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Pastinha - Mártir da capoeira

Vicente Ferreira Pastinha deu a vida pela capoeira angola, mas não foi reconhecido no
Brasil.

Um sábio tão genial não deveria ter acabado daquele jeito. Mas o fim trágico de Vicente
Ferreira Pastinha, o mestre Pastinha, revela de que forma o Brasil trata a sua memória.
Não era um homem das letras, é verdade, mas foi uma espécie de guardião de uma
cultura ancestral. A capoeira angola, que defendeu com uma abnegação religiosa, era o
seu principal cabedal. Por ela, divulgou o Brasil na África, ganhou fama e espaço em
jornais. Contudo, como um mártir incógnito de negros escravos como sua mãe, morreu
doente, cego e na miséria, sem ver o seu trabalho reconhecido no país.

Época de ouro

Exaltado por Jorge Amado e Caetano Veloso, Pastinha tem período áureo e chega ao
ápice em viagem à África

Posaram para foto nas escadas do avião. À frente, um senhor elegante, satisfeito e
sorridente. Nos degraus seguintes, logo abaixo, um time respeitável de nomes
excêntricos: José Gato, João Grande, Camafeu de Oxóssi, Gildo Alfinete e Roberto
Satanás. Reunido às pressas, o grupo partiria para a mais importante empreitada da
história da capoeira. Completaram a delegação de artistas e intelectuais brasileiros em
viagem inédita à África. Desfalcado de João Pequeno, o conjunto regido por Pastinha
representaria a Bahia em evento de afirmação da negritude. O outro lado do oceano
estava em festa.
Na capital do Senegal, Dakar, realizava-se o 1º Festival Mundial de Arte Negra. O ano é
1966 e os africanos conheceram a capoeira do Brasil na sua época de ouro. Ao carimbar
seu primeiro passaporte, Pastinha tornaria realidade desejo antigo. Tinha vontade de
mostrar para descendentes dos seus ancestrais o que havia feito de sua cultura. Sensação
semelhante a que viveu o ousado Ruy Barbosa ao pendurar tabuleta com os dizeres “dá-
se aula de inglês”, em plena Londres. “Eles gostaram do que viram. Fizemos uma
apresentação de gala”, assegura um dos membros da comissão, Gildo Alfinete. Era
capoeira afro-brasileira para africano ver.

O feito ganhou os jornais, virou música escrita pelo próprio Pastinha, entoada nas rodas
de capoeira, gravada na voz de Caetano Veloso: “Pastinha já foi à África, pra mostrar
capoeira do Brasil”, cantou Caetano, em Triste Bahia, como que lamentando a
passagem de um período que não mais poderia voltar. Antes, Pastinha e sua trupe já
haviam levado a arte da capoeira para Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro.
Colocaram 40 mil pessoas no ginásio Maracananzinho. “Os capoeiristas do centro
angola se exibiram no Aeroporto Santos Dumont. Pastinha, com seus 60 anos, lidera os
bambas da capoeira...”, noticiou o Diário Carioca, de 10 de abril de 1959.

Era o apogeu, tempos áureos para mestre Pastinha e sua academia, transformada em
passagem obrigatória para turistas que visitavam a Salvador dos anos 60. Desprendido,
sem amontoar bens materiais, Pastinha tinha fama de artista, era intelectual do povo,
célebre “vadio”. Sem nenhum tipo de formação acadêmica, transitou entre intelectuais,
jornalistas e políticos da época. Impunha respeito em qualquer meio. “Trouxe para a
capoeira referências de fora. Se comunicava com o mundo exterior. Apesar de ortodoxo
na estética, não se fechava no seu mundo”, analisa o pesquisador Frede Abreu.

Alimento cultural

A admiração era recíproca. A intelectualidade também ia se “alimentar culturalmente”


no Centro Esportivo de Capoeira Angola. Carybé, artista plástico, chegou a planejar
edição de livro ilustrado com Pastinha. Camafeu de Oxóssi, boêmio, conhecido
angoleiro, dos melhores mestres de canto da Bahia. Wilson Lins, o deputado, apoiava
politicamente as atribuições do mestre. Pierre Verger, o francês radicado na Bahia,
fascinado pelo jogo. “Ele fez da capoeira algo decente”, elogiava Verger. Nada seria
comparável, porém, à declarada afeição por Jorge Amado. Superaram os limites da boa
convivência e construíram amizade sincera.
O escritor cita Pastinha em pelo menos quatro de suas publicações. Em Navegação de
cabotagem, o coloca em pé de igualdade com alguns dos maiores gênios de todo o
mundo, os quais conhecia pessoalmente: “Privei com alguns dos mestres, dos
verdadeiros, do universo da ciência, das letras, das artes. Picasso, Sartre, Joliot, meu
privilégio foi tê-los conhecido. Não menor o apanágio de ter merecido a amizade dos
criadores da cultura popular da Bahia(...), de acompanhar Pastinha até a última roda de
capoeira angola”. Depois, em Bahia Boa Terra Bahia, parceria com Flávio Dan, volta a
aclamá-lo, dessa vez em prosa quase lírica:

“De repente um salto, uma volta sobre si mesmo, o pé solto no ar, o corpo leve, um
passo de balé, cadê o adversário? Quem teve a aventura de ver mestre Pastinha na roda
da capoeira, quem assistiu ao maravilhoso espetáculo de sua luta, quem o viu diante dos
berimbaus a comandar seus alunos, teve o privilégio de conhecer o capoeirista perfeito,
o primeiro, sem segundo”. Pastinha e Jorge Amado conversavam por horas e horas, nas
janelas dos casarões do Pelourinho ou na casa do escritor, no Rio Vermelho. Zélia
Gattai chegou a registrar em fotografia alguns desses encontros.

As primeiras críticas não demoraram a aparecer. O reconhecimento dos brancos faz


outros mestres angola torcerem o nariz para Pastinha. Waldemar, Cobrinha Verde,
Canjiquinha e Caiçara afirmam não concordar com seus métodos, queriam a capoeira
dos guetos. Pastinha responde à altura. “Com franqueza, é tempo de zelar pelo esporte”.
Os demais tiveram que se adequar à sua didática. Ainda hoje os grupos de capoeira
angola, sem exceção, seguem o seu modelo. “A forma de educação criada por Pastinha
foi baseada em princípios éticos, estéticos, filosóficos e humanos aplicados de forma
muito profunda. Tudo que tem profundidade permanece por muito tempo”, julga o
educador Pedro Abib.

Pastinha teve estudo deficiente, cursou apenas alfabetização, mas compensava com a
sabedoria. A própria postura era de intelectual. “Um gentleman, homem fino”, atesta
Gildo Alfinete. Poderia discutir sobre qualquer assunto, com qualquer um que o
interpelasse. Estudiosos do mais alto gabarito iam à sua procura. Outros, chama a
atenção Ângelo Decânio, realizavam trabalhos irresponsáveis servindo-se do seu nome.
“Pastinha foi utilizado por muita gente inescrupulosa como alavanca social. Isso
desgastava o mestre, que era desprovido de ambições políticas”.

O folclorista Waldeloir Rego faria diferente. Realizou ensaio socio-etnográfico


completo sobre a capoeira angola e suas origens. Em alguns momentos, Waldeloir
discorre longamente sobre sua inteligência, mas também sobre suas qualidades como
capoeirista. Para tanto, recorre a citação de Jorge Amado: “Mestre Pastinha tem mais de
70 anos. É um mulato pequeno de assombrosa agilidade, de resistência incomum.
Quando ele começa a brincar, a impressão dos assistentes é que aquele pobre velho,
carapinha branca, cairá em dois minutos, derrubado pelo jovem adversário ou pela falta
de fôlego. Ledo e cego engano. Os adversários sucedem-se, e ele os vence a todos”.

Segredos do berimbau

A música de Pastinha também seria motivo de estudos, dessa vez através da etno-
musicóloga Emília Biancardi. Em 1962, a pesquisadora visitou Pastinha com comissão
inteira de alunos do projeto Viva Bahia, primeiro grupo de estudos folclóricos do
estado. “Queria que meus alunos aprendessem os segredos do berimbau, a musicalidade
da capoeira”. O mestre ensinou com gosto, mas foi além. “Logo nas primeiras aulas já
estava na roda, ensinando capoeira”, revela. Não atrapalharia a pesquisa direcionada à
música. Emília Biancardi chegou à conclusão de que Pastinha também era excelente
compositor de ladainhas e tocador de berimbau, ao contrário do que diziam alguns.

“Tocava de forma tradicional, sem floreios. Não era um virtuoso como Canjiquinha ou
Waldemar. Seu berimbau era intimista e sentimental”, define a etno-musicóloga. Era a
forma de adequar o som do instrumento ao jogo. Ambos deveriam estar em perfeita
consonância. “Capoeira e música eram indissociáveis para Pastinha. Um era o corpo, o
outro o espírito”. Ingênuo, também não era capaz de dissociar a camaradagem dos
negócios. Não cobrava nada por sábias informações ou pela própria imagem, em
fotografias. “Houve quem chupasse a laranja e deixasse o bagaço”, acusa Emília
Biancardi. Solícito, o mestre atendia a todos, posava sem saber que era explorado, como
nas escadas do avião, satisfeito e sorridente.

Filósofo da capoeira

Como um pensador da cultura popular, Pastinha deixa seus ensinamentos em forma de


manuscritos, desenhos, pinturas e até um livro-manual

A caligrafia simples, perfeitamente legível, é de um sábio envolto em pensamentos


intrigantes. Mais do que meros sinais gráficos ou vocábulos de uma língua, são
amálgama de conceitos, revelam a complexidade da filosofia popular. Pastinha não foi
doutor, acadêmico ou versado em letras, mas era portador de curiosa erudição.
Mergulhou no próprio mundo com tal lucidez que transformou-lhe em palavras.
“Angola capoeira-mãe, mandinga de escravo em ânsia de liberdade. Seu princípio não
tem método, seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista”.

Em folhas avulsas ou no seu caderno ilustrado, de capa dura, carinhosamente apelidado


de “caderno albo”, elaborou ensinamentos retos, mas também noções abstratas. O título
do próprio caderno sugere conteúdo além do palpável: “Quando as Pernas Fazem
Miserê – A Metafísica da Capoeira”. “Ele foi o primeiro a conseguir verbalizar a
capoeira na sua subjetividade”, examina Pedro Moraes Trindade, o mestre Moraes, mais
um dos seus discípulos. Pastinha não conhecia a filosofia cartesiana, mas sobre papel
pautado elaborou código de ética sólido. “Conseguiu fazer isso com o sentimento,
exatamente como acontece com os zens budistas”, compara Moraes.

Fez verdadeiro contorcionismo intelectual para mostrar vertente filosófica e sociológica


da capoeira. Através de metáforas, criou princípios de conduta. Em alguns casos,
utilizou estrofes, versos simples, acompanhados de desenhos e ilustrações. “Eu não sou
folha de flandre, nem prato esmaltado, não vou jogar com você porque é mal-educado”.
“Se expressava com poesia. Era também poeta”, exalta Frede Abreu. As rimas, quase
todas transformadas em ladainhas, não necessariamente deveriam ser carregadas de
apelo moral. Poderiam demonstrar apenas seu amor pela capoeira. “Eu nasci no sábado,
no domingo eu me criei, na segunda-feira, capoeira eu joguei”.

A enorme capacidade de reflexão o fez discorrer longamente sobre assuntos diversos,


em alguns casos com conteúdo ainda indecifrável. O próprio Ângelo Decânio Filho,
considerado maior conhecedor da obra escrita do mestre, admite a necessidade de um
estudo mais profundo. Foi ele o idealizador do livro A herança de Pastinha, no qual
transcreve boa parte dos seus escritos e faz alguns comentários. “Ainda há verdadeiros
hieroglifos a serem desvendados ali”, assegura. Do que conseguiu extrair, Decânio
sintetiza em poucas palavras. “Cidadania, fé e patriotismo. São o tripé filosófico dos
seus manuscritos”.

Pastinha escreveu sobre a necessidade de lutar pela nação, criticou a postura omissa dos
políticos, reconheceu sua própria pequenez diante da grandiosidade de Deus. “Ê maior é
Deus, maior é Deus, pequeno sou eu”. Não se considerava católico, nem do candomblé,
mas tinha discurso carregado de religiosidade, quase messiânico. “A capoeira entre as
lutas é a mais amável. Deus designou que fosse pura e bela. Devemos esquecer os
hábitos duvidosos. Temos que aprender a guardar bem as entradas de Satanás”.

História viva

As páginas dos manuscritos são também uma espécie de diário, a história viva do
Centro Esportivo de Capoeira Angola e da saga dos angoleiros na Bahia. Pastinha fala
de um início difícil e de conflitos políticos que por pouco não condenaram a capoeira
tradicional à extinção. Detalha as intrigas internas que tinha que administrar. Trata das
mortes de Amorzinho e Aberrê, que fizeram-no hesitar na continuidade do ousado
projeto, até a festejada inauguração do centro, em 1949. “As primeiras camisas foram
feitas no Bigode (Brotas), em cores preto e amarelo”, relata Pastinha.

Alguns dos amigos e discípulos ficaram com a herança filosófica de Pastinha, quando
da sua morte. A coletânea de manuscritos avulsos foram parar nas mãos do artista
plástico Carybé, posteriormente doados a Decânio. O “caderno albo” pertenceu ao
deputado Wilson Lins. “Impressionante como ambos continuam atuais. Os escritos de
mestre Pastinha são uma prova de que os saberes populares não podem ser considerados
menos importantes que os saberes científicos”, opina o educador Pedro Abib. Ainda há
outros documentos escritos à mão pelo mestre. No seu acervo, Gildo Alfinete guarda,
além de manuscritos, uma enorme lona com caligrafia de Pastinha, a qual era estendida
na academia.

De próprio punho, o mestre também fez pinturas em tela. Nos quadros, assim como nos
desenhos, utilizou a capoeira para expressar seu tino pelas artes plásticas. O único
trabalho que deixou devidamente editado foi um livreto intitulado Capoeira Angola,
com publicação em 1964. Dedica os primeiros capítulos à ética e à formação moral do
capoeirista. Depois, surpreendentemente, transforma o livro em verdadeiro manual de
golpes. Através de fotografias, demonstra cada um dos mecanismos de ataque e defesa
da capoeira. Antes, porém, faz uma ressalva. “Não tive a pretensão de descrever a
capoeira em suas minúcias, nem fazer capoeiritas com a simples leitura”.
Sementes de Pastinha

O mestre sabia que capoeira se aprende jogando, e com o estudo da sua filosofia.
Exatamente como fazem alguns dos seus discípulos, a maior herança filosófica de
Pastinha. “Os meus discípulos zelam por mim. Os olhos deles são os meus”. Aos 86
anos, João Pequeno parece impregnado dos seus preceitos. A ponto de ter sido
agraciado com o nome do mestre: “João Pequeno de Pastinha”. Pequeno forma dupla de
guardiões da capoeira angola com João Grande, do qual Pastinha ficaria orgulhoso se
estivesse vivo. Grande alçou vôo alto, aos 76 anos, mora em Nova York, nos Estados
Unidos, onde cobra US$15 por hora-aula aos seus mais de 100 alunos.

Saiu da lavoura, em Itagi, para ser premiado Doutor Honoris Causa pela Universidade
Upsala College, de Nova Jersey. Não deixa o hábito de mascar cravos e usar a peculiar
boina. “Quanto aos discípulos, ele acertou em cheio. João Pequeno e João Grande
levaram pra frente o seu projeto de vida. São, de fato, os caras que amam a capoeira, as
sementes de Pastinha”, aposta Frede Abreu. “A cultura popular é dinâmica. Mas
existem muitos sinais da tradição ainda presentes nas formas de transmissão daqueles
saberes, que os dois joões mantêm nas suas escolas”, complementa Pedro Abib.

Aqueles saberes iam da mais pura sabedoria popular às mais complexas e abstratas
noções. “Qual o golpe mais importante da capoeira?”, perguntou uma jornalista. Era a
deixa para resposta irônica. “A carreira. Se não pode enfrentar o adversário, corra”.
Curiosa versatilidade de idéias. Escrevia muito e falava pouco, mas quando se fazia
ouvir a voz mansa e arrastada, disparava pérolas. “Você tem uma boca e duas orelhas. É
pra ouvir mais e falar menos”. Bebia na cultura popular para brincar com as palavras.
Assim deixou sua herança. “O grande filósofo da capoeira. Não teve outro, não tem,
nem vai ter”, profetiza Frede Abreu.

Mestre sacerdote

Inteligência diferenciada e dedicação religiosa à capoeiragem elevam mestre Pastinha à


condição de maior símbolo da prática angoleira.

-Tem jeito não, Pastinha... É você mesmo que vai tomar conta disso aqui...

As palavras de Totonho de Maré soaram como um decreto. Reforçaram o insistente


convite de mestre
Amorzinho, dono da capoeiragem, o qual cumprimentou Pastinha com forte aperto de
mão, seguido da surpreendente proposta.

- Há muito que eu esperava para lhe entregar essa capoeira para o senhor mestrar...

Sabiam de sua inteligência. Eram mestres da antiga Gengibirra, ponto de encontro dos
maiores capoeiristas de Salvador nas primeiras décadas do século passado. Amorzinho,
Maré, Noronha, Aberrê, Livino e tantos outros reconheceram à sua frente não apenas
um transmissor de ensinamentos práticos, mas um homem de avançada sabedoria, capaz
de conduzir os destinos da capoeira angola, tirando-a da marginalidade. “Eles viram em
Pastinha um sujeito de visão. Por isso entregaram a ele a missão de reerguer uma prática
que andava esquecida”, explica o pesquisador Frede Abreu, idealizador do Instituto Jair
Moura, o maior acervo de capoeira do mundo.

Como um sacerdote, Vicente Ferreira Pastinha doou-se com abnegação religiosa à


incumbência que lhe foi conferida, a ponto de sacrificar a própria vida pela sua obra.
Chamado à Galanteria da Capoeira, conforme nomeou Maré, se transformaria num
ícone para as futuras gerações, o exemplo a ser seguido. Transmitiu o dom sagrado aos
seus alunos e proferiu aos quatro cantos a filosofia dos seus ancestrais. Não seria apenas
o responsável por manter de forma ortodoxa a estética lúdica angoleira. Iria além. Ao
levar para o dia-a-dia os truques e artimanhas da roda, faria da própria vida um eterno
embate de capoeira. Pastinha era impregnado da astúcia que compunha o sistema
simbólico do jogo.

A própria fala, com voz arrastada, denunciava entremeado de idéias carregado de


simulações e metáforas. “Capoeira é mandinga, é manha, é malícia. É tudo que a boca
come...”, definiu. “Respirava capoeira. Com ele não tinha duas conversas”, confirma
Manuel Silva, o mestre Boca Rica, 70 anos, um dos seus mais antigos discípulos.
Pastinha não queria fazer da prática simples arte marcial. Utilizou a luta como forma de
apreensão da realidade. Fez-se filósofo. “Ninguém pode mostrar tudo que tem. As
entregas e revelações devem ser feitas aos poucos. Isso serve na capoeira, na família, na
vida”, ensina, em um dos inúmeros manuscritos que deixou como herança.

Durante as quatro décadas que esteve à frente do Centro Esportivo de Capoeira Angola
(Ceca), academia que funcionou por 18 anos no Largo do Pelourinho, número 19,
Pastinha procedeu como autêntico “velho mestre”. O termo refere-se aos fundadores da
tradição afro-baiana de praticar capoeira, a exemplo dos que se reuniam na Gengibirra,
no bairro da Liberdade. “Naquele tempo para ser mestre na arte da capoeira tinha que
ser artista na vida”, escreve Frede Abreu em um dos seus artigos. Pastinha não só
seguiria esse preceito à risca como o tornou patente para os seus seguidores.

Sem negar as tradições, criou nova forma de ensino. Adaptou à sua pedagogia
características de esporte. Lhe deu, literalmente, nova roupagem. Seus alunos usavam
uma espécie de “hábito” com as cores amarela e preta, em homenagem ao clube do
coração, o Ypiranga. Deveriam estar com as vestimentas impecáveis. Pastinha não
tolerava o desleixo. “O jogo precisa ser jogado sem sujar a roupa, sem tocar o corpo no
chão”, aconselhava. Assim instituiu verdadeiros dogmas, criou preceitos, pregou
obediência quase cega às regras. Era a resposta à capoeira regional, criada por mestre
Bimba.
A gênese de eterna rivalidade se deu quando Pastinha tornou os angoleiros
reconhecidos, assim como Bimba fez com os regionais. “Regional e angola, cisões na
capoeira, problema de difícil solução. Melhor gingar, passar pra outro parágrafo...”,
ironizou o antropólogo Antônio Liberac, no livro Bimba, Pastinha e Besouro de
Mangangá, que desvenda a vida dos três maiores nomes da capoeira na Bahia. O
terceiro capítulo dedicado a Pastinha revela a trajetória de um homem que mudou os
rumos da capoeira angola, tendo rompido com os capoeiristas desordeiros que
aterrorizavam a antiga Salvador.

Sua academia ganhou notoriedade, virou centro de grande reputação. Passou a ser
freqüentada por intelectuais, políticos e artistas. A fama não o fez acumular riquezas,
nem representaram a quebra com os antigos valores. Ao contrário, as rodas organizadas
por Pastinha se mantiveram como um ritual, quase como um culto. “Era um místico.
Vivia a capoeira com intensidade e realizava a sua própria interpretação daquele
universo”, observa o artista plástico Mário Cravo, visitante assíduo.

Homem bom, afetuoso, civilizado, como testemunhou em vários depoimentos o escritor


e amigo Jorge Amado. “Mestre Pastinha, mestre da capoeira de angola e da cordialidade
baiana, ser de alta civilização, homem do povo com toda sua picardia, é um dos seus
ilustres...”, escreveu, em Bahia de Todos os Santos. O próprio mestre não recomendava
outro tipo de comportamento para os seus discípulos. “Pratico a verdadeira capoeira de
angola e aqui os homens aprendem a ser leais e justos...”.

Nada o faria abandonar, porém, a origem maliciosa. Pastinha reconhecia na capoeira


feição perversa. “O que serve para a defesa também serve para o ataque”. Cresceu com
a malandragem das ruas. “Era o seu espaço desde criança. Impossível não assimilar o
mundo cheio de malícia”, diz a historiadora Adriana Albert Dias. Tal convivência o
teria levado, em 1902, para a Marinha, destino de boa parte dos adolescentes da época.
“Foi parar nas Forças Armadas para entrar no eixo”, acredita Adriana. Aos 12 anos,
ensinava capoeira para os colegas, na Escola de Aprendizes de Marinheiro.

Nasceu em 5 de abril de 1889. Filho de um espanhol, José Senor Pastinha, e da negra


Raimunda dos Santos, viveu na Rua do Tijolo, no Centro Histórico, atual 28 de
Setembro. Além de pintor de paredes, Pastinha trabalhou também no jogo do bicho, foi
leão-de-chácara, contravenção prevista no Código Penal à época. Aprendeu capoeira
para livrar-se de um rival, mais velho e mais taludo. “Entrávamos em luta e eu sempre
levava a pior”. Um escravo octogenário, o negro Benedito, assistia tudo a distância.
Certo dia, o chamou para dentro do seu “canzuá”, na Rua das Laranjeiras.

“Ocê não pode brigar com aquele menino, aquele menino é mais ativo que ocê, aquele
menino é malandro. O tempo que você perde empinando raia vem aqui que eu vou te
ensinar capoeira”, incitou. A partir dali não deixaria mais de lutar, nem quando a polícia
importunava as rodas no meio da rua, conforme descreve antiga matéria do jornal A
Tarde. “Nos tempos de jovem, em que a mocidade freqüentava o famoso Campo da
Pólvora, Vicente Pastinha fechou o tempo muitas vezes, pondo por terra vários policiais
de uma só vez”. Era a prova de que se tratava também de exímio capoeirista, apesar da
estatura diminuta: 1,56m.

“Dos antigos, não tinha nenhum pra pular na frente dele”, garante mestre João Pequeno,
89 anos, seu mais velho discípulo. “Na hora da precisão fazia miserê com as pernas”,
relata mestre João Grande, 76 anos, que junto com Pequeno leva à frente seus
ensinamentos. O próprio Pastinha desafiava. “Ninguém ainda me botou no chão e nem
ainda vai botar”. Salteou os adversários mas não conseguiu contragolpear os dois
derrames cerebrais, acompanhados da cegueira. Em 1966, na histórica viagem à África,
daria seu último suspiro glorioso. Mostrou a capoeira do Brasil para os africanos.

Sem enxergar, conheceu a escuridão do abandono. Além de Jorge Amado e da terceira


esposa, Maria Romélia, poucos o ajudaram no final da vida. Sem filhos, traído pelo
governo, terminou no isolamento, na penumbra de quarto úmido, num casario do
Pelourinho. Nem de longe era aquele Pastinha que, em 1941, adentrou a Galanteria da
Capoeira e assumiu o disputado clã. Ali, à frente de Amorzinho, Maré, Noronha, Livino
e outros tantos, comprometeu-se em passar adiante o que havia herdado dos escravos.
Conta-se que, ao longo de 92 anos de vida, formou mais de dez mil alunos. Cumpriu
rigorosamente a missão de mestre sacerdote.

Tateando no escuro

Pastinha ficou cego e teve o mesmo final trágico da maioria dos ‘velhos mestres’

Esquivou-se com peculiar malícia, como que tentando livrar-se de golpe mortal. Foi em
vão. Em toda a sua trajetória seria o único ataque a que não teria defesa. Acertou-o em
cheio.
- Pastinha, que é que tá sentindo?

A resposta ao questionamento de dona Romélia, a terceira esposa, guardaria certo


desdém, misto de resignação e sarcasmo.

- Nada, absolutamente nada... Tô bem, graças a Deus...

Definitivamente não estava. Vivia em quarto escuro, sujo, sombrio. Enxergava apenas o
negrume. Duro golpe de deslealdade havia lhe deixado cego. É verdade que dois
derrames cerebrais subtraíram sua visão, talvez resultado das baforadas de cigarro,
companheiro inseparável. Mas nada perturbaria tanto seus sentidos que a traiçoeira
infidelidade, tão devastadora quanto o “furo nos olhos”. Sem maiores explicações, em
1973, tiraram-lhe seu maior bem, o Centro Esportivo de Capoeira Angola.

Seria “despejo” temporário, uma simples reforma nas dependências do velho casarão.
Como a própria cegueira, porém, foi definitiva. A academia se transformaria em
restaurante, o Senac, no Largo do Pelourinho. O espaço não alimentaria culturalmente
baianos e turistas, como fazia o centro de Pastinha. O mestre havia perdido sua maior
fonte de renda. Segundo jornais da época, sequer recebeu indenização e alguns dos
pertences que deixou no local teriam sido extraviados. “Quadros pintados por ele,
livros, registros da academia, cartas, bandeiras, móveis em jacarandá, desapareceram
apesar de ter ficado sob a guarda dos responsáveis pela desapropriação”, escreveu A
República.

“A saída do Pelourinho foi trágica. Nos enganaram. Disseram que seria por uns dias”,
testemunha Jaime Martins dos Santos, o mestre Curió, em depoimento no documentário
Pastinha: uma vida pela capoeira, de Antônio Muricy. A transferência para cortiço
pequeno e sem estrutura, na Ladeira do Ferrão, também conhecida como Ladeira do
Mijo, era o princípio do declínio. Pastinha não havia acumulado capital para superar a
crise. Já empobrecido, ficou em estado de penúria. Durante certo tempo ocultaria a
mágoa. Depois, quebraria o silêncio. “Nada vejo. Nada, absolutamente nada. Trevas,
trevas. Estou na miséria”, revelou.

Revolta e amargura

Matéria histórica do jornal A Tarde, em 5 de junho de 1980, trouxe título lacônico: “O


desabafo do mestre”. Perguntado sobre as condições em que se encontrava a capoeira
baiana à época, responderia em tom de revolta e amargura. “A capoeira de nada precisa.
Quem precisa sou eu”. De fato, a prática havia ganho status e reconhecimento.
Justamente os “velhos mestres”, que haviam lhe dado condições de crescer, não
colheram seus frutos. “A capoeira baiana em alta no mercado, enquanto os
mantenedores de sua tradição, como eu mesmo, morrendo em estado de severa
pobreza”.

Como espécie de maldição, Pastinha teve o mesmo fim de Amorzinho, Aberrê,


Waldemar, Cobrinha Verde e do regional mestre Bimba. Como eles, também seria
ridicularizado por alguns dos próprios alunos. “Na viagem à África seu Pastinha já não
enxergava bem. João grande disse que José Gato e os outros comiam o peixe do prato
dele e deixavam só as espinhas”, delata mestre João Pequeno, em tom de lamentação.
Pela imprensa, teve a sua condição de mestre questionada. Foi diminuído a tomador de
conta de roda: “Pastinha é uma invenção da mídia”. “Pastinha, bom ou mau
capoeirista?”. Mesmo doente, responde aos ataques: “Despeitados: Quem pode dizer
que não sou mestre. Sou mestre com a permissão dos antigos”.

Provaria isso cego. “Sem enxergar, jogava no tato”, testemunha o mestre Boca Rica. Em
visita a Salvador, o jornalista Roberto Freire se surpreenderia com aquele velhote, que
em vez de bengala branca usava a intuição para continuar superando adversários. “Ele
lutava cego. Os alunos mantinham distância e pensei que fosse respeito. Até que um
deles me disse: ‘Se a gente chegar mais perto, leva’”, narra Freire. Participaria de rodas
de capoeira até quando suportasse. Impossibilitado de andar, recolheria-se aos precários
aposentos, pondo-se apenas a pensar como um rabino.

Sábio, até o final dos seus dias, Pastinha filosofou sobre a particular decadência.
Desenvolveu reflexão sobre o próprio infortúnio. Em matéria do jornal A Tarde, com
subtítulo “Tateando no Escuro”, o mestre tenta explicar a tragédia em que havia se
enterrado. “Engraçada a vida. A fama chegou para mim (...) No princípio sentia uma
vaidade e pensava: formidável, todos falam de mim, um mulatinho filho de escravo.
Terrível é descobrir que tudo isso é falso. A única coisa real foi a capoeira”,

Ajuda de custo

Mas Pastinha sabia que poderia contar com alguns dos seus. O escritor Jorge Amado
interveio junto ao então governador Antonio Carlos Magalhães para que o mestre
recebesse ajuda de custo de 300 cruzeiros e pensão vitalícia por “serviços prestados ao
turismo”. “Mestre Pastinha merece ter uma situação excepcional na Bahia. Trata-se de
um grande mestre da nossa cultura popular e deveria ser amparado pelos poderes
públicos e pela população. É o guardião de preciosidade da nossa cultura, a capoeira
angola”, alertou Jorge Amado.
Ainda que não devolvessem sua academia, Pastinha reivindicava reconhecimento.
Queria que o governo Luiz Viana Filho o apoiasse no projeto de tornar sua capoeira um
referencial para o turismo em Salvador”. Não foi atendido. “Solicitei ao governador um
auxílio para restaurar a academia. Até agora, porém, apenas promessas”. O socorro viria
de outras partes. Artistas como Moraes Moreira chegaram a realizar shows beneficentes
para arrecadar fundos. O próprio Bimba teria feito apresentação em prol de Pastinha.
“João Pequeno e João Grande também foram solidários na medida do possível. A
verdade é que a maioria dos seus alunos não tinha condições”, explica Frede Abreu.

Em 1979, com o esforço particular de mestre Curió, se deu a última tentativa de


reerguer a academia. Quase não se destacou o fato nos jornais. “Mestre Pastinha tenta
reviver, na miséria, seu passado de glórias”. Não conseguiria atrair muitos
freqüentadores, insucesso justificado por dona Romélia. “A academia ainda não tem
alunos porque todo mundo que aparece só quer ter aula de graça”, bradou. Por curto
período, o Centro Esportivo de Capoeira Angola funcionaria na Rua Gregório de Matos,
número 51.

As ajudas atenuaram o sofrimento, mas serviram apenas de paliativo. Dona Romélia


ainda tentou, de forma frustrada, gravar disco e reeditar livro de Pastinha. Mas a única
fonte de renda fixa continuaria sendo seu acarajé, comercializado na porta do Hotel
Pelourinho e na entrada da Fonte Nova. Sem tempo para cuidar do companheiro e sem
dinheiro para comprar remédios, decidiu internar Pastinha num asilo. O mestre seria
levado para o Abrigo Dom Pedro II, carregado pelo amigo e aluno Ângelo Romano,
atual comerciante do Pelourinho. “Levei no meu próprio carro”, revela.

Asilado, não ficaria em paz. A fama faria com que sua figura continuasse tão cultuada
quanto explorada. “Vem gente aqui tirar fotos dele e vender por 700 cruzeiros”,
denunciou Romélia. Terminaria, assim, definhando em cima de uma cama, sem dentes,
com os olhos revirados e servindo de modelo. Em 13 de novembro de 1981, morre aos
92 anos. Há controvérsias sobre quem teria custeado o enterro no cemitério do Campo
Santo. A viúva dizia que foi ela, com o dinheiro do acarajé. Alguns sugerem que foi a
prefeitura. Certo é que o grande mestre sacerdote, que fez da roda de capoeira teatro,
mostrou sua arte afro-brasileira para os africanos e filosofou com a cultura popular,
terminou cego, pobre e famoso. Morreu como mártir, tateando no escuro.

Tradição reinventada

Mudanças implementadas por Pastinha condenam a violência e valorizam a ludicidade


da tradição afro
Em preto-e-branco as imagens são ainda mais nostálgicas, revelam passos saudosos de
um “bêbado” alucinante, evidenciam a ginga inconfundível de um bailarino, mais que
lutador. Na ponta dos pés, Pastinha joga a capoeira que se perdeu no tempo, não existe
mais. Os alunos estão reunidos na roda, têm o mesmo figurino, são atores de verdadeira
peça teatral, tão artística quanto perigosa. O mestre, porém, tem cuidado, dá balão,
projeta o corpo do adversário para o alto, escora para que aterrize no chão com
segurança.

As gravações em película são de 1949. O filme de Alceu Maynard não tem mais do que
15 minutos, mas é uma das raríssimas gravações em que Pastinha aparece em ação. Ali
a brutalidade já havia sido banida das rodas do mestre. O estilo Pastinha é lento,
cadenciado, sem que necessariamente seja preciso atingir o adversário. “Tem que fazer
que vai e não vai quando menos se espera”, sugeria. Pensou a capoeira para que fosse
aceita por todos, sem exceção. “É pra homem, menino e mulher. Só não joga quem não
quer”. Na roda em que Pastinha era o mestre, quase tudo não passava de representação,
era brincadeira controladamente arriscada.

“Repare nos movimentos. O lúdico é que interessa. As alterações deram vazão a um


teatro na roda”, observa o pesquisador Frede Abreu, ao examinar a relíquia em vídeo.
Abreu se refere às transformações no modelo de praticar a capoeira tradicional, pelas
quais Pastinha foi o maior responsável. “Diferente do que muita gente pensa, ele não
criou a angola, criou um tipo específico dentro da capoeira, mais condizente com os
preceitos tradicionais”, esclarece. De fato, Pastinha é educador da roda, torna elegante e
civilizado os modos de jogar.

Para tanto foi preciso voltar no tempo, reinventar antiga tradição. Como guardião dos
segredos de angola apresentava sua capoeira como original, pura, fruto da experiência
africana e escrava no Brasil. Buscou traços primitivos nos rituais religiosos dos
candomblés, nas danças dos ancestrais e até nos movimentos dos bichos. “Nessas
práticas estariam a essência da capoeira. Com elas teria ganhado movimentos lúdicos e
de defesa”, aposta o antropólogo Antônio Liberac. Ao adequar os ritos africanos às
regras do jogo, criou modelo único e inovador.

Faceta marginal

O resgate do passado significou a quebra dos laços com a rua. Pastinha consegue tirar a
capoeira da desorganização e termina por romper culturalmente com sua faceta
marginal, vinculada ao crime. “Eu sei que tudo isso é mancha suja na história da
capoeira. Mas um revólver tem culpa dos crimes que pratica?”, questiona. Eram tempos
de arruaça e diversão. “Nas primeiras décadas do século passado, a capoeira estava
entre a ordem e a desordem, a violência e a festa”, analisa Adriana Albert Dias, autora
de Mandinga, manha e malícia, livro que reconstitui o cotidiano dos capoeiristas entre
1910 e 1925.

Quando jovem, tais contradições são vivenciadas de perto pelo próprio Pastinha. Por
“vadiagem”, o nome do mestre foi parar algumas vezes nas fichas policiais. Não andava
desprevenido. Usava faca de dois cortes na cintura e pequena foice no cabo do berimbau
para se proteger das ações da polícia, geralmente iniciadas por pura provocação. “Se
estava numa vadiação, num grupo com o berimbau na mão, eles passavam e entendiam
de tomar. Aí inflamava, né? Tive algumas vezes a polícia encima de mim. Bati alguma
vez em polícia desabusado, mas em defesa de minha moral e do meu corpo”.

A saída seria realizar as rodas em locais fechados, longe dos olhos das autoridades.
Pastinha tinha planos audaciosos para fazer da capoeira prática reconhecida e
valorizada. Chegou a criar algumas academias de treinamento, ainda sem estrutura.
Somente com o convite da Gengibirra pôde realizar seu maior sonho, a fundação do
Centro Esportivo de Capoeira Angola (Ceca), em Brotas, mais tarde transferido para o
Pelourinho. “Dentro da academia seu ensino foi fundamentado na valorização da cultura
afro-brasileira e em princípios éticos bem diferentes do que se aprendia nos tempos dos
valentões”, compara o capoeirista e doutor em educação pela Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp) Pedro Abib.

Hierarquias complexas

Pastinha cria regras para o jogo e proíbe golpes traiçoeiros, como o dedo nos olhos, a
cabeçada solta e a meia-lua baixa. Elabora hierarquias complexas para que a capoeira
seja praticada de forma desportiva. “Deu ao centro mestre de campo, mestre de canto,
mestre de bateria, mestre de treinos, contramestre, arquivista...”, enumera Ângelo
Decânio Filho, estudioso dos seus manuscritos. “O próprio uniforme preto e amarelo,
inspirado nas cores do Ypiranga, representou mudança voltada para os princípios
acadêmicos. Mestre Pastinha não consentia que se jogasse descalço e sem camisa em
sua academia”, confirma trecho do livro de Liberac. Em 1952, redige-se o primeiro
estatuto do Ceca.

A contribuição de Pastinha na escritura do regulamento vem por meio de palavras


fortes, resumo da ética que propunha para seus discípulos. “Meus irmãos, ao iniciarmos
os nossos trabalhos quero fazer sentir a todos os presentes e a quantos venham se
integrar a nosso meio que a base fundamental do nosso centro é a boa conduta,
educação social, solidariedade humana e sobretudo a prática do bem, não usando a arma
poderosa que é a capoeira a não ser em legítima defesa”. Era a única instituição de
angola organizada, onde os alunos recebiam diploma e carteira de identificação. À
época, a campanha de Pastinha surgiu com tanta força que chegou a criar rivalidade
com outras manifestações culturais de mesmo porte, a exemplo da capoeira regional,
liderada por Manoel dos Reis Machado, o mestre Bimba.

Duelo de titãs

Atacaram-se, mas não em sentido pessoal. Bimba e Pastinha jamais se hostilizaram


individualmente. Nunca gingaram juntos, nem mesmo se visitaram em toda a existência.
Existem registros raros de encontros casuais entre os dois, como no 1º Festival de
Capoeira da Bahia, no Ginásio Antônio Balbino, em 1966. Debateram algumas vezes
por meio da imprensa, em matérias conduzidas pelo tom do rivalismo. Reportagem da
Tribuna da Bahia, publicada no dia 13 de novembro de 1969, fez surgir algumas rusgas.
No segundo caderno, a Tribuna intitulou: “Bimba e Pastinha, um duelo de titãs”. Ali
argumentaram sobre os estilos de cada um, e fizeram questão de estabelecer diferenças.

“Capoeira angola é uma dança. Se oficializarem a capoeira será a regional, que se


presta para a luta”, defendia Bimba. A resposta vinha em forma de ironia. “Bimba
ensina os seus alunos a jogar mais ligeiro, enquanto eu determino aos meus movimentos
lentos e manhosos. Capoeira veio de Angola. Regional é um mito. É apenas um nome
criado por mestre Bimba, angoleiro como eu”. Com frase escrita na parede da academia,
Pastinha também provocava. “Capoeira, só angola. Angola, capoeira-mãe”. “Para
Bimba, a capoeira é invenção nacional, brasileira, originária das senzalas do recôncavo.
Pastinha finca nas tradições da diáspora africana, dos negros trazidos para a
escravidão”, elucida Antônio Liberac.

Fato é que disputaram os espaços culturais e políticos da época. Ambos tornaram a


capoeira reconhecida entre as diversas classes sociais, e pleiteavam cada vez mais
admiradores. Simpósios e congressos, como o que aconteceu em 1969, no Rio de
Janeiro, tentaram unificar os estilos. Em vão. “Mestre Bimba retirou-se antes do
término, pelo baixo nível da discussão. Pastinha, por sua vez, se negou a marcar
presença”, narra matéria do jornal A Tarde daquele ano. As dissensões entre os dois não
passavam disso. “Eram incitados o tempo todo, mas não tinham por que brigar”,
concorda Manoel Nascimento Machado, o mestre Nenel, filho de Bimba.

Fala-se, inclusive, numa carta de Pastinha, enviada a Bimba, convidando-o para visitar a
academia. O mestre nunca se fez presente, mas teria enviado alguns regionais. “Eles iam
vadiar com a gente, sim. Ezequiel, Itapuã, Camisa Roxa, eram todos da capoeira
regional”, recorda mestre João Grande, seguidor de Pastinha. Apesar das ponderações,
as “alfinetadas” permanecem até hoje, principalmente nas palavras do angoleiro Gildo
Lemos Couto, o Gildo Alfinete. “Bimba usou a capoeira para transformá-la numa outra
coisa. Como alguém vai roubar sua mulher e você vai gostar?”, polemiza.

Ao esgueirar-se pelos dois ambientes, Ângelo Decânio Filho parece encontrar o cerne
da questão. “A discussão se mantém porque Bimba é a face belicosa e guerreira.
Pastinha é o exercício da habilidade, onde se mostra ao adversário que pode atingi-lo,
mas não o faz”. De fato, Bimba voa sobre o oponente, tira o corpo do chão em ataque
certeiro. Pastinha atua, finge-se bêbado, faz da roda teatro, representa personagem em
jogo lento, não menos fulminante. Traz à memória aquelas imagens em que aparece no
filme de 1949, com ginga inconfundível, num nostálgico preto-e-branco.

Alexandre Lyrio-alyrio@correiodabahia.com.br

A capoeira é amorosa, não é perversa. É um hábito cortês que criamos dentro de nós,
uma coisa vagabunda. (Mestre Pastinha)
Sobre a ética no jogo
Sobre a ética no jogo

"Não deve ser aplicado e nem forçar o seu companheiro para obter recursos é erros
gravissimo, esta sujeito o fiscal suspender o jogo."

"É proibido no jogo e prinsiparmente em baixo, fonsional


golpes, ou truque, não por, é fau.Os golpes que não pode ser
fonsionado em Demonstração; golpes de pescoço, dedo nos
olhos, cabeçada solta, cabeçada presa, meia lua baixa, Balão a
coitado, rabo de arraia, Tesoura fechada, chibata de clacanhar,
chibata de peito de pé, meia lua virada, duas meia lua num lugar
só, pulo mortal, virada no corpo com presa de calcanhar, presa
de cintura, Balão na boca da calça, golpes de joelho e nem
truques."

Fontes:
Angelo A. Decanio Filho. Manuscritos e desenhos de Mestre Pastinha.
Angelo A. Decanio Filho. A herança de Pastinha. 2 ed. 1997.

Sobre o jogo
Sobre o jogo

... "e a capoeira vem amofinando-se quando no passado ela era violenta, muitos mestres,
e outros nos chamavam atensão, quando não estava no ritimo, esplicava com decencia, e
dava-nos educação dentro do esporte da capoeira, esta é arazão que todos que vieram do
passado tem jogo de corpo e ritimo."

"Porque dizem que a capoeira não tem glopés? Se a capoeira não tem golpes? Os
caboclos, não lutavam, os nagôs não idealisavam no batuque, na dança do candobre, o
batuque é luta, o candobre é para da volta no corpo, que eles diziam, ginga meu fio, pra
dibra das garras do agressor. e o restos não é mais com migo."

..."pode ser visto do melhor professor ou instrutor, é e é perigosa, não é falcificada, para
iludir, é ativos, é mais gingada, é mais manhosa, muita artimanha, ensina sentar-se,
encoslar-se. se for possive ele deita-se, para poder aplicar o serteiro; bem poucos sabe
ensinar, eu falo, eu sei, porque tive bom mestre, e eu não enventei; eu vi e achei bom, e
aprendi no circo de cadeiras, para aprender o jogo de dentro..."

"Os capoeirista tem que aprender, o mundo é a escola que nos


aprendemos, é a natureza que nos dá prazer, procuramos os
elementos de bôa vontade, que ofereça a lições para o bem-esta
dos nosso interesse... "

"Para que serve o berimbau?


Não é só para indicar o jogo.

E, porque o birinbau na hora H. é pirigouso? É pirigoiso, nas, mãos de quem sabe


maneijar o birimbau, ou coisa semelante."

"Amigos porque não cantam? A capoeira só é bonita jogando, cantando, e só perdeu a


beleza porque não canta, e o velho deu ao Centro, mestre de campo, mestre de bateria,
mestres arquivistas, fiscal, contra-mestre..."

"É dever de todos capoeiristas, não é defeito não saber cantar; mais é defeito não saber
responder, pelo meno o côro. É probido na bateria pessôas que não respondem ao côro."

"Porque cantam com inredo? inprovizado? É para quando chegar na roda pesôas que é
estranha, ou mestre, o improviso adverte a roda se deve ou não continuá, ou anima-se."

"Em todas rodas, ou grupos de capoeira coloca-se uma moeda no centro da arena, os
dois camaradas vão disputar para apanha-lo com os lábios em primeiro lugar."

"Porque trena-se apanhar a moeda com a boca? Não é com interesse na moeda qui tem
valor Dinheiro, é para na hora de aperto, aplica-se o truque, e o agressor, vai, ou não, na
onda."

Fontes:
Angelo A. Decanio Filho. Manuscritos e desenhos de Mestre Pastinha.
Angelo A. Decanio Filho. A herança de Pastinha. 2 ed. 1997.

Sobre o pensamento
Sobre o pensamento

..."os capoeiristas esclarece, comesamo a entra de fato, no verdadeiro conhecimento de


si mesmo, estudioso e desejoso de conhecer a capoeira. vem de olho fito, para mostrar a
verdade de que não foram negados pelos negos iniciadores, em cada nego os jestos de
modo diferem, amigos, tem segredo, e é muito confuso, só com tempo."
"Procuro saber se a capoeira é ciencia, si é, profunda e vasta, si me fornece
conhecimentos sobre o homens, espiritual, mais tambem o homem corporal, e o
ensinamentos de ordem moral, ou intelectual..."

"Vamos agora procurar ver as nossas exposições de . voltas no


corpo que lhe dá, de fato, uma maravilhosa impressões sem
saber si é, ou não, si é samba, porque ao mesmo tempo, vê-se, a
impressão de luta: a ação do corpo, tem relações com sua
natureza; ciencia, eu sei que tem na capoeira, é fruto da nossa
inteligencia, e tudo que lhe cerca, o meio, e o ambiente."

..."o que é o raciocinio? É uma faculdade do espirito, devemos


fazer uso de executar uma ação: si o capoeirista ácreditar no
raciocinio, ele vê uma força de recalque, tem a função de esclarecer, dá liberdade de
pensamento, e a convicção da verdade: para o bem cumprir, percisa ter conhecimento de
como agem as forças por meio da faculdade intuitiva, aquele que não sabe deve
aprender..."

..."devemos conhecer ação do pensamento, é o poder da vontade. é o meu desejo, é


evoluir, estou na obrigação de atravessar as fases, infancia, a mocidade, e a minha idade
esta bem atento, sempre um agente ativo e forte, e sempre capaz, pronto e disposto, esta
é a fases na velice, e alegre com os camaradas que me procuram, disposto a enfretar
suas artes."

..."a capoeira é espiritualizada e materializada no eu de cada qual..."

"Amigos o corpo é um grande systema de razão, por detraz de nosssos pensamentos


acha-se um Snr. poderoso, um sabio desconhecido..."

"O bom capoeirista espera, o ambicioso agita-se e precipita-se, o famoso o povo lhe
diz."

Fontes:
Angelo A. Decanio Filho. Manuscritos e desenhos de Mestre Pastinha.
Angelo A. Decanio Filho. A herança de Pastinha. 2 ed. 1997.

Sobre os deveres
Sobre os deveres do capoeirista

"O bom capoeirista nunca se exalta procura sempre estar calmo para poder reflitir com
percisão e acerto; não discute com seus camaradas ou alunos, não touma o jogo sem ser
sua vez; para não aborrecer os companheiros e dai surgir uma rixa; ensinar aos seus
alunos - sem procurar fazer exibição de modo agresivo nem apresentar-se de modo
discortez..."

"... não devemos procurar ficar isolado, porque nada podemos fazer; é muito certo o
trocado popular que diz: a união faz a força..."

"E, vocês do futuro, firme por amôr ao esporte mais tambem pelo seu cavalheirismo
esportivo. É uma recomendação para o respeito as regras e aos regulamentos escritos;
Um apelo para que procedamos correto e decentemente os aspectos de nossa vida na
sociedade; um apelo que sendo atendido estamos sujeito a obter justa vantagem em
qualquer ciscunstancia."

"Não queiram a prender a capoeira para valentia, mais sim, para a defeza de sua
intregridade fisica, pois um dia, pode ter necessidade de usa-la para sua defeza. Cuja
defeza é contra a qualquer agressor, que venha-lhe ao encontro com navalha, faca, foice
e outras armas."

..."para ser bom, é perciso ser completo no fundamento do teu esporte; quando uma
pessoa te pedir uma esplicação não responder coisas que não pode ser bem, fere sua
ação porficional. todos tem direito de ensinar, porem não de desvalorisar quem ja está a
visto do publico..."
..."é dever de construir para os infantius uma personalidade -- digna de admiração, não
devem faltar as regras da disciplina, civilidade, do respeito às atenções, a bôa
disposição, o bôm humor, a solidariedade, a lealdade, e o amor a verdade; estes são os
alicerces que darão estabilidade à estrutura moral do ser..."

"Como penso eu nos deveres, como capoeirista é fazer


cogitações, reclamar uma atitude, um gesto, a cada passo uma
palavra que implique no comprimento do dever, sim, sem
prejudicar, a moral do seus camaradas. e nem criar causo;
ninguem deve subtrair-se é prejuiso, é grande a finalidade da
capoeira, seja justamente essa prestada ao centro, e na academia;
disciplinar, é executar uma serie de obrigações, fazem parte
integrante do regime da propria academia; cumprir o dever é ser
honesto de si mesmo: é respeitar-se a si proprio, e agir com
conciencia esclarecida; todo o dever cumprido representa o resgate de uma obrigação; é
um impulso para frente no sentido da evolução..."

..."cada capoeiristas responde pelo que é do seu dever, sabendo as responsabilidade com
elas o dever, aumentam o crescimento do seu saber: o amigo antes de associa-se, não
compromeita a produzir, mais do que permita sua capacidade; dentro de suas
possibilidades, não vacile, em prometer sem reservas, deve ser ao seu alcance fazer; dai
vem a razão de ser privinido, e estar sempre vigilante, sempre alerta, sempre atento em
seus deveres, sempre convicto de cumprir ao centro, academia, e ao seu negocio
particula."

..."cumprir o dever é ser honesto de si mesmo, é respeitar-se a si proprio, é agir com


conciencia esclarecida; todo o dever cumprido representa o resgate de uma obrigação.
um impulso para frente no sentido da evolução... "

Fontes:
Angelo A. Decanio Filho. Manuscritos e desenhos de Mestre Pastinha.
Angelo A. Decanio Filho. A herança de Pastinha. 2 ed. 1997.

Sobre os mestres
Sobre os mestres

"Não é permitido, por mestre nenhum, se ele mestre for conhecedor das regras da
capoeira, não consentir jogar em roda, ou grupo sem fiscal, se não tem como pode ter
controle, quem ajuda o campo?"

"Todos os mestres tem por dever fazer ciente que é falta usar as
mãos no seu adversario; se não fizer assim, não prova ser
mestre, os que tem educação prova a sua decensia jogando com
seu camarada e não procura conquista para enporcalhar seu
companheiro, já é tempo de compreender, ajudar do seu esporte,
é a judar a moralisar; levantar a capoeira, que já estava
decrecendo."
..."é o controle do jogo que protege aqueles que o praticam para que não discambe
exesso do vale tudo note bem, estou falando em cintido de demonstração, e não de
desafio, porque sempre traz consequencias as vezes desastrosas; tira toda a beleza e o
brilho da capoeira, e o capoeirista perde a sua capacidade por falta de explicação."

Fontes:
Angelo A. Decanio Filho. Manuscritos e desenhos de Mestre Pastinha.
Angelo A. Decanio Filho. A herança de Pastinha. 2 ed. 1997

Sobre sua formação


ESCRITA ORIGINAL MANTIDA, SEM CORREÇÕES

3. Sobre sua formação como capoeirista

"Eu ti digo, comecei a educar-me nesse jogo, por força de vontade, e não foi com trez
meses, ou com menos, porque o tempo é muito pouco, poristo é que eu pinoteio, salto,
tenho agilidade, tenho manhas, jogo no corpo, dibre para me livra do agressor, sirvo-me
dos pés, da cabeça ..."

"Em cada Districtos tinha um mestre para ensinar e nos dias de festa, era de regras,
prestar contas, mostra os alunos, mostra coisa nova, truques, inrêdos, enprovisado, e o
mestre em geral, classificavam com uma argola, era o premio, era de grande valor,
prova de mericimento... "

"E o meu mestre bôm, eu aprendi na rua da laranjeiro, e lesionei na rua Sta. Izabel em
1910 a 1912, quando eu abandonei a capoeira, e voltei, em 1941, para organizar o
Centro de capoeira o 1o na Bahia. Na escola de Aprendiz Marinheiro da Bahia eu era o
110, e lecionei os meus camaradas de 1902 a 1909,..."

"Com fé e coragem para ensinar a mosidade do futuro estou


apena zelando para esta maravilhosa luta que é deixa de erança
adequirida da dança primitiva dos caboclos, do batuque, e
candobré originada pelos africanos de Angola ou Gejes; muitos
adimira essa belissima luta quando os dois camaradas joga sem
egoismo, sem vaidade; é maravilhosima, e educada."

Fontes:
Angelo A. Decanio Filho. Manuscritos e desenhos de Mestre
Pastinha.
Angelo A. Decanio Filho. A herança de Pastinha. 2 ed. 1997.

Sobre a origem da capoeira


Sobre a origem da capoeira

"Qual foros as trez armas dos nêgros ?

O batuqe. o candombre, e a lutas dos caboclos..."

"A capoeira é a segunda luta? Porque a primeira é a dos caboclos, e os africanos juntou-
se com a dança, partes do batuque e parte do candombrê, procuraram sua modalidade."
"Em cada freguizia um africano com uma responsabilidade de ensinar, para fazer dela
sua arma contra o seu perseguidor..."

... "se comunicavam no cantos improvisados dançava e cantava, inredos inventava,


truques, piculas, para dar volta no corpo, escondendo o chicote, inventando miseria,o
corpo todo faz miserêr, cabeça, mão, pernas, e só consegue com manhas."

"note bem, amigo... a capoeira está dividida em trez parte, a


primeira é a comum, é esta que vêr ao publico, a segunda e a
terceira, é rezervada no eu de quem aprendeu, e é rezervada com
segredo, e depende de tempo para aprender. ... "

"Falando em manha da capoeira! Penço que todos capoeiristas


são maoso, porque a propria lhe dá aspiração, ensina idealisar,
porque todos nasce com a capoeira, não só os homens como as
mulher; não é novidade na Bahia."

"Está gravado na Historia da capoeira as mulheres que jogavam a mandinga e


batucavam, bem como cito Maria homem, Julia Vulgo Fugareira e muitas outras que
deixo os meus camaradas contarem..."

..."a capoeira de acordo a falta dos africanos, a capoeira foi escasiando-se, porque, era,
natural que os mestres recuram, e ficou deminuida, e muitos outros foram espalhando-
se, enquanto ela escurasada, e tomou, São Feliz, Cachoeira, Santo Amaro..."

Fontes:
Angelo A. Decanio Filho. Manuscritos e desenhos de Mestre Pastinha.

Angelo A. Decanio Filho. A herança de Pastinha. 2 ed. 1997.

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