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A CARNE E O ESPÍRITO

Joe Crews & Doug Batchelor – Traduzido por Marcell Dalle Carbonare

Entendendo Romanos 7

Um oxímoro é uma frase na qual palavras de significados contraditórios são usadas juntas para
dar um efeito especial – por exemplo, “tolo sábio” ou “crime legal”. Alguns podem ser bem
humorados, como “maravilhosamente feio” ou “férias a trabalho”, por exemplo. Uma nova
expressão usada por alguns cristãos também se qualifica como um oxímoro: cristãos carnais. Não
parece que essas duas palavras possam estar juntas.

Afinal, a palavra carnal significa “animal, sensual, não regenerado”. Pode mesmo ela ser usada
como um adjetivo próprio para um cristão nascido de novo, que se voltou do mundo para o reino
de Deus? Ainda assim, muitas pessoas sinceras creem que “carnal” é uma caracterização útil da
experiência cristã normal. Outros, é claro, fortemente discordam. Eles dizem que o termo é
autocontraditório; eles negam a existência de uma criatura híbrida que pode ser semelhante a
Cristo e carnal ao mesmo tempo.

No coração desse complexo problema está a questão: O cristão convertido é controlado pelo
Espírito ou pela carne? Essa controvérsia está muito enraizada em algo que o apóstolo Paulo
escreve em sua epístola aos romanos. Espremidos entre dois dos mais triunfantes capítulos da
Bíblia, Paulo escreveu 25 versos que deram surgimento a todos os conflitos teológicos com
relação a esse assunto. A fim de entendermos apropriadamente aqueles 25 misteriosos versos que
compõem Romanos 7, devemos examinar brevemente os capítulos de acompanhamento que o
cercam.

Apesar de escritas pelo mesmo autor, as ideias encontradas nos capítulos 6 e 8 parecem estar em
total oposição ao capítulo que está entre eles. Um tremendo tema de total vitória sobre o pecado
flue poderosamente através de Romanos 6 e 8, mas Romanos 7 parece catalogar apenas
frustração e derrota. Como pode o mesmo homem descrever tais experiências pessoais tão
opostas dentro das mesmas poucas páginas? A questão se torna ainda mais significativa quando
consideramos que, em todos os seus outros prolíficos escritos, Paulo nunca repetiu tais
expressões de desesperança como as registradas em Romanos 7. Vamos analisar mais de perto.
Vendido Sob o Pecado?

Você consegue imaginar como esses versos alguma vez poderiam ser aplicados ao gigante
espiritual que era Paulo: “Eu sou carnal, vendido sob o pecado … me trazendo cativo à lei do
pecado. … O que não quero, isso faço. … Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo
dessa morte?” (Romanos 7:14, 23, 15, 24)? O que essa criatura miserável, vinculada ao pecado,
tem em comum com a experiência descrita no capítulo anterior? “Nós … estamos mortos para o
pecado, … libertos do pecado. … Não reine o pecado. … o pecado não terá domínio sobre vós.
… deveremos pecar? Deus não permite … sendo feitos livres do pecado” (Romanos
7:2, 7, 12, 14, 15, 18). E como o próprio Paulo poderia harmonizar seu estado miserável de
Romanos 7 com a crescente experiência de vitória cheia do Espírito descrita em Romanos 8?
“Portanto nenhuma condenação há,…me libertou da lei do pecado…justiça cumprida em
nós,…mortificar as obras do corpo…somos filhos de Deus” (Romanos 8:1, 2, 4, 13, 16).

O cerne do argumento do “cristão carnal” é levado em consideração pela audaz afirmação de que
ele é “carnal, vendido sob o pecado” (Romanos 7:14), e ainda assim declarando no capítulo 8 que
“ter a mente carnal é morte”. A mente carnal é inimizade contra Deus: pois não está sujeita à lei
de Deus, nem o pode estar” (Romanos 8:6, 7). Está Paulo realmente dizendo que ele não é um
cristão, e que é inimigo de Deus? Está ele admitindo que sua vida é carnal e, portanto, está sob
sentença de morte? É claro que não!

Por outro lado, se Paulo estiver descrevendo sua experiência depois de sua conversão, devemos
admitir que há diferenças irreconciliáveis entre o capítulo 7 e o resto de seus escritos. Sendo
assim, com um olhar honesto, somos levados à inevitável conclusão de que Paulo não está de
modo algum descrevendo sua experiência do novo nascimento. Devemos rejeitar o conceito de
que alguém pode ser controlado pela carne, estando em inimizade contra Deus e sob sentença de
morte, e ainda assim estar em uma condição espiritualmente salva. O homem miserável que
grita em desespero pela libertação, obviamente nunca foi liberto de seus pecados.

Porque então Paulo retrata a si mesmo em tal estado de escravidão sem esperança? Embora o
quadro até esse ponto possa estar um pouco confuso, podemos ter certeza de que Paulo tem um
motivo muito claro e convincente para escrever Romanos 7. Quando seguimos a lógica desse
homem, o príncipe dos apóstolos, podemos entender perfeitamente porque ele trabalhou nesse
material da maneira exata como o fez, quando o fez, e porquê o fez.
A Lei na Salvação

É importante entender claramente que Romanos 7 é dado inteiramente como uma explicação da
lei e de seu papel no processo de salvação. No capítulo anterior, Paulo explica como a
justificação veio a todo o mundo através de um homem. A maior parte do material apresentado
nos capítulos 1 até o 5 lida com a teologia da justiça pela fé, com o foco principal na justificação.

Então, em Romanos 6, Paulo se move para a área da santificação e começa a descrever o efeito
de ser salvo pela graça. Esse capítulo é abordado com um retrato de obediência e vida sem
pecado. Vez após vez, Paulo afirma que o pecado (transgressão da lei) não pode prevalecer
contra o poder da graça justificadora de Deus. O padrão consistente e habitual do filho de Deus
será rejeitar o pecado. Obediência à lei é o fruto da verdadeira justificação.

Mas mesmo que o viver santo e a guarda da lei marquem o estilo de vida de todo verdadeiro
cristão, Paulo não quer que ninguém entenda mal o papel específico da lei no processo de
salvação. Importante como seja, a lei tem suas limitações. Ela não pode purificar ou santificar.
Embora marque o caminho da perfeita vontade de Deus, não existe uma graça redentora na lei
para justificar uma única pessoa. Sua função primária é convencer, condenar e criar um desejo
por libertação. Então, como um amoroso professor, ela conduz o pecador a Jesus para obter livre
graça e purificação.

Então o que Paulo faz a essa altura? Ele insere 25 versos que cuidadosamente definem a função
da lei em levar a pessoa a Cristo. E como meio de ilustrar, ele usa sua própria experiência com a
lei para mostrar como isso o afetou quando ele caiu sob sua influência. Ele conta, em
retrospecto, como a lei abriu seus olhos para a real natureza do pecado dentro dele e o “matou”
com a devastadora exposição de sua grosseira desobediência. É muito importante reconhecer que
Romanos 7 é a descrição de Paulo de suas reações à lei antes de ele ser convertido. Ele está
expondo a escravidão de seu coração não convertido à natureza carnal, e sua absoluta impotência
em tentar cumprir os requisitos da lei de Deus. Passo a passo, ele dá um relato desolador de sua
angústia sob as fortes convicções da lei.

Ainda assim muitos cristãos concluem que Paulo realmente está descrevendo a sua experiência
cristã convertida em Romanos 7, confortando-se com a noção de que é normal - e portanto
aceitável - sermos vencidos pelo pecado. Eles expressam isso desta maneira: “Se Paulo não tinha
poder para fazer aquilo que ele sabia ser o certo, certamente não podemos ser responsabilizados
por desobedecermos também. Afinal, não somos nós, mas é o pecado em nós que é culpado pelo
mal cometido. Deus não deixará que nos percamos enquanto tivermos o desejo de fazer a Sua
vontade, mesmo que não ‘façamos aquilo que é bom’.

No entanto, se essa interpretação estiver correta, somos imediatamente confrontados com o


problema de harmonizar centenas de outros textos das Escrituras que nos garantem que
deveríamos viver sem pecar. Percebe como isso se torna um sério problema para todos nós?
Certamente, deve ser aparente que tal ensinamento, se for verdadeiro, teria que ser a melhor
notícia do mundo para aqueles que não estão dispostos a crucificar completamente sua natureza
carnal. Com dois textos memorizados, eles poderiam justificar biblicamente qualquer ato de
desobediência e ainda assim sentirem-se seguros: “Eu sou carnal, vendido sob o pecado … o mal
que não quero, isso faço … não sou mais eu, mas o pecado que habita em mim.”

Por outro lado, se essa interpretação está errada, ela é, sem dúvidas, um dos ensinos mais
perigosos da longa lista de enganos de Satanás. É assustadora a implicação de se ensinar as
pessoas a tolerarem aquilo que Deus odeia. Se o pecado é realmente não negociável à Sua vista e
jamais entrará em Seu reino, então qualquer doutrina que tenta fazer do pecado algo aceitável a
Deus poderia levar milhões à perdição.

A Lei Não Morreu

Por causa da distorção desse capítulo crucial a fim de apoiar uma doutrina tão perigosa,
precisamos analisá-lo cuidadosamente, verso por verso. Nem mesmo a menor dúvida deveria
permanecer com relação à atitude de Deus para com a prática do pecado.

“Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o
homem por todo o tempo que vive? Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele
viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que,
vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está
da lei, e assim não será adúltera, se for de outro marido. Assim, meus irmãos, também vós estais
mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre
os mortos, a fim de que demos fruto para Deus. Porque, quando estávamos na carne, as paixões
do pecado, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. Mas
agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para
que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra” (Romanos 7:1–6).

Aqui Paulo usa a lei do casamento para representar o relacionamento espiritual com Cristo.
Uma mulher está sujeita ao seu marido pelo tempo em que ele viver. Quando ele morrer, ela
estará livre para casar-se com outra pessoa sem ser rotulada de adúltera. Do mesmo modo, o
pecador é representado como estando livre de um relacionamento para estar sujeito a outro.
Muitas pessoas acham que Paulo está aqui se desfazendo dos Dez Mandamentos. Na verdade
não. Paulo está falando a respeito do pecador e sua experiência de voltar-se do pecado e tornar-
se casado com Cristo. A lei em si mesma não morreu. Paulo escreve, “vocês também morreram
… para que pudessem se casar com outro.”

O verso 5 deixa bem claro que o pecador está ligado à sua natureza pecaminosa. “Pois quando
estávamos na carne, as paixões do pecado operavam em nossos membros trazendo o fruto para a
morte.” Como ele obteve liberação dessa natureza carnal que causou a morte nele? “Vocês
morreram … pelo corpo de Cristo.” Em outras palavras, pela aceitação da morte expiatória de
Jesus, a mente carnal é destruída, e “sendo mortos para aquilo que nos mantinha”, Paulo diz que
somos livres para nos casarmos com outro, até mesmo com Cristo.

Alguns podem questionar porque Paulo escreve que nos tornamos “mortos para a lei” através da
morte de Jesus. Precisamos entender o contexto no qual seu ensino é usado. É óbvio pelo verso 5
que nos tornamos mortos para aquilo que a lei condena em nossa natureza: “as paixões do
pecado, que são pela lei”. Aqui Paulo introduz a principal função da lei, que ele irá reiterar por
todo o capítulo: A lei expõe as obras do pecado. Ela traz à luz as atividades da carne. E, ao fazer
isso, a lei ratifica a sentença de morte contra todos os que a estão transgredindo. Estar “morto
para lei” e ser “liberto da lei...que nos mantinha” significa ser liberto dos pecados que ela
condena, e da pena de morte que é aplicada a todos que transgridem a lei. Ser casado com Cristo
não nos liberta da obediência à lei, mas nos liberta da pena de morte que resulta de nossa
violação da mesma.

O que acontece em seguida? Por ter Paulo identificado a lei como um instrumento que aponta o
pecado, ele agora sente a necessidade de exonerar a lei de qualquer acusação de ser má em si
mesma. “Que diremos pois? É a lei pecado? De modo nenhum. Mas eu não conheci o pecado
senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás”
(Romanos 7:7). Mesmo que sua própria natureza revele nosso pecado, Paulo defende a lei por
todo o capítulo como sendo santa, justa, boa e espiritual. Muitos cristãos cometem o mesmo
erro contra o qual Paulo vigorosamente se opôs. Com graus variados de animosidade, eles
tornam a lei absolutamente de nenhum efeito na experiência da salvação.
Eles não apenas rejeitam suas reivindicações como o plano perfeito para a vida correta, mas
também negam sua designada missão para convencer do pecado. No entanto, na linguagem mais
positiva, Paulo declara antes em sua epístola que não pode haver pecado sem a lei: “Porque onde
não há lei, não há transgressão” (Romanos 4:15). Ele reforça esse ponto relatando sua própria
experiência com os Dez Mandamentos: “Eu não conheceria o pecado, se não fosse pela lei”.

A Lei Confronta Paulo

Aqui encontramos o importate ponto de transição no capítulo 7; ele carrega a chave para a
controvérsia do “cristão carnal”. Pela primeira vez, Paulo começa a falar de seu próprio
relacionamento pessoal com a lei. Mas perceba que ele leva seus leitores com ele de volta para o
passado. Ele começa a escrever a respeito de seu primeiro encontro com a lei. Naquele tempo,
Paulo diz, “Eu não conhecia o pecado”. Em outras palavras, ele não sabia que estava quebrando
a lei antes daquele momento de iluminação e convicção espiritual.

Como um professor do Sinédrio, há pouca dúvida de que Paulo tinha um vasto conhecimento
intelectual com relação a todas as leis religiosas de Israel, incluindo os Dez Mandamentos. Ele
se orgulhava de ser impecável ao cumprir todos os requisitos legais desses estatutos. Mas tudo
isso mudou no dia em que o Espírito Santo abriu seus olhos para a natureza superficial de sua
obediência. Pela primeira vez ele reconheceu que estava apenas observando a letra da lei. Suas
obras vazias de justificação própria apareceram em sua verdadeira luz.

Paulo não nos diz, e nem é necessário saber, exatamente quando sua convicção inicial começou a
operar em sua vida. É suficiente dizer que houve um período de tempo, seja curto ou longo, em
que seus olhos foram abertos para aquilo que ele realmente deveria ser diante de Deus. A lei
havia cumprido sua missão muito bem, e ele claramente discerniu quão amplos, profundos e
compreensivos são seus princípios. Ao recordar a agonia de sua alma durante aqueles dias de
conflito, Paulo escreve:

“Mas o pecado, aproveitando a oportunidade dada pelo mandamento, produziu em mim todo
tipo de desejo cobiçoso. Pois, sem a Lei, o pecado está morto. Antes eu vivia sem a Lei, mas,
quando o mandamento veio, o pecado reviveu, e eu morri. Descobri que o próprio mandamento,
destinado a produzir vida, na verdade produziu morte. Pois o pecado, aproveitando a
oportunidade dada pelo mandamento, enganou-me e por meio do mandamento me matou. De
fato a Lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom. E então, o que é bom se tornou em
morte para mim? De maneira nenhuma! Mas, para que o pecado se mostrasse como pecado, ele
produziu morte em mim por meio do que era bom, de modo que por meio do mandamento ele
se mostrasse extremamente pecaminoso.” (Romanos 7:8-13).

Aqui Paulo passa a descrever as reações pessoais de sua natureza farisaica àquela convicção inical
de pecado. Era absolutamente devastador para esse famoso professor religioso o ser exposto
como um transgressor diante de Deus. A experiência foi tão intensa que ele podia apenas
compará-la a estar vivo e feliz sem a lei, e depois ser repentinamente esmagado até a morte pela
consciência de culpa – a culpa que foi gerada pelas revelações da lei. Paulo se espanta que algo
tão justo, puro e bom pudesse agitar dentro dele tal consciência do mal. Como uma poderosa
lente de aumento, a lei havia investigado os recessos de seu espírito legalista, fazendo o pecado
parecer “extremamente pecaminoso”.

Sem Poder Para Obedecer

Confessando que o pecado estava “operando a morte” nele, Paulo lança os famosos versos que
foram terrivelmente mal aplicados à experiência dos santos assediados:

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço
não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero,
consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita
em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer
está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não
quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho
então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem
interior, tenho prazer na lei de Deus; Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do
meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem
que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor.
Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.”
(Romanos 7:14–25).

Alguns tomam a posição de que a declaração de Paulo aqui, de que a lei é espiritual, prova que
ele era um homem convertido. Porém o restante do verso claramente declara que ele era carnal e
vendido ao pecado. É incomum para um pecador fazer tal admissão a respeito da lei? De modo
algum. No fim do tempo, milhões de não convertidos reconhecerão a veracidade dos Dez
Mandamentos. Mas crer na verdade e consentir com a lei não é o suficiente. Ela deve também
ser obedecida. E Paulo sabia disso.

Se alguém podia apreciar a necessidade de realizar as obras da lei, esse certamente seria Paulo. E
de fato ele tentava! O resto do capítulo está repleto com seu frustrado relatório de tentar e falhar,
tentar e falhar. Infelizmente, com base nesses textos, milhares de sermões tem sido pregados
para explicar porque nós não deveríamos nos preocupar tanto em alcançar uma vida de perfeita
obediência. Se Paulo percebeu que era impossível fazer aquilo que é bom, e em vez disso
constantemente fazia o que era mal, porque deveríamos nos culpar por causa de nossas falhas?
Curiosamente, os dispensadores desses tranquilizantes não estão realmente comparando maçãs
com maçãs. Em vez disso, estão comparando coisas espirituais com coisas carnais. Permitamos
que Paulo esclareça a questão para nós rapidamente.

Ele escreve, “Eu sou carnal”. Como ele define a condição carnal? Apenas 18 versos abaixo, ele
explica: “Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz”
(Romanos 8:6). Essa é a terceira vez que Paulo admite estar sob condenação de morte. E
em Romanos 7:10, ele diz, “E o mandamento que era para vida, achei eu que me era para
morte”. No verso 13, ele fala do pecado “operando a morte em mim”. Pode alguém acusar o
grande apóstolo de estar confuso a respeito do status do crente justificado? Não. Essa é a sua
especialidade. Ele entende claramente que a justificação e a condenação não poderiam coexistir
na mesma pessoa ao mesmo tempo. Dezenas de vezes o regenerado Paulo declara sua liberdade
da culpa e da condenação da lei. Apenas nesse capítulo, onde descreve sua experiência não
convertida, é que ele se coloca novamente debaixo da sentença de morte.

Convicto Mas Não Convertido

Os olhos de Paulo foram abertos. Ele foi instruído e convencido pela lei. Ele sabia o que era
certo e desejava fazê-lo, mas ele ainda não tinha lançado mão do poder libertador de Cristo. Ele
era miserável. Ele odiava a si mesmo ao que ele fazia. “Mas aquilo que não quero, isso faço”
(Romanos 7:15). O problema estava com a sua carne. Esta era muito fraca para obedecer.
“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o
querer está em mim, mas não consigo realizar o bem” (Romanos 7:18).

Porque Paulo não podia obedecer estando na carne? Porque ele usa essa expressão para
repetidamente descrever a natureza não convertida. No verso 5, ele diz, “Porque, quando
estávamos na carne, as paixões do pecado … operavam em nossos membros”. Em Romanos 8:3,
ele diz que a lei não podia ser guardada por nós porque ela estava “enferma pela carne”. O velho
poder carnal do pecado tornou impossível para ele obedecer. Na opinião de Paulo, ele estava
disposto, mas ele descreve outra lei “em meus membros, guerreando contra a lei da minha
mente”. Essa outra lei era mais forte do que seus bons desejos e intenções – de fato, o resto da
frase diz “e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros” (Romanos 7:23).

Quão claro realmente é que a lei do pecado em seus membros, ou em sua carne, era a natureza
carnal não regenerada. Ela fazia do seu corpo um perfeito escravo, constrangendo-o a fazer as
coisas más que ele odiava e forçando a sair dele, finalmente, esse choro desesperado: “Miserável
homem que sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?” (Romanos 7:24).

Aqui novamente, pela quarta vez, Paulo indica que a pena de morte estava residindo em seu
corpo, ou sua carne, onde o pecado havia tomado controle de si. Muitos agora apontarão para o
verso 22 como a prova definitiva de que Paulo era convertido durante a derrota nessa batalha
contra o pecado: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus”. Ninguém,
dizem eles, poderia se deleitar na lei a menos que fosse nascido de novo. Mas isso não é verdade.
Em Romanos 2:17, 18, Paulo se dirige aos judeus, dizendo que até eles tem um exaltado
conceito da lei: “Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em
Deus; E sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei.” O deleite de
Paulo na lei no homem interior meramente revela sua total aceitação mental dos princípios da
lei. Ele mantém a lei na mais alta estima. Antes de sua conversão, ele não tinha nenhum
problema em acreditar ou estar disposto a obedecer. Ainda assim, sem Cristo em sua vida, não
havia graça que o capacitasse a realizar aquilo que é bom.

Será que o apóstolo encontrou a resposta para o seu lamurioso grito por socorro? Será que o
miserável escravo obteve liberdade? Será que ele finalmente foi liberto do cativeiro da lei do
pecado? É claro que sim. Tão logo ele aceitou ao Senhor Jesus, suas correntes caíram, sua
natureza carnal foi crucificada, e ele foi liberto do pecado. Quatro versos adiante, lemos como o
milagre aconteceu: “Porque a lei do Espírito de vida em Cristo Jesus me libertou da lei do
pecado e da morte”.

Que dramática mudança! Mas como Paulo foi libertado da própria lei do pecado que o havia
capturado em Romanos 7:23? Ele mesmo responde a questão: “Agradeço a Deus através de
Jesus Cristo nosso Senhor”. Esse ponto de conversão na experiência de Paulo foi reconhecido
nos escritos de muitos comentaristas bíblicos bem conhecidos. Aqui estão três declarações de
fontes que confirmam que Romanos 7 está descrevendo a natureza não regenerada:

1. “É difícil conceber como essa opinião pôde ter penetrado na Igreja, ou ali prevalecido, de que
‘o apóstolo aqui fala de seu estado regenerado; e que aquilo que era verdadeiro para ele em tal
estado, deve também ser verdadeiro para todos no mesmo estado’. Essa opinião tem,
lamentavelmente e vergonhosamente, não apenas rebaixado o padrão do cristianismo, mas
destruído sua influência e desonrado seu caráter.” (Comentário Bíblico de Adam Clarke)

2. “Oh, quantos se lisonjeiam de bondade e justiça, quando a verdadeira luz de Deus revela que
toda a sua vida eles têm vivido unicamente para agradarem a si mesmos! Toda a sua conduta é
aborrecível a Deus. Quantos estão vivos sem a lei! Nas espessas trevas em que se encontram,
olham-se complacentemente; revele-se-lhes, porém, a lei de Deus à consciência, como
aconteceu com Paulo, e verão estar vendidos sob o pecado, e ter de morrer para a mente carnal.
O próprio eu precisa ser morto.” (Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, vol. 3, p. 475).

3. “É-nos impossível, por nós mesmos, escapar ao abismo do pecado em que estamos
mergulhados. Nosso coração é ímpio, e não o podemos transformar… ‘A inclinação da carne é
inimizade contra Deus...Disse o Salvador: ‘Aquele que não nascer de novo, … não pode ver o
reino de Deus’…Não basta percebermos a benignidade de Deus, vermos a benevolência, a
ternura paternal de Seu caráter…Paulo, o apóstolo, reconheceu tudo isto quando exclamou:
‘Consinto com a lei, que é boa’. ‘A lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom’.
Acrescentou, porém, na amargura de sua íntima angústia e desespero: ‘Mas eu sou carnal,
vendido sob o pecado.’ Rom. 7:16, 12 e 14. Ansiava a pureza, a justiça, as quais era impotente
para alcançar por si mesmo e exclamou: ‘Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do
corpo desta morte?’ Rom. 7:24. Tal é o brado que tem subido de corações oprimidos, em todas
as terras e em todos os tempos. Para todos só existe uma resposta: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que
tira o pecado do mundo’. João 1:29.” (Ellen G. White, Caminho a Cristo, pp. 18, 19).

Servindo à Lei do Pecado

A essa altura, permanece uma pequena perplexidade no fraseado de Romanos 7:25. Alguns tem
questionado como Paulo ainda podia falar sobre servir à lei do pecado na carne após
aparentemente ser liberto da carne no mesmo texto. “Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso
Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do
pecado”. Apesar do estranho fraseado, não há contradição do tema principal. Paulo dá uma
resposta rápida e parentética à sua desesperada pergunta, “quem me livrará?” Então ele volta a
completar o ponto que ele estava enfatizando no verso 23, que é sobre estar em cativeiro para
com a lei do pecado.

A mesma estrutura da frase é encontrada em Apocalipse 20:4, 5. Depois de descrever a primeira


ressurreição das pessoas que não receberão a marca da besta, João escreve, “Mas o restante não
reviveu até que acabassem os mil anos. Essa é a primeira ressurreição.”

Como todos reconhecem, o “restante dos mortos” são os ímpios que se levantam na segunda
ressurreição, não na primeira. Assim, a última frase, sobre a primeira ressurreição, está realmente
se referindo àqueles que são descritos no verso 4 – aqueles santos que não receberam a marca da
besta. Obviamente a primeira parte do verso 5 é colocado entre parênteses, e a frase final, “essa é
a primeira ressurreição”, completa o pensamento que estava sendo desenvolvido no verso
anterior.

Da mesma maneira, a última sentença de Romanos 7:25 está se referindo novamente ao tema do
verso 23 e não está diretamente relacionada à primeira parte do verso 25. Veja que Paulo acabou
de alcançar o ponto culminante da lógica e compaixão ao descrever sua condição miserável de
condenação.

O verso 23 fala de seu cativeiro no pecado, e o verso 24 revela sua agonia e desejo de ser livre:
“QUEM ME LIVRARÁ DO CORPO DESSA MORTE?” Dando uma resposta rápida a essa
pergunta retórica, ele encapsula em uma frase final o ponto básico que ele fez ao longo do
capítulo: Sua mente deseja servir a Deus, mas sua carne força-o a servir ao pecado. “(Agradeço a
Deus através de Jesus Cristo nosso Senhor) Assim que, eu mesmo, com o entendimento sirvo à
lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.” Assim fecha o capítulo 7 com seu sinistro hino
fúnebre de derrota, mas Paulo não faz esse desvio em sua epístola sem uma boa razão. Agora
seus leitores estão preparados para apreciar a extensão de sua experiência transformada sob a
graça. Parece ser uma das inclinações de Paulo para ilustrar por dramático contraste a
superioridade da graça sobre o pecado (Romanos 5:20, 21), da justificação sobre a condenação
(Romanos 5:16, 17), e do Espírito sobre a carne (Romanos 8:5). E é somente por causa da
maneira rígida de retratar sua miséria sob o pecado que Paulo agora pode projetar, em
comparação, a glória dos filhos cheios do Espírito de Deus.
O Poder da Vontade na Vitória

Há ainda dois pontos importantes a serem mencionados antes de deixarmos o capítulo 7.


Ambos se relacionam com a maneira pela qual somos capazes de escolher o caminho da vitória
total sobre a carne. Obviamente, a vontade está muito envolvida nesse processo. Poucos
compreendem o poder explosivo dessa tomada de decisão por cada indivíduo.
Independentemente das fragilidades físicas ou incapacidades, Deus colocou dentro de cada
cérebro humano a habilidade de escolher a própria direção e curso de ação. Essa faculdade
independente e soberana constitui a diferença mais óbvia entre as pessoas e os animais.
Nenhuma outra criatura sobre a Terra recebeu esse poder de escolha. Macacos não podem
raciocinar de maneira abstrata; eles se movem por instinto. O homem pensa, e o homem
escolhe.

É muito provável que nenhum outro poder inerente da mente ou do corpo seja tão
profundamente arraigado quanto o poder da escolha. Ao conferir este dom, o Criador depositou
sobre cada pessoa a responsabilidade por sua própria salvação. Mesmo que a natureza caída por
si só não tenha poder para parar de pecar, ela tem poder para escolher parar de pecar. Até
mesmo os mais vis e degradados homens podem decidir quais ações levar em prática.

Com frequência a vontade tem sido enfraquecida e traumatizada por escolhas erradas e pressões
externas, mas ela permanece a única alternativa humana pela qual a libertação pode ser iniciada.
Aqui deve ser enfatizado que o desejo de fazer escolhas corretas é resultado da graça de Deus
agindo na mente. Nem todos estão desejosos de abandonarem o gozo da indulgência
pecaminosa. É por isso que alguns precisarão orar, “Senhor, me faz disposto a estar disposto”, ou
até mesmo, “Senhor, me dê fé suficiente para crer que você pode aumentar minha fé e me ajudar
com minha descrença”.

Quão verdade é que nosso maior inimigo é o “eu”. Aqui dentro é onde são lutadas as mais
desesperadas batalhas na conquista do pecado. É apenas quando o “eu” entrega seu caminho e se
torna disposto a aceitar o caminho de Deus que somos habilitados a escolher o certo ao invés do
errado. A disputa pelo controle da vontade é o cerne de cada vitória e cada derrota. Não é
pecado lutar, nem é errado ser tentado. A conversão não remove a tentação, mas torna possível
que a luta culmine em vitória. É por isso que Jesus nos adverte, “Vigiai e orai, para que não
entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26:41).

Então deve haver uma clara percepção de que nossas decisões e ações iniciais contra o pecado
não obtêm em si mesmas a vitória. O livramento é possível apenas quando o poder divino
responde à escolha ativa em não pecar. Quão frequentemente limitamos o Senhor ao recusarmos
fazer aquilo que Ele nos deu poder para fazermos na luta contra o pecado. Temos uma mente, e
temos uma vontade. Ao escolhermos não pecar e colocarmos essa decisão em ação, o caminho é
instantaneamente aberto para que Deus se mova contra o inimigo e garanta nosso livramento.

Existe uma luta, então, em subjugar a carne e escapar da autoridade do pecado? Certamente,
haverá contínuo conflito em resistir às propensões herdadas para desobedecer a Deus. Mas o
encorajador é que nenhum desses esforços precisa terminar em derrota. Deus nos faz sempre
triunfar enquanto exercemos as armas naturais de ação decisiva contra o inimigo.

Tomando uma Decisão

Paulo não pretendia que permanecêssemos por muito tempo nos caminhos angustiosos do
capítulo 7. É um necessário caminho de passagem, mas não é feito para o cristão permanecer e
habitar. Depois que a lei nos mostrou nossa necessidade da graça purificadora de Cristo, nosso
relacionamento com a lei muda. Já não existe o choque entre o que deve ser feito e o que não
pode ser feito.

Embora o capítulo 8 ainda fale da lei, – a mesma lei – a luta inútil para guardá-la está finalizada.
A mente carnal, que não era sujeita à lei, agora foi transformada em uma mente espiritual.
Como filhos de Adão, possuiremos a sua natureza caída até que sejamos transladados em glóra
quando Cristo retornar, mas a mente convertida não mais é forçada a obedecer aos ditames da
natureza caída. O poder do Espírito Santo torna possível a todo cristão escolher não pecar.
Através do diário morrer para o “eu” e para o pecado, o crente justificado é capacitado a
sobrepujar completamente as propensões de sua natureza caída e viver uma vida de total
obediência a Deus. Aquele que condenou o pecado na carne agora cumpre em nós os justos
requisitos da lei, tornando a obediência não apenas possível, mas sim um glorioso privilégio.
Graças a Deus!

A palavra carnaval vem do Latin “carnis”, que significa carne. Por volta de 400 d.C, o grande
Coliseu Romano com frequência estava lotado de espectadores que haviam vindo para assistir
aos violentos jogos. O entretenimento sangrento consistia em assistir a seres humanos e feras
selvagens lutarem entre si até a morte. A multidão ali reunidade revelava-se descontroladamente
em tal esporte, e rugia com prazer quando uma pessoa ou fera era brutalmente morta. É daí que
tiramos a palavra carnaval.

Mas um dia, quando a vasta multidão do Coliseu estava assistindo uma sangrenta luta de
gladiadores, um monge sírio, Telêmaco, agiu. Profundamente atormentado e ultrajado pelo
absoluto desrespeito pela vida humana, Ele saltou corajosamente para a arena no meio da
carnificina e gritou: “Isso não está certo! Isso tem que parar!” Por ter ele interferido com o
entretenimento, o imperador de Romano ordenou que Telêmaco fosse morto pela espada.
Assim ele morreu. Mas através de sua coragem e morte, ele acendeu uma chama nos corações de
pessoas pensantes. A história registra que o seu sacrifício fez com que a frequência diminuísse e
logo acabasse de vez. Porque? Porque um homem ousou falar contra a maligna celebração da
carnificina. A despeito das opiniões populares que são atraentes às nossas paixões, os cristãos não
podem viver pela carne e ainda assim andar no Espírito. Devemos falar contra o pecado, mesmo
que seja impopular.

Mas a boa notícia é que, apesar de todos nós viajarmos pela experiência do deserto de Romanos
7, podemos entrar na Terra Prometida do capítulo 8. Deixe sua alma se banquetear com o leite e
o mel da liberdade, vitória e adoção na família de Deus. É o melhor lugar para armar sua tenda e
permanecer para sempre. Paulo reserva suas mais seletas palavras, sua linguagem mais
desenfreada, para retratar a alegria e a segurança daqueles que são controlados pelo Espírito
Santo. Medite muito e com frequência nesses versos, que descrevem de maneira tão bela a
experiência que Deus deseja que todos os Ses filhos manifestem a cada momento:

“O mesmo Espírito testifica … que somos filhos de Deus. Herdeiros de Deus, e co-herdeiros com
Cristo. … E sabemos que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus. …
Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho. … Se Deus é por nós, quem será contra nós? Como não nos dará também com Ele todas
as coisas? … Quem poderá nos separar do amor de Deus? … Somos mais do que vencedoremos
por meio daquele que nos amou. Pois estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem anjos,
nem principados, nem potestades, nem o presente, nem o porvir, nem altura, nem
profundidade, ou qualquer outra criatura, poderá nos separar do amor de Deus, que está em
Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 8:16–39).

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