”. É sentir-se pertencente como pessoa humana, singular e ao mesmo tempo coletiva.
Inclusão e proteção social estão intrinsecamente relacionadas aos direitos sociais. Os
direitos estabelecidos no Estatuto do Idoso que indicam e fortalecem a inclusão social do idoso
são:
1º Direito à vida: viver com dignidade, com acesso aos bens e serviços socialmente
produzidos;
2º Direito à informação: ter conhecimento, trocar ideias, perguntar, questionar,
compreender. A informação caminha por dois níveis que se complementam: o primeiro refere-
se à vida quotidiana e o segundo refere-se à garantia dos direitos – como funcionam os serviços
prestados por meio da política social, como funciona a rede de atendimento social, a gestão
pública, como o poder público emprega o dinheiro na área do envelhecimento.
3º Direito à vida familiar, à convivência social e comunitária: receber apoio e apoiar a
família, preservar laços e vínculos familiares, trocar experiência de vida; receber suporte social,
psicológico e emocional.
4º Direito ao respeito: às diferenças, às limitações, ao modo de entender o mundo, ao
modo de viver neste mundo.
5º Direito à preservação da autonomia: ter preservada a capacidade de realizar algumas
tarefas sozinho ou com auxílio; ter preservada a privacidade; ter preservada a capacidade de
realizar as actividades de vida diária e de vida prática.
6º Direito de cessar serviços que garantam condições de vida: acesso aos serviços de
saúde, educação, moradia, lazer, entre outros.
7º Direito de participar, opinar e decidir sobre sua própria vida: conhecer e participar de
atividades recreativas e de convivência.
A gestão da velhice – que segundo Debert (1999, p. 13-14) por muito tempo foi
considerada como específica da esfera privada e familiar, da previdência individual, ou de
associações filantrópicas –, vem-se transformando numa questão pública, expressa na
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legislação específica para os idosos, que expressa (e ao mesmo tempo influencia) o surgimento
de uma nova categoria cultural: “os idosos, como um conjunto autónomo e coerente que impõe
outro recorte à geografia social, autorizando a colocação em prática de modos específicos de
gestão”.
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A chegada na terceira idade traz consigo muitas perdas e mudanças!
Com a reforma ocorre a perda do trabalho, algo ao qual o idoso se dedicou boa parte da
sua vida; além disso, em muitos casos, também existe a diminuição do poder aquisitivo o que
gera mudanças no padrão de vida, nem sempre muito bem aceites; é comum nesta fase a perda
de amigos e parentes, o que leva o idoso a refletir sobre a chegada da sua própria morte;
surgem também as limitações físicas próprias da idade tais como dificuldades perceptivas,
sensoriais e de memória, além da lentidão dos movimentos, da diminuição da força muscular e
da coordenação motora; nesta fase da vida a própria sociedade, assim como a família, tendem a
segregar o idoso, vendo-o como uma pessoa improdutiva e sem valor. Estes fatores podem levar
o idoso a um quadro de apatia, de inatividade, de desinteresse e desânimo em geral.
É comum, nesta fase da vida, o aparecimento da depressão, o problema mais comum na
terceira idade. Surge em função do idoso não saber lidar ou encarar de forma positiva estas
mudanças que fazem parte da sua vida. A depressão significa, em última instância, sentir-se sem
saída diante de um determinado conflito, problema ou situação, o que pode gerar muito
sofrimento e dor. Pessoas com baixa auto-estima, que sempre vêem a si mesmas e o mundo
com pessimismo, que são facilmente sobrecarregadas pelo stress, que não aceitam envelhecer
e que não encaram a diminuição da vitalidade como algo inerente à idade são propensas a
apresentar depressão.
Perdas e mudanças fazem parte da vida, a morte vem para todos e chegar à terceira idade
é um fator que pode ser encarado tanto de forma positiva como negativa! Ao contrário de
encarar a realidade como algo má, assustadora ou com sofrimento, pode-se pensar no que fazer
para mudá-la ou, na impossibilidade da mudança, de que forma encarar e aceitar esta realidade
sem sofrimento, aceitando-as como um desafio, um fator de aprendizagem de convivência, de
respeito e de aceitação das próprias limitações.
Aceitar o envelhecimento com naturalidade é o caminho certo, procurando conviver bem
com as limitações e valorizando aquilo que faz parte exclusiva dos idosos: a larga experiência de
toda uma vida que jamais poderia ser deixada de lado e que deveria ser muito bem aproveitada
pelos jovens e pela sociedade de um modo geral.
Chegar à terceira idade não significa apenas o final da jornada de anos de trabalho e de
missão cumprida em relação à criação dos filhos, mas a entrada em um novo estilo de vida, algo
que pode ser muito bom porque permite a realização de desejos não satisfeitos ao longo da
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vida seja por causa do tempo dispendido no trabalho, seja porque haviam outros interesses à
frente.
É a fase da vida em que os idosos podem realmente dar-se ao "luxo" de exercerem
atividades que lhes tragam apenas prazer, alegria e satisfação, sem a cobrança de um
desempenho (como no trabalho) ou sem a responsabilidade de educar ou de exercer um bom
papel (é hora de serem simplesmente eles mesmos, serem avós e não mais pais zelosos com a
educação, sem precisar mais “dar o exemplo”).
Em geral, o idoso mora ou isolado ou com o seu cuidados informal. Estes, por si só, por
causa das suas próprias obrigações/atividades, não costumam dar a atenção necessária, muitas
vezes não dispondo do seu tempo para ouvir o idoso, o que o leva a sentir-se num plano
secundário: essa falta de atenção da família pode levar o idoso à diminuição de sua auto estima
e até à depressão, quando ele não tem atividades sociais que compensem esta falta de atenção
familiar: por isso é importante que o idoso tenha outras atividades extra-familiares que lhe
tragam prazer, mantendo ou criando novas amizades e contactos.
É importante que a atividade cerebral do idoso continue a ser estimulada com leituras ou
com quaisquer atividades que possam prender a sua atenção e, principalmente, manter o
contacto com pessoas queridas a maior parte do tempo. O ser humano é um ser social e o idoso
precisa conversar e, principalmente, ser ouvido! Pedir-lhe, simplesmente, que relate as suas
experiências passadas, que conte histórias da família, que fale sobre aquilo que gosta de falar
são maneiras de estimulá-lo e, mais do que isso, são atividades que lhe trazem muito prazer.
Os idosos adoram sentir-se úteis e ficam felizes em poder ajudar ou satisfazer um
desejo/necessidade de um parente ou conhecido! Eles jamais devem ser tratados como pessoas
inválidas, são pessoas que possuem mais limitações inerentes à idade! Portanto, deve-se
delegar a eles apenas tarefas que possam ser executadas sem sacrifícios (como cozinhar, se eles
gostarem, bordar, fazer um determinado conserto, etc...). A família e os amigos jamais devem
dar a perceber que se sentem incomodados com a presença do idoso ou que não tem vontade
de ajudá-lo, de ouvi-lo, pelo contrário, devem agir no sentido de permitir, na medida do
possível, a manutenção da autonomia, da independência e da dignidade do idoso.
Como já foi dito, o ser humano é um ser social: o lazer, a distração, a conversa, o bem-
estar e as atividades em grupo são fundamentais para todos, independentemente da idade.
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Processo de envelhecimento / sensibilização à problemática da
pessoa idosa / pessoa idosa noutras civilizações
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De facto, para além da privação de meios a que naturalmente os idosos estão votados,
existem tecnologias recentes que ampliam as dificuldades de acesso aos direitos sociais básicos.
Este quadro agrava-se para alguns idosos ainda mais, pelo facto de terem que partilhar o
seu já reduzido rendimento com familiares a seu cargo (netos, filhos toxicodependentes, etc…).
Devido à insuficiência de medidas de política social, capazes de garantir condições
económicas mínimas a quem fez a sua vida profissional numa época em que não se realizavam
contratos, nem descontos para a segurança social, configura-se-lhes um quadro de vida em que
a pobreza é o culminar “inevitável” de uma trajetória social cuja precariedade impediu a
acumulação de todo e qualquer tipo de recurso.
Face à panóplia de questões caracterizadoras do idoso na sociedade atual, surge o debate
em torno do envelhecimento e das respostas sociais de apoio às pessoas idosas.
Assim, em 1999 consagrou-se o Ano Internacional do Idoso, iniciativa concretizada pelas
Nações Unidas, na sequência da Assembleia Mundial sobre o envelhecimento de 1982. Esta
iniciativa passou então a constituir um marco fundamental para avaliação das políticas
implementadas no âmbito do envelhecimento da população, bem como das relações de
desenvolvimento/envelhecimento.
Segundo Pimentel (2001), a pressão que o envelhecimento populacional causa nos
sistemas de Segurança Social pode ter custos sociais elevados, decorrentes da forma como o
sistema é financiado. A técnica que é utilizada para este fim, segundo Rosa (1993), baseia-se
numa conversão automática das contribuições dos indivíduos ativos em pensões, implicando
que haja um equilíbrio entre as quotizações e as prestações. No entanto, este sistema segundo
a mesma autora, tende a originar um mal-estar social e conduz a um conflito entre gerações
com consequências graves para a sociedade, uma vez que são as gerações mais novas que
contribuem para o financiamento das pensões de velhice, aumentando deste modo as despesas
sociais.
Comunga da mesma opinião Roussel (1990), ao referir que, apesar de os idosos
constituírem um grupo social com algum poder e capaz de exercer pressão política e
económica, as outras gerações, sobretudo em épocas de crise, podem não entender os
benefícios dos idosos e considerá-los excessivos.
Posição diferente apresenta Cabrillo & Cachafeiro (1992), ao referirem que a questão
fundamental não se centra na distribuição das despesas públicas, mas sim na integração social
dos idosos, que podem e devem desempenhar uma função ativa na vida social, não
constituindo, assim, uma carga para as gerações mais jovens.
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Referencias Bibliográficas
- BARROS, Célia Silva G. Pontos de psicologia do desenvolvimento. São Paulo: Ática, 1990.
global: processo de enfermagem por necessidades. Lisboa: Lusodidacta, 1995. ISBN 972-95399-
8-7.
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- ERBOLATO, R. M. P. L. Contatos sociais: relação de amizade em três momentos da vida
adulta. Tese (Doutorado em Psicologia). Campinas, SP: Centro de Ciências da Vida: PUCCAMP,
2001.
ERBOLATO, R. "Relações sociais na velhice". In: FREITAS, E. V.; PY, L.; NERI, A. L.;
Anais... XIV Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia e III Encontro Nacional das Ligas de
- HAVIGHURST, R. J. (1953). Human development and education. New York: David Mckay.
Estatística, Lisboa.
Sociedade. A Terceira idade. São Paulo, v.14, n.28, set. 2003, p. 6-29.
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