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Curso | Agente em Geriatria - Básico 2

Índice

Princípios Fundamentais ……………………………………………………………………….…………….…. pág. 3

1) Velhice – Ciclo Vital ………………………………………………………………………………….…………. pág. 7


- Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico …………………………….…………… pág. 7
- Teorias sobre o envelhecimento psicossocial ……………………………………….……….. pág. 8
Teorias psicossociais de Eric Erikson, R. Peck e Buhler …............................… pág. 8
- Do jovem adulto à meia-idade ……………………………………………………..………..….… pág. 12
- A meia-idade e as tarefas evolutivas ……………………………………….………………...… pág. 14
- Aspetos estruturais e funcionais da velhice …..……………………………………….....… pág. 14

2) Velhice – Aspetos Sociais ………………………………………………………………………………….. pág. 17


- A velhice e a sociedade …………………………………………………………………………….….. pág. 17
Velhice e envelhecimento: conceitos e análise …………………………………....… pág. 17
- Atitudes, mitos e estereótipos ligados à velhice ………………………...................... pág. 19
- Representações da morte ………………………………………………………………..………….. pág. 23
- Problemas sociais da velhice ……………………………………………………………………….. pág. 23
- A pessoa idosa no final do Séc XX …………………………………………………....………….. pág. 26

3) Velhice – Socialização e Papéis Sociais ……………………………………………………...….….. pág. 28


- Aspectos sociais da velhice ………………………………………………………………...……….. pág. 28
- O modo de vida das pessoas de idade ………………..……..….……………………...…….. pág. 30
- Processo de envelhecimento / sensibilização à problemática da pessoa idosa /
Pessoa idosa noutras civilizações ………………………………………….…………….…….... pág. 33

Referência Bibliográficas………………………………………………………………………….……… pág. 36


Princípios Fundamentais

A velhice é um conceito abstrato, uma categoria socialmente construída que, como


escreveu Simone de Beauvoir (1990) é o que serve para referir o período de vida em que as
pessoas “ficam velhas”.
Essa forma de dizer denuncia um olhar holístico que visa propiciar condições para uma
mudança de perspetiva em torno do fenómeno, sobretudo, porque as diferenças individuais
coexistem com a velhice o que contradiz a tendência da sociedade moderna em homogeneizá-la
num único grupo etário normativamente iniciado aos 65 anos de idade.
No mundo contemporâneo, a velhice humana transformou-se numa questão social e
política, rompendo com o estatuto que manteve até ao final da primeira metade do século XIX,
em que era um assunto quase exclusivamente restrito à esfera privada e familiar. O século XX,
sobretudo a partir da década de 60, institucionalizou o curso de vida (Featherstone e Hepworth,
1996), sustentando-se na abordagem científica de gerontólogos e geriatras que apresentam as
debilidades físicas, psíquicas e sociais das “pessoas de idade” como problemas objetiváveis que
justificam a conceção de respostas sociais enquadradas em serviços especializados.
Desde o final do século XIX que o exponencial aumento demográfico, a maior longevidade
humana, as melhores condições de vida, a diversidade de estilos de vida e a maior exigência no
desempenho de cidadania, propõem e sedimentam uma nova dinâmica social face à velhice,
diferente da presenciada e vivida nos períodos anteriores. A recomposição demográfica que
tem por base o aumento do índice de envelhecimento, associada à maior qualidade de vida das
“pessoas de idade” (nomeadamente com mais saúde), alterou as atitudes e os comportamentos
face à velhice e ao envelhecer. Foi neste segmento que se desenvolveu o Estado-Providência e
foi também, no final do século XX, que ele começou a fraquejar. À velhice, como categoria
populacional, é atribuída grande parte da responsabilidade pela crise desse Estado de Bem-
Estar. É nesse sentido que a velhice é um problema social das sociedades modernas do início do
século XX.
O envelhecimento demográfico em Portugal entre 1960 e 2001 caracterizou-se por um
decréscimo de 36% na população jovem (0-14 anos) e um aumento de 140% da população com
65 ou mais anos de idade. Dentro deste mesmo grupo acentua-se o envelhecimento das
pessoas com idade igual ou superior a 75 anos que em 1960 era de 2,7% e passou em 2001 para
6,7% do total da população. A população com idade igual ou superior a 85 anos aumentou de

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0,4% para 1,5% entre 1960 e 2001. Os indivíduos com 100 anos eram cerca de um milhar com
maior longevidade nas mulheres. “Assiste-se assim, ao fenómeno do envelhecimento da própria
população idosa” (INE, 2002: 11). A esperança média de vida aumentou, no mesmo período,
cerca de 11 anos para os homens e cerca de 13 para as mulheres. O declínio do índice de
dependência de jovens, que desceu de 59 em 1960 para 48 em 2001, implicará o declínio da
própria população em idade ativa nos próximos anos. Os últimos censos, realizados em 2011,
mostram que Portugal mantém a tendência de envelhecimento demográfico observada nos
últimos anos. Entre 2001 e 2011, a proporção de jovens (população dos 0 aos 14 anos de idade)
decresceu de 16,2% para 14,9% da população residente total. No mesmo período, a proporção
de indivíduos em idade ativa (população dos 15 aos 64 anos de idade) também se reduziu de
67,3% para 66,0%, verificando-se simultaneamente o aumento da percentagem de idosos
(população com 65 ou mais anos de idade) de 16,6% para 19,0% (INE, 2013: 10). As
preocupações crescentes que o fenómeno de envelhecimento revela levaram a que a
Assembleia Geral das Nações Unidas convocasse a II Assembleia Mundial sobre o
Envelhecimento, para 2002, no sentido de se equacionar um plano internacional para o
envelhecimento numa perspetiva estratégica de longo prazo.
A tarefa sociológica de análise de um problema social é a de recensear os espaços, os
tempos e os contextos em que foram elaboradas as políticas que o suportam, a que estão
associadas as características profissionais dos especialistas e as representações sociais
construídas em torno da sua especialização.
Os primeiros discursos de carácter científico sobre a velhice vêm da medicina e deram
lugar à emergência das disciplinas de gerontologia e geriatria em que predomina o modelo
patológico. Também no domínio da política social as pesquisas sobre a velhice têm incidido,
essencialmente, na perspetiva do grupo como problema social, encarado em função das suas
possibilidades e direitos providenciados. Assim, conjuntamente, a ciência médica e a política
vieram a categorizar as “pessoas de idade” como grupo dependente, separado e diferente do
resto da sociedade, ou seja, na perspetiva funcional do desvio. Neste contexto social, os valores
considerados na temática do envelhecimento, passam a derivar de uma análise sobre a
existência real que leva a pessoa a confrontar-se com a ambiguidade entre a ideia de
continuidade associada à vida e a ideia de rutura associada à morte que surge como o culminar
do processo de envelhecimento. Essa dualidade tem influência na preponderância assumida
pela dicotomia da relação entre dependência e autonomia. A análise da velhice é, assim,
orientada pela premissa enviesada do princípio de que as “pessoas de idade” têm debilidades

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que as tornam dependentes de terceiros. Anne-Marie Guillemard (1988) sublinha que o Estado,
quando dispõe de fraca margem de autonomia e manobra perante a ordem das relações
sociais, inflete o curso da sua ação a favor das forças sociais que têm a dominância na
sociedade.
O sistema de protecção social foi definido como universal e a redistribuição de benefícios
concretizada na prestação de serviços burocráticos despersonalizados. Esses benefícios são
“benevolentemente repressivos” e concebidos para dar resposta à crescente atomização da
vida social (Santos, 1999b). A relação estabelecida passa a ser entre os detentores de direitos e
os agentes socialmente mandatados para classificar as pessoas nas categorias jurídicas que lhes
correspondem. Como diz Sara Arber e Jay Ginn (1991), as “pessoas de idade” são vistas como
um grupo de pessoas “parasitas” do Estado. Como forma extrema desta imagem sucedeu a
relação de desequilíbrio entre trabalhadores e pensionistas em que os primeiros são vistos
como os únicos que produzem rendimento e pagam impostos para sustentar as reformas dos
pensionistas. Querer atribuir “uma” identidade às pessoas que a sociedade moderna categoriza
como “velhas” é violentar a sua inserção social, construída, reconstruída e protagonizada em
trajetórias individuais. As “pessoas de idade” devem ser olhadas pela sua diversidade. Estamos
perante o que Ruano-Borbalan (1998) designa por “o paradoxo da identidad”,
simultaneamente, idêntico e distinto.
Analisar a velhice das pessoas enquanto objeto de estudo implica perceber a sua
conceção e como ela se constituiu em problema social. A definição de problema social envolve
quatro dimensões associadas a um trabalho de reconhecimento, legitimação, pressão e
expressão (Lenoir, 1998). Ao problema social estão inerentes, também, formas de pressão
protagonizadas e legitimadas por grupos de interesses que se assumem como representantes
das pessoas que comungam um mesmo problema.

Envelhecimento / Distintas Áreas

Geriatria
É a especialidade médica que trata de doença de idoso ou de doentes idosos, mas
também se preocupa em prolongar a vida com saúde. Ao longo da vida a capacidade funcional
vai reduzindo e na terceira idade é importante manter a independência e prevenir
incapacidades, assim garantindo uma boa qualidade de vida. O processo natural do
envelhecimento associado as doenças crónicas e a hábitos de vida inadequados são os

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responsáveis pela limitação do idoso. Nesta fase é importante focar sempre na prevenção, pois
até o idoso aparentemente saudável requer cuidados.

Objetivos da Geriatria:
- Manter a saúde em idades avançadas.
- Manter a funcionalidade.
- Prevenir doenças.
- Detetar e tratar precocemente as doenças.
- Manter o máximo grau de independência do idoso.

Prevenção de doenças nos idosos:


- Corrigir os hábitos que agridem a saúde (alimentação não saudável, inactividade física,
obesidades, etc...)
- Adequar o ambiente doméstico, diminuindo assim o risco de acidentes como quedas e
suas consequências.
- Estimular a prática de atividades físicas aeróbias para aumento de resistência, força e
flexibilidade.
- Equilibrar o estado emocional, ampliando a rede de apoio e suporte ao idoso.

Gerontologia
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que esta especialidade não está ligada somente à
área da saúde, pelo contrário, está aberta a todas as áreas.
O profissional desta área está apto a contribuir para que o envelhecimento seja um
processo saudável, bem-sucedido, assistido e cuidado. Inclusive orientando a família e a
sociedade sobre como lidar com o seu idoso, fazendo intervenções e combatendo preconceitos.

1) Velhice – Ciclo Vital

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Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico

Havighurst (1953), um dos mais notáveis psicólogos do desenvolvimento humano,


insatisfeito com os modelos e teorias do desenvolvimento prevalentes nos anos quarentas e
cinquentas do século XX, realizou só ou em colaboração com autores de países diversos uma
série de pesquisas sobre o que denominou o ciclo de vida. O ciclo de vida começa com a
conceção e termina com a morte. Ele considerava que as propostas de desenvolvimento então
vigentes ou eram predominantemente alicerçadas nas mudanças biológicas ou se centravam em
aspetos psicológicos específicos (cognitivos, emocionais, sexuais e morais), não enfocando, com
base em pesquisas sólidas, o desenvolvimento humano como um todo. Além disso, para os
modelos dominantes a tendência era considerar que o desenvolvimento praticamente se
completava na adolescência (às vezes antes dos quinze anos) ou começo da juventude.
Entende-se por tarefas de desenvolvimento aquelas que a pessoa deve cumprir para
garantir seu desenvolvimento e seu ajustamento psicológico e social. São tarefas com as quais a
pessoa satisfaz “suas necessidades pessoais de evolução e para garantir o próprio
desenvolvimento e manutenção de padrões sociais e culturais específico” (Melo, 1981, p.21).
Mais, além de garantir a formação e a atuação do cidadão, devem dar base de sustentação para
o progresso (pessoal e social) e bem-estar humano.
Pfromm Netto (1976) considera que as tarefas de desenvolvimento são como “lições” que
a pessoa deve aprender ao longo de sua existência para se desenvolver satisfatoriamente e ter
êxito na vida. As tarefas não são estanques em cada etapa embora algumas sejam
preferencialmente típicas dessa ou daquela fase. Em cada fase todas se relacionam entre si e o
prejuízo ou deficit em uma tarefa pode comprometer outras no mesmo período ou em período
futuro.

Teorias do Envelhecimento Psicossocial

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Algumas teorias psicossociais tentam explicar o processo do envelhecimento e o impacto
social desse novo perfil populacional e a relação recíproca do impacto desta sociedade no idoso
pertencente a ela.

Eric Erikson – Teoria do Desenvolvimento

Erikson propõe uma conceção de desenvolvimento em oito estágios psicossociais,


perspetivados por sua vez em oito idades que decorrem desde o nascimento até à morte,
pertencendo as quatro primeiras ao período de bebé e de infância, e as três últimas aos anos
adultos e à velhice, cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial entre uma vertente
positiva e uma negativa.
Erikson dá especial importância ao período da adolescência, devido ao facto ser a
transição entre a infância e a idade adulta, em que se verificam acontecimentos relevantes para
a personalidade adulta.
Na Teoria Psicossocial do Desenvolvimento, este desenvolvimento evolui em oito estágios.
Os primeiros quatro estágios decorrem no período de bebé e da infância, e os últimos três
durante a idade adulta e a velhice.
Cada estágio contribui para a formação da personalidade total (princípio epigenético),
sendo por isso todos importantes mesmo depois de os atravessar. O núcleo de cada estágio é
uma crise básica, que existe não só durante aquele estágio específico, nesse será mais
proeminente, mas também nos posteriores a nível de consequências, tendo raízes prévias nos
anteriores.
A formação da identidade inicia-se nos primeiros quatro estágios, e o senso desta,
negociado na adolescência evolui e influencia os últimos três estágios. Erikson perspetivava o
desenvolvimento tendo em conta aspetos de cunho biológico, individual e social.
A teoria psicossocial em análise enfatizava o conceito de identidade, a qual se forma no 5º
estágio, e o de crise que sem possuir um sentido dramático está presente em todas as idades,
sendo a forma como é resolvida determinante para resolver na vida futura os conflitos.

Esquema de Desenvolvimento de Eric Erikson

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Durante o primeiro ano de vida a criança é
substancialmente dependente das pessoas que
cuidam dela, requerendo cuidado quanto à
alimentação, higiene, locomoção, aprendizagem de
Confiança X Desconfiança palavras e seus significados, bem como
(até um ano de idade) estimulação para perceber que existe um mundo
em movimento ao seu redor. O amadurecimento
ocorrerá de forma equilibrada se a criança sentir
que tem segurança e afeto, adquirindo confiança
nas pessoas e no mundo.
Neste período a criança passa a ter controle das
suas necessidades fisiológicas e responder por sua
higiene pessoal, o que lhe dá grande autonomia,
confiança e liberdade para tentar novas coisas sem
Autonomia X Vergonha e Dúvida medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou
(segundo e terceiro ano) ridicularizada desenvolverá vergonha e dúvida
quanto a sua capacidade de ser autónoma,
provocando uma volta ao estágio anterior, ou seja,
a dependência.
Durante este período a criança passa a perceber as
diferenças sexuais, os papéis desempenhados por
mulheres e homens na sua cultura (conflito
edipiano para Freud) entendendo de forma
Iniciativa X Culpa diferente o mundo que a cerca. Se a sua
(quarto e quinto ano) curiosidade “sexual” e intelectual, natural, for
reprimida e castigada poderá desenvolver
sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de
explorar novas situações ou de buscar novos
conhecimentos.
Construtividade X Inferioridade Neste período a criança está a frequentar a escola,
(dos 6 aos 11 anos) o que propicia o convívio com pessoas que não são
seus familiares, o que exigirá maior sociabilização,
trabalho em conjunto, cooperatividade, e outras
habilidades necessárias. Caso tenha dificuldades o

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próprio grupo irá criticá-la, passando a viver a
inferioridade em vez da construtividade.
O quinto estágio ganha contornos diferentes
devido à crise psicossocial que nele acontece, ou
Identidade X Confusão de Papéis seja, Identidade Versus Confusão. Neste contexto o
(dos 12 aos 18 anos) termo crise não possui uma aceção dramática, por
tratar-se de algo pontual e localizado com pólos
positivos e negativos.

Nesse momento o interesse, além de profissional,


gravita em torno da construção de relações
Intimidade X Isolamento
profundas e duradouras, podendo vivenciar
(jovem adulto)
momentos de grande intimidade e entrega afetiva.
Caso ocorra uma deceção a tendência será o
isolamento temporário ou duradouro.

Pode aparecer uma dedicação à sociedade à sua

Produtividade X Estagnação volta e realização de valiosas contribuições, ou

(meia idade) grande preocupação com o conforto físico e


material.

Se o envelhecimento ocorre com sentimento de


produtividade e valorização do que foi vivido, sem
arrependimentos e lamentações sobre
oportunidades perdidas ou erros cometidos haverá
Integridade X Desesperança
integridade e ganhos, do contrário, um sentimento
(velhice)
de tempo perdido e a impossibilidade de começar
de novo trará tristeza e desesperança.

Peck – Teoria do Desenvolvimento

Este autor acrescentou dimensões interessantes ao trabalho de Erikson. No período da


meia-idade, as tarefas que ele indicou foram:
- Aprender a valorizar a sabedoria ao invés dos poderes físicos;
- Aprender uma sociabilidade menos sexualizada;
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- Desenvolver a capacidade de transferir investimentos emocionais de uma pessoa para a
outra, ou de uma atividade para a outra;
- Manter a flexibilidade psicológica ao contrário de desenvolver uma rigidez mental.

Buhler – Teoria do Desenvolvimento

Buhler propôs que as pessoas desenvolvem através de sua vida útil, e que o
desenvolvimento idade (amadurecimento) é muito mais significativo do que psicologicamente
"idade mental" ou "quociente de inteligência". Segundo ela, é essencialmente saudável que as
pessoas enfrentem desafios de forma contínua ao longo da vida. Eles tentam integrar quatro tendências
básicas, que incluem:

- Precisa de uma satisfação (por amor, sexo, ego e reconhecimento);


- Fazendo auto-limitante adaptações (por encaixar, pertencer, e permanecendo seguro);
- Movendo em direção à expansão criativa (através da auto-expressão e realizações
criativas);
- Defender e restaurar a ordem interna (por ser fiel à própria consciência e valores).

Estabelece, então, a diferença entre as vidas baseadas apenas na Vitalidade e na Mentalidade.

Do jovem adulto à meia-idade

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O início da idade adulta varia de um indivíduo para o outro e uma passagem adequada
para essa fase depende da resolução satisfatória das crises da infância e da adolescência. É um
período de grandes mudanças, no qual a pessoa adquire total maturidade e apresenta o
máximo do seu potencial para a satisfação pessoal. A pessoa deve ser capaz de mudar sempre
para atender às exigências das situações.

Jovem Adulto (de 20 a 40 anos) - PRINCIPAIS DESENVOLVIMENTOS


- Saúde física atinge o máximo, depois cai ligeiramente.
- Habilidades cognitivas assumem maior complexidade.
- Decisões sobre relacionamentos íntimos são tomadas.
- A maioria das pessoas se casa; a maioria tem filhos.
- Escolhas profissionais são feitas.

Meia- idade (de 40 a 65 anos) - PRINCIPAIS DESENVOLVIMENTOS


- Ocorre certa deterioração da saúde física, e declínio da resistência e perícia.
- Mulheres entram na menopausa.
- Sabedoria e capacidade de resolução de problemas práticos são acentuadas; capacidade
de resolver novos problemas declina.
- Senso de identidade continua a desenvolver-se.
- Dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e pais idosos pode causar stress.
- Partida dos filhos tipicamente deixa o ninho vazio.
- Para alguns, sucesso na carreira e ganhos atingem o máximo; para outros ocorre um
esgotamento profissional.
- Busca do sentido da vida assume importância fundamental.
- Para alguns, pode ocorrer a crise da meia-idade.

Terceira idade (de 65 anos em diante) - PRINCIPAIS DESENVOLVIMENTOS


- A maioria das pessoas é saudável e ativa, embora a saúde e a capacidade física declinem
um pouco.
- Retardamento do tempo de reação afecta muitos aspectos do funcionamento.
- A maioria das pessoas é mentalmente ativa. Embora a inteligência e a memória possam
se deteriorar em algumas áreas, a maioria das pessoas encontra modos de compensação.
- Aposentadoria pode criar mais tempo para o lazer mas pode diminuir os rendimentos.

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- As pessoas precisam enfrentar perdas em muitas áreas (perdas de suas próprias
faculdades, perda de afetos) e a iminência de sua própria morte.

● Casamento e seus ajustamentos: O relacionamento conjugal está associado à saúde e à


qualidade de vida, principalmente nos anos de maturidade e velhice, embora o facto de um
casamento durar não significa necessariamente que o mesmo é satisfatório para os conjugues.

● Carreira profissional e seus ajustamentos: há um declínio após os 65 anos de idade,


pois envolve as tarefas de desaceleração, planeamento para a reforma e a criação de um novo
modo de vida na condição de reformado.

● Família e seus ajustamentos: na sociedade contemporânea, desconsiderando, os casos


verdadeiros de negligência, considera-se que a família tem poucas condições de dar conta da
situação complexa da velhice, pelos seguintes motivos:
> O seu tamanho diminui consideravelmente e, assim, as suas funções/capacidade
também;
> O grande número de filhos e netos servia de garantia e amparo aos mais velhos no
futuro;
> Parte da responsabilidade pelo idoso foi transferida ao Estado;
> Os avanços tecnológicos a nível da medicina (saúde), levou a que somente
pudesse ser operada em locais próprios e por especialistas e não em ambiente familiar.

A meia-idade e as tarefas evolutivas

A meia-idade é uma fase do ciclo vital que se estende, aproximadamente, dos 40 aos 60
anos. A princípio, a meia-idade é um período caracterizado por um movimento interno da
pessoa para resumir e reavaliar a própria vida. Mesmo que esses “movimentos” não conduzam
a qualquer mudança efetiva. Essa auto-avaliação não se refere apenas à busca por metas, mas
também às satisfações interiores. Considerações em torno do que a pessoa conseguiu, e se

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essas conquistas estão de acordo com os sonhos e as ideias anteriormente alimentadas tornam-
se, então, ponto principal nessa etapa da vida.
As décadas que constituem a meia-idade podem vir a confirmar, ou não, os progressos
profissionais, a estabilização das relações afetivas de modo geral e especialmente a conjugal.
Similarmente, o indivíduo é levado a fazer considerações a respeito das conquistas impetradas
na esfera cívica e socioeconómica da vida.
Por tudo isso é que pode-se dizer que é a:
- Aceitação do corpo que envelhece;
- Aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal;
- Manutenção da intimidade;
- Reavaliação dos relacionamentos;
- Relacionamentos com os filhos: deixar ir, atingir igualdade, integrar novos membros;
- Relação com seus pais: inversão de papéis, morte e individuação;
- Exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor;
- Preparação para a velhice.

Aspetos estruturais e funcionais da velhice

As teorias que abrangem o desenvolvimento adulto pressupõem que há regularidades no


ciclo da vida, onde se processam mudanças e que se tratam de adaptações cumulativas a
eventos biológicos, psicológicos e sociais (Erbolato, 2001). Porém, sabemos que as pessoas não
envelhecem todas da mesma maneira. A par dos fatores genéticos que determinam muito do
processo, há que realçar que não é igual envelhecer no feminino ou no masculino, sozinho ou
no seio da família, casado, solteiro, viúvo ou divorciado, com filhos ou sem filhos, no meio

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urbano ou no meio rural, na faixa do mar ou na intelectualidade das profissões culturais, no seu país
de origem ou no estrangeiro, activo ou inactivo (Ministério da Saúde, 1998).
O envelhecimento diferencial envolve preferencialmente os órgãos efetores e resulta de
processos intrínsecos que se manifestam a nível dos órgãos, tecidos e células:
- Assim, a pele envelhece mais rapidamente que o fígado.
- As complicações vasculares afectarão o sistema cardíaco principalmente.
- A arteriosclerose acumulada por má alimentação, pelo stress e contaminação
bacteriana, poderá ocorrer mais cedo ou mais tarde, de acordo com hábitos prevalecentes e
resistência orgânica.

Seja qual for o mecanismo e o tempo de envelhecimento celular, este não atinge
simultaneamente todas as células e, consequentemente, todos os tecidos, órgãos e sistemas.
Cada sistema tem o seu tempo de envelhecimento, mas sem a interferência dos fatores
ambientais há alterações que se dão mais cedo e se tornam mais evidentes quando o
organismo é agredido pela doença.
Diz Ermida (1999), que a "diminuição de função renal em cerca de 50% aos 80 anos -
condiciona a farmacoterapia dos idosos", "as alterações orgânicas a nível das mucosas
digestivas, são determinante frequente de problemas nutricionais"; "as alterações a nível de
arquitectura dos ossos, a dismetabolia cálcica, propiciam fracturas frequentes"; a "diminuição
da água intracelular (perda de 10 a 15% aos 80 anos) torna o idoso extremamente sensível aos
desequilíbrios hidroelectrolíticos"; e o "aumento da massa gorda favorece a obesidade com
todo o seu cortejo de consequências".
A nível do sistema nervoso, existe fundamentalmente perda de neurónios substituídos por
tecido glial, a diminuição do débito sanguíneo, com consequente diminuição da extração da
glicose e do transporte do oxigénio e a diminuição de neuromodeladores que condicionam
processos mentais, alterações da memória, da atenção, da concentração, da inteligência e
pensamento.
Para além de tudo isto, temos ainda a considerar as diminuições orgânicas e funcionais,
que originam significativas alterações na forma e na composição corporal com o decorrer dos
anos. Talvez as condições mais relevantes a ter em consideração para a sobrevivência do idoso e
para a sua qualidade de vida sejam, no entanto, a diminuição da sua reserva fisiológica e a
consequente dificuldade na reposição do seu equilíbrio homeostático quando alterado.

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As modificações fisiológicas que se produzem no decurso do envelhecimento resultam de
interações complexas entre os vários fatores intrínsecos e extrínsecos e manifestam-se através
de mudanças estruturais e funcionais que se encontram sintetizadas no quadro 1.

Quadro 1 - Modificações fisiológicas do envelhecimento

ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS ALTERAÇÕES FUNCIONAIS


Sistema cardiovascular
Células e tecidos Sistema respiratório
Composição global do corpo e Sistema renal e urinário
peso corporal
Músculos ossos e articulações Sistema gastrointestinal
Pele e tecidos subcutâneos Sistema nervoso e sensorial
Tegumentos Sistema endócrino e metabólico
Sistema imunitário
Ritmos biológicos e sono
Fonte: Pessoas Idosas: uma abordagem global (Berger e Poirier, 1995).

2) Velhice – Aspectos Sociais

A velhice e a sociedade

Em muitas culturas e civilizações, a velhice é vista com respeito e veneração: representa a


experiência, o valioso saber acumulado ao longo dos anos, a prudência e a reflexão. A
sociedade urbana moderna transformou essa condição, pois a atividade e o ritmo acelerado da
vida marginalizam aqueles que não os acompanham.

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Velhice é o último período da evolução natural da vida. Implica um conjunto de situações
-- biológicas e fisiológicas, mas também psicológicas, sociais, económicas e políticas -- que
compõem o quotidiano das pessoas que vivem nessa fase.

Não há uma idade universalmente aceite como o limiar da velhice.

As opiniões divergem de acordo com a classe socioeconómica e o nível cultural, e mesmo


entre os estudiosos não há consenso. Para efeitos estatísticos e administrativos, a idade em que
se chega à velhice costuma ser fixada em 65 anos em diversos países, após o que se encerra a
fase economicamente da pessoa, com a reforma. Atualmente, nas nações mais desenvolvidas,
esse limite não parece absolutamente adequado do ponto de vista biológico, pelo que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou-o para 75 anos.
Para compreender tal transformação, é preciso ter em conta o aumento progressivo da
longevidade -- e, portanto, da expectativa de vida -- que se produziu nas últimas décadas do
século XX, facto sem precedentes na história. O fenómeno deve-se aos avanços na área de
saúde pública e da medicina em geral, e à melhoria das condições de vida nos seus mais
variados aspetos. Por isso, é cada vez maior o número de pessoas que ultrapassam a idade de
67 anos de idade e, mais que isso, que atingem essa idades em boas condições físicas e mentais.

Velhice e envelhecimento: conceitos e análise

Desde o nascimento a vida desenvolve-se de tal forma que a idade cronológica passa a
definir-se pelo tempo que avança. E o tempo fica definido como uma sinonímia para uma
eternidade quantificada, ou seja, uma cota. Desta forma, o homem e o tempo influenciam-se
mutuamente, produzindo profundas mudanças nas subjetividades e diferentes representações
que lhe permitem lidar com a questão temporal (Goldfarb, 1998).
As limitações corporais e a consciência da temporalidade passam a ser problemáticas
fundamentais no processo do envelhecimento humano, e aparecem de forma reiterada no
discurso dos idosos, embora possam adquirir diferentes mudanças e intensidades dependendo
da sua situação social e da própria estrutura psíquica (Goldfarb, 1998). Corpo e tempo
entrecruzam-se no devir do envelhecimento, e como consequência disso, nascerão as diversas
velhices e suas consequentes múltiplas representações. Entretanto, se cada pessoa tem a sua

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velhice singular, as velhices passam a ser incontáveis e a definição do próprio termo torna-se
um impasse.

Afinal, uma pessoa é tão velha, tendo como referencial algum tipo de declínio
orgânico, ou são as maneiras pelas quais as outras pessoas passam a encará-las que as
confinam num reduto denominado Terceira Idade?
E quando uma pessoa se torna velha?
Há uma idade ou um intervalo específico para a Terceira Idade?

Não é preciso ir muito longe para constatar que o que se percebe, então, é a
impossibilidade de se estabelecer uma definição ampla e aceitável em relação ao
envelhecimento (Veras, 1994). Percebe-se actualmente que os nossos referenciais sobre a
terceira idade e tudo o que se supunha saber é insuficiente para definir o que se actualmente
concebe como terceira idade/envelhecimento/velhice.
A característica principal da velhice é o declínio, geralmente físico, que leva as alterações
sociais e psicológicas. Os teóricos classificam tal declínio de duas maneiras: a senescência e a
senilidade.

- A senescência é um fenómeno fisiológico e universal, arbitrariamente identificada pela


idade cronológica, pode ser considerada um envelhecimento sadio, onde o declínio físico e
mental é lento, e compensado, de certa forma, pelo organismo (Pikunas, 1979).
- A senilidade caracteriza-se pelo declínio físico associado à desorganização mental
(Pikunas, 1979). Curiosamente, a senilidade não é exclusiva da idade avançada, mas pode
ocorrer prematuramente, pois, identifica-se com uma perda considerável do funcionamento
físico e cognitivo, observável pelas alterações na coordenação motora, a alta irritabilidade, além
de uma considerável perda de memória.

Atitudes, mitos e estereótipos ligados à velhice

Tópicos, ditos, frases feitas, etiquetas verbais ou adjectivações a respeito de pessoas e


grupos, são alusões que frequentemente encontramos, quer nas conversas diárias da rua, quer
nos meios de comunicação social. O mundo social e humano, dificilmente se nos apresenta, na
18
sua crua realidade objetiva e objetual, sem possuir adjetivações (frequentemente
estereotipadas), porque o estereótipo é precisamente uma perceção extremamente
simplificada e geralmente com ausência de matrizes. Na medida em que o conhecimento
humano não é capaz de ser sempre complexo, flexível e crítico podemos dizer que tendemos a
cair no estereótipo (Castro, et al, 1999).
Os estereótipos mais estudados atualmente são os que se referem a grupos étnicos, no
entanto existem estereótipos em todos os domínios da vida social: relativos a ambos os sexos, às
ocupações, ao ciclo vital, à família, à classe social, ao estado civil, aos desvios sociais e a qualquer campo
da vida que desejamos diferenciar.
Estudos recentes sobre o sóciocognitivismo, reafirmam o papel crucial dos estereótipos na
perceção de outros seres humanos, havendo mesmo quem defenda (Bondehausen & Wyer,
1973) que as pessoas utilizam prioritariamente os estereótipos para interpretar a informação
complexa sobre indivíduos e grupos, buscando outras interpretações apenas, quando os
estereótipos não oferecem explicações suficientes.
O estereótipo é “representação social sobre os traços típicos de um grupo, categoria ou
classe social” (Ayesteran e Pãez, 1987) e caracteriza-se por ser um modelo lógico para resolver
uma contradição da vida quotidiana, e serve sobretudo para dominar o real. No entanto,
também contribui para o não reconhecimento da unicidade do indivíduo, a não reciprocidade, a
não duplicidade, o despotismo em determinadas situações.
A literatura científica sobre os estereótipos é prolixa, pelo facto de se tratar de um
conceito multi-unívoco – construtor categorial, generalizador, estável e definidor de um grupo
social. Contudo, existem múltiplos defensores dos quais destacamos Walter.
Lippmann (cit. por Castro et al, 1999) que entende os estereótipos como pré-conceções
rígidas, mais ou menos falsas e irracionais.
Socialmente, e no caso dos idosos, a valorização dos estereótipos projeta sobre a velhice
uma representação social gerontofóbica e contribui para a imagem que estes têm se si próprios,
bem como das condições e circunstâncias que envolvem a velhice, pela perturbação que
causam uma vez que negam o processo de desenvolvimento.
O “Ancianismo” como conceito gerontológico, define-se como o “processo de estereotipia
e de discriminação sistemática, contra as pessoas porque são velhas” (Staab e Hodges, 1998).
Este problema surge, quando o fenómeno de envelhecer é considerado prejudicial, de
menor utilidade ou associado à incapacidade funcional. A rejeição e rotulagem de um grupo,
em particular de indivíduos, desenvolve-se porque as características individuais com traços

19
negativos, são atribuídos a todos os indivíduos desse grupo. Assim, a palavra “velhot” descreve
os sentimentos ou preconceitos resultantes de micro-conceções e dos “mitos” acerca dos
idosos. Os preconceitos envolvem geralmente crenças, de que o envelhecimento torna as
pessoas senis, inativas, fracas e inúteis (Nogueira, 1996).
No “mundo civilizado” de hoje, a velhice é tida como uma doença incurável, como um
declínio inevitável, que está votado ao fracasso. Esta postura social atingiu tal dimensão, que
Louise Berger (1995) chega mesmo a afirmar, que abundam hoje “ideias feitas e preconceitos
relativamente à velhice”. Os “velhos” de hoje, os “gastos”, os “enrugados” cometeram a asneira
de envelhecer numa cultura que deifica a juventude.
De facto, as atitudes negativas face aos idosos existem em todos os níveis sociais:
intervenientes, beneficiários, governantes etc. Assim, perante esta diversidade de conceitos
somos levados a questionar o que se entende por mitos, estereótipos, crenças e atitudes?
No sentido de clarificar e uniformizar estas questões e baseados nos pressupostos
teóricos defendidos por Berger, 1995; Santos, 1995; Nogueira, 1996 e Dinis, 1997; Castro et al,
1999, passaremos a apresentar as seguintes conceptualizações.
Atitude é um conjunto de juízos que se desenvolvem a partir das nossas experiências e da
informação que possuímos das pessoas ou grupos. Pode ser favorável ou desfavorável, e
embora não seja uma intenção pode influenciar comportamentos.
Crença é um conjunto de informações sobre um assunto ou pessoas, determinante das
nossas intenções e comportamentos, formando-se a partir das informações que recebemos. Por
exemplo: a “ideia” de que todos os idosos são sensatos e dóceis e nunca se zangam.
Estereótipo é uma imagem mental muito simplificada de alguma categoria de pessoas,
instituições ou acontecimentos que é partilhada, nas suas características essenciais por um
grande número de pessoas (Castro, 1999); dito de outra forma é um “chavão”, uma opinião
feita, uma fórmula banal desprovida de qualquer originalidade, ou seja é uma “generalização” e
simplificação de crenças acerca de um grupo de pessoas ou de objectos, podendo ser de
natureza positiva ou negativa.

O estereótipo positivo, é aquele em que se atribuem características positivas a todos os


objetos ou pessoas de uma categoria particular, por exemplo, “todos os idosos são prudente”.
Contrariamente, um estereótipo negativo, atribui características negativas a todos os
objetos ou pessoas de uma determinada categoria, de que é exemplo “todos os idosos são
senis”.

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Um estudo realizado na Université de Montreal por Champagne e Frennet (cit. por DINIS,
1997), permitiu identificar catorze estereótipos como os mais frequentes relativos aos idosos e
que passamos a descrever:
* Os idosos não são sociáveis e não gostam de se reunir;
* Divertem-se e gostam de rir;
* Temem o futuro;
* Gostam de jogar às cartas e outros jogos;
* Gostam de conversar e contar as suas recordações;
* Gostam do apoio dos filhos;
* São pessoas doentes que tomam muita medicação;
* Fazem raciocínios senis;
* Não se preocupam com a sua aparência;
* São muito religiosos e praticantes;
* São muito sensíveis e inseguros;
* Não se interessam pela sexualidade;
* São frágeis para fazer exercício físico;
* São na grande maioria pobres.
A análise destes resultados permite-nos observar que a maioria destes estereótipos está
ligada não a características específicas do envelhecimento, mas sim a traços da personalidade e
a fatores socioeconómicos. E, se por um lado, a formação de estereótipos simplifica a realidade,
por outro, hiper-simplificam-na, levando muitas vezes a uma ignorância acerca das
características, minimizando as diferenças individuais entre os membros de um determinado
grupo. É disso, exemplo, o estereótipo de que “todos os idosos são solitários”. Este, não tem em
consideração os idosos que têm uma vida social ativa. Ainda com base neste estereótipo, os idosos
ativos socialmente, são considerados, muitas vezes, como tendo um comportamento social atípico, pelo
que se enquadram numa exceção.

De facto, o mito é “uma construção do espírito que não se baseia na realidade” e por isso
constitui uma representação simbólica. Pode ser também um conjunto de expressões feitas ou
eufemismos, que mantemos relativamente aos idosos, por exemplo: “ela tem um ar jovem para
a idade”, “idade de ouro”, etc…
Numa análise mais profunda percebemos que os mitos escondem muitas vezes uma certa
hostilidade e quando utilizados em excesso, impedem o estabelecimento de contactos
verdadeiros com os idosos.

21
O que importa realçar neste estudo acerca dos “mitos” e dos “estereótipos” é o facto de
estes estarem muitas vezes ligados ao desconhecimento do processo de envelhecimento, e
poderem influenciar a forma como os indivíduos interagem com a pessoa idosa.
Por outro lado são causa de enorme perturbação nos idosos, uma vez que negam o seu
processo de crescimento e os impedem de reconhecer as suas potencialidades, de procurar
soluções precisas para os seus problemas e de encontrar medidas adequadas.
O termo “terceira idade”, por exemplo, é um rótulo socioeconómico que permite muitas
vezes que o Homem entre nela pela porta da psicopatologia, que é a ciência que se ocupa da
relação perturbada (Gyll, 1998). Estas imagens mentais simplificadas e estereotipadas sobre os
idosos são usadas e compartilhadas atualmente em todos os níveis e grupos sociais.
Esta visão global e generalizada, que caracteriza os estereótipos gerontológicos pouco
críticos e frequentemente carentes de objetividade, distorce a realidade. Investigações diversas
sobre esta temática têm demonstrado que a distorção causada pelos estereótipos “cegam” os
indivíduos, impedindo-os de se precaverem das diferenças que existem entre os vários
membros, não lhe reconhecendo deste modo qualquer virtude, objeto ou qualidade.
Nesta perspetiva os estereótipos tornam-se inevitavelmente elementos impeditivos na
procura de soluções precisas e de medidas adequadas, tornando-se urgente o combate a estas
representações sociais gerontofóbicas e de caráter discriminatório, levando os cidadãos a
adotar medidas e comportamentos adequado face aos idosos.

Representações da morte

A velhice é uma etapa da evolução humana. Nascer, crescer, desenvolver e morrer são
processos naturais que fazem parte do ser humano. Entretanto, há outros fatores que
contribuem para a compreensão do homem e de sua existência.
A complexidade da existência humana pode ser vista por diversas vertentes, por diversos
olhares e saberes. É comum que algumas ciências, mantenham uma visão de homem
dicotomizada, uma visão que se afunila apenas naquela característica específica sem perceber o
indivíduo como um todo, como um ser integral, um ser que é sim biológico, mas também é um
ser psicológico, é um ser social.
A velhice, na história, sempre ocupou dois papéis antagónicos, ou representações sociais:
ou referia-se à imagem do fim, da morte, do mal e da perda, ou da sabedoria, do conhecimento
e do respeito. No entanto, trata-se de um facto natural da vida, tão certo quanto o fim, ao qual
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todos estamos “destinados”. Se, como dizem os matemáticos, a soma dos fatores não altera o
resultado do produto, assim também a meia-idade e a velhice, vividas por cada indivíduo, com
sua singularidade, são a premissa do fim que se aproxima e que é inevitável a todos – a morte.
“Esse estado primordial de desamparo desempenha um papel decisivo na estruturação do
psiquismo, que se constitui fundamentalmente na relação com o Outro, ou seja, o ser humano
só sobrevive porque o Outro o deseja. Essa é a origem da necessidade de ser amado e cuidado,
perpetuada no ser humano até sua morte”.
Envelhecer por si só já é um processo que implica em perdas que tornam o ser idoso
estigmatizado em total dependência e velada incompetência de decidir suas próprias coisas. O
amparo e olhar para esses idosos tornam-se essenciais. A velhice traz consigo, então, a
perspetiva de morte.

Problemas sociais da velhice

O envelhecimento demográfico das populações é um fenómeno irreversível das nossas


sociedades modernas. Os impactos que se têm vindo a fazer sentir, entre os quais sobressai a
sustentabilidade financeira dos sistemas de reformas, interferem nos equilíbrios individuais e
coletivos, relativos às idades da vida e ao ciclo de vida ternário. Velhos e reformados são agora
duas categorias sociais, dois conceitos que tendem a demarcar-se. A velhice surge então
associada às dificuldades decorrentes da aquisição gradual de incapacidades. A família, as
solidariedades intergeracionais e as políticas sociais debatem-se com este desafio, procurando
encontrar as melhores soluções e as respostas mais adequadas à diversidade dos problemas.
Nos dias que correm é impreterível refletir, de modo mais insistente, sobre os impactos do
envelhecimento demográfico das populações e sobre as profundas mudanças que,
simultaneamente, têm vindo a ocorrer nas sociedades industriais modernas, como é a nossa.
Estas têm sido de tal forma rápidas e, em muitos casos, inesperadas, que necessitamos de
permanente pesquisa e discussão. O debate — profícua fonte de inspiração — é, neste caso,
essencial, na medida em que estudiosos e políticos se confrontam, muitas vezes, com diferentes
modos de explicação do mundo. Os primeiros procuram interpretar os factos a partir de causas
gerais sem nunca se misturarem com os assuntos em questão. Os segundos, que vivem por
entre o descosido dos factos jornalísticos e a parcialidade dos acontecimentos em que estão
envolvidos, tendem, geralmente, a reduzir a explicação global à singularidade da parcela do
23
conhecimento que detêm. A definição de políticas de velhice, a partir de uma formulação mais
rigorosa e objetiva dos problemas do envelhecimento e da análise exaustiva da diversidade de
realidades sociais, poderá proporcionar as correções necessárias para que as futuras gerações
de idosos possam vir a viver melhor do que as que as antecederam.
O problema social que representa a velhice nas sociedades modernas é um exemplo
paradigmático da forma como certas perspetivas, científicas e não científicas, podem contribuir
para o deformar através da difusão de ideias e representações já construídas do que é a velhice.
As "pessoas idosas" — enquanto estereótipo socialmente produzido e facilmente reconhecível
— enquadram uma categoria de indivíduos, cujas propriedades, relativamente homogéneas,
são normalmente identificadas com isolamento, solidão, doença, pobreza e mesmo exclusão
social. Nesta perspetiva comum, as pessoas idosas são consideradas como indivíduos isolados,
permanecendo oculta a dimensão familiar da identidade, da existência. A lógica repousa na
perceção da pessoa idosa enquanto agente de ação social apartado dos laços sociais inerentes à
instituição familiar a que pertence e no quadro das relações tradicionais de amizade e de
vizinhança. Esta avaliação, que decorre da posição que os agentes sociais ocupam relativamente
às situações problemáticas — porque existem situações problemáticas de isolamento, solidão,
doença e carências afetivas e materiais —, impõe-se com maior visibilidade social e, desse
modo, adquire as condições para se apresentar como propriedade comum e dominante da
categoria dos indivíduos denominados idosos.
Um tal processo representou uma verdadeira revolução demográfica com efeitos no
equilíbrio proporcional dos grupos etários. A tendência, que se tem manifestado de forma
crescente, é para um desequilíbrio considerável entre as gerações, ou seja, o aumento dos mais
velhos é relativamente empolado pela redução dos mais novos, contribuindo, desse modo, para o
agravamento do desequilíbrio intergeracional.

Ao longo deste século fomos passando de um sistema demográfico tradicional para um


sistema demográfico moderno, período ao longo do qual a mortalidade desceu a níveis nunca
antes registados e o declínio da fecundidade ultrapassa já os cenários mais pessimistas das
projeções demográficas. O excessivo declínio da fecundidade, que ocorre em alguns países
europeus — os países de sul da Europa, Alemanha e Áustria —, é preocupante em relação ao
equilíbrio futuro das gerações. Há casos, como o da população italiana e espanhola, onde a
fecundidade desceu para, aproximadamente, uma criança por mulher, ou seja, metade do
necessário à renovação das gerações. A redução crescente dos nascimentos equivale à redução
das proporções de jovens, enquanto o aumento relativo dos restantes grupos etários irá, a
24
médio prazo, afetar de novo o equilíbrio intergeracional pela correspondente redução dos
jovens adultos e dos adultos ativos. Este segundo impacto do declínio da fecundidade, ao
contrário do primeiro, que proporcionou a redução dos encargos públicos com a educação,
interfere directamente nos fluxos das quotizações da população que contribui para o sistema.
São mais inativos a receber e menos ativos a quotizar-se, estes tendo que contribuir com uma
parcela maior dos seus rendimentos para garantir o funcionamento do sistema.
Estamos perante transformações estruturais que, quando associadas às mudanças de
comportamento face à nupcialidade e à família, conduzem a configurações familiares bem
distintas das que encontramos no passado. As trajetórias de vida mais longas e as perturbações
das idades da vida afetam não só as consciências individuais como o modo como os indivíduos
se relacionam na teia das relações estritas do seio familiar. As idades e os ciclos de vida sofrem
perturbações que põem em causa o nosso conhecimento construído e a forma como ele
interfere nas estratégias individuais e coletivas face à velhice e ao envelhecimento.
No cenário de envelhecimento futuro, é importante que as instâncias produtoras de
políticas sociais se preparem para as transformações que começaram a ter lugar. Os apoios de
tipo social que têm marcado as políticas na maior parte dos países em que foram
implementadas, como os centros de dia e os apoios domiciliários, poderão deixar de ser a
orientação essencial das políticas nas futuras gerações de idosos. A velhice dependente vai ser o
grande desafio já no início do milénio. Em contrapartida, as próximas gerações virão mais bem
munidas para responder às dificuldades materiais e culturais, com maior sentido de autonomia
e uma mais poderosa consciência de cidadania, promotora de maior capacidade de resolução
dos problemas individuais e mesmo coletivos.
As políticas sociais vão ainda deparar-se com as dificuldades de gestão social do não
trabalho, transferindo para outras áreas alguns dos problemas que eram atribuídos apenas aos
idosos.

A pessoa idosa no final do século XX

Foi sobretudo a partir da segunda metade do século XX que emergiu um novo fenómeno
nas sociedades desenvolvidas − o envelhecimento demográfico, ou seja, o aumento significativo
do número de pessoas idosas. Com isto, surgiu a necessidade, a nível internacional, de

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caracterizar o fenómeno, de repensar o papel e o valor da pessoa idosa, os seus direitos e as
responsabilidades do Estado e da sociedade para com este grupo específico da população.
Como disse Kofi Anam (2002): “A expansão do envelhecer não é um problema. É sim uma
das maiores conquistas da humanidade. O que é necessário é traçarem-se políticas ajustadas
para envelhecer são, autónomo, ativo e plenamente integrado. A não se fazerem reformas
radicais, teremos em mãos uma bomba relógio a explodir em qualquer altura”.
No final do século XX e início do século XXI a sociedade mundial depara-se com uma
configuração sócio-etária: o envelhecimento populacional. A ONU estipulou de 1975 – 2025
como a Era do Envelhecimento (50 anos). A velhice tem sempre acompanhado a humanidade
como uma etapa inevitável de decadência e declinação. A palavra velhice é carregada de
significados como inquietude, fragilidade, angústia. O envelhecimento é um processo que está
rodeado de muitas conceções falsas, temores, crenças e mitos. A imagem que se tem da velhice
mediante diversas fontes históricas, varia de cultura em cultura, de tempo em tempo e de lugar
em lugar. Esta imagem reafirma que não existe uma conceção única ou definitiva da velhice mas
sim conceções incertas, opostas e variadas através da história.
O pensamento científico que caracterizou os séculos XVI e XVII introduziu novas formas de
pensar que enfatizavam a observação, experimentação e verificação, podendo-se então,
descobrir as causas da velhice mediante um estudo sintomático. Ainda assim prevalecia a
ambivalência em relação à velhice.
Durante os séculos XVII e XVIII foram feitos muitos avanços no campo da fisiologia,
anatomia, patologia. As transformações que ocorreram na Europa nos séculos XVIII e XIX
refletiram numa mudança na população anciã. O número de pessoas em idade avançada
aumentou e os avanços da ciência permitiram descartar vários mitos acerca da velhice.
Contudo, a situação dos velhos não melhorou. O surgimento da Revolução Industrial e do
urbanismo foram derradeiros para os anciões que, sem poder trabalhar, foram reduzidos à
miséria.
No final do século XIX os avanços da medicina propiciaram a divisão de velhice e
enfermidade e nos finais do Século XX surgem a Gerontologia e a Geriatria como disciplinas
formais. O que se percebe são ciclos que ocorrem ao longo da história. Períodos em que os
idosos são valorizados são seguidos por crises entre jovens e velhos e posterior desvalorização
do ancião. Hoje, para uma parcela economicamente ativa da população idosa, existe um
movimento de valorização, pois esta população está impulsionando mercados como o de
turismo e serviços para a terceira idade.

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Os meios de comunicação, da forma como estão hoje inseridos em nossa vida, também
têm um papel importante na construção desta terceira idade. A televisão e o cinema,
particularmente, possuem um grande potencial para influenciar nos conceitos acerca da
velhice. As parcelas da população mais influenciáveis são as crianças e jovens. Estes meios
funcionam como um espelho da sociedade e contribuem para estabelecer ou validar modelos
de comportamento. Porém o número de pessoas idosas que aparecem nos programas ou filmes
não corresponde a realidade encontrada na sociedade. Neste caso a mensagem que pode estar
sendo passada é de que o velho não é importante. Os estereótipos negativos também são
muito explorados.
No início da década de 90 ocorreu uma leve mudança na visão negativa da velhice em
programas e filmes como “Assassinato por escrito”, “Cocoon” e “Conduzindo miss Daisy” e o
surgimento de idosos como mercado consumidor pode ainda alterar mais este quadro. A
imagem passada pelos meios de comunicação afeta também a auto-estima dos idosos. A
validação social é crucial para o desenvolvimento de todas as pessoas e os anciões não são
diferentes. É, então, necessária uma consciencialização da importância desses meios na
constituição da velhice. Assim podemos começar a mudar a visão que nossa sociedade possui
do que é ser velho hoje em dia.

3) Velhice – Socialização e Papéis Sociais

Aspetos sociais da velhice

O novo perfil do idoso, acrescido a um número cada vez maior de cidadãos da terceira
idade, forçosamente implica numa atenção mais dedicada a esta categoria; seja por parte do
governo, ou da sociedade, como um todo. Esse novo perfil, do idoso com vida ativa, social,
financeira, política e até amorosa, necessariamente altera as relações familiares e profissionais.
Essa nova atitude diante da vida e da sociedade implica também em alterações das políticas
económicas, sociais e de saúde, para oferecer uma vida digna, a esta categoria emergente, que
já deu sua contribuição ao longo de toda a vida.
Apesar do evidente crescimento da população idosa, e das transformações sociais dele
decorrentes, a discussão sobre o envelhecimento dá-se num contexto em que a diversidade de
conceitos para explicar quem é o idoso e como se caracteriza o processo de envelhecer, ainda
está longe de diminuir.

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É possível afirmar que o envelhecimento não é igual para todos, e, para além da idade,
depende das condições objetivas de vida em fases anteriores do ciclo vital, do acesso aos bens e
serviços, bem como da cobertura da rede de e atendimento social. Os estudos sobre a velhice e
o processo de envelhecimento abarcam as diversas possibilidades de pensar o lugar social
ocupado pelo idoso na realidade mundial. A velhice tem sido tratada como um mal necessário,
da qual a humanidade não tem como escapar. Por esse princípio, o idoso também é tratado
como um mal necessário, como alguém que já cumpriu a sua função social: já trabalhou, já
cuidou da família, já contribuiu para educação dos filhos, restando a eles, somente, esperar pela
finitude da vida. O que se observa é que, com o avanço das pesquisas na área da saúde, e o
acesso da população idosa aos diversos serviços, a população, de um modo geral, chega aos 60
anos com possibilidade de viver mais (e com qualidade de vida) do que vivia há 20 anos atrás.
Veras (2003, p.8), adverte que “muito antes do que se imagina, teremos indivíduos se aposentando
perto dos 60 anos de idade e iniciando um novo ciclo de vida que perdurará por mais de 30 ou 40 anos”.
A velhice apresenta múltiplas faces, e não pode ser analisada desvinculada dos aspetos
socioeconómicos e culturais, pois as suas características extrapolam as evidentes alterações
físicas e fisiológicas individuais.
“A população idosa constitui-se como um grupo bastante diferenciado, entre si e em
relação aos demais grupos etários, tanto do ponto de vista das condições sociais, quanto dos
aspectos demográficos e epidemiológicos. Qualquer que seja o enfoque escolhido para estudar
este grupo populacional, são bastante expressivos os diferenciais por género, idade, renda,
situação conjugal, educação, actividade económica, etc. ” (VERAS, 2003, p. 8-9).

O envelhecimento populacional pressiona a sociedade a repensar a fase final da vida, a


entender o lugar social ocupado pelo idoso, como um sujeito que tem direitos e deveres
enquanto cidadão. A inclusão social é temática, bastante ampla e complexa. Relaciona-se à
questão da proteção social e do lugar social ocupado pela população em nosso país. Destaca-se
que vivemos numa sociedade onde os direitos sociais são identificados como favor, como tutela,
como um benefício e não prerrogativa para o estabelecimento de uma vida social digna e de
qualidade.
Mesmo estabelecidos em lei, a direção dada pelos responsáveis pela garantia dos direitos
nem sempre é direcionada para sua efetivação. O caminho da inclusão social corre em paralelo
à discussão do direito e da proteção social.

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Por proteção social entende-se por um conjunto de ações que visam prevenir riscos,
reduzir impatos que podem causar malefícios à vida das pessoas e, consequentemente, à vida
em sociedade. A exclusão social ocorre quando num determinado grupo da sociedade é de
alguma forma excluído dos seus direitos, ou ainda, tem seu acesso negado por ausência de
informação, por estar fora do mercado de trabalho, entre outras coisas. A inclusão, portanto,
significa fazer parte, se sentir pertencente, ser compreendido na sua condição da vida e
humanidade”. É sentir-se pertencente como pessoa humana, singular e ao mesmo tempo coletiva.
Inclusão e proteção social estão intrinsecamente relacionadas aos direitos sociais. Os
direitos estabelecidos no Estatuto do Idoso que indicam e fortalecem a inclusão social do idoso
são:
1º Direito à vida: viver com dignidade, com acesso aos bens e serviços socialmente
produzidos;
2º Direito à informação: ter conhecimento, trocar ideias, perguntar, questionar,
compreender. A informação caminha por dois níveis que se complementam: o primeiro refere-
se à vida quotidiana e o segundo refere-se à garantia dos direitos – como funcionam os serviços
prestados por meio da política social, como funciona a rede de atendimento social, a gestão
pública, como o poder público emprega o dinheiro na área do envelhecimento.
3º Direito à vida familiar, à convivência social e comunitária: receber apoio e apoiar a
família, preservar laços e vínculos familiares, trocar experiência de vida; receber suporte social,
psicológico e emocional.
4º Direito ao respeito: às diferenças, às limitações, ao modo de entender o mundo, ao
modo de viver neste mundo.
5º Direito à preservação da autonomia: ter preservada a capacidade de realizar algumas
tarefas sozinho ou com auxílio; ter preservada a privacidade; ter preservada a capacidade de
realizar as actividades de vida diária e de vida prática.
6º Direito de cessar serviços que garantam condições de vida: acesso aos serviços de
saúde, educação, moradia, lazer, entre outros.
7º Direito de participar, opinar e decidir sobre sua própria vida: conhecer e participar de
atividades recreativas e de convivência.

A gestão da velhice – que segundo Debert (1999, p. 13-14) por muito tempo foi
considerada como específica da esfera privada e familiar, da previdência individual, ou de
associações filantrópicas –, vem-se transformando numa questão pública, expressa na

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legislação específica para os idosos, que expressa (e ao mesmo tempo influencia) o surgimento
de uma nova categoria cultural: “os idosos, como um conjunto autónomo e coerente que impõe
outro recorte à geografia social, autorizando a colocação em prática de modos específicos de
gestão”.

O modo de vida das pessoas de idade

Envelhecer com saúde, autonomia e independência, o mais tempo possível, constitui


assim, hoje, um desafio à responsabilidade individual e coletiva, com tradução significativa no
desenvolvimento económico dos países.

Coloca-se, pois, a questão de pensar o


envelhecimento ao longo da vida, numa atitude mais preventiva e promotora da saúde e da
autonomia, de que a prática de atividade física moderada e regular, uma alimentação saudável,
o não fumar, o consumo moderado de álcool, a promoção dos fatores de segurança e a
manutenção da participação social são aspetos indissociáveis.
Do mesmo modo, importa reduzir as incapacidades, numa atitude de recuperação global
precoce e adequada às necessidades individuais e familiares, envolvendo a comunidade, numa
responsabilidade partilhada, potenciadora dos recursos existentes e dinamizadora de ações
cada vez mais próximas dos cidadãos.
Existe um mito de que a velhice seja uma etapa de restrições, privações e sofrimentos, o
que é uma inverdade, pois os idosos podem gozar de bem-estar e saúde até o final da vida, tudo
vai depender da forma como viveram e como cuidaram de si mesmos ao longo dela. As doenças
podem surgir em qualquer fase da vida, o que ocorre nesta fase são algumas limitações que, se
bem administradas, não impedem que o idoso tenha uma vida plena, saudável e feliz.

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A chegada na terceira idade traz consigo muitas perdas e mudanças!

Com a reforma ocorre a perda do trabalho, algo ao qual o idoso se dedicou boa parte da
sua vida; além disso, em muitos casos, também existe a diminuição do poder aquisitivo o que
gera mudanças no padrão de vida, nem sempre muito bem aceites; é comum nesta fase a perda
de amigos e parentes, o que leva o idoso a refletir sobre a chegada da sua própria morte;
surgem também as limitações físicas próprias da idade tais como dificuldades perceptivas,
sensoriais e de memória, além da lentidão dos movimentos, da diminuição da força muscular e
da coordenação motora; nesta fase da vida a própria sociedade, assim como a família, tendem a
segregar o idoso, vendo-o como uma pessoa improdutiva e sem valor. Estes fatores podem levar
o idoso a um quadro de apatia, de inatividade, de desinteresse e desânimo em geral.
É comum, nesta fase da vida, o aparecimento da depressão, o problema mais comum na
terceira idade. Surge em função do idoso não saber lidar ou encarar de forma positiva estas
mudanças que fazem parte da sua vida. A depressão significa, em última instância, sentir-se sem
saída diante de um determinado conflito, problema ou situação, o que pode gerar muito
sofrimento e dor. Pessoas com baixa auto-estima, que sempre vêem a si mesmas e o mundo
com pessimismo, que são facilmente sobrecarregadas pelo stress, que não aceitam envelhecer
e que não encaram a diminuição da vitalidade como algo inerente à idade são propensas a
apresentar depressão.
Perdas e mudanças fazem parte da vida, a morte vem para todos e chegar à terceira idade
é um fator que pode ser encarado tanto de forma positiva como negativa! Ao contrário de
encarar a realidade como algo má, assustadora ou com sofrimento, pode-se pensar no que fazer
para mudá-la ou, na impossibilidade da mudança, de que forma encarar e aceitar esta realidade
sem sofrimento, aceitando-as como um desafio, um fator de aprendizagem de convivência, de
respeito e de aceitação das próprias limitações.
Aceitar o envelhecimento com naturalidade é o caminho certo, procurando conviver bem
com as limitações e valorizando aquilo que faz parte exclusiva dos idosos: a larga experiência de
toda uma vida que jamais poderia ser deixada de lado e que deveria ser muito bem aproveitada
pelos jovens e pela sociedade de um modo geral.
Chegar à terceira idade não significa apenas o final da jornada de anos de trabalho e de
missão cumprida em relação à criação dos filhos, mas a entrada em um novo estilo de vida, algo
que pode ser muito bom porque permite a realização de desejos não satisfeitos ao longo da

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vida seja por causa do tempo dispendido no trabalho, seja porque haviam outros interesses à
frente.
É a fase da vida em que os idosos podem realmente dar-se ao "luxo" de exercerem
atividades que lhes tragam apenas prazer, alegria e satisfação, sem a cobrança de um
desempenho (como no trabalho) ou sem a responsabilidade de educar ou de exercer um bom
papel (é hora de serem simplesmente eles mesmos, serem avós e não mais pais zelosos com a
educação, sem precisar mais “dar o exemplo”).
Em geral, o idoso mora ou isolado ou com o seu cuidados informal. Estes, por si só, por
causa das suas próprias obrigações/atividades, não costumam dar a atenção necessária, muitas
vezes não dispondo do seu tempo para ouvir o idoso, o que o leva a sentir-se num plano
secundário: essa falta de atenção da família pode levar o idoso à diminuição de sua auto estima
e até à depressão, quando ele não tem atividades sociais que compensem esta falta de atenção
familiar: por isso é importante que o idoso tenha outras atividades extra-familiares que lhe
tragam prazer, mantendo ou criando novas amizades e contactos.
É importante que a atividade cerebral do idoso continue a ser estimulada com leituras ou
com quaisquer atividades que possam prender a sua atenção e, principalmente, manter o
contacto com pessoas queridas a maior parte do tempo. O ser humano é um ser social e o idoso
precisa conversar e, principalmente, ser ouvido! Pedir-lhe, simplesmente, que relate as suas
experiências passadas, que conte histórias da família, que fale sobre aquilo que gosta de falar
são maneiras de estimulá-lo e, mais do que isso, são atividades que lhe trazem muito prazer.
Os idosos adoram sentir-se úteis e ficam felizes em poder ajudar ou satisfazer um
desejo/necessidade de um parente ou conhecido! Eles jamais devem ser tratados como pessoas
inválidas, são pessoas que possuem mais limitações inerentes à idade! Portanto, deve-se
delegar a eles apenas tarefas que possam ser executadas sem sacrifícios (como cozinhar, se eles
gostarem, bordar, fazer um determinado conserto, etc...). A família e os amigos jamais devem
dar a perceber que se sentem incomodados com a presença do idoso ou que não tem vontade
de ajudá-lo, de ouvi-lo, pelo contrário, devem agir no sentido de permitir, na medida do
possível, a manutenção da autonomia, da independência e da dignidade do idoso.
Como já foi dito, o ser humano é um ser social: o lazer, a distração, a conversa, o bem-
estar e as atividades em grupo são fundamentais para todos, independentemente da idade.

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Processo de envelhecimento / sensibilização à problemática da
pessoa idosa / pessoa idosa noutras civilizações

A longevidade é, sem dúvida, um triunfo. Há, no entanto, importantes diferenças entre os


países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Enquanto, nos primeiros, o
envelhecimento ocorreu associado às melhorias nas condições gerais de vida, nos outros, esse
processo acontece de forma rápida, sem tempo para uma reorganização social e da área de
saúde adequada para atender às novas demandas emergentes. Para o ano de 2050, a
expectativa em Portugal, bem como em todo o mundo, é de que existirão mais idosos que
crianças abaixo de 15 anos, fenómeno esse nunca antes observado.
Muitas pessoas idosas são acometidas por doenças crónicas não transmissíveis (DANT) -
estados permanentes ou de longa permanência - que requerem acompanhamento constante,
pois, em razão da sua natureza, não têm cura. Essas condições crónicas tendem a manifestar-se
de forma expressiva na idade mais avançada. Podem gerar um processo incapacitante, afetando
a funcionalidade das pessoas idosas, ou seja, dificultando ou impedindo o desempenho das
suas atividades quotidianas de forma independente. Ainda que não sejam fatais, essas
condições geralmente tendem a comprometer de forma significativa a qualidade de vida dos
idosos.
O idoso tem sido encarado de formas diferentes ao longo dos tempos e nas diversas
culturas. Por exemplo nas sociedades Orientais é-lhe atribuído um papel de dirigente pela
experiência e sabedoria. Nas sociedades Ocidentais, apesar de ter sido considerado, até há
algum tempo atrás, como um elemento fundamental na sociedade, pelos seus conhecimentos e
valores para as populações mais jovens, atualmente tem uma imagem e um papel social quase
insignificante, sendo a diminuição das suas capacidades, num contexto de produtividade, um
dos fatores mais referenciados. Por outro lado, o idoso, por usufruir de reformas e pensões
muito baixas, viver muitas vezes em habitações degradadas e ter grandes despesas com a
saúde, fica numa posição social muito vulnerável à precariedade económica. O idoso é ainda
vulnerável à exclusão social, pela condição de reformado, sem relação com o trabalho e com os
colegas, pela dificuldade de comunicação com as gerações mais jovens, pelo isolamento em
relação à família, pela perda de autonomia física e funcional e ainda pelas dificuldades da
adaptação às novas tecnologias (Sílvia, 2001).

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De facto, para além da privação de meios a que naturalmente os idosos estão votados,
existem tecnologias recentes que ampliam as dificuldades de acesso aos direitos sociais básicos.
Este quadro agrava-se para alguns idosos ainda mais, pelo facto de terem que partilhar o
seu já reduzido rendimento com familiares a seu cargo (netos, filhos toxicodependentes, etc…).
Devido à insuficiência de medidas de política social, capazes de garantir condições
económicas mínimas a quem fez a sua vida profissional numa época em que não se realizavam
contratos, nem descontos para a segurança social, configura-se-lhes um quadro de vida em que
a pobreza é o culminar “inevitável” de uma trajetória social cuja precariedade impediu a
acumulação de todo e qualquer tipo de recurso.
Face à panóplia de questões caracterizadoras do idoso na sociedade atual, surge o debate
em torno do envelhecimento e das respostas sociais de apoio às pessoas idosas.
Assim, em 1999 consagrou-se o Ano Internacional do Idoso, iniciativa concretizada pelas
Nações Unidas, na sequência da Assembleia Mundial sobre o envelhecimento de 1982. Esta
iniciativa passou então a constituir um marco fundamental para avaliação das políticas
implementadas no âmbito do envelhecimento da população, bem como das relações de
desenvolvimento/envelhecimento.
Segundo Pimentel (2001), a pressão que o envelhecimento populacional causa nos
sistemas de Segurança Social pode ter custos sociais elevados, decorrentes da forma como o
sistema é financiado. A técnica que é utilizada para este fim, segundo Rosa (1993), baseia-se
numa conversão automática das contribuições dos indivíduos ativos em pensões, implicando
que haja um equilíbrio entre as quotizações e as prestações. No entanto, este sistema segundo
a mesma autora, tende a originar um mal-estar social e conduz a um conflito entre gerações
com consequências graves para a sociedade, uma vez que são as gerações mais novas que
contribuem para o financiamento das pensões de velhice, aumentando deste modo as despesas
sociais.
Comunga da mesma opinião Roussel (1990), ao referir que, apesar de os idosos
constituírem um grupo social com algum poder e capaz de exercer pressão política e
económica, as outras gerações, sobretudo em épocas de crise, podem não entender os
benefícios dos idosos e considerá-los excessivos.
Posição diferente apresenta Cabrillo & Cachafeiro (1992), ao referirem que a questão
fundamental não se centra na distribuição das despesas públicas, mas sim na integração social
dos idosos, que podem e devem desempenhar uma função ativa na vida social, não
constituindo, assim, uma carga para as gerações mais jovens.

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