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OFICINA DE INICIAÇÃO À DIREÇÃO TEATRAL:

“ ENCENANDO MATERIAL SHAKESPEARE”


PROJETO ARTÍSTICO-PEDAGÓGICO

A. Justificativa:

A prática da direção teatral neste projeto é entendida como pesquisa coletiva


que envolve tanto professores quanto alunos e tem como objetivo investigar a direção
teatral artística e pedagogicamente.
A encenação é tratada nessa oficina como reunião das diversas dramaturgias
teatrais: da iluminação, do ator, do escritor, do cenógrafo, do figurinista, do video, da
música. Assim, a oficina de encenação tem como público alvo todos os artistas
interessads em aprofundar suas pesquisas a partir do teatro.
Consideramos que educar a partir do teatro significa fazer com que sejamos ao
mesmo tempo atuantes e observadores. Ao realizar ações que são submetidas à sua
própria observação, o aprendizado efetivo se realiza mediante a relação íntima entre
teoria e prática.
Em decorrência, este projeto tem como objetivo fazer com que seus
participantes, de forma estética, reflitam e atuem criativamente sobre conteúdos
relacionados à sua própria realidade. Reflexão entendida aqui como retomar o
próprio pensamento, pensar o já pensado, voltar para si mesmo e colocar em questão o
que já se conhece.
Ao contrário da tradicional utilização do teatro que visa prioritariamente a
apresentação de um espetáculo, o trabalho pedagógico tem como característica central
um processo de aprendizagem estético–política, baseado na participação e na
observação de situações criadas pelos próprios alunos, estímulos para a criação de
situações teatrais relacionadas à realidade histórico–social dos participantes.
As apresentações públicas de uma peça não constituem o objetivo último e
nem o mais importante do trabalho aqui proposto. Sobre o valor de uma frase ou de
um gesto não decide, portanto, a beleza, mas sim a possibilidade que o grupo adquire
de pensar criticamente sobre o real e sobre a direção teatral quando os participantes
enunciam a frase, executam o gesto e entram em ação.
O teatro, espaço mediador entre o espectador e o mundo, é colocado a serviço
de uma verdadeira pedagogia social: interrogando-se diante das contradições de uma
realidade que a cena já não lhe apresenta mais como evidente, mas sim como possível
de ser transformada, o espectador/ator se prepara para agir sobre o mundo e modificá-
lo.
Se pudéssemos escolher um só ensinamento para esta Oficina de Encenação,
não seria o de formar grandes diretores, com suas técnicas e habilidades, mas sim o de
experimentar, passo a passo com o teatro, possíveis formas de caminhar nestes tempos
de injustiça e obscurantismo generalizado.

B. Objetivos:
A concepção de direção que norteia o trabalho neste projeto distancia-se do
papel legado ao diretor ao longo da tradição do teatro, absolutamente textocêntrica.
Para esta concepção, o diretor funcionaria como mero representante das palavras do
dramaturgo e sua criação consiste na fidelidade em representar o texto, como um
advogado defende os autos.
Por outro lado, para este projeto o que caracteriza a dimensão teatral, ao
contrário da literatura dramatúrgica, é a materialidade cênica. O ENCENADOR é
considerado aqui como o criador responsável, através de uma relação de aproximação
e de negação do texto, por transformar idéias e conceitos, mais do que apenas as
palavras do dramaturgo, em ações, imagens, símbolos. É importante que os
participantes experimentem o trabalho do encenação capaz de expressar o seu ponto
de vista sobre determinado texto, dando concretude a este ponto de vista que não é,
necessariamente, a visão do dramaturgo.
Para isso, é fundamental a prática de um processo que explicite possíveis
definições para um conceito ou um ponto de vista da encenação e como realizá-lo
durante determinado processo de criação.
Portanto, a presente atividade pretende estimular a prática e a reflexão dos
participantes em relação ao seu próprio processo de criação, buscando a
experimentação de diversos procedimentos empregados durante o processo de ensaio.
Dessa forma, realizaremos uma ação artístico-pedagógica que conscientizará e
aprimorará a consciência crítica dos participantes em relação ao fazer teatral e á
função do diretor teatral.
Considerando que o resultado do produto final depende intrinsecamente dos
procedimentos adotados, pretendemos refletir, através da prática, sobre a atividade
artística do diretor a partir de distintos procedimentos que integraram, ao longo da
história do teatro e de suas diversas linguagens estéticas, variados processos de
ensaio: análise de mesa, análise ativa, treinamento corporal, improvisação, jogo
teatral, estudo do período histórico-social, estudo do tema da peça e sobre o
dramaturgo, criação do personagem, etc.

C. Metodologia e Plano de trabalho:

A metodologia aqui empregada procura permitir que todos os integrantes do


grupo tenham a experiência de dirigir diversas cenas, a partir de diversos temas,
refletindo antes e depois sobre tal prática.
Para a realização das atividades, os participantes serão divididos em grupos,
escolhendo-se, a cada encontro, um diretor por grupo. Esta metodologia garante com
que todos os participantes revezem-se entre diretores, atores e público, efetuando o
estudo sob três olhares distintos: a encenação sob o olhar do diretor, a encenação sob
o olhar do ator e a encenação sob o olhar do público.
Tal metodologia também permite que o público alvo dessa oficina seja
formado não só por interessados na direção teatral – com ou sem experiência
prévia – mas também por atores, dramaturgos e artistas em geral ( músicos,
artistas visuais etc), interessados em ampliar suas próprias pesquisas artísticas
por meio do aprendizado da encenação.
É importante ressaltar, que esta constante troca de funções dentro do núcleo
permite que o processo esteja sempre aberto à chegada de novos integrantes que, antes
de se apropriarem dos conceitos básicos para a direção de uma cena, podem participar
da oficina como atores ou como público.
O objetivo é fazer com que os participantes reflitam e experimentem a
elaboração e a prática de um projeto cênico abordando, a cada encontro, um tema
fundamental à direção teatral. Dessa maneira, a atividade priorizará a transposição do
material textual teatral em cena, por meio da materialização do ponto de vista do
encenador responsável pelo exercício, distanciando-se da reprodução literal da
proposta do dramaturgo.
Para isso, sugerimos que o ponto de partida metodológico seja o trabalho a
partir de um texto historicamente clássico e definido independentemente da escolha
dos participantes da turma.
A opção pela escolha prévia dos textos, inserida em um projeto que busca a
autonomia dos participantes, pode parecer paradoxal. No entanto, tal escolha
propiciará exatamente a prática autônoma da direção teatral: o trabalho com um texto
desconhecido, distante ou que mesmo não agrade ao diretor é capaz de exercitar a
linguagem da encenação; cada participante terá que encontrar, no diálogo/embate
com um material dramatúrgico que lhe é estranho, formas de inserir o seu
próprio ponto de vista. O texto, nesta proposta, é assim mero pretexto, obstáculo,
estímulo para o exercício do que há de particular na atividade artística do diretor
teatral.
A escolha de um texto de William Shakespeare, a peça Tito Andrônico é
sugerida para este projeto, foi pensada em virtude da dificuldade que se apresenta ao
diretor, interessado em elaborar o seu próprio conceito de encenação, no trabalho com
um texto “clássico”.
Não é preciso conhecer ou estudar teatro, não é preciso ter lido ou assistido
Hamlet, Romeu e Julieta ou Otelo para receber seus influxos – basta respirar o ar do
tempo. Enfrentar, negar e superar todas as visões e interpretações correntes sobre o
texto de Shakespeare, em um verdadeiro embate com a tradição (no que Brecht chama
de “retirar a camada de pó que cobre os clássicos”), é o desafio que permite ao diretor
elaborar a linguagem cênica, buscando soluções próprias para a sua criação artística.
O texto, nesta proposta, é assim mero pretexto, obstáculo, estímulo à prática do que a
direção teatral tem de particular e específico.

1) Formato dos encontros:


Nos primeiros encontros, além da apresentação do curso e a divisão dos
grupos de trabalho, os participantes atuarão em exercícios, conduzidos pelo professor,
capazes de iniciar a reflexão sobre temas introdutórios à direção teatral.
Nos encontros seguintes, os participantes terão uma hora de ensaio para
preparar um exercício a partir do tema comum de experimentação do dia, sempre em
diálogo com o material dramatúrgico de Shakespeare. Na segunda parte do encontro,
os exercícios e processos de trabalho serão apresentados e discutidos. Por fim, haverá
uma rápida introdução e debate sobre o tema de experimentação do próximo encontro,
para que cada diretor possa, ao longo da semana, preparar o ensaio do seu grupo.

2) Temas comuns de experimentação:


Os primeiros 6 encontros seriam conduzidos pelo professor, a fim de levantar
possibilidades sobre a prática da direção teatral. Além da experimentação prática, os
participantes seriam estimulados a problematizar a condução do professor, visando a
uma reflexão sobre possibilidades de destruição, recriação e reinvenção das práticas
apresentadas, em busca de uma autonomia do aluno-diretor.
Em um segundo momento, os participantes dirigiriam pequenas experiências
cênicas, que seriam sempre problematizadas coletivamente na última etapa dos
encontros.
É importante ressaltar que o planejamento que se segue é apenas um esboço
para um possível percurso, e que poderá ser modificado a cada encontro a partir do
diálogo com a turma.

Encontro inicial: Apresentação


Encontro 1: O conceito – exercícios de aproximação
Encontro 2: O jogo teatral e o conceito de encenação
Encontros 4: Processos de ensaio
Encontro 5: Análise de mesa
Encontro 6: Análise ativa
Encontros 7: O ponto de vista através do espaço:
Cada diretor procurará montar uma cena em que o seu foco de trabalho será
transmitir o seu ponto de vista sobre a cena através de uma abordagem do espaço.
Desde o conceito inicial, passando pelos ensaios até a apresentação da cena, o projeto
de encenação de cada diretor procurará experimentar, com a maior diversidade
possível, o espaço cênico. O objetivo é refletir sobre as possibilidades de criação
teatral a partir do espaço, experimentando possibilidades de expressão a partir da
dimensão cênica espacial.

Encontro 8: O ponto de vista através do tempo:


Cada diretor montará uma cena tendo como foco de experimentação transmitir
o seu ponto de vista através do tempo. O projeto de encenação de cada diretor
procurará abordar de diferentes maneiras o tempo: o tempo de duração da cena, o
tempo de duração dos ensaios, o tempo histórico, o tempo de cada personagem, o
tempo e o ritmo de cada ator no ensaio e na cena, o tempo de cada exercício
coordenado pelo diretor etc.

Encontro 9: O ponto de vista através do desenho da cena – as marcações:


Cada diretor montará uma cena tendo como foco de experimentação transmitir
o seu ponto de vista através do tempo. O projeto de encenação de cada diretor
procurará abordar de diferentes maneiras o tempo: o tempo de duração da cena, o
tempo de duração dos ensaios, o tempo histórico, o tempo de cada personagem, o
tempo e o ritmo de cada ator no ensaio e na cena, o tempo de cada exercício
coordenado pelo diretor etc.

Encontro 10: O ponto de vista através do processo autocrático de direção:


Neste encontro, cada diretor escolhido procurará criar a cena desenvolvendo
um processo de direção autocrática, ou seja, aquele em que o diretor detêm a criação.
O diretor define e é o único responsável pelo conceito de sua encenação, as
marcações, a visualidade da cena, a dramaturgia de ações, o trabalho de interpretação
dos atores etc. Após as cenas apresentadas, o processo de trabalho é discutido: o que
tal processo trouxe para o diretor? Como foi participar como ator de cada exercício?
Como foi o processo de ensaio de cada grupo? Como seria um processo em que o
diretor não é o criador central? Como o ponto de vista de cada diretor pode ser
transmitido neste tipo de processo de criação?

Encontro 11: O ponto de vista através do processo coletivo de criação:


Neste encontro, a cena será dirigida por todo o grupo. Cada grupo será
responsável por elaborar um conceito e um processo de ensaio em conjunto,
preparando e realizando a cena durante o encontro. Durante a análise dos exercícios
apresentados, procuraremos observar: o ponto de vista da encenação foi realizado
coletivamente? Todos participaram de todas as funções? Este processo teve reflexo no
resultado apresentado?

Encontro 12: O ponto de vista através do processo colaborativo de


criação:
Neste encontro, cada diretor escolhido procurará criar a cena a partir de um
processo colaborativo de direção, processo em que a criação da encenação é
compartilhada, mas, ao contrário do encontro anterior, há uma definição prévia de
funções, uma divisão, não hierárquica, entre diretor e atores, mantendo a
especificidade de suas funções. No entanto, o diretor aqui não é o único responsável
na definição e na criação da cena. Após a apresentação dos experimentos, o processo
de trabalho será discutido visando estabelecer, principalmente, quais as metodologias
de trabalho que cada diretor encontrou para que o processo de criação fosse
compartilhado e coletivizado entre todos os integrantes do grupo, sem que houvesse,
por isso, a ausência do ponto de vista do diretor. Não é objetivo esgotar todas as
formas de dirigir uma cena ou estabelecer qual a forma de direção mais vantajosa, a
autocrática ou colaborativa: o importante é permitir que cada participante experimente
formas distintas de condução de um processo de criação, procurando observar e
praticar, refletindo criticamente, distintas metodologias de criação. O foco ao
experimentar formas distintas de criação é perceber como o ponto de vista do diretor
pode ser desenvolvido em cada uma delas.

. CURRÍCULOS DO PROPONENTE:

Ivan Delmanto é diretor teatral, dramaturgo e educador. Bacharel em direção teatral


pela ECA - USP é também mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada na
FFLCH – USP. É doutor no Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP, na área de
Teoria Teatral, onde desenvolveu projeto de pesquisa sobre a formação do teatro
brasileiro, sob orientação da Profa. Dra. Maria Silvia Betti. Em 2018 terminou projeto
de pós-doutorado, com bolsa de pesquisa CAPES, no mesmo departamento, também a
partir do processo de formação histórica do teatro brasileiro. Como dramaturgista e
assistente de direção, trabalhou no projeto de pesquisa e no espetáculo BR-3 do Teatro
da Vertigem. Durante este projeto, no ano de 2004, escreveu a série "Diario da
Expedição", composta por 30 artigos publicados na Folha Online, no Correio
Brasiliense e na Revista Ocas, todos narrando a viagem de pesquisa empreendida pelo
Teatro da Vertigem pelo interior do Brasil. Trabalhou de 2004 a 2013 no Programa
Vocacional, tendo sido Artista Orientador, Coordenador do Núcleo de Direção,
Coordenador Pedagógico do Teatro Vocacional, Coordenador do Núcleo
Interlinguagens e Coordenador Pedagógico Geral do Programa. Durante o ano de
2011 atuou como coordenador pedagógico do Vocacional Núcleo Artístico
Interlinguagens, onde coordenou processos de fomação artística baseados em um
conceito ampliado de performance. Em 2012 atuou novamente como coordenador
pedagógico geral do Programa Vocacional, junto aos projetos de artes visuais, dança,
encenação, música e teatro. Desde a fundação da Escola, em 2010 até 2012, trabalhou
como formador de direção teatral na SP Escola de Teatro: Centro de Formação das
Artes do Palco. Desde 2000, é diretor e dramaturgo da II Trupe de Choque, grupo em
que dirigiu e escreveu os espetáculos Coriolanos, Miopia, Corpos Acumulados –
experiência 1, Corpos Acumulados – experiência 2, Corpos Acumulados – experiência
3 , Corpos Acumulados – experiência, Detritos em ensaio: Material Tebas/ Eldorados
11 de setembro, Material Ciborgue/ Eldorados 11 de setembro, Planeta
Favela/11/09/4012, Grande Sertão Grajaú: Vereda Riobaldo e Grande Sertão Grajaú:
Vereda Diadorim. As peças foram todas realizadas em espaços não convencionais,
onde o grupo desenvolveiu projetos de ação cultural e de pedagogia artística: A Usina
de Compostagem de Lixo de São Mateus, zona leste de São Paulo (2004-2008), o
Hospital Psiquiátrico e CAIMS Philippe Pinel (2008-2012), na zona norte, e as
Escolas Estaduais Prof. Carlos Ayres e Profa. Ester Garcia (2013-2017) , no Grajaú,
zonal sul da cidade. De 2014 a 2018 trabalhou como Orientador Artístico e
Coordenador Pedagógico do Projeto Espetáculo, do Programa Fábricas de Cultura do
Estado de São Paulo, coordenando encenadores e dramaturgos que desenvolvem
trabalho artístico- pedagógico em cinco Fábricas de Cultura na periferia de São Paulo:
em Jaçanã, Brasilândia, Capão Redondo, Jardim São Luís e Vila Nova
Cachoeirinha. Desde 2018 é professor substituto concursado no Instituto de Artes da
UNESP - SP, ministrando as disciplinas de Laboratório de história do teatro brasileiro,
História do teatro III e História do teatro V.

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