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associou-o a si definitivamente em sua segunda passagem por Listra. E o circuncidou "por causa
dos judeus que havia naqueles lugares" (At 16,1-3).
Daí por diante, Timóteo acompanhou Paulo na maior parte de suas viagens e se tornou para
ele mais do que colaborador: "verdadeiro filho" (1Tm 1,2), "filho amado" (2Tm 1,2), "filho
amado e fiel" (1Cor 4,17). Ele esteve ao lado de Paulo, quando este escreveu várias de suas
cartas (1Ts 1,1; 2Ts 1,1; Rm 16,21; 2Cor 1,1; Fl 1,1; Cl 1,1; Fm v. 1).
Foi encarregado de missões importantes (At 19,22; 1Cor 4,17; Fl 2,19; 1Ts 3,2). Segundo
1Tm 1,3, Paulo lhe teria confiado, por algum tempo, a responsabilidade da comunidade de Éfeso.
Relativamente jovem (1Tm 4,12), de saúde delicada (1Tm 5,23), Timóteo era, sem dúvida,
tímido (1Cor 16,10), mas, indefectível e totalmente devotado a Paulo.
Tito, gentio de nascimento, abraçou a fé cristã sem ser obrigado a se circuncidar (Gl 2,1-5).
No mais forte da crise coríntia, desempenhou com competência a difícil missão de conciliação
(2Cor 7,6-16). Encarregado da coleta para os cristãos de Jerusalém (2Cor 8,6), mostrou-se digno
da confiança nele depositada (2Cor 12,17-18). Segundo Tt 1,5, Paulo o teria enviado a Creta para
organizar as Igrejas nascentes. Pelo que se pode julgar, Títo, parece ter sido homem de caráter, ao
mesmo tempo diplomata hábil e de ampla visão.
1
A. T. Robinson, Redating the New Testament, SCM Press, Londres 1976.
2
S. de Lestapis, L' Énigme des Pastorales de Saint Paul, Gabalda Paris, 1976.
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em conformidade com as diretrizes do Apóstolo, no decorrer da terceira viagem missionária e
da prisão em Cesaréia (Robinson) ou de Roma (Lestapis). A cronologia seria a seguinte:
Robinson
1Tm outono de 55
Tt fim da primavera de 57
2Tm cerca de 58 (em Cesaréia)
Lestapis
1Tm março-abril de 58
Tt março-abril de 58
2Tm em 61 (em Roma)
Não é possível resumir aqui os argumentos apresentados por esses dois autores em apoio
de suas teses. Digamos somente que a posição de Robinson parte de convicção prévia: é
inverossímil que nenhum livro do Novo Testamento fizesse a menor alusão (certa) a um
acontecimento tão importante como a destruição de Jerusalém e do Templo por Tito (em 70). Se
não o fazem, é porque são anteriores a esta catástrofe. No quadro de seu estudo, o autor examina
longamente o caso das Pastorais (pp. 67-85). A tese de Robinson é audaciosa, até mesmo
revolucionária; quando ele a apresentou em Nova et Vetera (1977, pp. 307-312), L. Bouyer deu à
sua recensão o título de "Um terremoto na crítica do Novo Testamento".
Lestapis só se interessa pelas Pastorais. Estudando minuciosamente as personalia (alusões
de Paulo a pessoas, acontecimentos, incidentes e recordações que diziam respeito a ele
pessoalmente), Lestapis tira as seguintes conclusões: a relação muito estreita entre Tt e 1Tm
obriga a tratá-las em conjunto, e os seis elementos pessoais que elas encerram mostram que essas
duas cartas foram escritas entre Filipos e Mileto, no fim da terceira viagem missionária
(março/abril de 58). Quanto à 2m, os doze elementos pessoais que se encontram nela permitem
pensar que ela foi redigida no começo do primeiro cativeiro romano (primavera de 61). Vemos
que, segundo esta cronologia, 1Tm e Tt se situam muito perto de Rm e seriam talvez anteriores a
Cl e Ef. Ora, considera Lestapis, isto é confirmado pelo fato de a soteriologia e a eclesiologia
dessas duas Pastorais serem muito próximas das de Rm e representarem uma etapa intermediária
entre a teologia paulina das grandes epístolas e a de Cl e Ef.
Concordemos ou não com a cronologia proposta por Robinson ou a de Lestapis, não
podemos mais ignorar suas posições e os argumentos nos quais eles se apoiam.
2.2. A organização eclesiástica e os ministérios
2.2.1. Que nos dizem os textos a este respeito?
1Tm e Tt supõem comunidades bem estruturadas ou em via de sê-lo. Se Paulo conservava
a supervisão sobre as Igrejas que fundara e se seus delegados (Timóteo, Tito, Ártemas e Tíquico)
eram seus representantes itinerantes, a existência de ministros sedentários, em cada comunidade,
é bem atestada: episcopos, anciãos, diáconos, sem dúvida diaconisas e talvez "viúvas".
1. Os delegados apostólicos de Paulo eram enviados às comunidades para permanências
temporárias. Munidos de plenos poderes, eles continuavam a obra esboçada por Paulo. Como
doutores, deviam pregar incansavelmente (2Tm 4,2), expondo a doutrina como a tinham
recebido (1Tm 6,20; Tt 2,1; 2Tm 1,13; 3,14), combatendo com vigor os falsos doutores (1Tm
1,3; Tt 1,10-13), exigindo dos futuros "anciãos" (presbíteros) segurança doutrinal absoluta (Tt
1,9; 2Tm 2,2) e excomungando os hereges (Tt 3,10). Assim seria fielmente transmitido o
"depósito" a eles confiado (1Tm 6,20; 2Tm 1,14). Como pastores, deviam lembrar às diversas
categorias de fiéis seus deveres (1Tm 6,1-2; 2,1-10). Eles eram ainda responsáveis pelo culto
(1Tm 2,8-11) e pela escolha e instituição dos anciãos (1Tm 3,2-7; Tt 1,5).
2. Os presbíteros (anciãos) ou epíscopos eram os encarregados locais de presidir às
reuniões (1Tm 5,17), de ensinar (1Tm 3,2; 5,17; Tt 1,11), de impor as mãos (1Tm 4,14, se
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entendermos esta passagem neste sentido e não no sentido "de imposição das mãos para o
presbiterado"). O retrato moral do perfeito epíscopo está pintado em duas passagens paralelas
(1Tm 3,1-7 e Tt 1,6-9).
3. Os diáconos são mencionados em 1Tm 3,8-13. As suas funções não são indicadas;
somente são enumeradas as qualidades exigidas deles. Qualidades que se aproximam muito das
dos presbíteros, com a diferença de que os diáconos não parecem encarregados de ensinar.
Podemos pensar que o v. 3,11 visa às diaconisas (cf. Rm 16,1-2).
4. É possível que um ministério especial estivesse confiado a certa categoria de viúvas
(1Tm 5,9-15), das quais são exigidas aptidões particulares; mas não se diz nada da natureza de
suas funções.
5. O rito da imposição das mãos é mencionado a propósito de Timóteo (1Tm 4,14 e 2Tm
1,6) e, de modo mais geral, a propósito dos presbíteros (1Tm 5,22).
2.2.2. Observações a respeito desses dados
Em At 20 (compare os vv. 17 e 28), os termos epíscopos e anciãos são conversíveis, isto é,
designam as mesmas pessoas, ao passo que nas epístolas de santo Inácio de Antioquia (cerca de
110), os dois ministérios são nitidamente distinguidos: na mesma comunidade há apenas um
epíscopo, cercado por conselho de anciãos (presbíteros) e de diáconos. Nas pastorais, como no
texto dos Atos, as mesmas pessoas podem ser chamadas indiferentemente epíscopos ou
presbíteros.
Observa-se, com efeito, que, quando enumera os ministérios em 1Tm 3,1-13, o autor passa
diretamente do epíscopo aos diáconos, sem mencionar os presbíteros. Esta omissão só se
compreende se se falou deles nos versículos concernentes ao epíscopo. A mesma constatação
pode ser feita em 1Tm 5,17.19: falando, desta vez, dos anciãos, o autor não cita os epíscopos.
Enfim, quando, em Tt 1,5-9, Paulo pede a Tito que estabeleça anciãos em Creta, justifica as
qualidades a serem exigidas deles, dizendo: "porque é preciso que o epíscopo.."
Nada, portanto, parece impor que se veja na estrutura eclesiástica das Pastorais uma
organização fundamentalmente diferente da de At 20 ou de Fl Q. Devemos, contudo, assinalar
dois pontos próprios das Pastorais: de um lado, os ministérios carismáticos, como a profecia e a
glossolalia perderam sua importância (é mencionado apenas o ministério profético, a propósito
da vocação e da consagração de Timóteo, na 1Tm 1,18 e 4,14); do outro lado, aparece um
ministério novo, o das "viúvas", pelo menos se admitirmos que se trata de uma "ordem" de
viúvas em 1Tm 5,9-10.
2.2.3. Os falsos doutores
Dois traços permitem caracterizar, pelo menos aproximativamente, os propagadores de
doutrinas errôneas.
a. Eles vinham certamente do judaísmo. Apresentavam-se como especialistas da Lei (1Tm
1,7) e exigiam a distinção entre alimentos puros e impuros (1Tm 4,3); as suas divagações são
qualificadas de "fábulas judaicas" (Tt,14), e Tito é convidado a desconfiar dos circuncisos (Tt
1,10-11).
b. Mas algumas de suas posições não se explicam pelo judaísmo, pelo menos, não pelo
judaísmo ortodoxo. Por exemplo, eles condenavam o matrimônio (1Tm 4,3), promoviam ascese
exagerada (1Tm 4,8-10), afirmavam que a ressurreição já se realizara (2Tm 2,18). E se
vangloriavam de terem "conhecimento" (gnose) superior (1Tm 6,20; cf. Tt 1,16), sinal, talvez, de
elitismo desdenhoso: o autor lembrava-lhes que Deus quer que todos os homens sejam salvos e
cheguem ao "conhecimento" da verdade (1Tm 2,4; 4,10; Tt 2,11). Esses traços não deixam de ter
afinidade com o gnosticismo que floresceu no século II.
Mas como esses falsos doutores não parecem professar as doutrinas essenciais do
gnosticismo propriamente dito, podemos falar, a respeito deles, somente de pré-gnosticismo.
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Precisamente, sabe-se que no século I algumas frações do judaísmo evoluíam para um
sincretismo caracterizado, de tendência gnosticizante. Devemos notar ainda que esses falsos
doutores não constituíam seita distinta: Tt 3,10 mostra que eles pertenciam à comunidade.
3. As características literárias
É provavelmente neste domínio que a diferença entre as Pastorais e as epístolas paulinas é
mais evidente. O estilo das Pastorais é "lento, difuso, monótono". Ao entusiasmo do profeta
sucedeu a reflexão tranqüila, serena e às vezes pesada do moralista.
A diferença é evidente especialmente no plano do vocabulário. Como os trabalhos de P. N.
Harrison3 marcaram época neste domínio, devemos dar a ele atenção particular. Segundo este
autor, as Pastorais contêm grande quantidade de termos que não se encontram nas epístolas
paulinas (305 para um total de cerca de 900). E, dentre esses 305 termos, 175 são desconhecidos
do Novo Testamento (esses termos são denominados hapax, em grego, ou "uma só vez").
Inversamente, muitas palavras características de Paulo estão ausentes das Pastorais (p.ex.,
evangelizar, circunciso, dar graças, gloriar-se, sabedoria, espiritual...). Por fim, observa Harrison,
muitas particularidades lingüísticas das Pastorais se encontram nos autores do século Il.
Donde as conclusões de Harrison: não somente Paulo não pode ser o autor das Pastorais
como também estas devem ser situadas no século II.
Embora cheguem a impressionar, as estatísticas de P. N. Harrison estão longe de impor
convicção.
Devemos notar em primeiro lugar que muitos dos hapax das Pastorais não têm nada de
característico. Alguns dependem unicamente de circunstâncias contingentes (avó, estômago,
manto, pergaminhos etc.). Outros se prendem à particularidade (e à novidade) dos assuntos
tratados: ninguém se admirará ao constatar que o termo "idolotitos" (carnes sacrificadas aos
ídolos), empregado várias vezes na 1Cor, porque em Corinto havia problema relacionado com
eles, não apareça nas outras epístolas. Lembremos também que o termo tão importante "igreja"
está totalmente ausente da grande exposição teológica da epístola aos Romanos (na qual figura
somente no cap. 16, de modo indireto, para designar tal ou tal comunidade local), ao passo que é
muito freqüente em 1Cor (21 vezes) e em Ef (9 vezes, numa epístola que tem apenas 6
capítulos). A novidade dos temas tratados nas Pastorais (organização das Igrejas, qualidades a
exigir dos ministros em particular) explica também, em parte, o número de hapax. Vê-se assim
como é arriscado apreciar um vocabulário usando apenas dados estatísticos.
Mas devemos notar principalmente que este método perde boa parte de seu interesse se
admitirmos, com muitos críticos, que Paulo, nos últimos anos de sua vida, ter-se-ia valido de
secetário ao qual teria deixado iniciativa maior do que a concedida, por exemplo, a Tércio,
secretário para a epístola aos Romanos (Rm 16,22). Sendo assim, os estudos estatísticos podem
fornecer informações sobre o vocabulário do secretário, mas não permitir tirar conclusões sólidas
sobre o autor como tal.
Quanto às aproximações que Harrison crê poder fazer com os autores do século II, elas são
praticamente sem valor e até, se voltam contra as teses que deveriam apoiar. Não basta, com
efeito, constatar que um número importante dos hapax das Pastorais se encontram na literatura
do século II; é necessário ainda provar que eles não foram usados no século I. Ora, o inverso é
que é verdade. Em 1929, M. Hitchcock já mostrava que, de 305 hapax das Pastorais, 277 eram
usados antes do ano 50. As descobertas de novos papiros reduzem sem cessar o número de
alguns termos dos quais não se tinham encontrado vestígios no século I: se para Hitchcock
restavam 28, em 1963, segundo J. N. Kelly, eles estavam reduzidos a 22. Observou-se que, se
aplicarmos o raciocínio de P. N. Harrison às epístolas incontestavelmente paulinas, veríamos
com surpresa que também elas deveriam ser atribuídas a algum escritor do século II! De fato,
enquanto os hapax das Pastorais se encontram, nos Padres apostólicos, na proporção de 34,9%,
3
Cf. P.N., HARRISON, The Problem of the Pastoral Epistles, Londres 1927.
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os de algumas epístolas de Paulo figuram neles em porcentagem praticamente igual e, às vezes,
até superior (Tessalonicenses 30%, Gálatas 34,4%, 1Coríntios 34,7%, Filipenses 37%). Vemos
assim que o argumento tirado da comparação com os escritores do século II se volta, como
bumerangue, contra o seu autor (Kelly).
4. É ou não Paulo o autor das Cartas Pastorais
Como foi possível perceber, a questão da autenticidade das Pastorais, sem ser
explicitamente colocada, estava presente, no plano de fundo, ao longo das considerações que
acabamos de fazer. De fato, elas nos forneceram elementos que nos permitem tirar agora
algumas conclusões.
a. As Pastorais não são escritos do século II (cf. o que foi dito da organização das Igrejas,
dos erros combatidos e do vocabulário).
b. As características estilísticas das Pastorais obrigam, pelo menos, a recorrer à hipótese do
secretário que tivesse a grande liberdade de ação. (Não podemos contentar-nos com explicar as
particularidades do vocabulário e do estilo pela "idade avançada" [?] de Paulo: se admitirmos
que as Pastorais foram escritas enquanto o Apóstolo vivia, o tempo que as separa das grandes
epístolas é curto).
c. Seria suficiente a hipótese do secretário? Tudo depende de como forem apreciados os
dados concernentes à organização das Igrejas e à teologia das epístolas. Podemos ser sensíveis
principalmente às aproximações possíveis com as grandes epístolas ou, ao contrário, descobrir
evolução que necessitasse de tempo mais longo. No primeiro caso, ainda restará decidir se as
Pastorais devem ser situadas no quadro dos Atos dos Apóstolos ou (admitido segundo cativeiro
romano) entre 61 e 67. No segundo caso, pode-se aceitar que, depois da morte de Paulo, um de
seus discípulos, pertencente, sem dúvida, à Igreja de Roma, usando (por volta de 70/80) cartas
autênticas do Apóstolo, deu-lhes edição muito marcada por seu estilo e adaptada às necessidades
das comunidades.
No estado atual da pesquisa, é muito difícil (impossível?) escolher, entre todas as
hipóteses, uma que consiga a aprovação de todos. Na verdade, e repetindo o título da obra de S.
de Lestapis, podemos dizer que existe "o enigma das Pastorais".
5. Grandes divisões e estrutura
Não se deve confiar nas impressões, mas a impressão é que as Cartas Pastorais têm
algumas mudanças de tema que parecem feitas de propósito: como se uma pessoa que sabe
escrever bem quisesse imitar até os defeitos do estilo de Paulo.
Impressões à parte, com a ressalva de que encontraremos parêntesis e digressões, não é tão
difícil descobrir uma linha temática geral em cada uma das cartas.
a. Na Primeira carta a Timóteo destacam-se, como elemento específico, um grupo de
listas de deveres a respeito do que devem fazer os homens (2,1-8), as mulheres (vv. 9-15), o
"bispo" (3,1-7), os diáconos (vv. 8-13), as viúvas (5,3-16), os presbíteros (vv. 17-25), os escravos
(6,1s) e os ricos (6,6-10.17-19), mais uma exortação geral sobre como Timóteo deve se
comportar com pessoas de idades diferentes (5,1s). No resto da carta, são freqüentes os
elementos mais tipicamente epistolares: o apóstolo fala de si mesmo (1,12-17), de Timóteo (vv.
18-20; 3,14-16; 4,6-16; 6,11-16) e dos falsos mestres (1,3-11; 4,1-5; 6,3-5). Este tipo de
"elementos epistolares" reaparece na metade e na conclusão da carta, o que nos permite delinear
um esquema bastante compreensível, com a ressalva de que a exortação sobre os ricos está
misturada com a conclusão da carta e não faltam outros parênteses. Dividiremos, pois, a carta
desta maneira:
132
- Resposta a Timóteo (vv. 22-25).
3. Segundo argumento: perigos no futuro (capítulo 3).
- A tese (vv. 1-9).
- Virtudes do apóstolo (vv. 10-17).
4. Peroração: a despedida do apóstolo (4,1-8).
- Encargo a Timóteo (vv. 1s).
- Perigos que se aproximam (vv. 3-5).
- Despedida (vv. 6-8).
5. Conclusão da carta (vv. 9-22).
- Últimas notícias e encargos (vv. 9-15).
- Notícias sobre sua situação processual (vv. 16-18).
- Saudações finais (vv. 19-22).
c. A Carta a Tito, por sua estrutura, se assemelha muito mais à Primeira carta a Timóteo
do que à Segunda. Também nela parte do fato que o apóstolo "deixou" um discípulo em um
determinado lugar (1,5; cf. 1Tm 1,3) e também contém, em dois momentos diferentes, listas de
deveres referentes aos presbíteros-bispos (1,5-9), aos anciãos (2,2-5), aos jovens (vv. 6-8), aos
escravos (vv. 9s). De todos os modos, o característico da carta são duas proclamações
querigmáticas, conduzidas pela idéia de que a bondade de Deus se manifestou (2,11-14; 3,4-7). A
primeira destas proclamações aparece como fundamento teológico da lista de deveres e
acrescenta um só versículo de comentário (v. 15); a segunda, por sua vez, está contida em uma
exortação geral (3,1s) e uma introdução (v. 3), mais uma exortação a Tito como conclusão (vv.
8-11).
Com exceção do que foi dito, só nos resta uma ampla introdução (1,1-4), uma breve
conclusão epistolar, com encargos e saudações (capítulo 3, respectivamente os vv. 12-14 e 15) e
um fragmento sobre os falsos mestres (1,10-16). Convencionalmente, devido à familiaridade do
v. 12, incluiremos esse fragmento na introdução epistolar, com o que podemos chegar ao
seguinte esquema:
1. Introdução da carta (1,1-16):
- Saudação (1,1-4).
- Introdução epistolar (1,5-16).
- Promoção de presbíteros-bispos (1,5-9).
- Sobre os falsos mestres (1,10-16).
2. Lista de deveres (2,1-15).
- Introdução (v. 1).
- Deveres concretos (vv. 2-10).
- Os anciãos (vv. 2-5).
- Os jovens (vv. 6-8).
- Os escravos (vv. 9s).
- Razão teológica (vv. 11-14).
- Conclusão (v. 15).
3. Outras exortações (3,1-11).
- Exortação geral (3,1s).
- Razão teológica (vv. 3-7).
- Introdução (v. 3).
- A "humanidade" de Deus (vv. 4-7).
- Exortação a Tito (vv. 8-11).
4. Conclusão da carta (3,12-15).
- Últimas recomendações (12-14).
- Saudações (v. 15).
6. A teologia das Pastorais
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6.1. Os dados fornecidos pelos textos
Deus
Deus, chamado "Pai" no endereço de cada uma das três cartas,, é o criador de tudo o que
existe (1Tm 4,3-4), o dispensador generoso de todo bem (1Tm 6,17). A ele se dirige o hino
solene de 1Tm 6,15-16. Movido por seu amor misericordioso e fiel (Tt 3,4-5; 2Tm 2,13), ele
quer a salvação de todos os homens (1Tm 2,4), que ele chama em virtude de seu desígnio de
graça (2Tm 1,9). O termo "salvador" é particularmente apropriado para designá-lo (1Tm 1,1; Tt
1,4).
Cristo
Cristo é verdadeiro Deus (Tt 2,13) e verdadeiro homem (1Tm 2,5), da linhagem de Davi
(2Tm 2,8). A encarnação é cantada em hino litúrgico (1Tm 3,16) que tem afinidade com o de Fl
2,6-11. Tendo vindo ao mundo para salvar os pecadores (1Tm 1,15), Cristo voltará no, fim dos
tempos em manifestação ("epifania") gloriosa (Tt 2,13; 2Tm 4,1.8).
O Espírito Santo
O Espírito glorificou (lit., "justificou", 1Tm 3,16) Jesus na Ressurreição. Ele habita nos
fiéis (2Tm 1,14), depois de os ter gerado para vida nova pelo batismo (Tt 3,5) e ajuda os
responsáveis pela Igreja a guardarem intato o "depósito" da fé (2Tm 1,14).
A salvação
Em dois textos de tonalidade muito paulina, o autor descreve o desígnio de salvação
estabelecido por Deus "em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, manifestado agora pela
aparição de nosso Salvador, o Cristo Jesus" (2Tm 1,9-11; Tt 3,5-8). Nessas duas passagens o
autor insiste em que não é pelas suas obras que os homens têm acesso à justificação (Tt 3,7) ou à
salvação (Tt 3,5; 2Tm 1,9).
A Igreja
A Igreja é comparada a uma casa cujos ecônomos são os epíscopos (Tt 1,7). Povo de Deus,
que Cristo adquiriu para si, resgatando-o de suas iniqüidades e purificando-o por seu sacrifício
(Tt 3,14), a Igreja se liga aos apóstolos: foi pela imposição das mãos de Paulo que Timóteo foi
estabelecido em sua função (2Tm 1,6) e era pela imposição das mãos de Timóteo que os
presbíteros eram consagrados para o ministério (1Tm 5,22).
A moral cristã
As virtudes morais têm lugar privilegiado: ponderação, temperança, domínio de si mesmo,
pureza, modéstia, paciência, hospitalidade, mansidão. O amor-caridade não é esquecido, mas não
tem preeminência particular. Toda a vida cristã tem como centro a "piedade" (cf. em 1Tm 3,16,
"o mistério da piedade!'), termo que tem significado muito amplo e que abrange a totalidade do
comportamento e que deve ser entendido no sentido de vida correta, em conformidade com a
vontade de Deus. Em 2Tm 2,3-6, três comparações, já usadas antes por Paulo (a carreira militar,
a ascese esportiva e a profissão de agricultor), convidam Timóteo e, a seu exemplo, os fiéis a
aceitarem as exigências da vocação cristã.
6.2. Uma teologia surpreendente
A teologia das Pastorais é desconcertante. Com efeito, de um lado, essas epístolas contêm
exposições que retomam os grandes temas paulinos; do outro, encontram-se nelas passagens que
(quanto ao fundo e à forma) aparentemente se afastam muito deles.
Os traços paulinos
Os traços paulinos não estão ausentes: consciência do pecado e incapacidade do homem
para merecer, por si mesmo, a justificação; gratuidade da salvação oferecida por Deus em Jesus
Cristo, o único redentor de todos os homens; papel essencial da fé; importância do batismo;
134
afirmação do desígnio eterno de Deus (cf. o "mistério" de 1Tm 3,16). As regras morais
concernentes aos escravos ou aos cristãos em face do poder estabelecido são as mesmas que
podem ser lidas nas grandes epístolas. A convicção de que os sofrimentos do Apóstolo podem
concorrer para o bem espiritual dos fiéis (2Tm 2,10) lembra exposições paulinas conhecidas.
Diferenças
Mas, ao lado dessas semelhanças, existem diferenças importantes.
- A fé, de nexo vivo com Cristo, tende a se tornar a fidelidade a credo oficial, pedra de
toque da ortodoxia. O primeiro cuidado dos pastores é menos o de evangelizar do que o de
guardar o depósito recebido e de transmiti-lo fielmente.
- O autor volta várias vezes à necessidade das "boas obras" (1Tm 5,10.25; 6,18; Tt 2,7;
2,14; 3,8.14; 2Tm 4,5.18). Essa expressão está ausente das grandes epístolas.
- A moral cristã parece resumir-se a um humanismo equilibrado, muito distanciado dos
engajamentos radicais e exigentes ("moral burguesa", diz Dibelius).
- O Espírito Santo se ele é o agente do renascimento batismal, é também o garante do
depósito confiado. Não se vê a sua ação suscitando carismas variados como na 1Cor, por
exemplo.
- O amor-caridade não é mais a virtude por excelência, o "vínculo da perfeição" (Cl 3,14),
que ultrapassa todos os carismas (1Cor 12,31-13,13), mas é uma virtude entre as outras (1Tm
2,15; 4,12).
- A graça poderia parecer apenas socorro externo que vem sustentar os esforços do homem
(Tt 2,12).
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