PPG em Comunicação e Cultura Midiática Grupo de Pesquisa – Mídia e Estudos do Imaginário “We shape our tools and then our tools shape us”. Nós moldamos nossas ferramentas e nossas ferramentas nos moldam” John Culkin para a revista Saturday Review, com o título “A schoolman’s guide to Marshall McLuhan”, publicado em 18 de março de 1967, páginas 51-53 e 70-72. A citação literal é “We shape our tools and thereafter they shape us”. A estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na sociedade humana, mas acelerou e ampliou a escalada das funções humanas anteriores, criando tipos de cidades, de trabalhos e de lazer novos. (MCLUHAN, 2007, p. 22) A história humana tem profunda relação com o desenvolvimento tecnológico. Os artefatos e tecnologias criado e usados pelo ser humano foram fundamentais para a sobrevivência, adaptação e evolução das pessoas e populações. As tecnologias foram sendo desenvolvidas e utilizadas pelo homem e, da pintura nas cavernas às imagens em realidade virtual, elas vão transformando nossa experiência, alterando nossas habilidades e modificando nossa relação com o mundo. As inovações tecnológicas transformam o planeta e engendram o momento atual da civilização. O uso intensivo de redes digitais e as tecnologias conectivas e inteligentes têm transformado nossa realidade intensamente. Saímos de um modelo fixo e analógico, para uma nova realidade regida pelo tempo real, pela fugacidade, virtualidade e ubiquidade. Kevin Kelly, co-fundador da Wired, autor de vários livros e referência em tecnologia e futuro, escreveu o livro Inevitável- as 12 forças tecnológicas que mudarão nosso mundo (editado no Brasil em 2017), no qual afirma que algumas tecnologias são inevitáveis, mas sua apropriação depende de nossas interações com estas. Ele nos descreve um cenário no qual a inteligência artificial e outros recursos da tecnologia estarão embutidos em boa parte de produtos e serviços que consumimos e consumiremos ainda mais. Ele discute as 12 convergências que acredita serem inevitáveis – daí o titulo do livro. Kelly analisa trinta anos e aponta que ações contínuas por mais três décadas, no mínimo, “essas são forças são inevitáveis”. Ele enfatiza que, dessa forma, “essas forças são trajetórias, não destinos”. Essas forças fazem os produtos se converterem em serviços e processos. Ele aponta a ideias e, para os próximos trinta anos, identifica pontos que definirão os direcionamentos que serão fundamentais para esse futuro. Essas forças fazem os produtos se converterem em serviços e processos. Ele aponta a ideias e, para os próximos trinta anos, identifica pontos que definirão os direcionamentos que serão fundamentais para esse futuro. São 12 macrotendências que tendem a direcionar tanto a tecnologia, quanto nossa relação com o processo. Elas são estabelecidas pelo autor como verbos, na intenção de caracterizá-las como forças 1-Tornar-se A capacidade de se adaptar o tempo todo, pois as tecnologias caminham para um estado em que nada é estático, tudo se transforma. 2-Cognificar Avanço exponencial do poder computacional, a abundância de dados on-line, e a conexão a uma rede comum, além da facilidade de acesso. 3- Fluir A Internet é a maior máquina de cópias do mundo. Tudo o que toma a forma digital e ‘cai’ na Internet será armazenado e copiado indiscriminadamente e para sempre. Um rio de caminhos: a era dos fluxos (streams, feeds) feitos em tempo real: aqui e agora. O fluxo de bits é perene e crescente e determinam o fim da “fixidez”. Indústrias inteiras estão sendo transformadas – estão também em fluxo – em função deste movimento. Para o autor, fluir é um resultado de coisas fixas e coisas fluidas. Tudo será fixo e fluido: música, livros, filmes, jogos, jornais, educação, transporte, agricultura e saúde. 4- Visualizar A tela dos dispositivos digitais comanda nossa atenção, cada vez mais. As histórias serão contadas nas telas. Essa macrotendência já está provocando profundas mudanças no mundo à nossa volta geradas por essa predileção pelo visual. O acesso à informação tende a ser ubíquo e os dispositivos de realidade virtual e de realidade aumentada tendem a trazer o conceito de ‘tela’ para dentro de nossos olhos. Interação constante. Biblioteca de tudo e sempre ao alcance de um clique. 5-Acessar Essa tendência começa a fazer parte da realidade de qualquer cidadão. Vamos substituindo a posse pelo acesso. Da posse comprada ao acesso assinado. Vamos transformado o produto em serviço, com exemplos de sucesso como Uber e Airbnb. Kelly acredita que esse e conceito tende a se expandir cada vez mais, trazendo como resultado uma vida com maior conveniência, sem as dificuldades impostas pela obsolescência ou pela manutenção. Deve gerar a aproximação constante entre consumidor e produtor. 6-Compartilhar Deve evoluir para cooperação, colaboração e coletivismo. A internet hoje, nos permite compartilhar numa taxa muito maior do que em tempos passados; um compartilhamento infinito. Mas o cenário que temos hoje, no raciocínio do autor, é só o começo. Com todo o compartilhamento que fazemos, estamos a menos de 20% do potencial. O próximo passo, após o compartilhamento, é a cooperação Mais à frente teremos a colaboração que ultrapassa os limites da cooperação, porque permite não só a agregação de conteúdo, mas a interação de todos os participantes com todos os conteúdos. 7-Filtrar Segundo, o autor, a cada ano, temos oito milhões de músicas novas, dois milhões de livros, 16.000 novos filmes, 30 bilhões de postagens em blogs, 182 bilhões de tweets, e 400.000 novos produtos. O problema é que é fácil nos perdermos em meio a tanta variedade. Kelly antecipa que melhoraremos muito nossa capacidade de filtrar o conteúdo ao qual temos acesso. Esta capacidade de filtragem já existe de forma incipiente, mas melhora a cada dia que passa. No futuro, dada a abundância de material, os mecanismos de filtragem terão um papel crucial em nossas vidas. Haverá filtros em todas as plataformas e a tendência desse tipo de processo é que aumente a personalização. Também pode trazer a concentração de conteúdo e de atenção. Precisamos de filtros, de vários tipos: intermediários, curadores, marcas, ambiente cultural, amigos etc. O maior buscador do mundo – o Google – processa 35 bilhões de emails por dia; 60 trilhões de páginas cerca de dois milhões de vezes por minuto; respondendo a três bilhões de perguntas por dia. Seus resultados são arranjados por um algoritmo que tem seus próprios parâmetros. O grande perigo dos filtros é fazer a escolha entre as coisas que já se conhece e dentre as que se gosta, entrando em um espiral narcisista, tornando-se cego para qualquer coisa diferente do padrão ou do gosto pessoal. Seria o fim da diversidade e entraríamos numa bolha ideológica. 8-Remixar esse neologismo, presente em nossa língua desde os tempos das gravações analógicas de áudio, é aplicado a cada vez mais campos do conhecimento e das artes. Kelly acredita que no futuro será uma grande força a impulsionar o progresso. Para o autor, se a alfabetização nos dava a capacidade de analisar e manipular textos, a nova fluência das mídias digitais implica na capacidade de analisar e manipular imagens em movimento, de maneira simples e fácil. Rearranjo de mídias e obras culturais. Como enfatiza Paul Romer, da Universidade de Nova York, com sua teoria sobre o crescimento econômico que não emerge da descoberta ou criação de novos recursos, mas sim do rearranjo dos recursos existentes, tornando-os mais valiosos. (2017, p.207). Mas também trará o questionamento de “quem será o dono” da obra: o autor da obra ou do remix? 9-Interagir interagimos com as pessoas e até com objetos. Não só consumimos e, cada vez mais, queremos interagir com nossa tecnologia. A interação via realidade virtual enfatizará a presença. O internauta transformou-se na máquina produtora que impulsiona a internet. Centenas de milhões de usuários no mundo todo produzem conteúdo diariamente e a prova mais simples de se perceber esse fenômeno é o crescimento estarrecedor das receitas do Facebook: milhões de compartilhamentos de status ocorrem por segundo nas páginas da maior das redes sociais. Notícias da própria rede social estabelecem que dia 26 de abril de 2017 o Facebook chega a dois bilhões de usuários. A interação envolverá mais nossos sentidos e deve trazer a ideia de mais intimidade e imersão. [...] a convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana. (JENKINS, 2009, p. 28). 10-Rastrear Estamos vivendo em uma era em que é possível coletar dados de praticamente tudo o que nos cerca, seja em nós mesmos ou nos elementos à nossa volta. Tudo é registrado e buscado:grandes listas de conexão (lifestream/ logging). A internet pode rastrear virtualmente tudo e qualquer coisa que tocar a internet poderá ser monitorada. Onde encontro tal informação? 11-Questionar a internet é profícua em produzir o que antes seria impensável e velhas impossibilidades tornam-se novas novas e diversas possibilidades. Inúmeras são as soluções criadas sobre o que seria impraticável antes, bem como numerosas são as facilidades, os serviços os produtos que vieram na sequencia. As possibilidades se tornam extensas. Foco na superação de barreiras nos transforma. 12-Começar é o ponto de inflexão para a nova “normalidade”. Começamos a nos conectar globalmente e percebemos que estamos só iniciando, e que este princípio tende a se renovar continuamente, uma vez que as novas tecnologias transformativas estão apenas no princípio de seu advento, pois, por mais que tenhamos dificuldade em enxergar o futuro, estamos apenas no começo. O computador transformou nossa maneira de criação e comunicação. A internet nos conectou de forma inexorável e ao colocar milhões de pessoas conectadas acabou por criar uma rede de cognição e possível colaboração. Pessoas antes isoladas podem se comunicar com outras de todos os cantos do planeta e juntas podem concretizar – colaborativamente -tarefas antes impensáveis de serem realizadas. Em 2004, o professor Frank Levy, do MIT, e o professor Richard Murnane, de Harvard, publicaram uma pesquisa minuciosa sobre o mercado de trabalho, listando as profissões mais suscetíveis a automação. Motoristas de caminhões constituíam um exemplo de trabalho que possivelmente não poderia ser automatizado num futuro previsível. E difícil imaginar, escreveram os dois estudiosos, que algoritmos possam dirigir caminhões com segurança numa estrada movimentada. Apenas dez anos mais tarde, Google e Tesla não só imaginaram isso, como efetivamente fizeram acontecer. (HARARI, 2016, p.325) Segundo Harari (2016, p.330), o desafio crucial não é criar novos empregos, mas “criar novos empregos nos quais o desempenho dos humanos seja melhor que o dos algoritmos”. Saímos de um mundo limitado para a abundância informacional Harari enfatiza que o grande volume e o rápido fluxo de dados cria o dataísmo e que Em contraste, não é dada aos humanos. Ela é dada à informação. Mais do que isso, esse novo valor choca-se com a tradicional liberdade de expressão, ao privilegiar o direito da informação de circular livremente em detrimento do direito dos humanos de manterem os dados para si e impedirem sua movimentação. (HARARI, 2016, p.385) Não há consenso sobre o futuro da Inteligência Artificial, mas muitos experts em tecnologia acreditam que em breve algoritmos poderão nos conhecer melhor do que nós mesmos e estarão prevendo nossos desejos e nossas ações.