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Palavra Pastoral

O DESERTO NÃO FOI SÓ AREIA...

Quando pensamos no deserto, nossa mente imediatamente nos conduz a uma imagem de sol,
areia, solidão e sequidão. É praticamente impossível não pensar desta forma, porque este é nosso
estereotipo de deserto e raramente conseguimos imaginar coisas fora dos nossos estereótipos, os
quais, muitas vezes, infelizmente, nos impedem de ver uma outra realidade também presente nas
circunstâncias que nos cercam.
Para nós, cristãos, deserto também é sinônimo de provação, de lutas diversas, em áreas
sentimentais, financeiras, relacionais, espirituais, de saúde, etc., etc., etc.; onde quer que se instale
uma crise, podemos chamar isto de deserto.
A experiência mais marcante de deserto que há na Bíblia foi a passagem do povo pelo Sinai,
quando da saída do Egito, naqueles quarenta anos de peregrinação rumo à terra prometida. O
estigma de deserto que temos na mente cristã é fornecido pela experiência de Moisés, que foi o
maior líder do deserto de que temos notícia nas Sagradas Escrituras.
O deserto de Moisés não foi só areia... sol, calor, solidão e seca. O deserto de Moisés foi
também uma das mais empolgantes aventuras de produção de milagres registrada na Bíblia.
O deserto de Moisés começou nas doces e calmas águas do Nilo, de onde ele foi tirado, não
para o alojamento dos escravos, não para a pobreza dos indigentes, não para a mediocridade dos
analfabetos, não para o trabalho bruto e braçal dos desnudos, mas para o Palácio do Faraó. O
deserto nunca começa na areia e no sol, mas nos palácios em que não se invoca o Deus dos
Hebreus, Javé, o Deus que É. O show de milagres que foi o Sinai começou assim, colocando um
escravo assentado entre os príncipes do Egito. Estamos tão acostumados a ouvir de Moisés, que
nem percebemos a estratégia miraculosa de Deus em fornecer ao seu futuro líder toda a cultura
necessária a produção dos cinco primeiros livros que Deus começaria a escrever. Moisés conhecia o
inimigo por dentro e foi treinado por ele para destruí-lo mais tarde. Os próprios egípcios formaram
o líder que mais tarde seria o seu algoz maior. Só Deus poderia planejar algo assim, plantar o
inimigo na mesa do adversário, e este o alimentar, suprir e treinar, para depois ser derrotado por ele.
Deus transformou o escravo num príncipe, ensinando-lhe toda a cultura que só os filhos de faraó
poderiam ter.
Os milagres continuam quando as forças do Egito não podem mais prender o jovem
destemido. Moisés fez a escolha impossível, ao ficar do lado do escravo e matar o egípcio. Foi a
escolha tecnicamente errada, mas espiritualmente correta. Ele sabia que poderia colocar em risco
toda a sua jornada no Palácio, mas mesmo assim optou pelo lado mais fraco. Quando Zípora chegou
mais cedo em casa da tarefa de abeberar os camelos, a explicação foi que um homem egípcio a
havia ajudado. Moisés se vestia como egípcio, falava como egípcio, se comportava como egípcio,
mas não tinha a alma dos egípcios; e também porque não fora criado no meio dos escravos, não
tinha alma de escravo... ele mesmo era um milagre: escravo de nascença, príncipe de formação,
líder por natureza e liberto por Deus das forças do Egito.
O show de milagres continua na casa de Jetro. O príncipe é nivelado por baixo e vira apenas
um pobre pastor de ovelhas, sem as suas próprias ovelhas. Tornou-se menos que um assalariado,
tornou-se apenas o genro de Jetro. As roupas do príncipe desgastaram-se naqueles quarenta anos de
guardião de ovelhas e ele passou a se vestir como todos os outros pastores das planícies de Midiã. O
príncipe deixou as camas de marfim e ouro, para dormir ao relento; deixou os pratos de especiarias,
pelas frutas, leite e raramente pela gordura das ovelhas; abandonou o palácio pelas tendas de pano à
vida nômade que era a dos pastores de então; trocou os livros pelas ovelhas e o silêncio das grandes
bibliotecas pelo balido dos dóceis animais... Deus transformou o príncipe num simples pastor de
ovelhas que trabalhava pela comida de cada dia.
Deus estava decidido a produzir o maior show de todos os tempos de milagres... aí vem a
sarça ardente que não se consome... os pés sem sandálias por causa da santidade inacessível na
teofania inusitada: a revelação do seu nome e da estratégia de tirar um povo de entre outro povo e
libertar os escravos, dar-lhes a terra que havia sido prometida a Abraão, Isaque e Jacó, além de
destruir o Egito, para que nunca mais fosse coisa alguma no mundo, além de ponto de escavação
arqueológica. A vara de Moisés vira cobra, que come as outras, do Egito; a mão fica leprosa e
curada num simples toque ao peito. Deus transformou o pastor de ovelhas no Libertador de Israel,
no Profeta semelhante a Jesus, no homem que fala face a face com Ele, naquele a quem Deus
conhece pelo nome e que achou graça aos seus olhos.
Os milagres insistem em não pararem, em não cessarem... As primeiras nove pragas
destroem a economia da maior potência do mundo na época e a última põe a nação em lágrimas
com a morte dos primogênitos. Mas o sangue nos umbrais das portas liberta os que não tinham
liberdade, preserva a vida àqueles que estavam proibidos de viver, evita a morte daqueles que eram
apenas os decadentes candidatos à sepultura insepulta. Os egípcios não têm outra opção senão
expulsá-los apressadamente... A saída dos escravos para a liberdade tão sonhada afoitamente
ocorreu. Mais milagres... muito mais. A coluna de nuvem sai da frente do povo e vem pra trás, e
enquanto iluminava o caminho dos que antes andavam nas trevas da servidão, também turvava o
dos que antes viviam na enganosa liberdade. O mar se abre, os novos libertos passam, os antigos
senhores são submersos nas águas do mar. Miriã canta e com ela também a nova nação de Israel.
É muito milagre no deserto... é nuvem de dia e coluna de fogo a noite, é maná nascendo na
areia, é codorniz caindo no acampamento, é água jorrando da rocha, é monte fumegando, são tábuas
feitas e escritas pelo próprio Deus. Num mundo sem profetas, ou melhor, com um único profeta,
Moisés vê a unção de setenta de uma só vez. O Tabernáculo fica pronto e também seus utensílios
são preparados com o trabalho de homens cheios do Espírito Santo... Ali está a Arca da Aliança,
nela a vara de Arão floresce e o maná não embolora; a terra engole os revoltosos e a praga cessa
com a serpente levantada; e a presença de Deus irá com o povo, graças de novo, à intercessão deste
Moisés, porque deserto sem Deus, até para um homem como Moisés, é impossível suportar.
Passamos pelo deserto, porque Deus está conosco, nele temos a presença do Senhor que
criou o deserto, para nos fazer transpor a ponte inevitável entre o cativeiro e a bênção desejada. E
aí, talvez, esteja o maior dos milagres, Deus também caminha pelo deserto, ele não é a terra do sol e
do Diabo, mas da presença tão acalentadora daquele que é o Amor, porque Deus é Amor.
Existem alguns que transformam o deserto na terra das murmurações, das reclamações, das
maldições... na terra do Diabo e das suas dores e lágrimas. Estes não vêem os milagres. Para
Moisés, o deserto era a terra dos milagres, pelo simples fato de ele andar com Deus. Quem anda
com Deus vê milagre em qualquer lugar, quem não anda com Ele, nunca os vê em lugar algum. O
milagre não está na terra em que caminhamos, mas com quem caminhamos pelas terras por onde
passamos. O milagre não está na Terra Santa, nem a maldição no Egito. É claro que o Egito
representa as forças das trevas e a Terra Santa o poder de Deus, porém o milagre não está na terra,
mas na presença viva de um Deus que é Senhor de todas as terras e que reina sobre tudo e todos,
sendo Ele mesmo o Criador do universo. Andar com Deus é viver de milagre em milagre, não
importa se no deserto, se no Egito ou na terra das promessas de Abraão. A terra não faz o milagre,
ou, o milagre não depende da terra; assim, o deserto é apenas a ponte inevitável, cujo destino todo
viandante que sai de Cairo precisa passar para chegar a Jerusalém. Não há ponte aérea entre Cairo e
Jerusalém, este caminho precisa ser enfrentado a pé, no calor da areia, na fadiga do sol, no frio da
noite, nos perigos da solidão, na escassez da água, nos tão tortuosos meandros entre as pedras
monstruosas, nos perigos escondidos atrás de cada encosta, as cobras e os escorpiões... Mesmo os
transeuntes mais experientes precisam contar com a mão do poderoso Deus para uma jornada bem
sucedida.
O deserto é apenas o caminho natural entre o Egito e a terra prometida. Quem criou o
deserto foi Deus, não o Diabo e quem colocou o povo no deserto foi de novo Deus, e não o Diabo.
É verdade que a escolha de permanecer mais tempo no deserto foi do próprio povo, não de Deus.
Talvez aí sim, possa haver nisto o dedo do Diabo. Pensar que o deserto é criação do Diabo, ou que
estar no deserto é coisa do Diabo, é falhar na percepção correta do que é o deserto. O deserto não
foi problema para os filhos de Jacó nas suas peregrinações para comprar comida, nem para o
próprio Jacó na sua descida para o Egito; também não foi problema pra José, Maria e Jesus, seja
quando foram ou voltaram de lá.
Porém, é preciso saber passar pelo deserto. O povo, sem Deus, pereceu no deserto; Moisés,
com Deus, não saiu do deserto, só Josué e Calebe, também com Deus, venceram o deserto. Perceba
que o deserto foi tão imenso que nem Moisés passou por ele. É somente quando vemos que apenas
Josué e Calebe transpuseram as águas transbordantes do Jordão que entendemos o tamanho do
deserto. O deserto realmente pode nos matar, mas também pode nos fazer viver, nos alimentar os
sonhos de conquista, como no caso de Calebe:

“7 Tinha eu quarenta anos quando Moisés, servo do SENHOR, me enviou de Cades-Barnéia para
espiar a terra; e eu lhe relatei como sentia no coração. 8 Mas meus irmãos que subiram comigo
desesperaram o povo; eu, porém, perseverei em seguir o SENHOR, meu Deus. 9 Então, Moisés,
naquele dia, jurou, dizendo: Certamente, a terra em que puseste o pé será tua e de teus filhos, em
herança perpetuamente, pois perseveraste em seguir o SENHOR, meu Deus. 10 Eis, agora, o
SENHOR me conservou em vida, como prometeu; quarenta e cinco anos há desde que o SENHOR
falou esta palavra a Moisés, andando Israel ainda no deserto; e, já agora, sou de oitenta e cinco anos.
11 Estou forte ainda hoje como no dia em que Moisés me enviou; qual era a minha força naquele dia,
tal ainda agora para o combate, tanto para sair a ele como para voltar. 12 Agora, pois, dá-me este
monte de que o SENHOR falou naquele dia, pois, naquele dia, ouviste que lá estavam os anaquins e
grandes e fortes cidades; o SENHOR, porventura, será comigo, para os desapossar, como prometeu.
13 Josué o abençoou e deu a Calebe, filho de Jefoné, Hebrom em herança.” (Josué 14:6-13 RA)

Nós nem percebemos toda a carga de dor e morte, e também de vida e esperança presentes
na frase aparentemente inocente de Calebe: “Eis, agora, o SENHOR me conservou em vida, como
prometeu”. Na verdade, todos os seus parentes, seus amigos, seus irmãos, sua casa enfim, todos
morreram naquele deserto, só ele ficou. O sonho o manteve vivo, no meio de um deserto devorador
e famigerado que estava matando tudo e todos ao redor. O deserto, pelo deserto não pode nos matar
ou nos fazer viver, somos nós quem escolhemos nosso destino no meio do deserto. Se o deserto é
apenas o caminho natural entre o Egito e a Terra Prometida, a qual mana leite e mel, então ele foi
criado para nos fazer sonhar e não para nos matar... O milagre do deserto tem nas personagens de
Josué e Calebe sua expressão mais poderosa para nossos dias: sonhar no deserto para conquistar
vida, força e a terra dos nossos anseios mais profundos em Deus.
Para Deus, não há ponte aérea entre Cairo e Jerusalém, e o deserto é inevitável nesta jornada
rumo às suas promessas mais instigantes. Para Deus, o deserto é lugar de milagres, os quais
começam muito antes dos nossos pés pisarem a areia escaldante. Já que é assim e que não podemos
fugir dele, eu quero que o deserto seja aquilo que ele realmente é, apenas o necessário caminho de
passagem, apenas a transição entre a escravidão e a liberdade, entre a terra das forças do Egito e a
Terra das Promessas de Deus. Eu quero sonhar no deserto, eu quero desejar no deserto, eu quero ver
milagres no deserto, eu quero sobreviver no deserto, eu quero que meus irmãos não morram no
deserto, eu quero que minha casa chegue comigo à terra dos Anaquins, para conquistar as moradas
dos gigantes, o lugar dos vitoriosos que acreditam que Deus faz escravos assentarem-se como
príncipes na sua própria terra, não na terra dos estrangeiros, o Egito. Calebe foi rei das montanhas
dos Anaquins, muito mais que Moises, príncipe na casa dos inimigos.
O deserto não foi só areia, mas a terra de muitos milagres e a passagem obrigatória para todo
aquele que sai do Egito rumo Ao Monte de Deus, o lugar santo das suas habitações. Já que você não
poderá fugir do deserto, faça dele apenas uma terra de passagem, inevitável, e ande com Deus, para
que nele haja muitos milagres; encurte a caminhada para que seus pés não se cansem e aproveite
para usar esta estrada para se aproximar de Deus; sonhe no deserto, porque seus sonhos o manterão
vivo numa terra que consome e mata tudo ao redor.

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